It Will Bloom

Escrito por Brubs Mota | Revisado por Pepper

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  A escuridão na qual se encontrava a casa e o silêncio que se espalhava solenemente pela casa naquela imponente noite de inverno faziam Iker indagar se estava no lugar certo. Ao deixar sua mochila próxima à entrada, ele consultou seu relógio de pulso, confirmando que ainda faltavam alguns minutos para a meia noite e isso o deixou preocupado. Normalmente, as luzes da sala estariam acesas, lhe dando a visão de uma animada moça que sabia agir perfeitamente fosse a situação de vitória ou derrota. tinha a estranha (e às vezes irritante) mania de esperar seu marido até as mais tardias horas da noite quando o mesmo voltava de uma viagem internacional. Esse não era o caso no momento.
  Iker percorreu todos os cômodos do andar inferior da casa com a vã esperança de encontrar sua esposa. Quando retornou à sala, o pensamento de que ela finalmente havia atendido o seu pedido de não desregular seu peculiar horário de sono o atingiu. E, num estalo, Iker já estava na suíte do casal, se deparando, mais uma vez, com um cômodo vazio. Suspirando em desapontamento, ele passou as mãos pelos cabelos na expectativa de que o atrito lhe desse uma dica de onde estava.
  Foi então que ouviu o melodioso e inconfundível som de uma pedra indo de encontro à sua janela e para lá seguiu, contemplando uma sorridente e fortemente agasalhada que logo estava correndo na direção oposta. Iker sorriu aliviado, mas ainda assim curioso pela atitude de sua esposa e não demorou para seguir exatamente o mesmo caminho que ela. Quando finalmente se deu conta de onde estava, seu sorriso apenas aumentou.
  Era uma área um pouco mais afastada da propriedade, o lugar onde, há muito, planejava ter o jardim de seus sonhos. Porém o mesmo não estava concluído ainda, na verdade, o projeto mal havia sido começado. Não por falta de incentivo de Iker, ele chegou até a contactar alguns paisagistas para que tudo ficasse pronto o mais rápido possível, mas por ter rejeitado qualquer tipo de ajuda externa, já que fazia parte do tal sonho que ela fosse a única a participar do projeto. Por isso, tudo o que se podia ver no lugar era um caminho de pedras ladeado por toda a área separada para receber as flores. Área essa que estava coberta por uma grossa camada de gelo que viera junto com o rigoroso inverno que atingia Madrid. No final do tal caminho, havia um banco de carvalho que fizera questão de trazer de sua cidade natal, Tolosa, para que não se sentisse tão longe de lá. E era sobre esse banco que a senhora Casillas estava, com um enorme sorriso travesso nos lábios e as mãos escondidas sob o grosso casaco de lã que usava.
  – Bem vindo de volta! - declarou ainda sustentando um impecável sorriso.
  – Não que eu esteja reclamando, mas não seria mais seguro me dar as boas vindas dentro de casa? - Iker logo sentou-se ao lado de , abraçando-a da maneira que julgava mais inteligente para livrá-la do frio. - Você pode pegar um resfriado ou coisa parecida. - ela riu, afastando-se minimamente para observá-lo.
  – Não seja bobo, Iker. Desde quando frio me impediu de fazer alguma coisa?
  – Adoraria quando foi que conseguiram te impedir de fazer alguma coisa. - murmurou e riu novamente, voltando a aconchegar-se nos braços do marido.
  – E como foi na Ásia? Ouvi dizer que os meninos se divertiram bastante. - Iker sorriu, depositando um beijo no topo da cabeça de .
  – Claro, se me perturbar a cada segundo livre for sinônimo de diversão.
  – Ah, então eles se divertiram pra caramba. - Iker estava prestes a replicar, mas ela foi mais rápida, sabendo exatamente o que sairia de sua boca. - Palavra de especialista. - riu.
  – E o que a especialista fez na minha ausência? - arqueou uma sobrancelha e encarou suas mãos, sentindo seu coração disparar imediatamente a medida que a elevação nos cantos de sua boca se tornava fixa.
  – Estive conversando com a Louise. - ao ouvir esse nome, Iker apertou seus braços ao redor dela quase que automaticamente. Esta era a especialista que pronunciara as palavras que ainda causavam pesadelos no rapaz. Vocês não podem ter filhos, é impossível que isso aconteça, a frase de quase 3 anos atrás ecoou mais uma vez pela mente de Iker. Ele a odiava, mesmo sabendo que isso não tinha nada a ver com ela. Quer dizer, Louise não era a culpada pela impossibilidade dos dois de terem filhos, mas ele não se sentia mal em culpá-la. Ele não culparia Deus, nem mesmo a natureza, muito menos o destino. Ele precisava de algo mais próximo, algo mais tangível.
  – E sobre o que conversaram?
  – Sobre flores.
  – Apenas sobre flores? - havia um certo tom de dor em sua voz e não pôde deixar de se sentir um pouco chateada por isso.
  – Principalmente sobre flores. - esperou que Iker questionasse mais alguma coisa, mas como ele permaneceu calado, ela resolveu continuar. - Ela disse que eu estava pedindo demais da natureza por esperar que florescesse em pleno inverno.
  – Talvez seja. - Iker se pronunciou num sussurro.
  – Talvez. - concordou. - Talvez fosse impossível, mas não impediu que acontecesse.
  – Acontecesse o que?
  – Que florescesse em pleno inverno. Isso significa que Louise estava errada. Nada é impossível, não é? - Iker se afastou de apenas para olhá-la com o cenho franzido. Ele não tinha ideia do que ela estava falando, mas tinha certeza de que não era de flores. , por sua vez, conhecia muito bem aquele olhar e sabia exatamente o que se passava na cabeça de seu marido. Por isso, levantou-se e rumou até um dos canteiros, puxando Iker consigo.
  – , o que exatamente acon...? - o rapaz se silenciou no instante em que olhou na direção que a esposa apontava. Cercada por uma dominante e gélida área branca, estava um ponto vermelho, identificado pelo mesmo como uma rosa. Quase que imediatamente, Iker se lembrou de quando, algumas semanas atrás, insistiu em semear o presente que havia ganhado da cunhada. Claro que, assim como todas as pessoas que souberam do ocorrido, Iker achava loucura a esperança que tinha de que aquela única semente germinasse [principalmente na estação mais fria do ano]. Mas, contrariando todas as expectativas, ali estava o fruto da fé que sua esposa teve numa pequena semente. - Deu certo. - começou, sem poder evitar um largo sorriso enquanto ainda encarava a flor. - , deu certo! Quer dizer, realmente floresceu. - virou-se para a esposa, abraçando-a. - Parabéns, amor. Ainda não acredito que isso realmente aconteceu!
  – Mesmo que eu tenha dito todos os dias que ia acontecer? - questionou risonha, rompendo o abraço e Iker passou as mãos pelos cabelos, corando.
  – Mas aconteceu e é isso que importa! - declarou, apontando com as duas mãos para a rosa e apenas balançou a cabeça negativamente, rindo.
  – Se é o que você diz. - deu de ombros e Iker, mais uma vez, a puxou para um abraço, depositando um beijo em sua testa.
  – Você é incrível.
  – Conheço muita gente que discordaria disso. - ela riu, finalmente rendendo-se ao abraço.
  – Eu também. Inclusive, uma delas te mandou um presente, então recomendo que entremos o mais rápido possível. - levantou a cabeça com o cenho franzido enquanto Iker a conduzia de volta para o imóvel.
  – O que o Xabi me mandou? - Iker balançou a cabeça negativamente.
  – Não foi seu irmão. - os olhos da garota se arregalaram enquanto um sorriso alcançava seus lábios.
  – O que o Sergio me mandou? Vamos logo, vamos! Eu quero saber o que foi! - pulava, puxando (ou pelo menos tentando puxar) Iker consigo enquanto o mesmo forjava uma feição ofendida.
  – Você não fica animada assim quando eu te trago presentes. - ele declarou ainda sob a falsa postura de ofendido.
  – O que eu posso fazer se você não sabe escolher presentes como o Sergio? - Iker, incrédulo, bufou.
  – Outch.
  – Essas palavras são suas, babe. - ela lembrou rindo, já na porta de casa e virou-se para encará-lo. - Agora, onde está o meu presente?
  Iker não demorou para puxar para si, selando seus lábios até que ela o empurrasse e desse início a uma falsa cena, que logo se transformaria numa brincadeira quase infantil.
  Ao fim da noite, quando já dormia angelicamente ao lado dele, Iker não pôde deixar de pensar no que acontecera. Mais exatamente, no que acontecera no jardim. De certa forma, quando ela começou a falar sobre coisas impossíveis acontecendo, ele chegou a pensar que ela diria que estavam esperando um filho. Ele realmente chegou a pensar que ela anunciaria uma gravidez, que eles teriam um pequenino bebê para cuidar e mimar.
  Mas não era isso.
  E, estranhamente, ele não se sentia mal por isso. Iker não conseguia sentir nem uma pitada de tristeza quando repassava aquela noite. O brilho nos olhos de , a firmeza de suas palavras e a lembrança de todas as vezes em que, contra todas as possibilidades, ela afirmava convicta que aquela rosa floresceria o atingiram em cheio. Tiveram nele um efeito muito mais profundo do que ele esperava. Criaram nele algo que há muito ele parecia ter perdido: esperança.
  Esperança que gerava nele fé.
  Fé que o trazia a certeza.
  Certeza de que, mesmo no inverno, se pode florescer.



Comentários da autora


Comentários da autora: Olá, pessoas lindas e divas! O que acharam de It Will Bloom? Não tenho muito a falar sobre essa one shot a não ser que vai ter continuação [ou não!]. Espero que tenham gostado. Beijos e queijos! Vida longa e próspera e que a Força esteja com vocês.
Brubs, xx