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Temporada #021

Broken Record
Krewella



Living On Repeat

Escrito por Fe Camilo

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"How could I forget the places we've been?"

  Beijei os lábios de com sofreguidão, sentindo o efeito da bebida atiçar ainda mais a vontade de me grudar a ele como se fossemos um. Minhas mãos deslizaram por seu tronco como se quisessem decorar cada pedaço de seu corpo, e estava prestes a tirar sua camiseta quando fui barrada por suas mãos.
  - Hey, ! Você sabe que estamos no meio de uma festa, certo? - perguntou parecendo impressionado com a minha vontade de aderir à uma PDA. Mas eu simplesmente não conseguia sentir a vergonha que normalmente sentiria nessas ocasiões.
  - Só quero sentir você um pouco. - Respondi, atacando seu pescoço com beijos e lambidas que eu sabia o deixariam enlouquecido. E, exatamente como eu previra, alguns minutos depois suas mãos já estavam em meu bumbum, estimulando os movimentos que eu fazia em seu colo.
  - Tá casal, acho que já entendemos o quanto vocês querem se pegar. - Ouvi a voz de PJ ao fundo, mas ignorei sua tentativa de chamar nossa atenção. - Será que eu vou precisar jogar água para apagar o fogo? Porque vocês sabem que eu não tenho problema nenhum em arruinar o sofá novo do Tom.
   me afastou novamente nesse momento, as bochechas coradas ao perceber que a maioria das pessoas na sala prestavam atenção em nosso show. Irritada, saí do seu colo, pegando um copo sobre a mesa e me servindo de uma dose generosa de vodca antes de anunciar ao meu grupo de amigos.
  - Eu trouxe algo um pouco diferente hoje. - disse pegando o pacotinho do meu bolso e balançando na frente de todos.
  - Que porra é essa, ? - ouvi perguntar atrás de mim e sorri largamente, abrindo o pacote e entregando um comprimido para cada um.
  - Special K. Aparentemente, 0 riscos e muito mais potente que a branquinha. - Observei enquanto PJ, Tom e Verônica engoliram a droga sem pensar duas vezes, assim como eu, enquanto me olhava receoso.
  - Não acho que é uma boa ideia, . - disse evitando meus olhos.
  - Ah, qual é! Não estraga o barato, todo mundo tomou. Aqui, eu te ajudo. - disse sentando em seu colo novamente e colocando o comprimido em minha língua, lhe dando um beijo logo em seguida, passando a droga para ele que ingeriu rapidamente.
  - Essa é uma má ideia. - Ele disse por entre o beijo, mas levando as mãos para o meu bumbum novamente.
  - Ninguém te contou? - retruquei rindo, enquanto me encaixava melhor em seu membro que já dava sinais de vida. - Eu sou uma garota má.

"Some things are permanent
Like the ink that's on my skin"

  Às vezes me impressionava o quão confortável eu me sentia ao lado de , como se ele fosse uma extensão de mim. Naquele momento, estávamos com o pulmão cheio de fumaça, a mefedrona fazendo efeito em nossas veias enquanto observávamos a noite de Londres do terraço do seu prédio.
  - Você está pensando o mesmo que eu? - perguntei afastando a cabeça de seu ombro e olhando em seus olhos, sentindo que poderia - de alguma forma metafísica - transmitir o que estava pensando com um olhar.
  - Talvez. - Ele respondeu com um sorriso leve, jogando a ponta do cigarro terraço abaixo.
  - Vamos falar juntos! - dei a ideia, chegando tão próximo de seu rosto que nossos narizes se tocavam, antes de começar a contagem - 1, 2, 3! Transar loucamente no terraço - disse ao mesmo tempo em que registrei dizer:
  - Fazer uma tattoo na loja do outro lado da rua.
  Ambos caímos na risada, nos afastando para controlar o riso.
  - Ok. Uma coisa não exclui a outra, certo? - comentei com uma piscadela.
  - E pensando bem, sua ideia é bem melhor que a minha. - Admitiu me puxando pela cintura antes de enterrar as mãos em meus cabelos e iniciar um beijo apaixonado, que foi retribuído com devoção.
  O mais gostoso de estar nos braços de era que parecíamos entender um ao outro como ninguém, sabíamos exatamente onde e como nos tocar para arrepiar cada pelo em nosso corpo. E, mesmo chapados como usualmente estávamos, era tudo real demais, a vontade de pertencer a ele e tê-lo para mim era real demais.
  Não nos permitimos sequer tirar completamente nossas roupas, e logo eu estava debruçada sobre o parapeito enquanto sentia seu membro rijo forçar a entrada em mim, um gemido escapando de nossos lábios enquanto nossos corpos moviam em movimentos cadenciados, seus beijos traçavam um caminho molhado por meus ombros e pescoço enquanto sussurrava em meu ouvido:
  - Como eu te amo, . Você é tudo que eu sempre quis. - Senti sua mão em meu cabelo, puxando para que eu virasse o rosto e pudesse beija-lo novamente. - Promete pra mim... - nossos gemidos se tornaram mais altos enquanto eu me esforçava para manter a concentração no que ele falava. - Promete que vai ser pra sempre minha.
  - Eu ... eu prometo. - Respondi sentindo o orgasmo tomar conta de mim, voltando a beija-lo.

"One for the memories. The silence is deafening".

  - Amor, eu tenho a melhor notícia do mundo! - afirmei me jogando em seu colo, que me segurou rapidamente, recostando minhas costas na parede da balada que estávamos prestes a entrar para sustentar meu peso.
  - Melhor do que o fato de que finalmente chegou aquele LSD que eu estava esperando?
  - O quê? - perguntei confusa, mas logo dando de ombros - Muito melhor. Eu consegui entrar no programa exclusivo de aprendizes da Viviene Westwood! - gritei a plenos pulmões, sentindo uma euforia natural que não sentia há muito tempo.
  - Hã... ok. - respondeu parecendo um tanto aéreo enquanto olhava preocupado ao redor. - Onde exatamente nós estamos?
  - Como assim, ? É aniversário do PJ, você me enviou esse endereço há uns vinte minutos atrás. - Respondi descendo do seu colo e sentindo uma decepção crescente se instalar na boca do estômago, além da sensação de que havia algo muito errado acontecendo.
  - Quem é PJ? O que é que tá acontecendo ali? - perguntou parecendo exaltado, dando alguns passos em direção à rua movimentada.
  - !!! - gritei o puxando de volta - você quer se matar? O que você usou? - perguntei notando os olhos dilatados e a testa suada.
  Ele abriu a boca para responder em um segundo, e no segundo seguinte estava no chão.
  Mais de uma hora depois me encontrava esperando no Hall de espera do hospital, certamente um dos momentos mais angustiantes da minha vida, esperando por alguma notícia além da óbvia: ele tivera uma overdose. Enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto inconsolável, rezei para todos os Deuses que me ouviam para que o salvassem. No fundo da minha mente tinha apenas uma certeza: se eu pudesse voltar no tempo para o momento em que o ofereci algo pela primeira vez, eu voltaria, mas como isso não era possível, eu estava certa de que jamais usaria qualquer droga de novo.

"I know I'm hanging on (hanging on, hanging on)
To a bullet in the wind"

  Observei atenta o rosto de , que tentava desviar seu olhar, esconder os sinais do que fizera, o nariz irritado o denunciando sem que precisasse dizer qualquer coisa.
  - Eu não acredito, . De novo? - perguntei irritada, levantando do sofá e procurando sem qualquer critério pela prova que precisava.
  - , calma. Eu juro que foi só dessa vez, eu juro. - respondeu com um olhar triste dominando sua feição.
  - Só dessa vez? - perguntei incrédula, jogando o pequeno saco de pó branco que encontrara escondido em sua jaqueta janela afora. - , você já teve TRÊS MERDAS DE OVERDOSE! O que você precisa, hein? O que mais você precisa pra entender que você tá se matando? -
  Notei ele encolher sob meu olhar, as mãos se entrelaçando nervosamente na vã tentativa de controlar o nervosismo.
  - Eu... eu ... - antes que ele conseguisse formar a frase foi dominado por uma crise de choro compulsiva. Uma parte de mim se partia por dentro em ter de fazê-lo confrontar seus demônios e sofrer por isso, mas a outra parte estava determinada em vê-lo enxergar a realidade como ela é, e tomando a decisão que eu havia tomado há um ano atrás.
  Me aproximei dele, sentando ao seu lado no sofá e o abraçando.
  - , eu te amo. E o que eu mais quero é que a gente possa ficar juntos pra sempre, mas eu preciso de você aqui. Eu preciso de você realmente aqui comigo. - Confessei segurando suas mãos nas minhas. - Tá vendo isso aqui? - apontei para a tatuagem que fizemos juntos há um ano atrás - Isso significa pra sempre.
  Ele parou de chorar e eu afastei o cabelo de seus olhos, encarando aquele par de órbitas azuis.
  - Me desculpa, , eu prometo... não, eu juro que vou fazer melhor.
  Aqueles olhos azuis eram tão cheios de verdade que só pude acreditar, assentindo em concordância e selando nossos lábios em um beijo terno.

"You tell me that you're sober
When you've had another"

  Sabe, o problema do vício é que ele é como um risco arranhado, sempre te fazendo reviver a mesma memória de novo e de novo. E era assim que me sentia com . Não importava quantas internações e abstenções ou mesmo o tanto de apoio que eu lhe desse, não importava que eu o amasse mais do que conseguia colocar em palavras e nem mesmo toda a história que tínhamos juntos. E três anos depois da sua primeira overdose ali estava eu novamente, encontrando mais um pino escondido entre suas coisas.
  As lágrimas foram as primeiras a me fazer companhia, denunciando meu desamparo e solidão. Depois veio a raiva, meu cérebro simplesmente não conseguia conceber como era possível que não havia qualquer outra possibilidade além de vê-lo se matar dia após dia. E, por fim, veio ele, parecendo resignado como nunca.
  Levantei sentindo o peso do mundo em minhas costas, meu semblante provavelmente aparentando o cansaço que eu sentia. Olhei no fundo dos seus olhos e me assustei com o que vi ali, o vazio e a desesperança. Não tive tempo de falar qualquer coisa antes de sentir seus braços me envolvendo em um abraço.
  - Sinto muito, . Eu não sou o homem que você sonhou que eu seria, e nem o homem que você merece. - falou por entre meus cabelos, enquanto eu sentia que - apesar de estarmos tão próximos - estávamos à quilômetros de distância.
  - Do que você tá falando, ? - ele se afastou, os olhos distantes.
  - Eu tô falando que chegou a hora de deixar você ser feliz.
  - Eu sou feliz. - Contestei imediatamente, embora minha voz não representava as palavras ditas.
  - Não. Nós dois sabemos que você não é feliz há um bom tempo, . E é minha culpa. Eu que sempre quis ser a razão do seu sorriso, me tornei o motivo das suas lágrimas - ouvir suas palavras era como uma facada em meu coração, e as lágrimas voltaram a cair novamente.
  - Não. - disse com firmeza - eu não vou permitir que você desista, não assim. Nós iniciamos isso juntos e vamos sair dessa juntos também. - concluí, me aproximando para abraça-lo.
  - , eu não quero, aliás, eu não suporto mais te ver sofrendo assim por ser um fraco patético. - Ele retrucou, decidido como nunca. Apenas balancei a cabeça em negativa, sem acreditar no que ouvia. - Eu vou pegar as minhas coisas.
  Assisti imóvel enquanto ele organiza suas roupas em uma mala, além de alguns outros itens que foram se acumulando entre o seu e o meu. Minha mente gritava ensandecida para que eu o parasse e fizessem com que ele ficasse, mas meu corpo parecia não conseguir reagir. Somente quando o vi se aproximar da porta de saída consegui forçar meus pés a correr em sua direção, me jogando em seus braços.
  - Eu não sei se eu posso viver sem você. – Confessei em meio ao abraço, minhas lágrimas molhando sua camiseta branca. Ele me abraçou de volta, e pareceu que tudo ficaria bem enquanto estivéssemos nos braços um do outro, mas o abraço terminou rápido demais, suas mãos me afastaram gentilmente antes que ele disse suas últimas palavras:
  - Sem mim é o único jeito que você vai conseguir viver. – Ele abriu a porta e colocou suas malas para fora, se virando para mim uma última vez e depositando um beijo em minha testa, sussurrando tão baixo que quase não pude ouvir – Eu sempre vou te amar, .

“I gave it everything, everything
But we still lost the way”

  Quatro meses. Quatro meses e doze dias. Quatro meses doze dias e seis horas desde que ele se foi. E ainda não há nada que eu faça que me permita esquecê-lo. Como se ele fosse meu próprio fantasma particular, me assombrando pelo resto da vida com suas memórias que não paravam de tocar em minha mente. Tomei mais um gole de café enquanto olhava para o sofá onde transamos pela primeira vez, dois jovens bêbados com tesão demais e coordenação de menos quebrando tudo que víamos pela frente. A memória logo se conectou ao dia seguinte quando ele voltou com um vaso de plantas e uma desculpa esfarrapada de que se sentiu no dever de reparar os danos da noite anterior. Um sorriso de canto escapou meus lábios enquanto pensava na maneira estranha do destino funcionar: era para ser só uma noite qualquer com um estranho qualquer, mas era especial demais para se encaixar nessa categoria. Ele era do tipo que tinha a capacidade de fazer você se sentir bem com apenas um olhar, e espantar todas as tristezas com um abraço. Talvez seja isso. Talvez essa seja a razão pela qual ele se tornou meu persistente fantasma. E apesar da minha mente parecer um disco arranhado, eu preferiria sofrer eternamente pelas memórias de todas as coisas boas que tivemos e se acabou, do que sequer ter tido a oportunidade de conhecê-lo.

"É melhor sofrer por amor, do que nunca ter amado"
- Lídia Aguiar

FIM