Keep Me

Escrito por Belle Rangel | Revisado por Isabelle Castro

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  Era meia noite de uma quarta-feira fria, agora era oficialmente dia 22 de Junho. Fletcher estava em seu quarto, segurando um envelope nas mãos. Era um envelope imponente e que pesava responsabilidade. Na parte de trás os dizeres em azul “Juilliard. Dance. Drama. Music.”. Ele sabia que estava segurando em suas mãos todo o seu futuro. Se tivesse entrado ou não, sua vida nunca mais seria a mesma. Resolveu ter certeza de que todos em sua casa estavam dormindo para poder abri-lo com calma e pesar as consequências do que estivesse por vir. Ele já havia perdido as esperanças de receber qualquer resposta, pois sabia que o prazo final para matricula era em três dias. Seus pais confiavam tanto que ele iria passar que até a passagem já estava comprada para o dia 25 de junho. Se ele não entrasse provavelmente o que aconteceria seria uma viagem em família para animá-lo.
   hesitou ao abrir por um momento e então rasgou o envelope de uma vez.
   Juilliard
  Dance.
  Drama.
  Music<
  Caro, Fletcher,
  
  Parabéns! É com tremendo prazer que lhe informo que a Faculdade de Composição da Juilliard e o Comitê de admissões concede a você uma vaga na turma no programa de Música Contemporânea – Bacharelado de Música na Julliard School para a turma de 2017-20. A inscrição na Juilliard é uma oportunidade de fazer parte de uma comunidade de artistas reconhecidos ao redor do mundo e uma excitante e desafiadora educação musical. Nós gostaríamos de convidá-lo para juntar-se a nós no outono.
  Aulas em estúdio:
  Você estará na turma do Dr. Yoheved Kaplinsky. Em caso de emergência ou diferentes circunstâncias um novo professor pode ser designado.
  Matrícula:
  
  Todas as admissões só serão efetivadas caso todos os documentos estejam de acordo e que você comprove formatura do ensino médio. Precisamos do diploma e todos os documentos até 1 de julho.
  Você deve entrar em contato com a Juilliard para comunicar sua decisão acerca da matricula para o outono até dia 25 de junho. Sua resposta e os 250 dólares da taxa de matricula deverão ser submetidos no seguinte link: Julliard Decisão de Matricula.
  Não hesite em ligar para o departamento de admissões no número 212/799-5000 ramal 223 no caso de quaisquer dúvidas. Nós esperamos ouvir de você me breve e desejamos as boas-vindas para a comunidade Juilliard.
  Sinceramente,
  
  Lee Cioppa
  Reitora de admissões
  Nesse momento você poderia tentar perguntar qualquer coisa a ele, mas era visível que ele estava incapaz de articular uma resposta e verbalizá-la. Seus olhos estavam embaçados com lágrimas que apareceram e distantes. Não era possível perceber se ele estava feliz ou triste com a notícia. Talvez nem ele mesmo soubesse como reagir. A única coisa que ele tinha em mente no momento era ela: Jones.
  Como descrever Jones. Ela tinha os olhos azuis, cabelos castanhos claros, que dependendo do ambiente brincavam com reflexos loiros ou ruivos. E uma voz incrível. Aparentemente cantar bem era parte da família Jones. era a filha do melhor amigo do seu pai e irmã gêmea do melhor amigo do irmão de , o que significa que ela a via a todo o momento desde que ela era apenas um bebê. Eles conviveram muito durante toda a infância, mas sempre esteve meio por fora por ser dois anos mais velho. Enquanto seu irmão, Buddy, que era apenas um mês mais novo sempre esteve colado com os gêmeos Jones.
   era apaixonado por desde seus 15 anos, seu sofrimento se arrastou por 3 longos anos, nos quais ele tentou de toda forma esquecer esse sentimento. Sempre se sentiu culpado por gostar dela. Como poderia fazer qualquer coisa? Seus pais os viam como primos, Daniel, pai dos gêmeos confiava cegamente em para qualquer coisa que envolvesse . Muitas vezes era o “acompanhante responsável” do grupo de “primos” que incluía o irmão mais novo dele, Buddy, o seu objeto de afeição, , o irmão gêmeo dela, Dave e Lola que era filha de outro melhor amigo de seu pai.
  Os quatro jovens haviam nascido no mesmo ano e andavam sempre juntos. Dave e Buddy eram muito próximos, assim como Lola e . era o outsider, aquele que não estudava no mesmo ano, nem frequentava as mesmas festas. Eles nem sequer dividiam o mesmo intervalo na escola até o ano em que ele fez 15 anos. Nono ano. O ano que eles conviveram mais do que nunca e que ele percebeu que sentia algo mais pela menina Jones.
  Desde que descobriu sua paixonite, tentou se afastar um pouco do grupo, mas era impossível, levando em consideração que eles todos era como primos já que seus pais se viam constantemente.
  O primeiro a descobrir o que sentia foi Dave, irmão gêmeo de . Ele era o único com quem podia desabafar nos dois primeiros anos da paixão. Logo depois seu irmão descobriu e não tardou para que todos soubessem que ele nutria um amor secreto pela menina.
   Mas somente no aniversário de 16 anos dos gêmeos é que ela finalmente ficou sabendo o que sentia. E isso tinha acontecido há apenas duas semanas.
   Flashback
   e Dave estavam completando 16 anos com uma festa à fantasia incrível. O tema da festa era de filmes. Os gêmeos estavam fantasiados de Vampiros com maquiagens inspiradas no filme Drácula. estava usando um vestido de baile vermelho sangue com rendas pretas, um espartilho trançado e uma gargantilha preta que tinha uma pequena garrafa cheia de “sangue” em formato de coração. Todos haviam se produzido muito bem para a festa. estava de Obi-wan, Buddy de Luke Skywalker e Lola estava Mulher Gato.
   Durante a festa resolveu que iria permanecer na mesa com seus pais e amigos bebendo qualquer coisa alcoólica, ele queria afogar o fato de que ninguém naquela mesa aprovaria o desejo dele de namorar a menina que estava fazendo 16 anos naquela noite. Tudo que ele queria era ter 16 anos naquele momento e não 18.
  - Querido, por que você não vai aproveitar a festa? – Giovanna, sua mãe puxou conversa após algum tempo. Ela havia notado que nos últimos meses estava cada vez mais afastado dos outros. Principalmente agora que havia terminado a escola e estava prestes a entrar numa faculdade.
   apenas levantou os ombros.
  - Vá lá, , tem amigas mais velhas das aulas de música, talvez você possa se dar bem hoje. – Danny, pai de , fez piada tentando encorajar a se levantar.
   respirou fundo e resolveu fingir que tinha aceitado a oferta dando um leve sorriso ao levantar da mesa e se dirigir a pista de dança. Procurou qualquer um com o olhar, mas não achou ninguém, fora ela. Resolveu sentar num banco que havia por ali para continuar admirando enquanto ela se divertia em sua festa. Um tempo depois ele sentiu um braço passar por cima de seus ombros.
  - Você realmente não consegue disfarçar, não é mesmo? – Seu pai ajeitou os óculos com a outra mão e deu uma risadinha. Podia ver nos olhos de a cara de bobo apaixonado.
  - Disfarçar? Não sei do que o senhor está falando, pai. – Ele tirou os olhos da pista de dança, mas ficou vermelho no ato.
  - Desde quando você gosta dela?
   suspirou:
  - De que importa? Nunca poderei fazer nada mesmo. – e abaixou a cabeça de uma forma triste.
  - Ela só te vê como amigo?
  - Ela me vê como irmão do amigo dela.
  - O que ela falou quando você disse?
   deu uma risada e encarou o seu pai.
  - Tá falando sério? – Tom levantou apenas uma de suas sobrancelhas e continuou encarando seu filho. – Eu nunca falei nada e nem pretendo.
  - Como você sabe que ela não sente nada por você?
  - Simplesmente sei, pai.
  - Você não sabe de nada, jovem padawan. – Seu pai brincou com a fantasia de . E depois levantou rindo andando em direção a .
   ficou petrificado. Seu pai não podia ir até lá falar com ela. Isso seria vergonhoso. Ele levantou correndo e foi ao alcance do pai.
  - Ei, me espera, não fale nada!
  - Não fale nada pra quem? Fala pra mim? – surgiu ao lado de naquele instante e congelou todo o sangue que corria em seu corpo. sentia como se tivesse perdido a habilidade de andar, pensar e falar.
  Tom estava dando uma gargalhada gostosa ao ver a cena.
  - Feliz aniversário, meu bem. – Ele deu um abraço em enquanto seguia petrificado. – Você assustou o , ele ainda não se recuperou.
  - Ha ha ha, muito engraçado pai. Estou bem. Parabéns, . – Ele disse enquanto estendia a mão para a menina.
  - Qual seu problema, ? – deu um tapa na mão estendida dele e o puxou para um abraço. – Não mereço um abraço nem no meu aniversário? Seu insensível.
   deu apenas um sorriso amarelo e retribuiu o abraço. Sentiu vontade de não largar ela nunca mais. Ainda estava perdido no abraço quando ela se afastou:
   - Mas então, o que vocês não iam falar para alguém? – voltou ao assunto anterior.
  - Bem, não queria que você soubesse que foi ele quem escolheu o seu presente de aniversário. – Tom trocou um olhar cúmplice com o filho que respirou aliviado ao perceber que seu pai não era louco de sair por ai contando que ele está apaixonado. – De qualquer forma, ele escolheu o seu presente e Buddy escolheu o do seu irmão.
  - Será que você acertou no meu presente? – deu um sorriso que tinha certeza que podia iluminar o mundo inteiro.
  - Veja e decida! – Tom tirou uma caixa azul clara do bolso e entregou para . – É um presente da família toda. Esperamos que você goste. – Logo depois de passar a caixa para a mão de , Tom pediu licença para encontrar Buddy e entregar o presente de Dave.
  - Como é, você vai me entregar ou não? – brincou enquanto segurava a caixa olhando seu pai sair sorrindo.
  - Ah sim, claro. Aqui está. Feliz aniversário. Você pode trocar se não gostar.
   segurou a pequena caixa nas mãos. Ela já sabia que seria alguma joia, a caixa azul era inconfundível. Ao abrir ela viu um pequeno medalhão prateado em formato de coração com um pequeno fecho, quase imperceptível. a encorajou a abrir o colar. Dentro eles haviam colocado uma pequena foto com toda a família dela em um dos lados. Era uma foto antiga que havia sido tirada quando o irmão mais novo dos gêmeos tinha completado três anos. Estavam todos lá sorrindo dentro do medalhão. deu outro abraço em agradecendo o presente.
  - Isso é lindo, . – ela disse enquanto o abraçava. – Você sabe o tanto que eu amo minha família.
  - Que bom que você gostou, foi difícil achar uma foto de todos vocês que coubesse no coração.
  - Eu acredito! – deu um sorriso olhando para a foto e então notou que o outro lado do colar também era um espaço para foto – Porque você não colocou em duas fotos?
  - Achei que você gostaria de ter um espaço para colocar o que quiser no seu coração. – disse e levantou o ombro – Você pode mudar depois.
   deu um sorriso e um beijo na bochecha de . Ela ia falar alguma coisa quando foi interrompida por outro convidado. Olhou para antes de sair com um olhar de “depois conversamos” e saiu junto com o outro amigo.
  Dave estava conversando com um amigo quando viu conversando com sua irmã e resolveu que ele já havia esperado demais, olhou ao redor e encontrou Lola com o olhar. Se despediu rapidamente do amigo e foi e direção a ela. Enquanto andava ele sentiu borboletas no estômago. Não era novidade para ninguém que ele tinha uma queda gigantesca por Lola. Nunca conseguia conversar com ela sozinho, era patético. Mas ele tentou deixar de lado seu nervosismo para tentar pedir a ajuda dela. Eles iam fazer se declarar. E seria hoje.
  - Lola, posso conversar com você sozinho um minuto? – Ele chegou chamando a menina que estava entretida numa conversa com outras três garotas. Todas elas olharam para ele com um sorriso vermelho de quem foi pega em flagra. Elas estavam falando justamente o tanto que ele estava maravilhoso com aquela fantasia na hora que ele apareceu.
  Lola estava completamente vermelha e apenas acenou rapidamente com a cabeça. Trocou um olhar cúmplice e uma risadinha com as amigas antes de sair.
  - O que vocês estão aprontando? – ele perguntou ao notar as risadinhas e olhar das meninas.
  - Nada. – Lola respondeu rapidamente escondendo um pequeno sorriso que fez Dave perder a linha de pensamento. – O que você queria falar? – ela mudou de assunto rispidamente.
  Dave olhou no fundo dos olhos dela tentando decifrar o seu olhar, mas acabou perdendo a concentração no mar azul piscina que eram os olhos dela.
  Lola acenou a mão na frente dos olhos de Dave.
  - Você tá ai? Dave?
   Ele acordou do transe balançando a cabeça. Deu um sorriso para Lola e simplesmente apontou para e conversando do outro lado da pista de dança.
  - Precisamos fazer alguma coisa acerca disso. Esses dois precisam se acertar logo. Aquilo ali é deprimente. – Ao falar isso se deu conta de que ele estava no mesmo pé que o amigo. Soltou um pequeno suspiro tentando deixar para lá que ele também era um idiota.
  - Você sabe que ela não vai fazer nada a menos que dê um sinal.
  - Ele não vai fazer nada porque acha que ela quer alguém mais novo. Os dois são uns idiotas.
  - O que você pretende fazer?
  - Perto da entrada do banheiro feminino tem uma porta que leva para um jardim de inverno no terraço, vou conseguir essa chave e daí levamos os dois para lá. Você leva a e eu levo o .
  - Você pretende trancar os dois lá em cima? Isso não vai dar certo.
  - Não, vamos apenas chegar lá, fazemos os dois falarem e deixamos eles lá com a chave. Não posso sumir por muito tempo da festa, sempre estão procurando um de nós porque somos os aniversariantes. Estando na festa com você nós dois podemos acobertar os pombinhos se tudo der certo.
  - Certo, como você pretende conseguir essa chave?
  Dave deu um sorriso com a boca fechada e levantou rapidamente as duas sobrancelhas:
  - Tenho meus truques. – Ele se virou puxando sua capa de Drácula e fazendo uma saída dramática. Lola deu uma risada, mas não deixou de notar o tanto que aquele sorrisinho havia afetado suas pernas.
   Algum tempo depois Dave passou por Lola balançando uma chave e o seu celular. Fez um sinal para que Lola olhasse o dela. Ele havia mandado uma mensagem:
   “Mudança de planos, busque o , já estou levando minha irmã.”
   Lola correu seu olhar por toda a festa e conseguiu localizar . Ele estava pegando uma taça champanhe no bar. Andou até ele tentando formular uma boa desculpa. Quando chegou perto olhou para os lados e viu Dave tirando uma foto com a irmã e saindo em direção à porta do terraço.
  - Você tem muita chance com ele, sabia? – falou baixinho do lado de Lola antes que ela percebesse sua presença.
   Lola apenas deu um sorrisinho tímido.
  - Você fala isso pra mim mas não faz nada acerca da , não é mesmo? – Lola retrucou.
  , pego de surpresa, ficou calado por uns segundos. Então Lola conseguiu formular uma ideia para levá-lo ate o terraço.
  - Vamos fazer o seguinte, . – O menino o encarou quando ela começou a falar de forma enfática. – Você fala para a o que sente e eu falo para o Dave. Hoje. Agora. Topa? – Assim que terminou de falar Lola começou a sentir suas pernas tremerem. Será que ela conseguiria?
  Ele ficou sem reação, jamais imaginaria que Lola falasse algo assim.
  - Como eu vou saber que você falou? – Ele desafiou a menina – Não vou falar primeiro e deixar você escapar dessa.
  - Eles estão indo por ali, está vendo? Vamos segui-los e levá-los a um lugar mais vazio. Eu falo primeiro. – Nesse momento ela começou a sentir suas mãos suarem frio. Não ia ter escapatória.
   - Então vamos! – não acreditava que ela teria coragem de falar nada quando chegassem lá então já estava criando desculpas aleatórias para ter seguido os gêmeos.
  Dave havia dito a sua irmã que tinha um presente para ela, mas que ele queria entregar sem que ninguém visse, e assim a convenceu a subir até o terraço. Ao chegarem lá deram de cara com uma noite muito estrelada. estava admirando o céu quando perguntou aonde estava o seu presente.
  - Já está chegando. – Dave respondeu. Então viu Lola subindo com uma feição extremamente nervosa e ansiosa pelas escadas. Muito diferente da menina que trocava risadinhas com as amigas há pouco tempo atrás.
  - Oi, gente! – Lola disse tentando controlar sua respiração. Seu coração batia tão rápido que ela sentia como se ele fosse sair pela boca. Por que diabos ela resolveu fazer isso? Podia apenas ter trazido e deixado Dave o fazer falar.
  - Oi, Lola! Oi, ! – deu um sorriso e correu para abraçar a amiga. – Vocês vieram trazer meu presente? Ou não tem nada a ver com isso?
   Dave ia falar algo quando foi interrompido por :
  - Nada a ver com isso. Viemos aqui por a Lola queria falar uma coisa. – E então ele olhou desafiador para a menina, que estava passando por muitos níveis de ansiedade e vergonha, apresentando uma coloração vermelho intenso quente nas bochechas em contraste com suas mãos que estavam pálidas e mais frias que gelo.
  Lola respirou fundo e deu um passo em direção a Dave. Ela não conseguia encarar o menino.
   percebeu o que estava acontecendo na mesma hora. Afinal aquela era sua melhor amiga. Deu um sorriso encorajador e um aceno leve de cabeça para Lola quando trocaram um pequeno olhar. Isso foi o suficiente para dar uma pequena ingestão de coragem em Lola que voltou o olhar para Dave e falou:
  -Eu... Hum... Dave... – Ela não conseguia encontrar palavras que não fossem idiotas para se declarar para o menino. E estar na presença de e não estava ajudando.
  - ! – falou rapidamente. – Venha aqui rápido.
   se assustou com o comando, mas obedeceu prontamente, nisso pegou sua mão e o guiou para outra parte do terraço, dando assim privacidade para os outros dois.
  Ao chegarem do outro lado não conseguiam ouvir nada, mas podiam ver mais ou menos o que estava acontecendo. Lola estava falando algo olhando para o seu pé. viu seu irmão abrindo o maior sorriso já visto e a puxando delicadamente para um beijo. Ela deu um suspiro:
  - Ai ai. Queria ter essa coragem da Lola. – ela soltou sentando ao lado de numa pequena mureta que havia ali e apoiando sua cabeça em seu ombro.
  - Coragem de quê? – se fez de desentendido.
  - Falar que gosta de alguém assim do nada. Sem medo das consequências.
  - Mas aqueles dois ali só estavam se enganando, era óbvio que se gostavam, ela não tinha muito a perder
  - Óbvio para nós de fora. Eu não a julgo. Eles são amigos há 16 anos. Isso pode estragar tudo, sabe? – ela suspirou novamente.
   ficou calado apenas curtindo o momento com ela. Tentando não pensar que teria que falar a qualquer momento o que sentia, Lola iria cobrar. Respirou fundo e resolveu que a hora era essa. Não tinha escapatória. Se não desse certo em breve ele estaria indo embora para estudar fora se fosse aceito.
  - A noite está muito bonita hoje, não é?- disse olhando para cima enquanto pegava seu celular no bolso. – Vamos tirar uma foto? – Essa pergunta foi apenas por educação, antes que pudesse dizer que sim ou não ela já estava com o celular na frente dos dois tentando enquadrar o céu de uma forma que tudo aparecesse. – Meu braço é muito curto, pega, tira você a foto. - Ela passou o celular para e ele esticou seu braço e conseguiu fazer tudo que ela queria caber na foto.
   abraçou e seus rostos ficaram muito próximos. Os dois sorriram e tirou a foto.
  - Ficou ótima! – sorriu ao ver a foto – Vou mandar para a impressora da festa, e teremos ela em nossas mão já já! – ia se levantar para sair quando lembrou do irmão com Lola do outro lado.
  - Será que já podemos sair? – Ela levantou, tentou espiar e viu que os dois ainda estavam por ali trocando beijos. – Acho que não seremos notados se sairmos.
   percebeu que sua chance podia escapar a qualquer momento e resolveu soltar sem pensar:
  - Preciso falar com você, não vai agora. – Sentiu suas pernas bambearem, se estivesse de pé com certeza teria caído no chão. Como essa menina tinha esse poder sobre ele?
   sentou novamente ao lado de e ficou olhando para ele. Esperando que ele começasse a falar.
  - Talvez o que eu te fale agora não seja algo que você espere ouvir. Mas eu acho que você precisa saber de qualquer forma. – olhava para intrigada, tentava ler seus gestos e entender aonde ele queria chegar, mas não era capaz.
   deu um longo suspiro.
  - Não sei se eu consigo. – Ele olhou para o chão. continuava analisando a situação. Sem saber como reagir ao certo ela voltou a encostar a cabeça no ombro de . Ele continuava olhando para seus pés e respirando fundo.
  - Sabe, ... – começou a falar para preencher o silêncio que se seguia. – Vou sentir muito a sua falta quando você for embora. Apesar de não sermos tão próximos assim, eu sinto que posso confiar em você para qualquer coisa.
   percebeu que ele mantinha uma feição tensa. estava com a cabeça em parafuso, será que valia a pena continuar falando?
  - Eu gosto de pensar que você também confia em mim para qualquer coisa. – Ela pegou uma das mãos de e entrelaçou seus dedos nos dele. – Não importa o que você vai falar, acredite você nunca vai me perder.
  Nesse momento juntou toda a coragem que tinha e simplesmente falou:
  - Eu te amo, .
  - Eu também de amo, . – Ela deu um sorriso. percebeu que ela não tinha entendido muito bem o que ele quis dizer.
  - Estou falando sério. Te amo mesmo. Desde que a gente se aproximou de verdade, há três anos. Já pensei que poderia ser só carinho ou que eu estava imaginando coisas. Mas toda vez que eu tentei afastar esse sentimento, mais forte ele ficou. E agora eu nem sei mais como é não te amar. Já faz parte de mim olhar para você e sentir um furação de borboletas no estômago. Eu te amo. E acho que já passou da hora de você saber disso.
   ficou alguns segundos processando o que havia acabado de acontecer. Enquanto ela olhava no fundo dos olhos de uma vontade imensa de beijá-lo lhe ocorreu. Ela queria pular em cima dele. E foi exatamente o que ela fez.
   foi pego de surpresa pelo beijo mas retribuiu no mesmo momento. Sentindo uma felicidade e amor que não cabiam em seu peito, tudo que ele mais queria era que aquele momento nunca acabasse.
   Fim do flashback
   encarava o visor do celular. Estava pronto para mandar uma mensagem para . Mas não sabia como escrever qualquer coisa. Mandou apenas um “Preciso te ver agora.”
   ficou online no mesmo segundo e respondeu: ”Te encontro no meio do caminho. Rua 6, ok?” Ele respondeu afirmativamente. Todos eles costumavam se encontrar nessa rua quando queriam se ver antes de sair. Era o ponto de encontro deles. sentiu um calor no coração e um pouco de felicidade em ter recebido a resposta tão prontamente. Quase ao mesmo tempo sentiu um peso forte apertando seu coração. Será que ele quebraria o coração da menina que ele mais amava naquele momento?
  Quando se levantou para sair viu à sua frente logo acima de sua escrivaninha a fotografia do dia da festa. Antes de ter se declarado. O tempo estava congelado para sempre naquele momento de felicidade e ansiedade. Pegou a foto e colocou no bolso de sua calça jeans rasgada, como um amuleto, pegou as chaves do carro e saiu ao encontro de .
  Ao estacionar o carro próximo à placa da rua seis viu de longe que estava sentada num banco embaixo de um poste de luz, junto com seu irmão Dave.
  - Oi! – falou ao se aproximar dos gêmeos. Dave se levantou e cumprimentou .
  - Eu vim apenas para fazer companhia para ela. Vou deixá-los a sós. – Dave seguiu para o outro lado da rua e acabou entrando no parque, enquanto aguardava a irmã.
   estava desconfiada e ansiosa acerca do motivo dessa urgência toda de . Ele não sabia por onde começar a falar. Ela percebeu que havia algo de errado desde o inicio. não tinha problemas para iniciar conversas com ela nem mesmo quando mantinha seus sentimentos em segredo, agora não tinha motivo para ter mudado.
  - Fala logo, ! Você esta me matando de curiosidade. O que aconteceu?
   se manteve calado e apenas estendeu a carta de aceitação para que ela pudesse ler. leu toda a carta duas vezes. Sentiu muito orgulho e felicidade, afinal Juilliard era o sonho dele desde que ela consegue se lembrar. E era totalmente merecido, era um compositor incrível e tocava violão muito bem. Ao mesmo tempo ela sentia uma pequena tristeza porque sabia que isso significava que eles estariam em continentes diferentes. Segurou uma lágrima que estava se formando no canto do seu olho e disse:
  - Parabéns, ! – a lágrima teimosa escorreu por sua bochecha e não passou despercebida por , que passou seu polegar delicadamente para secá-la.
  - Eu não sei o que fazer. – Ele desabou em um abraço apertado.
   o apertou forte e disse:
  - Você vai quando? – não deixou aberta nenhuma possibilidade de desistência para ele.
  - Em três dias.
  - Muito bem, três dias. –Kate estava nervosa e não conseguia pensar em mais nada. Apenas repetia mentalmente três dias, três dias .
   notou que ela tentava segurar o choro e a abraçou mais forte. Nesse momento quebrou o abraço e o puxou para um beijo.
  - Vou sentir muito a sua falta. – ela falou entre o beijo, deixando mais uma lágrima escapar.
  Ele tirou a fotografia de seu bolso e entregou para . Ela sorriu ao ver a foto e começou a rasgá-la delicadamente, para que sobrasse apenas o rosto dos dois e então colocou dentro do seu colar de coração.
  - Vou te guardar no meu coração. – E deu um sorriso.

+ + +

  Os dias que antecederam a viagem de foram extremamente corridos, ele precisava arrumar literalmente tudo na sua vida para mudar para outro país em menos de 72 horas. Não conseguiu ver em nenhum momento. Isso fez seu coração apertar. Resolveu que escreveria uma carta para ela e a entregaria no aeroporto.
   Não conseguia se concentrar para escrever nada da forma que ele desejava, foi então que ele pegou seu violão e as coisas começaram a fluir.
  Loving can hurt, loving can hurt sometimes
  But it's the only thing that I know
  When it gets hard, you know it can get hard sometimes
  It is the only thing that makes us feel alive
   Continuou tocando algumas notas no violão e sentiu a inspiração chegando.
   We keep this love in a photograph
  We made these memories for ourselves
  Where our eyes are never closing
  Hearts are never broken
  And time's forever frozen still
   Seguiu numa velocidade incrível e terminou toda a canção mais rápido do que nunca.
  So you can keep me
  Inside the pocket of your ripped jeans
  Holding me closer 'til our eyes meet
  You won't ever be alone, wait for me to come home
   Resolveu que deveria gravar a canção para dar de presente para antes do seu embarque. Depois de finalizar tudo guardou o pequeno pen driver com a música em sua mochila e foi dormir. O dia seguinte seria muito cansativo e emocionante.
  Loving can heal, loving can mend your soul
  And it's the only thing that I know, know
  I swear it will get easier,
  Remember that with every piece of you
  Hm, and it's the only thing we take with us when we die
   Foi acordado muito cedo por seus pais para que pudesse ir para o aeroporto, que era muito distante da cidade. No caminho mandou uma mensagem para falando que tinha um presente para ela. respondeu “também tenho” com uma foto dela já no aeroporto segurando a cópia que ela tinha da foto da festa.
  We keep this love in this photograph
  We made these memories for ourselves
  Where our eyes are never closing
  Hearts were never broken
  And time's forever frozen still
   Chegando ao aeroporto recebeu abraços de todos os presentes. E segurou um pouco mais o abraço de . A menina entregou a foto e disse:
  - Para você lembrar de mim. – colocou a foto dentro de seu bolso. E entregou o pen driver.
  - Fiz para você, espero que você goste. – sorriu e guardou.
  So you can keep me
  Inside the pocket of your ripped jeans
  Holding me closer 'til our eyes meet
  You won't ever be alone
  And if you hurt me
  That's okay baby, only words bleed
  Inside these pages you just hold me
  And I won't ever let you go
  Wait for me to come home
   Ao entrar no carro pediu para que o seu pai colocasse o pen driver para tocar. E tentou esconder sua emoção ao ouvir a voz de cantando docemente enquanto tocava no violão a música que a pertencia.
  You can fit me
  Inside the necklace you got when you were sixteen
  Next to your heartbeat where I should be
  Keep it deep within your soul
  And if you hurt me
  Well, that's okay baby, only words bleed
  Inside these pages you just hold me
  And I won't ever let you go
  When I'm away, I will remember how you kissed me
  Under the lamppost back on Sixth street
  Hearing you whisper through the phone,
  "Wait for me to come home."
  Ela sorriu enquanto segurava o seu colar discretamente. E mandou uma mensagem de texto que ela sabia que ele só veria quando aterrissasse:

”Vou esperar você voltar para casa.”



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