Love You Goodbye
Escrita por BiBerttolani | Revisada por Mary
Capítulo Único
Narrador em terceira pessoa
O espelho em sua frente mostrava-lhe o seu estado deplorável, resultados dos seus últimos surtos. Cortes pelos braços e pernas, cicatrizes recentes na cintura fina e marcas roxas por quase toda a pele branca. Fechou os olhos e tentou se lembrar de quando era feliz e nada daquilo lhe acontecia, quando não tinha nenhuma preocupação além de qual filme assistir de noite. Sua mente, automaticamente, trouxe-lhe as lembranças do ano antes do acidente. Mais precisamente o seu aniversário de dez anos, faziam apenas sete anos, mas a lembrança parecia tão distante, de outra vida, outra encarnação, outra pessoa.
- , pare de correr em volta da piscina! - os gritos de sua mãe eram abafados pelas risadas sapecas da garota, que corria como se não escutasse nada.- !- gritou novamente, em aviso. A garota riu e deu alguns pulinhos empolgados, logo depois voltando a correr.- George, ajude-me aqui!- gritou, dessa vez para o marido, que estava fazendo o almoço na churrasqueira.
- , obedeça sua mãe. - gritou simplesmente ainda virado para a churrasqueira. A pequena deu um giro e se jogou na grama, rindo.
- Já parei, papai. - respondeu deixando sua mãe ainda mais brava por não ter sido obedecida.
Deitada na grama e tentando recuperar o fôlego, , começou a olhar para o céu azul e achar formas nas nuvens brancas. Logo sua visão foi impedida por uma mãe com cara de brava. deu um gritinho e saiu correndo para dentro da casa, sua mãe suspirou e saiu atrás gritando:
- Já pro banho, sua porquinha! Os convidados já vão chegar.
Sorriu com os olhos ainda fechados, aquele dia foi mais especial que qualquer outro aniversário que ela teve. Abriu os olhos com um estrondo vindo do quarto do lado, seguido pelo barulho do chuveiro e um grito.
- Acorda, coisinha!
Nicole, sua madrasta, tinha acordado. respirou fundo e se trocou, evitando olhar novamente para o espelho. Demoraria o tempo que fosse preciso para não olhar na cara de Nicole. Além de ser fresca e atual esposa de seu pai, Nicole ainda implicava com ela e vivia pedindo para colocar a garota em um colégio internato. Que "Ela não tinha jeito, um caso perdido". Realmente, uma vida empolgante. Tirou aqueles pensamentos da cabeça e terminou de se vestir; tudo preto, ou escuro, e longo. Uma calça jeans e duas blusas de mangas compridas. Tudo discreto, não gostava de ser o centro das atenções.
Um cheiro de café forte invadiu suas narinas e o enjoo foi quase automático. Não comia direito há semanas e toda vez que sentia cheiro de alguma comida, ficava enjoada e acabava colocando o nada que tinha no estômago para fora. E com o cheiro de café forte não fora diferente. Correu até o banheiro e colocou para fora todo o café-da-manhã que não tinha tomado.
Respirou fundo e lavou o rosto, escovou o dente e não ousou olhar-se no espelho. Pegou a mochila em cima da cama e foi até a sala, sem olhar para os lados e sem dirigir uma única sílaba para seu pai ou Nicole. Pegou uma maça, que provavelmente seria o seu almoço, e saiu do apartamento sem olhar para trás.
Todo dia na escola era uma tormenta. As líderes de torcida riam dela por usar roupas tão escuras e compridas. O que ela não entendia era por quê? Ela era tão invisível naquele colégio, mantinha as notas, nunca tinha problemas com os professores ou alunos e nunca tinha falado com nenhuma delas. Então por que ela?
- Olha, Amber, a estranha. - uma das loiras de uniforme começou a debochar enquanto passava pelo corredor. - Ei, não fuja igual você fugiu da coleção de verão!- continuou debochando enquanto as outras riam.
abraçou os próprios braços e andou mais rápido até a sala do primeiro período, deixando os comentários debochados para trás. Adentrou a sala quase em prantos, algumas lágrimas que escaparam contra a sua vontade molhavam o seu rosto. A sala estava vazia, agradeceu por aquilo e caminhou até a última cadeira, no canto do lado da grande janela. Era relativamente baixa para a sua idade, então a janela ficava um pouco acima da sua cabeça. Era melhor do que deixar todo mundo do lado de fora a visse chorando. Secou as lágrimas insistentes e tentou parecer normal quando as pessoas começaram a entrar e sentar em seus lugares.
A aula começou e ninguém notou sua presença.
A fachada do prédio de tijolos era grande e bonita, apesar de ser um prédio velho e típico daquele bairro, era alta qualidade e ela ainda não acreditava que tinha deixado sua aconchegante casa perto da praia de Miami por aquele lugar de gente fresca e falsa. Respirou fundo e adentrou o edifício, cumprimentando o porteiro e subindo as escadas para o seu andar. Chegando em frente a sua porta respirou fundo e suspirou, por cansaço das escadas e daquele lugar que chamava de casa. Abriu a porta depois de arranjar coragem e, teria ido até o seu quarto, se Nicole não tivesse chamado sua atenção.
- Saiu sem avisar hoje de manhã, coisinha.- falou enquanto pintava suas grandes unhas de uma cor-de-rosa.- Não que eu me importe, claro.-com uma risada seca desviou os olhos das unhas, olhando para um milésimo de segundo, voltando as atenções às unhas.- Mas o seu papaizinho ficou triste e jogou a culpa em mim, acredita?- fingiu indignidade e direcionou, finalmente, sua total atenção à , que estava parada perto do corredor dos quartos.- A sua língua fugiu junto com o senso de moda, coisinha?- perguntou olhando-a com uma sobrancelha arqueada. não respondeu. Simplesmente deu meia volta e foi pelo corredor até o seu quarto. Antes de fechar a porta ouviu: - Não vai almoçar?- e então bateu a porta.
Sentou na cama e jogou a mochila em cima da mesma. Abaixou a cabeça e ergueu as mangas das blusas, olhando para as cicatrizes nos dois braços. Lembrava daquele surto e a razão pela qual ele acontecera. Fora o aniversário de sete anos de morte de sua mãe. O acidente... O desespero, a angústia, a dor...
Estava chovendo do lado de fora, chovendo forte, com direito a raios e trovões. A piscina que ficava no quintal de trás da casa parecia um mar agitado com a força que a água caia. estava sentada no chão em frente a porta de vidro da sala de TV, observando tudo aquilo desanimada. Era para ter sido um dia na piscina, por isso se recusara a sair dali e a tirar o maiô enquanto a chuva não parasse. Estava começando a desistir da ideia. Eram para ser as férias de verão perfeitas. Ficar na piscina e, com seus dez anos agora completos, se divertir com as amigas. E a chuva estragara seus planos.
- , a mamãe vai ao mercado comprar as coisas para fazer aquele bolo que você gosta, quer ir junto? - sua mãe já tinha perguntado antes, mas insistia em tentar fazê-la se animar para, pelo menos, assistir algum filme. Mas não queria. - Tudo bem, espere aqui com o papai que eu já volto.- ela terminou depois de não receber uma resposta.
Virou-se para o marido e deu de ombros, logo saindo para ir ao supermercado que ficava apenas algumas quadras. Mas com aquela chuva toda, teve de pegar o carro. continuou no mesmo lugar, com a mesma roupa, a mesma desanimação enquanto observava a chuva aumentar e diminuir do lado de fora, mas nunca parando.
Pouco tempo depois seu pai conseguiu fazer com que ela trocasse de roupa e assistisse algum filme, mas ela sempre levava o olhar para a janela, procurando saber se a chuva já tinha parado. Passou uma, duas, três horas e nem a chuva passou ou sua mãe chegou. Tinha percebido a preocupação de seu pai e se deu conta que sua mãe estava fora a mais tempo que achava. Começou a se preocupar e ficar com medo. Foi quando o telefone tocou e seu pai o atendeu desesperado.
O silêncio deixou com que o barulho da chuva e da TV tomassem conta. Algo tinha acontecido. E assim que o telefone bateu na base, seu pai desabou no sofá ao seu lado.
- Papai... O que aconteceu? - se aproximou dele e perguntou com a voz baixa. Ele não respondeu, apenas a abraçou fortemente. E, ali, chorou junto com ele por algo que não sabia, mas suspeitava.
Junto com a lembrança, veio a dor e a angústia. não pode controlar as lágrimas daquela vez. Molharam seu moletom e seu rosto enquanto sentia a angústia corroendo suas veias lentamente. Em meio aquela melancolia toda, ouviu um grito ao longe.
- Tô saindo! - e a porta bateu.
Estava sozinha. Sozinha com a dor. Sozinha com a angústia. Sozinha com a solidão em seu coração. Sozinha e sem a pessoa que ela mais amava. Com todos aqueles sentimentos, sabia o que estava por vir. E dessa vez não lutaria contra. Rapidamente se levantou, ainda com a visão embaçada, e desesperadamente procurou o que precisava. Abriu todas as gavetas do banheiro e da sua cômoda, mas ela não estava em lugar algum. Precisava se lembrar, onde havia colocado? Olhou em volta e viu uma caixa preta em cima do guarda roupa. Correu até lá e puxou uma cadeira para que conseguisse pegar a caixa. Abriu a caixa em cima da cama e, ah, lá estava. Brilhante, pequena, fria, lisa e mortal.
Pegou-a com a mão direita e manuseou-a até que novas cicatrizes marcassem sua pele exposta. Sentiu um alívio em seu coração quando o sangue escorreu e pingou no chão. Era mais do que a última vez, mas ela não ligava. Esticou-se para colocar a lâmina em cima da cômoda, mas desequilibrou-se e acabou caindo no chão. Soltou um grito pelo susto e a lâmina voou para fora de seu alcance. Resmungo e se levantou, caminhando até onde a lâmina tinha ido parar, não chegando até lá. Perdeu o equilíbrio e caiu novamente no chão. Soltou outro grito, dessa vez de frustração. Deitou de lado e observou seu sangue escorrer dos machucados. Voltou a chorar sozinha, soltando os gritos de dor que tinha guardado por tanto tempo desde a morte de sua mãe.
Em meio aos gritos, ouviu um estrondo na porta. Um, dois, três. Parecia alguém tentando entrar. De repente os estrondos pararam. Passos no corredor, talvez fosse a morte finalmente vindo buscá-la. Mas a escuridão tomou conta de seus sentidos antes que pudesse descobrir.
O vizinho novo entrou no quarto e arregalou os olhos com a cena. A garota que havia visto de manhã na hora que ia para a faculdade estava deitada com o sangue escorrendo de cortes fundos nos dois braços. Uma cena deplorável. Provavelmente os gritos vinham dela. Desesperado e sem saber o que fazer, caçou o celular nos bolsos e ligou para uma ambulância.
Olhando-a ali deitada na cama de hospital fez seu coração apertar. Como aquilo tinha acontecido com sua filhinha? Sua pequena ... Já tinha agradecido o vizinho, que descobrira se chamar . O garoto havia chegado a tempo de salvá-la. Mas não da doença que ela tinha adquirido naquele tempo todo. Leucemia.
- Eu não sou psicólogo para saber o que aconteceu com essa menina, mas - o médico suspirou, ajustando os óculos para perto dos olhos, encarando o homem em sua frente. - Tudo indica que ela perdeu muito sangue nos últimos meses, ou talvez até anos. - acrescentou, olhando da prancheta em sua mão, para o homem em sua frente.
- Mas ela pode melhorar, certo? - o homem perguntou, preocupado com a filha.
- Não sabemos ao certo. Além de perder muito sangue, ela perdeu muitos nutrientes.- continuou, um tanto aborrecido pela intromissão .- Ela não come direito há, provavelmente, muitas semanas. E isso pode ter causado o sangue ralo que encontramos em seu corpo.- suspirou, aquela era a pior parte. - Veja, o corpo de sua filha não tinha mais os nutrientes necessários para formar o sangue essencial, que leva o oxigênio às células e retira o gás carbônico do organismo. Por isso a doença pode causar faltas de ar, tonteira, vômitos ocasionais, manchas pela pele...
- Doença, doutor? - perguntou, assustado e quase a beira do desespero.
- Sim, Sr. Greyson. - o médico assentiu, puxando os óculos para cima da cabeça, em meio ao cabelo ralo e grisalho. - Sua filha adquiriu Leucemia.
Um câncer pela alimentação desregulada e perda de nutrientes; Anemia profunda. E tudo por que ele não tinha prestado atenção na sua garotinha. Saiu da grande janela do quarto com a lembrança da notícia ainda em mente, e voltou para a sala de espera. continuava ali. O porquê, ele não sabia.
- Já pode ir pra casa, rapaz. - disse fungando e secando o resto das lágrimas, sentou-se na cadeira ao lado de . Sentia-se derrotado, inútil, impotente.
- O que aconteceu com ela? Na hora que eu cheguei eu não sabia o que fazer, eu... - ele não conseguiu terminar, o nó em sua garganta o impediu. Por que estava chorando? Engoliu as lágrimas e passou a mão pelos cabelos.
- Ela vai ficar bem, só vai ter que se cuidar. - respondeu, tentando tranquilizá-lo. - O que você da vida, rapaz? - ele perguntou olhando para ele por trás das lágrimas que ainda se acumulavam nos olhos.
- Faculdade de manhã. - disparou as palavras de uma vez. - E o resto da tarde nada, ainda estou procurando emprego e estava em casa hoje, imagine se não estivesse...
- Certo, e o agradeço por isso. - agradeceu mais uma vez e limpou a garganta. - Pode me fazer um favor?- perguntou, chamando a atenção do outro.- Eu te ajudo com as despesas do seu apartamento e você fica com a enquanto eu não estiver em casa, ela vai precisar de ajuda e eu não sei onde encontrar os amigos dela, ou se ela tem...
- Tudo bem, senhor. - ele concordou, mesmo não sabendo porque sentia-se feliz por aquilo.
- Chame-me de George. Não sou tão velho. - repreendeu-o e ambos riram. - Cuide da minha menina. - pediu mais uma vez, secando as lágrimas que insistiam em cair.
- Pode deixar, se... George.
6 semanas depois
A rotina de tinha mudado muito em apenas um mês e meio. Começara a ir ao colégio com menos frequência, até que seu pai a tirou do mesmo e começou a dar-lhe exercícios para ela fazer em casa. ficava com ela durante a tarde, quando voltava da faculdade, e até antes de Nicole e seu pai voltar para casa. Ambos gostavam da companhia um do outro, mas não admitiam em voz alta. Sua vida havia mudado pra algo bom que ela gostava. Sem pessoas do colégio para fazerem comentários desnecessários sobre suas roupas, sem surtos, até mesmo Nicole não fazia menções sobre nada.
Tudo na perfeita paz.
Ia ao médico duas vezes por semana, por conta dos surtos, ela achava, porque ninguém tivera coragem de dizer que ela estava com câncer. E tinha a companhia de . Toda vez que pensava nele, suspiros e calafrios iam e vinham por seu corpo. Ele era lindo, na sua opinião. Lindo, fofo, carismático, preocupado... Aliás, todos estavam muito preocupados com ela desde aquele surto. Às vezes ela se pegava pensando no por que. Ou quando ou seu pai a olhavam com um olhar preocupado para qualquer lugar que ela fosse, como se estivessem com medo de que ela caísse a qualquer momento. E tinham. Naquele momento, fazendo alguns exercícios de matemática, a observava com aquele olhar, como sempre. Ela resolveu tirar todas as suas dúvidas.
- Tem algo errado? – perguntou, repousando o lápis ao lado do caderno, pareceu assustado e saindo de um transe.
- O quê? Não! Nada. - respondeu nervoso. Ela o tinha pego a observando e isso era bastante constrangedor. - Por quê?
- Você e papai estão sempre me observando assim... Preocupados. - respondeu, levantando-se e quase se desequilibrando de propósito, para ver a reação de . Como esperado por ela, ele se levantou correndo e a segurou. - Tipo assim. Não é como se eu estivesse com uma doença terminal. - disse rindo, ficou sério no mesmo instante. - O que você ta escondendo de mim, Eaton? - perguntou desconfiada, chamando-o pelo sobrenome. Mas ele não respondeu.
Aquela pergunta ficou no ar por bastante tempo para que percebesse algo que ela não sabia e que todos escondiam: ela estava doente. E era sério. Lágrimas começaram a se juntar em seus olhos, foi como se o sonho de uma vida que ela viveria morresse lentamente dentro dela. Quando a primeira lágrima escorreu, ela sentiu secando-a.
- O que... O que eu tenho? - perguntou em um fio de voz, respirou fundo antes de puxá-la para um abraço apertado. Não iria falar, não ali.
- Você vai ficar bem, . - disse para tranquilizar, não sabia se a si mesmo ou a ela.
Três meses e meio depois
Era mais uma tarde que passava com em seu apartamento, depois que ela ficou sabendo da doença, não havia mais nenhum segredo entre eles. A não ser que conte o fato deles não dizerem que se amam. Não faziam muitos dias que haviam chegado àquela conclusão. Ela o tinha a tarde inteira perto dela, sempre cuidando e zelando para que ela ficasse bem. Ele sentia que ela era a única em sua vida, tinha uma forte ligação com ela, algo que não conseguia explicar, apenas... Sentia.
- , você está bem? - perguntou pelo o que pareceu a milésima vez para . Ela já estava cansada de dizer que sim e que não iria morrer ainda.
- , não vou morrer hoje. - respondeu sem desviar o olhar da televisão. Fora grossa? Sim, vinha sendo grossa com muitas pessoas, por que a todo momento alguém lhe perguntava se estava bem ou se estava sentindo alguma dor.
- Você parece tão distante... - se assustou quando sentiu o hálito quente do garoto em sua nuca, arrepiando cada fio do local.
Virou a cabeça para observá-lo e acabou roçando suas bocas levemente. Encarou-o nos olhos, mas os dele estavam em sua boca. Direcionou os seus para a dele, tão perto da sua que suas respirações se misturavam. Ele umedeceu seus lábios e se aproximou mais, quase encostando os lábios nos dela, foi quem acabou com a distância e selou seus lábios. Foi como um choque para , por ser seu primeiro beijo e por ser com a pessoa que mais ficou do seu lado. Seus lábios tinham um encaixe perfeito e único, era como pensava, os lábios de eram macios e seu hálito de menta. Era o típico beijo de cinema, sem a encenação e um pouco mais molhado do que tinha em mente. Mas, bem, era o seu ali. Não precisava de mais nada. Apenas dele. Separaram os lábios por falta de ar depois de longos minutos. Ela respirou fundo, sorrindo para ele, que retribuiu com um maior ainda.
Ele a deitou no sofá, colocando seu corpo por cima dela. Logo iniciaram uma sessão de beijos. Cada um mais apressado que o outro. Já estavam ofegantes, com mãos apressadas pelo corpo um do outro, quando um celular começou a tocar. Era o de . Ela riu entre o beijo, afastando um pouco o corpo de e levantando-se.
- Deve ser o meu pai. - respondeu a pergunta silenciosa que havia ficado nos olhos de . Caminhou até o aparelho, que estava na bancada. Ele tocava e a tela brilhava com o nome “pai” no visor. Mas ela não conseguiu chegar até lá. Sua visão ficou turva, e ela teve que se apoiar na cadeira que ficava na frente da bancada.
A cabeça de girou, talvez fosse por causa do turbilhão de emoções que ela sentira em relação aos beijos, mas logo percebeu que não. E que estava sem respirar, seus pulmões simplesmente pararam de funcionar e ela começou a se desesperar. Tentava, inutilmente, puxar o ar para os pulmões, e a medida que tentava e na conseguia, o desespero crescia em seu peito.
levantou-se assim que ela começou a se apoiar na cadeira, caminhando rapidamente até ela, a tempo de segurá-la antes de suas pernas cederem.
- ... . , você ta verde. , você ta bem? - perguntou enquanto a garota em sua frente perdia a força, ficando mole em seus braços. - !
Em uma última tentativa de suspiro, ela sussurrou uma última frase baixinho, já sem fôlego para nada. “Foi minha a escolha” . Não sabia se ele havia escutado, mas já estava inconsciente para descobrir.
Ela tinha desmaiado.
O quarto do hospital estava em silêncio total, apenas o barulho das máquinas que apitavam com os batimentos cardíacos de eram audíveis no ambiente. Ela estava serena na cama, como se estivesse dormindo. E realmente estava. Em coma haviam três dias. Ela tinha pouca chances de voltar a acordar, tinha ficado tempo demais sem oxigênio e a doença já estava bem avançada para fazer algo. "Dou-lhes uma semana, depois teremos que desligar. Desculpem-me" Foram as palavras finais do médico. De algum jeito, ela tinha conseguido burlar a maioria dos medicamentos nas últimas três semanas, fazendo com que a doença se agravasse e ela tivesse poucos dias de vida.
estava péssimo. Não tivera tempo o suficiente para dizer adeus e com ela naquele estado, ele não se sentia à vontade o suficiente para dizer o que queria. Mas não tinha escolha. Teria de ser rápido, antes que perdesse a coragem.
A chuva torrencial que caía em volta do carro combinava com o sentimento de angústia que sentia. Seu pai estacionou o carro em uma das vagas em frente ao grande cemitério. O guarda-chuva era preto igual as roupas que eles vestiam. Não havia muita gente, mas ela não queria saber daquelas pessoas. Queria sua mãe, e queria abraçá-la e dizer o quanto a amava. Mas não tinha mais tempo. Ela tinha ido. O enterro não se prolongou muito. Algumas palavras, soluços baixos dos mais próximos e tudo tinham acabado.
pedira para ficar um pouco mais, tinha apenas dez anos, mas queria fazer uma prece antes de deixar sua mãe ir para onde ela tinha que ir. Seu pai não negou e ficou com ela os cinco minutos que ela aguentou, antes de agarrar-se as pernas do pai e pedir para ir embora. A última visão que teve fora as escrituras na lápide da mãe e o cheiro de grama molhada.
Era aquele cheiro que ela sentia, grama molhada. Não conseguia se mexer, mas sabia que ainda estava viva. Sentia o processo lento de seus pulmões, escutavam apitos ao longe e tinha aquele cheiro familiar de grama molhada. Sabia para onde estava indo. Encontrar-se com a sua mãe, finalmente. Iria deixar aquele mundo, os problemas, ... Ah, por aquele motivo ela ficaria. Mas estava tão cansada...
- ... , se você estiver me ouvindo... Lute. Lute por você. - ouviu um sopro ao longe, mas reconheceria a voz de em qualquer lugar. Aquela voz acolhedora. - Lute por mim. - ele estava... Estava chorando? Chorando por ela. Aquela simples hipótese fez seu coração doer um pouco. Um apito mais forte foi ouvido no local, ainda tinha esperança. - Lute por sua vida, pequena ...
Ela queria, queria muito. Mas não tinha mais controle de si mesma. Estava desistindo, estava o deixando. Deixando a todos. Iria embora e sabia que eles ficariam bem, demoraria um pouco, mas iriam ficar bem sem ela por perto. Ela sabia... Estava pronta. Sentia a vida se esvaindo aos poucos, os apitos parando, um aperto em sua mão, um último beijo, um último sussurro.
- Eu te amo, .
I told you "I love you", so why did you go...
Away...
O caminho entre as lápides era conhecido e ainda fresco em sua memória. Mas apenas duas lhe importavam. Uma, em especial, era sua preferida. Parou em frente as duas e depositou as flores ali, no meio das duas, substituindo as outras que colocara no mês anterior. Respirou fundo e, antes de sair andando novamente, leu as duas escrituras nas lápides.
Jessica Greyson
(1968- 1998)
Mãe e esposa amada.
Marie Greyson
(1988-2015)
Amiga e filha amada
Sentiu as lágrimas escorrendo por seu rosto enquanto deixava o cemitério para trás. Conseguia sentir os lábios de ainda nos seus, mesmo que fizessem três anos desde a sua partida. Tinha o coração apertado no peito desde aquele último beijo, no hospital. Respirou fundo e secou as lágrimas, passando a mão pelo cabelo e seguindo para o carro. Tinha marcado um encontro, para tentar esquecer aquela dor, mesmo sabendo que ela não seria totalmente perdida para sempre. Olhou para trás uma última vez, e achou que estivesse ficando louco. Lá estava ela, magra, miúda, os cabelos esvoaçando com o vento. Estava entre as lápides, olhando para ele com um sorriso no rosto. Ele fez menção de voltar para onde ela estava, mas ela apenas negou, fazendo-o ficar onde estava.
Sussurrou contra o vento, desaparecendo de sua visão aos poucos. Quando sua imagem era apenas mais uma lembrança viva em sua mente e coração, a brisa soprou as últimas palavras dela para ele, as palavras que o fizeram sentir paz depois de três anos.
- Eu te amo, .
THE END
[ESSE É O FIM DE UMA LINDA HISTÓRIA, COMO VÃO?]
Bem, segunda história, e, eu devo confessar, eu não esperava chorar pela TERCEIRA VEZ nessa short. Ela foi reescrita três vezes, sim, TRÊS VEZES. Pensar que era apenas uma idéia louca de uma garota de 12 anos com umas 1.000 palavrinhas num blog, e que agora virou uma short fic em um site interativo! <3 Por que eu to falando isso mesmo? Ah, sim. Foi a primeira fic que eu matei um personagem. Digo primeira por que ainda tenho outras histórias mórbidas em minha mente HAHAHAHAHA.
Espero que tenham gostado, embora o tema seja bem... Polêmico. Certo, não muito. É bullying, e bullying é bullying. Nossa querida PP sofria depois da morte da mãe, o que acontece com muita gente, e eu resolvi colocar essa dor da maneira que eu sempre faço: Um pouco de drama, romance, e uma bela morte. MENTIRA. Eu só quis escrever um drama mais real, sem final “feliz”, por que a vida não é um mar de rosas.
Essa é a maior N/A que eu já escrevi, pelo Anjo. Só mais uma coisinha, juro. UM MEGA ULTRA HIPER OBRIGADA À MARIA PAULA MIDÕES, MAIS CONHECIDA COMO MARY, POR SER MINHA BETA EM MAIS UMA HISTÓRIA E MAIS UM SURTO LOUCO MEU <3 MIL OBRIGADAS, SÉRIO.
Ok, chega. Obrigada por lerem mais uma história minha, e que venham mais! <3 <3 <3
xx Bi.