Lost time

Escrito por Andressa | Revisado por Andressa

Tamanho da fonte: |


  Subi a escada até seu quarto já sentindo o cheiro delicioso de seu perfume.
  Como poderia esquecer se passei tanto tempo junto àquele corpo moreno de tanquinho, bem definido... Para! Se continuar assim eu nunca vou conseguir dizer o que tenho que dizer e muito menos fazer o que preciso.

  Paro na frente da porta do quarto de , suspiro pesadamente tomando fôlego antes de entrar e acabar com tudo.
  - ... - Digo abrindo lentamente a porta.
  - Não! - grita e joga um travesseiro na porta para que se feche.
  De novo. Penso. Quem será dessa vez?
  Sento-me na escada, sei que vai demorar um pouco ainda para que ele conte a mulher o porquê de eu estar aqui.
  - NÃO ACREDITO QUE VOCÊ TEM "NAMORADA" - A desconhecida grita com com desdém ainda maior quando diz a última palavra.
  A porta é aberta com força e uma ruiva sai vestindo uma calça jeans e sutiã, com os sapatos na mão. Me lança um olhar de desprezo quando passa por mim.

  Levanto-me ao ver ela desaparecer em direção a saída. Paro na soleira da porta admirando o homem deitado de barriga pra cima, despreocupado.
  - ... - Dou um passo para dentro do quarto e ele se vira para me encarar. Não consigo continuar, como posso ter sequer pensado em deixá-lo?
  Ele se vira de lado e abre espaço para mim na cama toda bagunçada e com cheiro de sexo. Aproximo-me da cama, mas não sento, se o fizesse não conseguiria continuar com isso.
  - O que foi, amor?
  Olho para a janela diante da cama e fico contemplando as nuvens brancas no céu azul claro, lindo, assim como o homem deitado nesta cama a minha frente...
  - ? O que está olhando?
  - Nada não... precisamos conversar.
  Termino de falar para então olha-lo nos olhos. Minha espressão fechada, a dele assustada e temerosa. Ele se levanta mostrando-se estar de bermuda apesar e peito nu.
  - Vou ao banheiro e já volto. Pode sentar na cama. - Com um sorriso fraco na última frase.
  Espero de pé por um tempo, mas depois, vendo que ia demorar acabo sentando na cadeira perto da janela.

  Quando volta do banheiro está lindo (como se isso fosse novidade, né?!), com um sorriso no rosto, mas esse logo esmaeceu quando viu que eu não estava na cama e sim sentada o mais afastada dela possível naquelas condições.
  - Estou aqui - Fala exasperado levantando os braços e depois deixando-os cair ao lado do corpo.
  Não falo nada, só o encaro.
  Como vou conseguir fazer isso? Quero mesmo acabar com nosso namoro? Será que consigo aguentar ficar longe dele?
   se joga na cama quando não respondo.
  - Não posso mais continuar com isso. Não basta pra mim, não quero ter que te dividir com outras. - Falo rápido querendo que esse momento acabe logo, ansiosa por sua resposta.
  Enquanto ensaiava como falaria com ele sempre imaginei-o dizendo que dessa vez largaria as outras, que seria só eu e ele, juntos, sempre. Mas quando ele hesitou antes de responder acabei perdendo as esperanças e comecei a achar que tudo estava perdido. Eu estava perdida. Os sonhos que eu fiz para nosso futuro, TUDO estava perdido.
  - - Sussurra. - Você sabe, sempre soube que não sou um homem daqueles que gostam de ficar presos em um relacionamento.
  Ele falava devagar e claramente, talvez com esperança de que dessa vez eu entendesse o que estava dizendo.

  Já tinha tentado três vezes ter uma conversa definitiva com . Na primeira ele acabou me jogando na cama e tirando minhas roupas, já dá para imaginar o que aconteceu depois... Bem, eu acabei por não consegui terminar a conversa. Na segunda a gente brigou, ele ficou estressado por eu não conseguir entende-lo e acabou por me deixar sozinha na casa com a conversa mal acabada. Ele voltou vinte minutos depois encontrando uma devastada chorando abraçada em um travesseiro em sua cama, me pediu desculpas e disse que iríamos ficar bem, tirou o travesseiro dos meus braços e me apertou contra si. A terceira foi a pior de todas, ficamos sem nos falar por uma semana e meia depois da briga, mas por fim ele resolveu bater na porta da minha casa, como sempre eu não olhei antes de abrir a porta e quando abri ele já me puxou para seus braços, sem me dar tempo para empurrá-lo.
  Essa era a quarta vez, mas meus limites já estavam estourados. Não passaria dessa.

  Levanto e pego miniha bolsa que havia deixado próximo da soleira da porta. As lágrimas ameaçavam descer por meu rosto.
  Viro em direção a porta, não quero que ele veja meu estado. Duas lágrimas escorrem livremente pelo meu rosto.
  - , onde está indo? - Sua voz mostrava que estava confuso, sem saber o que fazer e nem o que eu faria.
  - Não posso mais, . - Viro para encará-lo uma última vez. - Eu sabia que você tem problemas com relacionamentos mais sérios... Mas pensei que gostasse mesmo de mim... Achei que você mudaria...
  Não consigo falar mais nada, as lágrimas agora corriam livermente pelo meu rosto sem conseguir refreá-las.
  - Não vai embora, . Não de novo. - Sua voz suplica, já levantando da cama e tentando me fazer parar.
  Corro escada abaixo perturbada por ele estar tão perto. Preciso ir mais rápido! Se me alcançar sou capaz de esquecer do que me trouxe aqui.
  - ! ESPERA, VAMOS CONVERSAR!
  Tiro a chave do carro de dentro da bolsa correndo em direção a porta da frente.
  Sinto suas mãos tocarem brevemente minha cintura antes de eu conseguir entrar no carro.
  Tento não olhar seu rosto, mas não consigo. Sua expressão é arrasada, ainda implorando para que eu fique. Olho o espelho retrovisor e dou a ré, rapidamente e ainda chorando saio da calçada. ainda corre tentando acompanhar o carro e me fazer parar, mas acelero e o deixo pra trás. O tempo que passamos juntos... Virou passado a partir do momento em que arranquei com o carro.
  ! EU TE AMO! VOLTA! Mesmo com os vidros fechados poderia jurar que tinha o escutado gritar, ou talvez seja meu coração não querendo ir embora.

  Depois de ver as piranhas que ele trás para casa, ainda é difícil tirá-lo da cabeça, esquecer as coisas lindas que até dois dias atrás ele havia me dito.
  Acelero mais um pouco a velocidade querendo deixar o mais rápido possível uma distância segura daquela casa.
  O pior era a dor que agora eu sentia no peito. Também sentia essa dor toda vez que chegava a casa dele e encontrava uma peça de roupa de uma das... - Minha visão ficou turva, lágrimas brotando de todos os cantos dos olhos. Sinto minhas mãos começarem a tremer no volante e ouço o barulho de pneus cantando quando passei em alta velocidade por uma rua movimentada.

  Encostei o carro na calçada e tentei clarear os pensamentos, refrear as lágrimas.
  Poderia ter causado um acidente... Poderia ter atropelado alguém...
  Mais calma, volto a ligar o carro e dirijo com cuidado até chegar em casa.

  Vou direto para o chuveiro, preciso de um banho bem quente para tentar amenizar a sensação de vazio no peito e refrear os sentimentos.
  Depois de sair do banho, sinto que preciso falar com alguém e pego o celular de dentro da bolsa para ligar para a Larissa. Ao ligá-lo o aparelho aponta três ligações perdidas (Devo ter esquecido de tirá-lo do silencioso), as três do , a última pessoa com quem eu queria falar no momento. O celular vibra na minha mão alertando que recebi uma mensagem nova. Abro sem saber quem é.

  Desculpe pelo q eu dsse, n vamo precipitar as coisa, precisamo conversa. Me lga. Te Amo, .

  Releio a mensagem antes de apagá-la. Ele já devia saber que eu não ligaria. Desisto de ligar para a Larissa e vou para a cozinha, sempre gostei de cozinhar e hoje preciso fazer algo demorado e que ocupe a minha mente.
  Começo a preparar coisas aleatórias e de repente estou cercada de vários tipos de comidas apetitosas. Minha mãe sempre dizia: A melhor forma de apagar ou amenizar o sofrimento e as angústias é com a barriga cheia de comida e álcool. Relembrar o que mamãe dizia me faz pensar nas coisas que ela me ensinou e sinto uma vontade quase louca de vê-la de novo.
  Pego um pouco das comidas que havia feito e coloco dentro de uma cesta. Pego a chave do carro e dirijo até o cemitério local. Desço do carro e cumprimento o guarda na entrada seguindo até o local já gravado em minha mente, visitei muitas vezes este local depois do acidente de carro em que minha mãe morreu, seis meses atrás.

  Em frente ao túmulo de mamãe largo um buquê de rosas brancas, as preferidas dela. Ajoelho-me em frente à lápide e recomeço a chorar.
  Quando minha mãe ainda estava aqui eu sempre podia contar com ela, ela me dava conselhos, me ajudava a enfrentar os desafios da vida. Ela sempre esteve presente em tudo o que eu precisasse de sua ajuda. Às vezes, como se ela estivesse sentindo o que eu sentia, ela me ligava à noite e começávamos a conversar sobre coisas banais e aos poucos eu ia esquecendo a dor da tristeza.
  Comecei a chorar violentamente e abracei meus joelhos, me sentia sozinha sem e sem minha mãe não tinha muitas pessoas que eu confiasse. Só a Larissa, mas não estou muito a fim de falar com ela nesse momento, não é como se ela fosse minha melhor amiga - Minha mãe era.

  Uma mão quente aperta meu ombro direito e me viro assustada, não tinha sentido a aproximação de ninguém.
  - Desculpe, não queria assustá-la. - O homem sorri serenamente para mim e eu balanço suavemente a cabeça em concordância.
  - Estava visitando meus pais aqui perto e te vi chorando. Logo depois dos meus pais terem morrido eu me sentia muito sozinho e acho que você deve estar sentindo isso também. Quer companhia?
  Olho para sua mão ainda pousada em meu ombro e sorrio mais calma pela sua presença, este homem que nem sei o nome não parecia ser perigoso e em meu íntimo eu sabia que ele só queria me ajudar.
  - Sou ... Todos me chamam de . - Respondo enquanto me recomponho.
  - . Prefiro que me chame de . - sorri se acomodando ao meu lado.
  Sinto sua mão deixar meu ombro e sinto o mundo desmoronar novamente sobre mim, encolho os ombros e deve ter notado, pois ele logo se aproximou mais de mim e me abraçou. Era estranho estar abraçando um cara que eu acabara de conhecer, mas minha situação não era das melhores e acabei abraçando-o com força, molhando sua camisa com minhas lágrimas ao pensar que até semana passada seria quem estaria me abraçando e sussurrando palavras doces no meu ouvido.
  Ficamos abraçados por vários minutos depois de eu recuperar o controle das minhas lágrimas. Quando finalmente nos separamos sinto-me diferente, como se tivesse traído o , estranho já que ele é que me trai levando outras garotas pra cama enquanto eu estou em casa sozinha assistindo a um filme ou na casa da Larissa conversando sobre seus problemas com garotos.
  - Está com fome? - Ele me pergunta.
  - Não muito, tenho uns lanches no carro se você quiser.
  - Conheço um lugar muito bom para lancharmos, se você quiser, é claro.
  - Tudo bem. - Sorrio maravilhada com sua forma relaxada de falar comigo como se me conhecesse há muito.
  Levanto-me e cambaleio alguns passos, teria caído se não tivesse me segurado a tempo.
  - , você está bem? - Pergunta com preocupado.
  - Tudo bem, acho que fiquei muito tempo sentada. - Rio um pouco para ver se ele relaxa.
  Ele me solta e dou mais dois passos antes de cambalear novamente. Ele me pega no colo e não reclamo.
  - Onde está seu carro? - Pergunta andando em direção ao estacionamento.

  Quando chegamos ao estacionamento aponto para o local onde estacionei e digo:
  - Acho que já consigo caminhar. Pode me soltar agora.
  Ele me olha avaliando se estou certa e acaba me largando na calçada.
  Ando até o carro já com as chaves na mão.
  - Belo carro. - aprova.
  - Obrigada, era da minha mãe antes de... - Ele assente não precisando que eu termine a frase.
  - Vou pegar meu carro e te espero na saída, ok?
  - Ok.
  Entro no carro e fico cuidando o homem que aparentemente iria me levar para um passeio. Quem me dera fizesse isso comigo também. Queria tanto que ele estivesse aqui comigo agora.
  - Como pude tê-lo deixado mesmo depois de ele ter dito que me amava? - Murmuro reprimindo um grito de frustração.
  Agora era tarde para voltar atrás, ele já devia ter voltado a falar com aquelazinha, talvez seja até aquela ruiva hipócrita que estava lá hoje de manhã.

   já deve estar lá na saída me esperando. Ligo o carro e o encontro conversando com outro homem ao lado de um carro que penso ser de . O homem ao seu lado me parece bastante familiar, mas não consigo pensar em quem possa ser, estão muito longe. Aproximo-me e sinto meu coração martelando mais forte conforme vou notando os traços perfeitos e tão familiares para mim.
  - O que está fazendo aqui? - Pergunto para o homem que eu havia dispensado horas antes.
  Ele olha para os lados procurando, quando em fim me encontra solta um suspiro pesado e corre em minha direção deixando falando sozinho.
   nos olha curioso quando se aproxima do meu carro - comigo ainda dentro.
  - Meu amor, fiquei tão preocupado. Por que não atendeu aos meus telefonemas nem me ligou?
  Eu não podia acreditar que ele ainda tinha a cara de pau de perguntar isso, como se não soubesse nem imaginasse o porquê disso tudo.
  - Não tenho mais nada pra falar com você. - Respondo friamente.
  - Mas eu tenho. - Responde e depois tomando novo fôlego, continua: - E preciso realmente me desculpar. , não quero que me esqueça nem que fique com outro - Ele aponta para enquanto fala. - Quero que volte comigo, prometo ser mais presente na sua vida...
  - Não quero somente sua presença. - Corto seca com as lágrimas começando a voltar para a superfície dos meus olhos. - Quero você só para mim. Entende isso?
  - Na verdade não. Mas, quero te recompensar. O que você acha de me deixar entrar no carro e irmos para a sua casa? Ou a minha, você decide.
  - NÃO! - Grito angustiada, agora já conseguia controlar mais facilmente as lágrimas. - AINDA NÃO ENTENDEU QUE NÃO QUERO MAIS ISSO? NÃO QUERO FAZER PARTE DESSE SEU JOGUINHO!
   recua diante meu tom de voz e eu olho para a frente fazendo sinal para que entrasse no carro e me guiasse para longe daquele lugar e principalmente daquela pessoa que já estava me deixando frustrada com seu modo de levar a vida.
   assente com um sorriso de compreensão nos lábios e entra no carro, ligando-o. Quando o carro dele começa a andar, viro-me para e faço meus lábios moverem-se formando a palavra "ADEUS" e já coloco o carro em movimento, deixando-o para trás.
  Olho para trás apenas uma vez antes de seguir , mas nessa olhada vejo que está com os ombros arqueados e expressão derrotada. Sinto um pouco de ódio por mim mesma e logo depois minha mente é coberta pela imagem dele com outras, isso é o suficiente para me deixar irritada.

  Estaciono o carro ao lado do de e ele vem abrir a minha porta. nunca foi tão cavalheiro assim comigo. O que está acontecendo comigo? Hã? Como posso ainda pensar naquele canalha que não sabe nem decidir se quer ficar comigo ou com as vadias que ele encontra na rua?
  Sorrio apesar da dor que sinto ao pensar nele. Normalmente diria que é impossível sorrir na atual condição do meu coração, mas com sinto que é diferente, sei que ele só está tentando me ajudar a superar essa fase - que ele pensa se tratar de minha mãe, mas na verdade vai muito além disso.

  Pego a cesta no porta-malas e a estendo em sua direção.
  - Ah, obrigado, mas não preciso ficar com tudo, posso dividir com você, deve estar com muita fome. - Ele sorri e pisca para mim, rio de sua piadinha - outros podem pensar que foi uma piada extremamente sem graça, mas não consigo me segurar e começo a rir, rio do seu jeito fácil de me fazer esquecer das coisas ruins. No momento é só eu e ele, e a comida, e aquele lugar lindo.
  Olho ao redor e fico maravilhada ao notar o riacho raso logo mais abaixo. Sempre gostei muito de água e da natureza, às vezes quando criança saia e ia para uma mini floresta perto do zoológico, sempre me senti viva só de estar em contato com eles.
  - É lindo. - Falo depois de voltar meu olhar para seu rosto. Só então notando que ele poderia entender errado. - Quer dizer, a natureza é linda, esse lugar... É maravilhoso.
  - Entendi. - Seus olhos percorrem meu rosto e fixam-se nos olhos.
  Ficamos encarando-nos por um tempo até que sinto meu estômago alertando que precisa comer algo. Olho para sua mão que segura a ceste e ele me estende a outra. Pego sua mão e ele logo entrelaça seus dedos nos meus e me guia até a beira do riacho.
  Sei que devia me sentir estranha por estar de mãos dadas como se estivéssemos namorando, mas não é o que sinto. Sinto-me feliz, como se isso fosse o certo a se fazer.
  Sentamos na beira do riacho e abre a cesta sorrindo com a quantidade e a variedade de comida que tem dentro dela.
  - Estava esperando mais três pessoas para comer tudo isso com você? - Pergunta pegando uma maçã. Empurra a cesta para o meu lado e eu pego uma também.
  - Tinha esperanças de que meu namorado fosse se juntar a mim - Me pego falando e noto que sua postura muda. - Quer dizer, ele não é mais meu namorado, dei o fora nele hoje de manhã, mas pensei que ele pudesse querer se reconciliar comigo de novo...
  - De onde conhece o ?
  - Ele era meu namorado até hoje de manhã. - Murmuro querendo mudar de assunto, mas sem coragem de fazê-lo.
  - O que houve? - Pergunta depois de um momento de hesitação.
  Suspiro, esse realmente não era o melhor assunto na minha opinião, mas sentia que seria muito mais fácil se eu conseguisse compartilhar meu sentimento com alguém e o homem a minha frente parecia ser compreensivo e um bom ouvinte. Além do mais eu já me sentia bem em estar com ele.
  - Ele não toma jeito. Eu não aguento mais. Nós terminamos.
  - Hmm. E você não tem ninguém? Quero dizer, você gosta de alguém? - Sua atenção é concentrada na fruta em suas mãos.
  - Não sei o que está querendo dizer com isso e acho que não é da sua conta. - Respondo friamente.
  - Ahn, claro. Desculpe . Mas não me chame assim, prefiro que me chame de . - levanta os olhos em minha direção minimamente e depois volta a concentrar-se totalmente em sua mação.

  Ficamos um tempo em silêncio e penso se não fui um pouco grossa de mais com ele.
  - Não. - Ele olha para mim curioso. - Não gosto de ninguém.
  Ele assente, mas não desvia o olhar.
  - Me conte um pouco de você. Não sei nada a seu respeito. - Falo depois de já ter terminado a maça e comido uma torrada e uma coxa de galinha que tinha assado em fogo lento.
  - Moro sozinho. Tem um tempo que não deito com mulheres. - Ele sorri maliciosamente e ri de sua própria piada: - Nem homens, nunca deitei-me com um homem.
  Rio junto com ele e continua:
  - Meus pais morreram faz dois anos e meio, foi em um acidente de avião na Europa, estavam viajando a negócios. Tenho uma atração especial por mulheres carismáticas. Sou um bajulador nato.
  Ele me obseva e fico imaginando se as últimas coisas que falou não foram uma cantada, mas logo depois mudo de pensamentos, ele não parecia ser o tipo de homem que leva qualquer uma pra cama, ele mesmo disse isso.
  Olho para a margem do riacho e sinto minha pele enrubescer ao notar que ainda me fitava. Novamente em muito tempo - se não contarmos o que aconteceu com , eu não conto - sinto uma atração física por alguém e sinto também que esse aguém também me quer por inteiro.
  Sinto sua mão pousar na minha e me viro para encará-lo. Seus olhos estão brilhando mais do que já tinha visto antes e sua boca... Sua boca meio aberta...
  - O que está acontecendo? - Sussurro sem entender, ou pelo menos, sem querer entender o que isso pode significar.
  - Eu não sei, mas desde o momento em que te vi chorando toda encolhida... Não sei, tive uma sensação de que deveria te proteger de tudo, do mundo... - Seus olhos não se desviam dos meus em nenhum momento.
  - Não preciso que me proteja. - Digo ríspida e puxo minha mão.
  Ele deixa minha mão livre, mas não diminui o tom do olhar e isso me intriga.
  - Não te conheço e nem você me conhece, mas mesmo assim fica dizendo essas coisas. Isso foi o que fez no nosso primeiro encontro e olha que fim levou. Não quero que isso torne a acontecer.
  - Claro, foi erro meu . Desculpe qualquer incômodo que eu possa ter te causado. - Agora ele olha para baixo travando uma briga interna, assim como eu.
  Tiro as sandálias e me levanto indo até o riacho molhar os pés. Como um cara que conheci há tão pouco tempo pode mexer tanto comigo?
  Viro a cabeça para o céu. Nuvens de chuva cobrem todo o céu que amanhecera azul com algumas nuvens. Ele - o céu - parecia estar igual ao meu humor hoje.
  Volto para perto de que ainda encarava a grama ao redor.
  - Está para chover, acho melhor retornarmos.
  Enquanto voltamos calados para os carros sinto uma garoa fina começar a tocar meu corpo. Entro no carro e ele faz sinal para que eu o guie. Ele vai me seguir até minha casa, tão logo penso isso já estou sorrindo abobadamente, Viro para o lado do carona e mexo no porta-luvas tentando disfarçar minha ansiedade.

  Quando viro na rua da minha casa sinto um nó no estômago ao perceber que talvez prefira ir para sua casa a parar aqui.
  Paro em frente à casa e saio do carro, ainda está garoando, com a cesta na mão espero seu carro chegar ao meu lado, ele para com o carro ainda ligado, em ponto morto.
  - Quer entrar? - Tento não demonstrar como estou ansiosa por sua resposta, obviamente não consigo e ele acaba sorrindo maliciosamente ao responder:
  - Você quer que eu entre?
   já devia ter percebido que sim, por que quer me ouvir dizer? Em um impulso de auto-preservação quase digo: Na verdade não, só estou sendo educada. Não digo nada, só o encaro por alguns minutos notando alguns traços em seu rosto, entre eles consigo identificar claramente preocupação, hesitação, e um olhar de ternura que ainda não tinha notado em seu rosto.
  - Sim.
  Aliviado, sorri maliciosamente para mim e sai do carro.
  Pego a chave da casa dentro da bolsa e abro a porta sendo seguida de perto - perto de mais - por .

  Deixo a cesta em cima da mesa da cozinha e volto para a sala onde encontro analisando minha pilha de filmes.
  - O que acha de assistirmos a um filme?
  - Qual? - Pergunto.
  - Idas e Vindas do Amor, nunca vi esse filme.
  - Tudo bem, pode ir colocando enquanto vou lá fazer a pipoca.
  Arrumo a pipoca e levo para a sala. está sentado no sofá e quando me vê faz um gesto para que eu me sente ao seu lado.
  Sento e lhe ofereço a tigela com pipoca. Ele muda de lugar ajeitando-se - mais para perto de mim - para que as pipocas fiquem no meu colo, mas que ele possa pegá-las mais facilmente.
  - Muito boas. Posso colocar o filme? - Ele pergunta com um sorriso contagiante nos lábios.
  Assinto nem um pouco incomodada com sua proximidade, parecia até natural.
  Assistimos uma parte do filme em silêncio até que nossas mãos se encontram quando tenta pegar mais um punhado de pipocas. Nossos olhos continuam fixos na tela, mas as mãos se encaixam unindo os dedos.
  Olho para nossas mãos, juntas. Gosto do contato com sua pele, é quente. Confortante. Sinto seu olhar em meu rosto e viro para ele. Seus polegar começa a fazer um trajeto circular nas costas da minha mão e me pego imaginando como seria sentir mais de seu toque no meu corpo.
   Pega a tigela quase vazia de pipoca e coloca-a sobre a mesa. Passa um braço pelo encosto do sofá tocando levemente meu ombro mais distante. Sua mão aperta meu ombro e sua boca me convida a aconchegar-me em seus braços.
  Aproximo-me dele e seu braço aperta a minha volta. Sua mão não larga a minha e continua traçando círculos em minha pele, causando um formigamento agradável por onde passa.
  Aninhada a ele sinto seu abdômen bem definido sob a camisa e viro a cabeça para olhá-lo, o filme já completamente esquecido por nós dois.
   aproxima seu rosto do meu e espera, olho para seus lábios e não consigo refrear a vontade que agora me domina. Beijo-o.



Comentários da autora