Let It Burn

Escrito por Julia Massotti | Revisado por Virginia

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Capítulo único

  - ! 'Tá na hora, garota, vamos! - gritou e eu soltei uma risadinha.
  - Calma aí! Não ‘tô pronta, - gritei de volta - espera mais um pouquinho! - peguei o brinco que estava faltando e rapidamente coloquei o no seu lugar. Era hoje... O dia em que, literalmente, o amor queimaria. Esfreguei minhas mãos levemente suadas no meu jeans esfarrapado e encarei meus tênis encardidos, eu devia estar péssima. Me olhei uma última vez no espelho do quarto e sai correndo escadas a baixo.
  - Pronta? - perguntou enquanto íamos para o seu carro.
  - Mais que isso. - afirmei, e coloquei o cinto de segurança. Tudo estava indo bem, tudo estava preparado só tínhamos que ir lá... E fazer. Nós nos preparávamos para isso há quase um ano, tudo tinha que ser perfeito e especial para esse grande dia. Forcei os olhos para ver o que se passava ao nosso redor e notei que além de tudo estar escuro as casas estavam com todas as luzes desligadas, perfeito vai ser melhor assim.
  - Eu ainda não acredito que aceitei fazer isso. - balbuciou enquanto dirigia silenciosamente pela estrada sem tirar os olhos da mesma.
  - Sinto muito amigo, mas não tem mais nada que você possa fazer agora. -Ouvi ele bufar e eu sorri. Estiquei meu braço e liguei o rádio.

And we gonna let it burn burn burn burn
We gonna let it burn burn burn burn
Gonna let it burn burn burn burn
We gonna let it burn burn burn burn

  - Desliga isso! - grunhiu irritado e eu comecei a rir, aumentando o volume e começando a cantar junto.
  - Fica quieta! Por favor! - ele exclamou bravo e desligou a música.
  - Ei! Eu estava ouvindo, ok? - cruzei os braços sobre o peito e olhei para fora, notando que uma leve garoa começava a cair. – Está chovendo, ... Isso pode estragar tudo. - eu resmunguei.
  - Acho que não, é bem pouco só temos que torcer para não começar a chover muito.
  Assenti escorando a braço na janela e acomodando minha cabeça ali. Hoje era o dia, o meu dia... O dia que seria lembrado para sempre, eu mal estava acreditando nisso, parecia algo muito louco para ser verdade. Mas o pior era imaginar a reação dele ao descobrir o que eu estava fazendo, mas ele levaria uma parte da culpa, tudo isso era por causa dele. Dele e de seu sorriso doce, seu olhar calmo e suas bochechas coradas.
  - Chegamos, . - avisou estacionando o carro em uma das várias vagas da pequena boate. O lugar era pequeno, mas bem luxuoso, vários seguranças sempre estavam na espreita e pessoas de todos os tipos sempre estavam ali dançando ou bebendo. - Olha , eu não sei se é uma boa ideia fazer isso... Eles podem nos prender!
  - Cala a boca, . - revirei os olhos abrindo a porta do carro e saltando para fora. - Anda logo.
  Caminhei em direção da fila de pessoas esperando para entrar lá. Deixei um riso debochado sair ao ver a cara de indignada delas ao verem eu e - que agora caminhava silenciosamente atrás de mim - passarmos toda a fila sem preocupações.
  - Olá . - um dos seguranças me cumprimentou - Veio ver o ?
  - Hey Luke! Vim sim, mas é segredo, viu? - fiz sinal de silêncio para ele e ele concordou.
  - Fiquem a vontade então. - Luke abriu a porta para nós e vários murmúrios indignados foram ouvidos atrás de nós.
  A música alta e o cheiro de bebida forte me atingiram rapidamente, pessoas com pouca roupas se esfregavam e se agarravam pro todos os cantos. Deplorável. Então eu o vi e aquele sorriso bobo se formou em meus lábios, sempre foi assim. Ele estava com os cabelos espetados e desarrumados jogados para o lado esquerdo, ele usava uma camiseta preta social de botões com as mangas arregaçadas até o antebraço, calça jeans brancas e não consegui ver o que ele usava nos pés, suas mãos se mexiam rapidamente enquanto ele preparava uma bebida para uma pessoa qualquer do bar, a expressão séria e concertada... Ele era o meu garoto, o meu homem e eu faria de tudo para conseguir tê-lo.
  - ... Eu desisto dessa loucura! - jogou as mãos para o alto balançando a cabeça.
  - O que?! - perguntei indignada, ele ia me deixar na mão justo agora? Filho da mãe!
  - Eu sou muito jovem para ser preso, me desculpe. - passei minha mão pela minha face e enruguei a testa. Como eu iria fazer tudo sozinha, tudo estava planejado, mas para dois... O que eu faria? Estava quase tudo pronto, era só colocar o projeto em ação.
  - Eu nunca vou te desculpar - fuzilei-o com o olhar -, mas posso te entender. Só preciso que você vá lá - apontei para o meu - e o distraia até que as luzes se apaguem, depois você o levo para o local combinado, ok?
  Ele assentiu e suspirou.
  - Me descul...
  - Vai. - interrompi-o. Ele abaixou a cabeça e foi andando rapidamente até o garoto, onde começou uma conversa animada.
  Mas agora eu precisaria de ajuda... Quem poderia ser?
  Comecei a andar silenciosamente pelo estabelecimento, não podia me ver, afinal, era uma surpresa. Várias faces conhecidas acenavam para mim e eu retribuía, mas nenhuma dessas pessoas poderiam me ajudar agora.
  - ? - uma voz conhecida chamou perto de mim. Me virei e me deparei com ele, o meu fiel inimigo.
  - . – respondi com um pouco de nojo na voz.
  Espera um pouco... Ele seria...
  Perfeito! Ele seria a pessoa perfeita para me ajudar! Ele tinha o nível de rebeldia certa para me ajudar com isso.
  - O que fazes aqui? - ele ergueu uma sobrancelha me olhando com curiosidade.
  - Vim fazer uma surpresa para o meu futuro namorado. – sorri de lado.
  - . - assenti.
  - E preciso de sua ajuda. - mordi o lábio inferior, ele não ia aceitar.
  - Porque eu te ajudaria?
  - Pois eu tenho algo que você quer, eu posso te ajudar. - suspirei.
   jogou a franja para o lado e me olhou curioso.
  - Do que você está falando.
  - Não se faça de idiota , eu sei que você não é.
  Ele sorriu debochado e andou mais um passo para perto de mim quase encostando nossos corpos.
  -Vamos fale, amorzinho.
  - Eu posso arrumar um encontro com você e o . - sibilei. não era gay, mas ele estava me devendo uma e esse seria o preço.
  - Só eu e ele? - afirmei. - É uma proposta tentadora... Mas, o que terei que fazer em troca?
  Revirei os olhos e me aproximei de sua orelha sussurrando o meu pequeno plano.
  - Fechado. - estendeu uma de suas mãos para mim.
  - Não precisamos disso, vamos logo. - ignorei sua mão e me virei. Estava na hora, nós só tínhamos que arrumar algumas coisinhas.

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  - Tem certeza que quer isso, ? - sussurrou. Ambos estávamos abaixados na sala de controle do lugar.
  - Ande logo, daqui há exatos 5 minutos o próximo segurança entra. Eu estou vigiando, corra. - assentiu e se levantou correndo mais para dentro da sala. Agora eu estava nervosa, faltava pouco para que o meu plano desse certo, daqui a pouco meu caro estariam em minhas mãos, ou melhor, em meus lábios. Longos minutos se passaram e eu já estava ficando com medo de que alguém tivesse pegado , mas consegui ouvir um Click rápido e todas as luzes do estabelecimento se apagaram, a música acabou e várias pessoas gritaram.
  - Consegui, agora corre! - passou correndo por mim, apenas o segui para fora da sala, vários seguranças estavam sendo pressionados e intrigados ao longo dos corredores, a boate começava a se esvaziar saindo pela única porta do local.
  - Tem muita gente ali, não vai dar tempo, . - me parou quando estávamos perto da porta. - Sem contar que pode vê-la.
  E minha visão se escureceu mais do que já estava, minhas mãos começaram a tremer, o que eu faria?! Eu tinha poucos minutos. Olhei para cima a procura de alguma janela ou abertura onde eu pudesse e conseguisse passar.
  - Ali! - apontei para uma pequena abertura perto da gente. - Me ajude. - mandei.
  Ele me ajudou a chegar até o buraco me erguendo, não tive nem tempo de manda-lo tirar as mãos de mim, pois quando me dei por mim já estava caído em direção ao solo. Bem, com essa eu não contava. Senti uma leve dor nas minhas mãos e joelhos ao cair no chão, mas ignorei me levantando com um pouco de dificuldade, agora sim eu estava sozinha. Passei as mãos na minha calça tentando as limpar um pouco.
  Várias pessoas se encontravam confusas no lado de fora da boate, muitas delas bêbadas xingando alto. Mas meu não estava ali.
  Corri para a floresta que ficado ao lado da boate e encontrei ali.
  - Como você...?
  - Quieta, por favor. Me separei de na fila, consegui ir para a frente, mas logo sairá dali. Já está tudo arrumado, só falta o fogo.
  Olhei para as fileiras de fogos de artificio todos prontos e direcionados. Senti meu lábio inferior tremer levemente, era tão lindo. Me joguei nele o abraçando, se ele não me ajudasse não daria tempo.
  - Obrigado... Como eu queria ter me apaixonado por você. - sussurrei em seu ouvido e ele retribuiu o abraço.
  - Eu também. - ele soou melancólico, mas ignorei, eu não poderia ficar triste agora.
  - Vamos ao fogo! - gritei já correndo e começando a acender os fogos.
  - Posso ajudar? - apareceu ali com o mesmo sorriso de antes. Ele olhava para com uma cara estranha, aquilo deveria ser sexy para ele. suspirou e abaixou mais a cabeça.
  - Ande logo! Quer saber, continue acendendo os desse lado, logo eles vão iluminar o céu!   Ele assentiu e eu voltei para a boate, vi olhando para tudo confuso... Ele era tão inocente quanto um filhote de gato. Caminhei até ele discretamente, arrumando as minhas roupas que já estavam amassadas e dobradas de tanto correr.
  - ? - sussurrei pegando na sua mão.
  Ele deu um salto de sustou e eu tive que me segurar para não morder aquelas bochechas rosadas.
  - ! - ele exclamou feliz. - Você estava na boate? Eu te procurei e não te achei, aonde estavas?
  - Segredo. - ri. - E então, tudo bem?
  - Ótimo como sempre. Só confuso, o que será que aconteceu?
  - Caiu a luz? - me fingi de desentendida.
  - Talvez. - ele mordeu os lábios lentamente o que me fez ter vontade de beija-lo novamente. Eu sempre me apaixonei por garotos fortes, esportivos, dominantes e rebeldes, mas não sei por que me apaixonei pelo garoto mais bobo da faculdade, ele era baixinho, não tinha músculos e amava fotografar, mas ele era fofo e parecia sempre feliz com tudo, sempre colocava as pessoas que amavam na sua frente... E bem, dessa vez foi diferente, eu não me apaixonei como sempre, eu comecei a amar aquele garoto.
  - Mas o que é isso?! - apontou para trás de mim e eu sabia que eram os fogos. Eles subiram, subiram, subiram, mas não explodiram ainda... Era a minha deixa.
  - Vem aqui. - puxei-o para perto de algumas pedras. - Bem, eu não sei como começar... Eu acho que não tenho muito o que falar, já me declarei para você, lembra? E você disse que não sentia o mesmo, se desculpou e foi embora - ele abaixou a cabeça -, mas eu não me importei, eu sei o que você sente, desde aquele beijo notei que éramos especiais. Lembra-se da música? Ela disse para deixar o amor queimar, você deveria fazer isso. - me aproximei dele e ele sorriu triste.
  - ... Você é muito especial para mim, eu não quero te machucar. - ele sussurrou.
  - Eu não me importo, eu sei que você não vai, , vamos... Eu confio em você.
  - Mas eu não confio em mim mesmo. - ele se afastou, mas eu o puxei de volta entrelaçando meus braços em seu pescoço.
  - Deveria... - puxei nossos corpos e ele automaticamente descansou suas mãos em minha cintura.
  - Por favor, não diga não, mas... , eu quero que você seja meu e eu quero poder dizer que sou sua... Namora comigo? - um sorriso extremamente feliz e mais confiante que o antigo surgiu em seu rosto.
  - Não deveria ser o garoto a pedir? – ele arqueou uma sobrancelha, divertido.
  - Eu não me importo com isso... , qual a sua resposta?
  Ele me puxou mais para si, roçando nossos lábios. Começamos a ouvir os fogos explodindo e colorindo o céu.
  - Vou confiar em você... Vou deixar o amor queimar. - ele deu uma última olhada nos fogos antes de se virar para mim. - Eu aceito.
  Não resisti e impulsionei os meus pés e o beijei.
  Aquele garoto agora era meu, depois de tudo isso eu posso dizer que ele é meu.

And we gonna let it burn

FIM