Like Us

Escrito por Annarya vieira | Revisado por Lelen

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Música: People Like Us, por Kelly Clarkson

  Livre. Era assim que eu estava me sentindo. Depois de passar seis anos naquele internato. Minha mãe não é lá uma das melhores pessoas comigo. Pra falar a verdade, acho que ela me odeia; ela prefere a Lara, minha irmã adotiva do que eu, sua própria filha biológica. Minha mãe me rejeitava. Viva dizendo que a Lara era melhor que eu. Meu pai morreu quando eu tinha dez anos. Depois da morte dele, tudo piorou. Eu aprontava na escola. A Lara implicava comigo e se eu dizesse a minha mãe que a culpa de tudo era a Lara, eu que era castigada. Eu aprontava tanto que aos doze anos minha mãe me colocou num colégio interno. As únicas coisas boas que eu tenho na minha vida, são apenas duas pessoas: e Júlia.
   é minha amiga de infância, e desde o internato só mantíamos por telefone. Nunca nos víamos. Júlia é minha meia irmã de cinco anos. Minha mãe a teve com seu novo "marido".
  E deixe me apresentar: Meu nome é , tenho dezoito anos e parte da minha história você já sabe. Paguei o táxi e desci ficando de frente para minha casa. Nada mudou, pensei. Abri a porta entrei me jogando no sofá.

  - ! – Júlia veio correndo e pulou em cima de mim.
  - Hey, pequena. – Ela tinha os olhos claros, cabelo da mesma cor do meu e um rosto angelical.
  - Você não vai voltar mais pra lá, né? – Perguntou fazendo biquinho. Fala sério, existe coisa mais fofa que essa aqui? Eu sei que não, obrigada.
  - Não, meu anjo. Dessa vez eu vim pra ficar. – dei um beijo na bochecha dela.
  - Infelizmente. – Lara entrou na sala. Estava demorando pra eu encontrar com ela ou minha mãe.
  - Oi pra você também. – sou educada, ok? Ela deu um sorrisinho estranho.
  - Júlia, ta na hora do banho. A mamãe vai nos levar pra casa da tia Luiza. – ela disse e veio em direção a Júlia.
  - Eu não quero. Quero ficar aqui com a . – ela cruzou os braços.
  - A mamãe ta mandando. Você não vai ficar com ela aqui. Vamos. – Lara pegou ela nos braços e Júlia ficou se debatendo.
  - Solta ela! – peguei Júlia do braço dela – Meu amor suba e me espere lá em cima. Você vai ficar comigo hoje. – falei e ela assentiu subindo as escadas correndo.
  - Você não pode ficar com ela. – cruzou os braços.
  - Não só posso como vou. – peguei minha mochila que estava jogada no sofá.
  - Não vai. – ela pegou meu braço.
  - Quero ver quem vai me impedir. – puxei meu braço.
  - A mamãe. – ela sorriu vitoriosa.
  - Tentem. – Dei de ombros e subi. Podia apostar que a Lara estava da cor do cabelo dela: Vermelho.
  Quando subi, Júlia já havia tomado banho com a ajuda de uma mulher. Acho que era a babá, sei lá.
  - Você deve ser a . – ela disse e sorriu simpática.
  - Sou. – sorri de volta. – E você, como está linda! – disse para Júlia. Ela estava com um vestido rosinha; uma sapatilha branca e o cabelo solto com uma tiara.
  - Vou tomar banho. Pode me esperar?
  - Ahãm. – ela pulou pra cama.
  - Você pode olhar ela? – perguntei para a babá.
  - Judith. Meu nome é Judith. – ela assentiu.
  - Obrigada, Judith. – Sorri e saí do quarto de Júlia.

  Meu quarto continuava o mesmo. Caminhei até a cama e joguei minhas coisas nela.
  - Quanto tempo... – suspirei e fui pro banheiro. Tomei um banho rápido, vesti um short jeans com uma blusa branca com a estampa dourada escrito "Hate All" e deixei meu cabelo preso em um coque. Peguei o necessário e fui ao quarto da Júlia.
  - Vamos? – ela assentiu sorrindo e segurou minha mão. Descemos rápiod.
  - Onde você pensa que vai com ela? – tava demorando, pensei.
  - Passear. – dei de ombros.
  - Ela não vai. Vai comigo para a casa de sua tia Luiza.
  - Mamãe, eu não quero ir. – Júlia disse fazendo biquinho. Eu teria rido, se não fosse a situação.
  - Quieta, Júlia! – ela praticamente gritou com a pequena.
  - Não fala assim com ela! – rebati no mesmo tom. – Meu amor, me espera lá no carro? – ela soltou minha mão e foi.
  - Quem você pensa que é pra me desautorizar na frente dela?
  - Alguém que você rejeitou a vida toda. Que preferiu a filha adotiva a biológica e me jogou no internato. E que vai impedir que a vida da Júlia não vire o inferno que a minha virou e ela não sinta o que eu senti! – gritei. Suspirei e antes que ela pudesse responder, completei – Se o papai estivesse aqui, as coisas seriam diferentes.
  E saí pelo mesmo caminho da Júlia. Bati a porta com força e me segurei pra não chorar. Eu não podia, não na frente da minha irmã. Antes de entrar no carro, peguei meu celular e mandei uma mensagem pra .

  "Tô de volta, baby! Que tal a gente se encontrar á noite? Preciso sair."
x.x

  Júlia estava quieta no banco de trás. Estávamos indo pra o parque que ficava a dois quarteirões de casa. Eu sempre brincava lá. Achava mágicos os brinquedos. Bobagem.
  
Ri com a minha própria lembrança. Chegamos rápido. Tirei Júlia do carro e mandei ela ir brincar com as outras crianças. já havia respondido minha mensagem.

  "De volta aos velhos tempos, yey! Fico em frente a sua casa te esperando. Até a noite, baby."
   x.x

  Essa pelo visto nunca deixou de aprontar. E eu também não. Minha mãe não fazia ideia de como eu me divertia naquele internato. Minha tarde inteira se resumiu a Júlia. Ela brincou, depois corremos uma atrás da outra, depois tomamos sorvete, e por fim ela pediu pra ir embora. Dirigi até em casa e entrei com ela em meus braços. A casa estava um silêncio, as duas não estavam lá, graças a Deus. Caminhei até o quarto da pequena e a coloquei na cama. Desci pra cozinha, estava morrendo de fome. Judith estava lá.
  - Judith, será que poderia ficar com a Júlia essa noite? – perguntei.
  - Claro. Onde vai? – ela me deu um prato com torradas e um copo de suco.
  - Obrigada, vou sair com uma amiga. – ela não falou nada. Apenas assentiu confirmando. Comi rapidamente, afinal já era noite e se eu me atrasasse, me mataria. Subi e tomei um banho rápido. Optei por um vestido preto, curto e justo; coloquei um scarpin preto e deixei meu cabelo solto, caído pelos ombros com os cachos.
  Como previ, já estava lá em frente de casa.
  - Uau, garota. Quer matar quem do coração? – falei e ela riu.
  - Essa noite eu não saio de lá sem pegar um gato. – ela disse e gargalhamos.
  - Vamos?
  - Let's GO! – Gritou.

  Entramos no carro e fomos ouvindo Maroon5 o caminho todo. Chegamos e adivinhe? Estava lotado. Eu mereço! me puxou lá pra frente.
  - Tá maluca? Furar fila? Eu não quero morrer, hein? – falei, mas tudo o que ela respondeu foi um "Shii, fica quieta." Bufei. Paramos em frente ao segurança e ela deu dois passes Vips. Essa é minha amiga! Mas pera... como ela conseguiu isso? Ah, foda-se. Nós conseguimos entrar. O pub estava cheia, o som estava alto a ponto de me deixar surda. Estava tocando alguma música da Britney Spears e... Legal. A vadia da me deixou sozinha. Bom, se ela vai se divertir, por que eu também não?
  fui até o bar beber algo. Estava com sede.
  - Um uísque, por favor? – pedi ao barman que assentiu indo buscar. Realmente isso aqui estava animado. Mandei uma mensagem pra .

  "Porra, ! Da próxima vez avisa que vai me deixar sozinha."

  o barman me trouxe a bebida, agradeci e tomei o primeiro gole.
  Ahh, eu precisava me animar.
  - O que uma bela moça está fazendo sozinha? – um par de olhos azuis se sentou ao meu lado.
  - Eu adoraria saber. Minha amiga me deixou na mão. – dei de ombros e ele sorriu.
  - Por favor, pode trazer o mesmo? – ele pediu para o barman e apontou para o meu copo. – Não está mais sozinha. Afinal, veio para se divertir, não?
  - Depende de qual termo de diversão você está falando. – o uísque dele chegou e ele bebeu um gole.
  - Que tal eu te mostrar? – ele perguntou.
  - Por que não? – desafiei e ele sorriu malicioso. Ele desceu do banco e se aproximou de mim.
  - Com licença amigo. – um garoto moreno pegou o uísque da mão dele. – A garota está comigo.
  O que? Eu nem conheço o garoto e ele diz que está comigo? Ok, deve ta havendo um engano.
  - Desculpe, eu não te conheço. – o par de olhos azuis já havia se afastado de mim e me observava.
  - Mentir é feio, . – ele disse e deu um gole no uísque. Espera... como ele sabe meu nome?
  - Ta tudo bem? – o par de olhos azuis me perguntou.
  - E por que não estaria? Pode ir. – garoto respondeu. O mesmo olhou pra mim e eu assenti confirmando. Ele saiu de minha vista e eu bufei.
  - Mas que porra! Quem é você? – perguntei, irritada.
  - . Me chamo . – sorriu e deu de ombros. Cara, que sorriso lindo. Tá, parei.
  - E a gente se conhece de onde? – arqueei as sobrancelhas.
  - Já se esqueceu? – vendo que eu não iria responder, continuou. – Tudo bem. No internato.
  - Espera. Você não é aquele garoto que foi em cana junto comigo? – ele sorriu assentindo. Tomei mais um gole do uísque e ele me acompanhou.
  - E por que está aqui justamente comigo?
  - Porque eu já esperei tempo demais. – deu de ombros.
  - Como assim?
  - Eu passava tempos te observando. Contando cada minuto que eu pudesse te ter. Eu via você chorando quieta num canto. Via você aprontando. Tudo. E agora eu estou aqui. – tá isso estava estranho. O cara me observava e fala isso com a maior naturalidade do mundo? Eu nem ao menos se lembrava dele direito. Nós ficamos nos encarando. E de repende começou a tocar uma música conhecida.
  - Me acompanha? – ele me perguntou e eu mordi os lábios. Cara, eu precisava dançar essa música, então não tinha como eu recusar. Assenti e ele sorriu me abraçando pela cintura.

We come into this world unknown
But know that we are not alone
(Chegamos a este mundo desconhecido
Mas sabemos que não estamos sozinhos)

  Fomos para o meio da pista. Eu me mexia conforme o ritmo da música enquanto ele me observava de cima para baixo.
  - Acho que ta na hora de nos divertimos um pouco. – ele sussurrou no meu ouvido.
  Me virei e vi que ele tinha um sorriso malicioso. – Que tal subimos?
  - E o que te faz pensar que eu faria isso? – perguntei o encarando nos olhos.
  Ele se aproximou mais de mim, me puxou pela cintura e beijou meu pescoço. Preciso falar que me arrepiei? Beijou o canto da minha boca e afastou seu rosto do meu. Ele deu um sorriso irônico.
  - Porque você é como eu. Essas pessoas são como nós.
  Ele não me deixou responder. Acabou com toda distância que havia entre nós e finalmente me beijou. Ele passou a mão pela minha coxa e eu o puxei pra mais perto.

Hey
Everybody loses it
Everybody wants to throw it all away sometimes
(Ei
Todo mundo enlouquece
Todo mundo quer jogar tudo fora às vezes)

  - Melhor subimos. – sussurrei e ele assentiu sorrindo.
  Ele me guiou até a parte de cima da pub onde uns casais praticamente se comiam ali mesmo. Ignorei e continuei andando. Entramos num quarto e ele me agarrou assim que a porta foi fechada.
  - Você é muito apressado. – Eu disse quase rindo.
  - E você fala demais.

Oh, people like us we gotta stick together
Keep your head up nothing lasts forever
Here's to the damned, to the lost and forgotten
(Oh, pessoas como nós tem de ficar juntas
Mantenha a sua cabeça erguida, nada dura pra sempre
Um brinde aos condenados, aos perdidos e esquecidos)

  Ele deslizou as mãos dos meus quadris até a lateral das minhas coxas, me apoiei em seus ombros, e num movimento rápido, envolvi sua cintura com minhas pernas, fazendo com que ele me carregasse. Enquanto nos beijávamos, ele nos guiou até a cama, me jogando no mesmo. Ele ficou por cima de mim e deu um sorriso pervertido seguido por mim.

Oh oh oh
We are all misfits living in a world on fire
(Oh, oh, oh
Somos todos desajustados vivendo num mundo incendiado)

  - Você já sofreu demais, não acha? – ele sussurrou e beijou meu pescoço.
  - Você também não fica por fora. – respondi no mesmo tom.

  Ele parou e ficou me encarando. Sua expressão era séria e eu não ousei falar mais.
  O fato de ele me olhar tão intensamente quase sem piscar, me incomodava. Tudo bem, eu não devia falar aquilo. Nós dois sofremos o bastante para saber o que sentíamos cada vez que alguém tocasse naquele assunto.

Hey
This is not a funeral
It's a revolution, after all your tears have turned to rage
(Ei
Isto não é um funeral
É uma revolução, depois de todas as suas lágrimas terem se tornado fúria)

  Ele saiu de cima de mim e se sentou na beira da cama. Eu levantei também e fiquei sentada onde estava mesmo.

  - Não é fácil. O que é pior, eu não tenho ninguém. – ele começou e eu continuei calada. – Meu pai diz que me odeia e minha mãe não liga pra mim. Me sinto um inútil naquela casa. Você tem alguém, não tem?
  - Minha irmã. – respondi.
  - E uma amiga. Enquanto, nem isso eu tenho.

Oh oh oh
You just gotta turn it up loud when the flames get higher
Oh oh oh
Sing it for the people like us, the people like us
(Oh, oh, oh
Você só tem que aumentar o som quando as chamas crescem
Oh, oh, oh
Cante pelas pessoas como nós, pelas pessoas como nós)

  - Eu não desejo o que nós passamos pra ninguém. Meu único consolo naquele lugar, era ver você. Chorando, sorrindo, aprontando. Tanto faz. Eu me identificava com você, Narya. – ele se virou e ficou me encarando. Eu não consegui falar nada, a não ser encara-lo também.
  - Eu não sei o que te dizer. – falei, suspirando.
  - Não precisa falar nada. – ele se aproximou mais e passou a mão por meu rosto.
  Meu celular tocou. Era uma mensagem. Da . Só pode.

  "Desculpe. Se for embora, me avise. Só quero que você se divirta. Você merece.
x.x"

  Realmente, eu merecia. Mas não conseguia. ficou me encarando e eu sorri sem vontade.
  - Era . Nada de mais. – dei de ombros.
  - Onde a gente parou? – ele perguntou. – Ah, sim. Aqui. – ele me deitou na cama com rapidez e me beijou.

Everybody loses it
Everybody wants to throw it all away sometimes
(Todo mundo enlouquece
Todo mundo quer jogar tudo fora às vezes)

  Acho que você já imagina o que rolou certo? Certo. O dia amanheceu muito rápido. Pelo menos para mim.
  Não acredito que eu dormir num quarto de uma pub. Tá, tanto faz. Levantei e acordou.

  - Que horas são? – ele perguntou.
  - Não faço a mínima ideia.
  - .
  - Tenho que ir. Não podia dormir aqui.
  - .
  - Huh?
  - Quando nos veremos novamente? – ele sorriu.
  - Não sei se devemos nos encontrar. – suspirei.
  - Não vai querer me visitar todos os dias no cemitério, vai? – arregalei os olhos e ele gargalhou.
  - Nem brinque com isso, garoto! – ele deu língua e eu não aguentei mostrar um sorriso.
  - Estou falando sério. – ele se levantou e vestiu a roupa que estavam jogadas no chão. Eu fiz o mesmo. Saímos do quarto, o corredor estava uma bagunça, e ainda tinha gente ali. já devia estar em casa, ou não.
  Caminhei até meu carro e encostei nele. parou na minha frente.
  - Não vai se matar, vai? – perguntei.
  - Não. Já tenho a quem fugir. Ele encostou sua testa na minha.
  - Acho bom. – ele sorriu e me deu um selinho.
  Ele se afastou de mim e foi andando em direção a um carro preto. E antes de entrar, disse:
  - Não se esqueça; sempre vai existir pessoas como nós. – piscou o olho e entrou no carro.
  Entendi aquilo com uma promessa.
  Ele era como eu.
  Ele sempre ia voltar.
  Não importasse quando nem onde.

Oh oh oh
Sing it for the people like us, the people like us
(Oh, oh, oh
Cante pelas pessoas como nós, pelas pessoas como nós…



Comentários da autora


Desculpem se não gostaram. Admito que a ideia em se basear a história na música, não foi fácil, acredite.
Bom, foi um prazer participar desse projeto e até a próxima. X.x