Little Magic
Escrito por Giuli Munaretto | Revisado por Lelen
Era incrível o poder que a menina sentia ao conduzir o pequeno artefato de madeira em suas mãos, as coisas surgiam como mágica.
Ela gostava dessa sensação, de sentir o poder que seus simples gestos podiam criar, o poder da vida.
Bastava agitar levemente o objeto para que o que ela desejasse acontecesse, ganhasse forma.
Ela poderia fazer qualquer coisa, poderia transformar água em vinho, dar e tirar a vida de algo ou alguém, poderia se teletransportar para qualquer lugar da face do planeta terra que desejasse.
Nada estava fora de seu alcance quando a pequena garota usava seu precioso artefato. A primeira vez que entrara em contato com o poderoso objeto fora quando possuía quatro anos.
Fora um presente de sua mãe, já cansada de ver sua filha utilizando de suas coisas para criar suas pequenas invenções e artimanhas.
Assim que tocou o objeto seus olhos brilharam e milhões de possibilidades surgiram em sua mente, que já articulava várias formas de por as mesmas em prática o mais rapidamente possível.
Agradeceu sua mãe dando um beijo estalado em sua bochecha e sai correndo em direção ao seu quarto para poder começar a criar com seu mais novo pertence.
A primeira coisa que inventou foi um menino. Era apenas pouco centímetros mais alto do que ela, seus cabelos eram castanhos e ele possuía olhos verdes, tão escuros, que pareciam negros e era dono de um sorriso contagiante. Sua primeira criação foi um amigo.
Logo depois de sua primeira criação a menina construiu um novo mundo, a cada movimento do objeto mais sua criação ganhava forma, logo já podiam se avistar um vasto campo coberto pelas mais diversas espécies de plantas, ela criou um mundo onde o tempo não existia, os céus nunca ficavam nublados.
Fez com que os córregos jorrassem suco de abóbora ou qualquer bebida que a pessoa que o bebesse desejasse.
Podia se ver o sol e a lua a qualquer hora do dia, assim como as estrelas.
No meio do bosque existia uma enorme árvore, tão grande que tocava o céu, dentro dessa árvore havia uma passagem que levava a pessoa que a seguisse até a copa da mesma, lá havia uma casa onde a garota passaria a maior parte do tempo junto de suas criações.
Com seu artefato mágico a garota conseguiu enfrentar por muitos anos a aquilo que a perseguia por tanto tempo. A solidão.
Para muitos aquele artefato era insignificante, ninguém conseguia ver seu poder, mas a pequena Anora conseguiu enxergar o que ninguém mais parecia ver.
Com o poder em suas mãos ela era capaz de fazer qualquer coisa e poderia se livrar de qualquer coisa que a ferisse.
Por muitas vezes Anora fugiu para seu mundo e sorriu com seu amigo, amigo esse que era o responsável por secar suas lágrimas derramadas pelas duras palavras dirigidas a pequena garotinha, pelos momentos em que Anora se via sozinha quando todos os seus colegas estavam acompanhados de sua família, pelas vezes em que eles não estavam presentes.
Anora fechava os olhos e sentia que ele estava ao seu lado, apertando-lhe a mão e sorrindo para ela, mesmo quando Anora não estava perto de seu preciso artefato.
Quando chegava em casa saia correndo em direção ao seu quarto, sem se importar com os empregados domésticos chamando por ela ou advertindo-a por correr dentro da mansão sem limpar os sapatos.
Ela simplesmente se ajoelhava embaixo de sua cama e buscava a caixa onde se encontrava seu objeto mágico e depois disso tratava de pensar nas palavras mágicas que a levariam até seu mundo, junto de seu amigo.
A garota se lembrava do dia em que adquirira sua primeira varinha, a sensação não foi tão boa quanto a que teve quando sentiu em suas mãos seu precioso artefato, ela sabia que nada nunca seria tão bom quanto aquilo.
Anora apenas deixou de lado por um tempo seu próprio mundo quando conheceu a pessoa que chegaria a ser a mais importante no decorrer da sua vida, sua melhor amiga, Briana.
Apesar dela nunca ter esquecido de seu grande amigo, ela ainda o visitava às vezes, contava como estavam indo as coisas em sua vida, ele era importante para ela e Anora sabia que nunca o esqueceria.
Mas agora ela tinha que enfrentar o mundo real, não poderia mais viver no seu próprio mundo tanto quanto antes.
Com cuidado Anora pegou o pequeno caderno, passando os dedos levemente sobre o desenho antigo de um menininho e uma garotinha de mãos dadas, passando as páginas uma a uma ela recordava sua infância lendo os trechos de letras infantis ali contidas, passou por diversos desenhos do mesmo garotinho, viu algumas páginas borradas, que ela sabia serem por lágrimas, e sorriu ao parar numa página especifica.
Naquela página havia um desenho, duas garotas deitadas num campo de flores com um menino sentado observando ao longe. Ela fizera aquele desenho quando fora apresentada a Briana.
Anora seguiu até a última página e fez uma última anotação no caderno encantado, sorriu e fechou o mesmo.
Observou novamente seu quarto dentro da mansão, tentando guardar cada detalhe em sua memória, se ajoelhou e estendendo o braço em baixo da cama, pegou a caixa já velha e empoeirada, abrindo-a, tirou algumas fotos velhas lá de dentro e mais alguns objetos até encontrar seu antigo lápis. O pegou e observou o cabo enfeitado com suas iniciais, Anora as fizera quando mais nova.
Por fim, recolheu os objetos jogados no chão, guardou-os novamente na caixa debaixo da cama e se levantou.
Guardou o lápis junto do caderno preto e os colocou dentro de sua bolsa, com um feitiço guardou o restante dos seus pertences dentro do malão.
Anora ainda acreditava que seu lápis era um artefato mágico, sua varinha nunca substituiria o poder daquele objeto.
Para Anora sua primeira varinha fora aquele lápis já velho dentro de sua bolsa, para ela aquele com certeza era o objeto mais mágico que ela poderia ter.
Ela sorriu com aquele pensamento, se sua mãe soubesse a repreenderia por tratar um objeto trouxa qualquer como algo realmente valoroso ou de teor mágico. Ela não gostava da apreciação que Anora possuía pelos artefatos trouxas.
Mas Anora não ligava, agora ela estava indo para Hogwarts, onde passaria os melhores momentos de sua vida ao lado de sua melhor amiga. E ela não deixaria de registrar isso com seu preciso objeto. Ainda viveria muitas histórias, histórias essas que ela não deixaria de contar.
Quem sabe um dia Anora não dividisse sua magia com o resto do mundo... Afinal, existia muita mágica por entre aquelas páginas.