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Ideia #224

Doada por Kelly Oliveira

// A Ideia

A história gira em torno de um casal aparentemente normal, mas o pp tem um distúrbio de personalidade, o que afeta no relacionamento que se encaminha para o fim. Sujeita a um sofrimento psicológico, a mulher se vê em uma encruzilhada, onde tem que optar entre o término do relacionamento (ao mesmo tempo o abandono do pp dependente) e insistir no relacionamento, embora ela sofra com aquilo, somente para não deixá-lo perdido em meio a sua própria escuridão.


// Sugestões

Sugiro pesquisar um pouco sobre os tipos de distúrbio de personalidade.
Separei um link: https://abp.org.br/portal/clippingsis/exibClipping/?clipping=20869

// Notas

A ideia partiu de uma música: Sorry – Kim Sunggyu link: https://www.youtube.com/watch?v=pjSWeil6Wxk
Seria interessante dar uma olhada :)





Lost It All

Escrito por Vanessa Coelho

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// PRÓLOGO

  *Diário da on*
  Outro dia. Mais um. Ultimamente todos me parecem tão iguais. Quem vir a minha vida de fora pode dizer que sou uma mulher feliz e cheia de sorte, e, por alguns anos, isso foi a minha realidade. Contudo, neste momento, é como se vivesse em outra dimensão. Eu sou casada há 3 anos. Conheci o meu marido, , por um acaso do destino. Ele quase me atropelou, nós discutimos e acabámos o dia em um jantar romântico. Apaixonei-me imediatamente e acredito que aconteceu o mesmo com ele. Alguns meses depois veio o pedido e eu não podia estar mais feliz. Foi um dia de sonho, o casamento perfeito e uma lua de mel fantástica. O era tudo o que eu podia pedir e eu sabia o quão sortuda era. Só que há um ano as coisas mudaram. Ele deixou de ser a mesma pessoa, mudou do dia para a noite. No ínicio, pensei que fosse algo no trabalho, uma má fase, mas aquilo continuou. Foi então que descobri que o meu marido tinha um distúrbio de personalidade obsessiva-compulsiva. Descobri quando visitei um médico, sozinha, e expliquei o que se estava passando. Tentei falar com ele, dizer o que o médico disse, mas o serecusa a acreditar que tem um problema e que precisa se tratar. A minha vida começou a se desmoronar. Nuns dias, ele é o marido mais atencioso de sempre, outras vezes é agressivo, inseguro e desconfiado, e mexe com a minha cabeça. Faz promessas que nunca cumpre, nunca chega quando combinamos, nunca posso mexer nas coisas dele porque senão há pontapés para todos os lados, não posso ter amigos porque ele desconfia de tudo e todos. E eu... Eu já não sei o que fazer. Perdi o meu emprego por causa dele, raramente saio de casa, raramente me dou ao trabalho de me arranjar e estou mais sozinha que nunca. Ele não percebe o mal que está me fazendo... que está nos fazendo. Eu estou mme perdendo nisso tudo,vendo a situação escorregar por entre os dedos. As opções que eu tenho são reduzidas e nada agradáveis. Posso ir embora, pedir o divórcio e recuperar a minha vida, deixando-o afogar-se na sua própria escuridão. Ou, por outro lado, posso continuar aqui, ao lado dele, com a esperança de que talvez um dia, talvez, por um momento, ele veja que ele se perdeu no caminho. Ambas têm lados maus. Se eu for, sei que ele se vai fechar ainda mais e sei que me vai doer porque, apesar de tudo, amo-o tanto ou mais do que antes. E se eu ficar sei que vou continuar a chorar baixinho todas as noites enquanto ouço os gritos dele nos momentos em que, na cabeça dele, algo está mal, sei que vou perder a cabeça e talvez enlouquecer. Serei muito estúpida por ainda ter esperança?
  *Diário da off*

// CAPÍTULO 1

  - Olá, meu amor! – cumprimenta com um beijo no topo da cabeça.
  Ela está sentada no sofá, pijama branco vestido, cabelo despenteado, olhos inchados e ar cansado.
  - Olá! – ela responde automaticamente, sem olhar para ele.
  - O que foi?
  - Nada. Estou cansada.
  - Cansada? – ele ri-se. – Você não faz nada o dia inteiro e está cansada? Cansado estou eu que passei o dia trabalhando para manter essa casa.
   reprime a vontade que sente de lhe dizer que foi graças a ele que perdeu o emprego. Não valeria a pena.
  - Tem razão. – ela assente e levanta-se. – Vou por a mesa, o jantar está quase pronto.
  - Assimme parece melhor. Estou esfomeado. – ele sorriu.
  - Aposto que sim. – ela suspira.
  Ele se aproxima dela e abraça-a de repente.
  - Sabes que te amo, certo? – ele pergunta.
  - Claro. – ela diz tentanto evitar chorar. – Eu também te amo.
  - Espero que sim. – ele morde-lhe a orelha e afasta-se. – O que vamos comer?
  - Fiz lasanha.
  - Fez o quê? Você sabe que eu odeio essa merda!
   suspira, frustrada.
  - Antes você adorava lasanha.
  - Deve estar me confundindo com algum dos teus amiguinhos, eu odeio lasanha. – ele esmurra a parede.
  - Se não está contente com o menu, vai ao restaurante. – ela grita, perdendo as estribeiras.
  - Quer se ver livre de mim? – ele agarra-lhe o braço.
  - Eu não disse isso.
  - Tem algum convidado especial, é isso? Pois bem, a tal festa vai acabar. – ele grita e arrasta-a até ao quarto. Lá, atira-a em cima da cama. – Eu vou jantar fora e você vai ficar aqui quietinha. – ele diz e tranca a porta do quarto.

  *Diário da on (alguns minutos depois dele sair de casa)*
  Não é a primeira vez que fico trancada no quarto como se fosse uma prisioneira. Com certeza não será a última. O tem dias como este, em que tudo o que faço é motivo para desconfiar. Ele tem de ter sempre o controle sobre tudo. Especialmente sobre mim. Ele nunca me bateu. Nunca sequer me ergueu uma mão, o que é antagônico dado as suas atitudes. Mas ele nunca o fez. Acho que me ama o suficiente para se conter. Porque eu sei que ele tenta. Eu sei que ele tenta todos os dias lutar contra este monstro dentro dele e, por vezes, ele ganha. Mas quando ele perde, me magoa muito. E a verdade é que não sei como levar isso adiante. Eu sei o que vai acontecer em seguida. Ele vai chegar em casa,entrar no quarto, ajoelhar-se perto de mim e chorar como um bebé enquanto implora que o perdoe. Eu irei, como sempre, afagar-lhe o cabelo e repetir que está tudo bem. Ele vai insistir que não me merece e que fará qualquer coisa para me compensar. Novamentedirei que está tudo bem e que apenas me abrace. Então ele irá deitar-se ao me lado e abraçar-me contra o seu peito, enquanto eu tentarei manter as lágrimas longe. Só que desta vez prevejo um final diferente!
  *Diário da off*

   entra no restaurante que fica no fundo da rua e dirige-se ao bar. Pede uma bebida forte e olha à sua volta. Seria capaz de traí-lo na sua própria casa? Teria ela um caso? Estaria farta de o perdoar? Seria ele tão insuportável?
  A luz do candelabro incomodava seus olhos e isso o fez se lembrar da primeira discussão com a sua esposa, há mais de um ano.

  *Flashback on*
  - Por que raios mexeu na minha pasta? – gritou furioso.
  - Tem alguma coisa a esconder? – perguntou sem perceber aquela reação exagerada. Ela apenas mudara a pasta do marido de lugar enquanto limpava o escritório.
  - Não. Mas você sabe o quanto odeio que mexam nas minhas coisas!
  - Nossas coisas! Estamos casados, lembra? Só aproveitei a minha folga para fazer uma faxina na casa. – ela gritou.
  - Nãoadmito que mexa nas minhas coisas. – ele deu um murro na parede. – Eu gosto das coisas da minha maneira e você não tem nenhum direito de se intrometer nisso.
  - Bem, já que somos casados, pensei que tivesse direito à minha própria opinião, à minha própria vontade!
  - Bem, não, quando se trata das minhas coisas. Está claro para? – ele agarrou-lhe o braço.
  - Como a água. – ela assentiu.
  *Flashback off*

  Claro que tanto um como o outro pensaram que as coisas iam melhorar e que aquilo tinha sido apenas uma discussão tola. abanou a cabeça. Ele sabia. Ele sabia que tinha um problema, sabia que não conseguia controlar aquilo sozinho e sabia que estava destruindo a pessoa que mais amava. Mas se sabia, por que não mudava? Porque mudar nem sempre é fácil e por mais que ele se esforçasse, tudo parecia fugir por entre seus dedos.

// CAPÍTULO 2

  Era óbvio que a não tinha um amante. Como ele se atreveua mencionar tal disparate? Era óbvio que a sua esposa estava entregue à dor, fechada naquela casa, sozinha, sem amigos ou família e sem o amor da sua vida tratando-a com respeito. sabia que devia deixá-la ir, sabia que estava a magoando demais e que, mais cedo ou mais tarde, uma tragédia iria acontecer. Mas ele não podia perdê-la. Se a perdesse, iria se perder para sempre na escuridão dos seus medos mais profundos. Ele tinha de voltar para casa e resolver as coisas. Fazer as coisas darem certo.
   pousou uma nota de 10 no balcão para pagar a bebida e correu para fora do restaurante. Correu até casa, abriu a porta e entrou. Depois, mais devagar, aproximou-se da porta do quarto. Rodou a chave lentamente e deixou-se ficar na entrada, estupefacto com o que via. tinha feito as malas e o olhava com uma tristeza tão profunda, que podia sentir toda a dorque ela viveu naquele ano.
  - Vou embora. – ela disse baixinho.
  - Por favor...
  - Sem desculpas desta vez. – ela manteve-se firme. – Eu não aguento mais. Eu tentei tanto, , você sabe que eu tentei...
  - Eu sei. – ele concordou. As primeiras lágrimas ameaçavam cair e ele conseguia ver tudo agora. O seu verdadeiro medo, o seu medo mais obscuro, aquele que o fazia cometer as maiores barbaridades era o medo de perdê-la. E tinha conseguido isso.
  - Eu te amo! – ela fungou. – Masestou enlouquecendo. Eu pareço um zumbi,não tenho vontade própria. Eu não como praticamente nada e emagreci tanto que pareço um esqueleto, coisa que você nem reparou.
   olhou-a atentamente e percebeu que tinha andado cego. A esposa estava muito mais magra, as olheiras denunciavam o seu cansaço, o seu cabelo denunciava a sua falta de cuidado e as roupas? Meu Deus, quase parecia uma mendiga! E ele nem tinha visto.
  - Sinto muito! – ele começou. – Eu realmente sinto.
  - Nãoposso te perdoar mais. – ela disse limpando algumas lágrimas.
  Ele aproximou-se dela e acariciou-lhe o rosto.
  - Pelo menos, me ouça. Depois, é livre para ir. – ele prometeu e ela assentiu. – Eu quero ser honesto contigo e melhorar, mas não sei se consigo. – ele começou. Segurou nas mãos dela e levou-a até à cama, onde se sentaram. – Eu sei que fui eu quem provocou isso, o seu coração está se afastando cada vez mais e a culpa é minha, mas... Espera só mais um pouco, as coisas vão melhorar.
  - Eu... Eu não posso... – ela tentou controlar o choro.
  - Eu só preciso que cuide de mim mais um pouco, eu sei que vou melhorar. – ele ajoelhou-se à frente dela e ela abanava a cabeça negativamente enquanto chorava. – Dessa vez, não é como das outras vezes. Eu sei que estou doente. Eu admito isso, ok? Eu vou a um especialista,faço o que for preciso para acabar com isto e ficar contigo. Eu sei que eu deixei as coisas difíceis para você. – ela assentiu e ele baixou a cabeça. – Eu fui um idiota quando entrei no teu trabalho aos gritos fazendo com que fosse demitida. Eu sei que fui um idiota quando esmurrei o teu melhor amigo apenas porque ele te deu um abraço. Eu sei que fiz tudo mal quando proibi que a sua melhor amiga te visitasse ou mesmo te ligasse. Eu tornei-me um monstro e fiz de você a minha prisioneira. Eu sei disso. Eu sei o quão difícil era para você cada vez que me via chorar e não podia me consolar porque eu não permitia. Eu sei como isso te fez sentir sozinha.
  - Você me magoou tanto, ... E tudo o que eu queria era te amar.
  - Eu sei e eu sinto muito. Por favor, me abrace, porque eu acho que estou ficando louco. Eu estou com tanto medo. Te perder sempre foi o meu maior medo. Eu não suportava a ideia de que você pudesse, simplesmente, me deixar. Mas você batalhou, nunca desistiu, então, por favor, não me deixe agora. Não vá agora. Eu sei que te deixei tão triste, quesentia te sufocar, mas eu sei que só você pode me salvar. Só vocêpode nos salvar. Eu prometo que se ficar, a primeira coisa que faremos amanhã é ver um médico. Eu prometo. Eu te amo tanto, meu amor!
   olhou-o com esperança. Afinal, talvez, sempre houvesse esperança para os dois.

// EPÍLOGO

  *Diário da on*
  Passaram-se dois anos desde que eu tomei a minha decisão. A decisão mais difícil de sempre. Mas no final, tudo correu bem. Naquela noite, eu fiquei. Eu sabia que finalmente o meu marido estava pronto para lutar e eu lutaria com ele. E lutamos. Fomos ao médico, ele fez psicoterapia e tomou alguns remédios, mas voltou a ser ele mesmo. Carinhoso, amoroso, meigo, a pessoa com quem me casei. Hoje temos uma verdadeira família. Temos uma menina chamada Alice, que tem 3 meses, é tão pequenina. Ele a ama. Trata-a com uma doçura encantadora e a protege de tudo. Sei que esta menina fará o que quiser com o pai, afinal, terá todo o mimo do mundo. Quanto a mim, recuperei os meus amigos, a minha família e arranjei um novo emprego. Trabalho numa editora e estou muito feliz com o que faço. Claro que agora, por um tempo, estou de férias para cuidar da minha bebê, mas sinto-me realizada. Afinal, havia esperança. E amor. Muito amor.
  *Diário da off*

  - Por que não larga esse caderno e vem passear com o seu marido e a sua filhota? – entrou no quarto, sorrindo, com Alice no colo.
  - Tem alguma ideia para onde vamos? – fechei o caderno imediatamente e beijei o meu marido e, depois, acariciei o rosto da minha pequena.
  - Não sei, com vocêsduas, vou para qualquer lado. Estava pensando em fazermos um piquenique. Dirigir por aí até encontrarmos um lugar bonito para passar a tarde. Só nóstrês.
  - Me parece uma excelente ideia. – sorri.

FIM.