Learning Together
Escrito por Nicki Snows | Revisado por Naty
Eu estava comemorando a festa de aniversário do meu noivo quando meu celular tocou.
— Alô?
— , aconteceu algo gravíssimo. – sua voz estava trêmula.
— O que houve, Luna? – perguntei preocupada.
— Então, o navio de cruzeiro que sua irmã estava naufragou.
— O quê? – comecei a ficar desesperada. — E minha irmã? Como ela está?
— , eu sinto muito, mas...
— Mas o quê, Luna? – já pensava no pior.
— O corpo da desapareceu no mar. – vi tudo rodar ao meu redor e minha visão escureceu, de repente.
Acordei com ao meu lado com um copo de água.
— O que houve? Eu estava conversando com a Luna pelo celular e ela disse que... – encarei . — Isso é mentira, não é mesmo?!
— Eu gostaria de dizer que é, mas não posso fazer isso. – eu não pude e nem quis conter as lágrimas que já escorriam em meu rosto.
Era como se eu tivesse com um buraco no coração e a dor era imensa, a ponto de achar que eu não aguentaria mais. Mas, eu precisava ser forte e aguentar, eu tenho uma sobrinha para cuidar, e ela é tudo que me resta da minha família.
— Amor, você pode me levar até a casa de Luna? – perguntei para e ele assentiu. — Desculpe estragar sua festa de aniversário!
— Não me peça desculpas por isso nunca mais! – ele acariciou meu rosto. — Eu que peço desculpas por não poder fazer a dor que você está sentindo passar.
— Você estando ao meu lado já ameniza um pouco – o abracei forte.
Todos os convidados já haviam deixado a casa e, eu, mentalmente, agradeci por isso, não queria ficar ouvindo: “Eu sinto muito”. Mais que eles, eu que sinto, mais ainda minha sobrinha.
me acompanhou até o banco do carona e abriu a porta para mim, depois entrou no carro e dirigiu rápido. Durante todo o caminho eu chorava bastante, mas tentava não emitir som, não queria incomodar .
— Amor – me chamou e o olhei. — Pode chorar, eu entendo sua situação.
— Eu não quero ficar chorando o tempo todo – disse, baixo. — Tive depressão há um ano e foi horrível para conseguir a “cura”. Tenho medo de ter, novamente.
— Não vai...
— Você não sabe, ! – eu disse, alterada e ele me olhou, com o cenho franzido. — Desculpe! É que, às vezes, eu ainda tomo alguns remédios para dormir e para não ter recaídas.
— Por que não me contou sobre as recaídas?
— Não são recaídas, é só medo de ter. – suspirei. — Eu tinha vergonha de contar. Eu ainda tenho.
— , você não precisa ter vergonha de mim! Puxa, vamos nos casar, não precisamos esconder nada um do outro.
— Tem razão! Desculpe-me. – pedi, o olhando e ele beijou minha mão.
Olhei para frente e percebi que havíamos chegado. saiu primeiro e abriu a porta para mim, como o cavalheiro que sempre foi. Apertei a campainha e Luna me atendeu, com em seu colo. A pequena me olhou, com os olhinhos vermelhos.
— Titia! – ela pulou em meus braços.
— Meu amor! – a abracei tão forte, que tive medo de sufocá-la. — Vai ficar tudo bem, a titia vai cuidar de você! – a apertei ainda mais.
— A mamãe está ocupada? Ela não atendeu o celular quando a titia Luna ligou. – olhei para Luna.
— Ela insistiu para que eu ligasse para sua mãe – respirei fundo, jogando a cabeça para trás.
— Titia, liga para a mamãe, estou com saudades dela! – pediu, chorando fraco e eu precisei me conter por ela.
— Então, meu amor, a titia precisa conversar com você – olhei para e Luna e eles se afastaram, deixando-me a sós com . — Lembra que nesse fim de semana a mamãe foi trabalhar?
— Sim, a mamãe trabalha dentro de um barco grandão. Ela até disse que vai me levar para andar de barco um dia. – respondeu, com os olhinhos brilhando e eu senti um aperto no coração.
— Isso mesmo. E sabe esse barco grandão que a trabalhava? – ela assentiu. — Ele foi engolido por um tubarão gigante.
— Minha mamãe está na barriga do tubarão?
— Sim. – ela me olhou, de olhos arregalados. — Não! Ela está...
— – Luna retornou à sala. — Sua mamãe tentou escapar do barco grandão, porque ele estava afundando, mas não conseguiu.
— E o tubarão?
— Não teve tubarão, meu amor. A titia se enganou. – eu disse, olhando para Luna.
— E onde a mamãe está?
— Ainda não acharam ela. – Luna disse, segurando as mãozinhas de e eu mordia meu lábio, para não gritar.
— Por que ela não nadou? – perguntou, com os olhos marejados.
— Ela até tentou, mas...
— Chega, Luna! – puxei para os meus braços. — Ela é só uma criança, não dê detalhes agora.
— Prefere que eu diga que foi engolida, dentro do barco, por um tubarão? – ela perguntou, séria.
— Só não quero que ela saiba agora, entendeu?
— Diz logo que está morta. – ela disse, simples e eu arregalei os olhos.
Coloquei sentada no sofá e avancei para cima de Luna, dando-lhe um tapa no rosto e enforcando-a. Senti braços me puxando para trás, sabia que eram os de .
— Ficou maluca, ? – ele perguntou, me afastando de Luna.
— Essa mulherzinha teve coragem de dizer, na frente da própria sobrinha, sem nem se preocupar com os sentimentos da menina, que... – arregalou os olhos e fez sinal para que eu lembrasse que estava ali assistindo e ouvindo tudo. — Eu cansei! Você pode me levar de volta?
— Eu posso dizer, novamente, se você quiser! – a encarei, erguendo uma das sobrancelhas e Luna deu um passo para trás. — As coisas da estão lá em cima, você pode vir buscar amanhã, ?
— Claro que não! Levaremos tudo hoje, é só você fazer a gentileza de ir buscar. – eu disse, quase a ordenando e ela nem pensou duas vezes.
— , se acalme. – ele pediu.
— Está muito difícil de manter a calma nesse momento, ! – o olhei segurando o choro.
— Eu sei, meu amor – ele me beijou. — Mas, lembre-se que agora precisa de você.
— Tem razão! – olhei para minha sobrinha e ela estava encolhida no sofá, me olhando. — Vem cá, meu amor – a peguei no colo. — Nós vamos para a casa da titia agora.
— Eu queria ficar com a titia Luna. – ela disse, tão inocente. Olhei para o .
— Princesa, a titia Luna não vai saber cuidar de você tão bem quanto à titia . Mas você vai poder visitar ela nos fins de semana, tudo bem? – ele disse, a convencendo.
— Está tudo aqui, podem pegar. – Luna disse, se afastando e pegou as bolsas. — , não vai me dar um abraço antes de ir? – a coloquei no chão e ela correu até Luna, que a abraçou bem forte. — Eu te amo, princesa.
— Também te amo, titia Luna. – ela disse, beijando sua bochecha e vindo em minha direção.
— Vai me deixar ver ela, ?
— Claro! Ela também é sua sobrinha e você tem esse direito. – ela assentiu e nós saímos da casa.
colocou as coisas de na mala e sentei-me com ela no banco de trás, ele não gostou muito, mas seguimos nosso caminho assim mesmo. nos deixou na porta de casa.
— Tem certeza que não quer entrar? – perguntei, com dormindo em meu colo.
— Você não quer descansar?
— No momento, eu quero só a sua companhia! – ele sorriu de lado e saiu do carro.
Abri a porta e ele levou para o meu quarto as coisas de , a deitei em minha cama e fui ao banheiro lavar o rosto, precisava pensar no que iria fazer. Saí do quarto, fechando a porta e encontrei sentado no sofá, me joguei ao seu lado e ele me apertou num abraço.
— Quer comer algo?
— Estou sem fome – respondi, preguiçosa. — Eu não sei como vai ser agora.
— pode estudar na sua escola, agora que mora contigo. Você poderá levar e trazer ela todos os dias, sem problemas.
— Mas, ela não vai estudar em horário integral.
— Põe ela para praticar algum esporte ou fazer balé. – ele deu de ombros.
— Tem uma companhia de dança aqui perto, vou visitar o lugar e levá-la para ver se gosta – assentiu e me encarou. — O que houve?
— Só estou pensando... – ele forçou um sorriso e se ajeitou, me puxando para mais perto dele.
Acomodei-me em seus braços e acabei pegando no sono. Acordei com o grito de e seu choro alto. Dei um salto do sofá, acordando , bruscamente, e corri para o meu quarto, quase arrombando a porta e encontrando sentada, com o rosto muito vermelho.
— O que houve, meu amor? – a abracei forte, mas ela mal conseguia falar. — Calma, a titia está aqui. Vai ficar tudo bem!
apareceu no quarto e aproximou-se, sentando na cama.
— O que aconteceu? – perguntou preocupado.
— Eu não sei, ela não para de chorar – respondi, o olhando, desesperada e ele se levantou. Ligou a luz e foi se acalmando.
— Titia, eu quero a mamãe! – ela pediu, chorosa.
— Oh, meu amor! – a olhei, com os olhos transbordando. — A mamãe não pode mais vir aqui.
— Por quê?
— Como vou dizer isso? – perguntei para e ele se aproximou de .
— Agora sua mamãe é uma florzinha no jardim da titia – arregalei os olhos, encarando . — Você poderá vê-la quando quiser, só não pode arrancá-la de lá!
— Mas eu queria a mamãe aqui perto de mim. – ela disse, fazendo biquinho.
— Ela estará sempre pertinho de você, meu amor! – eu disse.
— Mamãe não está aqui agora.
— Mas a titia , sim. – disse, segurando o rostinho de .
— Mas eu quero a mamãe! – ela tornou a chorar e eu a peguei no colo, tentando fazê-la dormir. saiu do quarto.
Alguns minutos depois, deitei em minha cama, novamente, e fui atrás de .
— Você está estranho!
— Eu não sei lidar com crianças, só isso.
— Você está indo bem com . – disse, tentando transparecer firmeza. — E ela só precisa de um tempo para começar aceitar a perda da mãe, mas é difícil.
— Ela nos assustou acordando daquele jeito! – ele disse, erguendo as sobrancelhas e eu descansei as mãos na cintura.
— E qual é o problema? A menina acabou de perder a mãe, ela não está sabendo lidar com isso. Deve ter tido um pesadelo. – eu disse, indignada.
— E se for assim todas as noites, ? Como eu vou aguentar isso quando casarmos?
— Você está sendo insensível! – eu disse, chateada e ele abaixou a cabeça. — Espero não tomar a decisão errada.
— Do que você está falando? – perguntou, segurando meu braço.
— Durma bem! – foi o suficiente para ele entender e ir para sua casa.
Joguei-me no sofá e chorei mais ainda. Chorei pela minha irmã, chorei pela minha sobrinha, chorei por não saber o que fazer, chorei com medo do futuro, chorei por tudo.
No dia seguinte, fui acordada por .
— Oi, meu amor! Bom dia! – eu disse, sentando-me e ela me olhou. — Está com fome? – ela assentiu. — Vou te preparar algo.
Preparei um sanduíche com um copo de suco para ela e depois a dei um banho. Fui à casa de buscar todos os pertences de e depois fui direto para a escola e resolvi as questões sobre a vaga de .
No fim do dia, assistia TV e eu a observava, quando a campainha tocou e eu fui atender.
— Me desculpe pelas coisas que eu disse – pediu, com um buquê de flores nas mãos. — Eu acho que...
— Tudo bem! Você estava cansado e eu também. Deixe isso para lá – eu disse, o fazendo arregalar os olhos. — Entre!
adentrou a minha casa e o olhou torto, ele sorriu e aproximou-se dela.
— Oi, princesinha! – ela ficou o encarando. — Eu trouxe isto para você. – estendeu a mão, entregando um ursinho de pelúcia para . Ela sorriu, largamente e o abraçou.
— Você é maravilhoso! – eu disse, o beijando. — Gostou do presente, meu amor?
— Amei! – ela respondeu empolgada e nós rimos.
— E como é que se fala?
— Obrigada, tio . – ela agradeceu e o abraçou.
ficou a noite toda em minha casa e acabamos dormindo no chão da sala, com em nosso meio.
Passados dois anos e meio depois da morte de , casei-me com . Eu e fomos morar na casa dele, que era enorme e muito luxuosa também. já havia se adaptado a minha escola e ia entendendo a morte de sua mãe aos poucos, também estava amando suas aulas de balé. se ocupava a cada dia mais cuidando de sua empresa e mal tinha tempo para nós dois, chegava a nossa casa tão tarde que só deitava ao meu lado e dormia. E eu, continuava trabalhando como diretora e professora no Colégio Panterinhas do Amanhã, além de ser uma dona de casa e uma tia, que se considera mais mãe. Nossas vidas mudaram bastante, mas os pesadelos que tinha com sua mãe a atormentava cada vez mais.
— , está tudo bem? – invadi seu quarto, encontrando-a encolhida na parede e chorando.
— Desculpa te acordar, tia. Foi só mais um pesadelo. – ela disse, enxugando as próprias lágrimas.
— Meu amor, você não precisa se desculpar – acariciei seu rosto. — Quer que eu fique aqui até você dormir? – ela assentiu.
Ajeitei-me ao seu lado e ela se deitou, fiquei acariciando seu cabelo até a mesma adormecer. Levantei-me devagar para não acordá-la e fui para o meu quarto, no minuto em que abri a porta, me deparei com jogado na cama.
— Onde estava? – perguntou, seco.
— No quarto de , ela teve outro pesadelo.
— Ela está sendo o meu pesadelo!
— O quê, ? – arqueei uma sobrancelha e ele me olhou, sem saber o que dizer. — Não é a primeira vez que você diz isso da minha sobrinha.
— Também não é a primeira vez que ela tem pesadelo. Na verdade, já está virando rotina. – suspirei e caminhei até a cama.
— Eu só preciso levá-la a uma psicóloga.
— Então faça isso logo! – ele disse, firme e virou para o outro lado da cama.
— Será sempre assim, ? – ele não se moveu. — Você chegando tarde do trabalho, nem pergunta como foi o meu dia, não diz como foi o seu, não temos mais um momento só nosso e você se conformou? Acho que não são apenas os pesadelos de que viraram rotina.
Ele se virou, bruscamente, em minha direção e me puxou, jogando-me na cama e ficando por cima de mim.
— O que você quer que eu faça? – perguntou, nervoso. — O problema não é meu! Eu tenho uma casa e uma família para bancar, fora as outras despesas. Seu salário mal dá para você custear suas próprias compras e aquela menina veio como um fardo para essa casa. – ele dizia tudo tão friamente e olhando em meus olhos, eu só fazia chorar e sentir medo dele. — Eu não quero mais ouvir esses tipos de coisas aqui na minha casa, entendeu? – estava tão em choque com sua forma de falar comigo, que mal conseguia me mover. — Você entendeu, ?
— S-sim. – ele assentiu e saiu de cima de mim, virando-se para o lado oposto.
Senti-me tão humilhada e desrespeitada que não contive as lágrimas. Meu choro era alto, não podia evitar.
— Se é para ficar chorando, saia do quarto! – disse, ainda nervoso e eu me retirei dali o mais rápido que pude.
Fui para o terraço e sentei encolhida no canto da parede, só pensava em tudo que ele havia dito não apenas minutos atrás, mas há anos atrás. Eu só estava cansada de tudo isso! Ele me traía com Luna, eu sempre soube disso pelo perfume dela que ele sempre carregava em suas camisas, mas nunca adiantou falar: “É coisa da sua cabeça!” era o que ele sempre dizia. , com certeza, continuava com esse hábito, já que sempre se oferece para levar à casa de Luna, nos fins de semana. Sempre tinha uma desculpa, esse era o problema, mas eu só... Cansei!
Levantei-me, enxugando minhas lágrimas e fui para o quarto de , peguei suas malas e fui arrumando suas roupas, com muito cuidado para não acordá-la. Terminando o trabalho com as malas de , fui ao meu quarto e peguei as minhas, com mais cuidado ainda, para não acordá-lo. Já fechando a última mala, olhei em volta e não me restava mais nada. Tudo que era meu e de , que comprei com meu dinheiro, guardei, mas tudo que veio de , eu deixei, sem sentir pena alguma.
Carreguei as malas para fora do quarto e desci primeiro com as minhas, voltei para buscar as malas de e a acordei, explicando a situação. Ela resmungou de sono, mas ainda me ajudou com suas malas e estava tudo pronto para nossa saída.
— Pegou seus sapatos de fadinha debaixo da cama? – perguntei e ela arregalou os olhos, negando. — Vá lá buscar. Rapidinho, hein! – ela saiu correndo pela escada, mas a impediu de continuar.
— Sabia que é perigoso subir escada correndo? – perguntou, debochado e me olhou. — Sua tia nunca te ensinou isso? – ele se abaixou para ficar na altura de .
— Largue ela agora! – ordenei.
— , o que acha que vou fazer? – ele perguntou e olhou para ela. — Sou quase o pai desta criança.
— NÃO É NADA! – gritou e empurrou , correndo para o seu quarto.
Ele me encarou e desceu a escada a passos firmes, aproximou-se de mim e pousou uma mão em minha nuca e outra em minha cintura, beijando-me.
— O que pensa que está fazendo? – o empurrei.
— Beijando minha esposa – ele tentou outro beijo, mas o empurrei, novamente. — , o que está acontecendo com a gente?
— E com você, o que está acontecendo? – ele me encarou. — Vive dando bronca em , só sabe gritar comigo e chega tarde todas as noites com o perfume da Luna nas camisas.
— O que está dizendo? Eu e Lu...
— São amantes desde pouco tempo depois de casarmos – ele arregalou os olhos. — Eu sempre soube.
— Mas...
— , isso me dói demais, mas tratar como você trata me dói ainda mais – comecei a chorar. — Ela nem teve tempo de conhecer o pai porque ele foi morto antes dela nascer, perdeu a sua mãe de forma tão trágica e a traumatizou. Você está sendo tão insensível quanto a isso que me faz querer te bater até amassar sua face, te juro!
— Nossa! E-eu...
— Eu estou com tanta raiva de você, , que nem sei se consigo continuar convivendo com você. – ele me olhou, com os olhos marejados.
— , eu não tinha noção que fazia tanto mal a vocês – ele coçou a cabeça. — Perdoe-me.
— Eu só quero que você trate melhor! Ela é como minha filha e eu não vou deixar que a magoe ainda mais! – apontei o dedo indicador para ele e o encurralei na parede.
— , você precisa se acalmar!
— Você teve todo o meu amor a sua disposição, desde o começo do nosso namoro, por que foi procurar por mais em outra mulher? E por que, Luna? A irmã do pai de .
— Eu só queria me divertir, não foi nada sério. Apenas diversão! – fixei meus olhos nos seus. — O amor nós não achamos em qualquer esquina, mas o meu eu encontrei na esquina da casa do meu avô, você lembra?
— Acabou de confessar que me traía com a tia de sua quase filha e ainda quer relembrar como nos conhecemos? – ele ficou sem fala. — Acho mesmo que tomei a decisão errada.
— Eu só estava...
— Cansei! – afastei-me dele e peguei as malas. — ! – ela correu até a escada e me olhou, confusa. — Vamos?
Depois de algum tempo separada de , sentia alguns enjoos e sensações de tontura e até mesmo desmaios. Fui ao médico por insistência de e descobri que estava grávida. Senti que minha cabeça deu mil voltas e parou, repentinamente. Não conseguia pensar ou agir, eu só não queria ter essa criança agora. Não era o momento!
— , o que houve? Você não me atende há dias e agora me liga.
— Eu preciso falar com você, é urgente!
— Bom, eu estou na empresa, mas à noite eu passo aí e te levo para jantar no restaurante da minha tia Eponina.
— Eu não quero jantar fora, muito menos com você. Só preciso te contar algo muito sério e que eu realmente, não estou sabendo lidar.
— Não me diga que você ou estão com alguma doença? – estava tão irritada com , que até fingi não ter escutado ele. — É isso mesmo, ? Você está com algum problema de saúde?
— Não, !
— Então é ? O que aconteceu com minha princesinha? – o achei tão ridículo fingindo preocupação com que finalizei a chamada e desliguei o celular para ele nem tentar ligar.
“Minha princesinha”, desde quando? Babaca mesmo!
Terminei o trabalho na escola à tarde e fui buscar no balé e ela correu em minha direção, entrando no carro.
— Tia, minha professora disse que eu melhorei bastante a minha confiança na dança.
— Eu fico muito feliz em saber disso, meu amor! – eu disse, a olhando e ela sorriu para mim. — Hoje você vai para a casa da Luna.
— Eu não quero ir. – a olhei e ela abaixou a cabeça.
— Por que, meu amor? Eu tenho meus motivos para não gostar de Luna, mas ela sempre te tratou muito bem – fiquei esperando por sua resposta. — Pode de falar, princesa.
— Eu não quero ficar longe de você – franzi o cenho, confusa. — Você tem passado tão mal, eu tenho medo de te perder também.
— Meu amor, você não vai me perder! Eu não estou doente ou algo assim, é só... – ela me olhava fixamente, esperando pela resposta. — Estou grávida.
— AH! – ela deu gritinho espontâneo e eu ri de sua reação. — Eu vou ter um priminho ou uma priminha! Que legal!
— Eu estou tão perdida, . Não queria ter essa criança agora, mas...
— O quê? – ela arregalou seus olhos.
— Nada, esqueça o que eu disse! Vamos tomar um sorvete agora e depois te levo para a casa de Luna. – ela assentiu, sorrindo.
Mais tarde, cheguei a minha casa e tomei um banho relaxante, coloquei um vestido não tão curto, mas bastante rodado, tomei um copo de suco, mas me sentia enjoada. Fiquei assistindo a primeira apresentação de balé da , tão lindinha e sorridente minha princesa. Emocionava-me cada vez mais quando fui interrompida pela campainha, levantei-me rápido e atendi a porta.
— ! – arqueei as sobrancelhas.
— Você parece surpresa.
— É, eu tinha me esquecido que você viria – ele assentiu. — Entre.
— não está? – ele se sentou no sofá.
— Não, deixei-a na casa da Luna. – sentei-me na poltrona de frente para ele e o encarei.
— Então, qual é o assunto tão sério que te fez me ligar depois desse tempo separados, sem nem manter contato?
— Quero deixar bem claro que é exatamente por isso que tornei a falar contigo! – eu disse firme e ele assentiu. — Eu estava me sentindo muito mal por esses dias e me pediu para ir ao médico – sorri fraco. — Ela disse que teve medo de eu ter algo grave e me perder.
— Eu também senti esse medo quando você me ligou hoje cedo. – disse, com a expressão que sempre fazia quando estava preocupado. Virei meu rosto para o lado e fingi não me afetar.
— Eu fui e descobri que estou grávida, de quase três meses. – disse de uma vez e depois ficou um silêncio na sala. Olhei para e ele me olhava, fixamente, de olhos arregalados. — ?
— E-eu não sei o que dizer – ele continuou da mesma forma e eu sentei-me ao seu lado, preocupada.
— , está tudo bem? – ele se virou para me olhar. — Você quer água? Eu vou bus... – quando ia me levantar, segurou-me e jogou seu corpo contra o meu, me fazendo deitar.
— Eu não sei o que dizer a você, mas uma coisa eu confesso, nunca senti o que estou sentindo agora. – ele disse, com os olhos marejados.
— Não queria estragar esse momento, mas também preciso te confessar uma coisa – ele franziu o cenho e eu respirei fundo, tomando coragem para dizer. — Eu não sei se quero essa criança agora. – fechei meus olhos, esperando por alguma reação agressiva, que não aconteceu. Abri os olhos, devagar e ele me encarava.
— Por que disse isso? Por que está agindo assim? – perguntou, calmamente.
— Eu não sei como farei para cuidar de e um bebê sozinha, ainda preciso trabalhar, eu não estou sabendo lidar com essa notícia, meu psicológico ainda está abalado e sinto que está pior – senti as lágrimas escorrendo por meu rosto. — Eu estou com medo do que vou enfrentar e tenho medo das dores de parto, eu também posso morrer no parto... E, se isso acontecer? – perguntei, de olhos arregalados e só me olhava, preocupado. — A não vai ficar bem, eu não quero deixá-la! Ela já perdeu seus pais, não pode me perder. Eu não posso perdê-la!
— , se acalme, por favor – pediu, sem saber o que fazer. — Pensei na saúde do bebê, não será bom para ele.
— Eu não quero ter essa criança! Não posso ter ela! – eu disse, me acabando nas lágrimas.
— Não diga isso, ! – disse, mas eu negava com a cabeça, descontroladamente. — Hey, ! – ouvia ele me chamar, mas não conseguia ter controle sobre mim. — Amor... – sentou-me e pousou suas mãos em meu rosto, me fazendo olhar em seus olhos. — Você só está com medo, é natural, mas nada disso irá acontecer!
Sua voz se repetia por diversas vezes no meu subconsciente, “Você só está com medo, é natural, mas nada disso irá acontecer!”. Respirei fundo e comecei a voltar ao meu estado normal, enquanto secava minhas lágrimas. O abracei tão forte que achei que fosse o quebrar.
— Desculpe-me por dizer todas essas coisas horríveis! – pedi, chorosa. — Eu estou com muito medo, realmente, mas acho que é normal mesmo – confessei e ele sorriu fraco. — Eu não sei mesmo como vou saber lidar com , gravidez, hormônios, trabalho, casa... Depois o nascimento do bebê, , traba...
— Amor, você pode contar comigo! – ele afirmou.
— , você não vai poder ficar na minha casa o dia todo me ajudando. – eu disse, suspirando.
— Só se você não me deixar! , eu quero voltar com você.
— Por que estou grávida? Não precisa! Dou meu jeito e aprendo a lidar com tudo, sozinha. – ele riu de mim, irritando-me.
— , você sabe que estou tentando essa reconciliação desde quando você foi embora – engoli o seco. — Eu sinto sua falta, eu sinto falta até dos gritos da depois de um pesadelo. Eu me preocupei tanto com vocês! E quando você me ligou, achei que algo grave havia acontecido – algumas lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. — Senti tanto medo, você não tem noção!
— , eu...
— Quero estar perto de vocês, já perdi tempo demais na empresa. Fui deixando de conviver com família por trabalho e dinheiro, e olha o que tudo isso me custou – ele fixou seus olhos nos meus. — Me deixe tentar ser melhor para você, ser um bom pai para e para essa pequena criaturinha aí dentro de você? Eu quero ser melhor e preciso que me ajude nisso.
me deixou tão emocionada com tudo que disse, que eu mal conseguia abrir a boca e dizer algo. Eu me virei para o lado, mas ele me puxou de volta e tive que o encarar. ergueu as sobrancelhas, como um pedido para eu o responder.
— Acho que... você pode contar comigo – eu disse, secando minhas lágrimas e ele sorriu, me beijando. — Mas calma, precisamos conversar com antes de voltarmos a morar juntos.
— Sem problemas! – sorrimos e ele me beijou, novamente. — Quanto a saber lidar com o bebê, , trabalho, casa, entre outras coisas, podemos aprender isso juntos.
— Então, assim será... – eu disse, confiante e me deitou no sofá, se jogando em cima de mim, mais uma vez e beijando-me.
A semana começou tranquila e no fim do dia, eu quis assar um bolo de batata, enquanto terminava de fazer sua lição de matemática. A campainha tocou, mas eu já esperava pela pessoa.
— Luna? O que está fazendo aqui?
— deixou seu livro escolar lá em casa, como é importante eu fiz o favor de trazer. – ela disse, séria.
— Tudo bem, obrigada. – ela assentiu, e já se retirava da porta.
— Luna? – chegou, se surpreendendo com a mulher. — O que está fazendo aqui?
— Pergunte a , estou atrasada para um compromisso. – ela disse, seca e me olhou confuso.
— Ela veio trazer o livro de . – mostrei o livro em minha mão e ele assentiu.
— Estou ansioso para conversarmos com ela! – ele disse empolgado e eu ri.
Terminei de assar o bolo de batata e aprontou a mesa para nós três.
— ?
— Oi!
— Já terminou de fazer sua lição?
— Sim. – ela desceu a escada. — Que cheiro bom!
— Espero que o gosto também esteja! – eu disse e ela riu. — Lave as mãos e sente-se.
Terminamos nosso jantar, que foi bem agradável, inacreditavelmente! lavava a louça, enquanto secava tudo e eu guardava.
— Agora que já terminamos, posso ir para o meu quarto? – pediu.
— Bom, eu e queremos conversar com você – ela franziu cenho. — Mas vamos para o seu quarto.
subiu correndo, e eu já ia a acompanhando, quando me parou.
— Está maluca? – ele perguntou, bravo. — Agora você tem um bebê dentro do seu corpo!
— Nossa! – ri fraco. — Foi só dessa vez! – fiz biquinho e ele riu, me beijando.
— Subam logo! – pediu, já dentro do quarto e nós fomos. — O que querem falar?
— É sobre nossa família – eu comecei. — e eu conversamos e decidimos voltar a morar juntos, na casa dele.
— Sozinhos? – ela perguntou, chorosa.
— Claro que não, meu amor! – segurei seu rosto. — Com você também! Como poderíamos te deixar?
— É que o tio não gosta muito de mim, porque tenho pesadelos.
— Eu sei que fui muito rude e insensível com você, mas eu, realmente, estou arrependido – disse, sincero e o olhava, atentamente. — Espero que você possa me desculpar!
— Tudo bem, eu te desculpo. – ela o abraçou e me olhou.
— E você nem têm mais pesadelos com tanta frequência – ela assentiu. — Você só terá sonhos bons agora! – a beijei na bochecha.
— Eu posso pedir uma coisa a vocês?
— Isso já é um pedido. – disse, me fazendo dar um tapa forte nele. — Ai! Eu só estou brincando!
— Peça, meu amor. – o ignorei e esperei pelo pedido de .
— Posso chamar vocês de mãe e pai? – ela pediu, de olhinhos fechados, provavelmente, pelo medo de receber o “não” e eu olhei para , também esperando por sua resposta.
— Será a nossa maior felicidade, princesa! – respondeu, tirando as palavras de minha boca e abriu os olhos, sorrindo.
— Então, todos os dias e em todos os lugares, vou chamar vocês de mãe e pai, tá bom? – ela perguntou, tão inocente e nós assentimos, sorrindo bobos. — Mãe, você gostou de ser chamada de mãe?
— Meu amor, eu esperei tanto por isso! – eu disse, emocionada e sorriu, me abraçando. — Mas também quero te pedir uma coisa.
— O quê, mãe? — sorri mais uma vez ao ouvi-la chamar-me de mãe.
— Nunca se esqueça da sua verdadeira mãe. te amava demais e tenho certeza que continuará te amando para sempre! — assentiu.
— Eu nunca me esqueci dela. Sempre que sinto saudades, vou até o jardim ver ela. – olhei para e ele sorriu, largamente. — Como faremos para levar a minha mãe do jardim para a casa do meu pai?
— Você saberá!
No dia da nossa mudança, já havíamos levado tudo para a casa de , mas senti que estava inquieta.
— Aconteceu algo, meu amor? – perguntei a ela.
— Ainda não levaram minha mãe – ela disse triste. — Como faremos?
— Vamos até o jardim – , foi na frente e o seguimos. — Qual é a sua mãe? – ele perguntou e foi até a maior e mais bonita flor e apontou. — Pegue ela com cuidado. – me olhou, como se esperasse minha aprovação.
— Pode pegar, amor. – eu disse, confirmando.
Ela arrancou a flor e veio em nossa direção, pegou uma caixinha e pediu para colocar a flor dentro dela, e assim ela fez.
— Pronto, agora sua mãe estará lá no nosso jardim. – disse , num tom heroico.
— Obrigada, pai! – o abraçou e ele a pegou no colo.
— Acho que serei um bom pai. – disse, dando de ombros.
— Você já está sendo! – eu disse, o surpreendendo e nos beijamos.
Depois da mudança, nosso relacionamento como família e a dois melhorou bastante, já que se dedicava a cada dia mais para isso. Estamos ainda aprendendo a lidar com tudo e todos, mas sempre aprendendo juntos e, nós continuaremos dessa forma, também esperando, alegremente, pela irmãzinha linda que, em breve, nossa princesa conhecerá.
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