Capítulo 1 • %Hanna% %Marin%
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— Ela vai ficar besta quando eu contar! — disse %Spencer% %Hastings% para suas melhores amigas, %Hanna% %Marin%, %Emily% %Fields% e %Aria% %Montgomery%. Ela endireitou sua camiseta verde-musgo de ilhós e apertou a campainha da casa de Alison DiLaurentis.
— Por que é você quem vai contar para ela? — perguntou %Hanna%, saltando do degrau de entrada para a calçada, e de volta para o degrau.
Desde que Alison, a quinta melhor amiga, dissera a %Hanna% que apenas garotas agitadas permanecem magras, %Hanna% vivia se movimentando.
— Talvez todas nós devêssemos contar juntas ao mesmo tempo — sugeriu %Aria%, coçando a libélula que %Hanna% havia feito no pescoço.
— Isso seria divertido. — %Emily% colocou o cabelo louro-avermelhado e muito curto atrás das orelhas. — A gente podia fazer uma coreografiazinha e dizer “tan-tan-tan-taaaaan” no final.
— De jeito nenhum — disse %Spencer%, endireitando os ombros. — É o meu celeiro, eu conto pra ela. — E apertou a campainha da casa dos DiLaurentis de novo.
Enquanto esperavam, as meninas ouviram o barulho do cortador de grama aparando as cercas vivas da casa de %Spencer%, ao lado, e o tchoc-tchoc das gêmeas Fairfield jogando tênis na quadra do quintal, a duas casas de distância. O ar cheirava a lilases, grama cortada e bloqueador solar da Neutrogena. Era um típico e idílico momento Rosewood — tudo na cidade era bonito, e isto incluía sons, cheiros e habitantes.
As meninas haviam vivido em Rosewood por quase toda a vida, e se sentiam sortudas por fazer parte de um lugar tão especial. Elas amavam os verões de Rosewood acima de tudo. Na manhã seguinte, depois de acabarem a última prova do sétimo ano de Rosewood Day, a escola na qual todas estudavam, elas iriam participar da cerimônia anual de formatura. O Diretor Appleton chamaria cada aluno pelo nome, desde o jardim de infância até o último ano do ensino médio, e cada um receberia um broche de ouro de vinte e quatro quilates — o das meninas era uma gardênia, e o dos meninos, uma ferradura. Depois disso, todos estariam liberados para dez gloriosas semanas de bronzeado, piqueniques, passeios de barco e viagens para Filadélfia e Nova York onde poderiam comprar o que quisessem. Elas mal podiam esperar.
*****
— Como vai ser agora? — perguntou %Hanna% %Marin% à sua nova melhor amiga, Mona Vanderwall.
— Agora nós nos tornamos as garotas mais populares de toda Rosewood Day. Infelizmente Alison desapareceu, mas isso não nos impede de recomeçar. Podemos ser as novas garotas mais populares de Rosewood Day — disse Mona com sinceridade no olhar.
— Então é isso, seremos as mais populares de Rosewood Day — concordou %Hanna%.
— Mas não pense que será fácil. As pessoas são complexas, %Hanna%, e até maldosas, vamos precisar ser nossas melhores versões para impressionar tudo e todos depois virarmos as mais populares de Rosewood Day.
— Vai dar certo — disse %Hanna% decidida.
E assim, um passo foi dado. Não demorou muito para que %Hanna% %Marin% e Mona Vanderwall se tornassem as mais populares alunas de Rosewood Day. %Aria% havia se mudado para a Finlândia para recomeçar por um tempo. As amigas se afastaram, %Hanna% agora vivia com Mona onde quer que ela fosse. Ela precisava ser popular, estava cansada de ser a %Hanna% baleia, que vivia à sombra de Alison Dilaurentis e às vezes era zoada. Agora ela era %Hanna% %Marin% a garota mais popular de Rosewood Day, e ninguém podia dizer nada em relação a isso. Agora ela namorava Sean Ackhard, o garoto que ela sempre teve um crush exagerado, e Ali até zombava dela por isso. Nunca que Sean iria gostar de alguém como ela. Mas agora ela era %Hanna% %Marin%, a popular. Mas como tudo que reluz não é ouro, um dia começou a receber mensagens anônimas.
*********
%Aria% %Montgomery% sentou-se para a aula de inglês na segunda de manhã, bem na hora em que o ar lá fora começou a cheirar a chuva. O amplificador rangeu, e todos na classe olharam para o pequeno alto-falante no teto.
— Olá, galera! Aqui é a %Spencer% %Hastings%, sua vice representante de turma! — A voz de %Spencer% soou alta e clara. Ela parecia desenvolta e confiante, como se tivesse feito um curso de oratória. — Quero lembrar a todos que os Rosewood Hammerheads vão competir com os EELs, a equipe de natação da Drury Academy. É a maior competição da temporada, então, vamos todos mostrar espírito de equipe e aparecer lá para apoiar o time! — Houve uma pausa. — Uhul!!
Uma parte da sala saiu. %Aria% sentiu um calafrio de desconforto. Apesar de tudo o que havia acontecido — o assassinato de Alison, o suicídio do Toby, A — %Spencer% era a presidente ou a vice de todos os clubes e associações que havia por ali. Mas, para %Aria%, a animação de %Spencer% soava... falsa. Ela tinha visto um lado da garota que as outras não conheciam. %Spencer% sabia há anos que Ali tinha ameaçado Toby Cavanaugh para mantê-lo calado sobre o acidente de Jenna, e %Aria% não podia perdoá-la por esconder delas um segredo tão perigoso.
— Muito bem, turma — disse Ezra Fitz, o professor de inglês avançado de %Aria%.
Ele continuou a escrever “A Letra Escarlate” na lousa com sua caligrafia angular e, então, sublinhou quatro vezes as palavras.
— Na obra prima de Nathaniel Hawthorne, Hester Prynne trai seu marido, e a cidade a força a usar um enorme, vermelho e constrangedor “A” em seu peito, como lembrança do que ela havia feito. — O sr. Fitz virou-se para a turma e empurrou seus óculos para cima do nariz curvado. — Alguém se lembra de outras histórias que tenham como tema a desonra? Sobre pessoas que são ridicularizadas ou expulsas por seus erros?
Noel Kahn levantou a mão e seu relógio Rolex de corrente escorregou pelo pulso.
— Pode ser aquele episódio do “The Real World” no qual os colegas da república votaram para a menina bizarra ir embora?
A sala toda riu, e o sr. Fitz pareceu perplexo.
— Pessoal, esta é, supostamente, uma aula de inglês avançado. — O professor se virou para fileira de %Aria%. — %Aria%? E você? Alguma ideia?
A garota hesitou. Sua vida era um bom exemplo. Não muito tempo atrás, ela e sua família viviam harmoniosamente na Islândia, Alison não estava oficialmente morta e A não existia. Mas então, numa horrível sucessão de eventos que começara seis semanas antes, %Aria% voltou para a escola de Rosewood, o corpo de Ali foi encontrado embaixo da laje de concreto atrás da casa onde ela morava, e A revelou o grande segredo da família %Montgomery%: que o pai de %Aria%, Byron, havia traído sua mãe, Ella, com uma de suas alunas, Meredith. Essa revelação foi um golpe para Ella, que imediatamente colocou Byron para fora de casa. O fato de Ella ter descoberto que %Aria% guardou o segredo sobre Byron por três anos não ajudou muito. A relação entre mãe e filha não andava exatamente às mil maravilhas desde então.
Claro, poderia ter sido pior. %Aria% não tinha recebido nenhum texto de A nas últimas três semanas. Embora Byron supostamente estivesse morando com Meredith, pelo menos Ella havia voltado a falar com a filha. E Rosewood não tinha sido invadida por alienígenas ainda, embora, depois de todas as coisas estranhas que aconteceram naquela cidade, %Aria% não teria ficado surpresa se isso tivesse acontecido.
— %Aria%? — insistiu Fitz. — Alguma ideia?
— Que tal a história de Adão e Eva com a serpente? — sugeriu Mona Vanderwall.
— Ótimo — elogiou o professor, distraído. Os olhos dele ficaram pousados em %Aria% por um momento antes de seguir para outro lugar. A moça sentiu uma sensação quente de excitação. Ela tinha ficado com o sr. Fitz — Ezra — no Snooker, um bar frequentado pelo pessoal da universidade, antes que qualquer um dos dois soubesse que ele seria seu novo professor de inglês avançado. Foi ele quem terminou com ela e, logo depois, %Aria% descobriu que ele tinha uma namorada em Nova York. Mas ela não guardou mágoa. As coisas iam bem com seu novo namorado, Sean Ackard, que era um doce e, por acaso, também era bonito.
Além do mais, Ezra era o melhor professor de inglês que ela já tivera. No primeiro mês de aula, ele já havia indicado quatro livros incríveis e encenado uma comédia baseada em The Sandbox, de Edward Albee. Em breve, a classe iria fazer uma interpretação de Medeia — a peça grega na qual a mãe mata os próprios filhos, no estilo Desperate Housewives. Ezra queria que eles pensassem fora dos padrões, e fora dos padrões era o forte de %Aria%. Agora, em vez de chamá-la de “Finlândia”, seu colega de classe, Noel Kahn, tinha dado a ela um novo apelido: “Queridinha do Professor”. Era bom estar animada com a escola de novo, apesar de tudo, e às vezes ela nem se lembrava que as coisas com Ezra tinham sido complicadas um dia. Até que ele lhe lançou um sorriso sedutor, claro. Então, %Aria% não pôde evitar a empolgação. Mesmo que tivesse sido uma empolgaçãozinha.
%Hanna% %Marin%, que sentava bem em frente a %Aria%, levantou a mão.
— Pode ser aquele livro em que duas garotas são as melhores amigas, mas então, de repente, uma delas fica má e rouba o namorado da outra? — perguntou %Hanna%.
— Desculpe... eu não acho que tenha lido esse livro.
%Aria% cerrou os punhos. Ela sabia o que %Hanna% quisera dizer.
— Pela última vez, %Hanna%, eu não roubei o Sean de você! Vocês. Dois. Já. Tinham. Terminado!
— Melhores amigas não fazem isso, %Aria% — sussurrou %Hanna% como se estivesse falando para si mesma.
— Quero que todos leiam do capítulo um ao cinco essa semana e façam um trabalho de três páginas sobre qualquer assunto que tenham encontrado no começo do livro para sexta-feira. Certo? — disse o professor Ezra Fitz.
— %Aria%. — Ela se virou. Ezra estava debruçado em sua mesa de carvalho com sua velha maleta de couro cor de caramelo apertada contra o quadril. — Tudo bem? — perguntou ele.
— Desculpe por tudo isso — disse ela. — %Hanna% e eu temos algumas desavenças. Não acontecerá novamente.
— Sem problemas. — Ezra abaixou sua caneca de chá. — Todo o resto está bem?
%Aria% mordeu o lábio e pensou em contar a ele o que estava acontecendo. Mas por quê? Pelo que ela sabia, Ezra era um fraco, como seu pai. Se ele realmente tinha uma namorada em Nova York, então ele a havia traído ao ficar com %Aria%.
— Está tudo bem — ela conseguiu dizer.
— Bom. Você está fazendo um ótimo trabalho na aula. — Ele sorriu, mostrando dois dos dentes inferiores, adoravelmente encavalados
*****
DOIS DIAS DEPOIS...
— O que está acontecendo? — questionou %Hanna% sem entender. — Por que minhas antigas amigas estão aqui?
— Eu tentei ligar para você. Você não atendeu — disse a mãe. — O policial Wilden queria fazer umas perguntas sobre Alison para todas vocês. Elas estão lá nos fundos.
— Tem alguma mensagem pra mim?
— Sim, uma. — O coração de %Hanna% deu um salto, mas aí a mãe continuou: — Do sr. Ackard. Eles estão fazendo uma reorganização na clínica de pessoas queimadas e não vão precisar mais da sua ajuda.
— Não. — Ela tocou o braço de %Hanna% com gentileza. — Eu sinto muito, Han. Ele não ligou.
A garota pegou uma cadeira da mesa e sentou ao lado de %Spencer%.
— Desculpa, mas hoje é aniversário da minha “melhor” amiga e eu estou atrasada, vai demorar muito? — perguntou %Hanna%.
— Não se nós começarmos agora. — Wilden olhou para todas elas. %Spencer% encarava as próprias unhas, %Aria% mascava um chiclete ruidosamente com os olhos fechados de uma maneira bizarra, e %Emily% tinha os olhos fixos na vela de citronela em cima da mesa, como se estivesse prestes a chorar.
— Primeira coisa — falou Wilden. — Alguém entregou um vídeo caseiro de vocês para a imprensa. — Ele olhou para %Aria%. — É um dos vídeos que vocês deram para a polícia de Rosewood anos atrás. Então vocês provavelmente o verão na TV. Todos os canais de notícias o pegaram. Estamos atrás de quem deixou o material vazar: essa pessoa será punida. Eu queria que vocês soubessem disso primeiro.
— Que vídeo? — perguntou %Aria%.
— A outra coisa de que quero tratar é a própria Alison. Temos motivos para acreditar que o assassino dela seja alguém de Rosewood. Alguém que possivelmente ainda viva aqui hoje... e essa pessoa pode ainda ser perigosa. Nós estamos procurando com novos olhos — continuou Wilden, levantando-se da mesa e caminhando em volta, com as mãos cruzadas atrás das costas. Provavelmente, ele vira alguém no CSI fazer aquilo e tinha achado legal. — Estamos tentando reconstituir a vida de Alison pouco antes do seu desaparecimento. Queremos começar com as pessoas que a conheciam melhor.
De repente o celular de %Hanna% tocou. Ela o pegou na bolsa. Mona.
— Mon — %Hanna% atendeu baixinho, levantando e indo em direção ao lado mais distante da varanda, perto das roseiras da mãe. —Vou me atrasar alguns minutos.
—
Vagabunda — provocou Mona. —
Que saco. Eu já estou na nossa mesa do Rive Gauch. — %Hanna% — chamou Wilden, ríspido. — Você pode ligar para quem quer que seja depois?
Na mesma hora %Aria% espirrou.
—
Onde você está? — Mona parecia desconfiada. —
Você está com alguém? — Estou em casa — respondeu %Hanna%. — Só estou com alguns problemas aqui em casa, minha mãe.
—
Você está com suas velhas amigas? —perguntou Mona. —
Quer saber, esquece nosso amiganiversário. %Hanna% tentou protestar, mas Mona havia desligado.
— Nós estamos discutindo um assassinato — disse Wilden, tomando o telefone da mão de %Hanna%, em voz baixa. — Sua vida social pode esperar. — Ok — disse o policial quando %Hanna% sentou-se novamente. — Eu recebi algo interessante algumas semanas atrás, e acho que devíamos conversar a respeito. — Ele pegou seu bloco de anotações. — Seu amigo, Toby Cavanaugh? Escreveu um bilhete suicida.
— N-nós sabemos — gaguejou %Spencer%. — A irmã dele nos deixou ler uma parte.
— Então vocês sabem que ele menciona Alison. — Wilden folheou o bloco para trás. — Toby escreveu: “Prometi a Alison DiLaurentis que guardaria o segredo dela se ela guardasse o meu”. — Seus olhos cor de oliva escrutinaram cada uma das meninas. — Qual era o segredo de Alison? — perguntou o detetive.
— Nós não sabemos. Ali não contou a nenhuma de nós. — As sobrancelhas de Wilden se fecharam quando %Spencer% disse isso. Ele se debruçou na mesa da varanda.
— %Hanna%, há algum tempo você achava que Toby tinha matado Alison.
— Eu não me lembro — disse %Hanna%, claramente falhando em mentir.
— Gente, nós temos que contar a ele — disse %Emily%.
— Jenna está cega. Nós fizemos isso — disse %Emily%.
— Eu tenho assuntos a resolver e Jenna está bem — disse %Hanna%.
— Nós deveríamos contar a ele sobre Jenna — urgiu %Emily%. — E sobre A, a polícia deveria cuidar disso. Nós estamos atoladas até o pescoço!
— Nós não vamos contar nada a ele e ponto final — silvou %Hanna%.
— É, eu não sei, %Emily% — disse %Spencer%, lentamente, enfiando as chaves do carro por entre as tábuas do tampo da mesa. — Essa é uma decisão séria. Isso afeta toda a nossa vida.
— Nós já discutimos isso antes — concordou %Aria%. — Além do mais, A foi embora, certo?
— Vou deixar vocês fora disso — protestou %Emily%, cruzando os braços sobre o peito. — Mas eu vou contar a ele. Acho que é a coisa certa a fazer.
O celular de %Aria% tocou alto e todas pularam. Então, o Sidekick de %Spencer% vibrou, dançando em direção à beira da mesa. O BlackBerry de %Hanna%, que ela tinha enterrado de volta na bolsa, soltou um apito abafado. E o pequeno Nokia de %Emily% tocou com um
trim de telefone antigo.
A última vez em que os telefones de todas elas haviam tocado ao mesmo tempo elas estavam do lado de fora do velório de Ali. %Hanna% teve a mesma sensação de quando seu pai a levou nas xícaras que dançam no parque de diversões de Rosewood, na época ela tinha cinco anos: a mesma náusea e tontura. %Aria% abriu o telefone. Depois %Emily%, e então %Spencer%.
— Ai, meu Deus — sussurrou %Emily%. %Hanna% nem se deu ao trabalho de pegar seu BlackBerry; ela se debruçou sobre o Sidekick de %Spencer%.
Vocês realmente acharam que eu tinha desaparecido? Qual é! Eu estou observando o tempo todo. Aliás, eu posso estar observando vocês agora mesmo. E, meninas, não contem a NINGUÉM sobre mim, ou vão se arrepender. —A O coração de %Hanna% disparou. Ela ouviu passos e se virou. Wilden estava de volta. Ele colocou o celular dentro do coldre. Depois olhou para as meninas e levantou uma das sobrancelhas.