Loving A Stranger
Escrito por Sara | Revisado por Beezus
O vento batia nos cabelos castanhos da garota que passeava com os pés descalços naquela praia que lhe possibilitava ver um pôr do sol adorável e confortante. Sentou-se na areia quentinha e apreciou a vista, seu coração se acalmando os poucos, colocou suas sapatilhas ao seu lado e fechou os olhos por um breve momento. Quando abriu os olhos, pode apreciar uma vista ainda mais bela, um garoto, que mais parecia um anjo aos olhos dela. Seus cabelos de um preto intenso e seus olhos azuis como o mar, sua pele branquinha como a neve deixavam-no ainda mais angelical. Suas roupas eram as mais simples: uma calça meio velha jeans e uma camiseta branca, com os 3 primeiros botões abertos, que balançavam conforme o vento. Um sorriso pequeno elevava os cantos da boca do anjo e suas bochechas recebiam um toque rosado, ele se aproximou da garota que o observava com inocência e curiosidade. O garoto sentou-se ao lado dela e apreciou a vista do pôr do sol, deixando a menina um tanto chateada, afinal, ela queria conhecê-lo.
- Quem é você? - A voz suave e doce dela soou aos ventos, o garoto ao menos piscou, não fez nada, continuou á observar o mar. A garota passou a mão na frente dos olhos do garoto e nada. Resolveu-se por sentar-se e calar-se, alguns minutos se passaram e ele finalmente se pronunciou.
- Prazer em conhecê-la, mademoiselle. - Ela revirou os olhos e voltou á olhá-lo com um vinco na testa. A risada do anjo, que mais parecia uma melodia, encantou-a e um sorriso sincero escapou dos lábios da menina.
- Prazer em conhecê-lo, anjo. - A garota retribuiu com um sorriso sacana nos lábios, atraindo os olhos do anjo, que a encarou e logo em seguida riu discretamente de seu novo ''apelido''.
- O que faz aqui? - O garoto perguntou em um tom baixo e calmo.
- A mesma coisa que você. - A menina respondeu atrevidamente e voltou á olhar para o mar, que agora estava totalmente escuro, sem sinal do sol, que havia desaparecido entre as montanhas. Uma curiosidade insana formou-se na cabeça da menina, ele tinha uma beleza incomum e seus olhares, mesmo que poucos, lhe passavam um sentimento diferente. Ela queria saber mais sobre ele, descobrir mesmo as coisas mais simples sobre a vida dele. Ele realmente parecia um anjo, não só na aparência como também em suas simples ações, mas que haviam mexido com a cabeça da menina.
- Posso tocá-lo? - A pergunta inocente, e ao mesmo tempo estranha, escapou pelos lábios da garota.
- Essa não é uma pergunta muito comum. - Os olhos da menina se estreitaram e um beicinho formou-se em seus lábios rosados, mas nada disso convenceria o menino, não por hora.
- Mas eu estou apenas pedindo para tocá-lo! - Ela protestava como se tivesse alguma razão ou poder sobre o anjo, que apenas lhe mandou um sorriso gentil e irônico ao mesmo tempo.
- Sinto muito em lhe dizer isso, mas é exatamente o que você está pensando. - O que eu estou pensando?, ela pensou em um breve segundo, mas no outro havia descoberto o que ele estava dizendo. Ele estava afirmando que era um anjo, era isso? Ela o olhou com os olhos levemente arregalados e as sobrancelhas erguidas, como se perguntasse se era aquilo mesmo que ele estava dizendo. O anjo apenas concordou e deu de ombros, mas a garota pensou melhor, e agora que ela queria tocá-lo ainda mais. Onde estão as asas dele? Porque ele está na Terra? Somente eu posso vê-lo? Isso não é uma armadilha? Os pensamentos da menina fluíam de um modo natural, mas que a espantava.
- Minhas asas foram arrancadas, eu sou outro tipo de anjo. - Ele explicou como se lesse os pensamentos dela, e era exatamente isso que ele fazia, entrava nas mentes das pessoas e lia seus pensamentos, mas disso ela não sabia.
- Como assim? Que tipo de anjo você é, afinal? - A curiosidade da garota rolava por sua boca e formavam as perguntas mais comuns que as pessoas faziam ao anjo, que já estava cansado de respondê-las.
- Um anjo caído, já ouviu falar? - O garoto perguntou e colocou as mãos atrás da cabeça e deitou-se na areia, em um ato de falso cansaço.
- O que te fez... ''cair''? - Ela perguntou e deitou do mesmo modo que o anjo havia feito, mas ela encarava a imensidão do céu tomado por estrelas e uma lua que aparecia entre as nuvens que partiam, deixando o céu limpo e repleto de pontos brilhantes. Uma brisa comum de praia, e de fim de noite, bateu em seus corpos, nada que atrapalhasse.
- A ambição. - Ele soltou um sorriso como se estivesse se lembrando de algo, o que deixava a garota ainda mais intrigada. Ela poderia achar aquilo tudo surreal, sem noção, coisa de louco, mas não. Ela acreditava nas palavras que saiam da boca do anjo, ela pouco se importava se ele era um lobisomem, vampiro, zumbi ou até um anjo caído. Ela só queria ficar ali. Ali com ele.
- Você é feliz assim? Mesmo depois de ter caído? - As perguntas pegaram o anjo de surpresa, mas ele tinha todas as respostas, pelo menos era isso que ele acreditava.
- Ninguém é totalmente feliz, nem mesmo um anjo. Quanto mais um mísero humano. - Ele zombou um pouco com a garota, que não se importou, ela concordava com ele. Ela era apenas uma mísera humana. Que não servia para nada.
- Só eu posso te ver? - Essa era a pergunta que a deixava ainda mais desconfiada dele, afinal, se somente ela poderia vê-lo as pessoas que passam por ali devem estar achando-a uma maluca que fala com o vento.
- Todos podem me apreciar. - E um tom de sarcasmo tomou conta da frase que acabara de sair da boca do anjo. Ela apenas riu fracamente do modo como ele referiu-se á si mesmo.
- Você volta para o céu ou vive somente na Terra?
- Nenhum anjo caído tem o direito de voltar para o céu, nós caímos, e isso é inadmissível para ''as forças maiores''. - Ele explicava fazendo aspas no ar, tentando tirar grande parte das dúvidas da garota.
- Você é como um humano com algumas diferenças, pelo menos é isso que eu vejo. - A garota tentava organizar seus pensamentos, afinal, não é sempre que se esbarra com um anjo, ainda mais um anjo caído. Ainda mais perigoso e interessante, pensava a menina.
- Não pense assim, eu não sou perigoso, pelo menos não com as pessoas que quero. - Ela havia se surpreendido por ter ''descoberto'' que ele podia ler seus pensamentos. Corou e tentou ao máximo não tentar pensar besteiras, tentou não pensar em nada.
- Você tem mais força ou é mais rápido que um humano, é algo assim, não é?
- Sim, tirando minha força, rapidez e o fato d'eu ser um anjo caído, eu sou um mísero humano. - O anjo comentou e dobrou o lábio para baixo, em uma ''careta'' adorável.
- Anjos caídos não podem recuperar suas asas, certo? - E mais uma dúvida surgia na cabeça da menina. Ele bocejou arrastadamente.
- Depende. Agora vamos parar de falar de mim. - Ele pediu entediado e a garota apenas concordou, ela queria conhecer mais sobre o anjo, mas não seria insistente. Você é realmente bonita, uma voz soou em sua mente, a menina deu um pulo que fez o anjo gargalhar.
- Saia da minha cabeça! - Ela ordenava com certa raiva, o menino parou e ela suspirou em alívio. - Não faça mais isso. - O anjo sorriu com o modo mandão que a garota havia falado, era realmente divertido vê-la estressada.
O silêncio havia tomado conta da paisagem apreciável que eles recebiam. Suas respirações normalizadas e as ondas quebrando na areia da praia, eram os únicos sons audíveis para eles naquele momento. Ah a natureza deixando tudo mais calmo e confortável para as mentes dos jovens caídos na escuridão da praia, como um filme. De algum modo, ela sentia-se próxima dele. O anjo não deu tanta importância para esse assunto, afinal, esse era o último dia do Cheshvan e ele logo desapareceria, como o vapor. Todos os anjos caídos tinham uma semana em cada ano para tomar conta de um corpo humano. Os outros dias do ano eles eram apenas anjos caídos, sem um corpo á quem pertencer. E ali estava o anjo, tendo seus últimos minutos de vida ao lado da mísera humana.
- Posso te ver algum outro dia? - A garota perguntou inocentemente, mas ela não sabia das consequências que um anjo sofria quando caia, e ele não queria explicar e deixá-la confusa, ele então prometeu algo que sabia que não iria acontecer:
- Pode, mas será somente daqui a algum tempo...
- Quanto tempo? - Ela perguntou com uma ansiedade que o anjo estranhou, mas ao mesmo tempo gostou.
- Por que está tão interessada? - O menino se fez de ''difícil'' e escondeu um sorriso bobo.
- Você é... Diferente e... Especial. - A menina concluiu e olhou gentilmente para o anjo, que agradeceu com um aceno e o sorriso bobo que havia escondido segundos atrás. A lua era grande agora, enfeitava o céu escuro, junto com as estrelas. Já estava quase na hora do Cheshvan acabar e o anjo pensava em uma desculpa para sair dali, afinal, ela não se contentaria com um simples "Estou indo, boa noite''.
- Já está tarde e... Eu tenho que voltar para minha cidade aqui perto...bom, nos vemos em breve. - Ele tentava soar o mais breve e gentil possível, levantou-se da areia e viu a menina fazer o mesmo, só que em um ato um pouco desesperado.
- Você não pode ficar mais um pouco? - Ela perguntou enquanto calçava suas sapatilhas com certa dificuldade, considerando que estava em movimento, querendo alcançar o anjo.
- Não, er... Eu realmente preciso ir. - Ele apressava o passo enquanto via a menina quase correr para chegar perto dele, afinal, ele era bem mais rápido que ela.
- Ei, espere um pouco! Você não me disse seu nome! Ei! - Ela gritava, mas era inútil, ele já estava longe. Ele estava desaparecendo pouco a pouco, e não queria que ela descobrisse que nada disso foi ''real''. Sim, todos podiam vê-lo, mas somente ela e ele poderiam se lembrar da conversa que tiveram, pois ele havia decido apagar aquilo da mente dela. Quando o Cheshvan acabasse, o que não faltava muito para acontecer, tudo seria imediatamente apagado da mente da menina e somente ele se lembraria dela. Agora faltava menos de um minuto para ela se esquecer de tudo. Mal sabia ela que nunca mais se lembraria do seu anjo. Um anjo sem nome nem sobrenome, mas que havia conquistado uma parte do pequenino coração da menina.
Três.
Dois.
Um.
O tempo havia acabado. Uma dor na cabeça da garota a fez parar e colocar a mão sobre a testa. Tudo estava sendo devidamente apagado da memória dela, seria como uma amnésia, e ela não voltaria á lembrar. Poucos segundos e o processo já havia acabado. Dando uma rápida olhada ao seu redor, lembrou que havia ido á praia para aproveitar o pôr do sol, mas que já estava noite, ela havia passado tempo de mais ali. Voltou á caminhar como se nada tivesse acontecido, como o anjo queria.
Um anjo sem nome, um amor sem nome. Ela nunca mais se lembraria de que havia trocado palavras com ele, nunca mais se lembraria de que ela havia pedido para ele ficar e para voltar. Ele fora apagado de sua memória, mas não seria o mesmo com ele. O anjo, mesmo longe dela, se lembraria da inocência e da curiosidade da menina. Dos olhos fitando-o, dos cabelos ao vento, do contraste que a luz do pôr do sol fazia com seus olhos... Mesmo não demonstrando, ele sempre sentia um afeto com os poucos humanos que conhecia. Sem lembranças, era assim que ela ficava. Ah o amor, sempre dando um jeito de aparecer, e desaparecer, da vida das pessoas. Tudo seria mais fácil sem o amor, mas não teria graça. Mesmo não se lembrando, eles havia se amado. Se amado por poucos minutos...