Love changes
Escrito por Catiti | Revisado por Luma de Souza
Fevereiro, 2002.
estava parada, perto da porta da sala, ansiosa. Arrumou sua saia jeans e respirou fundo. Ia ver ele hoje, seu amor. Seu melhor amigo, seu namorado? Não, ainda não. Passou o gloss rosa e entrou na sala. Sorriu para o professor e ele deu uma piscada. É claro que Paulo iria apoiar, afinal, ele era como seu pai. Mas isso não vinha ao caso.
Se sentou no seu lugar de sempre e ouviu alguém a chamar. Olhou na direção e sorriu, Brendon a fitava, com um sorriso no rosto. Viu o menino se levantar e se sentar do seu lado.
'Bom dia.'
'Bom dia, Bden. Que saudade.' sorriu e o mordeu.
'Não mais que eu. E falando nisso... Tenho que te contar uma coisa.'
'Diga.'
'Lembra que eu disse que estava apaixonado por uma garota?'
gelou.
'Sim, o que tem?'
'Eu vou me declarar pra ela.'
'Sério?'
'Na verdade, já me declarei.'
Ela estava sonhando, não estava?
'E ai?'
'Ela ainda não me respondeu. '
'Quando vai dizer quem é?'
'Quando ela responder. ' O celular dele tocou. Um uivo solitário, mostrando que acabara de receber uma mensagem. 'E ela respondeu. '
engoliu em seco. 'Ela?'
'A Sarah. E ela disse sim!' Brendon quase gritou tamanha era sua felicidade.
'Ah...' sorriu fraca. 'Bom, felicidades. ' Ela se levantou. 'E... Eu tenho que ir.'
A menina se levantou e saiu da sala, segurando o choro até chegar à casa do seu pai. E lá, aconteceu de novo. O que acontecia todas as vezes que ela ia pra lá. Ele a... Abusou.
Afinal, o único motivo de ela morar sozinha era esse. Mas agora ela precisava de um lar. Ou algo próximo disso.
Março, 2012.
- ! - Alguém gritou. Merda. Não acredito que me perdi lembrando daquilo de novo. Suspirei e fitei a pessoa, que aparentemente era Hanna.
- Diga, amor.
- Vai fazer o que hoje?
- Bom... - Abri minha agenda. Olhei e vi que tinha hora marcada com um tal de John. Como se me importasse. - Tenho trabalho, amor.
Vi a boca dela se fechar. É, ela nunca foi a favor disso. E quem seria? Prostituição não é bem uma profissão digna. Mas quando não se tem dinheiro, o jeito é se virar.
E foi exatamente o que eu fiz.
Ah, desculpe-me. Não cheguei a me apresentar. , 23 anos, nascida no dia 3 de agosto e que sofria abuso sexual do pai biológico. Agora veja a ironia: Acabei virando isso.
Mas... Faz parte, como alguém já disse, 'A vida é desenhar sem borracha', e eu concordo.
- Qual é, Hanna! Não superou isso?
- Nunca vou superar. Minha melhor amiga é uma puta.
- Profissional do sexo, por favor. - Brinquei.
- Não é hora para brincadeiras, caralho!
- Ah, qual é, Han. Pra eu abandonar essa desgraça de vida, eu tenho que me formar e conseguir um estágio. E publicar meu livro. Não é fácil, sabia?
- Pede dinheiro pro seu pai.
- Nunca. Ele... Já fez demais. - Falei, com rancor. É. O filho da puta nunca foi preso.
- Eu sei o que seu pai fez, mas não falei desse. Falei do Paulo.
- Ah sim. - Recolhi meu material. - Vou lá no meu professor da escola pra pedir dinheiro pra bancar minha faculdade. Você e seus sonhos.
- Só não admito você vender seu corpo!
- Amiga, sem querer ser grossa, mas... Quem tem que admitir isso sou eu. E já fiz, há anos.
- Arg! - Hanna bufou e se afastou. Dei de ombros e coloquei meus fones no ouvido, colocando para tocar minha playlist para voltar pra casa. Fui até a parada de ônibus e o vi, e tudo voltou rápido demais. O dia que ele se declarou pra... Noiva dele. Sarah. E que agora, coincidentemente, era a musa de uma das músicas que eu mais gostava. Sarah Smiles.
Respirei fundo e continuei andando até a parada, mas o Brendon acabou me vendo. E é claro que reconheceu. Eu não mudei nada desde daquela época. E... Quantos anos haviam se passado? Dez anos. Dez anos pensando nele. Acabou que aquele amor bobo de escola virou realmente um amor de verdade. E como eu me odeio por não ter me declarado. Acho que... Poderia ter sido diferente.
Ainda pensava nisso quando ouvi uma buzina perto de mim. E, por reflexo, me virei.
E dei de cara com um porshe preto.
- ?
Tirei o fone e suspirei.
- Oi.
- Se lembra de mim?
'Como poderia me esquecer?'
- Claro, Brendon. Como vai?
- Bem... Onde está indo?
- Pra casa.
- Aceita uma carona?
- Não, obrigada.
- Qual é . - Ouvir o meu apelido de quando era pequena fez meus braços se arrepiarem. E lembrei-me dele sussurrando contra meu pescoço... - Eu te levo, e sinto que você está indo até a parada.
- Como adivinhou?
- Eu tenho dons, se lembra?
'O dom de mesmo depois de dez anos ainda me deixar revoltada à toa e continuar me fazendo te amar?'
- É. - Ri fraca. - Me lembro.
- Então pronto. - Ele abriu a porta do carona. - Entra.
Entrei do lado dele e senti o perfume. Ainda era o mesmo. Doce, meio cítrico, suave, penetrando meu cérebro e me trazendo mil lembranças.
Lembranças que eu queria esquecer.
- Então... Como anda a vida?
- Boa. Estou na faculdade de História - 'E sou uma prostituta para conseguir pagá-la' - e pretendo conseguir um estágio no final do último semestre.
- Acabou que seguiu os passos do Paulo? - Ele disse, meio rindo. Não consegui não rir.
- Ainda se lembra disso?
- , me lembro de tudo sobre você.
Engoli em seco.
- Tudo?
- Tudo. Sua música preferida da época, e sua banda preferida de agora.
Ri alto.
- E qual seria?
- Claro que a minha.
- É. Acertou. Sou apaixonada - Por você. - por Panic.
- Claro que é, é do seu estilo.
- Não se sinta o melhor, - Ri, apontando para onde ele tinha que virar. - também sou apaixonada por Arctic Monkeys, bobão.
- Somos melhores.
- Talvez... - Ri.
- Então... Vamos ver. - Brendon parou no sinal vermelho e pegou meu Ipod, vendo as músicas. - Você tem todas.
- Tenho, eu disse que era uma das minhas preferidas.
- E qual você mais gosta?
- Não sei. É uma duvida cruel.
- Então me fala uma delas.
- Hurricane.
- Are you worth your weight in gold? 'Cause you're behind my access when I'm all alone. - Ele cantou, e eu arrepiei. Parecia um sonho.
- Hey, stranger. I want ya to catch me like a cold. - Cantei, rindo, e ele se juntou. - You and god both got the guns, and when you shoot I'd think I'd duck!
- I led the revolution, in my bathroom.
- And i set all the zippers free. - Cantei, e ele se juntou de novo. - They said no more wars, no more clothes.
- Give me peace...
- OH! KISS, ME!
- Eu amo essa música.
- Vou contar pro Spencer que Panic fica melhor com você no vocal.
- Ah, sim. Porque seria lindo me ter no Panic.
- Enfim, e a vida?
- Tá indo, e a sua? Como vai a Sarah?
- Bem, mas... Não sei. - Ele suspirou.
Espera, suspirou?
Pelo o que sei, isso é sinal de aborrecimento.
- O que?
- Não é como antigamente. Eu acho que...
- Não a ama mais?
- É, por ai.
- Ah. - Mordi minha boca para conter um sorriso. - É alí.
- Ainda nesse sobrado?
- É. Ele era da minha mãe.
- Me lembro daqui. - Brendon sorriu. - Então... Até mais.
- Foi bom te ver.
- Calma. Qual é o seu numero? - Ele pegou o Iphone dele.
- Me dá isso aqui. - Resmunguei e o roubei da mão dele, colocando meu numero. - Quer entrar?
- Não dá, reunião com o Spencer.
- Ok. - Sorri e desci do carro. - Então... A gente se vê.
- É. - Ele sorriu e veio aquela dor no meu peito. - Beijo, .
- Bye, Bden.
Vi o porshe se afastar e meu sorriso se abriu. Então... A Sarah não conseguiu aguentar? Ri sozinha e fui até o meu sobrado. Olhei o relógio e suspirei, tinha 4 horas para estudar e me arrumar. Sentei-me na escrivaninha e comecei a escrever minha crônica.
Passou 3 horas e meia até eu finalmente terminar meu dever. Levantei-me e fui tomar um banho, e é mais que óbvio que não parei de pensar nele. Eu precisava arrumar um jeito de tê-lo. O único jeito seria se ele me ligasse, ou melhor, ligasse pra 'Luna'.
O que mais me irritava era que eu não conseguia entender o meu amor. Ou será que o entendia até de mais? Eu sentia como se... Pudesse morrer por ele. Mentir por ele. Roubar por ele. Até... Matar por ele.
Estou ficando louca.
Liguei o chuveiro na água fria, a única que realmente me fazia relaxar e por uma fração de segundo, ele saiu da minha mente. Mas logo voltou. E o que havia voltado? Nada mais do que ele me dizendo sobre a Sarah. E por isso... Talvez eu tivesse uma chance com ele.
Como se eu fosse boa o bastante.
Saí do banho e me vesti. Uma lingerie preta, com uma cinta liga e uma meia preta ¾, com o corselete de tomara que caia. Vesti o meu tubinho preto e a peruca ruiva cacheada. Coloquei lentes azuis e passei um leve traço preto nos meus olhos e finalizei com um batom roxo. Peguei minha bolsa e olhei o relógio, de novo. Já eram oito horas quando saí e peguei um taxi até a casa do... Jared? Não... John.
***
Voltei pra casa às nove. Até que dessa vez foi rápida. Tirei a peruca e a minha maquiagem, voltando a ser a . A mesma com o amor platônico pela paixão da escola a.k.a. cantor do Panic! a.k.a. Brendon Urie.
Maldita vida.
Coloquei meu blusão roxo e minha boxer feminina preta, e me joguei no sofá. Passava Supernatural. Como se eu conseguisse prestar atenção. Só tinha ele na minha cabeça.
Mas isso não é nenhuma novidade.
Acordei deitada de um jeito estranho no meu sofá. Olhei o relógio e dei graças a deus. Ainda estava na hora. Tomei um banho rápido e vesti um vestido preto soltinho, com uma rasteirinha rosa. Estava gay. E a Hanna iria me bater se me escutasse falando isso.
Peguei minha mochila e meu celular, e o que tinha? Um sms de algum número desconhecido. E é claro que eu sabia de quem era.
Brendon Urie.
Vai ter uma festa semana que vem, .
Vamos? Como amigos... É claro.
Beijos, Bden.
Respondi um sim básico e dei pulinhos. Não acreditava que ele tinha me chamado pra isso, e isso seria um encontro? Olha pra mim, sonhando alto de novo.
Estava na porta de casa quando o meu outro celular tocou. Provavelmente, era algum necessitado ligando pra Luna.
- Diga, xuxu.
- Lu... Luna? - De onde eu conhecia essa voz?
- Eu mesma. - Olhei o número e vi no visor. Era o mesmo do Brendon.
Era o Brendon.
Brendon Urie.
Brendon Boyd Urie.
Filho da mãe!
- Você tem uma hora hoje?
- Tenho, querido. Às 7 e meia, serve?
- Tá ótimo. Obrigado.
- E... Tá.
Desliguei o celular e cai sentada no chão. Ele era só mais um canalha. O mesmo tipinho pervertido que necessitava de sexo. O mesmo tipinho ridículo de famoso que não tem o caráter para manter um compromisso.
O tipinho ridículo de homem que eu me apaixonei quando tinha 13 anos.
Precisei de ajuda para me levantar. Fui meio zonza até o ponto de ônibus e me sentei num lugar vazio. Nunca tinha imaginado que ele fosse fazer isso.
Não consegui prestar atenção na aula. Não com essa bomba na minha cabeça. Como será que ele conseguiu meu numero? Só se a vadia da Hay tivesse passado.
Fui pra casa no final da aula e preparei uma coisa que há tempos não precisava: um banho de banheira.
Coloquei tudo, sais, espuma, toda essa coisa desnecessária que dizia que relaxava. Estava tão tensa que resolvi ver se funcionava. Me sentei na banheira e ele ligou.
- Diga.
- Eu não te passei meu endereço.
- Então fale. Qual é o seu nome? - 'como se eu precisasse saber.'
Anotei o mesmo no celular e desliguei, pensando numa roupa que eu poderia usar. Mas aí que eu me lembrei. Ele já me viu seminua, e viu a cicatriz que eu tenho na perna. Mas, não sei se ele iria se lembrar.
Ou será que se lembraria? Afinal, tinha dito exatamente nessas palavras: 'Cat, me lembro de tudo sobre você.' E é bem possível que ele me reconheça na hora do ato.
E isso seria muito constrangedor.
Saí do banho e vesti um conjunto de sutiã e calcinha roxo. Coloquei a cinta liga e a prendi na meia ¾ da mesma cor do sutiã. Arrumei minha maquiagem, caprichando dessa vez. Vesti um vestidinho soltinho branco, que deixava à mostra a cinta e coloquei um salto roxo. E coloquei uma peruca loira dessa vez, com as lentes verdes.
Não conseguia me reconhecer. E era assim que eu queria.
Peguei um táxi e narrei o endereço dele, e em 20 minutos cheguei à mansão do homem.
Respirei fundo e toquei a campainha. Passou alguns segundos e ele abriu a porta, a aparência horrível. Parecia que havia bebido a tarde toda, o que seu bafo comprovou ao falar comigo.
- Luna?
- Eu mesma.
- Entra. - Ele abriu passagem. Entrei na sala e vi 2 garrafas de vodka vazias, na mesa de centro e fui direto até o quarto. Queria acabar com isso.
- Vamos acabar logo com isso.
- Eu... Eu conheço sua voz.
- Não, não conhece.
- AH, e não me importa. Nada mais importa.
- O... O que houve?
- Terminei com minha noiva. Ela estava me chifrando.
Fiquei estupefata. Vadia. Puta. Prost... não, isso era eu.
- Hum, não me importa. - Tirei meu vestido e o joguei no chão. Ele piscou e fitou meu corpo, esquecendo-se da Sarah e de tudo. Dava para ver o desejo no olhar dele. Até que ele viu minha coxa direita.
- Eu já vi essa cicatriz.
- Não, não viu.
- De onde ela é? - Ele se levantou e chegou perto. - E esse perfume... - Ele respirou fundo perto do meu pescoço. - C... ?
- Merda. - Peguei minha roupa e a vesti, rápida, mas não o bastante. Ele já tinha trancado a porta do quarto e guardava a chave no bolso.
- ? Você... Você é uma prostituta?
- Não sou . - Disse. - Sou Luna.
- NÃO MENTE PRA MIM!
- VÁ A MERDA, URIE!
- Como sabe meu sobrenome?
Merda.
- Me deixa ir.
- Vo... Não acredito. E eu... Sou apaixonado por você. Sou apaixonado por uma - Ele se sentou na cama. - prostituta.
Ouvi aquilo calada, e as lágrimas vieram rápidas. Não sabia se chorava por tristeza dele ter descoberto ou de felicidade por ele dizer que me ama. Mas aí vi a feição dele, de tristeza, de desprezo, de nojo. De nojo de mim.
- Me dá a chave.
- Não.
- ME DÁ A DROGA DA CHAVE!
- Não!
- Não? Vai ficar me prendendo aqui? Vai continuar com essa cara de nojo e ainda vai me forçar a ver? - Ele não respondeu. - Vai me deixar vendo o homem que eu amo há 10 anos ficar com raiva de mim, nojo, decepcionado? - Disse, chorando. - Isso... É o pior tipo de tortura.
- Me ama? - Brendon se levantou. - Me poupe. Se me amasse, não seria uma puta.
- Puta? Acha que eu gosto? EU só faço isso porque preciso de dinheiro! Quero terminar minha faculdade, seu idiota!
- Sei.
- É, por que eu sou uma maníaca por sexo. Sem sexo, eu fico doente. Sim, vai nessa. - Disse irônica, e com a voz falha.
- Achei que te conhecesse.
- CONHECIA! NA PORRA DA ÉPOCA QUE EU TE AMAVA E VOCÊ COMEÇOU A NAMORAR A VADIA DA SARAH?
- VADIA? QUEM É A PROSTITUTA AQUI? - Ele se levantou e foi até a minha frente, e o dei um tapa.
- Nunca mais me procura. Nunca mais lembra que eu existo, Brendon. Só se lembre daquele dia, que eu, disposta a te amar, fui embora por causa da sua idiotice de tentar ficar com a menina mais rodada da escola. Fui embora pra casa do meu pai, o homem que me abusava só por que eu me senti quebrada, e lá era o melhor lugar pra eu chamar de casa. Desculpa, se eu nunca vou ser boa o bastante para você.
Ele escutou isso calado e me deu a chave. Abri a porta e sai da casa correndo, chorando. Eu... me odeio.
Cheguei em casa e me tranquei no quarto, me jogando na cama e desabando de choro. Eu me sentia suja, nojenta, impura... Uma completa puta. Uma mulher sem alma.
E sem amor.
***
- Oi, .
- O que?
- O que houve com você?
- Amor. Amor não corespondido, pra ser exata. - Disse, sem expressão. Já tinha se passado 5 dias desde daquela noite. Cinco dias de tortura. De choros sem fim de noite, e sem escutar Panic! At The Disco sem chorar.
- Tenho uma festa hoje, e você vai comigo!
- Não, Han. Não vou.
- Vai, sim. E já era. Tá decidido.
Fui pra casa da Hanna e lá me arrumei. Fiquei falando bobagem até as sete e as nove já estava pronta, com um vestido da Hanna que ela inventou de me emprestar. Passei uma maquiagem forte, estilo Taylor Momsen (olhos pretos e boca roxa) e um rímel básico. Passei o meu perfume de sempre e me joguei na cama, esperando Hanna terminar.
Chegamos à festa às 10. Estávamos descendo do táxi e vi que a festa era aquelas chiques, com tapete vermelho e alguns famosos aparecendo por lá. E ai, veio na minha cabeça. Essa era a mesma festa que o Brendon queria me levar. Xinguei mentalmente e tentei fugir, mas a Hanna não iria deixar. E não deixou. Me puxou até dentro do salão e por alguns segundos esqueci de tudo.
O salão estava divino. Com luzes vermelhas, azuis e roxas e alguns pontos sem nenhuma iluminação. Um bar no meio do salão e pufes por todo o lado direito. No lado esquerdo, um palco com uma banda, mas sem cantor. Aparentemente era um karaokê? Era, mas um mais sofisticado com música ao vivo. Os garçons andando de calça social e suspensório e as meninas com aquelas lingeries estilo But It's Better If You Do. Sabia que reconhecia esse ambiente. A festa era do Panic! At The Disco. E eu estava nela.
Me sentei com Hanna num pufe e Spencer e Brendon subiram ao palco, agradecendo a presença de todos na festa deles de comemoração aos 7 anos do single deles. Até Ryan e Jon estavam presentes, o que, como uma fã incondicional de Panic, quase me fez chorar.
Os quatro subiram ao palco e começaram a tocar, e eu nesses minutos me esqueci de tudo, curtindo a minha banda preferida cantar as minhas musicas preferidas. Estava tudo tão lindo...
Bom, estava.
Brendon terminou de cantar e anunciou que todos deveriam usar mascaras iguais a do clipe, e eu peguei a única máscara em cima da mesa. E aí começou a chamar as pessoas para cantar.
Advinha quem ele chamou primeiro? Não, não fui eu. E sim a Sarah. Maldita Sarah.
A menina subiu ao palco e começou a cantar alguma música que eu não conhecia, pedindo perdão ao Brendon, que sorria, como se aceitasse as desculpas e a recebesse de volta.
Sim, a recebesse de volta.
Meu coração doeu quando ela desceu do palco e o beijou. E num ato automático, me levantei e fui até o palco.
Sussurrei a musica que a banda tinha que tocar e fiquei olhando pra baixo, até a música começar. Coloquem para tocar.
Take me, I'm alive
(Me pegue, eu estou viva)
Never was a girl with a wicked mind
(Nunca fui uma garota com uma mente pervertida)
But everything looks better when the sun goes down
(Mas tudo fica melhor quando o Sol se põe)
I had everything, opportunities for eternity
(Eu tinha tudo, oportunidades para a eternidade)
And I could belong to the night
(E eu poderia pertencer à noite)
No momento que abri minha boca para cantar, Brendon se virou pra mim. Claro que ele iria reconhecer a minha voz. Eu sempre cantava pra ele naquela época.
E eu sabia que ele iria ver a verdade nessa música, como ela mesma diz: Nunca fui uma garota com uma mente pervertida, mas tudo fica melhor quando o sol se põe. E como esperado, ele viu que era eu. Só não me reconheceu como percebeu que a música era pra ele. Era sobre mim, cantando pra ele.
Your eyes, your eyes
(Seus olhos, seus olhos)
I can see in your eyes
(Eu posso ver em seus olhos)
Your eyes
(Seus olhos)
You make me wanna die
(Você me faz querer morrer)
I'll never be good enough
(Eu nunca serei boa o bastante)
You make me wanna die
(Você me faz querer morrer)
And everything you love
(E tudo o que você ama)
Will burn up in the light
(Vai queimar na luz)
And everytime I look inside your eyes
(E sempre que olho dentro de seus olhos)
You make me wanna die
(Você me faz querer morrer)
E quando cantei o refrão, veio a cena de 5 noites atrás. O olhar dele de nojo, a decepção. Minha tristeza. Eu não merecia isso. Eu não tinha culpa de ser pobre. Não tinha culpa nenhuma de ter me apaixonado por ele e por ele ter se apaixonado por mim.
Eu estava ficando louca. Eu... Estava dizendo que ele me fazia morrer.
Bem, era verdade. Eu morri quando ele disse aquelas coisas.
E ainda estou morta.
Taste me, drink my soul
(Experimente-me, beba minha alma)
Show me all the thing that I should've known
(Me mostre todas as coisas que eu deveria saber)
When there's a new moon on the rise
(Quando há uma Lua Nova em ascensão)
I had everything, opportunities for eternity
(Eu tinha tudo, oportunidades para a eternidade)
And I could belong to the night
(E eu poderia pertencer à noite)
Your eyes, your eyes
(Seus olhos, seus olhos)
I can see in your eyes
(Eu posso ver em seus olhos)
Your eyes, everything in your eyes
(Seus olhos, tudo em seus olhos)
Your eyes
(Seus olhos)
Ele saiu do abraço da Sarah e foi até perto do palco, sem piscar enquanto me encarava e eu, sendo a covarde que eu sou, não conseguia o olhar. Fitava Hanna, que sorria com a minha coragem. E Spencer, que parecia feliz também. Provavelmente por que não gostava de Sarah.
Bem vindo ao time.
E ai, senti Brendon pegando na minha mão, e num reflexo, eu me soltei dele, limpando uma lágrima que escorria no meu rosto.
You make me wanna die
(Você me faz querer morrer)
I'll never be good enough
(Eu nunca serei boa o bastante)
You make me wanna die
(Você me faz querer morrer)
And everything you love
(E tudo o que você ama)
Will burn up in the light
(Vai queimar na luz)
And everytime I look inside your eyes
(E sempre que olho dentro de seus olhos)
You make me wanna die
(Você me faz querer morrer)
Me virei pra ele e consegui fitar aqueles olhos castanhos. Comecei a cantar a próxima estrofe e alisei o cabelo dele, sentindo os olhos de todos os presentes na festa fitando nos dois. Inclusive a Sarah. Será que ela se lembrou de mim?
Não importa.
I would die for you, my love
(Eu morreria por você, meu amor)
My love
(Meu amor)
I would lie for you, my love
(Eu mentiria por você, meu amor)
My love (Make me wanna die)
(Meu amor (Me faz querer morrer))
And I would steal for you, my love
(E eu roubaria por você, meu amor)
My love (Make me wanna die)
(Meu amor (Me faz querer morrer))
And I would die for you, my love
(E eu morreria por você, meu amor)
My love
(Meu amor)
Me virei para frente do bar e comecei a cantar, como se o mundo fosse acabar e senti Brendon pegando novamente na minha mão.
Mas dessa vez não soltei.
Will burn up in the light
(Vai queimar na luz)
And everytime I look inside your eyes (I'm burning in the light)
(E toda vez que olho em seus olhos (Estou queimando na luz))
Look inside your eyes (I'm burning in the light)
(Olho em seus olhos (Estou queimando na luz))
Look inside your eyes
(Olho em seus olhos)
Me virei pra ele e sussurrei, próximo ao rosto dele.
You make me wanna die
(Você me faz querer morrer).
E o que aconteceu depois, surpreendeu a todos. Inclusive a mim.
Ele me beijou.
Beijou.
Tudo bem que foi um selinho rápido. Mas mesmo assim, eu me senti... Incondicionalmente feliz. E é claro que eu fiquei estática, mas ai ele me puxou pela cintura e eu tirei minha mascara, envolvendo o pescoço dele e ele sorrindo, aquele sorriso que de algum jeito, eu sabia que ele nunca tinha feito pra ninguém, muito menos pra Sarah. Quando ia falar algo, ele me beijou, beijou de verdade, e eu só conseguia ouvir ao longe as pessoas da festa gritando, aplaudindo e alguém esperneando. Provavelmente a Sarah. Como se eu me importasse.
Brendon me pegou no colo e me desceu do palco, ainda com o mesmo sorriso de antes. Me levou até a mesa dele e me sentou na cadeira, com o olhar de todos em cima de nós dois.
- Vo... Você me desculpa?
- Hã?
- Me desculpa por ter sido um idiota, um... Animal, um sem coração. E por ter demorado tanto pra ver que quem eu amo, na verdade, é você.
- Ai, meu Deus.
- Que?
- Eu... Te amo. Demais. Eu te desculpo, Bden. Claro que desculpo.
Ele sorriu de novo e meu coração pulou, e ai ele tirou um anel com uma única pedra azul, e sorriu pra mim.
- Você aceita namorar comigo?
- Não.
- Não?
- Não recusaria isso por nada. - Sorri e ele me beijou, assustado.
- Qual é o seu problema? - Ele brigou.
- Nenhum, o único era não ter você do meu lado, mas agora... - Sorri e ele me beijou, de novo.
- Você é louca, sabia?
- Louca por você. Isso é um fato. - Pisquei e me alinhei nos seus braços.
Bom, agora sim eu estava feliz. Viva, de novo. E não precisava de mais nada.
Além dele, é claro.