Keep Calm and Carry On (My Wayward Son)

Escrito por Thamires | Revisado por Júlia

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Capítulo. 01

  's POV

  Não há outra criatura que eu odeie tanto quanto lobisomens. Talvez vampiros. Ou shtrigas, esses são muito complicados de matar e são chatos, para não dizer coisa pior. Mas lobisomens, além de serem animalescos e também chatos de matar, podem te contaminar com uma mordida. Uma única mordida e puft! Você também vira um lobisomem. Neste momento específico estou viajando pelos confins de Minnesota. E, bem, depois de me separar do meu bando, eu precisava trabalhar e esfriar a cabeça. Há exatos oito meses eu não sei o que é uma folga. De qualquer maneira, haviam acontecido algumas mortes esquisitas no local, e eu tenho certeza de que se trata de um maldito lobisomem. Todas as mortes tinham ocorrido nos arredores do Afton State Park e foi para lá que eu rumei, depois de achar um motel barato (e cheio de baratas). O atendente do motel foi até bem simpático, o que parecia típico. Naquela cidade pequena e pacata, cheia de donas de casa e crianças loiras de bochechas rosadas, imaginei que o pânico já tivesse se instalado lá pelas duas últimas mortes perto do parque. Ao invés disso, descobri que as mães simplesmente diziam aos seus filhos para não andar por lá à noite. Simples, não? Um monstro rondava o lugar e levava as crianças más embora. O que não era de todo mentira, embora não fossem exclusivamente crianças que o lobisomem queria... Algo cheirava estranho naquele lugar, e não era a falta de poluentes no ar.
  Parei meu carro perto do parque e aproveitei a luz do dia para dar uma olhada no local e me habituar às trilhas, se fosse mesmo me jogar lá dentro e servir de isca a um lobisomem faminto. Eu odiava essa parte. A parte que eu mais gostava era a de enfiar uma bala de prata no peito do desgraçado. Isso sim era diversão.
  O parque era um lugar bonito. Não parecia assustador nem sombrio ou qualquer outro adjetivo que você possa dar a um lugar onde houve oito mortes nos últimos dois anos. Sob a luz do sol, era até bonito. Dava para ver um rio e alguns turistas, aposto, fazendo caminhadas. O típico parque da típica cidade americana perfeita. Pais perfeitos levavam suas crianças perfeitas para a escola, a natação ou qualquer atividade que essas miniaturas de seres humanos fazem depois da escola. Talvez aulas de música. Deixando de lado minhas divagações sobre a vidinha miserável dos civis, decidi dirigir até o motel e pegar a indicação de algum lugar para comer, me embebedar e arrancar informações dos bêbados locais. Ou seja, qualquer bar de esquina ou beira de estrada. Depois de estacionar, me amaldiçoei por ter roubado um carro tão velho. É, roubar. Não sei se você sabe, mas eu não ganho uma comissão para cada criatura saída do inferno ou das lendas infantis que eu caço, então eu me desvio para o crime. Dura vida de caçadora. Era um carro utilitário, de mãe mesmo, e nada potente. Da próxima vez vou tentar roubar uma caminhonete ou um jipe. São meus preferidos. Ou talvez um Impala como esse que está estacionado logo ao lado. Parece um bom carro, apesar de ser considerado "velho" por mim.
  Depois de dois dias na estrada e de fazer sua higiene pessoal em banheiros de postos de gasolina porque o último motel ficou 159 km atrás, não se pode sequer imaginar o meu alívio em tomar um banho relaxante em um banheiro de verdade. Eu choraria, se não estivesse tão ansiosa.
  Pelas instruções que eu recebi do recepcionista do motel, vi que poderia caminhar até o bar em questão. Mais um motivo para não usar o carro de mamãe coruja que eu tinha roubado em Austin, me dava até vergonha, mas foi o que eu consegui enquanto tentava despistar a polícia. Depois do meu merecido banho de água morna, peguei minha calça de couro, o chapéu que era quase minha característica (e não é porque eu vivo caçando monstros, roubando carros e fugindo da polícia que eu tenho que deixar minha vaidade de mão) e me vesti. Era o tipo de roupa prática que me permitiria correr e atirar, caso eu achasse o lobisomem esta noite, já que já era o segundo dia de lua cheia. Eu sei, estou atrasada.
  Graças a Deus o bar não tinha a mesma aparência certinha do resto do subúrbio infernal que tomava conta da cidade inteira. Bêbados, caminhoneiros, homens rudes jogando sinuca e bebendo suas cervejas, vadias rebolando. Era um alívio ver um lugar assim. Não que eu seja uma das vadias, mas é mais fácil lidar com bêbados do que com mães super protetoras ou obcecadas por botox.
  - Hey, barman. - O homem já tinha uma certa idade e olhos verdes sorridentes. Seu sorriso vacilou quando olhou nos meus olhos. É claro, isso sempre acontecia. - Um uísque duplo, sem água e sem gelo.
  - Já vai sair. - Ele tentou se recompor, mas eu senti seu olhar no meu de novo. Como se eu não pudesse ter uma falha genética...
  Heterocromia, já ouviu falar? É uma doença genética que faz com que eu tenha um olho azul claro e outro verde acinzentado, igualmente claro. Tipo os olhos da Kate Bosworth, mas não tão charmosos. De longe, a maioria das pessoas não percebe, mas de perto... Elas simplesmente não param de olhar. O que é irritante. Muito irritante. Como se já não bastasse ter um olho de cada cor... O resto da minha genética é okay, eu realmente não tenho do que reclamar. Quer dizer, sou alta, tenho um corpo definido graças a caça a criaturas sobrenaturais e cabelos negros e ondulados, difíceis de domar. Um tipo comum, se não fosse esse "defeitinho" nos meus olhos.
  - Sozinha?
  Cinco minutos? É um tempo recorde. Geralmente os caras ficavam mais bêbados antes de chegar perto de mim, até porque eu tenho voz rouca e não uso roupas muito femininas. E com isso eu digo vestidos e saias.
  - Estou. - Respondi monossilábica, bebendo um gole do uísque. Não era nenhum Jack Daniels, mas ia servir.
  - Meu nome é Dean. - Ele sorriu e era um cara realmente bonito de olhos verdes, corte de cabelo meio militar e uma jaqueta legal. Assim como o barman ele ficou um tempo a mais encarando meus olhos. - Seus olhos...
  - Meu nome é , prazer. - O cortei, antes que ele também me irritasse. Fiz um gesto com o copo em direção ao dele e bebi mais uma vez, dessa vez levando todo o líquido dentro dele. - Você é daqui?
  - Não, sou de fora da cidade. Meu irmão - ele apontou com sua garrafa de cerveja um cara que andava precisando de um corte de cabelo e uma dose de animação - e eu estamos viajando pelo país.
  - Ah. - Me desanimei. Mesmo que fosse divertido ficar flertando com ele e me embebedar eu tinha que me lembrar que me atrasei por causa do espírito vingativo que encontrei em Austin e deveria trabalhar o mais rápido possível.
  - Então, o que uma garota como você faz sozinha por aqui?
  - No momento, estou bebendo. - Fiz outro gesto para o barman e ele repôs meu uísque. - E você?
  Ele sorriu de lado. Um cafajeste nato, se me perguntar.
  - É, eu também. E estou falando com uma gata também.
  Cafajeste mesmo, então. Ponto pra mim. Estou cada vez melhor em adivinhar a natureza das outras pessoas.
  - Entendi. Não estou interessada, bonitão. - O uísque desceu queimando a minha garganta, mas eu não reclamei.
  - Sério? Então não consigo nem o seu telefone?
  - Não. No que eu estou interessada eu duvido muito que você ou seu irmão possa ajudar, Dean. Mas foi um prazer conversar com você esses - olhei meu relógio de pulso - três ou quatro minutos. - Me levantei do balcão e fui dar uma volta. Havia uma roda de bêbados perto da mesa de sinuca e seria mais fácil tirar algumas informações deles.
  - Você é lésbica, então?
  Cafajeste e insistente. Talvez esteja bêbado, como os jogadores de sinuca.
  - Acha que eu sou lésbica por não flertar de volta com você? - Machista. Me virei para trás e o peguei analisando o meu traseiro. Eu juro que se estivesse um pouco mais bêbada puxaria uma briga com ele, só para me divertir. - Para de olhar a minha bunda.
  - Desculpe. - Como se ele estivesse arrependido de verdade...
  - Dean, por que não vai tentar seu charme com a garçonete que não perde você de vista? Está vendo aquela loira peituda bem ali?

  Não posso descrever seu sorriso de outra maneira, havia sido pervertido. De verdade. Provavelmente já tinha o telefone da loira com peitos de vaca.
  - Vamos lá, eu não sou tão desagradável. - Ele se aproximou sorrindo e eu lhe lancei um olhar recriminador.
  - Você joga sinuca? - Peguei um taco na parede, aproveitando que os bêbados haviam achado algo mais interessante para fazer. Ele me olhou confuso. - Se você jogar comigo e ganhar, eu te dou meu telefone. Se eu ganhar, você senta com o coitado do seu irmão e me deixa em paz, o que acha?
  - Acho que vou ganhar seu telefone logo, logo.
  - Você que pensa, garotão.

  Sam's POV
  A cara do Dean foi impagável depois que a garota com o chapéu arrasou com ele na sinuca. Ele não sabia o que o tinha acertado ou de onde veio, mas parecia ter ficado bem puto. E isso foi o bastante para me deixar de bom humor pelo resto da noite, mas não o bastante para me impedir de avisar que agora que já estamos devidamente alimentados e informados, deveríamos caçar o lobisomem que viemos caçar. Afinal, viemos apenas por causa dele.
  - Dean, temos que ir. - Olhei para meu irmão sugestivamente, que ainda olhava indignado a morena encostada na mesa de sinuca. Eu tinha que admitir que ele tivera bom gosto, ela era realmente bonita. Tinha a pele bronzeada e um sorriso bonito.
  - Ela me ganhou na sinuca, cara. Uma garota. Estou me sentindo... Diabos, não sei como estou me sentindo.
  - Humilhado? Envergonhado? Embaraçado?
  - Não está ajudando, sua vadia. - Ele deu seu último gole na garrafa de cerveja em sua mão e deixou o dinheiro no balcão, para o velho barman recolher.
  - Que tipo de garota joga sinuca daquela maneira?
  - Esquece a garota, Dean. Temos coisas mais importantes para nos preocupar.
  - Aquele lobisomem filho da puta vai pagar por eu não ter ninguém para passar a noite.
  Rolei os olhos, Dean sabia ser tão discreto quanto a Dolly Parton. Entramos no Impala e ele logo arrancou.

  's POV
  Os bêbados não adiantaram de muita coisa. Diziam que os assassinatos era algo relacionado a um psicopata. É claro, como se o Maníaco da Machadinha fosse dar tanto trabalho. Eu mesma estava um pouco bêbada, mas mesmo assim não vi problema em voltar ao motel, pegar o carro e ir até o parque. Eu já havia dirigido sob situações mais tensas do que estar somente bêbada.
  Pelo menos eu havia despistado o bonitinho do Dean e seu irmãozinho com cara de labrador. Francamente, se ainda fosse depois de pegar o desgraçado que já tinha matado 8 pessoas por aí... Sim, eu pensaria no caso dele. Não que eu não soubesse o tipo de cara que ele era, one night stand¹ e tudo o mais, mas eu sou uma caçadora. Não é como se algum dia eu fosse casar com alguém, ter três filhos e uma casa no subúrbio com um jardim de margaridas. Aliás, a mera ideia de morar no subúrbio me deixada enjoada. Ou talvez fosse o balanço do carro pelas minhas mãos não estarem firmes o suficiente? Maldito carro de mãe coruja! Vou roubar outro antes de deixar essa cidade!
  Respirando fundo para me manter bem o suficiente para não vomitar minhas cinco doses duplas de uísque barato, tentei também não tremer tanto a direção. Talvez fosse uma ideia melhor virar o carro e (tentar) estacionar no motel novamente, antes que eu batesse em alguma caixa de correio enfeitadinha de alguma Mulher Perfeita². Mas algum outro inocente poderia morrer. Hoje.
  Okay, você pode pensar: e dai? Você também pode morrer, está bêbada. Bem, caro leitor, estou mesmo bêbada, mas tenho uma pistola com dezesseis balas de prata. Fatais a um lobisomem despreparado. Mas... Que diabos estava acontecendo ali?

  ¹ Um caso para a noite, só uma "ficada" em inglês.
  ² Referência ao filme "Stepford Wives" ou "Mulheres Perfeitas" no Brasil.

Capítulo. 02

  's POV
  Eu havia chegado tarde, mas não tarde demais. Em meio ao som de galhos quebrando e ordens gritadas, me guiei na escuridão, me amaldiçoando por não comprar pilhas novas para a lanterna (que caçadora competente!). O rugido do animal era inconfundível, assim como um corpo inerte no chão. Mesmo estando escuro, bêbada e com a possibilidade de acertar alguém inocente, eu atirei. Apurando os ouvidos, ouvi os ruídos característicos de um animal fugindo a oeste de onde eu estava. Ou era leste? Bem, não importava. Me abaixei perto do corpo e desejei ter alguma fonte de luz ali, a pouca luz que era fornecida pela lua acabava ficando muito fraca devido às árvores do parque. Chegando mais perto, notei que quem quer que estivesse deitado ali, estava respirando. Sempre um bom sinal.
  A presença de alguém atrás de mim me fez pular e apontar a minha arma para o vulto que se mexia.
  - Não atire! - Foi o que chegou aos meus ouvidos, mas, mesmo assim, não abaixei a arma.
  - Quem está aí? - O vulto se abaixou e eu endireitei minha arma para a sua direção. - Não se mexa!
  - Estou pegando minha lanterna. - Logo um facho de luz me cegou temporariamente, tempo o suficiente para o desconhecido tomar minha Beretta. Novamente sendo guiada pelos sons, lhe desferi um soco e este deu um passo para trás, batendo com as costas no tronco de uma árvore. - Merda!
  Por um segundo, pensei em correr, mas se o estranho quisesse me matar, teria atirado em mim assim que reagi e lhe dei um soco. Sendo assim, esperei até que ele me iluminasse e esperei que ele fizesse o mesmo consigo.
  - Isso só pode ser brincadeira! Você, garota dos olhos de gato? - Ele se aproximou e se iluminou, tinha um sorriso maroto nos lábios.
  - Cafajeste péssimo na sinuca? - Retruquei no mesmo tom de sarcasmo.
  - Muito engraçado. Pode segurar a lanterna enquanto eu levanto o Sammy? - Além de tomar a lanterna rudemente das mãos dele, peguei também minha pistola.
  Rolando os olhos, ele segurou o irmão pelos ombros e o carregou até seu carro. O Impala que eu cogitei roubar. Sério, Deus? Se Você realmente existe, tem um baita de um senso de humor!
  - Para onde o lobisomem foi? - Sam perguntou assim que acordou. Estávamos os três no quarto que pertencia a eles, sendo o meu algumas portas depois.
  - Eu não vi, estava escuro. Mas pelo ganido, acho que o acertei em algum lugar não fatal.
  Os dois ainda pareciam surpresos.
  - Você foi caçar o lobisomem sozinha depois daquele tanto de uísque? - Dean perguntou, seu olhar revelando que me achava uma louca varrida.
  - Pareço bêbada para você? - Arqueei uma sobrancelha, pensando se meu blefe daria certo. Depois de toda aquela adrenalina, eu já não estava tão bêbada, mas ainda não completamente sóbria. Eu deveria estar ótima, com aquela luz intensa em cima de mim e a sensação de ter folhas embaraçadas no meu cabelo, que antes estava tão comportado.
  - Durona, huh? - Foi tudo que Dean me respondeu.
  - Não me recriminem, salvei suas bundinhas brancas daquele bicho.
  - Falando nisso, obrigado, . - Sam sorriu para mim e ele realmente parecia um filhote de labrador com aqueles olhinhos tristes (e fofos).
  - Não agradeça essa garota, eu poderia ter salvado você! - Parece que o irmão mais baixo se irritava à toa. Que bonitinho.
  - É realmente uma tentação ver você se irritar comigo, Dean, mas não estou com paciência para isso. Da próxima vez tentem se preparar mais, okay?
  - Espera aí, o quê?
  - Dean... - Sam tentava acalmar o irmão. Como se eu tivesse medo de um cara que era apenas uns dez centímetros mais alto do que eu.
  - Garota, você...
  - . E não "garota". .
  Dean abrira a boca para retrucar, mas seu irmão, Sam (de quem eu gostei no momento que pus meus olhos nele, no bar), interviu.
  - Somos Sam e Dean Winchester, . É um prazer, conhecê-la.
  - Então vocês são os irmãos Winchester?
  Aquilo era novidade. Ao invés de serem assustadores, altamente sagazes, perspicazes e toda a baboseira que você ouve por aí, eles eram amadores que quase eram mortos por um lobisomem e que precisavam de uma caçadora bêbada para um resgate? O que Lance diria agora, hein? Ele, que sempre me perturbou dizendo que eu não conseguiria me virar sozinha e tudo o mais, engoliria a própria língua!
  - Impressionada?
  - Nem um pouco. - Cruzei os braços, me lembrando que, naquela correria, havia perdido meu chapéu. Assim que o sol nascesse eu voltaria lá para procurar, era um dos meus preferidos. - O papo está bom, mas eu vou dormir. Duas portas à esquerda, se você precisar ser salvo de novo, Sam. - Pisquei para ele e usei um tom leve e brincalhão, ele pareceu corar um pouco, mas sorriu para mim.
  - E se eu precisar de alguma coisa, ? - Dean se encostou no batente da porta e me olhou de forma sugestiva.
  - Dique 911. - Dito isso, tirei a chave do meu quarto do bolso e entrei nele.

  Acordei algumas horas mais tarde com batidas na porta. Quem será que está interrompendo meu sono de beleza?
  - Acordei você, ? - Um amável Sam estava acompanhado de um Dean apático.
  - O que você acha?
  - Nós vamos sair para comer. Achamos...
  - Você acha. - Dean interrompeu, mas Sam e eu fizemos que não ouvimos.
  - ...Que você gostaria de tomar café com a gente.
  - Gentil, mas com que propósito? - Esfreguei os olhos e pensei que não seria nada mal umas panquecas para o café da manhã.
  - Sammy acha que você pode nos ajudar na caçada. - Ele olhou o rapaz em questão com um sorrisinho zombeteiro.
  - Ah. Desculpe, não trabalho em grupo. - Lembrei-me de , Noah e Lance. Havia dado certo no começo, mas no final quase morremos os quatro por conta das brigas. Não, eu era melhor sozinha.
  - Você não é melhor que a gente, .
  - Eu sei. Eu só não sou alguém muito social. - Dei de ombros, apertando o casaco que eu usava para dormir contra o corpo. - Mas vou aceitar a ideia do café da manhã porque não como algo decente desde... Sei lá. Vocês esperam cinco minutos?
  - Claro. - Disseram em uníssono.
  E cinco minutos foi o suficiente para um ducha rápida, achar qualquer roupa dentro da mala de viagem e prender o cabelo de qualquer jeito em um coque que estava caindo aos poucos. Com os óculos Ray Ban, eu estava completamente pronta.
  - Óculos?
  - Não gosto que me incomodem por causa dos meus olhos. As pessoas ficam curiosas. - Dei de ombros. - Quanto menos atenção eu chamar, melhor.
  - Está falhando miseravelmente, então.
  Retribuí o sorriso sacana de Dean (qual é, fazia bem ao meu ego) e bati a porta do quarto.
  - Vamos logo, vocês não me conhecem quando eu estou com fome.
  - Não pode ser pior que o Dean.
  - Hey!

  Dean's POV
  A vida podia até não ser justa, mas o jeans que ela usa... Será que ela só usa esse tipo de calça apertada? Porque a calça de couro que ela estava usando na noite passada me chamou e muito a atenção. Ela parecia ter pernas bem torneadas, fortes e... Talvez seja melhor eu desviar o olhar, a garota anda armada e não parece ser minha fã. O que é loucura. Ela estava totalmente me dando mole no bar, não estava?
  Pelo menos até a parte da sinuca e de me mandar pastar. E de me acertar um soco no queixo na noite passada. Meu maxilar ainda doía com a lembrança. Mulheres, sempre tão emocionais... Aliás, é bem interessante esse fato da ser tão impulsiva e violenta, significa que ela é bem explosiva, se é que você me entende.
  - Não acho uma boa ideia me unir a vocês. Sou péssima para trabalhar em equipe. - Ela confessou enquanto enchia as panquecas à sua frente com mel.
  - Então se afaste. - Eu dei de ombros, recebendo o meu cheeseburger da mão de uma garçonete meio esquisita.
  - Como é?
  - O caso é nosso. - Continuei sem me intimidar com seus lábios franzidos de irritação. - Nós chegamos primeiro.
  Ela olhou pra Sam, para checar a informação. Depois, voltou seu olhar para mim.
  - Ou eu estou dentro, ou vão me chutar da cidade. É isso?
  - Você é bem esperta. - Respondi com a boca cheia do sanduíche em minhas mãos.
  - Então eu coopero. Vai ficar ótimo no meu curriculum: já cooperou com os irmãos Winchester! - Ironizou e depois deu uma risada rouca e baixa.
  Até a voz dela era sexy.
  - Muito bem, Dean Winchester. Parece que você finalmente tem a minha atenção.
  Se ela estivesse sem óculos, eu jurava que ela teria me lançado um olhar de desafio. O celular dela tocou e de repente ela ficou pálida.
  - Tenho que atender, já volto. - Ela saiu dali rapidamente, sem olhar para trás.
  - Essa garota é muito esquisita, Sam. Anota o que eu estou te dizendo, tem coisa podre nisso.
  - Você só está implicando com ela porque ela te ganhou na sinuca. - O canalha disse em tom de riso.
  - E aqueles olhos, cara? Já viu coisa mais estranha?
  - É uma falha genética, Dean. A é legal.
  - , é? Sei!

  's POV
  - Eu disse para você não me ligar. - Ela não me deixa nem dizer o motivo pelo qual eu liguei e já briga comigo!
  - , eu só precisava...
  - Não, . É melhor assim. Você, Noah e Lance sempre se deram bem, nós duas vamos brigar como gatos. - Do que ela estava falando?
  - , você não entende...
  - Entendo melhor do que ninguém. Lance é seu namorado, Noah é meu irmão, mas me odeia e eu era só a sua companheira de caça turrona. - O velho ciúme...
  - Não, ! Porra, será que pode me deixar falar? Lance está morto! Morto, entendeu? Eu me juntei ao Noah e nós estamos viajando juntos, mas achei melhor te avisar...
  - E por que você me avisaria? - era uma maldita de uma desconfiada! Mas que diabos!
  - Porque Lance era seu amigo também. Mesmo que a gente tenha se separado.
  - O que aconteceu?
  - Um ghoul o atacou. - Senti os olhos se encherem de lágrimas quando me lembrei que só Noah voltara da caçada, trazendo nas mãos o crucifixo de Lance e a notícia mais horrível da minha vida desde o falecimento do meu pai.
  Ela calou a boca e eu só podia ouvir a respiração dela do outro lado. Devia estar pensando em alguma coisa importante.
  - Pensei que eles não atacavam vivos.
  - Mas nos atacaram. Lance e eu.
  - Quem os matou?
  - Noah. - Ela suspirou do outro lado da linha.
  - Eu estou em um caso, mas nós podemos nos encontrar em algum lugar. Eu ligo para você quando estiver pronta.
  - Tudo bem. E você não era só a minha companheira, você era a minha melhor amiga. Ainda é. Eu sinto a sua falta.
  - Temos que achar um lugar para você ficar. Não é seguro para você viajar com o Noah. Coloque-o ao telefone, quero falar com ele. - Como sempre, ignorou qualquer tentativa de aproximação emocional.
  O homem ao meu lado entortou a boca, sem vontade de falar com sua irmã gêmea.
  - Nós vamos ao Roadhouse. Vou passar um tempo com a Ellen.
  - E com a Jo. - Ela rosnou o nome da loira.
  - Sim. Você pode me encontrar lá?
  - Claro que posso. - Ela ficou em silêncio e depois soltou o ar ruidosamente. - Senti sua falta, .
  - Também senti sua falta, .
  Depois de desligar o celular, olhei para Noah, o irmão de , ao meu lado. Eles eram gêmeos, mas não se falavam há muito tempo. Os dois eram orgulhosos o bastante para não ceder. Eu fiquei surpresa quando pedira para falar com o irmão, mas sabia que eles iam acabar discutindo. Quando se tratava de homens, gostava de fazê-los saber que era ela quem mandava e nem Noah nem Lance aceitavam isso dela. Eram três filhos da puta teimosos e só Deus sabe o que eu, , já passei para manter a paz entre os gêmeos e Lance Ryman.
  Embora tivesse que concordar com em uma coisa: não era seguro para mim ficar viajando por aí, ainda mais quando eu tinha aqueles sonhos estranhos.

  's POV
  Respirei fundo e finalmente saí do reservado onde eu tinha me trancado. Que ótimo, meu nariz estava vermelho e meus olhos estavam inchados. Sorte a minha que os óculos esconderiam isso. Por isso que eu odiava chorar. Pior ainda, chorar por um desgraçado que tinha me trocado pela minha melhor amiga.
  - Aconteceu alguma coisa, ?
  - Um antigo companheiro de caça está morto. - Precisei respirar fundo novamente. Lance era um cabeçudo, metido, idiota, arrogante e um fresco, mas era meu amigo. E minha primeira paixão.
  Ele, meu irmão, e eu formávamos um time pesado, mas também muito conflituoso. Muitas pessoas caçando, sentimentos dispersos, brigas por nada. Lance morrera e a última coisa que eu lhe disse foi que ele era um babaca metido a besta. Eu deveria ter dito que o amava, mas não adiantaria. Ele e pertenciam um ao outro, eu apenas o segurei para ela por alguns anos.
  Eu poderia largar o caso. Os Winchester cuidariam de tudo, mesmo que eu tenha dito tudo aquilo sobre eles, sei que eles não são famosos à toa. Tive, inclusive a oportunidade de conhecer John, mas não tanto quanto eu gostaria. Eles eram bons. Tinham que ser.
  - Está tudo bem com você?
  - Sim, quer dizer... Eu vou encontrar os outros membros do time no Roadhouse. - Noah iria também? Tinha a impressão que ele não iria, mas por que o meu irmão se lembraria de mim? Nós também havíamos discutido feio naquela noite. Eu me arrependia do que havia dito até hoje.
  E o motivo havia sido estúpido: Lance estava cobrindo e meu irmão deveria estar me cobrindo, mas me deixou sozinha porque achou que Lance precisava dele. Eu me virei sozinha, mas ganhei uma cicatriz permanente no braço. Ciúme, orgulho ferido, fúria. E deixei meu time para trás.
  - Vai sair da caçada?
  - Não. Eles estão bem e eu nunca deixo um trabalho pela metade. Estou com vocês, rapazes.

Capítulo. 03

  Sam's POV
  - O que você está fazendo?
  Não dava pra ver muita coisa da quando chegamos. Exceto uma parte que Dean olhava descaradamente, quer a caçadora gostasse ou não, muito bem, er... Desenhada pela calça de couro que ela usava. Nos entreolhamos quando ela soltou um palavrão e pareceu mergulhar mais ainda no porta-malas do carro.
  - Hey, , que porcaria de carro é essa?
  - É a porra do carro de uma mãe de família. Agora eu tenho certeza. - Ela jogou um pedaço de pano em nós, que parecia um calção de basquete, com a expressão fechada.
  - E desde quando você é uma mãe de família? - Dean perguntou, desviando-se do pano que ela havia jogado.
  - Não tinha muito carro para roubar, Dean. Era esse ou o camburão. - Sua voz saía abafada e apressada, como se estivesse nervosa.
  - Voltando à minha pergunta inicial... O que você está fazendo? - Interrompi, até porque, se eu deixasse, esses dois rolariam no chão.
  - Estou procurando meu rifle. Eu tenho certeza que tenho algumas balas de prata para o meu rifle!
  Eu e Dean nos entreolhamos de novo. Desde o telefonema de seus ex-parceiros, havia renovado seu ânimo para caçar o lobisomem. Ela tinha dito que nós poderíamos interrogar os locais, se nós quiséssemos, mas que sua única preocupação era dar um tiro certeiro no peito do desgraçado, palavras dela.
  - Escuta, tem esse cara chamado Lyle Castle que está com um curativo estranho no braço. - Eu disse, observando quase com os pés fora do chão de tanto que enfiava a cabeça para vasculhar o porta malas do Camry que estava dirigindo.
  - Também tem Pauline Franklin e havia esse cara estranho mancando na rua. - Ela falou, sem me olhar. - Ela não parecia muito feliz quando eu perguntei pelo braço dela e desconversou.
  - A filha dela era uma gostosa! - Dean riu do meu lado e eu olhei feio para ele. - Nós ficamos com o Castle e você com a Franklin? - Ignorei Dean que ainda ria de mim.
  - Só porque eu tenho peitos ao invés de bíceps avantajados como os seus eu tenho que ficar com a matrona viciada em botox? - Ela levantou a cabeça um pouco e nos encarou com seus olhos ímpares e a boca crispada em indignação. - Eu salvei você, Sam!
  - É, cara, você foi salvo por uma garota! - Dean deu um soco no meu ombro e eu lhe olhei feio.
  - Desculpe, , eu não tinha...
  - Tudo bem. - Ela fechou o porta mala com frustração e um barulho alto. - Vou procurar no porta-luvas.
  Minutos depois ouvimos um grito de felicidade.
  - Ah, meu bebê! Mamãe nunca mais te larga debaixo do banco desse carro feio! - Ela segurava o rifle como um bebê mesmo.
  - Ela é doida. - Dean fez uma careta.
  - Você chama o seu carro de "querida", Dean.
  - Pelo menos é um carro decente. - Ele acrescentou com um olhar ao carro caindo aos pedaços de .
  - O que disse?
  Eles se encararam por alguns segundos e eu me senti meio desconfortável. Afinal de contas, tinha um rifle no colo e ela não era muito controlada, certo?
  - Dean? Chega.
  - Isso mesmo, Dean, chega. - Ela sorriu para mim e colocou o rifle nas costas. Já era noite e era a isso que se devia o fato de levar mais tempo que o normal para encontrar suas armas.
  Dean nos olhou meio indignado e cruzou os braços, se encostando no difamado carro de .
  - Então, o que ficou decidido? - Ela perguntou.
  - Bem, você... - Dean começou, mas foi interrompido por ela.
  - Eu vou para o parque. Se qualquer coisa aparecer lá eu atiro. Não me importo se é um esquisitão ou uma mãe cheia de plásticas.
  - Por que perguntou, então? - Ela sorriu e deu de ombros.
  Até que era bem simples. Dean pareceu concordar com ela pela primeira vez desde que se conheceram.
  - e eu vamos para o parque e o Sammy...
  - Vai cuidar de dois ou três suspeitos sozinhos? Nada contra você, Sam, mas é muita coisa. - Ela tirou um maço de cigarros do bolso e um isqueiro, rapidamente acendendo um cigarro e o tragando.
  - Ela tem razão. Acho melhor nós três vigiarmos e depois nós...
  - Não. O parque é a zona de conforto dele, aonde ele vai para caçar nem que seja um esquilo. Um de nós tem que ficar lá. - Ela tragou o cigarro e nos olhou como se fôssemos idiotas. - Além do mais, pode não ser nenhum dos suspeitos. Não sabem onde o meu tiro pegou. Pode até ser um caminhoneiro que more mais longe da região.
  - Então você e Dean vão vigiar os suspeitos e eu fico no parque.
  - E por que eu não posso ficar no parque?
  - Porque vai colocar fogo nele, fumando desse jeito. - Dean rolou os olhos e saiu andando.
  - Sempre um doce de pessoa. - Ela ironizou, sorrindo para mim. - Vamos, Sam, me dá uma carona até a casa do Castle e depois você pega esse ferro velho e vai ao parque.

  's POV
  O maldito Lyle Castle era o homem mais entediante que eu vi na vida. Além do mais, o parque era a poucas quadras de sua casinha suburbana, onde ele morava com a mãe. Um homem de quarenta anos morando com a mãe. Esquisito, hein? Coloquei o saco com lanche ao meu lado no banco onde eu estava e olhei a casa de novo. Se ficasse muito tempo sentada ali, ele ia me notar. Então, depois de comer, dei uma volta no quarteirão, aproveitando para checar os fundos da casa. Tanto Franklin quanto Castle moravam nos arredores do parque, duas ou três quadras de lá, mais ou menos.
  Depois de dar uma olhada no quarteirão e ficar espreitando mais quinze minutos um cara solteiro, entediante e careca que está na meia idade e ainda mora com a mãe obesa e idosa que assiste a TV comendo Cheetos, ouvi meu celular tocar. Logo desviei meus olhos daquelas cenas deprimentes. Aliás, é muito interessante o que você pode ver montada em uma árvore.
  - .
  - Pauline acabou pular um muro de dois metros de altura.
  Droga! Eu deveria ter ficado com a Dallas¹! Em menos de cinco minutos o Impala de Dean apareceu no final da rua e antes mesmo que eu me sentasse direito, ele estava acelerando em direção ao Afton State Park.
  - E Sam?
  - Já foi atrás da Mãe Monstro.
  Nós saímos do carro e eu já tirei meu rifle do suporte dele, nas minhas costas. Entramos no parque e Sam estava escorado em uma árvore de tronco grosso e folhas grandes, nos esperando. Assim que nos viu, ele relatou o que vira: Pauline entrara correndo, o olhou e então foi para o outro lado. Assim que ele terminou de sussurrar aquilo, ouvimos o barulho de um galho se quebrando bem atrás de nós.
  - A vadia estava nos esperando, então? - O Winchester mais velho destravou sua pistola e olhou em volta.
  - Vamos nos separar. - Eu chequei meu rifle e vi que ambos me encaravam.
  - Nos separar contra um bicho que conhece esse bosque melhor do que nós? - Sam me reprovou com o olhar. - Não acho sensato.
  - Tudo bem. A Daphne e o Fred vão por ali. - Fiz um gesto com o rifle na direção do último ruído. - E eu vou por ali. - Apontei uma outra direção da qual também havia vindo um ruído.
  - E você vai enfrentar o lobisomem sozinha? - Dean me olhou de cima a baixo, como se me subestimasse.
  Dei de ombros e tirei uma lanterna do bolso (com pilhas, dessa vez).
  - Por que não? Tenho caçado sozinha há dois anos. Sei me cuidar.
  - Mesmo assim acho melhor...
  Discutindo a porra da estratégia, não vimos Pauline se aproximar. A piranha se aproveitou da minha distração e pulou nas minhas costas. O peso dela me forçou para baixo e eu caí, arranhando meu rosto no chão coberto por folhas, pedras e terra. Senti algo pegajoso escorrer pela minha testa e minha visão escurecer um pouco, pela força com a qual minha cabeça bateu em uma pedra que estava convenientemente no chão. Merda. Ainda do chão, pude ouvir um tiro e o peso de Pauline (que eu jurava não pesar muito mais do que 50 kg) sumiu do meu corpo.
  - Você está bem?
  - Ótima! - Recuperei meu rifle do chão e olhei para os dois com a expressão fechada. - Essa puta está mexendo com a mulher errada! - Acrescentei essa última parte mais para mim do que para eles.
  - Sua testa está sangrando. - Sam se aproximou, enquanto Dean saiu na direção de Pauline.
  - Eu sei. Vem, vamos atrás deles.
  - Você não pode caçar com a testa desse jeito, .
  - Um pouquinho de sangue não é nada. - Antes que ele pudesse contra-atacar com algum comentário inteligente, eu dei as costas para ele e saí correndo. Tudo bem, talvez a tontura me atrapalhasse um pouco, mas apenas respirei fundo e tentei clarear a mente.
  Pauline iria me pagar. Ela deveria saber que não se deve brincar com a comida. Pelo menos não quando a comida tem um rifle e seis balas de prata com um "P" escrito nelas!

  Flashback
  Eu ajeitei os óculos escuros no meu rosto. Aquele terninho e os sapatos de salto estavam me matando. Qualquer coisa que limitasse meus movimentos me incomodava.
  - Vamos para o necrotério?
  - Minha parte favorita da farsa. - Rolei os olhos.
  Os corpos estavam completamente mutilados. Era mesmo o trabalho de um animal. Mesmo depois do legista ter costurado os corpos e os limpado, dava para ver que algo brutal havia acontecido. O legista era um homem alto e moreno, que poderia ter sido muito bonito se não fosse o nariz muito largo e os lábios grandes demais para seu rosto longo.
  - Se tiverem qualquer dúvida, podem me perguntar. - Seu olhar recaiu em mim e eu me perguntei se ele realmente estava flertando comigo. Casos de uma noite só não precisavam de muito flerte e eu estava enferrujada nesse assunto.
  - Não hesitarei, acredite. - Logo voltei meu olhar para o corpo à minha frente. Seu rosto havia sido destruído.
  - Olhe aqui. - Dean apontou para uma marca semicircular, bem irregular. - O que é isso?
  - Isso é... - ele clareou a garganta. - Bem, é uma mordida.
  - Mordida? - Fingi incredulidade. - De quê?
  - Agente Martinez, eu... Se não fosse loucura, eu diria um lobo ou um cachorro bem grande.
  Bingo!
  - Um... Cachorro? Parece improvável.
  - Ou não. - Dean disse ao meu lado, analisando o legista à minha frente. Homens e sua eterna luta pelo posto de alfa...
  - Alguma outra curiosidade sobre os corpos? - Me inclinei para o legista, rezando para que ele realmente estivesse flertando comigo.
  - B-bem... - Seu olhar voou direto para o meu decote. - Há algo estranho que nós ainda não divulgamos.
  - E o que é?
  - O coração estava faltando. Em todas as mortes.
  Dean atendeu o celular ao meu lado, provavelmente era Sam. Ainda fingi examinar o corpo por mais um par de minutos, antes de agradecer ao legista e sair acompanhada do "Agente Plant".
  Bati na porta de madeira branca à minha frente mais uma vez. Logo ela veio me atender. Eu não diria que Pauline Franklin, como ela se apresentou, tem mais do que 45 anos. Loira de olhos muito azuis e usando um vestido floral bem decotado para alguém que tinha uma filha de vinte anos, ela me convidou a entrar e até me ofereceu biscoitos e café.
  - De onde você disse que é mesmo?
  - Agente Tessa Martinez, FBI. - Mostrei minha carteira falsa, mas que parecia tão genuína que enganaria até um agente real do FBI. - Gostaria de conversar sobre os assassinatos que ocorreram nos últimos dois anos aqui no parque. Estamos falando com os moradores que moram por esta área, se não for incômodo. - Apontei Dean, que estava do lado de fora conversando com a filha de Pauline, uma cópia vinte anos mais jovem da mãe.
  - Ah, sim! Terrível, não é? - Seu tom de voz indicava que ela estava tudo, menos triste, com aquelas mortes. - Não seria incômodo algum, agente Martinez.
  - Você conhecia alguma das vítimas?
  - Não. Na verdade, não cheguei a conhecer nenhuma delas. - Ela coçou distraidamente um curativo no braço esquerdo.
  - Já ouviu alguma coisa ou presenciou algo anormal no parque?
  - Não vou ao parque desde que os assassinatos começaram. Na verdade, ninguém aqui vai.
  - Certo. Como isso aconteceu? - Apontei para seu curativo no braço.
  - Ah, eu... Me queimei enquanto estava fazendo uma fornada de brownies. - Mentirosa.
  - Então, sra. Franklin, a polícia não chegou a nenhum resultado concreto, apenas que parecia mordidas de algum animal bem grande. Há esse tipo de animal no parque?
  - Acho que o maior animal que já vi lá foi um esquilo. - Ela olhou o relógio, claramente desconfortável. - Você se importa de ir? Tenho que ir ao dentista em quinze minutos e já estou meio atrasada.
  - Não, imagina. Tenha um bom dia, sra. Franklin.
  Assim que eu saí, ela me olhou desconfiada da janela e chamou sua filha, Jenna, que conversava com Dean do lado de fora.
  - Tchau, agente Plant. - Jenna deu uma risadinha e saiu balançando seus lisos e longos cabelos claríssimos, conseguidos através de peróxido de oxigênio.
  - Alguma sorte com a Miss Teen Minnesota? - Ele riu e deu uma boa olhada no meu decote antes de falar.
  - Não. Ela até conhecia duas ou três vítimas, mas ninguém muito íntimo. - Ele sorria de lado enquanto guardava um papel na jaqueta. Aposto que era o telefone da Fleur Delacour². - E você?
  - Ela mentiu, me enrolou e me mandou embora. O que acha? - Tirei os óculos e fiz com que eles prendessem algumas mechas que insistiam em sair do coque.
  - Suspeito. - Ele também olhou para casa e observamos a mais velha fechar as cortinas rapidamente.
  Fim do Flashback

  ¹ Personagem da série "Suburgatory", exibida aqui no Brasil pela Warner Channel, o mesmo canal que exibe "Supernatural".
  ² Personagem da saga Harry Potter conhecida por ser parte veela e, assim, atrair os homens sem esforço.

Capítulo. 04

  's POV
  Em poucos segundos notei que correr atrás de um lobisomem que conhecia o parque como a palma de sua mão... Pata, sei lá, não foi a decisão mais inteligente que eu já tomei na vida. Aquilo estava começando a me atrapalhar de verdade. Quando quase caí, me segurei na árvore mais próxima e respirei fundo. Isso não poderia estar acontecendo. Eu não podia mostrar fraqueza, ainda mais caçando ao lado dos "grandes e fodões" Winchesters. Não mesmo. Que se danasse essa merda de tonteira e a cabeça girando!
  Não aguentei a tonteira por muito tempo e caí. De repente, estava com muito sono, além de não saber mais por qual direção ir. Que merda, eu não podia dormir! Senti alguém me levantar, como se eu fosse uma noiva.
  - Droga, Sam, eu disse que...
  - Idiota.
  - O que você disse?
  Mas o mundo estava girando rápido demais e eu me senti enjoada. Realmente prestes a vomitar. Ótimo momento para ter uma concussão. Eu apaguei um segundo depois de ouvir um palavrão.

  Sam's POV
  Ela desmaiou nos meus braços. Apagou totalmente. E Dean estava verdadeiramente irritado.
  - Ela escapou! Aquela maldita escapou! Onde você estava? - Berrou para mim, sem ver que eu tinha uma caçadora de mais ou menos sessenta quilos e um metro e setenta nos meus braços.
  - desmaiou. Acho que devemos levá-la a um hospital, Dean. Parece algo sério.
  Ele a olhou com os olhos arregalados.
  - Ela está toda coberta de sangue! Acha que ela foi mordida?
  - Ela bateu com a cabeça em uma pedra. - Eu a coloquei no banco traseiro, com a ajuda do meu irmão, que a olhava com curiosidade.
  - Droga. Vamos para o hospital. E se ela manchar meu carro de sangue eu juro que...
  - Só dirija, Dean. - Rolei os olhos.
  Depois de mentirmos para as enfermeiras e pagar o tratamento com seu cartão de crédito falso, Dean se sentou ao meu lado de novo.
  - O que aconteceu? Com Pauline. - Eu não ia dizer "lobisomem" na frente de toda aquela gente que já prestava atenção demais em nós.
  - Ela fugiu. Eu voltei preocupado com você e a Srta. Olhos de Gato.
  Não adiantava muito dizer ao Dean que ela parecia não gostar muito de ser chamada daquela maneira.
  - Acha que ela vai matar alguém esta noite? - Sussurrei ao ver uma das enfermeiras nos olhar de modo acusador.
  - É melhor ela não fazer isso - Ele resmungou.
  O médico que a atendeu veio até nós.
  - Sua amiga teve uma concussão. - Olhei para Dean, que continuava encarando o médico de modo cínico. - Ela não vai ter nenhum tipo de sequela nem nada, mas é melhor ficar em observação até amanhã de manhã. - Ele me olhou. - Sua irmã teve muita sorte.
  - Ah, obrigado. - Esperei o médico sair para me virar para o meu irmão de verdade. - Irmã? Sério, Dean?
  - Ah, qual é! Foi a mentira mais convincente que eu arranjei!
  - E qual foi essa mentira?
  - Que eu, você e sua irmãzinha estávamos fazendo uma aposta no parque.
  - E?
  - E que ela se assustou com uma história de terror, correu e tropeçou. - Ele soltou uma risada, para, depois, olhar feio para uma enfermeira que estava nos olhando da mesma maneira.
  - Ela vai matar você.

  's POV
  Acordei com uma dor de cabeça de esmagar os miolos. Eu estava com uma bata de hospital e em um quarto azul claro. Ah, claro, minha concussão. Que merda. Grande merda. Achei minhas roupas dobradas em cima de uma pequena mesa e procurei um lugar para me despir e sair daquele lugar.
  - Ah, acordou? Tem que se deitar de novo, seu irmão deve vir te buscar esta manhã.
  Meu irmão? Noah não estava ali. Era impossível Noah me achar em Afton.
  - Meu irmão?
  - É, um rapaz muito responsável, se me permite dizer. Ao contrário do seu namorado.
  Meu namorado? Okay, agora as coisas estavam começando a ficar realmente estranhas. Será que concussões podem causar alucinações? Ou será que eu ainda estou dormindo sob o efeito de drogas?
  - Meu... Namorado, é? Ah, onde eles estão? - Sorri, simpática, para o médico careca e de meia idade.
  - Eles disseram que iam voltar de manhã. Além do mais, não é seguro você sair do hospital desacompanhada. - Ah, subitamente eu entendi. Winchesters...
  - Sabe, meu irmão e meu namorado não vêm me buscar. - Eu fui para trás de um biombo que não tinha reparado antes e me despi da bata, ouvindo todo tipo de protesto vindo do médico, que agora tentava me convencer a ficar no hospital por causa dos "sintomas pós-concussão" e que eu não deveria ouvir histórias de terror em um parque à noite.
  - Como é que é? - Aquela última parte foi tão estranhamente interessante e desconexa que eu saí de trás do biombo mesmo que estivesse apenas de sutiã e calça de couro.
  - Você tropeçou e caiu por causa de uma peça que pregaram em você, não foi?
  Eu espero que Dean Winchester tenha um bom anjo da guarda, porque, assim que eu achá-lo, ele vai precisar do melhor que houver ou eu vou chutar seu traseiro bonitinho até que ele fique aleijado!
  Quando chutei a porta do quarto deles, os dois pareceram bem surpresos. Acho que não é todo dia que uma garota arromba a porta dos irmãos Winchester com um único chute. Eu sei, espetacular. Sempre tive chutes potentes, obrigada. Foi assim que eu fui a capitã do time de futebol três anos seguidos.
  - Muito bem, senhor engraçadinho. Onde quer levar o tiro? - Apontei minha pistola para ele, que não pareceu muito convencido com a ideia. Até eu destravá-la.
  - ...
  - Cale-se ou atiro em você também, Sam! - Olhei novamente para Dean, que estava com um riso debochado nos lábios.
  - Você não vai atirar, .
  - Fale isso de novo e eu faço você virar um eunuco! - Minha voz que geralmente era rouca e baixa estava muito diferente, ainda rouca, mas aguda e muito alta.
  - , abaixe isso. - Sam pedia, com sua voz calma, mas urgente.
  Eu cheguei bem perto de Dean, abaixando minha pistola aos poucos. Quando ele achou que estava abafando, caiu para trás com o soco que eu dei em seu queixo.
  - Porra, ! - Dei de ombros. Ele deveria estar feliz que era apenas um soco e não uma bala nas entranhas, como eu queria que fosse. - Isso doeu!
  - Não era a minha intenção. - Olhei para Sam, que parecia dividido entre o choque e a vontade de rir. - E então? Pauline?
  - Fugiu. - Murmurou o Winchester que não estava se olhando no espelho para checar o dano que meu soco havia feito.
  - Fugiu? - Me virei para Dean, que reclamava baixo. - Você deixou a vadia fugir?
  - Bom, tinha uma outra vadia com a cabeça sangrando, então... - Avancei para ele novamente, mas Sam se meteu entre nós.
  - Repete isso, Wichester! - Meu dedo coçou para apertar o gatilho.
  - Tudo bem, crianças, vamos acalmar os ânimos. - Ele me olhou. - Você vai se acalmar e você - ele apontou Dean - vai parar de reclamar do soco.
  - Ela tem uma mãozinha bem forte para uma garota. - Ele comentou, ainda esfregando o queixo.
  - Tudo bem. - Esfreguei a testa, estava com um pouco de dor de cabeça. - Vamos observar Pauline. Quando ela bobear, atiramos nela.
  Eles se entreolharam. Eu sei, pareceu muito frio. Quem disse que eu me importo?
  - Atirar nela enquanto ela ainda é humana?
  - Só até a lua cheia aparecer, além do mais eu tenho algumas coisas naquele maldito porta-malas que pode ajudar. Vocês sabem, material de limpeza e luvas.
  - Parece um bom plano. - Dean pareceu surpreso e colocou as duas mãos nos bolsos da calça.
  - Um bom plano? Matar uma mulher assim?
  - Um lobisomem. E é mais fácil matá-la agora do que quando ela começar a pular e bater a cabeça das pessoas por aí. Pensa nisso como um investimento a longo prazo, Sam.
  Ele me olhou torto, como se quisesse dizer algo malcriado. Bom, vá em frente, Sammy, não há um palavrão neste mundo que eu já não tenha ouvido ou falado.
  - Então temos que bolar uma armadilha. - Ele disse, finalmente.
  - Eu tenho uma. Eu arrombo a porta, arrasto a loba pelos cabelos e dou um tiro no peito dela. Depois podemos salgar e queimar o corpo, só para prevenir.
  - Você é pirada.
  - Obrigada, Dean.
  - Não queremos dar um show para os vizinhos, então acho que tenho uma ideia melhor. - Sam nos olhou e rolou os olhos.

  Dean's POV
  Você simplesmente não consegue se concentrar quando tem uma gostosa na sua frente com uma saia tão justa que parece até que foi costurada com ela dentro.
  - Dean, você está me escutando?
  Droga, ela me pegou.
  - Não, desculpa.
  - Da próxima vez, tenta olhar a minha bunda e me ouvir ao mesmo tempo. - Ela parecia irritada, com as sobrancelhas franzidas para mim.
  - Vou fazer isso.
   rolou os olhos.
  - Estou dizendo que a líder de torcida descerebrada está saindo e a mamãe Lobo vai ficar sozinha.
  - Vamos até lá? - Sam nos olhou, como se estivesse sendo esquecido. Bem, ele estava mesmo.
  Nós dois observamos Jenna sair andando e a mãe entrar em casa novamente, para sair segundos depois com uma bandeja de biscoitos.
  - Querem alguns, agentes? - Ela nos deu um sorriso assustador.
  Certo, ela definitivamente era assustadora.
  - Claro, mas que tal algumas balas para acompanhar? - abriu a porta rapidamente e acertou a mulher, jogando a bandeja e os biscoitos no chão. Ela a levantou sem muita delicadeza e a arrastou pelo caminho de pedras brancas que levavam à casa de Pauline Franklin e sua filha. Tchau, plano perfeito do Sammy. Nós nos entreolhamos e saímos correndo. Ainda bem que não tinha ninguém na rua, ou a estouradinha da teria nos posto na cadeia.
  Assim que chegamos lá dentro, Sam assustado e eu muito admirado com a caçadora, jogou a mulher no sofá.
  - Vamos lá, Mãe Monstro. - Eu olhei para ela, também apontando a minha pistola. - Vamos começar de novo: o que você sabe dos assassinatos do parque?
  - Vocês são loucos, eu vou chamar a polícia! - Ela tentou se levantar, mas a empurrou de volta.
  - Você tomaria um tiro antes de discar o 9. Cospe tudo logo e vamos acabar com isso de vez. A sua filhinha também é um lobisomem ou só você?
  - , talvez ela não saiba. Dean e eu já tivemos um caso parecido.
  Nós três olhamos a matrona que estava ali.
  - Ela sabe.
  - Com certeza. - concordou comigo e apontou a arma para ela, depois de colocar as luvas.
  - Olha, eu não queria isso, tudo bem? Eu não gosto disso! - Ela gritou, desesperada, chorando e tudo aquilo.
  - , você...
  - É mais difícil pra você quando elas choram, Sam? - Ela retrucou sem tirar os olhos da mulher que chorava, encolhida no sofá. - Pra mim não é. Eu odeio chororô.
  Ela realmente ficava assustadora daquele jeito. Estou começando a achar que ela poderia muito bem ter atirado em mim, hoje de manhã.
  - Ela tem uma filha, . Pense nisso.
  - Vai ser rápido e limpo, eu prometo.
  Foi só um tiro e aquela cidade nunca mais teria problemas com um lobisomem. disse que ia "limpar a cena do crime" e deixou conosco a tarefa de desovar o corpo, assim Jenna seria poupada da visão da mãe morta no sofá. Duas horas depois, nos encontramos no motel. Ela não estava mais com o Camry velho e nem parecia muito arrumada.

  's POV
  Eu sabia que precisava de uma cena do crime limpa. Da última vez que deixei minhas digitais por aí quase fui pega por furtar um carro. Daquela vez, eu havia me superado. Jenna chegaria em casa e simplesmente acharia que a mãe havia fugido com seu personal trainer ou sei lá o que esse tipo de gente faz. Olhei para trás, enquanto deixava a casa de tijolos sem uma mãe. Eu não era tão durona quanto as pessoas podiam pensar. Eu tinha um maldito coração. Um coração que se quebrava e endurecia a cada morte que eu causava. Não que isso importasse agora. Ninguém consegue sair dessa vida. Nem Lance, nem . Eles nunca conseguiram e agora ele estava morto. E eu estava fadada a ficar cada vez mais fria, havia no Inferno uma cadeira com o meu nome, bem ao lado do diabo.
  Era final da tarde e logo anoiteceria. Eu precisava esquecer daquilo, por isso fumei um maço de cigarros. Sozinha. Apenas enquanto estava em um bar, me embebedando e jogando sinuca com motoqueiros e caminhoneiros mal encarados.
  Um deles me chamou de doçura e tentou se aproveitar de mim nos fundos do bar, pensando que eu estava tão bêbada que não me importaria. Na verdade, eu me importava. Eu me importava para cacete. Com tudo: as caças e as mortes, comigo. Estava tarde e eu tinha que voltar para o motel. Dois socos e um chute em um órgão muito sensível da anatomia masculina o fizeram perceber que eu não era uma dessas garotas bêbadas desesperadas para me deitar com um cara qualquer de jaqueta de couro.
  Droga. Aquele carro de mamãe me deprimia cada vez que eu olhava para ele. Eu precisava me livrar dele agora e sair de Afton. Procurar um outro caso, matar mais alguma coisa, me afundar um pouco mais. Olhei ao redor, no estacionamento do bar de beira de estrada, tão incomum num subúrbio como aquele. Pousei meus olhos sobre o carro mais legal dali: um jipe Grand Cherokee, preto e perfeito para mim. Que tipo de cara tinha um carro desses? Isso, tinha, porque a partir de agora ele seria meu. Foi, na verdade, bem fácil roubá-lo. Não é como se ele tivesse alarme. A parte mais demorada foi tirar tudo de dentro do carro da mamãe e passar para o meu novo carro. Isso seria demais. Era um carro que impunha respeito. Eu não me separaria dele por nada.
  Quando eu cheguei ao motel, não pensei em tomar um banho ou trocar meu terninho de agente do FBI, apenas bati na porta dos Winchester, pensando em como seria divertido arrombar a porta novamente.
  - Você está um lixo.
  - Sempre delicado, Dean. - Sorri para ele. - Escuta, a cena do crime está limpa: sem digitais, vestígios de sangue... Você sabe, todas essas coisas que o CSI usa para achar os culpados.
  - Bom saber. - Ele deu um gole na cerveja que estava na sua mão. - Então, que carro é aquele? - Ele apontou meu novo jipe pela janela, notei que Sam também me olhava como se também estivesse curioso.
  - É meu novo carro. Acabei de roubar. Por isso não tenho muito tempo. - Coloquei uma mão na nuca e olhei em volta. - Bem, rapazes, eu estou partindo. A polícia deve ir atrás do carro logo e eu não quero ser presa. Eu só vim fazer o check out e pegar minhas coisas.
  - E para onde você vai? - Sam me olhou de sua cama, com seus olhos de filhotinho de cachorro.
  - Para o Roadhouse, encontrar meus ex-companheiros de equipe. Depois... - Dei de ombros. - Vou para onde a estrada me levar.
  - O mesmo para nós. - Dean me informou. Me desviei dele e fui até Sam.
  - Foi legal caçar com você, grandão. - Desajeitadamente, me abaixei para abraçá-lo. Ele pareceu surpreso no início, mas logo retribuiu, me deixando sem graça.
  - Digo o mesmo, .
  Me afastei dele e olhei Dean. Quando ele percebeu que eu falaria algo com ele também, se aprumou todo, como se fosse um pavão, e me deu um de seus sorrisos sedutores.
  - Você até que não é ruim. Como caçador. Mas se inventar qualquer coisa sobre mim de novo vai ficar sem as bolas, entendido? - Estendi minha mão para ele, que a olhou, bufando. Então eu o puxei para um abraço. Não é como se eu quisesse apertar a mão dele, de qualquer maneira.
  - Nem você.
  - Vejo vocês por aí, rapazes. - Finalmente fui até o meu quarto e peguei minhas duas malas. A viagem ao Roadhouse seria longa e cheia de maços de cigarros vazios no chão do carro.

  's POV
  Já fazia uma semana desde que eu havia ligado para contando sobre Lance. Noah havia sido um amigo perfeito e aguentado minhas crises de choro, mas, no final, eu tinha que contar a ela. e Lance não eram só amigos ou grandes amigos. Eles foram mais que isso, embora eu tentasse esquecer. Lance e foram namorados. E foi por causa dele que havia se tornado uma caçadora. Por causa dele e Noah, que começaram a caçar muito cedo, ela havia entrado para o ramo também. Foi forçada a entrar no ramo ao ver seu irmão quase morrer nas mãos de um vampiro, até arrancar a cabeça dele com um tiro de espingarda. Noah me contou a história, bêbado, anos atrás, ele disse que foi uma baita sorte ter conseguido decapitar o cara com um tiro só. Eu cheguei depois que eles já eram um time e mesmo tendo roubado seu namorado, nunca me tratou mal. Ela parecia magoada, mas conversávamos durantes horas. E eu nunca a tratava mal. Um ano até ela jogar na minha cara que eu era uma vagabunda. Dois, até ela decidir sair da equipe. Três, até que ela realmente saiu. Éramos grandes amigas, mesmo assim. Ela se separou de nós porque achou que fosse melhor, achou que fosse manter seus bons sentimentos por mim intactos.
  - Está no mundo da lua, garota?
  Ellen podia ser considerada uma mãe. Anos atrás, quando eu ainda nem pensava em caçadores e Lance, Ellen havia me abrigado aqui, no seu bar. Aos poucos, fui me acostumando com todo o surrealismo que representava, pra mim, haver realmente coisas como fantasmas e vampiros. Foi ela que me apresentou a , Lance e Noah. Eu, uma garotinha assustada com medo do escuro me transformei em uma caçadora também. A vida dava voltas e voltas, não é? Acariciei o focinho de Joy distraidamente.
  - Estava pensando. Sobre e eu.
  - Eu sinto falta daquela garota. - Ellen me confidenciou com um sorriso. - Ela vem?
  - Deve estar chegando à noite, pelo que ela me disse.
  - está vindo? - Jo não parecera muito feliz com a informação. Ela e nunca haviam se dado bem, principalmente depois que ganhou quinhentos dólares de Jo no pôquer.
  Eu não podia contar a elas sobre os meus sonhos ou as dores de cabeça, ainda que Noah se mostrasse preocupado comigo. Eu não podia contar a nenhum deles, mas eu sentia que podia falar com a . Ela nunca me trataria como uma aberração. Eu precisava dela mais do que nunca.
  À noite, quando eu já ajudava Jo e Ellen no bar, senti seu cheiro característico de cigarros, perfume cítrico e uísque. Ela veio até mim com um copo redondo na mão, me olhando com uma expressão dividida.
  - Você não mudou nada nesses dois anos. Ainda usa vestidos e botas de cowboy. - Ela disse em tom de riso. Deus, como eu senti falta da sua voz rouca.
  Eu não era tão envergonhada. Larguei a flanela com a qual eu secava os copos e me joguei sobre ela, abraçando-a forte. Meu rosto já estava inundado de lágrimas.
  - Você sabe que eu odeio chororô. Vamos embora. - Ela me arrastou até um canto vazio do bar. De longe, Ellen nos observava carinhosa.
  A apertei contra mim e ela resmungou dizendo que sua bebida iria derramar. Acariciei seus cabelos e sorri, mesmo em meio às lágrimas.
  - Tem tanta coisa que eu tenho que te contar, ! Só você pode me ajudar!

Capítulo. 05

  's POV
  - Pesadelos?
  - Desde que você nos deixou. - Eu a encarei. - É meio assustador.
  - Mas que tipo de pesadelo? O tipo sem noção ou o tipo real? - Eu a olhava atentamente.
  - O tipo real. Eu juro, é tão... Aterrorizante. - respirou fundo e não me olhou nos olhos. - Eu sonhei com você e Lance.
  Falar de Lance me deixava emocionada e eu rapidamente bloqueei qualquer lágrima que quisesse me envergonhar. Qual é, aquele filho da puta nunca mereceu isso.
  Ora, quem eu estou enganando? Eu o amava. Amo.
  - Eu jurava que era algo sobrenatural - Suspirei. - Graças a Deus não tenho que matar você.
  - Me matar? Por causa de sonhos? - Ela fez uma careta e eu quase ri. e eu tínhamos a uma diferença de dois anos de idade, mas ninguém nunca diria isso vendo o jeito como ela se veste ou como seus cabelos platinados e perfeitamente arrumados em duas tranças lhe davam a aparência de uma colegial. Alguns até diriam que ela não tinha mais que 18 anos.
  - Eu não sei. Há muita coisa estranha acontecendo. Nesse ano, parecia que cada lugar que eu ia tinha algo a ser caçado, um trabalho a ser feito. Você não tem a mínima ideia de quantos demônios eu já exorcizei este ano. Sei quase os exorcismos de cabeça. - Reclamei, bebendo outra dose de uísque. - Quem sabe o que pode estar acontecendo? Parece algo grande. Você e Noah não notaram nada parecido?
  Olhei meu irmão, do outro lado do bar, bebendo com algum outro caçador e lançando olhares nada discretos para Jo, a garota mais fresca e inútil que eu tive o desprazer de conhecer. Ela não perdeu a chance de me provocar, mas como não queria apanhar (de novo), simplesmente voltou ao trabalho.
  - Bem, tem mesmo havido um aumento desses nossos "servicinhos", mas é normal. Essas coisas continuam voltando, certo?
  - Não é algo normal. - Apaguei meu cigarro no cinzeiro de alumínio à minha frente e decidi que era hora de mudar de assunto. - Conheci os Winchesters no meu último trabalho.
  Ela arregalou os olhos verdes escuros, que já eram grandes, e sorriu de um modo divertido. Aquilo pareceu despertar um pouco a aura de tristeza que a envolvia.
  - O que aconteceu? Você caçou com eles?
  - Sim. Não foi nada demais. Eles são tão bons quanto nós.
  - Não são, não! Você só quer me deixar curiosa! Me diga logo! - Agitou meu braço feito uma criança birrenta e me esforcei para não rir.
  Contei a ela sobre a minha aventura, sem omitir a minha concussão e as brigas com Dean.
  - E o Dean é tão bonito quanto eu ouvi falar?
  - Um pé no saco, se quer saber. - Acendi outro cigarro e ela ainda me encarava com um sorriso especulativo. - Tudo bem, ele é um pé no saco bonitinho.
  - E quando eu vou conhecê-lo?
  - Quem sabe? Espero não vê-los nunca mais. - Levei a mão desocupada ao talho na minha testa.
  - Claro, esqueci que você não se envolve.
  Um silêncio estranho tomou conta de nós duas quando ela se deu conta do que tinha dito. Eu não me envolvia com ninguém desde Lance. Ela sabia disso tão bem quanto eu. Evitei falar sobre ele até agora e posso continuar fazendo isso.
  - O que você quer comigo, ? - Eu a olhei seriamente.
  - Pensei que você soubesse.
  - De quê?
  Ela mordeu o lábio inferior e olhou Noah, que ainda conversava com Jo. Ela não parecia feliz, mas ele só gostava de incomodar mesmo. Ainda nem tinha vindo falar comigo e olha que éramos gêmeos. Quer dizer, toda aquela bobagem de uma superligação? História para boi dormir. A única ligação que nós temos é a de sangue, mas não porque queremos.
  - Eu estava pensando que poderíamos voltar a caçar juntos. Nós três.
  - Não. - Traguei meu cigarro e levantei, deixando-a sozinha.
  - Qual é, ! Lance está morto! Se não nos juntarmos novamente, quem sabe quem será o próximo?
  - Eu vou tentar a sorte. - Ela entrou na minha frente antes que eu saísse do bar, como estava pretendendo fazer.
  - Algum problema, garotas? - Noah parou ao nosso lado, nos olhando cuidadosamente, Jo estava atrás dele, nos mirando com expectativa.
  Meu irmão, assim como eu, era alto e bronzeado, com cabelos negros, mas tinha olhos normais. Os dele eram verdes. Só verdes. Ele tinha um corpo atlético e musculoso e o cabelo cortado bem curto.
  - Ninguém falou com você, Noah. - Olhei os dois com desgosto e mágoa. Eu não queria voltar. Era bom vê-los, mas eu não queria voltar. Quanto a Jo... Bem, seria ótimo puxar o cabelo dela, mas a ignorei.
  Contornei os três até que disse algo interessante.
  - Eu estava mentindo sobre os sonhos. - Ela parecia mais pálida do que nunca e tinha os olhos cheios d'água.
  - Como é? - Noah também parecia surpreso. Aquilo era sério.
  - Eu vou te contar tudo do começo. Vamos para o meu quarto.

  's POV
  Eu não acredito que eu finalmente ia contar aquilo a alguém. Eu havia desistido de contar a ela quando vi seu olhar, lá no bar, mas agora eu tinha que dizer. Ela não podia me deixar! Joy, que estava sentada em cima da minha cama, rosnou para ela.
  - Ainda não acredito que você anda com essa cadela.
  - Não fale assim da Joy.
  - Bom, alegria¹ é a última coisa que eu sinto quando vejo essa cachorra. - Ela me olhou e parece ter se lembrado quão sério deveria ser a nossa conversa. - Me fale de tudo.
  - Eu tenho tido essas dores de cabeça há alguns meses. E agora começaram alguns sonhos. Deus, ! Aquele homem! - Comecei a chorar, mas continuou no seu lugar. Em outros tempos, ela teria me abraçado e me consolado, agora, esperava para ver se eu era uma aberração. Eu entendia.
  - Que homem? - Ela fez Noah esperar lá fora. Eu não queria que ele soubesse.
  - Um homem de olhos amarelos. Ele disse que tem planos para mim. - Esfreguei meu nariz, que já devia estar vermelho.
  - Calma, são só sonhos e algumas dores de cabeça. Não tem nada demais nisso.
  Mordi o lábio, apreensiva. Se eu já tinha começado a contar, deveria contar tudo.
  - Não é só isso. Eu... Posso fazer coisas.
  - Coisas? - Ela arqueou as sobrancelhas. - Que tipo de coisas?
  - Eu... É que nada me atinge, sabe. - Ela simplesmente ergueu as sobrancelhas.
  Respirei fundo. Eu tinha que mostrar.
  - Me ataque.
  - O quê? O que você anda fumando?
  - Só... Me ataque. Atire em mim.
  - Você está bêbada?
  - Atire em mim!
  Bufando, ela apontou sua arma para mim. Mirou no meu ombro e respirou fundo.
  - Se eu acertar você com esse tiro, você vai se virar para ir ao hospital, entendeu bem?
  - Só faça isso!
  Ela destravou a pistola e atirou. A bala parou antes de chegar em mim e caiu no chão, intacta.
  - Mas o que... - Ela olhou a pistola e a bala, depois, olhou para mim. - Marie , que diabos aconteceu aqui?
  - Eu disse para você. Nada pode me atingir. É como eu venho sobrevivendo nos últimos meses.
  - Como assim? Nada? Nem fogo, nem facadas...? Nada?
  - Está interessada em me matar, por acaso?
  Ela ainda estava de boca aberta. Ela ficou de boca aberta por dois minutos até ouvirmos batidas na porta e a cabeça de Ellen aparecer na porta.
  - , o Winchester está no telefone com o Ash e quer falar com você.
  Ela piscou um par de vezes antes de finalmente murmurar um "okay" desanimado.
  - Quando eu voltar, nós vamos continuar a nossa conversa, entendeu?

  's POV
  Ash me olhou com admiração, seus olhos passeando pelo meu corpo inteiro. Ele é simplesmente nojento. Rolando os olhos, atendi o telefone.
  - O que você quer, Winchester?
  - Ash me contou que você estava aí.
  - E o que você quer com o Ash?
  - Não é da sua conta. - Ele bufou.
  - Então me diz por que mandou me chamar. Talvez isso seja da minha conta, certo? - Eu estava ligeiramente bêbada, amargurada com a morte do único cara que eu já amei e perplexa com o fato da minha melhor amiga ter se tornado o Neo².
  - Um amigo meu rodou uma pesquisa e parece que a sua amiguinha perdeu a mãe em um incêndio em um berçário, estou correto?
  Meu coração pulou uma batida.
  - E qual o problema nisso?
  - Aconteceu a mesma coisa com a nossa mãe.
  - Ainda não vejo...
  - Ela tem poderes? - Tem! Eu quis gritar: ELA É A PORRA DE UMA JEAN GREY³!
  - Que tipo de poderes? - Olhei meu relógio.
  - Ela tem ou não, ? - Ele gritou, irritado e eu me assustei.
  - Ela tem, tudo bem? Foda-se isso, o que você quer?
  - Cuide dela.
  - Winchester, qual é a porra do seu... - Antes que eu pudesse terminar de xingá-lo, a ligação caiu. - ASH!
  Ele apareceu em dois minutos e eu tirei uma faca da minha cintura, apontada diretamente para ele.
  - Você vai me dizer tudo o que você disse para o Winchester ou eu corto a sua língua fora.
  - Tudo bem, tudo bem, doçura. Eu vou te mostrar tudo.
  Em poucos minutos, ele me explicou sobre os sensitivos e o padrão. Falou sobre um demônio de olhos amarelos e tudo que os Winchester sabiam até agora.
  - Mas por que agora?
  - Porque Sam sumiu. - A cadela de , Joy, veio correndo, ganindo e chorando. Aquilo não parecia bom.
  Corri para o quarto de e ela não estava lá. Desapareceu. A única coisa que estava lá era a sua cadela inseparável, agora do meu lado, e enxofre. Era a confirmação das palavras de Ash. Quando eu saí do Roadhouse, dois minutos depois e carregando uma cachorra mal humorada, sabia que estava entrando em alguma coisa muito maior do que eu já havia enfrentado na vida. Um esquema complexo demais com um demônio maníaco marcando crianças aparentemente aleatórias como Sam e , dando a elas poderes. O que ele estava querendo com isso eu não fazia ideia, mas eu tinha que impedir. Pela vida de . Pela vida de Sam.
  - Noah, você vem comigo?
  - Vou procurar pela , mas não com você. - Ele checou uma shotgun e me olhou enviesado. Eu sabia que se eu não fosse sua gêmea, ele atiraria em mim sem pensar duas vezes.
  - Eu não sei por que você me odeia tanto. - Murmurei. - Mas temos que achá-la.
  Ele concordou comigo pela primeira vez em muito anos. Tínhamos que salvar a , era quem nos mantinha unidos e quem nós dois amávamos. Encontrei Winchester e mais um caçador mais velho no meio do caminho. Eles me pararam e eu tive que estacionar.
  - De onde você...
  - Eu sei de tudo, okay? Do demônio, dos sensitivos. Eles raptaram a , eles raptaram a minha melhor amiga, Dean! E não vem me enrolar, porque sei que o Sam sumiu também.
  - ...
  - Nem vem! Não adianta me dizer que uma coisa não tem nada a ver com a outra porque isso está claro como a água. O que vocês sabem? Estão procurando por eles?
  - Eles podem não estar juntos.
  - Conta outra, Dean!
  - Nós estamos trabalhando nisso, tá bom? Ash nos ligou e disse para irmos até lá. - O caçador mais velho disse, me medindo de cima a baixo.
  - Ele não me disse nada quando eu saí de lá. - Cruzei os braços e empinei o queixo.
  - Deve ser porque a informação é para mim. - Ele rosnou e me olhou enviesado.
  - Não adianta nós ficarmos aqui. Eu estou nessa com você, Dean, e Deus te proteja se você disser que eu não vou ajudá-los!
  - Sua namorada é bem esquentadinha. - Bobby sorriu para nós dois.
  - Ela não é minha namorada.
  - Mas bem que você queria, não é? - Nos encaramos por alguns segundos, até cada um entrar em seu carro.
  Dei meia volta para o Roadhouse, apenas para encontrá-lo queimado. Todo queimado. Deus sabe quantas pessoas haviam morrido ali. E pensar que não fazia nem meia hora que eu tinha saído de lá.
  - Isso não faz sentido. - Eu resmungava, olhando em volta. Para cada viga caída, cada corpo queimado. Ainda bem que Noah já havia partido também. Eu não aguentaria ver meu antigo time exterminado em tão pouco tempo.
  - Meu Deus. - Bobby também olhava em volta, transtornado.
  - Viu a Ellen? - Dean também não conseguia tirar os olhos de toda aquela destruição. Era impossível um bar daquele tamanho queimar daquele jeito em tão pouco tempo.
  - Não. - Bobby respondeu.
  Eu havia perdido a minha voz. Aquele lugar havia sido completamente queimado. Tudo estava destruído. O lugar para o qual eu sempre voltava para tomar um uísque com os meus amigos, onde nós trocávamos histórias. O quarto onde eu já dormi, bêbada, tantas noites.
  - Nem o Ash.
  Mas a sensação de que Ash ainda estava vivo durou pouco tempo. Dean se abaixou para ver um cadáver. Um cadáver completamente carbonizado que usava o relógio de Ash.
  - Ah, Ash! Que droga!
  - Tudo bem. - Eu passei a mão pelo meu cabelo, preso em um rabo de cavalo. - Tudo bem. - Respirei fundo e olhei para os outros caçadores. - Estamos fodidos.

  ¹ Joy, em inglês, significa felicidade, alegria.
  ² Thomas A. Anderson (apelidado como Neo) é um personagem fictício dos filmes The Matrix, que, em uma cena, para várias balas que iam em sua direção.
  ³ Personagem da Marvel que aparece em X-Men e tem poderes telecinéticos e telepáticos, entre outros.

Capítulo. 06

  's POV
  Eu acordei com a cabeça doendo e um chão cheio de pedrinhas incomodava as minhas costas. Eu estava toda dolorida e a última lembrança que eu tinha era a de me dizendo para ficar onde estava, que ela ia voltar. , onde ela estava?
  - ? ?
  Eu me levantei e olhei ao redor, mas não havia ninguém. Não tinha ninguém na rua e ninguém nas casinhas de madeira apodrecida que eu olhei. Não tinha nada e aquilo estava me assustando de tal maneira que eu começava a hiperventilar. Quer dizer, a não ser que eu estivesse naquele filme "Jumper", essa porra não fazia nenhum sentido!
  - Ei! Você aí!
  Virei-me na direção da voz. Tinha três rapazes e duas garotas. O rapaz mais alto foi o que me chamou. Senti duas coisas: alívio por não estar sozinha e medo por não conhecer aquelas pessoas.
  - Quem são vocês? Que lugar é esse? - Procurei minha arma na minha cintura, mas meu revólver não estava ali. Nem a minha faca de prata.
  - Eu sou Sam, e você? - Ele tinha uma voz calma e relaxante. Algo que me deixava menos nervosa, mas ainda muito alerta.
  - , mas me chame de . Que lugar é esse, Sam?
  Ele bufou e olhou os outros, que ainda me observavam de cima a baixo.
  - Eu não sei. - Ele me olhou atentamente.
  - Eu estava no bar de uma amiga e agora...
  - Eu estava em San Diego, um minuto atrás. - A loira disse, parecendo tão surpresa quanto qualquer um de nós.
  - Se isso te faz se sentir melhor, eu fui dormir no Afeganistão.
  Okay, isso é ainda mais esquisito do que os meus recém-descobertos poderes telecinéticos.
  - Deixa-me adivinhar: todos vocês têm 23 anos? - Eu, o negro alto com a roupa do exército e a emo loira nos olhamos. - Todos nós temos e todos nós temos habilidades. Começou cerca de um ano atrás e vocês descobriram que conseguiam fazer coisas que nunca pensou serem possíveis. Eu tenho visões. - Ele pousou seus olhos em mim. - Eu vejo as coisas antes delas acontecerem.
  - Eu também. - A garota morena perto dele concordou.
  "Eu tenho planos para você", era sobre isso que o homem de olhos amarelos falava? Me trancar em uma porra de uma tentativa falha de um reality show macabro? Não, obrigada. Não estou a fim.
  - Eu posso colocar pensamentos na cabeça das outras pessoas. - O mais esquisito de nós falou. - Mas acho que não funciona com vocês. - Ele ainda contou uma história sobre um pervertido e como ele enfiava imagens de pornô gay na cabeça do cara porque ele também conseguia enviar imagens para as pessoas, telepaticamente. Ele era, definitivamente, um esquisito.
  - Eu... Não posso ser atingida por nada. - Dei de ombros.
  - Visões? Legal, eu mataria por algo assim. Não ser atingida por nada, que bom para você! Eu toco as pessoas e o coração delas para!
  Sam ainda tentou acamar a garota, mas não havia nada que ele dissesse que ela pudesse aceitar. Parece que seu dom não era tão bom. Ela matava as pessoas com um toque. Bom, eu tenho certeza que acharia um bom uso para isso.
  Depois de discussões e as perguntas filosóficas como: por que nós? Quem nos trouxe aqui? Com que razão? Eu já estava entediada. Até Sam falar o que ele falou nos segundos seguintes.
  - Não é quem, é "o que". É um demônio.
  Os outros não acreditaram, mas eu sabia que era real. Eu já havia caçado e mandado alguns de volta para o inferno. Arregalei meus olhos para Sam, que pareceu compreender a situação: de todos eles, só nós dois sabíamos dos perigos reais. Ou ele era um caçador, ou um estudioso do assunto. Pelo porte, eu diria que era um caçador. E ele deve ter feito a mesma conclusão sobre mim. Ou não. Eu com certeza não imaginaria que uma mulher de pouco mais que um metro e meio é uma caçadora.
  Lily, a emo homicida, não acreditou. Os outros ainda nos olhavam como se fôssemos loucos. Eu apenas olhei Sam com mais afinco.
  - Prazer, . Caçadora, vinte e três anos, aberração com poderes esquisitos. - Ele apertou a minha mão meio surpreso.
  - Sam Winchester, caçador, vinte e três anos e todo o resto. Você...
  - Uau, espera. Sam Winchester? Cara, eu conheço você! - Eu me esqueci da situação em que estávamos. Você sabe, cinco esquisitos com poderes em um joguinho de vida ou morte, pelo que parecia. - Quer dizer, mais ou menos, você caçou com a minha ex-parceira, ! Tudo bem, talvez ela não seja mais a minha ex-parceira, porque ainda não conversamos sobre isso, mas...
  - Calma. ? era a sua parceira? - Ele devia estar assustado. Eu geralmente falo muito quando estou com medo ou nervosa.
  - É. Eu a chamo de . Ela é bem durona. Vai achar a gente. Onde está seu irmão, ele está aqui com você? - Continuei falando, nervosa.
  - Meu irmão também deve vir por mim. O problema vai ser como eles vão nos achar.
  Olhei em volta. Era um grande problema.
  - É, esse lugar não se parece com nenhum outro onde eu já tenha estado. Você conhece esse lugar?
  - Não...
  Sam começou a explicar a situação, pelo que ele sabia até agora. Talley, o soldado cujo nome eu lia no uniforme, não parecia muito contente.
  - Então somos soldados numa guerra demoníaca para causar o Apocalipse?
  Bem, ele já estava vestido como um soldado, então... Sam ainda tentou argumentar, mas o cara era bem cabeça dura.
  - Por que nós?
  - Com certeza não é pela nossa beleza. - Murmurei enquanto me abraçava. Aquele lugar estava me dando arrepios.
  - Eu não sei ao certo. - Sam respondeu a ele. Ele parecia ter o controle da situação. Ri, pensando que jamais aceitaria algo assim.
  - Sam, desculpe. - Ava começou a falar, nos olhando timidamente. - Paranormais e entortar colheres é uma coisa, mas demônios?
  - Sei que parece loucura! - Ele me olhou, buscando apoio, mas eu ainda estava chocada demais para pensar.
  - Só parece uma ova! - Talley voltou a falar.
  - Não estou nem aí para o que você pensa! Se estamos aqui juntos, significa que está começando e temos que...
  - A única coisa que eu tenho que fazer é ficar longe de gente louca. Já ouvi o bastante, fico melhor sozinho.
  - Hey! - Louca? O cara é transportado do Afeganistão para cá, sem motivo aparente e sem saber como, nega a existência de demônios e eu que sou louca? - Se você quiser continuar na sua bolha de negação é problema seu, mas se me chamar de louca de novo...
  - Vai fazer o quê, baixinha? - Ele me olhou de cima a baixo.
  - Talley, essa porra de guerra é real. - Agora eu estava realmente nervosa. Provavelmente estava corada. - Eu não estou aqui de férias e, se fosse assim, eu teria escolhido um lugar melhor. Todos nós estamos aqui por causa de uma razãozinha de merda, mas que pode nos matar. Se você quiser ficar sozinho é problema seu, você está sob o seu próprio risco agora.
  Passou perto de mim andando pesado e não adiantou Sam chamá-lo de volta. Winchester me olhou como se eu tivesse feito algo errado, mas não disse nada. E nem era bom dizer.
  - Eu acho melhor alguém ir atrás dele. - Murmurei, por fim, olhando para Sam por entre meus cílios. - Esse idiota vai acabar se matando.
  - Você cuida deles? - Ele parecia dividido.
  - Só vai atrás do esquentadinho.
  Sam foi atrás do grandão e eu olhei para os outros sensitivos que ficaram comigo. A emo loira, Lily; o esquisito maconheiro, Andy; a histérica metida a engraçadinha, Ava e eu, a caçadora com o coração partido. Isso seria um bom reality show. Eles se entreolharam e depois me olharam longamente. Eu achava melhor não deixar Sam e o idiota sozinho.
  - Quer saber? Vamos atrás deles.
  Chegamos a tempo de ver Sam espantar um demônio que, provavelmente, tentava matar Jake Eu-sou-o-dono-da-verdade Talley.
  - Para a sua informação, aquilo era um demônio. - Ele explicou para o soldado, que parecia ainda estar muito chocado. E provavelmente precisando de uma muda de calças, se é que você me entende.
  Olhei para os outros.
  - Acreditam em nós agora ou alguém precisa morrer pra isso? - Cruzei os braços, me sentindo injustiçada. Eu estava só tentando sobreviver, como eles. Eles deviam confiar mais em mim. - Aliás, era um Achiri.
  - Um demônio que se disfarça de menininha. - Sam completou, me olhando admirado. Dei de ombros e me virei para observar melhor o lugar. Parecia uma cidade fantasma, como se as pessoas tivessem desaparecido dali de uma hora para a outra. - Isso ainda não explica onde nós estamos.
  - Em uma cidade cheia de demônios. - Ele assentiu e olhou para Andy.
  - Andy, você está comigo ou não?
  - Um momento. - Ele pediu. - Ainda estou digerindo aquela parte de "demônios são reais".

  Nós andamos por mais alguns minutos, até Sam parar. Havia um sino esquisito, com alguma figura gravada. Eu não podia ver o que era de onde eu estava.
  - Eu já vi esse sino antes. Acho que sei onde estamos agora. Cold Oak, Dakota do Sul.
  - Você quer dizer o lugar que era tão assombrado que todos os moradores simplesmente saíram correndo? - Olhei para os lados.
  - Joia. - Ava não parecia muito feliz com as informações. - É legal saber que estamos em um lugar tão histórico.
  - Fale por você. Eu ouvi muita coisa sobre essa cidade. Quero saber sobre tudo. - Fui até o sino, analisá-lo de perto. Quer dizer, , eu e os garotos nunca passamos por aqui antes. Parecia um lugar interessante para se ver, se você tivesse um arsenal para matar monstros e essas coisas.
  - Por que raios aquele demônio ou sei lá o que nos colocou aqui?
  - Estou me perguntando a mesma coisa. - Sam respondeu.
  - Quer saber? Não importa. A única coisa sensata a se fazer é dar o pé daqui.
  - Lily, o único caminho para fora é andar quilômetros pela floresta.
  - Melhor do que ficar com demônios. - Ela respondeu.
  Claro, se fosse tão fácil sair dali não teria graça. Se estávamos mesmo presos ali por causa de algum demônio, ele não ia facilitar o jogo dessa maneira, certo?
  - Nós não sabemos o que está acontecendo ou quantos deles estão por aí, certo?
  - Sabe, o Sam está certo, o que nós temos que fazer é... - Tentei me pronunciar, mas a atormentada resolveu gritar comigo.
  - Não diga "nós"! Não sou parte desse "nós"! Não tenho nada a ver com nenhum de vocês.
  - Exceto ser uma aberração com poderes paranormais, como o resto de nós! - Gritei de volta.
  - , acalme-se. - Ele se virou novamente para Lily. - Olha, eu sei...
  - Você não sabe de nada! Eu... Toquei na minha amiga sem querer.
  Imaginei se fosse comigo. Se eu tivesse esse tipo de poder e simplesmente encostasse na ou em Noah. Ou, ainda, na minha companheira Joy. Eu não deveria ter gritado com ela. Me sentia mal por ter feito aquilo.
  - Desculpe-me, Lily.
  - Eu sinto muito. - E Sam sentia. Ele parecia entender muito bem de dor.
  Ela nos olhou, ainda parecendo prestes a chorar.
  - Deixa pra lá.
  Rapidamente nos entendemos. Era um ambiente desconhecido e apesar de não confiarmos uns nos outros (tudo bem, eu confiava em Sam. Ele era quase um colega de trabalho) víamos que não tinha escolha. Juntos e vivos ou separados e mortos. E eu não queria morrer. Por um momento, me perguntei se , Noah e os outros estavam bem. Se eles não estavam, não restava muita coisa para mim, restava?
  Acordei para a vida com a voz de Sam.
  - Estamos procurando armas. Sal, ferro e prata. Qualquer coisa.
  - Sal? - Jake indagou.
  - É um Admirável Mundo Novo. - Respondi para ele.
  - Tomara que tenha comida nesse mundo novo, porque eu estou morrendo de fome! - Respondeu-me. Uau, o soldadinho tinha senso de humor!
  Entrei na casa atrás deles e me dispus a procurar com os outros. Andy, Jake e eu fomos para um cômodo enquanto Sam e Ava iam para outro. Achamos sacas de sal, o que fez Andy pular como uma criança que recebe um ótimo presente do Papai Noel.
  - Ótimo, Andy. Agora nós podemos... - Sam pareceu procurar alguém por um minuto. - Cadê a Lily?
  Ele tinha razão, eu não tinha visto a esquisita desde... Bem, desde que entramos na casa.
  - Lily? - Ava gritou e eu apenas olhei em volta. Eu sabia que isso aconteceria.
  Quando chegamos ao lado de fora, Lily estava enforcada em um moinho. Ava se desesperou, enquanto eu e outros encarávamos o corpo da garota. Era um aviso. "Não tentem fugir", era o que dizia.
  - Certo, isso é oficialmente... Sam, ela está morta! Morta! - Ela agarrou Sam pelo casaco, parecendo meio desesperada.
  - Já vimos isso, sabichona. - Rolei os olhos.
  - Vocês disseram que fomos escolhidos por um motivo! - Ela nos olhava agora, Sam e eu. - Aquilo não é ser escolhido! É ser morto! Temos que sair daqui.
  - Apoio a sua decisão. - Andy disse, sem tirar os olhos do corpo de Lily.
  - Não é uma opção. - Jake disse, também sem tirar os olhos do corpo da garota.
  - Não sei se você percebeu, Andy, mas Lily estava tentando ir embora. E foi isso que aconteceu com ela. - Apontei para a garota enforcada. - Não acho inteligente tentarmos fugir.
  - O demônio não vai nos deixar sair facilmente. - Sam completou nossos argumentos. Parece que estávamos nos entendendo, huh? Eu, Sam Winchester e Jake Talley. - Temos que nos equipar para o próximo ataque.
  - Equipar? - Ava continuou, mas eu a ignorei.
  - Vocês têm armas? Meu revólver e minha faca não estão comigo. - Me apalpei novamente, para ter certeza.
  - Bom, eu não sou um soldado! Não sei fazer isso! - Ela continuou. Francamente, eu só queria que ela calasse a boca por alguns instantes.
  - Se quiser ficar viva, é isso que vai fazer. - O Winchester caçula informou-lhe e, pela primeira vez, ela pareceu entender a gravidade da situação. - Vamos.
  Talley se ofereceu para tirar o corpo da Lily daquele lugar. Eu só queria minha espingarda de sal e minha faca de prata. E , Noah e Joy. Queria meu time comigo. Eu nunca havia caçado sozinha. Podia-se dizer que eu era o elo mais fraco do time.
  - Eu estava pensando em como Dean seria útil agora. - Ele me olhou. - Ou . Daria um braço por um telefone funcionando.
  - Talvez não precise de um. - Quando Andy explicou que ele poderia tentar enviar uma imagem para Dean, eu fiquei bem mais aliviada. Ele não era e nem Noah, mas era Dean Winchester. E iria até lá para salvar seu irmão, eu podia pegar uma carona nisso.

  's POV
  - Não temos como saber se Ellen está viva. Não temos nem ideia do que o Ash ia nos dizer, como vamos achar o Sam?
  - E a . - Eu o olhei enviesado. Eles não iam me deixar de fora.
  - Nós vamos achá-los. - Bobby, como ele disse que se chamava, tentou nos tranquilizar.
  Bobby e eu nos entreolhamos quando Dean começou a colocar as mãos na cabeça, seu rosto distorcido por algum tipo de dor.
  - Dean?
  - O que diabos foi isso? - Perguntei, me sentindo um pouco apavorada. Se Dean também tivesse poderes (o que parecia meio impossível, por causa do padrão), ele também poderia sumir.
  - Não sei, dor de cabeça?
  - Tem muitas dores de cabeça como essa? - Bobby perguntou a ele, parecendo, também, meio assustado.
  - Não. Deve ser o estresse. Poderia jurar que eu vi algo.
  - Tipo uma visão? - Perguntei, já interessada.
  - Como as de Sam?
  Ah, então era esse o poder do Sam. Essa era uma coisa que eu não sabia. Bom, acho que o poder dele é mais legal que o da .
  - O quê? Não!
  - Só estou perguntando!
  - Qual é, eu não sou sensitivo!
  Mas dessa vez a dor pareceu maior, porque ele se apoiou no capô de seu Impala. Corri para levantá-lo, mas acabei apenas apoiando as mãos nos ombros dele enquanto Bobby checava para ver se ele estava bem. Será que é muito inapropriado salientar que ele tem ombros bem fortes? Que interessante.
  - Está consciente? - Bobby continuava preocupado e eu percebi que não era hora para pensamentos impróprios.
  - Acho que sim.
  - Você viu alguma coisa agora? - Perguntei, tirando minhas mãos de seus ombros.
  - Vi o Sam.
  - Então foi uma visão.
  - Sim. - Ele concordou. - Não sei como, mas foi uma sim.
  - Uau! E como foi? - Era completamente errado fazer isso, ficar tão divertida com tudo isso. Mas eu estava. E morta de curiosidade para saber como era ter uma visão.
  - Tão divertido quanto levar um chute nas bolas.
  - Ouch. - Fiz careta. Bobby me olhou feio.
  - O que mais você viu? - Ele perguntou.
  - Tinha um sino.
  - Que tipo de sino? - Bobby e eu perguntamos em coro.
  - Um grande sino com algum tipo de gravura, sei lá.
  - Gravura? - Bobby parecia saber de alguma coisa. - Tipo uma árvore? Um carvalho? - E eu também, porque eu já ouvira falar disso. Eu só não sabia o que era.
  - Sim, exatamente.
  - Sei onde Sam está. - Ele afirmou, nos olhando com determinação.
  E tudo ficava cada vez mais estranho.

Capítulo. 07

  ’s POV
  Já tinha escurecido e meu humor não estava exatamente nas alturas. E olha que eu li Poliana¹ na adolescência e sempre tentava achar um lado bom para as coisas. Aparentemente estar em uma cidade infestada de demônios com médiuns malucos e morrendo de fome enquanto a morte balançava a foice sobre as nossas cabeças não tinha um lado bom. Sam e Jake ainda estavam procurando por armas e qualquer coisa que fosse nos ajudar. Eu era encarregada da secretária histérica e do esquisitão, nós estávamos cercando tudo com sal.
  - Hey, como você sabe dessas coisas? - Andy me perguntou, enquanto eu segurava um atiçador de ferro, para o caso de algum demônio conseguir ultrapassar a barreira de sal que fizemos.
  - Digamos que é o meu trabalho. Caçar esse tipo de coisa. - Embora eu nunca tenha estado sozinha, como estou agora. Então, apesar de não parecer, eu estou pirando, eu quis dizer.
  - Como o Sam?
  - É. - Dei de ombros. Eu terminei de fazer a linha de sal ao redor de uma janela e me certifiquei de que tudo estava "trancado". - Bom trabalho, Andy. - Dei um tapinha em seu ombro, como Lance costumava fazer comigo.
  Como de repente tudo havia mudado desse jeito? Que merda de mundo. Já não basta uma garota estar despedaçada por dentro, ela ainda tem que servir como joguinho para algum demônio entediado. Que mundinho mais filho da puta! Me sentei encostada a uma parede e fechei os olhos. Esperava dormir e descobrir que tudo foi um sonho. Mas eu sabia que não era. Já tive sonhos reais, mas aquilo não era um deles. Dormi em pouquíssimo tempo, talvez estivesse mesmo cansada.

  Fui acordada algum tempo depois por Sam, parece que Jake havia descoberto que Ava havia sumido. Talvez pareça algo malvado da minha parte, mas pelo menos não vou ter que escutá-la se lamentar. Nós nos levantamos e fomos procurar por ela. Andy ficaria a salvo na fortaleza anti-demônios.
  - Eu fico com o celeiro e o hotel. - Jake disse, nos olhando. - Sam fica com as casas.
  - E você fica comigo. - Sam me olhou nos olhos e eu dei graças a Deus. Eu não queria mesmo andar por ali sozinha. Mesmo que eu soubesse que tinha que ser forte e durona como a , aquilo era mais intenso do que qualquer outra caçada. Quer dizer, era o meu na reta.
  - Tudo bem! - Me agarrei ao braço de Sam, como eu fazia com Lance. Droga, eu não posso me lembrar dele a todo momento, mas acho que é natural. Passamos três anos juntos. A morte dele agora parecia surreal.
  - Nos encontramos aqui em dez minutos, okay? , vem comigo.

  Nós andamos em silêncio por alguns segundos, até que eu não consegui manter minha boca fechada.
  - Você deve estar pensando que eu sou algum tipo de covarde, não é?
  - Não, , claro que não. - E, embora ele dissesse isso, eu sentia que ele estava mentindo.
  - Que ótimo. Eu não sou, é sério. É só que eu estou acostumada a caçar acompanhada... Não que eu seja incompetente, mas... - Suspirei. - Isso é tão novo. Estar por minha conta. Ainda bem que você está aqui, Sam. De verdade. Eu estou surtando e você é sempre tão calmo e centrado! - Sorri para ele e ele retribuiu.
  Tive a impressão de que ele ia dizer alguma coisa, mas ouvimos gritos. Gritos histéricos que todos nós conhecíamos muito bem: Ava. Corremos até a direção dos gritos, por coincidência eles vinham da casa onde estávamos. Tudo bem, talvez não fosse uma coincidência. Ao chegarmos lá, o cadáver de Andy estava mutilado e Ava estava chorando. Droga, mais e mais mortes! Que saco!
  Espera... Não era possível. Nós rodeamos tudo com sal. O lugar inteiro. Não havia brechas. Talvez, aquela linha que alguém havia feito deliberadamente na janela.
  - Sam! Acabei de achá-lo assim!
  - O que houve? - Sam olhava com nojo e apreensão para o corpo estendido no chão.
  - Não sei! - Ela choramingou.
  - Como aquela coisa entrou? - Sam olhava para ela, encucado com algo.
  - Tente essa falha na linha de sal que nós fizemos mais cedo. - Apontei para a janela. - Quem fez isso, Ava? Você viu?
  Aquilo deixou o Winchester caçula desconfiado e eu também. Eu podia ser medrosa, mas não era burra.
  - Onde você estava? - Ele perguntou para ela.
  - Fui pegar água do poço, só fiquei fora dois minutos. - Respondeu-lhe com voz chorosa.
  - Você não deveria ter ido lá fora. Temos que ficar aqui, Ava.
  - Você ainda não me respondeu sobre essa falha na minha linha de sal, Ava. - Espantei todo o meu medo, meu coração palpitando forte e me denunciando. Eu odiava conflitos diretos, mas aquilo era sério. E eu precisava me livrar desse medo. Eu era uma caçadora ou um rato?
  - Eu não sei, talvez Andy tenha... - Ela começou, mas foi interrompida por Sam.
  - Andy não faria aquilo.
  - E aquela linha estava perfeita quando eu saí daqui. - Eu disse, olhando-a de cima a baixo.
  - O que é? Vocês estão achando que fui eu?
  - Vou lhe dizer o que eu acho. Cinco meses. - Sam disse, subitamente sério e assustador. - Você é a única que não sabe onde estava durante todo esse tempo. E aquela dor de cabeça que você teve... Foi logo depois da Lily morrer.
  - O que você está insinuando? - Ela olhou de mim para ele.
  - O que houve com você?
  - Nada! - Ela gritou. Então ela olhou para a minha expressão e para a de Sam.
  Sem perder tempo, ela secou as lágrimas e engoliu o choro falso. Depois disso, ela sorriu. A maldita psicopata sorriu.
  - Eu estava enrolando vocês muito bem, não estava? Sim. - Ela nos olhou com ar de superioridade. - Eu tenho estado aqui por muito tempo. E não sozinha. Vive aparecendo gente. Pessoas como nós. Grupos de três ou quatro, por vez. Dessa vez até mandaram uma a mais, hein? - Ela apontou para mim.
  - Você matou todos eles? - Dá licença, Sam, não sei se você percebeu, mas a garota é doidinha de pedra.
  - Sou a campeã invicta dos pesos pesados. - De novo a arrogância.
  - Meu Deus. - Sussurrei.
  - Deus não tem muita coisa a ver com isso.
  - Como você pôde? - Ele continuava perguntando. Por mim, eu poderia simplesmente acertar a cabeça dela com o atiçador e sair correndo.
  - Não tive escolha. Era eu ou eles. Depois de um tempinho foi fácil. Ficou até meio divertido.
  - Sua maluca desgraçada! - Berrei com toda a força dos meus pulmões.
  - Maluca? Não, eu só parei de resistir.
  - Resistir? - Sam perguntou. - A quê?
  - Ao que nós somos. Eu, você, a pequena . Se vocês parassem de esquentar tanto e se abrissem para isso, não sabem o que podem ser capazes de fazer! A curva de aprendizado é rápida! Os comutadores que abrem no cérebro são espantosos! Não acredito que comecei apenas com sonhos. Sabe o que eu posso fazer agora?
  - Controlar demônios. - O único homem do quarto cuspiu as palavras, com nojo.
  Olhei ao redor, procurando qualquer coisa para acertá-la quando aquela maluca quisesse nos atacar. Ou sei lá.
  - Você é rápido no gatilho. - Ela pôs as mãos na cabeça.
  Ah, não. Ela não vai fazer isso.
  - Sinto muito, Sam. - Eu podia ver a fumaça negra entrar pela janela. - Mas acabou. - Antes que ela pudesse completar o que ia fazer eu a acertei com o atiçador. A ponta de ferro entrou na sua nuca e ela caiu. Morta. Ela estava morta e o demônio tinha sumido.
  Soltei o objeto como se tivesse levado um choque. Eu já tinha matado antes, mas não um humano normal. Eu tinha problema até para matar vampiros, só porque eles se pareciam mais com pessoas. Que droga. Minha cabeça dava voltas e voltas e eu sentia que poderia desmaiar. Quando Talley chegou e viu aquilo, levamos algum tempo para explicar o que aconteceu. Os dois me olhavam em choque. Eu mesma estava em choque.

  ’s POV
  - Você tem certeza que é esse o lugar? - Perguntei assim que saí do meu jipe, parado logo atrás do Impala de Dean.
  - Tenho. - Bobby me assegurou e olhou o lugar com mais atenção. - Parece que o resto do caminho é a pé.
  Bufando, levantei o banco traseiro do carro, que eu havia adaptado para ser o meu "armazenamento de artilharia". Peguei água benta, minha espingarda de sal, uma pistola com balas de prata e uma estaca de madeira. Todo o cuidado do mundo era necessário agora. Eu não sabia o que ia enfrentar. Também levei uma lanterna, já que não dava para enxergar um palmo à frente do meu nariz.
  - Pronta, ? - Fiz que sim com a cabeça. - Vamos.
  , espero que ainda esteja viva. E se você não estiver, eu mato você de novo.
  - Vamos, Winchester.

  ’s POV
  - Acho que já podemos sair daqui. - Sam disse, após me consolar por ter matado alguém assim, a sangue frio.
  - E o demônio Achiri? - Jake nos perguntou.
  - Já que Ava estava controlando-o, não precisamos temê-lo agora. Você está bem mesmo, ?
  - Eu vou viver, Sam. Obrigada.
  - Já que é assim, temos que ir.
  - Nós não, Sam. Nem você, baixinha.
  Virei-me para olhar Talley. Ele tinha a mesma expressão psicopata de Ava.
  - Só um de nós vai sair daqui. - Eu estava parada mais à frente, observando os dois. Ele não podia estar falando sério!
  - Cala a boca, Jake! - Gritei, descontrolada. - Eu acabei de matar uma pessoa, ok? Isso não é hora para ataques de TPM!
  - Eu tive uma visão, baixinha. E o Demônio de Olhos Amarelos ou seja lá o que for falou comigo.
  - Não, Jake. Não dê ouvidos a ele.
  - É, Sam está certo. Isso tudo é uma diversão para ele. Todos nós podemos sair vivos daqui.
  - Isso vindo da garotinha que acabou de matar uma mulher a sangue frio. - Ele debochou. Calei-me, porque a sensação era horrível. Eu ainda podia ver os olhos de Ava perdendo o brilho. O sangue saindo do ferimento na sua nuca. - Ele só vai deixar um de nós sair. Se não cooperarmos, vamos morrer os três.
  - E cooperar seria morrer de forma pacífica pelas suas mãos? Não, obrigada, Talley. - Ironizei, mas por dentro eu tremia. Porque ele era mais forte que eu. E, porque se isso fosse verdade, eu teria que matar os dois.
  Eu não queria mais matar ninguém. Matei Ava porque ela ia matar Sam e eu, mas não vou matar ninguém a sangue frio porque um demônio quer. Essa não sou eu. Ele olhou para Sam.
  - Eu gosto de você, cara. Gosto mesmo, mas faça as contas. - Sam olhou para mim. Eu tinha certeza que estava com a boca aberta em choque. - O que adianta se nós três morrermos? Eu posso sair daqui, chego perto do demônio e depois mato o sacana.
  - Venha comigo, nós três podemos matá-los juntos.
  - A baixinha, matar um demônio? Além do mais, como vou saber se um de vocês não vai me passar a perna? - Hm, oi, a baixinha aqui tem nome e já exorcizou mais demônios do que você, então respeita.
  - Porque eu só quero sair daqui. - Eu respondi, apesar da revolta. - Tanto quanto vocês.
  - Eu não vou. - Sam também afirmou.
  - Não sei disso.
  - Certo, olha... - Sam tirou um facão de dentro do blazer e pôs no chão. Depois, com um olhar, me incentivou a fazer o mesmo com o atiçador que eu ainda carregava.
  - Não, não vou me desarmar perto dele. Se ele não confia em mim, não vou confiar nele. - Repliquei, ainda olhando Talley meio desconfiada. Eu não ia ficar indefesa perto desse cara. Como ele salientou, eu sou baixinha, mas não sou idiota.
  - ...
  - Não, Sam. - Apertei ainda mais o atiçador na minha mão.
  - Venha conosco, Jake. Não entre no jogo dele.
  Quando Jake também pousou no chão a barra de ferro em sua mão, eu decidi que poderia abaixar o atiçador. Assim que eu o fiz, Jake avançou no Winchester. Ele voou tão alto que eu paralisei no lugar, de espanto.
  - Sam! - Corri para perto dele, mas também fui jogada longe. Talvez meus poderes de Super Covarde (como me esconder, despistar e toda aquela coisa de nada me acertar) não funcionassem com ele. Ou seja, você está morta, .
  Bati com a minha cabeça em cheio no tronco de alguma árvore. Filho da puta. Desgraçado. Ele ia ver uma coisa. Os dois começaram a se atracar, e Sam estava, visivelmente, se ferrando. É claro. É óbvio que isso aconteceria caso você brigasse com um cara que tinha super força. Sam o acertou com uma sequência de socos e eu o golpeei por trás, com a barra de ferro que ele tinha largado no chão. Ele caiu desacordado e eu corri direto até o Winchester.
  - Sam, você está legal? Está muito machucado? - O segurei e passei meus olhos por ele inteiro, como se eu pudesse fazer alguma coisa caso ele estivesse machucado.
  - Estou. E você?
  - Dolorida, mas vou ficar bem. - Tentei sorrir, mas meu rosto simplesmente não obedeceu, então acabou parecendo uma careta.
  Ele pegou a barra de ferro da minha mão e acertou Talley quando este quase acordou. Depois, ergueu a barra como se fosse golpeá-lo. Matá-lo. Observei muda. Eu não poderia culpá-lo se ele matasse o Jake, poderia? Mas ele acabou não fazendo isso. Ao invés disso, ele me deu a mão e me puxou, assim que minha mão tocou a dele. Nossos olhares se cruzaram e eu senti um frio na barriga. O que é totalmente impróprio para o momento, devo dizer. Ele me aproximou dele e pousou um beijo delicado nos meus lábios. Fiquei estática por dois segundos, até que ele disse:
  - Vamos embora daqui. - Eu concordei, mas voltei a pegar a barra de ferro, para o caso de Talley acordar e para me manter ocupada. Você sabe, Sam Winchester é um gato e aquilo foi meio... Estranho.
  Quando ele acabou de dizer isso, ouvimos vozes e gritos. Uma voz masculina chamava por Sam, enquanto uma voz rouca chamava meu nome.
  - Dean! - Ele sorriu pra mim. - Eles estão aqui.
  - ! - Corri para ela.

  ’s POV
  Ela parecia assustada e eu fiquei também, ainda mais vendo o estado em que ela e Sam se encontravam. Mesmo de longe, dava para ver que eles não estavam bem. Eu também pude ver alguém se levantar e se aproximar de Sam.
  - Sam, cuidado! - Dean gritou ao meu lado, mas foi tarde demais. O homem, seja lá quem fosse, golpeou Sam por trás. Ele caiu de joelhos, imediatamente. - Não! - Dean gritou ao meu lado e correu na direção deles. Eu fiz o mesmo. Corri como nunca antes.
  - ! - Gritei, temendo por sua vida, mas ao invés de correr para mim ou, pelo menos, para longe do maníaco, ela se virou e o golpeou com força com alguma coisa que estava na sua mão. Uma, duas, três, quatro... Nove vezes, no total. - ! - Gritei de novo e me abaixei para olhá-la nos olhos. Quando ela se virou para mim, chorava convulsivamente. Apertei-a contra o meu peito vendo o corpo de Sam no chão.
  Dean estava ajoelhado de frente para o irmão. Eles conversavam algo que eu não conseguia ouvir e Dean parecia enfrentar uma grande agonia. Eu apenas apertei ainda mais contra mim.
  - Você está bem?
  - Eu... - Ela não conseguia falar, por isso apenas concordou com a cabeça em meio a soluços e lágrimas.
  Eu olhei o corpo do homem que atacou Sam no chão. Aquilo estava horrível. havia batido demais na cabeça dele com a barra de ferro que ela ainda segurava tão apertado que os nós de seus dedos estavam brancos. Eu não podia acreditar. Então minha atenção se voltou para os irmãos Winchester. Quando Sam caiu nos braços de Dean, eu senti um aperto no peito. Sam Winchester estava morto.

  ¹ Poliana: livro escrito por Eleanor H. Porter cuja protagonista brinca do Jogo do Contente, onde ela só se importa com o lado bom de qualquer situação que apareça pela frente.

Capítulo. 08

  ’s POV
  Dean estava com uma aparência horrível e eu não podia culpá-lo. Eu não sabia como era perder um irmão. Mesmo que Noah me odiasse e eu às vezes quisesse matá-lo, ele era meu irmão. Eu sentiria sua falta se ele se fosse. Eu não sei explicar o que me manteve ali. Junto ao cadáver de Sam ou a Bobby e Dean. Quando Noah veio buscar , eu disse a ele que ficaria (não que ele tivesse insistido para que eu me juntasse a ele e ). Sam era um amigo, apesar de nos conhecermos há tão pouco tempo. Ele seria um grande amigo se eu chegasse a conhecê-lo melhor. A princípio, relutou em ir embora. Depois, ela concordou. Achava melhor se recompor em outro lugar. Eu disse que a encontraria em Seattle, de onde ela era, originalmente. Noah a levaria até lá e a cadela Joy os faria companhia.
  Bobby tentava, a todo custo, fazer Dean comer alguma coisa. Fazê-lo agir normalmente. Eu me sentia como uma intrusa, mas uma intrusa que queria estar ali o máximo possível. Eu não sei o motivo, eu não quero saber. Eu estava do lado de fora da cabana, fumando um cigarro, pensando em como tudo havia virado de cabeça para baixo, quando ouvi a discussão.
  Bobby queria enterrar Sam. Dean não queria. Bobby tentou convencê-lo que havia trabalho a ser feito. Dean queria que o mundo simplesmente acabasse.
  - Você não acha que já dei o bastante? - Dean perguntava para Bobby. - Você não acha que eu já paguei o bastante? Eu terminei com isso. Tudo isso. - Eu observava do batente da porta, imóvel. Assustada, com pena. Com raiva. - E se você sabe o que é bom para você, caia fora daqui. - Seus olhos verdes se pousaram em mim. - Vocês dois.
  - Dean... - Andei até ele, mas ele empurrou Bobby.
  - Vai! - Ele gritou e eu estaquei onde eu estava.
  Bobby e eu nos entreolhamos, ele parecia magoado com Dean. Eu estava apenas assustada. Com Dean e com todo o ambiente em que nos encontrávamos. Quer dizer, o Fim do Mundo está batendo na porta e ele vai ficar chorando e se lamentando?
  - Sinto muito. - Ele disse a Bobby. - Sinto muito. - Ele repetiu para mim. - Por favor, vão embora.
  Bobby saiu, mas eu continuei no lugar. Ele me olhou. Cansado, destroçado, eu conhecia aquele olhar perdido.
  - Você sabe onde eu estarei. - Singer disse antes de sair.
  Olhei para ele. O poderoso Dean Winchester, alquebrado e apoiado em uma cadeira de madeira.
  - Vá embora, . - Ele não olhou para mim.
  - Eu vou. - Andei até ele. Pode-se dizer que eu sou bem teimosa. - Mas eu quero conversar com você antes, eu posso?
  - Vá embora, Olhos de Gato. - Ele repetiu com voz rouca.
  - Não até você me escutar. Prometo ser rápida. - Então, ele olhou para o corpo de Sam, repousando em cima de um colchão. Tirei uma das mãos dele da cadeira e a apertei entre as minhas, ele apenas concordou com a cabeça. - Eu sei que dói, Dean. - Pousei minha outra mão no rosto dele, que não se moveu. Suspirei. - Mas você tem que deixá-lo ir.
  - Vá embora daqui, ! - Ele tentou sair de perto de mim, mas o puxei de volta pelo colarinho. Tchau, delicadeza.
  - Que droga, Dean! Estou tentando ser gentil aqui! - Passei a mão pelo meu rabo de cavalo, frustrada.
  - Eu cuidava dele. Sempre que nosso pai estava fora, ele era responsabilidade minha! E agora ele está morto, como você quer que eu me sinta?
  - Como merda, é como nós nos sentimos sempre que perdemos alguém. Aquela sensação horrível de impotência, de pensar que poderíamos ter feito alguma coisa, quando não podíamos. Eu e você fizemos o que pudemos! - Eu gritei de volta, nervosa e já sem saber como agir.
  - É fácil para você falar, não é? Sua amiguinha está viva.
  - Minha amiguinha vingou a morte do seu irmão! - Cuspi as palavras. Todos os sentimentos bons que eu estava tendo em relação a ele estavam voando pela janela. Eu poderia vê-los indo embora, se fosse mais sacana, teria dado tchau a eles.
  - Pena que ela não pôde fazer isso antes. - Ele gritou de volta, com a mesma intensidade.
  - Não adianta conversar com você! Nem sentindo dor você pode ser um cara razoável! - Abaixei os braços, frustrada, o olhando com raiva.
  - E o que você chama de razoável, hein?
  Eu não respondi, apenas lancei-lhe um olhar intenso. De repreensão, raiva, conforto. Tudo junto. Todo o turbilhão de sentimentos que estava em mim.
  - Deixe-o ir. Deixe-o descansar. É o mínimo que você pode fazer. - Cheguei bem perto para dizer essas palavras, porque queria intimidá-lo a fazer a coisa certa. Segurei-o pela camisa e o puxei para mais perto, eu podia contar as sardas no nariz dele e me senti tonta com a proximidade, mas me mantive firme. - Sam precisa disso e você também. Deixá-lo deitado ali, como se ele estivesse dormindo, não vai fazer com que ele acorde de manhã.
  Quando ele não respondeu e eu vi em seus olhos verdes toda a sua amargura, meu coração pulou uma batida. Ele estava tão irritado e triste quanto uma fera com um espinho na pata. A dor fazia com que ele atacasse qualquer um. Eu fazia isso, não fazia? Desde Lance e meu amor amargurado por ele. Desde que saí do meu time. Era isso que nós dois éramos: leões, cada qual com seu respectivo espinho na pata.
  Ele tirou minhas mãos da camisa dele e me deu um último olhar triste. Não me afastei dele, mas ele começou a se afastar de mim.
  - Vou atrás do Bobby. - Disse com um suspiro pesado. Não adiantava tentar convencer o cabeção do Winchester.
  - Okay.
  Eu saí dali sem olhar para trás. Dirigi até a cabana de Bobby como ele me instruiu pelo celular. Felizmente eu conhecia a área o bastante para não me perder. Acho que essa é a vantagem de rodar o país de carro. Assim que eu cheguei, Bobby me olhou preocupado e me deu um copo da água que ele estava bebendo, que eu aceitei, com gratidão.
  - Você acha que ele vai ficar bem? - Perguntei a ele, que deu de ombros.
  - Dean é um cara durão. Ele vai sair dessa.

  Acendi um cigarro e traguei, pensando em Winchester. Era incrível o tipo de cara que ele podia ser quando não estava bancando o cafajeste e encarando seus peitos ou a sua bunda. Quase... Um cara sensível. Estranho, não? Estranho e atraente.
  - Ainda não acredito que Sam está morto. - Ao lembrar de Sam, decidi ligar para , mas seu celular só dava desligado. Aquilo me deu calafrios. nunca desligava daquele maldito aparelho. - Bobby, acho que há algo muito errado acontecendo.
  - Só entendeu agora, garota?
  - O que você acha que acontece com o último sensitivo sobrevivente?
  Ele ergueu uma sobrancelha. É, Bobby. Estamos todos fodidos. De novo. Traguei profundamente antes de jogar o cigarro fora. Se Dean Winchester ia bancar a garotinha e chorar, eu ia bancar o machão e salvar a merda do mundo onde eu vivo. Alguém tem que fazer isso, não tem?
  - O celular pode ter descarregado. Eles ainda podem não ter chegado em Seatlle. Por que você não liga para o seu irmão?
  - Eu não tenho o celular dele. Nós não somos exatamente como os Super Gêmeos¹. - Ele olhou pela janela.
  - Está tarde, você pode passar a noite aqui e sair pela manhã.
  - Tem certeza que eu não estou incomodando, Bobby? Nenhuma esposa ciumenta ou filha possessiva? - Ele negou com a cabeça. - Então eu aceito. Estou cansada de motéis pulguentos e do banco do carro.
  - Aqui não é muito melhor, . - Ele piscou para mim.
  Acredite, Bobby, é sim. Pelo menos tem um banheiro.

  ’s POV
  - Então, o que aconteceu? - Ele me perguntou assim que deixamos Cold Oak para trás.
  Resumidamente, contei a ele sobre os meus poderes e o jogo. E Sam. Ele pareceu interessado na minha proximidade com o Winchester mais novo, mas eu não disse muita coisa.
  - E o que acontece com você agora que é a última sobrevivente?
  - Boa pergunta. - Vi um par de olhos amarelos pelo retrovisor do carro. E gritei.
  - ? Se segura!
  Noah até tentou mirar no demônio, mas este segurou o volante do carro e o jogou no acostamento, Joy latia e tentava avançar no demônio, mas logo ouvi seu ganido de dor. Eu também tentei lutar, mas Olhos Amarelos me manteve parada no mesmo lugar. Com um só olhar.
  - Não seja uma menina má, . Não se esqueça que eu posso matar seus amiguinhos gêmeos em um piscar de olhos. - Ele olhou para Noah. - Pare o carro.
  - Não. - Como se fosse um menininho malcriado, Noah enfiou ainda mais o pé no acelerador.
  - , querida, seja boazinha e diga ao seu amiguinho para parar o carro. - Ele me assustava. Ele podia mesmo matar os gêmeos?
  - Noah, por favor... - Choraminguei.
  Então, aconteceu. Tudo ficou preto e eu não vi mais Noah ou Joy. Só senti o baque e a dor.

  ’s POV
  Já era de manhã? Eu sentia que havia dormido duas ou três horas, o que podia ser verdade. Levantei-me e fumei meu cigarro matinal. Há algum tempo eu não precisava fumar de manhã para me tranquilizar, mas agora que estava, pelo menos aparentemente, sumida, eu me sentia nervosa e ansiosa. E precisava fumar. Tentei ligar novamente, mas nada. Algo estava acontecendo, eu tinha bastante certeza disso.
  - Já acordado, Bobby? Achei que fosse surpreendê-lo com um café. - Sorri para ele.
  Bobby era um cara que inspirava simpatia nas pessoas, apesar de ser um pouco franco demais, às vezes até meio grosseiro. Ele me lembrava muito o meu pai, com quem eu não tinha contato há alguns anos. Pura questão de segurança, é claro. Eu amo minha família, de verdade. Sim, nem toda a minha família era de caçadores, apenas Noah e eu: os gêmeos . Meus pais viviam sua aposentadoria segura e feliz em Tampa, na Flórida, criando minha filha e sendo regularmente visitados por Hope, minha irmã; Rick, seu marido; e seus dois filhos: Brad e Kaleb.
  - Seria bom beber um café decente, para variar. - Disse ele, sorrindo levemente para mim.
  Ouvimos batidas na porta e já que o meu anfitrião era quem estava mais perto da porta, ele foi atender. É claro, eu não acreditei nos meus olhos. Eu não podia acreditar que Sam Winchester estava ali, na porta. Sorrindo, lindo e inocente como sempre.
  - Oi, Bobby. - Dean disse e Sam repetiu logo depois. Meu espanto era tão grande que eu não conseguia me mover.
  Bobby também estava em choque.
  - Vejo que você está de pé por aí. - Ele era muito controlado. Eu estava morta de vontade de gritar todos os palavrões existentes, mas, sob o olhar atento de Bobby, eu apenas acenei para eles.
  - É, obrigado pelo curativo. - Sam disse e bateu amigavelmente no ombro de Bobby.
  - De nada. - O mais velho murmurou.
  - Oi, . - Eles disseram juntos. Dean baixou os olhos quando me viu. Aliás, quando eu terminasse com ele, Dean teria sorte de conseguir mantê-los!
  - Oi, meninos. - Minha voz saiu mais baixa que o normal, embora eu não pudesse evitar. Qual é, eu até que estava bem controlada para quem estava vendo um zumbi! Ou um fantasma, ou... Bem, você sabe. Podia ser várias coisas.
  Olhei para Dean significativamente. Bobby tinha o mesmo tipo de olhar. Um olhar que dizia: Que diabos você fez, Winchester?
  - Sam está bem melhor. - Ele disse, nos encarando do mesmo modo. Diferentemente do meu olhar, o dele dizia: Não pergunte, não tenha reações bruscas. Ou algo assim. - Estamos de volta, então... O que você sabe?
  A sério? Era assim que ele ia agir? Como se nada estivesse acontecendo? Eu vi Sam morrer, no entanto ele estava ali, bem na minha frente, parecendo bem feliz. Bobby demorou alguns segundos para responder. Pigarreando, eu o chamei.
  - Bobby?
  Então, ele pareceu acordar.
  - Bom, eu achei uma coisa, mas não tenho certeza do que diabos isso significa.
  - O que é? - O Winchester caçula perguntou.
  - Presságios demoníacos. Mortes de gado, tempestades de raios. Estão aparecendo do nada. Aqui em volta, com a exceção de um lugar: o sul de Wyoming.
  Então era isso que o mantinha acordado. Estiquei o pescoço para ver o mapa. Wyoming, hein? Poderia ser um lugar melhor.
  - Wyoming? - O cabeção perguntou.
  - É. Essa área está totalmente limpa. Sem nada. É quase como se...
  - O quê? - Perguntei, subitamente atrás dele. Bobby até se assustou um pouco. É claro que toda a situação do Sam estava dando nos meus nervos também, mas francamente...
  - Como se os demônios estivessem cercando.
  - Mas você não sabe por quê? - Dean continuava suas perguntas, sem me olhar. Aquele cabeçudo desgraçado.
  - Não, nesse ponto meus olhos já estavam doendo e... - Ele me olhou. - A amiga de está desaparecida.
  - Eu estava indo procurá-la quando vocês chegaram. - Confirmei as palavras de Bobby.
  O mais velho me olhou e pareceu ter uma ideia. Eu tinha certeza que não ia gostar disso, mas não sabia o motivo.
  - Sam, ? Vocês poderiam dar uma olhada? Talvez vocês vejam algo que eu não consegui.
  - Mas eu...
  - Sim, claro. - Sam respondeu prontamente.
  Então é assim, Bobby? Vai me deixar sozinha com o Sam do além? Obrigada, Bobby. De verdade. Mas aí ele olhou para o Dean e este último também sabia que o bicho ia pegar para o lado dele.
  - Venha, Dean. Eu tenho mais alguns livros no caminhão. Me dá uma ajuda.
  Antes de sair, Dean suspirou e me olhou longamente. Eu tinha vontade de lhe dar a língua, mas lembrei que não tenho cinco anos já há algum tempo.
  - Sim. - Ele acabou respondendo.
  - Pronta, ?
  - Claro. - Dei de ombros. Se alguma coisa desse errado, eu tinha uma pistola no cós da calça.
  Eu rezava a Deus que não desse. Não porque era Sam, mas porque Dean me mataria se eu matasse de novo seu irmão que ele tinha revivido de alguma maneira. O que me fez pensar como ele tinha feito aquilo. Bem, com as Esferas do Dragão² não foi, então... Como?

  ¹ Casal de irmãos gêmeos alienígenas, que podem "ativar" ou "desativar" seus poderes quando juntam as mãos.
  ² Sete esferas do anime Dragon Ball que, quando juntas, poderiam realizar qualquer desejo.

Capítulo. 09

  ’s POV
  Eu simplesmente não podia acreditar que Bobby ia fazer a Ellen beber água benta. Isso era tão insanamente inteligente. Quando ele viu a minha interrogação, sorriu.
  - Você também bebeu.
  Ah, então ele tinha me obrigado a beber aquilo também. Provavelmente, a água que ele me ofereceu quando eu cheguei. Talvez ele fizesse isso com todo mundo. Isso me deu certa sensação de paz. Quer dizer, se ele realmente enganasse todo mundo desse jeito, a casa dele era um lugar relativamente seguro.
  - Uísque agora, se não se importa. - Ele disse assim que bebeu a água benta.
  - Para mim também, Bobby. Por favor. - Eu realmente precisava de alguma coisa bem forte para não gritar com o Dean. Eu ainda não tinha descoberto o que ele tinha feito para trazer o Sam de volta. Havia poucas coisas tão poderosas para trazer alguém de volta à vida, mas eu não queria acreditar naquelas hipóteses, porque tudo terminaria horrivelmente mal.
  - Ellen, o que aconteceu? Como conseguiu sair de lá?
  Eu também esperei a resposta para aquela pergunta. Ainda me encucava o modo como o Roadhouse pegou fogo tão rápido. Tirando o fato que era um bar e estava cheio de bebidas ou pelo fogo ter sido causado por um demônio. Você sabe.
  - Não era para ter conseguido, era para eu estar lá, junto dos outros. Mas, de todas as coisas, os pretzels acabaram. Foi pura sorte. - Ela bebeu o uísque de um gole só. - De qualquer forma, foi quando o Ash ligou, em pânico. Ele me disse para olhar o cofre e a ligação foi cortada. Quando eu voltei, as chamas já estavam altas. Todos estavam mortos. Foi pouco tempo depois de você sair, . - Ela acrescentou a última frase olhando para mim. - Não demorei nem quinze minutos.
  - Sinto muito, Ellen. – Sam-do-além disse.
  - Muitas pessoas morreram lá. E eu saí com vida. - Ela parecia perturbada com aquele pensamento. Para mim, era uma sorte estar viva.
  - Você mencionou um cofre... - Bobby retomou o rumo da conversa enquanto eu me servia de outra dose de uísque, sob o olhar assombrado de Sam.
  - O cofre que mantínhamos escondidos no porão. - Ela respondeu.
  - O demônio pegou o que tinha escondido lá?
  - Não. - Ela tirou um mapa do bolso interno de sua jaqueta. Era um mapa da área de Wyoming.
  - Wyoming? O que isso significa? - Dean verbalizou a pergunta que se passava na minha mente.
  Ficamos algum tempo pesquisando. Bobby não me deixou protestar ou dizer que precisava de mim, apenas me entregou um livro e me deu um olhar mandão. No final, eu acabei lendo todas aquelas chatices junto com os outros.
  - Não acredito nisso. - Ele disse, finalmente, enquanto tinha um livro grosso nas mãos.
  - Achou alguma coisa? - Sam perguntou, aproximando-se dele.
  - Mais do que isso. Em cada um desses pontos, tem uma igreja abandonada. - Ele apontou os ditos pontos no mapa. - Todas de meados do século XIX e todas elas construídas por Samuel Colt.
  - Achei que esse cara só fabricasse armas. - Eu me aproximei do grupo e olhei por cima do ombro de Bobby.
  Bobby resolveu ignorar meu comentário porque, bem, eu tenho que admitir, foi idiota.
  - E tem mais, ele construiu essas linhas, interligando uma igreja com a outra. Que, por acaso, estão ligadas dessa forma. - E com alguns traços, um pentagrama surgiu no mapa.
  Cara esperto, esse Colt.
  - Me diz que isso não é o que eu acho que é. - Dean passou a mão pelo queixo, olhando o mapa, como todos nós.
  - A armadilha do Diabo. - Sam respondeu. - Uma armadilha do diabo de 160 quilômetros.
  - É brilhante. - Dean confessou. - Linhas de ferro, os demônios não podem cruzar.
  - É mais do que brilhante. - Eu também confessei. - É perturbadoramente inteligente.
  - Nunca ouvi falar de nada tão imenso. - Foi a vez de Ellen tirar o chapéu para o cérebro superdesenvolvido de Colt.
  - Ninguém nunca ouviu. - Bobby concordou com ela.
  - E depois de tantos anos nenhuma das linhas foi quebrada? Ainda funciona?
  - Se não funcionasse, esse não seria o último lugar tranquilo do país. - Eu murmurei baixo, enquanto pensava.
  - Com certeza. - Sam concordou comigo.
  - E como vocês sabem? - Dean pareceu duvidar de nossa inteligência. Que acontecia de ser muito maior que a dele.
  - Os demônios estão em volta, mas não conseguem entrar. - Sam disse, me olhando de esguelha.
  - É, eles estão tentando. - Bobby também se curvou aos nossos cérebros brilhantes.
  - Por quê? O que tem lá dentro? - Todos nós olhamos para Ellen. Não sabíamos.
  - Só tem um antigo cemitério bem no meio. Não tem mais nada.
  - Exatamente no meio? - Perguntei.
  - O que tem de tão importante em um cemitério? - O Winchester mais novo perguntou a Bobby e a mim. - O que Colt estava tentando proteger?
  - A não ser que... - Aquilo foi dito de um modo tão contido, como se ele estivesse pensando que eu me forcei a olhar para Dean.
  - A não ser o que? - Bobby perguntou.
  - Que Colt não quisesse manter os demônios fora, mas sim alguma coisa dentro.
  - Que pensamento reconfortante. - A outra resmungou.
  - Você acha? - Dean a inquiriu.
  - Eles poderiam, Bobby? Poderiam entrar?
  O outro negou com a cabeça.
  - Não, essa coisa é tão poderosa que precisariam de uma bomba atômica para destruir. Sem chance de um demônio conseguir entrar.
  De repente, eu tive um estalo. Se estivéssemos em um desenho, uma lâmpada teria se acendido sobre a minha cabeça.
  - E se não for um demônio que está tentando entrar? E se for um humano? - Olhei para Sam, que anuiu.
  - E eu sei quem poderia. - Sam e eu somos inteligentes demais para estar aqui. Ele me compreendeu de imediato, embora não pudesse saber que Talley estava morto e que, na verdade, Marie era a nova escolhida. faria aquilo. Seja lá o que “aquilo” significasse. Talvez fosse demais para a minha cabeça.

  ’s POV
  Olhei ao redor. Não havia nada. Algumas árvores mirradas e um caminho de terra batida, nada além disso. E, é claro, um demônio ao meu lado. Eu não via Joy em lugar nenhum, apesar de ela estar no carro quando tudo apagou.
  - Onde nós estamos?
  - No lugar onde você vai cumprir uma de suas missões, pequena .
  - Não estou com muita vontade de fazer isso. - Murmurei.
  - Ah, mas você vai fazer. Por Noah e sua amiguinha . Eles são seus últimos amigos, não é verdade? Como seria se eles fossem torturados até a morte por um demônio malvado, pequena ?
  Olhei ao redor. Não havia nada que eu pudesse fazer ali. Mais à frente tinha algum tipo de linha de ferro, bem parecida com os trilhos de um trem.
  - Você vai fazer o que eu pedi, ?
  Ele me olhava em expectativa e eu ponderei por alguns segundos. O que eu teria que fazer? Eu não tinha ideia. Não sabia se era matar alguém ou muitas pessoas, quanta gente seria prejudicada pelo meu ato de obediência. Eu simplesmente não sabia muita coisa e aquilo foi formando um nó na minha garganta. Um pânico sem igual se apoderava de mim.
  - O que eu tenho que fazer?
  - A 80 quilômetros daqui tem um cemitério. Lá tem uma cripta e eu quero você a abra para mim. Acha que dá conta, baixinha?
  Abrir uma cripta podia não parecer ruim para alguém de fora, mas eu sabia que ele não queria só isso. Havia muita coisa envolvida naquilo. Coisas que eu não gostaria de saber. O mundo ou meus amigos?
  - É só isso? - Ele anuiu. - E por que diabos eu obedeceria você? Eu posso entrar lá e você não poderia ir atrás de mim.
  - Não, mas poderia ir atrás dos seus amiguinhos. - Eu abri a boca algumas vezes, mas não consegui responder nada. - Muito bom, pequena. Se você vai abrir aquela cripta para mim, vai precisar de uma chave, não vai? - Ele tirou uma arma do bolso interno de seu casaco.
  - Uma pistola velha?
  - Ah, mas não é uma arma qualquer! - Eu estreitei os olhos, examinando-a melhor. - É a única arma em todo o universo que pode me matar. - Digamos que agora eu tinha um novo interesse nessa pistola velha.
  - E por que você me daria essa arma assim, de bandeja?
  - Que criança desconfiada. Vamos, pegue. - Ele estendeu a pistola para mim e eu não hesitei em pegá-la, mas não a apontei para ele.
  - Não vai tentar me matar, pequena ? - Ele parecia divertido.
  - Só se você continuar me chamando de pequena. - Grunhi, analisando toda a arma de perto. Finalmente, a apontei para ele. Bem onde deveria haver um coração.
  - Minha nossa! Estou chocado com a reviravolta dos eventos! Vamos lá, pequena , aperte o gatilho. Seja tudo o que você pode ser. - Destravei a pistola, pensando que poderia matá-lo e tudo estaria acabado. Tudo aquilo. - É, , tudo estará acabado e você poderá voltar para a sua vidinha normal. É claro, você sempre pode dar um fim nessa sua vidinha patética e se juntar aos seus pais no inferno. Ou vagar sozinha por aí, quem sabe como irá ficar quando descobrir que seu irmão gêmeo querido morreu para tentar salvar você? Ela é um poço de amargura, acha que vai perdoá-la por tirar dela os dois homens que ela mais amou na vida, ? Por outro lado, se você decidir cooperar comigo pode ter tudo o que quiser: beleza, saúde, luxo, riqueza, seus amigos ao seu redor. É só você pedir, . E, para tudo isso, só precisa fazer uma coisinha por mim.
  - Meus amigos... Eles estarão a salvo? Você vai poupar as vidas deles?
  - Daqueles que eu ainda não matei? Sim, por que não, ?
  Senti duas lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Aquilo era tão difícil. Demônios mentiam, isso todo mundo sabia. Eles podiam saber cada detalhezinho sujo da sua vida e comigo não era diferente. Ele sabia de tudo: Lance, Noah, meus pais mortos... Todo mundo.
  - Por que eu? - Gritei, a arma tremendo nas minhas mãos. - Nesse mar de pessoas, por que logo eu?
  - Porque você sobreviveu. Tem que ser você. - Eu preferia ter morrido. Pelo menos, eu estaria em paz. Ao lado dos meus pais e de Lance. A luta pela minha sobrevivência em Cold Oak parecia ter sido há semanas e eu estava me arrependendo de ter sido a última a sobreviver a cada lufada de ar que eu inspirava. Sam morto, Jake morto pelas minhas mãos. O corpo pendurado de Lily, o sangue esguichando da nuca de Ava, o cadáver de Andy todo dilacerado. Essas imagens eram repassadas na minha mente e eu me arrependia de ter sobrevivido. A última sensitiva. Eu era o peão de algum demônio maníaco que queria fazer algo de muito ruim, mas que pouparia meus amigos se eu fizesse. Eu não tinha garantias de que ele fosse realmente deixá-los vivos, assim como ele os mataria se eu não fizesse. Estava em uma sinuca de bico e me sentindo acuada. A velha coisa do "se correr o bicho pega, mas se ficar o bicho come". - Você é minha líder, abra aquela cripta e terá o seu exército.
  - É a porra do Apocalipse que você quer que eu cause? Pode me matar, então!
  - E por que eu mataria você, minha garota? - Ele sorriu. - Não, não, não! Eu mataria cada coisa que você ama, destruiria cada coisa que você preza, te corromperia de todas as maneiras possíveis, apenas para você olhar para trás e acabar seus dias amargurada pelo que poderia ter feito. Porque poderia ter me ajudado. Eu te faria assistir tudo, .
  - Não vou fazer isso. Você quer destruir o mundo!
  - Destruir? Eu refaria este mundo. Seria um mundo maravilhoso onde você e seus amigos seriam protegidos, não seriam afetados por nenhuma moléstia e seriam ricos, muito ricos. Você seria da realeza, . Você e seus amigos governariam este mundo comigo. Você é tão boa, como poderia transformar o mundo em algo ruim?
  A arma tremia violentamente na minha mão e só então notei que estava soluçando. Ele me avaliou longamente, vendo meu estado de espírito. Eu estava em uma batalha interna violenta, poderia ouvir as espadas tilintando a cada vez que se chocavam ferozmente: o cavalheiro negro lutava pelo demônio, o cavalheiro da armadura brilhante lutava pelo meu senso de honra e moralidade. Minha cabeça doía. Eu não poderia colocar em perigo. Nem Sam. Eu não podia ter aquelas mortes sob a minha cabeça também.
  - O que me diz, ? A decisão é sua!

Capítulo. 10

  ’s POV
  O cavalheiro negro se levantou vitorioso enquanto sangue jorrava do meu cavalheiro da armadura brilhante. Eu abaixei a arma e limpei minhas lágrimas com as costas das mãos.
  - Eu também escolheria essa. - Ele piscou para mim.
  Depois de algumas horas, eu cheguei até o cemitério. A cada passo a minha consciência gritava: Ele está engando você, volte! Mas eu não voltei. Não hesitei nem um pouco. Tudo que eu fiz foi continuar andando. Eu não podia colocar meus amigos em perigo. Ash, Ellen, Jo, Sam, . Todos eles estariam a salvo se eu fizesse aquilo, infelizes, mas vivos. Para uma caçadora, liberar trilhões de demônios para a Terra só pelo bem de seus amigos é tão irônico quanto uma ambulância matar alguém atropelado enquanto tenta salvar uma outra vida. Eu tremia da cabeça aos pés, com a plena consciência de que eu seria odiada por todos eles. Eu sempre tinha sido o elo mais fraco da equipe e agora estava tão miserável e sozinha. A Colt e minha auto piedade eram minhas únicas companheiras.
  Olhei ao redor. Tudo estava deserto e aterrorizador. Um cemitério à noite, que coisa mais romântica. Ainda mais para quem sabia que tipo de criaturas se esconde nas sombras. Meus passos se tornaram mais lentos, principalmente porque eu não queria fazer aquilo. Eu não queria liberar o Inferno na Terra. “Então por que está fazendo exatamente isso?” Perguntou uma voz na minha cabeça.
  A cripta era impossível de ser confundida. Na porta havia um pentagrama invertido e um orifício onde, eu supunha, eu deveria encaixar a pistola. E tudo estaria feito. Era só isso e o Inferno seria liberado. Apesar disso, eu não achava fácil levanta o braço e colocar o cano da arma ali. Eu poderia ter ficado anos ali, encarando a porta, até que ouvi a voz de Sam.
  - Olá, . - Ele não parecia zangado. Talvez eu estivesse começando a ter alucinações. Talvez eu já estivesse morta e tudo aquilo fosse um pesadelo de onde eu nunca sairia, tipo na Caverna do Dragão.
  - Sam? O que você está fazendo aqui? - Eu o olhei melhor. Ele tinha uma arma na mão direita, estava abaixada, mas ele tinha achado melhor se armar para me impedir.
  - Eu não estava esperando por você. - Ele confessou e aquilo me aliviou um pouco o coração, não sei por quê.
  Bobby, Ellen, e Dean também apareceram. estava armada e tinha um olhar triste no rosto. Eu vira aquele olhar quando ela nos deixou, e nunca mais. O peso que a declaração de Sam havia tirado de mim voltou dobrado com o olhar dela. O que eu estava fazendo? Mantendo-os vivos, meu cavalheiro negro sussurrou, segurando um buquê de rosas vermelhas, tentando aplacar meu surto de boas intenções.
  - Sam, o que você está fazendo aqui? - Minha voz tremeu como meu corpo inteiro tremia. - Você estava morto, Jake matou você! - Eu guinchei.
  - Eu não morri. Ele não terminou o serviço.
  - Não, eu vi você morrer, Sam! Eu vinguei a sua morte! - Minhas lágrimas reapareceram e eu olhei para os lados, assustada. Eles não entendiam. Eu estava fazendo aquilo por eles. Por que eles estavam armados? - Foi bem na sua coluna, Sam!
  Ele hesitou, olhando para os lados. abaixou os olhos e se manteve parada. Dean nem se mexeu. Havia algo tão estranho ali.
  Eu andei até Sam, mas ele se retraiu.
  - Você não pode estar vivo... - Murmurei.
  - Fica calma, . - Bobby foi o primeiro a erguer a arma para mim. Ellen e ainda estavam estáticas. Eu podia ouvir as engrenagens nos cérebros das duas.
  - Eu não consigo.
  - Mas vai ficar. - A voz de Sam estava dura e fria, como a arma em minhas mãos.
  - Sam. - protestou, sem olhar para mim. - Vai com calma com ela. Ela é...
  - Por que você não me disse que era ela? Por que você não me disse, ?
  - Porque eu não quis, tudo bem? - Ela pareceu mais calma, mas isso não durou muito. Seus olhos ímpares olharam para mim e ela voltou à sua batalha interna. - O que você vai fazer? Vai matá-la? - Ela acrescentou, sem olhar para ele ou para mim.
  - Se ela quiser causar o Apocalipse, sim.
  - Vai ter que passar por mim, Winchester. - Ela olhou para cada um ali, petulante como sempre. - Ninguém vai encostar em um fio de cabelo loiro dessa garota. - Ela rosnou e virou de frente para eles, como se me protegesse.
  - ... - A voz de Dean era uma ameaça nem um pouco velada, mas ela não se encolheu.
  Eu me aproximei dela.
  - Vai ficar tudo bem, . Tudo vai ficar bem. - Tive vontade de abraçá-la pela cintura como eu fazia antes, mas aquilo pareceu tão errado. Era tão errado eu estar fazendo aquilo. Era contra tudo que eu acreditava. - Vai ser tão rápido, eu prometo.
  - Desgraçada, não falei isso! - Ela rosnou baixo.
  Andei até a cripta novamente, sem olhar para trás. Eu conseguia ouvir os gritos de protesto de todos eles.
  - Eu vou atirar, ! - Sam gritou, mas eu continuei andando. Respirei fundo.
  - Você não vai atirar em ninguém, maldito! - Ouvi gritar de volta.
  Ouvi os disparos, mas as balas nunca chegaram até o meu corpo. Elas caíram antes de chegar até mim. Eles estavam chocados. Sam nunca vira meus poderes em ação.
  - Autopreservação. - Eu disse a eles. - Eu corro mais rápido, me escondo melhor, despisto melhor, nada pode me atingir. - Falei para ele com um sorriso frouxo nos lábios. Eu não estava orgulhosa.
  - Por favor, . - Ellen murmurou. - Garota, não faça isso.
  - , eu perdoei você e Lance. Eu perdoei aquilo, mas eu não sei se... - não terminou de falar e eu acho que não precisava. Eu sabia o que ela queria dizer. Eu e Ellen, ninguém mais. Os Winchester nos olharam. Minha amiga e eu mantínhamos o olhar fixo uma na outra. Eu não podia mais adiar.
  Eu sentia os soluços balançarem o meu corpo e vi minhas mãos tremerem enquanto eu colocava a arma ali. Os discos começaram a girar e mais disparos foram feitos, mas nenhum funcionou. Por um momento, eu quis que o meu poder falhasse e eu pudesse morrer em paz. Pelas mãos de Sam ou Dean, mas não foi o que aconteceu. correu até onde eu estava e eu me virei para ela, em choque.
  - Nós vamos todos ficar bem, ouviu, ? Todos nós. Ele me prometeu.
  - Nós vamos morrer, ! Porra, ele mentiu para você! - Ela respondeu sem me olhar. Seu rosto estava virado para Dean. Ele nos olhava com reprovação e raiva.
  - Oh não! - Bobby resmungou ao meu lado, me olhando feio.
  - O que é isso, Bobby?
  O pentagrama que antes estava invertido agora estava normal.
  - É o Inferno. - Ele respondeu a ela.
  Vi Dean retirar a arma e guarda-la, mas não tive forças para falar qualquer coisa. Eu queria dizer que aquela era única arma que poderia matar o demônio, mas não consegui.
  - Protejam-se agora!
   me abraçou forte e me puxou para o lado, enquanto as portas se abriam. Nós caímos atrás de uma cripta e ela fechou os olhos. Estava chorando. Aquilo me quebrou o coração. Eu só tinha visto chorar uma vez.
  Eu nunca vi algo tão grandioso. A fumaça preta que saiu daquela cripta foi sem igual.
  - Que diabo aconteceu? - Ouvi Dean gritar.
  - É a Porta do Demônio, uma porta maldita para o Inferno! - Ellen respondeu. - Vamos, temos que fechar o portão!
  - Ah, olha o que você fez! Mas que porra, ! Diabos! - xingou, ao meu lado, limpando duas lágrimas com as costas das mãos. Vendo que eu estava sem reação, ela apenas me puxou. - Vem, você vai consertar essa porra. Você fez a cama, agora deita nela!
   e eu, Bobby e Ellen fomos até a porta. Era pesado e não conseguimos movê-la muito, mesmo sendo quatro pessoas a empurrá-la. Ao olhar para trás, vi Olhos Amarelos e Dean. Ele apontou a arma para o demônio, que apenas fez com que a Colt voasse direto para a sua mão.
  - Você fez muito bem, querida. Tem o seu lugarzinho ao meu lado garantido. - Ele sorriu para mim depois de fazer Dean voar longe.
  - Não! Eu fiz por eles, eu não fiz por você! - Minha voz voltou, mas era baixa e mais parecia um ganido.
  - Não dê ouvidos a ele, ! - grunhiu ao meu lado. - Empurra!
  Ela tinha uma veia saltada na testa, de tanta força que fazia. Eu não conseguia mais. Pensava que estava salvando-os, mas ele ia machucar todos eles. Começou por Dean e logo seria Ellen ou , Sam e Bobby. Todos eles. E eu. Ele me mataria? Ele disse que não, mas ele não tinha mentido? Posicionei-me bem ao lado de e nós empurramos a porta. Sam ainda havia se mobilizado para ajudar estando com Ellen e Bobby. Quando ele viu Dean caído no chão, no entanto, ele correu para ele. A porta voltou um pouco, mas Bobby e Ellen aguentaram o tranco.

  's POV
  Eu estava de costas para a porta, me impulsionando com os pés e fazendo tanta força que parecia que eu estava prestes a parir um filho. Para falar a verdade, essa sensação não é a das melhores, acredite em mim, falo por experiência. Vi Sam correr para o demônio e Dean, vi o Winchester caçula ser jogado contra uma árvore, mas não vi o que aconteceu a Dean depois. Do ângulo que eu estava, eu não tinha uma visão tão boa. Era uns cinco ou seis metros à minha frente, mas apesar disso eu não conseguia ver tudo. Eles estavam falando, eu achava. As coisas não iam bem.
  Havia um demônio egocêntrico e psicopata apontando uma arma para Dean, minha melhor amiga havia causado a abertura do portão do inferno e eu ainda iria conseguir uma hérnia de tentar empurrar aquela merda. Nós íamos morrer e eu nem ao menos tinha visitado Graceland¹. Eu sei que parece algo ridículo numa hora dessas, mas eu sou fã do Elvis e gostaria de ter ido lá pelo menos uma vez antes de morrer.
  Algo, entretanto, mudou o meu destino. Eu só via vultos, mas o corpo do Olhos Amarelos havia caído no chão. Isso eu pude notar. Também notei que a porta, gradualmente, ia se fechando. , ao meu lado, suava e tinha as bochechas coradas. Ela parecia febril e eu não duvidava que estivesse. Eu não tinha ideia do que tinha acontecido, mas algo a fizera ajudar aquele cara. Eu ia descobrir e depois ia fazer uma jaqueta com o couro dela. O demônio se levantou novamente, ao mesmo tempo em que a porta se fechava com mais facilidade. Quando ele caiu novamente, foi de vez. Eu ouvi o disparo da pistola e o corpo dele tombar no chão. ficou paralisada ao meu lado. Seus olhos verde escuros esquadrinhando toda a cena. Havia até um início de sorriso em seus lábios, um sorriso meio insano, mas feliz. Sam caiu da árvore. Havia acabado. Aquele filho da puta estava morto. Com novo ânimo, eu empurrei a porta e ela se fechou. Ouvi o barulho dos discos girando enquanto verificava se eu ainda tinha braços ou qualquer coisa inteira no corpo.
   correu até o corpo do demônio. Ela ainda tentou ajudar Sam a levantar, mas os dois Winchesters se esquivaram dela. Se ela ficou magoada, eu não sabia, estava escuro para saber até isso. Eu também andei até eles, depois de olhar Bobby e Ellen como se pedisse desculpas. Eu estava mesmo pedindo. Era minha culpa. Eu não fui forte o suficiente para matá-la. Eu a deixei fazer isso. sempre fora uma menina delicada, muitas vezes não a deixávamos caçar conosco, por isso ela fazia a pesquisa na maior parte dos casos. Eu a ajudava para que ela não se sentisse excluída. Foi com seu charme angelical que ela roubou o meu Lance, e foi esse o único motivo que fez com que eu não a odiasse: ela não fez por querer. Ela era inocente demais e Lance não me amava como um dia havia feito. Depois do que eu fiz com a nossa filha... Lance nunca me perdoou e correu para os braços de sua Guinevere. Esse mundo nunca foi muito seguro para ela. Embora, dessa vez, eu não possa dizer que não foi culpa dela. Eu não fui forte, mas ela também não. Ela foi covarde e aquilo eu não podia admitir.
  Agora, no entanto, era tarde. Estava feito e a única coisa que eu poderia fazer para me redimir era caçar cada maldito fugitivo daquele portão e mandá-lo de volta para o inferno. e eu.
  Caminhamos em silêncio até onde estavam nossos carros. e eu íamos de mãos dadas, como fazíamos quando eu era encarregada de acompanhá-la nas poucas caçadas que ela participava antes, quando éramos um time. Em momento algum levantei os olhos para nenhum deles. Era quase como se eu mesma tivesse aberto aquele portão. O que me disse naquele momento me tocou: Nós vamos ficar bem.
  De jeito algum aquilo podia ser verdadeiro, não é? Nada estaria bem daqui para frente. Desajeitadamente, ela me contou tudo que aconteceu, desde que sumiu até agora há pouco.

  ¹ Graceland foi a residência oficial de Elvis Presley, considerado o rei do rock, de 1957 até 1977. Logo em seguida se tornou alvo da visitação de milhões de pessoas de todo o mundo, se tornando quase como um santuário em homenagem ao cantor.

Epílogo

  's POV
  - Você viu o que ela fez, não viu? - Dean rosnou para mim.
  - Eu vou consertar. – falei baixo.
  - Ela liberou o inferno, ! - eu não ia deixa-lo gritar comigo, em condições normais de temperatura e pressão, mas aquele não era o caso. Eu merecia cada xingamento que ele pudesse formular.
  - Eu já disse que vou consertar, porra! – gritei, apesar de saber que estava errada. Era demais aceitar gritos de um homem qualquer. - Mas que droga, Dean! Olhe para ela! Ela não quis machucar ninguém!
  - Ela não quis mesmo? E todo aquele abracadabra que ela fez? - ele apontou para , que apertou minha mão mais forte.
  - Eu não vou discutir com você. Não adianta discutir agora. - falei, olhando pela primeira vez nos olhos dele desde o cemitério. - O que está feito, está feito.
  Ele me dirigiu um olhar furioso e saiu de perto de mim.
  - Dean, por que quando me viu parecia que ela tinha visto um fantasma?
  Todos nós olhamos para ela, que enxugou as lágrimas e repetiu debilmente:

  - Mas eu o vi morrer, Sam. Ou pensei que tinha visto. - Ela murmurou.
  - Ouviu isso, Dean? Ela me viu morrer.
  Se Dean pudesse matar com um olhar, ele teria feito isso. Ao invés disso, ele mentiu.
  - Fico feliz que ela esteja errada.
  - Não acho que ela esteja errada, Dean. - eu abaixei a cabeça ao ouvir aquilo. Eu só havia chegado a uma conclusão e havia pensado muito naquele assunto. Dean fez um pacto com um demônio. Era a única explicação para Sam estar vivo novamente. Ele teria alguns poucos anos de vida e depois seria lançado ao inferno, mas eu acredito que teria feito o mesmo por um ente querido. - O que aconteceu depois que eu fui esfaqueado?
  Eu puxei dali e deixei que os rapazes conversassem. Encostada no capô do meu carro eu podia vê-los, mas não ouvi-los. Quando Bobby e Ellen se aproximaram, eu resolvi que poderia voltar lá. Querendo ou não, eu estava naquilo até o pescoço.
  - Bem, Olhos Amarelos pode estar morto, mas muitos mais saíram por aquele portão. - pude ouvir Ellen falando enquanto chegava.
  - Quantos você acha? - Dean perguntou a eles e depois olhou nos meus olhos, como se dissesse: ouça o que a sua amiguinha fez.
  - Cem, talvez duzentos. - Sam respondeu. - É um exército.
  - Duzentos? - perguntei. Eu acreditava que talvez fossem mais. - Eu vou consertar isso, eu prometo.
  Bobby nos olhou.
  - Espero que vocês estejam prontos. Uma guerra acaba de começar.
  - Então tá.
  - Eu estou. - olhei para cada um deles. - Vou caçar cada filho da puta que escapou por aquele portão. É o único jeito de nós duas consertarmos essa merda. - apontei para no carro.
  - Ninguém está culpando você, .
  - A garota é minha responsabilidade, Ellen. Ela se tornou minha responsabilidade desde que eu a tirei do Roadhouse. Meu ex-namorado está morto, minha família nem se lembra mais que eu existo... – me contive e não falei sobre todos que eu mantinha longe de mim por pura segurança. - Ela é a única pessoa que me resta, que me entende. - olhei para Dean, porque ele entenderia. Funcionou. Ele seria hipócrita se não entendesse. - Eu e ela estamos juntas nessa, não importa o que aconteça. Ela vai se redimir, eu prometo.
  - Ela vai ter que caçar muitos deles para se redimir. - Bobby apontou.
  - Ela vai. - olhei para trás. - Eu juro que ela vai.
  - Então todos nós temos trabalho a fazer. - Dean me respondeu, acenando com a cabeça.
  Eu olhei para Dean e então para os outros.
  - Sam, se importa de falar com ela? - pedi a ele. - Ela está muito abalada com tudo isso. Pelo que ela me disse, ele prometeu que nos pouparia. A garota perdeu tanta gente que não queria mais perder ninguém.
  Eu sabia que Sam discordava dela, mas, mesmo assim, andou até o jipe preto. Bobby e Ellen também se afastaram e eu me aproximei de Dean.
  - Você entende o que eu sinto por ela? É difícil não se apaixonar por uma garota tão inocente como ela.
  - Então você é mesmo lésbica, hein?
  Eu ri e me aproximei dele, segurando-o pela cintura. Com certa ferocidade e necessidade, colei meus lábios ao dele. Ouvi o assobio de Bobby e tive vontade de rir. Minhas mãos subiram para a sua nuca e eu embrenhei uma delas no cabelo louro escuro e macio dele. Surpreso, ele retribuiu o beijo da mesma forma: avassalador, desesperado, furioso. Me encostou no carro e seu corpo foi jogado contra o meu sem piedade. Não que eu não quisesse isso. As mãos dele fazia uma trajetória interessante da minha nuca à minha cintura e eu poderia estar nas nuvens, agora. Um calor familiar e prazeroso estava se espalhando pelas minhas terminações nervosas. Quebrei o beijo e olhei em seus olhos verdes.
  - Eu quero fazer isso desde o bar, sabia?
  - Você... Queria? - ele era tão mais bonitinho surpreso.
  - Queria, mas eu estava muito mais interessada em arranjar informações do que flertar com um cafajeste de boteco. - beijei seu maxilar e logo voltei a falar perto da orelha dele. - Você é o tipo de cara que eu gosto: uma noite divertida, sem cobranças ou um bom dia desajeitado de manhã. - ele riu e eu me afastei dele. - Sinto muito pela e entendo o que você fez pelo Sam. Eu... Não sou muito boa com sentimentos, Dean, então... Bem, é isso.
  - Eu pude perceber isso. - ele me puxou pela cintura, não querendo que eu ficasse afastada. Não protestei porque o calor que emanava do corpo dele me confortava. E me dava um puxão nas entranhas. Tudo bem, eu acabei de dizer isso mesmo? Está tão na cara que eu sou uma garota do interior? - Mas então, estava caidinha por mim naquele bar, hein? Eu sabia disso. Até você me ganhar na sinuca. Onde aprendeu a jogar daquele jeito?
  - Uma garota tem que aprender a se virar e a ganhar algum dinheiro fácil na estrada sem precisar vender o corpo. - acariciei sua nuca e sorri. - Temos duzentos demônios para caçar e minha melhor amiga causou tudo isso. – suspirei e beijei lentamente a orelha dele. Dean soltou o ar com força e seu aperto se intensificou. - Eu não devia gostar tanto de estar agarrada com você.
  - Situação difícil. - ele murmurou contra o meu cabelo. Não vou ser hipócrita: meu estômago se contorceu e eu senti um calor familiar no ventre. Um calorzinho que eu não sentia há muito, muito tempo. Desde Lance.
  - Eu poderia me fazer de difícil, mas... – mas estou terrivelmente louca por você, pensei. - Quanto tempo você tem de vida?
  Ele se afastou de mim e pôs as mãos nos bolsos. Parecia incomodado. Se olhasse para a calça dele, acharia que era por esse motivo, mas não.
  - Do que você está falando?
  - Sou ótima em deduzir as coisas. Quanto tempo você tem, Dean? - arqueei minhas sobrancelhas e esperei pela resposta.
  - Um ano. - ele respondeu, finalmente.
  - Mas isso é... - o quê?! Com que tipo de demônio mão de vaca ele se meteu? - Um ano é pouco tempo. - passei minhas mãos pelo meu rabo de cavalo. - Me encontre em vinte minutos no primeiro motel seguindo por essa estrada. - olhei para trás e vi Sam e conversando. Ela chorava e gesticulava muito.
  - O quê? - ele pareceu meio chocado com a informação e meio satisfeito, pelo jeito que ele sorriu depois.
  - Vinte minutos. Primeiro motel da estrada. Se atrase e vai perder a diversão.
  Ele me encarou por alguns segundos, incrédulo. Depois sorriu de lado e em seguida ficou sério.
  - O que te fez mudar de ideia sobre mim tão rápido?
  Dei de ombros. Eu não ia dizer que queria beijá-lo desde que o vi tão vulnerável quando o Sam morreu.
  - Dezenove minutos, Dean. Te vejo mais tarde. – Sam viu que eu me afastava e voltou para perto do irmão. tinha sumido novamente dentro do carro.
  Quando entrei, ela me olhou, assustada.
  - Você sabe que eu odeio chororô. - disse a ela. - Enxugue essas lágrimas, pegue uma arma debaixo do banco de trás e se prepare, .
  - Noah...
  - Me ligou. - fiz uma careta. Me ligou havia sido o modo de falar. Meus pais me ligaram para avisar que Noah tinha sofrido um acidente de carro e teve que amputar uma parte da perna direita, porque ele nunca me ligaria nem para isso. - Ele está vivo. Aleijado, mas vivo. Não se preocupe.
  Ela limpou as lágrimas com as costas das mãos e sorriu.
  - Eles estão bravos comigo?
  Bravos? Eles poderiam tirar a pele dela e usar de tapete.
  - Estão, mas você vai fazê-los engolir essa raiva quando a gente caçar todos esses demônios.
  - Eu vou fazer isso. Eu não vou mais ser fraca, . Estou tão feliz que aquele filho da puta do Olhos Amarelos morreu que eu poderia fazer qualquer coisa.
  - Esse é o espírito. - sorri para ela. - Vem, precisamos parar no primeiro motel dessa estrada.
  - Por quê?
  - Porque se a mamãe aqui for morrer nessa caçada, ela vai se divertir um pouquinho antes.
  Pisquei para ela, que não entendeu muita coisa. Bem, ela entenderia, eventualmente. Os faróis de um Impala se acenderam atrás de mim, na estrada. Uma última noite de diversão antes de uma caçada insana e intensa. Parecia bom. Eu me preocuparia com os outros problemas mais tarde.

FIM



Comentários da autora


  N/A: Então, não é nessa história que o Sam vai pegar alguém. Desculpe, Harriet! E você, hein, Fave... Danadinha! E desculpe para quem queria uma cena caliente, mas se estão tão carentes vão ler 50 Tons de Cinza. Mentira, não leiam esse livro machista, é uma porcaria mesmo (já estou imaginando a polêmica que esse pequeno comentário irá causar). Bem, gente, obrigada por ler. Estou muito feliz de ter terminado tudo isso e quero saber seu feedback, então não se esqueçam de comentar, tudo bem? Desculpem-me também pelo drama mexicano, mas foi necessário!
  Para você, Harriet, que ficou triste por não pegar o Sam de jeito e ser meio babaquinha nessa fic, não se preocupe. Em "One Night Stand" (guardem esse nome!) você vai ver como valeu a pena ser meio chorona nessa fic e saber o que aconteceu com Dean e Fave. Beijão, hunters! Não se esqueçam de comentar! Até a próxima!