Jackpot

Escrito por Nicki Snows | Revisado por Natashia Kitamura

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  Me ajeitei na cadeira alta, observando a aglomeração de pessoas acertando as luzes, trocando os cabos de força, posicionando as câmeras, ajustando o cenário e mais uma imensidade de detalhes nos bastidores de BPoppers TV, programa de raiz brasileira, firmado na Coréia do Sul, dedicado aos fãs e curiosos de grupos e artistas solo diversificados, que tem como foco mostrar um pouco do cotidiano das estrelas mais prestigiadas da indústria musical coreana e de outros países. Além de ter também uma visão de resgatar à mídia os artistas não tão privilegiados nesse meio.
  Por isso, penso que foi uma boa decisão da minha parte contar toda a verdade, em rede internacional, sobre o que me fez largar essa vida de estrelato.
  — — Melanie veio me abraçar —, primeiramente eu quero te agradecer, mais uma vez, por ter aceitado o meu convite para participar do programa. É muito importante para nós e acredito que para você também.
  — Ne, é a resposta que eu estou devendo aos fãs do meu trabalho e fico feliz por finalmente poder contar a eles tudo que aconteceu e o porquê de ter tomado essa decisão. — Eu disse sincera, fazendo Melanie alargar o sorriso. — E você sabe que eu jamais negaria a um convite seu.
  — Eu estou tão feliz quanto você e tão curiosa quanto a minha filha. — nós rimos um pouco. — Você sabe que ela é uma grande fã sua e assim como os outros, está ansiando por esta entrevista.
  — Eu sinto por ter partido o coração da pequena Haru e de tantos outros fãs, mas eles irão entender tudo isso. — Eu suspirei fraco. — E quanto ao programa, eu sempre dou preferência a vocês. — Nós rimos novamente.
  — São muitas matérias sobre você que nós temos com exclusividade, e os fãs sempre estão revendo a todas elas. — Eu sorri satisfeita. Nada como o amor dos para reconhecer e recompensar todo o trabalho duro que eu dei ao longo dos anos. — Agora, eu acho que já estamos prontos para começar a entrevista, está preparada?
  — Eu tentei me preparar para este momento, e achei que realmente estivesse pronta. — suspirei forte. — Mas agora percebo que não, então vou apenas deixar que as coisas fluam da melhor maneira. Minha única preocupação é expressar a verdade a todos.
  — Sei que você fará o seu melhor. — Eu sorri e Melanie foi chamada pelos staffs.

  Alguns fãs que trabalhavam nos bastidores me pediram autógrafos e tiraram fotos comigo, além de contar como as minhas músicas os ajudaram, de alguma forma. Certamente, eu sentirei falta dessa interação com cada um de meus .

  Depois dos últimos retoques, todos já estávamos posicionados, prontos para começar a entrevista.
  — Annyeong*, galerinha bonita e animada, gwaenchanha*? Eu sabia que sim! Jeoneun Melanieimnida* e você está assistindo ao BPoppers TV! — Ela sorria largamente e gesticulava a cada palavra. — Hoje estamos com uma das artistas mais maravilhosas que já passou por aqui. Uma dica: vocês pedem muito por novas matérias dela. Já sabem quem é? Ninguém menos que . — Eu balancei a cabeça, sorrindo. — Como vai, ? Há quanto tempo não nos víamos, hein?!
  — Annyeong, que saudade de estar aqui com vocês! — Eu sorri enquanto acenava para os fãs ao lado de fora. Conseguia ter uma boa visão de cada um deles através dos vidros que rodeavam o local. — Ye*, eu tentei ficar um tempo afastada da mídia, apesar de não ter conseguido muito bem — todos riram um pouco — Mas agora estamos matando a saudade.
  — Sim, a sua tentativa de se livrar de nós foi falha. – Melanie disse num tom divertido. — Mas nos conte, como foi para você ficar esse tempo longe dos fãs, dos holofotes, dos cliques... Hum, como foi ficar longe de tudo?
  — Melanie, eu confesso que foi bem difícil para mim! — Ouvi alguns fãs gritarem o meu nome e eu ri fraco — Como todos sabem, eu amo interagir com os , então senti falta dessa nossa reciprocidade. Mas, eu precisava muito desse tempo só para mim.
  — Arasseo.* — Ela disse, enquanto balançava a cabeça. — Agora me conte, você recebeu muito hate durante esse tempo?
  — Nossa, muito. — Melanie parecia incrédula. — Até mesmo dos fãs.
  — Aigo!* — Ela me olhou espantada. — Mentira, ?!
  — É verdade, hoje mesmo a caminho daqui o meu pneu foi furado, tivemos que trocar rapidamente. — As pessoas pareciam realmente espantadas. — Ontem o meu carro foi arranhado e o retrovisor arrancado, na garagem do meu apartamento.
  — Uwa*, eu não consigo acreditar que fariam algo assim com uma pessoa tão amável como você. Que maldade! — Alguns fãs levantaram plaquinhas de apoio e eu os mandei beijo no ar. — Então esses foram os casos mais extremos?
  — Não mesmo, há dois meses uma hater tentou invadir o meu quarto, levando doces envenenados. Ela se passou por uma fã quando os seguranças se aproximaram e a abordaram, mas os exames comprovaram que tinha veneno e drogas injetáveis nos alimentos, então ela assumiu que fez isso porque sente raiva de mim. — Dei um longo suspiro, mantendo o meu olhar e voz firme. — Depois descobrimos que ela morava perto da minha antiga casa aqui na Coréia, mas pelo que eu me lembro, nunca nos demos bem.
  — Mas por que tanto ódio no coração?
  — Segundo ela, eu não merecia ter recebido tanta fama e apoio dos fãs, já que não tenho talento. Enquanto a mesma, sendo talentosa, nunca teve a oportunidade de realizar seu sonho de ser cantora. E eu ter me afastado de tudo que ela tanto deseja, nesses últimos tempos, fez o ódio dela aumentar e por isso tomou esta atitude. — Percebia o espanto no olhar de todos. — Felizmente, eu estava na casa dos meus pais quando tudo aconteceu, então não corri nenhum risco.
  — Eu estou imaginando agora se você estivesse em casa naquele dia. — Melanie ergueu as sobrancelhas. — Com certeza teria comido os doces, porque os fãs gostam de te presentear com guloseimas, etc.
  — Ne. E eu não recusaria, porque amo receber esse tipo de presente e, todos sabem que eu sou bem gulosa — ri forte. — Mas, eu não estaria aqui agora para contar isso a vocês.
  — A mídia não sabia desse caso.
  — Não sabia, eu pedi sigilo absoluto aos especialistas que contratei. — Eu disse com firmeza.
  — Que bom que você está bem, não dá para imaginar o mundo sem você. — Eu soltei uma risadinha, vendo os fãs concordarem do outro lado. — Mas , agora eu vou fazer a pergunta que todos anseiam pela resposta.
  — Ye — Eu disse em concordância, já sabendo qual seria.
  — Por que você decidiu largar tudo que conquistou até hoje, repentinamente? O que te fez abrir mão de tudo que você tem, atualmente? — Houve um silêncio dentro e fora do local e eu senti que começaria a suar, de nervoso.
  — Bem, essa decisão foi repentina para todos, mas eu já estava com esse pensamento em mente desde o comecinho da fama. — Melanie assentia a cada palavra que eu dizia. — Eu só tive coragem de sair da empresa em que eu era agenciada e contar toda a verdade agora, porém, a vontade de jogar tudo no ventilador era imensa e crescia dentro de mim há tempos.
  — Pode nos explicar melhor o real motivo pelo qual você saiu da BPM Entertainment? — Eu suspirei forte.
  — Foi por uma série de acontecimentos.
  — Você pode nos detalhar por etapas? — Melanie parecia receosa em perguntar, mas sem perder a firmeza na voz.
  — Geurae.* — Eu respirei fundo. — A primeira coisa que aconteceu foi o pontapé inicial para a minha fama, o início de tudo mesmo.

  Flashback On:

  Estava eu caminhando pela rua da biblioteca, que fica a três blocos antes da minha casa, quando vi um grupo de crianças da minha idade se divertindo, então eu parei para observá-los de longe. Alguns dançavam, outros cantavam, e havia os curiosos que apenas aplaudiam.
  Tentei me aproximar mais, de forma que não fosse notada, porém o caminho só se abria ainda mais para mim e eu recebia os olhares constantes das pessoas ao meu redor. Eu parecia até uma atração naquele lugar e, de certa forma, eu era.
  — Ya!* — Olhei para o menino que chamou minha atenção. — Por que está tão distante? Acha que só por ser estrangeira pode ficar nos olhando com desdém?
  — Não. — eu disse envergonhada. — Só fiquei curiosa.
  — Curiosa? — Ele riu junto com os demais. — Você sabe fazer algo além de ficar curiosa, estrangeira? — Continuaram a rir.
  — Sim. Eu sempre cantei no coral da igreja que eu frequentava e sempre participei do musical de fim de ano em minha antiga escola. — Percebi que a expressão do menino havia mudado.
  — Se você realmente fazia essas coisas, nos mostre — ele apontou para o meio da rodinha. — Você só tem uma chance. Se falhar, já sabe o que vai acontecer. — Ele direcionou o olhar para um menino caído no chão, sujo de ovo podre.
  — Jinjja? Ya! Ppalli Ppalli!* — Uma das meninas reclamou, fazendo careta. — Depressa! O que está esperando, estrangeira?

  Colocaram uma música, que no começo eu desconhecia, mas logo a reconheci e dancei Shall We Dance com bastante vontade, deixando alguns de boca aberta e outros indignados.

  — Okey dokey! Você sabe mesmo dançar, estrangeira — eu assenti com a cabeça. — Mas, você também sabe cantar?
  — Mwo?* Eu duvido que ela saiba cantar tão bem quanto eu — a menina de antes disse, parecia estar tentando me provocar.
  — Então eu vou te dar a certeza. — Eu a respondi de sobrancelhas erguidas e num tom mais elevado, ela havia me irritado um pouco.
  — Ya! Jugeullae?* — A mesma me olhou com fúria.
  — Jessi-yah, deixe que ela comece. — Um outro menino, que aparentava ser o mais velho de todos, disse fazendo a menina revirar os olhos.
  — Oppa* – ela disse em um tom manhoso e o menino arqueou as sobrancelhas. Percebi que ela continuava com raiva. — Geurae. Vamos ver do que ela é capaz.

  Desta vez, eu pedi que não colocassem música, me senti inspirada a cantar Hug Me Now à capela, deixando todos impressionados, inclusive a raivosa Jessi.

  — Eureka! — Ouvi uma voz grossa dizendo. — Você é muito talentosa! Gostei bastante do seu desempenho sob pressão. — Um homem alto, usando terno amarelo e calça social de mesma cor, saiu do meio da aglomeração de pessoas e se aproximou de mim. Eu fiquei surpresa com suas palavras, porém também assustada com seu jeito enigmático e um tanto intrigante. — Você também atua?
  — Sim, eu participava do clube de teatro em minha antiga escola. — Respondi num tom baixo, ainda estava estranhando o homem.
  — Isso é ótimo! — Ele abriu um sorriso largo e eu engoli o seco, não sabia o que fazer. — Você mora por aqui mesmo ou está a passeio?
  — Eu moro aqui há três semanas — ele arqueou as sobrancelhas. — Ainda estou me familiarizando com o novo ambiente.
  — Ye, arasseo* — ele olhou ao nosso redor. — Podemos nos afastar um pouco da multidão? — Meu coração acelerou, estava mais assustada que antes. — Só quero conversar melhor com você, sobre o seu futuro. — Eu assenti com a cabeça, mas quase negando.

  Me afastei um pouco das pessoas, que ainda nos olhava com curiosidade e ele parou à minha frente, sorrindo largo, novamente. E que sorriso assustador!
  Ele me apresentou todas as maravilhas que vêm junto com a fama e os meus olhos se encheram. Me vi cega e determinada a conquistar tudo aquilo, mesmo que me custasse a minha infância

  — Mas nada é assim tão fácil... A ganância humana não tem limite, é infinita. — Eu abri ainda mais os olhos e ele sorriu ladino. — E todos continuam repetindo os mesmos erros.
  — O que quer dizer? — Eu fui direta.
  — Se você vive com dignidade e tenta ser bem-sucedido, você não chega nem na metade do caminho. — O homem disse, sem remorso. — E ninguém permitirá um só erro, apenas jogarão os dados do destino. — Ele me observava profundamente, parecia estar tentando captar qualquer reação contrária. — Enriqueça ou morra. Mas se conseguir sobreviver, apenas deixe tudo como está, ninguém precisa saber. — Ele calculava cada mínima expressão que eu fazia. — Eu te apresentei o jogo e ele não é limpo, agora você decide se quer seguir adiante.
  — Bem. — eu tentei encontrar palavras certas para responde-lo, mas confesso que a minha mente estava ocupada demais tentando processar tudo que eu acabara de ouvir. — E-eu... Acho que... — Ele levantou uma sobrancelha e eu engoli o seco. — Posso tentar.
  — Repito: o jogo não é limpo. — Ele firmou o tom de voz e apertou um pouco os olhos, mas logo suavizou a face, tornando a sorrir. Me senti confusa e intrigada.
  — Sim, eu entendo. — Respondi imediatamente, sem hesitar. — Mas esta é a chance da minha vida, eu não posso desperdiça-la. Eu não quero desperdiça-la.
  — Você tem apenas 11 anos. Aparentemente, é uma criança tímida e inocente. — ele andou de um lado a outro, me olhando de sobrancelhas arqueadas. Porém, rapidamente sua expressão mudou para uma mais séria. — Mas percebo que é uma menina bastante esperta e ambiciosa. — Seu tom de voz, que antes era gentil e divertido, passou a ser mais firme e ríspido.
  — Bem, acho que sim. — Eu dei de ombros e ele sorriu, enquanto ajeitava a sua gravata borboleta também de cor amarela.
  — Geurae — ele tirou um cartão do bolso de seu terno e me entregou. Cartão esse com design curioso, já que mais parecia uma carta de baralho. “Zico, então é esse o seu nome”, pensei. — Este é o meu contato, caso você tenha interesse, vá com um dos seus responsáveis à minha agência ainda amanhã.
  — Assim tão rápido?
  — Ainda há alguma dúvida nesta jovem mente? — Ele apertou de leve o dedo indicador em minha testa, mas eu não o respondi. Mantive a minha atenção no cartão. — Gwaenchanhayo. Mas, te dou um conselho: não desperdice o seu talento.

  No dia seguinte, eu ainda estava me espreguiçando em minha cama quando senti a luz do sol invadindo o meu quarto. Forcei um pouco os meus olhos quando a claridade os sensibilizou, sentindo algo repuxar o meu cobertor, que ainda estava por cima de mim.
  Assustada, dei um pulo da cama, logo me deparando com a minha mãe me encarando. Ela me olhava com intensidade, o que me deixou curiosa.
  — O que significa isto, ? — Ela me mostrou o cartão de contato do caça-talentos, o homem estranho de ontem, e eu me sentei na cama, engolindo o seco. — Quando peguei sua calça para lavar, este cartão, que mais parece uma carta de baralho, caiu do bolso. — Ela balançou o objeto no ar.
  — Bem, ontem eu caminhei um pouco pelo bairro e encontrei algumas crianças dançando, cantando, brin...
  — Hum, me deixe adivinhar — ela pensou um pouco. — Você viu essas crianças mostrando o talento delas e decidiu fazer o mesmo. Então , o caça-talentos, te viu no meio das outras crianças, disse que você se destacou entre eles, encheu a sua cabeça de caraminholas e agora você quer ser artista. — Eu franzi a testa, boquiaberta. — Não foi assim?! — Ela ergueu as sobrancelhas, esperando pela resposta.
  — Então, foi basicamente as...
  — Olha , eu não sei, essas pessoas são muito mentirosas — Minha mãe parecia confusa e, ao mesmo tempo, preocupada. — O meio artístico não é confiável, e eu não quero que você se iluda.
  — Eu sei, mãe, e entendo a sua preocupação. Mas diferente do comum, ele não me pareceu aproveitador, pelo contrário, foi muito franco.
  — O que você quer dizer com isso? — Ela me olhou desconfiada e só então eu percebi que havia pensado alto demais.
  — Nada — eu hesitei um pouco, tentando resumir com suavidade as palavras do homem. — Ele apenas deixou esclarecido que a vida artística é difícil.
  — Sim, ele tem razão. Por isso, eu não quero que você passe por dificuldades. — O meu olhar pesou e eu já sentia que a tristeza queria se achegar. Ao que parece, minha mãe também percebeu. — O que mais ele disse? Digo, como poderíamos encontra-lo?
  — Indo à agência. Eu deveria ir ainda hoje, com você ou meu pai.
  — E quando pretendia me contar isso? — Ela se sentou ao meu lado.
  — Bem, a verdade é que eu fiquei com medo de te contar. — minha mãe franziu a testa. — Não sabia qual seria a sua reação.
  — , o que é isso?! — Ela parecia incrédula. — Não precisa ter medo do que vou dizer ou fazer, filha. Você sabe que sempre contamos tudo uma para a outra, como melhores amigas fazem. — Eu assenti, suspirando.
  — Sim, eu sei. Foi bobagem minha.
  — Hum. — ela pensou um pouco. — Não demore a se aprontar, ainda quero terminar de lavar as roupas quando voltarmos.
  — Então nós iremos? — Eu perguntei empolgada e ela assentiu, rindo fraco. — Mas, você não vai contar ao meu pai?
  — Sim, mas primeiro eu quero saber de todas as informações possíveis, depois converso com seu pai sobre seu suposto futuro nessa agência, qual é mesmo o nome?
  — BPM Entertainment.
  — Certo. O seu café da manhã já está sobre a mesa, se apronte rápido. — Ela ordenou e eu assenti, sorrindo abobalhada. — Te espero na sala daqui a 20 minutos, e não coloque àquela tiara da cor do Brasil, sei que sua avó te deu com a melhor das intenções, mas é horrível. Não use!
  — Pode deixar, general. — Eu bati continência para provoca-la e ela me olhou irritada, logo saindo do quarto.

  O que aconteceria em minha vida a partir de hoje, eu realmente não sei, mas sinto que será algo bom.
  Talvez, o início de uma grande carreira...

  Duas semanas depois de ter assinado contrato com a BPM Entertainment, retornei à agência a pedido do produtor , não sabia exatamente o que aconteceria, mas eu já tentava manter o meu psicológico preparado.

  — -yah — eu me curvei em respeito e ele sorriu largamente, parecia surpreso e animado ao me ver. U-Kwon usava um terno preto com detalhes em branco, e seu cabelo jogado para o lado, quase que perfeitamente alinhado, o deixava ainda mais bonito e elegante. — Por favor, sente-se.
  — Obrigada.
  — Já pensou mais sobre o seu nome artístico? — Ele ergueu as sobrancelhas.
  — Sim! — eu respondi num tom animado. — Gosto de Hara.
  — Não gostei. — Ele disse simples, olhando e mexendo em algumas pastas à sua frente.
  — Bem, eu também pensei em Lola. — Eu disse esperançosa.
  — Não, horrível. — Respirei fundo, tentando não perder a paciência. — Sua mãe te deu alguma sugestão? Aliás, por que ela não veio?
  — Minha mãe sugeriu Dana — Ele fez careta, sabia que não havia gostado. — Ela precisou resolver algumas questões sobre a matrícula em minha nova escola.
  — Ela não acha arriscado deixar uma menina de 11 anos andar por aí, sozinha? — Ele pigarreou, tornando a mexer nas pastas. — Digo, aqui não é uma creche, certo? — me olhou de relance e eu concordei.
  — Minha mãe sabe que eu sou responsável. — Eu disse instantaneamente e ele riu fraco, folheando alguns papéis que estavam dentro de uma das pastas. — Não gostou dos nomes?
  — Não, nenhum me agrada. — Ele escorou o cotovelo por cima da mesa e segurou seu queixo com a mão aberta.

Enquanto eu pensava em algum outro nome, ouvimos alguém bater na porta e só então reparei na sala; as paredes em tons coloridos e decoração com design exótico, além de pôsteres dos grupos mais bem-sucedidos da agência.
  Mais uma vez, bateram na porta, o que me fez voltar minha atenção no que estava acontecendo.

  — Entre! — disse num tom mais elevado, porém sem tirar os olhos da folha amarelada que o mesmo segurava.
  — Joesonghamnida sundae*, eu não sabia que estava ocupado — se curvou levemente e me olhou curioso. — Eu retorno em outra hora. — Saiu rápido, desviando o seu olhar para fora.
  — Que tal Sapphire? — Eu perguntei esperançosa e ele balançou a cabeça, voltando sua atenção para mim.
  — Hum, é bonito. Eu gosto — parecia estar pensando — Mas eu preciso de um nome mais original, e que seja de acordo com a sua personalidade.
  — Posso pensar mais um pouco?
  — Ya! Jeongmaryo?* — Ele bateu com as mãos na mesa, me assustando. — Você teve duas semanas para isso.
  — Joesonghamnida*. — Pedi, curvando um pouco minha cabeça.
  — Uwa! Finalmente você está começando a falar em coreano. E eu não sei se isso é bom ou ruim. — Ele disse me olhando surpreso e preocupado. — , este será o seu nome artístico, gosto de como soa. E combina muito com você! — Ele, que antes parecia irritado, agora até sorria de tanta empolgação.
  — Mas...
  — Mas nada, a partir de agora você se chamará . Será reconhecida assim pelo mundo.

  Em dois anos trabalhando muito duro e fielmente, como trainee, finalmente eu consegui iniciar a carreira artística, como cantora.
  Depois de tantas promessas ilusórias e de um futuro incerto, alcancei um sucesso estrondoso logo em meu debut. Foi incrível, porém também assustador, eu não sabia o que me esperava. Com apenas 13 anos, eu sabia muito bem o que queria, mas eu não tinha dimensão do que queriam de mim e do quanto eu seria cobrada, por tudo.
  As coisas não foram tão simples e eu realmente pude entender o que significa a podridão que é a indústria musical; apenas os poderosos conseguem encobrir suas sujeiras, pois nesse meio, é o dinheiro que comanda tudo e todos.

  Dois anos se passaram desde o meu debut e eu havia sofrido algumas mudanças no corpo, na voz e principalmente na mentalidade, o que preocupava demais a agência, já que faziam de mim uma marionete. Mas amadureci muito rápido, aos 15 anos eu sentia que estava mais forte para encarar as situações contrárias, apesar de sempre ter o apoio da minha mãe.

  Enquanto eu esperava a minha mãe sair de um dos banheiros da BPM Entertainment, depois de uma reunião sobre como seria feito o novo MV do meu comeback*, caminhei um pouco pelo corredor arejado com plantas ornamentais. Vi , meu namorado, sentado no banco perto do pequeno lago à sua frente, estava cabisbaixo e parecia desnorteado, então me aproximei dele lentamente.
  Me sentei ao seu lado, sem o alarmar. Ainda assim, ele me olhou forçando um sorriso, mas logo desviou seu olhar de mim para o lago.
  — Oppa — eu disse o olhando com suavidade e curiosidade, me aproximando mais dele, que estava usando calça e terno branco, com uma rosa no bolso do mesmo. Além do cabelo perfeitamente alinhado por baixo do chapéu preto, e seus óculos, de armação quase transparente e arredondado, sem esquecer dos sapatos de couro legítimo. — Gwaenchanha?
  — -yah. — ele suspirou forte. — Gwaenchana.
  — Mas você não parece nada bem. — continuou olhando à sua frente, sem muita reação — Digo, você não é calado assim, sempre se anima ao me ver.
  — Jagiya*, lembra de tudo que planejamos nos últimos meses? — Eu assenti, mesmo sem entender. — Não poderemos viver nada disso. — Ele se virou para mim, com uma expressão séria e preocupante.
  — , você está terminando comigo? — Eu arqueei as minhas sobrancelhas e ele riu fraco, sem humor.
  — Não, não mesmo. — Ele segurou em meu rosto, levemente. — Mas, o que eu tenho para te dizer é grave. — Engoli o seco. Apesar de estar o ouvindo atentamente, tinha medo do que viria a seguir. — Ontem quando voltei do programa de rádio Give & Take, a minha manager disse que eu teria uma reunião importante hoje aqui na agência, então eu me vesti com o meu melhor terno; o que você me deu de presente. Calcei os sapatos mais caros que tenho e vim todo esperançoso. me recebeu com aquele mau-humor de sempre, mas parecia menos pior hoje, o que foi uma mentira. — Franzi a testa, estava confusa demais. — Me ofereceu um ótimo almoço junto a ele e eu até fui discretamente assediado por sua secretária. — Suspirei forte, não gostei nem um pouco do que eu ouvi. — Bem, o que eu quero dizer é que, ele não quis renovar contrato comigo e eu estou oficialmente fora da BPM Entertainment.
  — Mwo?* — Eu me afastei um pouco para o olhar melhor e ele assentiu, parecia não querer aceitar a sua nova realidade. — Depois de tantos anos de trabalho duro, eles simplesmente te excluem da empresa, e desta forma?
  — Aish! E a única explicação que me deram foi: “Você já está avançando na idade e nós estamos querendo atingir um público mais jovem, no qual você, como idol, não se encaixa.” — Eu fiquei boquiaberta com tamanha falta de consideração para com todo o trabalho que , ao longo dos anos, se dedicou para fazer. — Não se espante, mas ainda não acabou, eles disseram mais: “E seu namoro com a não está sendo bem visto pelos , já que eles acham que você está se aproveitando da inocência dela, por ser mais velho que a mesma.”
  — Jinjja? suspirou. — Você está brincando comigo?!
  — Eu gostaria de estar, mas não. Infelizmente, é verdade. — Eu arregalei os olhos a ponto de eles quase saltarem do meu rosto. — Sei que está chateada, mas não se culpe.
  — Eu não estou me culpando, porém...
  — Eu te conheço, . — me interrompeu, ele sabe como a minha mente funciona.
  — Mas como não me culpar? Eu devia ter te defendido quando esse assunto surgiu, mas não, eu só deixei e agora, perceba à proporção que isso tomou. — Ele pigarreou e eu o olhei nos olhos. — Eu farei isso assim que chegar em casa e não importa o que aconteça, eu quero que todos saibam o quão importante você é para mim, independente da idade. — Ele sorriu de lado, beijando a minha mão, delicadamente.
  — Eu não entendo. — começou. — Mesmo que eu esteja ficando mais velho, a minha carteira só fica mais flexível, para ambos os lados. Não é isso que eles querem?
  — Jagiya — chamei sua atenção, segurando em seu queixo. —, eu sei que essa situação é complicadíssima, mas não crie um sentimento ruim em relação a isso.
  — Você tem razão. Eu estou muito chateado, mas ao invés de me vingar, eu vou apertar a mão de quem me ignorou. — Eu assenti. — O problema é que, às vezes, a minha gravata pode se tornar uma coleira, e o meu relógio de pulso em algemas. — Ele disse num tom debochado.
  — Ya! Jugeullae? — Eu lhe dei uma tapa no braço. — Não se meta em encrenca!
  — Geurae. — Ele disse em um tom melancólico, alisando o seu braço. Mas, logo rindo fraco.
  — Você fez um bom trabalho, , isso ninguém pode negar! — Eu disse sincera e ele assentiu, envergonhado. — E eu vou continuar te apoiando, independente de como será o seu futuro.
  — Gomaweo. — Ele me entregou a rosa que estava em seu bolso — Eu tenho muito orgulho de você, sabia?! — Eu sorri um pouco, respirando fundo. — Mas eu quero te pedir que tome cuidado com essas pessoas, nenhuma delas é confiável. E não se iluda, tenha os seus pés no chão. Nós imaginamos uma vida incrível e, por um tempo, eles até nos dão o que desejamos, mas quando abrimos os nossos olhos, tudo não passou de uma ilusão.

  — Filha, você não vai acreditar no que eles estão pedindo! — minha mãe se aproximou de nós, fechando a sua bolsa, depois de pegar um lenço. — Uwa! Annyeong sonyeon, me desculpe. Eu fiquei tão nervosa que esqueci de cumprimenta-lo. Mianhae.
  — Annyeonghaseyo ajumma, gwaenchanhayo. disse sincero, sorrindo.
  — O que eles querem desta vez, mãe?
  — Que você faça cirurgias plásticas.
  — Mwo? e eu dissemos em uma só voz.
  — É isso mesmo que vocês ouviram. — Ela parecia nervosa e eu olhei para , que bufava de raiva.

  Flashback Off.

  — Foi basicamente por isso que eu quis largar tudo.
  — Mas, o seu sonho se realizou e hoje você desfruta dele. — Melanie disse em um tom sereno.
  — Ne, o meu sonho se realizou rapidamente e foi um bombardeio de novidades a partir daquele dia. — Eu respondi sincera e Melanie sorriu.
  — Sua mãe foi a sua maior incentivadora, certo?
  — Certíssimo! Desde sempre, ela me deu muito apoio ao longo dos anos e acompanhou o andamento da minha carreira de perto. — Eu sorri, lembrando da nossa trajetória. — Minha mãe é a melhor amiga que eu poderia ter.
  — Oh, meosjyeo! — Os fãs suspiraram junto com Melanie e eu ri fraco. — Seu pai também apoiou você?
  — Muito, desde o início da minha carreira. Ele sempre me deu muita força, mesmo de longe, pois trabalhava muito e não tinha tempo de me acompanhar, como a minha mãe fazia. Mas eu lembro que antes dos shows, eu sempre ligava para ele e conseguia ter o seu incentivo para iniciar bem as performances.
  — Ye, nas suas entrevistas você sempre disse que o seu pai trabalhava muito e esse foi um dos motivos da mudança de vocês do Brasil para a Coréia do Sul. — Eu assenti. — Qual foi a sua maior dificuldade aqui depois que vocês se mudaram?
  — Comunicação. Eu era uma menina muito tímida, e pode parecer que não, mas ainda sou um pouco. — As pessoas arregalaram os olhos, boquiabertas. Pareciam surpresas e incrédulas. — Isso me dificultou bastante, porque eu tive que aprender dois novos idiomas; coreano e inglês, e a única forma de me comunicar com as pessoas era deixando a timidez de lado e usando uma das novas línguas. Só que eu precisei fazer isso para tudo e o tempo inteiro, então não foi fácil, nem um pouco.
  — Você teve ajuda da BPM Entertainment?
  — Pelo contrário, por conta disso eles fizeram de mim uma boneca manipulável. — Eu disse sincera, sem receio do porvir. — O produtor foi o intermediário entre a empresa e eu, então eles se aproveitaram da minha dificuldade de comunicação.
  — Se aproveitaram em qual sentido?
  — Hum, como eu já disse, fizeram de mim uma boneca manipulável — Melanie assentiu com a cabeça. — Eu tive que fazer várias mudanças em curto tempo, tentaram de todas as formas me mudar.
  — Mas não é normal que façam isso antes do debut dos idols?
  — Normal não é, mas se tornou comum em nosso meio e nós não podemos fazer nada contra, pois somos manipulados o tempo inteiro. — Eu ri sem humor, lembrando de como foi passar por tudo isso. — Nós não temos voz para reclamar.
  — Você acha que por ser brasileira teve algum peso em relação a isso?
  — Justamente por ter traços ocidentais, eu fujo totalmente do padrão coreano, isso é óbvio e compreensível, mas nas agências é muito comum tentarem mudar o nosso cabelo para termos um modelo e cor mais usado por aqui, em nossas fotos eles tentam ao máximo clarear o nosso tom de pele, as maquiagens são as mais típicas das coreanas, entende? É uma série de coisas absurdas que são transparentes para todos, mas que mesmo assim passa “despercebido”. — Eu disse, fazendo aspas com os dedos. — A única coisa que eu realmente não cheguei a fazer foram as cirurgias plásticas, que segundo eles eu teria que me submeter, e mesmo assim fizeram maquiagens para tentar esconder alguns dos meus traços naturais.
  — Por que você precisaria das cirurgias?
  — Bem, ao longo dos anos eu mudei bastante, mas vocês podem se lembrar de como eu era no início da minha carreira. — eu vi um fã segurando uma foto antiga minha e apontei para a imagem. — Olha ali, totalmente desproporcional para o padrão que eles exigiam. — As pessoas direcionaram seus olhares para a foto.
  — Mas você debutou aos 13 anos, não acha que talvez seria um zelo que eles queriam ter pela sua imagem?
  — Não creio que a palavra certa seja "zelo", mas sim "garantia". Eles precisavam garantir que a minha imagem estivesse perfeita aos olhos dos fãs, assim o dinheiro cairia como chuva forte para eles. — Suspirei. — Eu debutei aos 13 anos, mas assim que eu completei os meus 15 anos, eles vieram com a conversa da cirurgia para eu remover algumas imperfeições grosseiras em meu rosto, depois começaram a mapear o meu corpo inteiro na busca de imperfeições para corrigir.
  — Mentira, ?! — Melanie quase deixou os olhos saltarem de seu rosto, por tamanha surpresa.
  — É sério, Melanie. Infelizmente, aconteceu e foi se prolongando por muitos anos, eles foram muito insistentes.
  — Como você se recuperou disso tudo? Porque sabemos que houve um período em que você entrou em depressão e pensou em parar com a carreira. — Eu assenti freneticamente. — Como foi para você lidar com essa doença e mais a pressão da agência?
  — Olha, eu nunca passei por um momento tão difícil quanto esse.
  — Nem mesmo este momento agora?
  — Nem mesmo o de agora, eu sofri uma pressão tão sufocante que pensei realmente em acabar com tudo.
  — Quando você diz: "acabar com tudo", se refere a o quê, especificamente?
  — Me refiro a acabar com todo sufoco que eu estava sentindo, acabar com todos os sentimentos que estavam me enlouquecendo, acabar com a minha consciência, definitivamente — eu respirei fundo, não queria que as crianças ouvissem claramente o que eu estava tentando dizer — Só queria acabar com tudo.
  — Você parece um pouco abalada agora. — Melanie disse preocupada. Sabia que o seu olhar naquele momento era o de uma amiga que se importa, e não o de uma entrevistadora gananciosa. — Quer beber uma aguinha?
  — Ye, muljuseyo*. — Algum staff me entregou uma caneca cheia de água fresca e eu tentei respirar fundo, normalizando a minha respiração. — Eu peço desculpas por isso, não queria preocupar nenhum de vocês.
  — Não precisa se desculpar por nada, nós estamos aqui para te dar total apoio. — Melanie segurou uma das minhas mãos e os fãs me aplaudiram, pude ver pelas paredes de vidro. — Olhe tudo isso e sinta o quanto você é amada.

  Continuei observando os meus admiradores me aplaudindo e gritando pelo meu nome, acenei fielmente para todos e agradeci, curvando um pouco o meu corpo.
  Bebi mais um pouco de água, já me sentia mais tranquila para continuar a entrevista.

  — Sinto que preciso responder a esta questão, para poder fechar mais essa página em minha vida. — Eu disse quase como um pedido, recebendo a aprovação de Melanie. — Primeiro eu quero dizer que o apoio da minha família foi fundamental para a minha passagem por essa situação, não foi fácil para nenhum de nós, mas um apoiou o outro e nós nos fortificamos, juntos. — Sequei algumas lágrimas. — Eu chorava muito em meu quarto e cheguei ao ponto de quebrar, propositalmente, todos os espelhos da casa. Eu não queria memorizar a minha face e muito menos o meu corpo, pois sabia que estava fora do padrão.
  — Você não tinha mais autoestima? — Eu neguei com a cabeça, em resposta. — Você tinha perdido a sua confiança?
  — Sim, era difícil pisar no palco e levar alegria aos meus fãs, quando dentro de mim eu estava em um conflito interminável, comigo mesma. — Eu contive as minhas lágrimas. — Outro ponto alto da minha vida foi a coragem da minha mãe em enfrentar todos os poderosos daquela agência, ela realmente lutou para que eu não fizesse as cirurgias plásticas. Foram anos de insistência, mas ela resistiu a todos eles.
  — Então foi a sua mãe que a protegeu de toda pressão?
  — Até onde pôde, ela sabia que eu estava sofrendo e não tinha mais forças contra eles. Mas pensando em mim, minha mãe usou a lógica a seu favor, pois eu ainda era menor de idade e não faria nada sem a autorização dela ou do meu pai, então foi quando o manager deu um tempo no assunto. — Eu olhei diretamente para a câmera.
  — E quanto às roupas? Você foi muito criticada pela forma como se vestia aos seus 14 e 15 anos, pela mídia e pelos pais de muitos fãs. — Eu engoli o seco com as lembranças ruins que me vieram à mente. — Como foi para você ser chamada de "má influência", entre outras coisas piores? — Perguntou, fazendo aspas com as mãos.
  — Eu acabei causando uma impressão ruim sobre mim mesma. Mas quem realmente me conhecia, sabia o quanto eu me sentia desconfortável pelas roupas mais adultas que eu usava.
  — Quando você diz: "mais adulta", soa como algo que não te pertencia. — Eu balancei a cabeça positivamente. — Naquela época, não era a fase de usar coisas assim?
  — Não mesmo, e definitivamente, eu detestava àquelas roupas! Eram provocativas, não combinavam com a minha personalidade e nem de longe eram adequadas à minha idade.
  — E depois disso, surgiram os boatos de que você estava namorando com . Saiu em diversas revistas e programas de TV brasileira, coreana e de vários outros países, a grande novidade. — Eu assenti fielmente, era a verdade. — Na revista BingleBingle, você até deu uma entrevista falando sobre como conheceu ele e dizia o quanto estava feliz.
  — Verdade, era o oppa dos meus sonhos, naquela época — eu ri fraco, vendo alguns fãs sorrindo largamente. Eles entendem bem esse amor platônico. — E eu era só uma menina cheia de sonhos, completamente apaixonada por ele, mesmo não tendo contato com o mesmo. Então, eu jamais imaginei que um dia nós teríamos alguma aproximação... Até contracenarmos juntos.
  — E, até hoje, Oh My Mars é o drama mais assistido na história da televisão sul-coreana. — Algumas pessoas gritaram e aplaudiram, me fazendo agradecê-los espontaneamente. — Ainda conseguimos lembrar de quando você ganhou o prêmio de Melhor Atriz Novata e Taeil foi o primeiro a se levantar e te aplaudir de pé, então as câmeras focaram no rosto dele e pudemos observar seus olhos brilhando, ao ver você.
  — Àquele dia foi realmente especial, e eu gosto de lembrar com muito carinho. — Sorri largamente lembrando de cada detalhe. — realmente estava muito emocionado e feliz por mim, o que me deixou bem surpreendida, porque até então não tínhamos confessado nenhum sentimento um pelo outro. Mas, pouco antes de ir embora, ele me beijou e me pediu em namoro. — Alguns soltaram uns gritinhos histéricos e outros apenas mantinham as mãos na face, boquiabertos. Melanie ria alto, mas sem perder a compostura, parecia se lembrar de quando cheguei a minha casa e, no mesmo dia, a contei tudo que havia acontecido.
  — Eu consigo me lembrar, perfeitamente, das fotos que vazaram desse beijo, foi bombástico! E depois que começaram a namorar, teve muita pressão para vocês terminarem. — Ela disse impressionada. — Como conseguem lidar com essa opressão, que piorou depois que vocês se casaram?
  — Estamos casados há 5 anos, mas estamos juntos mesmo há 10 anos, o que é um tempo considerável. Então nós sempre soubemos lidar com isso, porque desde o início sofremos com essa pressão para terminarmos, e tudo por conta da nossa diferença de idade, que não é tanta assim. — Melanie concordou, ela passou pela mesma situação, me entendia bem. — E parece que quanto mais felizes estamos, mais irritadas as pessoas ficam. Como costuma dizer: “o meu sucesso para os outros é uma má notícia!”, e realmente é.
  — Ne! Essa frase do é a realidade de muitas pessoas, infelizmente, e é ridículo se pararmos para pensar no porquê disso tudo. — Melanie confessou. — Quem me acompanha sabe o quanto somos amigas e que passamos pela mesma situação; ambas são brasileiras, porém fizemos a nossa carreira aqui na Coréia do Sul, nos casamos por aqui e sofremos os mesmos preconceitos. E gente, isso é loucura!
  — É difícil de entender certas situações, mas continuam acontecendo, o tempo todo. E por qual razão? — Melanie assentia indignada. — Muitas pessoas dizem que temos que aguentar essa vida porque nós mesmos a escolhemos, mas ninguém escolhe viver aprisionado ou sem privacidade. Escolhemos sim ter uma carreira artística, mas é diferente de ter a sua invadida e opinada por todos.
  — Sim, imagine se você sai para passear no shopping com seu filho e de repente, sente que está sendo observado e seguido. Então quando você chega em casa e entra nas redes sociais, estão lá as suas fotos de um momento comum entre os seres humanos, mas que para você significa liberdade. Vendem as suas fotos por rios de dinheiro e inventam que você teve um encontro com pessoas que nem conhece e ainda leva o filho. — Eu arregalei os olhos, negando com a cabeça. — Fizeram isso semana passada comigo e a Haru, e nós só saímos para assistir um filme e tomar sorvete.
  — O jogo funciona a base do dinheiro, não é mesmo?! — Todos assentiram.
  — Ye, e eu estou muito impressionada com o seu relato, . É um tanto revoltante saber de tudo isso, mas acredito que você tem mais a dizer, certo? — Melanie perguntou cuidadosa.
  — Sim, além de ter contado tudo isso a vocês e ter tirado um peso enorme das minhas costas, quero anunciar a minha gravidez aqui na BPoppers TV. — Melanie se levantou para me abraçar, sorrindo largamente, assim como eu. Olhei para os fãs, pelas paredes de vidro e eles sorriam e choravam de emoção, assim como a equipe do programa. — Eu estou no meu segundo mês de gestação, e quero me dedicar totalmente a esta criança, que foi tão esperada por mim e . — Eu dei uma breve massageada na barriga — Jamais pensem que eu deixei minha carreira de lado pelo meu bebê, não mesmo. Eu apenas aguentei até onde pude dessa podridão que é o meio artístico, eu não consegui levar adiante essa vida de farsas. Mas quero que saibam que vocês sempre farão parte de um dos melhores momentos da minha vida, apesar das fases ruins. E eu me despeço dizendo que vocês foram e sempre serão a minha maior fonte de inspiração, e eu amo cada um de vocês. Sempre amarei. — Eu discursei emocionada, mas com convicção. Porém ainda não estava acreditando que tudo àquilo que sonhei havia chegado ao fim, e a escolha era minha. Eu quis dar fim a isso.
  — Depois dessa feliz e emocionante despedida, a BPoppers TV te agradece por tantos anos de trabalho duro e simpatia para com a gente. Você é uma pessoa muito transparente e com simpatia sem igual, agradecemos de coração, por tudo. — Eu segurei a mão da Melanie, ela não conseguia conter suas lágrimas. — E agora falando por mim, obrigada pela alegria que você sempre trouxe a minha vida. Obrigada por todas as vezes, que mesmo ocupada com seu trabalho, parou para me ouvir. Obrigada por sempre estar disposta a ajudar. Obrigada por sempre ter alegrado a estes fãs que te amam tanto, inclusive a pequena Haru. Ela é uma das mais fervorosas que você tem. — Rimos um pouco, sendo acompanhadas pelos fãs. — Mas, apesar de tudo, você merece a felicidade que está tendo e merece esse descanso. Esta será a melhor fase da sua vida, então aproveite ao máximo a benção de ser mãe, tenho certeza que todas as pessoas que te admiram continuarão te dando total apoio na vida. E o meu você já tem.
  — Eu que agradeço a todos vocês, por tudo. — Eu a abracei fortemente e fiquei suspirando, enquanto observava os me mandando tchauzinho. Eu sinceramente sentiria saudade dessa interação pessoalmente com os fãs. — Vocês moram em meu coração e não pagam aluguel por isso, pelo contrário, é sempre um prazer tê-los bem pertinho.
  — Agora, nós teremos um breve intervalo, mas não nos deixe. Voltaremos em breve! — Melanie disse com voz firme e eu sorri para as câmeras.

  Nós vimos um dos staffs dizendo que o tempo já estava terminando e tentamos nos recompor para dar fim a entrevista.
  Ao som de Make It Rain, retocaram a nossa maquiagem, por mais uma vez, e eu me aproximei de Melanie.
  — Obrigada por ter me apoiado, sempre.
  — Imagina, nem me agradeça por isso. A sua amizade é muito importante para mim e eu te entendo, acima de tudo, respeito a sua escolha. Só quero a sua felicidade.
  — Gomaweo. — Nos abraçamos, novamente.
  — 5 minutos. — Um dos staffs disse, nos fazendo tomarmos a nossa posição inicial.

  — Estamos de volta com o programa BPoppers TV, em clima de despedida, aproveitando os nossos últimos momentos com a celebridade, para dar lugar a... — Melanie me olhou de sobrancelhas erguidas.
  — . — Eu disse segura e satisfeita.
  — Então, — Melanie sorriu ao dizer meu verdadeiro nome. — Tem algum recado para deixar a sua antiga agência, BPM Entertainment? — Eu assenti, pigarreando.
  — Olá a todos os tolos e ignorantes, que ainda me lançam olhares desagradáveis! Tenho certeza que é uma pena para todos vocês que eu ainda esteja indo tão bem, mesmo que por conta própria. Não sou mais àquela menininha boba que vocês manipularam, agora eu sou dura de roer e continuo ganhando e ganhando, e novamente ganhando e nossa... Jackpot! Ganhando mais e mais prêmios. — Eu dizia sorrindo vitoriosa e me referindo aos convites que continuo recebendo e por todos os outros que ainda estão à minha espera. — Na verdade, eu estou muito melhor sem vocês. Então, fim de jogo!

FIM



Comentários da autora

 Eu quero expressar aqui a minha felicidade por deixar uma fanfic do Block B na minha conta, sério mesmo. Sou apaixonada por esses meninos e é uma satisfação imensa ter terminado algo inspirado neles e em suas músicas! E thanks Jesus, por mais esta criação! 💛
 Espero que vocês gostem, do fundo do meu coração. Acredito que vocês consigam entender a mensagem na história e de forma positiva. 💚
 A todos, BJoo 💕

 Expressões – TRADUÇÃO:
• Ne/Ye = Sim
• Annyeong = Olá (informal)
• Gwaenchanha/Gwaenchanhayo = Está tudo bem?/Tudo bem, não tem problema
• Jeoneun Melanieimnida = Eu sou Melanie (o imnida fica coladinho com o nome)
• Geurae = Certo, concordo
• Ya = Hey
• Hate/Hater = Ódio/Odiador
• Jinjja/Jeongmaryo? = É sério?
• Ppalli Ppalli = Depressa
• Arasseo = Entendi
• Aigo = Meu Deus! (espanto/incredulidade/surpresa)
• Uwa = Nossa! Uau!
• Mwo = O quê?
• Jugeullae = Quer morrer?
• Jessi-yah = Hey Jessi (yah/ah – sufixo usado após o nome de pessoas íntimas. Yah quando o nome for terminado com vogal e Ah quando o nome for terminado com consoante)
• Oppa = Forma que uma moça chama um rapaz mais velho
• Joesonghamnida/Mianhae = Desculpa (formal/informal)
• Sunbae = Forma como chama alguém, em um cargo maior, no trabalho
• Trainee = Forma como chama alguém em formação, treinamento
• Debut = Estreia
• MV = Music Video
• Jagiya = Querida/querido (usado entre casais)
• Sonyeon = Menino
• Eomeoni = Mãe
• Idol = Ídolo
• Meosjyeo = Que legal/maneiro
• Muljuseyo = Água, por favor
• Gomaweo = Obrigado (informal)