I Wish
Escrito por Amanda Borges | Revisado por Lelen
Sexta à noite, pedi mais uma bebida ao barman e voltei a encarar minhas mãos cruzadas em cima ao balcão. Matei aula hoje novamente, não aguentava mais vê-la todo dia do lado daquele babaca. Ela não via que ele não era pra ela? Ela não via que a pessoa certa pra ela era eu?
Analisei a pista de dança enquanto dava um longo gole na minha recém-chegada bebida. Congelei.
Ele pega sua mão, eu morro um pouco.
Eu vejo os seus olhos, e estou em pedaços.
Por que você não pode olhar para mim assim?
Era ela, linda como sempre, com os cabelos presos e um vestido curto que faria qualquer cara desejá-la... E eu era um desses caras. Olhei enojado para seu acompanhante, que insistia em manter um contato físico um tanto quanto... Ah! Não tinha nada demais em pegar na mão dela certo? Ele era seu namorado! Suspirei cansado a vendo falar algo curto pra ele e começar a andar em minha direção, digo, ao bar. Me virei de volta ao balcão pedindo mais uma bebida e ouvindo sua doce voz pedir duas também.
- ? – Ela me chamou em um tom surpreso.
- – A encarei sorrindo fraco.
- Você parece triste, ou cansado, não sei... – ela parou por uns segundos – O que houve?
Quando você passa, eu tento dizer isso.
Mas então eu congelo, e nunca faço isso.
Minha língua fica amarrada, as palavras ficam presas.
- Perdi minha única chance de ser feliz por uma burrada minha. – Sorri a olhando com melancolia – Não há como ficar muito feliz com isso...
Ela me olhou triste, talvez envergonhada.
Escuto meu coração mais alto quando estou perto de você
Ficamos nos encarando por um tempo indeterminado. Seus olhos me hipnotizavam, era como se não existisse mais ninguém no mundo, a não ser ela.
- Eu, eu preciso ir – Ela disse me fazendo sair do transe. Pegou suas bebidas e se dirigiu ao outro lado da boate, onde se sentou com o almofadinha do namorado, conversando com o mesmo. Fiquei observando suas costas de longe ainda, não conseguindo desviar. Tão perto mas tão longe...
Eles se levantaram indo em direção ao centro da pista de dança onde uma música lenta tocava. Ele segurou sua cintura com força e colou seu corpo no dela, dançando devagar... Poderia algo ser mais doloroso pra mim?
Mas eu vejo você com ele dançando devagar.
Me dilacerando, porque você não vê.
Poderia.
Quase no final da música eles pararam de dançar, aproximando os rostos aos poucos até se beijarem. Aquele era definitivamente o meu fim. Não podia mais ficar ali. Me levantei com pressa, jogando uma nota de 50 no balcão e saindo dali com a imagem da minha com aquele babaca. Eu estava destruído.
Sempre que você o beija,
Eu estou quebrando.
Oh, como eu desejo que aquele fosse eu.
Xxx
Era o baile da escola, o último dia de aula naquele inferno de escola, e dois meses depois que eu a vi com ele naquele bar, dois meses que eu não consigo a encarar.
Agora eu me encontrava no palco cantando essa música que fiz pra ela nesse pequeno show de talentos e cantava com todo sentimento bom que ainda restava em mim. Ela estava ali, bem no meio da plateia que me encarava atenta. Alguns dançavam em casais, alguns dançavam sozinhos, outros apenas se balançavam e uns apenas ficavam paradas me encarando aqui em cima, admirados por talvez nunca terem imaginado que eu cantava. Na verdade nem eu sabia disso, mas, senti a necessidade de fazer. Por mim. Por ela.
Ele olha para você, do jeito que eu olharia.
Faz todas as coisas que eu sei que eu poderia.
Se o tempo pudesse simplesmente voltar.
Olhava de relance pras outras pessoas mas meu foco era . Minha .
Ela olhava diretamente pra mim e o último verso a atingiu em cheio. Comecei a cantar com muito mais vontade, ainda com o olhar preso no dela.
Porque tenho três palavras que sempre tive vontade de dizer
Ela lembrava, eu sei que lembrava daquele dia, daquele bar, daquelas poucas palavras que trocamos. Ela sabia que aquele música era pra ela, somente pra ela, e que eu havia mudado, me arrependido e agora, completamente entregue a ela.
Porque eu vejo você com ele dançando devagar.
Me dilacerando, porque você não vê.
Sempre que você o beija,
Eu estou quebrando.
Oh, como eu desejo que aquele fosse eu.
Fechei os olhos e lembrei da nossa primeira noite, aquela noite em que eu a pedi em namoro... Dançamos ao luar como ela dançava dois meses atrás, a diferença havia muito mais sentimento quando comigo. Eu sabia, ela sabia.
Na noite em que terminei com ela, eu estava muito bêbado e serena ela veio me dar boa noite como sempre fazia. Fugia do seu dormitório e vinha me dar aquele doce beijo. Como eu queria que ela não tivesse vindo... Eu terminei com ela achando que tinha era novo demais pra ter algo sério e a vi chorar oceanos em minha frente. Agora eu vejo o quão tolo eu fui. Eu a amo, eu amo essa garota.
Com as minhas mãos em sua cintura, nós dançamos ao luar
Eu queria que você me chamasse em seu quarto, porque quer dizer boa noite
Foi no tempo em que eu fiquei sem ela que fui finalmente dar valor à ela, foi esse tempo longe que me fez não só sofrer como me amadurecer. Ela acabou “superando”, arranjou um namorado e virou popular naquele colégio; pelo visto ela também amadureceu, não era mais aquela garota de moletom e allstar que mesmo coberto por roupas tão folgadas e cabelo bagunçado, era a única pessoa por quem eu tinha coragem de levantar todos os dias, a pessoa mais valiosa e brilhante daquele colégio. Ela até me dava um “oi” quando passava por mim no corredor... Dava. Até dois meses atrás quando eu passei a ignorá-la, quando caiu a ficha de que sem ela não dava pra continuar. Eu precisava fazer alguma coisa.
Porque eu vejo você com ele dançando devagar.
Me dilacerando, porque você não vê.
Mas eu vejo você com ele dançando devagar.
Me dilacerando, porque você não vê.
Seus olhos começaram a piscar com mais intensidade, como se estivesse segurando o choro. Desci calmamente pela escada na frente do palco e fui andando em direção à ela. As pessoas se afastavam formando um pequeno corredor por qual eu passava enquanto cantava. Ela estava sozinha, mas se o bundão do namorado dela estivesse ali, eu não me importaria do mesmo jeito.
Sempre que você beijá-lo
Eu estou quebrando
Oh, como gostaria
Oh, como gostaria
Oh, como eu gostaria que fosse eu
Agora eu estava de frente à ela, à centímetros. Tentei voltar a me controlar, deixei meu corpo me guiar até ela, mas impedi que eles a abraçassem ou tentasse beijá-la. Não era o momento.
Levei minhas mãos ao seu rosto, alisando sua bochecha com o polegar, tirando algumas lágrimas que escorriam dali. Eu não precisei dizer nada, ela não precisou. Nada precisava ser dito, estava tudo ali, implícito. Ela sabia agora que eu a amava.
Oh, como eu gostaria que fosse eu
Epílogo
Caminhei lentamente pelo jardim atrás do ginásio do colégio, encontrando sentada um dos banquinhos de madeira perto de algumas árvores. Me sentei e encarei o gramado verde em minha frente como ela fazia.
- Foi uma linda música – Ela disse baixo quase em um sussurro.
- Você saiu de lá correndo quando eu acabei de cantar, achei que tivesse odiado.
- Eu adorei, . – Ela me olhou sorrindo. A encarei e sorri de volta.
- Eu espero que seu namorado não fiquei bravo – Ri zombeteiro – Você sabe, eu não tenho culpa de, ahn, te amar. – Ela levantou e eu repeti sua ação, ela me encarou um pouco desnorteada, um pouco confusa. Continuei: - Sabe , depois de ter terminado com você eu achei que tudo melhoraria, mas, na verdade, isso só acabou comigo. Eu percebi que eu não posso viver sem você e isso me ajudou muito a amadurecer. Dois dias sem você e eu já estava morrendo, e agora veja, fazem seis meses que terminamos e a dois eu percebi que estava pronto.
- Pronto pra quê? – Ela perguntou com a voz embargada pelo choro. As lágrimas desciam livremente pelo seu rosto. Coloquei a mão em seu rosto repetindo o gesto que fiz dentro do ginásio enquanto cantava e limpei inutilmente algumas lágrimas que logo molharam sua pele novamente. Soltei um longo suspiro.
- Pra te amar. Te amar como homem, como você merece. – Ela sorriu, o sorriso mais lindo do mundo, o meu sorriso. Aproximei nossos rostos e acabei com qualquer distância que houvesse entre nós. Física, emocional... Eu a beijei e confirmei uma certeza: era à meus braços que ela pertencia.