Love Is Louder

Escrito por Laís Stéfani | Revisado por Bella

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  - Eu sei que você quer – sussurrei para ela e vi o leve rubor subir ao seu rosto, seguido de um sorrisinho tímido, mas sedutor. Ela desgrudou os olhos do chão e olhou para cima, para mim. Mas não para os meus olhos, e sim minha boca.
  É, ela queria, eu sei que queria.
  Puxei a barra de sua baby look rosa coladinha e com gola V, que realçava os peitos. E que peitos. Ela deu dois passinhos curtos quando a puxei, e seu corpo colou no meu. Me desencostei da mesa onde eu estava escorado e levantei seu queixo com um dedo. Ela sorriu para mim daquele jeito sexy e mordeu o lábio inferior. Me aproximei, com uma tremenda vontade de ter aqueles lábios carnudos nos meus.
  Quando já podia sentir o calor da boca dela prestes a encostar na minha, a porta da sala de aula se abre com um baque surdo, e nos afastamos. Ela aperta minha mão e fica um pouco atrás de mim. E ali estava minha mãe, a... espera! Minha mãe?
  - Niall! – ela gritou, de cara feia.
  - M-mãe? – falei, assustado.
  - Niall!
  - O quê?
  - Niall!
  - O que é? – gritei de volta, chegando mais perto.
  - Niall, acorda!

  Levantei da cama em um pulo, a respiração acelerada e a bochecha ardendo pelo tapa que levei para acordar. Resmunguei e voltei a deitar assim que vi que não passara de um sonho. Cobri até a cabeça com o edredom.
  - O que é?
  - Vse atrazar para o colégio de novo, moleque. Levanta de uma vez! Greg já saiu há meia hora.
  - Greg tem amigos – respondi baixinho, mesmo que ela já tivesse saído do quarto e batido a porta atrás de si.
  Sentindo a obrigação de levantar para mais um dia insuportável, me arrastei relutante até o banheiro e escovei os dentes rápidamente. Joguei uma água no rosto e peguei um pouco de gel com o dedo, colocando-o na palma da mão e espalhando em toda a palma, para depois passar no cabelo. Não o penteei, apenas passei o gel para mantê-lo de pé do jeito que ele havia manhecido. Hoje em dia ninguém mais penteia os cabelos, é a moda.
  Harry Styles nunca penteou os cabelos, creio eu.
  Bufei ao pensar naquele idiota logo de manhã cedo. Antes mesmo o café, Niall? Fiz careta. Deixe os pensamentos ruins para depois que sair de casa!
  Voltei para o quarto e vesti minha calça jeans branca. Antes de abrir a porta do meio do armário, me permiti parar na frente do espelho e observar melhor meu corpo. Eu estava sem camisa, e me perguntava – igual fazia todas as manhãs – quando é que a academia duas vezes por semana com Greg começaria a mostrar seus resultados. Eu não era feio de um todo, nem chegava perto de ser. Fato é que eu não tinha o necessário para ser... melhor do que ele, para chamar atenção.
  A única vez que chamei atenção foi quando sem querer derrubei toda a prateleira de misturas químicas do laboratório do colégio em cima de mim. E não foi de uma maneira boa, acredite.
  Abri a porta do armário e procurei alguma roupa legal. Acabei por botar uma regata branca qualquer e uma jaqueta esportiva vermelha por cima. A mesma que usava para ir à academia. Me dava o ar de "estava com muita ressaca para pensar em algo melhor para vestir". Coloquei meus supras brancos e estava pronto.
  Eu sei que essa minha obcessão por parecer legal era idiota, mas eu precisava. Era o único jeito de chamar a atenção dela. Talvez um dia, de tanto insistir, eu conseguisse.
  Joguei minha mochila azul com o símbolo da Vans no ombro e desci escada abaixo depois de ver a hora. Passei reto por minha mãe, na cozinha, e fiz que não quando ela ofereceu o café, indo para a porta.
  - Não volta tarde!
  - Tenho o curso no Jake hoje, mãe! – gritei da porta.
  - Ah, tudo bem. Então, se cuida!
  Fechei a porta e saí. Como de costume, olhei para casa ao lado com a esperança de estar saindo ao mesmo tempo que ela, mas há essa altura eu sabia que ela já estava no colégio a tempos.
  Cheguei lá em poucos minutos, era só descer uma ladeira e pronto, os grandes muros do colégio estavam à vista. Eu odiava aquela prisão, foi onde passei meus piores momentos, sem nenhum bom sequer. Eu tinha que viver na humilhação diária de ver o retardado do Styles com a garota que eu queria há anos, e, como se não bastasse, eu era simplesmente invisível para todas as pessoas daquele hospício. Mas tentava convencer a mim mesmo que só faltava um ano e meio para dar o fora dali, e eu conseguiria. As coisas melhorariam depois disso.
  Passei pelo grande portão de entrada e fui em direção ao prédio, mas me concentrei em outra coisa ao ver aquela cena típica: atrás do Audi de Harry, estava ele escorado no muro que dava na altura de sua cintura, cercado dos seus amigos trogloditas do time, com uma regata folgada e as mil e uma tatuagens a mostra, e Jennifer escorada a ele, no meio das suas pernas. Aquela cena era ridícula por dois motivos: era óbvio que não existia sentimento mútuo ali, uma vez que Jenny olhava distraídamente para as pontas de seus cabelos loiros e lisos em meio aos seus dedos, enquanto ele conversava com os amigos sem dar a mínima importância à (provavelmente) garota mais bonita que ele veria em toda a sua vida, parada bem na sua frente.
  Eu sentia vontade de socá-lo sempre que via algo assim. E eu o faria, se não tivesse a plena certeza de que ele me mataria com as próprias mãos depois disso.
  Desalentado, continuei andando para o prédio das salas de aula, onde teria minha primeira aula do dia. Imagens do meu sonho rondavam a minha cabeça. Na verdade, não era surpresa nenhuma que eu sonhasse com Jennifer, isso acontecia pelo menos uma vez por noite. Mas aquela blusa apertadinha, e aquela boca...
  Senti um tapa nas costas e virei para trás. Um dos garotos do grupo dos sem noção (ou como o resto do colégio conhecia: os garotos da banda. Porque sim, eles tinham uma banda.) se afastava de mim, rindo. Todos que estavam perto deles começaram a olhar e rir também. Umas garotas que treinavam a coreografia para animar a torcida no jogo do fim de semana passaram por mim e chutaram meus calcanhares.
  Respirei fundo, levando a mão às costas e alcançando o papel colado nas minhas costas, "kick me I’m a jerk ;P". Amassei o papel com muita vontade e joguei no chão, e tudo que os imbecis sabiam fazer era rir da minha cara. Encarei-os enquanto amassava o papel, e depois fiz questão de lançar um sorriso cínico antes de me virar e seguir para minha sala.
  Bem-vindo ao meu mundo.

* * *

  Jake era um ótimo professor de violão; na verdade, ele não lecionava. Era um cara que conheci por acaso em uma loja de discos no centro da cidade, ele discutia com um cara pelas mil razões pela qual ele defendia que Oasis era uma cópia barata dos Beatles, e quando The Who entrou no meio da história me senti forçado a entrar também. Acabamos virando amigos, e ele se ofereceu para me ensinar a tocar; três vezes por semana, na casa dele, em um bairo da periferia da cidade. Era legal, tranquilo, era o segundo andar de uma casa de dois andares, em que o de baixo, que era o porão, era ocupado por um casal em que ambos possuíam síndrome de Down.
  Jake tinha uma barba por fazer, cabelos tremendamente bagunçados, óculos de descanso um tanto grandes e redondos, que combinavam com seu rosto, e uma tatuagem no peito que chegava até perto do pescoço; tinha um ar meio hipster e era um cara legal. Era quieto, na dele, e eu sentia vontade de perguntar sobre seu passado e como as coisas foram na sua vida. Ele parecia aquele tipo de gente que tem histórias que você gostaria de ouvir.
  Depois de praticar por pouco mais de duas horas, peguei a mochila e me despedi de Jake. Ao sair da sua casa, me surpreendi ao ver que uma tempestade estava a caminho, pois eu não havia percebido antes.
  Estava nublado e tinha um vento fraco. Saí do prédio dele e comecei a andar; eu ia a pé para casa, e era pouco mais de quinze minutos de caminhada.
  Nem bem andei uma quadra, e o céu começou a desabar. Ótimo, ótimo, perfeito. Eu já não tenho azar o suficiente, não é mesmo?
  Mais algumas quadras, e além de ensopado eu estava com frio. Um carro passou, em alta velocidade, com uma música alta e pessoas gritando e zoando dentro dele, e logo notei que era o carro de Harry, com Jennifer, Samantha, Luke e o próprio Harry, é claro, no volante. Ao passar por mim, ele buzinou. Ótimo. Parar para prestar ajuda ele não para. Viado.
  Quando no mundo Jennifer olharia para mim tendo aquele otário como namorado?

* * *

  De noite, depois de ter tomado banho e um café bem quente para passar o frio, minha mãe pediu que eu levasse o lixo para fora. Esse era geralmente o ponto alto do meu dia, então eu fui de bom grado, peguei os dois sacos pretos da cozinha e saí. Tudo estava molhado, mas já não chovia mais. Olhei para a casa ao lado, e Jennifer saía e fechava a porta atrás de si, como eu, como de costume.
  - Ei! – ela sorriu. Sorri de volta e fui para o conteiner da rua, ela também. Coloquei meu lixo lá e ajudei-a a colocar o seu, que eu podia notar que estava pesado apesar de ela negar.
  Pode parecer difícil de acreditar, mas eu e ela já fomos amigos um dia, ou quase isso. Nós éramos colegas no ginásio e somos vizinhos desde que nascemos, nossos pais eram amigos e costumavam nos levar junto toda vez que iam ao clube de pesca. Brincávamos de esconde-esconde e jogávamos Monopoly, e não demorou muito até que eu me apaixonasse por ela, mesmo ainda sendo uma criança. Com o tempo, nós nos perdemos. Ela ficou popular e reconhecida assim que entramos no ensino médio, e eu, bem, eu vocês já sabem.
  Olhei para ela, e vi que ela olhava para cima. Segui seu olhar e me surpreendi ao ver o tamanho da lua, estava imensa.
  - Uau... – deixei escapar.
  - Linda, não é? – ela falou, tranquila.
  Olhei para o rosto de Jennifer, ela parecia diferente.
  - Você está bem, Jenny?
  Ela me olhou, um tanto surpresa.
  - Ahn... é, eu acho que sim.
  Assenti.
  - Ok.
  Ficamos em silêncio, então fui para o meu portão.
  - Então, boa noite.
  - Hã, Niall?
  Virei-me rápido.
  - Sim?
  - Tem uns minutos?
  Ok, isso me pegou de surpresa. Fiz que sim, e ela foi para o seu portão e me chamou com um asceno de cabeça. Voltei para a porta da minha casa, abri, e gritei:
  - Mãe, vou ali na Jennifer. Volto já.
  - Na Jennifer? Que Jennifer?
  - A Sterling! – falei mais baixo.
  - A Sterling?! O que ela quer com você?
  Ótimo, nem minha mãe acreditava que ela iria querer algo comigo, incrível.
  - Tchau! – bati a porta atrás de mim e fui para a casa ao lado.

* * *

  - Quanto... rosa. – olhei em volta e senti um aroma doce de perfume feminino.
  - Não ri. – ela falou, fechando a porta atrás de si. Seu quarto era no andar de cima, no final do corredor. Era um tanto escuro, e haviam apenas dois abajures ligados nos cantos do quarto com uma luz rosa, e uns pontinhos de luz ao redor de onde parecia haver um mural de fotos, mas as fotos foram arrancadas e apenas alguns pedaços rasgados delas ainda estavam colados ali. O resto, estava espalhado pelo chão.
  Eu pude entender exatamente qual era o problema só em ver aquilo. Harry Styles. Várias e várias fotos dos dois juntos foram arrancadas e rasgadas e riscadas, e um pedaço da parede, onde antigamente fora escrito seu nome, agora estava riscado com caneta preta.
  Olhei para ela, ela parecia um pouco envergonhada por eu ter visto aquilo.
  - Aqui – foi até sua cômoda e pegou uma corrente de dentro de uma caixa de jóias. – Isso é seu.
  Peguei a corrente, onde havia um pequeno trevo de quatro folhas verde.
  - Nossa! Eu nem me lembrava mais. Onde isso estava?
  Ela sorriu.
  - Na caixa de sapatos que fizemos aos oito anos, nossa cápsula do tempo.
  Franzi o cenho, eu não lembrava.
  - Aquela que enterramos no meu quintal, no meu aniversário. Se lembra?
  As memórias voltaram aos poucos e eu assenti.
  - Ah, sim... Eu lembro. – fui até a cama, onde ela pegou uma caixa de sapatos e soltou ali. Nós sentamos um de frente para o outro. – O que mais tem aí?
  - Hum... tem uma antiga boneca da Barbie. – levantou a boneca, ainda em perfeito estado. – Eu dizia que queria ser igual a ela. – colocou perto do rosto. – Não estou muito diferente hoje em dia...
  Jennifer suspirou. Algo me diz que ela não se referia ao seu estado físico.
  - Também tem umas cartas que escrevemos para nosso "eu do futuro". – me mostrou as cartas ainda fechadas e nós rimos.
  Quando vi aquilo, me lembrei de algo e congelei. Droga, droga! Na minha carta, eu contava a ela que a amava. Droga!
  - O que foi?
  - O quê? – respondi, rápido.
  - Sua cara ta estranha.
  - Nada, nada. Eu só lembrei... eu só... eu só acho que escrevi um monte de besteiras nessa carta.
  - Nós tinhamos oito anos, Niall. – ela riu. – Então, quer abrir?
  - Não! Não.
  - Por quê?
  - Vamos deixar para depois?
  - Depois? Por quê?
  - Hã... – pensa, Niall! – Terça-feira não é seu aniversário? Vamos deixar para o dia. Aí completa exatamente nove anos.
  - Ok, você tem razão.
  Sorri. Ela voltou a guardar as coisas na caixa e voltei a olhar para a sua parede. Jennifer seguiu meu olhar.
  - Ah, isso... Nós dois terminamos. – seu olhar caiu.
  - E você não aceitou muito bem. – pensei alto.
  - Você sempre teve a boca maior do que a razão. – ela balançou a cabeça e riu.
  - Me desculpa. É que... você sabe... – apontei para a grande mancha preta na parede. – Escreveu o nome do cara com canetão.
  - Eu já fiz coisas bem estúpidas, é, essa foi uma delas.
  - O que aconteceu? – não me contive e precisei perguntar.
  - Hã... ele... – ela mordeu o lábio. – Ele e uma amiga minha... estavam se encontrando.
  Comprimi meus lábios, eu não sabia o que falar.
  - Sinto muito.
  Ela sorriu em agradecimento.
  - Ele é realmente um idiota, Jenny.
  - Quando me chama assim, eu posso ouvir a sua voz chamando o meu nome com oito anos, no cais do rio lá do clube. – ela lembrou e riu.
  - De Jenny?
  - É, ninguém mais me chama assim, eles dizem que Jenny é muito usual. – revirou os olhos. – Preferem Jenn, Jenn Sterling.
  - Eu gosto de Jenny. – dei de ombros.
  - É, eu também.
  Silêncio de novo.
  - Bom, eu acho que já vou. – me levantei e fui para a porta do quarto. – Obrigado pela corrente, e até terça.
  Ela me acompanhou e ficou há alguns passos de mim.
  - Até mais, Niall.
  Abri a porta, mas antes de sair uma ideia me ocorreu. Jennifer e Harry terminavam e voltavam o tempo todo, quase toda a semana, e todo mundo sabia disso, mas dessa vez parecia algo sério. Se eu tivesse um tempo, por menor que seja antes de eles voltarem, talvez conseguisse pelo menos abrir seus olhos e fazê-la se afastar daquele idiota.
  - Jenny, você quer ir ao jogo comigo amanhã?
  - No jogo? O do Ha... do time do colégio?
  - Sim, vai ser legal. São as finais, não são?
  - É... hum, tudo bem, eu acho, vai ser legal.
  - Ótimo.

* * *

  Assim que Styles chutou a bola para o gol, a torcida foi à loucura. Eu preferia nem comemorar o gol, mesmo sendo do time do meu colégio, apenas por saber que quem o fez foi aquele babaca, mas não queria ser levado a mal, então levantei como Jennifer o fez e gritei junto com o resto da arquibancada toda.
  - Quer? – ofereci meus natchos com queijo para ela, que olhou de canto por um tempo.
  - Muitas calorias. – gritou por cima do barulho do jogo.
  - Ah! Qual é?! – balancei a comida para ela. – E daí? Uma vez ou outra não faz mal!
  - É que... minhas amigas, elas me proibiram, você sabe.
  - Suas amigas, aquelas que deram para o seu namorado?
  Fiquei com medo de ter falado demais quando ela me olhou com uma expressão dura, mas não abaixei a guarda e vi seus olhos mudarem de cor para um verde mais escuro.
  - Quem você pensa que é? – arrancou a pequena tigela das minhas mãos e encheu a boca com natchos e queijo – Fala como se... como se não tivesse feito nada de errado nunca, como se nunca tivesse se apaixonado, como se gostar de alguém fosse coisa que só os tolos fazem.
  - Só os tolos se apaixonam. – afirmei.
  - E você é o rei do universo! – ela gritou e revirou os olhos. Sua voz estava abafada pelo barulho da multidão.
  Sorri e voltei a olhar para o campo lá embaixo.
  - Reis não podem ser tolos, então não.
  Ela pareceu um pouco surpresa e ergueu uma sobrancelha.
  - Então o senhor já se apaixonou?
  Fiz que sim com a cabeça.
  - Uma vez.
  - Por quem?
  Olhei-a, ainda sorrindo.
  - Você vai descobrir logo. – e assim coloquei fim ao assunto. Ela voltou a comer e olhar o jogo.
  Quando chegou ao fim do primeiro tempo, Jenny se ofereceu para ir comprar mais natchos já que acabara com os meus, mas eu disse que eu mesmo ia. Então, fui para o bar montado no corredor grande e extenso, entre as duas arquibancadas e antes do portão de entrada, e comprei natchos e refrigerante, sorrindo com o fato de eu precisar ensinar Jennifer as coisas boas da vida de novo. Aqueles amigos sem graça dela baniram toda a diversão nas coisas simples do dia a dia, e ela esquecera como é ser alguém normal.
  Quando voltei, porém, mais gente estava ali. Uma menina alta e esguia, com cabelos artificialmente negros até a metade das costas, de pé na frente de Jennifer com mais duas amigas. A arquibancada estava ligeiramente mais vazia por causa do intervalo, mas pessoas voltavam aos seus lugares a cada segundo.
  Ao chegar mais perto, pude ouvir o que elas falavam.
  - E quem você pensa que é para ir fofocar para o Sr Smith? Olha, querida, se você ta com dor de cotovelo pelo seu namorado não estar satisfeito com você e ter que recorrer a mim, venha acertar suas contas comigo, e não fazendo fofocas baratas para o diretor!
  Jennifer estava vermelha de vergonha, e um grupo de gente cada vez maior começou a se juntar na parte de cima da arquibancada para olhar o que estava acontecendo. Como estávamos em uns dos degraus mais baixos em relação ao campo, muita gente olhava lá de cima.
  - Eu não vou deixar de fazer o meu trabalho como representante do grêmio porque você está tentando me intimidar. – Jenny se levantou, ficando uns bons cinco centímetros maior do que a garota, e olhou-a de cima. – Você estava usando maconha. Eu só fiz o meu trabalho, e isso não tem nada a ver com a sua necessidade de abrir as pernas para o namorado das outras.
  Ouvi um coro de "uh" vir da platéia formada lá em cima e a próxima coisa que aconteceu foi uma garota pulando em cima da outra.
  Sempre imaginei isso sendo algo sexy e excitante, mas estava longe de ser isso. Pelo menos agora, quando eu estava bem no meio do fogo cruzado. Tentei separá-las, o que só fez meus nachos e meu refrigerante voarem longe e alguns arranhões nos meus braços, e não do tipo de arranhões bons que eu sonhava toda noite receber de jennifer, não.
  Um mar de gente incentivava a briga, enquanto alguns tentavam separá-las, sem muito efeito. Foi quando o macho alfa apareceu e fez todo mundo se afastar de perto, até mesmo a morena soltar os cabelos de Jennifer por um segundo, o que foi suficiente para eu puxá-la para trás pela cintura e segurá-la firme só para o caso de ela tentar escapar, ou só para poder me aproveitar do momento e ficar com o corpo colado no dela. O quão depravado eu era?
  Harry segurou a outra garota, que tentava de todos os jeitos escapar, enquanto chamava a Jennifer de vadia, vagabunda, entre outros.
  - Sally! Pelo amor de Deus, garota, se controla! – Harry falou para ela e ela parou, como se fosse sua cadela.
  Só o que me impedia de pular nele pelo ódio que eu sentia era Jennifer colada em mim. E coragem, claro.
  - Sua namoradinha foi quem começou, Harry. – ela choramingou, se esfregando no cara, e ele a afastou sem nem um pingo de gentileza, olhando para mim e Jennifer e nossa proximidade.
  É hoje que eu apanho.
  - Tem que aprender a controlar suas putas, Styles. – Jennifer rosnou para ele.
  - Como eu controlava você? – sorriu de canto.
  Mas aquele sorriso durou só alguns segundos até que meu punho acertasse sua cara sem nem eu mesmo me dar conta do que fiz. Sei que eu retomei a consciência pelo que fiz quando vi Harry caindo para trás na arquibancada e alguns pingos vermelhos mancharem a camiseta branca e suada do time que ele usava. Perdi minha consciência de novo segundos depois, quando foi o punho dele que me acertou.
  Só o que senti foi o gosto de sangue na minha boca, e então uma gritaria sem fim de gente tentando apaziguar a briga, e aí fui puxado, por sabe-se lá Deus quem, para longe de tudo aquilo.

* * *

  - Você não devia ter batido nele. – ela repetiu pela quinta vez nos últimos dois minutos. – Sua vida acabou, vvocê tá ferrado, é sério. Os caras do time, eles...
  - Shhh – toquei o dedo indicador nos lábios dela, e ela parou de falar e de passar a gaze no canto da minha boca por um segundo. Depois, continuou cuidando do ferimento.
  Eu mal sentia a dor, por causa da adrenalina que ainda corria no meu sangue, mas sei que, em alguns minutos, quando minha boca começasse a inchar aquilo ia doer.
  - O colégio vai ter um bom assunto para falar por meses. – ela suspirou. – Você agiu mal, muito mal.
  - Eu não podia deixar ele falar aquelas coisas de você. – falei, tentando não mexer muito a boca, para que não a atrapalhasse.
  Ela sorriu minimamente.
  - Obrigada.
  - Estou sempre ao seu dispor. – dei de ombros. – Sabe o que eu não entendo?
  - Hum?
  - como alguém linda, inteligente e maravilhosa como você pode ter namorado com um cara daqueles por tanto tempo. Ele só apagava o seu brilho, te fazia pensar que era muito menos do que você é de verdade. Você é incrivel, Jenny, e não merece alguém como ele.
  Não me pergunte de onde toda essa coragem veio, acho que era a adrenalina, mas de repente me senti desinibido e precisei falar tudo aquilo antes que aquela coragem toda passasse.
  - Eu só... – ela corou fortemente. – Eu me apaixonei por ele. – admitiu, baixinho. – Você sabe, eu era uma criança. Caras como o Harry são o sonho de qualquer garota do ginásio, e eu não passava de uma recém chegada no grupo dos VIPs que precisava de alguém para me fixar lá. Ele me pareceu ideal, me ganhou com todo aquele charme e o jeito fofo que ele tinha nas primeiras semanas, mas foi só. Assim que nós completamos dois ou três meses as coisas foram ficando cansativas para el,e enquanto para mim tudo ficava cada vez mais lindo e apaixonante. Eu fui tola, Niall, bem como você previu.
  Ela parecia zangada consigo mesma, e eu não podia suportar aquilo, não podia suportar que um babaca como Harry Styles fizesse minha princesa se sentir assim. Eu amava aquela garota há muito mais tempo e se havia alguém que a merecia esse alguém era eu. E eu não suportava a idéia de vê-la sofrer, isso acabava comigo.
  Afastei sua mão que segurava o curativo gentilmente e coloquei uma mecha do seu cabelo atrás da orelha.
  - Não se sinta culpada, o que passou, passou. Todo mundo erra, e é isso que o Harry é, só um erro, uma página arrancada na sua vida. – passei o polegar pela pele macia da sua bochecha. Percebi que o espaço entre nós ficou mais curto, e me perguntei se era eu que estava chegando mais perto e se aquilo era outro sonho. – Você tem a mim agora.
  Com certeza era um sonho.
  Pude sentir seu corpo rígido pela nossa proximidade. Ela olhou para a minha boca, e depois piscou alguns instantes antes de se afastar de novo. Pegou minha mão e tirou do seu rosto, fazendo carinho na minha pele em cima do seu colo.
  - Eu não mereço todo esse apoio. – sorriu.
  - Você merece tudo.
  Ela suspirou e se aproximou de mim, me dando um beijo demorado na bochecha.
  - Obrigada, Niall, mesmo.
  Reclamei quando Jennifer passou uma pomada que fez meu corte arder. Depois de uns minutos de silêncio, ela voltou a repetir:
  - Você não devia ter feito aquilo, mesmo. Eles vão caçar você.
  - Foge do país comigo?
  Nós dois rimos.

* * *

  - ... e foi isso.
  - Um beijo no rosto? – Jake falou incrédulo. – Só isso que você ganha por salvar a garota do cara mais babaca desse mundo?!
  Dei de ombros.
  - Vai ver eu e ela não combinamos. Vai ver, nunca vai acontecer.
  Jake se virou no sofá.
  - Faz o Si bemol, Niall.
  Fiz o acorde que ele pediu e continuei tocando um dedilhado qualquer.
  - Agora troca para o Lá com baixo em Dó sustenido.
  Fiz o que ele pediu.
  - Foi difícil?
  - Não.
  - E da primeira vez que você fez? Foi difícil?
  - Foi.
  - E da segunda?
  - Foi.
  - E da terceira, foi difícil, Niall?
  Suspirei.
  - Foi, Jake.
  - e da quarta, quinta, e da vigésima vez? Foi difícil trocar de Si bemol para Lá com baixo em dó sustenido?
  - Foi.
  - Mas você não desistiu, e agora conseguiu. Então não me faz te dar outra lição de vida, porque isso é clichê pra caralho, você entendeu onde eu quis chegar.
  Ri.
  - Sim, obrigado.
  Olhei em meu celular, eu estava atrazado.
  - Eu preciso ir.
  - Até a próxima, então.
  - Até mais, cara. – guardei o violão na capa e coloquei nas costas.
  Corri até em casa o mais rápido possível. A festa de Jenny era hoje, mas antes de anoitecer nos encontraríamos para abrir as cartas.
  Quando eu estava na quadra da minha casa, já não aguentando mais correr, eu a vi levantando do degrau da minha porta e quis gritar para ela esperar, mas percebi que ela me vira chegando. Corri até lá e ela foi ao meu encontro, enquanto eu parava de correr aos poucos. E o que aconteceu a seguir foi um choque e tanto para mim, porque ela me beijou.
  Não foi de verdade um beijo de cinema, mas ela segurou os lábios nos meus por uns dez segundos e eu não consigo descrever tamanha a perfeição do momento.
  Quando se afastou, eu olhei-a confuso.
  - O que eu fiz para merecer isso?
  - Eu pensei que você não vinha. Então, eu abri... – abaixou os olhos para suas mãos e eu também. Ela me entregou a carta aberta com uma letra enorme e torta de um garotinho de oito anos de idade, escrita há nove anos atrás nesse mesmo lugar. As palavras "eu amo você, Jenny" estavam em vermelho.
  - Jenny, eu...
  - Eu sei, eu sei, que pode ser que isso já tenha passado e que tenha sido só uma coisa de criança.
  - Eu...
  - Shh! – ela colocou a mão na minha boca. – Eu não quero ouvir, não agora, antes da minha festa. Meu dia está perfeito, principalmente agora que te cobrei meu presente – ela se refetiu ao beijo, o que me fez sorrir. – Então se tudo isso já tiver passado e você não sentir mais nada por mim, não me fale hoje, hoje, não.
  Ela virou as costas sem me dar espaço para falar, e voltou para casa correndo.

* * *

  - Boa, cara! – o cara que se não me engano se chamava Louis, com seu amigo, aquele novo na cidade, o tal de Zayn, me cumprimentaram logo que cheguei no colégio na manhã de quarta-feira.
  Ok, aquilo estava estranho. Sem piadinhas quando eu passo pelo corredor? Sem papéis escrito "me chute" colados nas minhas costas? Garotos me cumprimentando? Uau, pelo jeito não era só eu que não ia com a fuça do Styles por ali e tinha o desejo interno de dar um murro na cara do babaca. Ah, falando nisso, eu não vi ele com os caras do time em nenhum lugar até agora.
  - Você não ficou sabendo?! – Liam, o coordenador do comitê de festas e bailes me falava.(eu o conhecia por ser do grêmio e seguidamente andar com Jenny, e por meu irmão mais velho namorar sua irmã) – Ele foi expulso do time. Expulso!
  - O quê?! – olhei-o incrédulo. – Mas ele é o capitão!
  - Ele estava com notas baixas em todas as matérias, cara. Se pisasse na bola mais uma vez sequer, seria expulso. E ele se meteu em uma briga, tudo por sua causa, garanhão! – Liam riu e me deu soquinhos no braço.
  - E você... está feliz?
  - Ta brincando? As meninas podem ficar molhadinhas quando ele passa. Mas os caras? Todo mundo desse colégio odeia aquele idiota, Niall. Se o time quiser te bater, você pode contar com o resto do colégio. – piscou para mim e, com um tapa no meu ombro, se afastou.
  Voltei a guardar os livros em meu armário e depois dei meia volta, indo para o saguão principal onde um pequeno tumulto foi iniciado, provavelmente pela divulgação do tema do baile de outono.
  Ao chegar lá, não era exatamente isso que estava acontecendo. Styles estava de pé em cima de uma classe e atrás de si, em um mural na parede, uma foto de Jennifer de sutiã estava colada. Ele tinha o mesmo sutiã da foto nas mãos.
  - Quem dá mais? – gritou, rindo.
  Alguns marmanjos, uns com uniformes do time e outros não, riam e zoavam, enquanto olhavam o showzinho.
  - Ah! A estrela do show acabou de chegar! – Harry gritou, apontando para o topo das escadas atrás dele. Segui seu olhar e lá estava Jenny, tão incrédula quanto eu pelo que via.
  Atravessei a multidão toda de gente que se acumulou ali e fui até o pé das escadas para encontrá-la. Eu a chamei com a mão e ela parecia incerta em descer. Chamei de novo e ela veio até mim. Seu lábio inferior tremia e as bochechas estavam vermelhas, enquanto todo mundo ali ria e apontava para ela. Eu daria tudo para poder quebrar a cara daquele mauricinho de novo.
  - E, como vocês podem ver, o herói do dia está com ela.
  Mais risadas. Algumas pessoas ali no meio tinham olhar de desaprovação para Harry, mas a maioria, eu digo, seus "súditos", só sabiam rir. Bem vindo ao High School. Pessoas amam uma humilhação ao vivo logo cedo de manhã.
  - Styles, desça daí agora antes que você seja expulso do colégio também, e não só do time! – Laurence, o vice-diretor, falou.
  Harry fez pouco caso e desceu de lá ainda rindo.
  - Me acompanhe, por favor.
  Ele seguiu Laurence para o corredor que ia até a direção.
  As pessoas continuavam ali, rindo, e vez ou outra fazendo piadinhas sem graça para Jennifer, que se encolheu mais no meu abraço.
  - Já chega! – falei quando perdi a paciência e me afastei dela, indo para perto da classe onde ele subira.
  - Niall... – ela pegou a manga da minha camiseta.
  - Não se preocupa. – dei um beijo na sua testa e fui até lá. Subi na mesa e arranquei a foto do mural.
  - Vocês gostam de humilhação pública, não é? – falei alto, e de repente todo mundo ficou quieto para me ouvir. – Gostam de ver outras pessoas sendo humilhadas, se sentindo no chão, sendo pisadas por algum babaca como o Harry por puro prazer, não é? Pois bem. Eu posso ser invisível para todos vocês, e sei que a maioria aqui nem sabe o meu nome, mas deixem-me falar uma coisa: eu estudo aqui desde que me conheç o por gente e conheço cada um de vocês mais do que podem imaginar. Eu sei de podres que nem vocês mesmos lembram sobre si mesmos, e eu posso citar cada um de vocês aqui, agora mesmo, na frente de todos, se quiserem.
  Eles me olhavam com mais atenção agora, e entregavam a si mesmos por claramente terem um segredo e terem medo de serem expostos. Uma garota, em particular, estava com os olhos quase arregalados. Apontei para ela e ela deu um passo para trás.
  - Você. Eu sei sobre você também, Alicia Trivian, naquela festa de volta às aulas.
  A garota engoliu em seco.
  - Eu estava lá. Eu sei muito mais do que vocês podem imaginar.
  O silêncio foi sepulcral, e vi Liam, Zayn, Louis e mais alguns conhecidos se aproximarem do monte de gente.
  - Essas são as vantagens de ser invisível. – dei de ombros.
  O silêncio continuou.
  - Então, eu volto a perguntar, alguém aqui tem algo a dizer sobre Jennifer Sterling?
  Ninguém falou.
  - Alguém?! – falei mais alto. Alguns negaram e outros desviaram o olhar.
  - Bom, ótimo. Espero que continue assim. – Olhei para Jenny e rasguei a foto no meio. – Essa garota, a Jennifer, ela é a menina mais incrível que eu já conheci. Ela é boa, inteligente, engraçada e tem um sorriso que ilumina o dia de qualquer pessoa. Ela... ela é a garota que eu amo desde os oito anos de idade, e isso nunca mudou. As dores dela são as minhas, se ela está feliz eu automaticamente estou sorrindo também. Então é bom que acertem as contas comigo se tiverem algo contra ela.
  Jennifer usou um banco ao lado da mesa para subir ali em cima comigo e só o que aconteceu depois disso foi que ela me puxou e me beijou.
  Pude ouvir Liam gritando lá atrás e logo o resto das pessoas gritaram também, e alguns assoviaram e encorajaram. Mas, para mim, o mundo todo congelou e a única coisa que acontecia ali era minha boca na dela e o meu coração disparado.
  Deus, se isso for um sonho, por favor, não me acorde.
  O barulho parou e ouvimos um pigarro no salão, então nos separamos.
  - Senhor Horan, senhorita Sterling, queiram me acompanhar. – Laurence disse, se dirigindo para o corredor da direção de novo. Nos olhamos.
  - É uma boa hora para falar daquele plano de fugir do país. – ela disse e nós dois caímos na risada.

* * *

  No sábado de manhã, bati cedo na casa ao lado. A porta foi atendida e um olhar surpreso me encarou.
  - Bom dia, Sr. Sterling.
  - Bom dia, Niall... – ele olhou confuso para o que eu segurava nas mãos. – O que...
  - Niall? – Jenny estava parada no pé da escada. Correu até a porta e me deu um selinho, na frente do pai. – Oi.
  - Oi. – sorri também.
  - O que... – Sr. Sterling repetiu.
  Jenny olhou para minhas mãos e fez o mesmo olhar de confusão do pai.
  - Pra quê o galão de tinta?

* * *

  Ela ria de algo extremamente idiota que eu falei enquanto passava o rolo de tinta lilás na parede do seu quarto.
  - Você não fez!
  - Eu fiz sim! – ri. – Eu fiquei dois dias tomando banho de uma em uma hora!
  Ela gargalhou outra vez, aquele som me parecia melhor do que um coral de anjos. eu fechava os olhos para aproveitar melhor, enquanto ele soava pelos meus ouvidos da melhor maneira possível.
  - Eu gosto dessa cor. – falou, depois da nossa crise de riso. – É... inspiradora, relaxante... nova. – suspirou.
  - Combina com você, na nova fase da sua vida.
  Ela me olhou.
  - A fase chamada serei-eu-mesma-acima-de-tudo.
  Ela riu.
  - Com o subtítulo namorado-novo-vida-nova. – riu de novo, mas dessa vez eu não a acompanhei.
  - Namorado? – falei, cheio de expectativa na voz. Eu sabia que meus olhos estavam brilhando, porque podia sentir isso. Deus, eu esperei tanto por isso, eu não podia acreditar que finalmente consegui.
  Ela soltou o rolo nos jornais do chão e passou a mão no rosto para tirar os cabelos da frente dos olhos, mas acabou sujando a bochecha.
  - Sim... se você quiser.
  Puxei-a pelo cós da calça até mim e a abracei pela cintura.
  - Eu sonhei com isso durante anos. – falei, antes de beijá-la.
  Minha. Minha namorada. Minha. E dessa vez, seria tratada como merecia, como uma princesa. Minha princesa. Minha.

* * *

  Junto com a fase nova da vida, e a cor nova da parede do quarto, veio o quote novo na parede no lugar de um mural de fotos em ruínas: Love is louder than the pressure to be perfect.



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