Let her go

Escrito por Maraiza Santos | Revisado por Mariana

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  Era um dia frio como qualquer nessa época. Não é inverno, na verdade, é verão aqui, mas com todos esses problemas que tem acontecido com o aquecimento global, a temperatura é tipo 8 ou 80. Bem, não era isso que eu queria falar. Ou mesmo pensar. Definitivamente, não é hora de deixar meu lado bióloga me atingir com todas as minhas pesquisas de faculdade.
  Esse é um daqueles dias que me sento na minha cadeira e beberico meu vinho, que costumo esconder do , um anti álcool de carteirinha. Deixo um sorriso significativo escapar. Tiro meus saltos e estico minhas longas pernas com os pés apoiados na mesa, equilibrando meu corpo em cima da cadeira apenas com dois pés. Se o me visse assim com certeza reclamaria e diria o quão perigoso era. Sorri mais uma vez.
  Com a sala quase escura eu podia ver-me há dois anos com aquelas roupas que eu havia pegado emprestado da minha mãe. Veria uma garota nervosa para a primeira entrevista de emprego desde que percebera que biologia não era sua área, roendo unhas e descascando o esmalte preto de suas mãos. Consigo me ver sentada na cadeira que há lá fora olhando para o relógio vendo cada segundo passar quase lentamente e me ver suando frio. Ah, eu era tão inexperiente, tão medrosa.
  Lembro que eu imaginava de tudo o que aconteceria. Por um tempo, pensei que me sairia tão bem como Scallett Johansson em Diário de uma babá e empacando em uma pergunta simples em definir o que ela era. Ou teria um emprego tão bom quanto Anne Hathaway e passar todo aquele sufoco em O diabo veste Prada.
  Lembro que quando eu entrei na sala para a entrevista eu estava suando frio, e um dos entrevistadores era o executivo . Eu entreguei um currículo e sentei-me. Ele deve ter me feito umas três perguntas e eu apenas respondia com respostas curtas que eram acompanhadas com “Repita, por favor, não entendi” do pela minha voz estar baixa demais.

Ela vive na sombra de uma menina solitária
Voz tão silenciosa que você não ouve uma palavra
Sempre falando, mas ela não consegue ser ouvida

  Eu estava apenas sendo eu mesma, sempre fui quieta, tinha poucos amigos e a maioria ao me considerava o mesmo, já que não costumava falar sobre minhas coisas. Eu apenas ouvia. Ah, e tinha o Caleb.
  Lembro que haviam me desafiado no parque para ficar de cabeça pra baixo no ferro do balanço, eu tinha uns 5 anos. Eu até faria se meus pais não reclamassem tanto para eu não fazer isso, e eu era uma criança obediente. Sempre fui. Daí, eles começaram a rir de mim e gritar coisas como “covarde’’. Tentei falar, mas nada saia da minha garganta, sai correndo já com lágrimas nos olhos e acabei batendo no corpo de alguém e caindo no chão. Caleb se abaixou e começou a fazer caretas pra me fazer rir. Acabei rindo junto enquanto esticava meus braços pra ele me pegar no colo. Caleb é cerca de 10 anos mais velho que eu e sempre me tratou como uma irmã que ele nunca teve. Ele conseguia ver algo abaixo de toda essa timidez e medo.

Você pode ver se prestar atenção nos olhos dela
Sei que ela é corajosa, mas é uma prisioneira por dentro
Com medo de falar, mas ela não sabe o por quê.

  Depois de várias tentativas falhas de me fazer ter uma resposta concreta, tirou os óculos e se pôs a olhar pra mim tentando saber o que faria comigo. Eu não mantinha contato com seus olhos. Pensei que ele me dispensaria e eu sairia derrotada. E ele riria de mim junto com seus amigos em uma das festas da empresa pra mostrar o quanto eu era incapaz. Mas ai ele fez pior. Ele me ofereceu ajuda.

Eu queria saber naquela época o que sei agora
Eu queria poder de alguma forma voltar no tempo
E talvez escutar o meu próprio conselho

Eu diria para ela falar, diria para ela gritar
Falar um pouco mais alto, ser um pouco mais orgulhosa
Diria que ela é linda, maravilhosa
Tudo o que ela não vê

  Sempre perguntei ao o que ele havia visto em mim pra me dar uma segunda chance, pra quê ele me ajudasse fazer superar meus medos. Foi difícil, claro. Não se muda uma personalidade de 22 anos em um dia, ainda estou aprendendo.
  Mesmo assim, posso dizer que sou vitoriosa, gostaria de voltar ao tempo e dizer para mim mesma que todo meu temor e baixa autoestima eram poucos para grande garota que sou.

Sim, você tem bastante tempo para fingir a sua idade
Não pode escrever um livro com uma única página
Mãos no relógio que só gira em um sentido

Corra rápido demais e você arriscará tudo
Não pode ter medo de errar
Se sentiu tão grande, mas você parecia tão pequena

  Consigo lembrar muito bem das palavras do quando segurou minha mão pela primeira vez.
  - Quando a conheci você parecia ser tão pequena - ele disse – Foi um equivoco meu – ele sorriu.

Você tem que falar, tem que gritar
E saber que aqui, agora, você pode ser
Linda, maravilhosa, tudo o que você quer ser
Pequena eu

  Tomo o ultimo gole do meu vinho e levanto-me um pouco tonta por causa da bebida. Eu nunca fui muito forte pra bebida mesmo. Peguei meu celular, segurando meus sapatos em uma mão e discando o número do , o qual já havia decorado.
  Enquanto chamava eu peguei a minha bolsa e pus no meu ombro.
  - falando – Ele disse de forma profissional, praticamente automática.
  - Não sabia que falava tão formalmente com sua esposa, senhor . – o repreendi escutando uma risada fraca do ouro lado da linha.
  - Senhora , já estou no carro, chego ai em cinco minutos – Ele diz.
  - Cuidado, não acelere muito – eu digo. Fecho a porta e me viro andando pelos corredores da empresa totalmente desertos.
  - Sou um homem responsável, senhora – ele retruca – Quero chegar inteiro em casa para a minha mulher.
  - Ainda bem – Desço do elevador e vou para entrada, onde há um porteiro. – Boa noite – Sorriu simpática e ele assentiu – Tem alguma possibilidade dela não cozinhar quando chegar em casa?
  - Sim, se ela não estive bêbada – Ele fala com um tom total de sarcasmo.
  - Como você sempre sabe? Ah, isso é um absurdo! – Eu debato e escuto sua risada na linha enquanto fico na frente do prédio com os pés descalços.
  - Não é muito difícil... – Ele responde – Bem, vou desligar, já chego. Te amo.
  - Te amo – sorriu um pouco tímida.
  Ainda tenho timidez e receio de dizer “Eu te amo” para o meu marido como uma adolescente cheia de borboletas em sua barriga. Algumas coisas nunca mudam, pequena eu.

FIM



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