It's a Love Story
Escrito por Angel | Revisado por Angel
— Eu não vou ficar com ele. — Falei decidida.
— Por que não? Eu sei que você quer .
— Eu não quero. — Menti na cara dura, embora soubesse que minha melhor amiga, , não acreditaria em mim. É claro que não, ela me conhecia tão bem que me compreenderia mesmo se eu não disse uma palavra sequer.
E acontece que não era segredo para ninguém que eu era afim do . Ele era o garoto mais lindo do colégio e fazia eras que eu ele trocávamos olhares no intervalo das aulas. Ele tinha a minha idade, mas, para meu azar, não estudava na mesma turma que eu.
Nós éramos amigos, se amigos significasse trocar algumas palavras no final do dia. Às vezes conversávamos pelo skype, mas a conversa nunca se estendia muito, porque não importa o dia, sempre havia alguém para nos atrapalhar, tanto na escola quando na internet.
— Você sabe que não consegue mentir para mim. — voltou a chamar minha atenção. — Há muito tempo que você e ele ficam de papinho pelos cantos e trocando olhares no intervalo. Embora você ainda não tenha admitido para mim, eu sei que você é louca por ele.
Isso eu não tinha como negar. era o dono dos meus sonhos há tanto tempo que eu já nem conseguia me lembrar de como era minha vida antes de ele aparecer. No momento em que o vi pela primeira vez, perdido pelos corredores da escola, eu sabia que minha vida não seria mais a mesma. A primeira coisa que me chamou a atenção nele foi a beleza é claro, mas depois que eu o ajudei a encontrar a sua sala de aula, percebi que havia muito mais por trás daquele rostinho bonito. Ele era incrivelmente fofo e tinha uma paciência invejável. Ele era doce e romântico, pelo menos era o que as garotas que ficavam com ele diziam.
Não levou muito tempo depois de sua chegada para ele se juntar à turma dos populares. Ele era o alvo perfeito para aquela turminha, lindo, fofo, invejado e talentoso. era muito habilidoso com instrumentos musicais, e há alguns meses, ele e mais quatro garotos da sua turma haviam montando uma banda. Uma banda que já começava a dar dor de cabeça para o povo de nosso bairro, localizado em Tempe, no Arizona.
Apesar de odiar a maioria das meninas que andavam no encalço de e seus amigos, eu sabia que ele não dava a mínima para elas. Talvez por isso ele fosse um dos garotos mais desejados da escola, porque sempre queríamos o que não podíamos ter, e as garotas da nossa escola o viam como um prêmio, já que eram poucas as que tinham o privilégio de sentir o gosto do beijo de rick) . Mais popular e desejado do que ele, talvez só o , melhor amigo de . Esse era o mais popular da escola, por ser o líder mais antigo do bando. Só que o era do tipo galinha e pegava geral, portanto apesar de ser muito desejado, era fácil ficar com ele. Não se podia dizer o mesmo de . Todo dia surgia uma garota nova no time das meninas-que-queriam-pegar-o-. Eu já estava tão acostumada com esse fato que nem me importava mais. Assim como já tinha perdido as esperanças de ficar com ele. Eu não era da turma dos descolados e populares. Eu fazia parte da turma dos nerds e esquisitos. Estava feliz do jeito que estava, mas isso significava que jamais poderia ficar com . Ou pelo menos, era o que eu pensava. Mas hoje a me veio com a notícia de que o , finalmente, tinha pedido para ela marcar um encontro comigo. A sós. Só eu e ele e mais ninguém. Ele não disse que queria ficar comigo, foi a quem tirou conclusões precipitadas. ‘’O que mais ele iria querer marcando um encontro a sós com você? É óbvio que ele quer ficar contigo’’ ela dissera. Eu ainda não estava convencida disso. E mesmo que ela dissesse que essa era a intenção de , eu não queria ficar com ele. Querer não era bem a palavra. Eu não podia.
— Você sabe que mesmo que eu queira, eu não posso ficar com ele. — Falei e ela me encarou sem entender. — Você sabe que meus pais nunca permitiriam. Ou melhor, meu pai nunca permitiria.
— Mas ele não precisa ficar sabendo.
— Como se isso fosse possível.
Meus pais eram muito conservadores apesar da época de modernidade em que vivíamos. Principalmente meu pai. Ele levava a sério os costumes mais arcaicos que se poderia imaginar. Por isso ele levava os filhos em rédea curta, e nunca podíamos fazer nada de errado, a menos que quiséssemos ser castigados. E meu pai não aprovaria que uma filha dele ficasse com alguém como . Aos olhos dele, era como um alerta que piscava a palavra ‘’encrenqueiro’’. Já o tinha ouvindo falando várias vezes que e a turma dele eram má influência, e ele tinha me alertado para ficar longe dele.
tinha um espírito livre, o que significava que ele não era de seguir as regras, o que já era motivo suficiente para meu pai não gostar dele. Outra razão para meu pai não aprová-lo era a banda de , intitulada de The Maine. Garotos que pretendiam ganhar a vida através da música não eram bem vistos pelo meu pai. Para ele, um futuro digno seria a faculdade. Seriam profissões como advogado, médico, engenheiro e essas coisas. Era com doutores que meu pai sonhava em ver suas duas filhas casadas. Ele jamais aprovaria que eu e minha irmã nos envolvêssemos com músicos, ainda mais se fosse com ou um de seus amigos. Meu pai nutria um sentimento de raiva por , porque certa vez foi desafiado por ele. Quando meu pai deixou claro sua opinião sobre as pessoas que ganhavam a vida através da música, e sua turma haviam pichado o muro da minha casa com frases nada agradáveis destinadas ao meu pai. Apesar de ter certeza de que havia sido , meu pai nunca conseguiu provar nada, porém sua raiva por ele aumentou consideravelmente depois daquele dia.
Eu ainda falava com , é óbvio. Eu achava que meu pai era duro e conservador demais com ele. Mas ele não sabia que eu falava com , caso soubesse, eu levaria uma bronca daquelas. Portanto estava fora de cogitação sair com , ainda mais a sós. Eu sabia que ele ficaria sabendo, ele sempre sabia de tudo. Mesmo que Tempe fosse uma cidade grande, meu pai sabia de praticamente tudo que acontecia, principalmente em nosso bairro.
— Eu sei que você está preocupada, mas teu pai não irá descobrir. Eu vou te ajudar. — estava mais empolgada do que eu com essa história.
— Ele vai acabar descobrindo de qualquer jeito.
— Não vai. Eu serei o seu álibi. Seu pai confia em mim e, de qualquer forma, você sempre vai muito à minha casa. Nem vai passar pela cabeça dele que você está em um encontro secreto com rick) . — Ela riu.
— Eu não posso correr esse risco.
— Não só pode como vai. Qual é , eu sei que você quer isso mais do que tudo. Há mais de dois anos que você espera que isso aconteça.
— Eu não posso. Você tem que dizer para ele que não.
— Marino, você vai e está acabado. Não vou permitir que você desista por medo do seu pai. Ele não vai ficar sabendo. Você vai sair com o e fim de papo. — Ela disse em um tom que não permitia discussões.
Eu iria discutir do mesmo jeito, mas então o sinal tocou, indicando que estávamos liberados para o intervalo. Nem pude falar mais nada, porque minha voz seria abafada pelo tumulto que sempre acontecia quando a turma era dispensada. A maioria corria afobada para chegar logo na fila do almoço. Levantei-me sem vontade nenhuma e peguei minha mochila, pendurando-a no meu ombro e seguindo para fora da sala. Ficamos menos tempo do que eu esperava na fila do almoço. Fomos para nossa mesa no canto do refeitório, que não só tinha a vista mais linda para os gramados do pátio da escola como também ficava o mais longe possível da mesa dos populares. E isso incluía , é óbvio.
Interceptei os olhares que ele me lançava durante o intervalo e eu já estava ficando constrangida. Ele não só olhava como também sorria. Aquele tipo de sorriso que eu amava e fazia meu coração parar por alguns segundos. Tentei sorrir também, mas minha minhas tentativas não funcionaram direito, já que minha expressão mais parecia estar retorcida em uma carranca do que em um sorriso. Eu estava muito preocupada e ao mesmo tempo ansiosa. Sair com era tudo que eu queria, mas eu morria de medo que meu pai ficasse sabendo. Ele podia ser muito duro nos castigos quando ele queria. E tinha certeza que essa situação seria aquela que não seria perdoada e o castigo seria cruel. Eu tinha que convencer a a dizer para o que eu não poderia sair com ele, mas meu coração implorava para que eu chutasse o balde e fizesse o que tinha vontade, sem me preocupar com o depois.
— O que você tanto olha para lá? — apontou com o polegar para suas costas, indicando a mesa dos populares.
— Nada. — Falei, mas não a convenci. — Não sei o que tanto o me olha.
— Ele deve estar ansioso para o encontro de hoje à noite.
— Que encontro?
— Ora, o encontro com você. — Ela revirou os olhos.
— Mas eu ainda não decidi se eu vou ou não.
— Eu já disse para ele que você vai. — Ela falou com sua melhor expressão de inocente.
— COMO É QUE É? — Falei alto demais e acabei atraindo olhares das pessoas que estavam na mesa ao lado da nossa.
— Isso mesmo que você entendeu. Eu disse pra ele que você iria. E você vai mesmo, , já está decidido. Se você não quiser ir por bem, coisa que eu sei que não é verdade, então, eu serei obrigada a te arrastar.
— Por que você fez isso?
— Ah qual é, eu sei que é isso que você quer. Apenas poupei tempo. — Ela sorriu e eu bufei irritada demais para responder. Eu confesso que fiquei feliz por ela ter resolvido e pensando em tudo, mas é claro que não iria admitir isso para ela.
O sinal voltou a tocar e eu e nos levantamos, indo para o último período de aulas. Mais algumas horas e eu estaria em casa, me lamentando por não saber o que vestir para o encontro. Caminhei distraída pelos corredores, sem prestar atenção ao que falava, quando senti um toque quente em meu braço.
— Eu passo na sua casa às sete, tudo bem? — disse e ele me deixava tão encantada que minha única reação foi concordar.
Ele sorriu, acenou e seguiu para sua aula.
Passei o restante da aula absorta demais em meus próprios pensamentos para prestar atenção na aula ou ao que a falava. Ela pareceu entender que eu estava presente só de corpo, porque meus pensamentos estavam longe. Na verdade não tão longe assim, apenas na sala ao lado. Fiquei imaginando nas coisas que o me diria e quais seriam as minhas respostas. Apesar de não ser a primeira vez que eu irei falar com ele, eu estava extremamente nervosa. E o fato de ninguém poder saber que nós iríamos sair me deixava ainda mais nervosa. Então de repente me lembrei de uma coisa.
— , o não pode aparecer lá em casa. Se meu pai ver, eu estou ferrada. — Falei desesperada e ela riu.
— Se você tivesse prestado atenção ao que eu te disse assim que entramos na sala, não estaria nesse desespero todo. — Ela riu de novo. — Eu irei emprestar o meu carro para ele, portanto seu pai não vai desconfiar de nada. Ele vai pensar que sou eu.
— Ah. — Me permiti suspirar de alívio.
Eu decidi não me preocupar mais com meu pai. A estava certa, há dois anos que eu esperava por um encontro como esse, não podia perder essa chance. Eu precisava esquecer um pouco dos meus medos e me divertir.
Depois da aula fui para casa e tentei o máximo possível me mostrar normal. Não queria que meus pais desconfiassem de que eu estava aprontando alguma. Apesar de nunca ter sido uma boa mentirosa, eles não pareceram perceber nada de diferente. E como havia previsto, eles não viram nenhum problema de eu sair para ir supostamente a casa dela. Eles sempre aprovaram minha amizade com e o fato de meu comportamento sempre ter sido exemplar, contribuía muito para eles me deixarem ir à casa dela quando eu quisesse e na hora que eu quisesse. Assim como ela também estava livre para ir e vir aqui em casa à hora que bem entendesse.
Me arrumei da forma mais simples possível, afinal eu não mudaria meu estilo para impressionar , ele sabia exatamente como eu era. E também porque não queria chamar a atenção dos meus pais. Desci para o primeiro andar e fiquei esperando, sentada no sofá e me controlando ao máximo para não demonstrar o quanto eu estava nervosa. Mas meus pais estavam alheios a todo o meu nervosismo. Eles simplesmente aproveitavam o final do dia, que parecia perfeitamente normal para eles.
Às sete em ponto ouvimos uma buzina do lado de fora e meu pai espiou pelas cortinas da sala. O carro era mesmo da e meu pai sorriu e acenou, nem desconfiando que seu pior inimigo estivesse lá dentro. Sorri internamente com a ironia da vida. Me despedi deles, sendo, mais uma vez, orientada a voltar até às dez horas. Corri pelo jardim de casa, querendo chegar ao carro o mais rápido possível. Abri a porta e entrei em um rompante, assustado um pouco com minha reação.
— Tudo isso é ansiedade para sair comigo? — Ele riu.
— Não quero que meu pai veja que é você. Sabe como é, né?
Ele assentiu, sem se abalar com esse fato, e então me deu um selinho rápido.
Fiquei com cara de idiota e ele riu mais uma vez.
— Aonde vamos? — Perguntei.
— Em um lugar que eu gosto muito. Tenho certeza de que você vai gostar.
Concordei e então olhei para a janela, constrangida por ficar sozinha com ele sem interrupções pela primeira vez na vida. Ele sorriu ao ver minhas bochechas vermelhas, mas não falou nada. Fomos a maior parte do caminho em silêncio, trocando apenas poucas palavras sobre como tinha sido nosso dia.
Por fim ele estacionou o carro perto de um parque que eu conhecia muito bem. Eu costumava brincar ali com quando éramos crianças. Sorri ao constatar quantas lembranças boas esse lugar me trazia.
— Eu sabia que você iria gostar. — Ele piscou. — Você costumava vir aqui quando criança, não é?
— Como você sabe? — Perguntei surpresa.
— Eu sei mais coisas a seu respeito do que você imagina.
— E como você sabe dessas coisas?
— Sabendo. — Ele disse e eu revirei os olhos.
— Vem. — Ele pegou minha mão e entrelaçou seus dedos aos meus. Mil borboletas voavam no meu estômago e minhas pernas estavam bambas. Tinha certeza que ele havia percebido, mas não comentou nada e apenas continuou sorrindo, me puxando para a parte sul do parque.
Ele me levou até uma árvore enorme, possivelmente a maior de todo o parque e então puxou uma espécie de escada de corda que ficava oculta por alguns galhos. Ele subiu alguns degraus e então me ajudou a subir também. Eu tinha um pouco de medo de altura, mas reprimi qualquer tipo de medo quando senti seus dedos quentes segurando minhas mãos. Para minha sorte a escalada não durou muito e logo eu estava de pé em uma pequena casa da árvore. Em todo o tempo que frequentei aquele parque, eu nunca a havia notado.
— Você não sabia da existência desse lugar, certo? — fez um gesto amplo, abrangendo todo o espaço da casinha.
— Não. Esse lado costumava ser frequentado por aquelas crianças rebeldes. Meus pais nunca permitiram que eu viesse até aqui. — Falei e ele assentiu.
— Pois bem, agora você está aqui. Um sonho seu se realizando. — Ele riu diante da minha cara de surpresa.
— Como você sabe que eu sempre tive vontade de vir para esses lados? — Perguntei e ele apenas balançou a cabeça negativamente. — Por quê?
— Um bom mágico nunca revela seus truques. — Ele riu.
— Isso não é justo. — Dei um tapa em seu braço e ele riu, segurando minha mão com a dele.
Ele então me puxou para mais perto, selando nossos lábios sem a menor pressa. Esperei tanto por esse momento que tudo parecia um sonho. Ele abraçou minha cintura e eu entrelacei minhas mãos em seu pescoço, nos apertando um com o outro na intenção de não nos afastarmos mais. Aquele momento era mágico e parecia não haver nada no mundo que pudesse interferir em nossa felicidade. Nossos lábios se separaram somente para sorrirmos uma para o outro e, então, recomeçarmos tudo mais uma vez.
Não sei quanto tempo passou, parecia que o tempo parava quando nossos lábios se tocavam. Esqueci completamente de onde estávamos e que havia pessoas me esperando em casa. Eu só queria ficar junto de , para sempre.
— Precisamos ir. — Ele disse, pegando seu celular do bolso e olhando a hora. Fiz bico e ele riu. — Eu sei, também não queria ir. Mas temos o restante de nossas vidas para ficarmos juntos.
— Você sabe que meu pai nunca aprovará.
— Ele não precisa saber.
— E como vamos esconder isso dele? Não tem como.
— Daremos um jeito. — Ele disse, me ajudando novamente a descer a escada. — Eu só não posso mais ficar longe de você.
Achei o que ele falou tão lindo que minha reação foi pular no colo dele e beijá-lo, me esquecendo de que estávamos descendo a escada da árvore. Caímos no chão, eu por cima dele. Nos encaramos e começamos a rir da minha idiotice. Rimos tanto que minha barriga doía. Ele me ajudou a levantar e então fomos de mãos dadas para o carro.
O caminho de volta foi novamente silencioso. Eu estava em êxtase e acreditava que o também. Quando ele podia, ele entrelaçava seus dedos nos meus, e a sensação de ter sua pele quente tocando a minha era incrível. Era algo que eu nunca havia sentido e estava amando a sensação. Ele olhava para mim e sorria de um jeito tão carinhoso que eu me sentia a pessoa mais especial do mundo.
— O que você tanto me olha? — Perguntei, quando ele estacionou o carro em frente à minha casa.
— Estou apenas apreciando o quanto você é linda. — Ele disse e eu corei, o fazendo sorrir e tocar minhas bochechas com as pontas de seus dedos. — Você fica ainda mais linda quando está constrangida.
— Obrigada. — Selei nossos lábios em um selinho que logo se transformou em um beijo longo e doce. — Mas como será daqui pra frente? Quer dizer, eu não sei o que você sente por mim e...
— Eu te amo. — Ele me interrompeu e aquela frase pronunciada por aqueles lindos lábios me deixou pisando nas nuvens.
— Isso é sério?
— É claro. Desde a primeira vez que te vi, eu sabia que você era diferente. Passei os últimos dois anos reprimindo o que eu sentia, por medo de você não sentir o mesmo, e pelo que seu pai poderia fazer, mas agora eu decidi que está mais do que na hora de lutar por você. Estou pronto para enfrentar seu pai para ficar com você.
— Sério? — Perguntei incrédula e ele assentiu. — Eu te amo, . Acho que sempre te amei, apesar de pensar que seríamos sempre só amigos.
Ele riu, concordando, e imaginei que ele também sempre pensou o mesmo. Ele voltou a me beijar e então ouvi alguém abrir a porta do carro num rompante. Senti alguém agarrar meu braço com força e me puxar para fora com violência. Quase desmaiei quando vi que era meu pai.
— Entre em casa agora mesmo, . — Meu pai vociferou. Nunca o vi tão furioso.
— Pai, por favor, eu...
— EU DISSE PARA VOCÊ ENTRAR. — Ele gritou e eu me encolhi assustada.
saiu do carro, vindo em minha direção.
— Não fale assim com ela. — Ele disse para meu pai.
— Eu falo como eu quiser, ela é minha filha. — Ele apertou meu braço com mais força, me fazendo reprimir um grito de dor. — Aliás, o que é que você ainda está fazendo aqui? Eu quero você fora daqui. E bem longe da minha filha.
— Eu não posso ficar longe dela, eu a amo. — disse e senti as lágrimas quentes escorrerem por meu rosto.
Meu pai riu descaradamente.
— Você é apenas uma criança que não sabe o que quer da vida. Suma daqui. E para seu bem, fique longe da .
Meu pai foi me arrastando pelo jardim, e ver encarando a cena com lágrimas nos olhos me partiu o coração em mil pedaços.
— Eu te amo, . — apenas moveu os lábios, mas eu entendi perfeitamente.
— Eu te amo, . — Movi meus lábios silenciosamente também, e ele pareceu entender.
A última coisa que vi antes de meu pai me empurrar para dentro de casa e fechar a porta, foi entrar no carro, secando as lágrimas de seu rosto. A cena me deixava ainda mais despedaçada do que eu já estava.
Minha mãe nos esperava na sala, assustada e ao mesmo tempo me repreendendo com os seus olhos.
— O que você estava pensando ao sair com ele, ? Eu já não te falei milhares de vezes que eu não quero você perto dele?
— Como você soube?
— Eu não sabia. Eu apenas estranhei o fato do carro da ficar estacionado tanto tempo e você não descer. Fui verificar se estava tudo bem e me deparo com aquela cena. Espero nunca mais ter quer ver isso.
— Mas pai...
— Sem ‘’mas’’, . Esse assunto está encerrado. Mas para você aprender a lição, será castigada. Ficará sem celular, internet e sair com a por um mês. E espero que não me faça tomar decisões mais drásticas. Agora vá para seu quarto.
Não esperei nem ele terminar de falar para me levantar e ir para meu quarto. Antes mesmo de chegar lá minhas vistas já estavam embaçadas devido às lágrimas. Tranquei a porta do quarto porque não queria ser perturbada por mais ninguém. Me joguei na cama e desabei. Como era possível que em uma hora eu estivesse vivendo um conto de fadas e, em outra, eu estivesse chorando sozinha em meu quarto, sem nem mesmo poder ligar para minha melhor amig? Meu celular não estava onde eu o havia deixado e tinha certeza que meu pai já o havia pegado, e nem me daria ao trabalho de verificar meu computador, porque eu sabia que ele tinha feito o serviço completo. A única coisa que eu podia fazer era chorar. Chorei até sentir que não havia mais lágrimas dentro de mim. Com os olhos inchados e ardendo, peguei no sono.
As semanas seguintes foram um pesadelo. Eu não podia falar com , nem mesmo na escola, porque tinha certeza que meu pai havia mandado alguém vigiar cada passo que eu dava. Nos víamos apenas de longe, no refeitório e no final das aulas. Ele sempre sorria quando me via e eu fazia o mesmo, sabendo que era o máximo que podíamos fazer. Eu estava infeliz e nem as palhaçadas habituais de conseguiam me animar. Em casa eu mal falava com meus pais. Trocava apenas as palavras estritamente necessárias. Eu sabia que meu pai havia percebido meu estado de espírito, mas tinha certeza que ele não mudaria de ideia, porque ele achava estar fazendo a coisa certa. Eu tinha perdido as esperanças de ficar com algum dia, até o momento em que encontrei um bilhete dele nas minhas coisas. Ele dizia que daria um jeito, mas não desistiria de mim. Isso reacendeu as cinzas que tinham virado minhas esperanças.
O baile de fantasias anual da escola estava se aproximando, e minha animação voltou a surgir aos poucos. Em parte porque eu e esperávamos por esse dia ansiosamente há muitos meses, e em parte porque eu sabia que tinha planos para nós nesse baile. Ele daria um jeito de nos encontrarmos, mesmo eu não fazendo ideia de como ele faria isso. Meu pai sabia que eu estava seguindo suas regras, por isso não me impediria de ir ao baile. E com a ajuda das máscaras, ninguém saberia quem era quem.
Eu e passamos as duas semanas seguintes correndo atrás de nossas fantasias. Eu sabia muito bem de quem iria. Eu iria de Julieta. Era clichê, porém um clássico e eu me identificava com uma parte da história dela. Meu vestido era divinamente perfeito e a máscara era simplesmente incrível. iria de mulher gato, e aquela fantasia preta e colada ao corpo deixava suas curvas perfeitas à mostra, e eu tinha certeza que ela iria arrasar. Sentia-me humilde com meu vestido longo e simples de época ao lado de sua fantasia ousada e moderna, mas garantiu que eu iria arrasar também, com especificamente. Isso me fez rir verdadeiramente pela primeira vez nas últimas semanas.
O dia do baile finalmente chegou e eu e passamos o dia todo nos arrumando. Meu penteado de época ficou incrível e quando vi meu reflexo no espelho, já com o vestido e a máscara, me senti a garota mais linda da festa. Mas isso durou só até eu ver como estava maravilhosa em sua fantasia de mulher gato. Quando chegamos ao salão de festas percebi que não reconhecia a maioria dos alunos que estavam ali. Todos tinham caprichado demais em suas fantasias. Enquanto eu passava pela multidão de alunos, percebi os olhares voltando-se em minha direção, e mesmo com as máscaras, reconheci a admiração em cada par de olhos. Me senti automaticamente mais confiante, se eu consegui impressionar todas essas pessoas, com certeza impressionaria também. Eu só não sabia como iria reconhecê-lo no meio desse mar de rostos desconhecidos. Eu o procurei em todos os garotos que passavam por mim, mas nenhum deles era ele.
Cansada de procurá-lo, me dirigi até a mesa onde estavam os ponches. Peguei um copo para mim e voltei a andar pelo salão. já estava enroscada com quem julguei ser o capitão do time de futebol. Como estava ficando abafado lá dentro com tantas pessoas dançando, resolvi sair dali. Fui até a varanda do lugar, onde tinha uma vista incrível para os jardins. A varanda era tão alta que do lado havia uma escadaria para quem quisesse ir até ali poder descer. Muita gente ainda estava chegando ao baile, e o fluxo de pessoas no portão era grande. No meio daqueles rostos que estavam passando pelo portão, um particularmente se destacou. Ele estava vestido de Romeu e eu tinha certeza que era o . Como se soubesse que eu o observava, ele levantou seu olhar em minha direção. Ele me reconheceu, porque um sorriso lindo brotou em seus lábios. Eu conhecia aquele sorriso muito bem. Não havia mais dúvidas de que era . Desci a escadaria correndo e caí em seus braços. Ele me abraçou forte por um momento e então me pegou pela mão e me levou até uma parte escondida do jardim, onde podíamos ficar juntos sem sermos vistos.
Minha noite foi tão mágica que parecia que nada e nem ninguém poderia acabar com isso. e eu ficamos o tempo todo juntos, sem ninguém desconfiar de que éramos e eu ele de Romeu e Julieta. Ficamos a maior parte do tempo no jardim e se meu pai soubesse que estávamos aqui, estaríamos mortos. Outra parte do tempo ficamos na varanda, apreciando a lua e as estrelas, que deixavam a noite ainda mais perfeita do que já estava. Estava sendo a noite mais perfeita da minha vida, até que, no fim do baile, meu pai apareceu por ali e me encontrou na varanda com . Ele me arrastou escadaria abaixo, não se importando com os gritos de implorando para que nos deixasse ficar juntos, e os olhares curiosos das poucas pessoas que ainda vagavam por ali. Dessa vez eu estava com medo, porque sabia que meu pai faria algo para me impedir de ficar com de vez.
Quando chegamos em casa fui direto para meu quarto, eu estava com medo demais, preocupada demais com o que meu pai poderia fazer com , que não consegui derramar uma lágrima sequer. Fiquei andando de um lado para outro, tentando controlar o tremor de nervosismo que tomava conta do meu corpo. Por fim, o cansaço me venceu e acabei dormindo. Sonhei com e acordei ainda mais desesperada do que quando fui dormir.
Quando desci para tomar o café da manhã, meus pais estavam sentados à mesa, me esperando, muito provavelmente. Assim que me sentei, meu pai começou a falar:
— Como ficar sem celular, internet e sair com sua amiga não parece ter sido castigo suficiente, decidi fazer algo que te afastará daquele marginal de uma vez por todas.
Apenas o encarei, sem falar nada. Eu estava furiosa demais com ele para mostrar o mínimo de educação. Apenas fiquei brincando com o canudo do copo de suco de laranja, esperando que meu pai falasse tudo de uma vez.
— Bom, — meu pai disse quando viu que eu não falaria nada. — decidi te transferir de escola. Sei que é só por um semestre, mas é o único jeito. Espero que você entenda que isso é para seu próprio bem.
— Não, eu não entendo. Mas do que adianta, não é? Minha opinião e nem meus sentimentos contam aqui. Mas não se preocupe, eu vou fazer o que você quer, só espero que consiga dormir à noite sabendo que sua filha está sofrendo. — Falei e me levantei, jogando meu copo de suco dentro da pia, o espatifando em mil pedaços.
Por um momento tudo que se podia ouvir era o tilintar dos pequenos cacos de vidro dentro da pia. Olhei para meu pai e ele tinha uma cara assustada. Eu sempre havia seguido suas regras, jamais havia falado assim com ele, mas eu estava cansada demais de fazer tudo que ele queria sem nem mesmo contestar. E eu já estava encrencada mesmo.
— , eu não vou admitir que você...
— Ah pelo amor de Deus, eu estou cansada disso tudo. Se quiser me mandar para um internato na Suíça, mande, eu não estou nem aí. — Subi as escadas correndo e voltei a me trancar no quarto. Meu pai e minha mãe tentaram várias vezes durante o dia conversar comigo, mas não saí de lá por nada, nem mesmo para comer.
O dia chegou ao fim e eu estava com sono e cansada demais pelo dia emocionalmente exaustivo que eu vivera, por isso fui dormir mais cedo. Acordei um tempo depois com um barulho vindo da janela do meu quarto. Olhei para o relógio e vi que passava um pouco da meia-noite. Pensei que tinha sido um barulho qualquer e me virei para o outro lado, tentando voltar a dormir. Mas o barulho continuou e eu levantei. Quando me aproximei da janela, vi que havia uma silhueta do lado de fora, parada em baixo da minha sacada. Abri a porta da sacada e espiei lá embaixo. Era .
— ? O que você está fazendo aqui? — Falei o mais baixo que consegui.
— Preciso falar com você. — Ele escalou a lateral da minha sacada, com a ajuda dos pés de trepadeiras que cresciam por ali.
— Se meu pai te pegar aqui, não quero nem pensar no que ele é capaz de fazer.
— Ele não vai me pegar. — Ele nem me deu tempo de responder e já veio me beijando. Correspondi ao beijo imediatamente, apesar de sentir uma coisa diferente nesse beijo. parecia estar desesperado e aquilo me deixou com ainda mais medo do que eu já estava.
— , o que foi? — Perguntei quando rompemos o beijo.
— , eu... — Ele respirou fundo. — Não sei como te dizer isso.
— Isso o quê?
— Eu vou embora, .
— O quê? Como assim? Vai embora pra onde?
— Eu não vou embora definitivamente, é só por um tempo. A The Maine, minha banda, foi convidada para gravar um cd e precisamos nos mudar para Los Angeles para facilitar as coisas com a gravadora.
Por um momento apenas fiquei feliz por ele. O sonho de era fazer sucesso com sua banda, e esse convite para gravar um cd com certeza o lançaria ao estrelato. Mas então me dei conta do que isso significava. Eu teria que ficar longe dele. Mesmo que meu pai já tivesse o plano de me mudar de escola parecia diferente quando a decisão partiria de . Eu sabia que isso queria dizer que não nos veríamos de novo.
— Então estamos terminando?
— Não. — Ele disse rápido. — Eu não vou ficar em Los Angeles para sempre, é só por um tempo. O que eu estou pedindo é para você me esperar.
— Você sabe que isso não é possível, não é?
— E por que não?
— , todos sabem que namoro à distância não funciona. Ainda mais quando esse namoro nem sequer é aprovado. E de qualquer forma, você terá o mundo aos seus pés, não precisa ficar esperando por uma garota como eu. — Fechei meus olhos na tentativa de não derramar nenhuma lágrima, mas foi inútil.
— É claro que vou. O que eu sinto por você não vai mudar. Eu posso estar do outro lado do mundo e mesmo assim continuarei te amando.
— Nós dois sabemos que isso não é verdade.
— Então quer dizer que você deixará de me amar?
— Não. Isso nunca vai acontecer. Mas não importa. Eu não quero que você perca seu tempo esperando por mim.
— Eu não estarei perdendo meu tempo. Por favor, me espera...
— É melhor não, . Nossa história não foi feita para dar certo. Pode ir tranquilo. Faça tudo o que você quiser e aproveite bem sua vida de rockstar.
— ...
— Por favor, , faça o que eu estou dizendo.
— E você?
— Bom, eu vou terminar o colegial e depois ir para a faculdade.
— E vai se casar com algum advogado ou médico, como seu pai sempre quis? — Apesar da acusação em sua voz eu ainda podia detectar um toque de mágoa também.
— Eu não sei. Não tem como saber dessas coisas. Eu simplesmente vou seguir com minha vida, e com quem irei casar só Deus sabe.
— Tudo bem, se é isso que você quer.
Assenti, reprimindo as lágrimas que ameaçavam cair dos meus olhos. Embora eu estivesse tentando demonstrar ser forte, não escondeu sua dor. As lágrimas escorriam por seu rosto livremente, partindo ainda mais meu coração.
— Então é adeus? — perguntou e eu assenti incapaz de falar.
— Eu te amo, . E sempre vou amar. Um dia eu voltarei e nós iremos nos casar.
Eu ri pensando que aquilo provavelmente nunca iria acontecer. Ele beijou meus lábios mais uma vez e então se foi.
Dois anos depois...
Dois anos haviam se passado desde a última vez que eu vira . Depois daquele dia, embora tenha prometido, ele não voltou para Tempe. A The Maine conseguiu fazer sucesso com seu cd de lançamento e eles entraram em turnê logo depois. Eu não procurava saber dele, mas de vez em quando uma coisa ou outra chegava aos meus ouvidos. Eu evitava qualquer coisa que me lembrasse dele. Apesar de dois anos terem se passado o que eu sentia por ele não havia mudado. Não sabia como era possível, mas parecia que eu o amava ainda mais do que antes.
Meu pai por fim decidiu não me mudar de escola. Na manhã seguinte à despedida de , ele veio ao meu quarto dizer que não iria me transferir e, que se eu quisesse mesmo, poderia ficar com . Mas era tarde demais. iria embora e eu não podia fazer nada. Alguns dias depois disso chegou minha carta de admissão em Harvard e eu agora estudava medicina lá. Não tinha me envolvido com nenhum outro garoto. Por mais que eu quisesse, eu não conseguia esquecer . Ele ainda era e sempre seria o dono do meu coração. Mas eu já havia perdido a esperança de ficar com ele. Ele agora era um rockstar e tinha a garota que ele quisesse a seus pés. Era bem provável que eu nunca mais voltasse a vê-lo, a não ser em revistas.
Eu estava na casa dos meus pais já que eram férias de verão na Universidade. Eu estava no meu antigo quarto, olhando para as estrelas desenhadas no teto. e eu havíamos pintado em uma das inúmeras festas do pijama que tínhamos feito quando éramos adolescentes. Me permiti derramar algumas lágrimas ao me lembrar daquele tempo, daquela época que apesar das restrições de meu pai, eu era extremamente feliz. Não que agora eu não fosse feliz, era só que antes tudo era menos complicado.
A noite estava calma do lado de fora, e de repente ouvi um barulho vindo do vidro da porta da minha sacada. Aquele barulho era familiar, e minha mente voltou àquela noite de dois anos atrás, à noite em que jogou pedrinhas na minha janela, à noite em que eu e nos despedimos. Pensei que estivesse imaginando coisas, mas o barulho voltou a surgir. Levantei da cama e me dirigi à sacada. Espiei lá embaixo e pude distinguir a silhueta de um homem lá embaixo. Meu coração acelerou tanto que parecia querer saltar pela minha boca a qualquer momento.
— ? — Reconheci a voz de me chamar lá de baixo.
Mesmo na luz fraca, consegui ter uma boa visão de seu rosto. Ele não havia mudado nada. Continuava o mesmo de dois anos atrás.
— ? — Chamei e ouvi sua risada ecoar pelo silêncio da noite.
— Vem aqui. — Ele pediu e não pensei duas vezes antes de descer pelas trepadeiras e pousar ao lado de .
Assim que me viu em sua frente, me beijou. Um beijo recheado de saudades e de... amor. Só podia ser amor. Retribuí com o mesmo entusiasmo.
— Você está ainda mais linda do que antes. — Ele disse.
— Você continua o mesmo. Lindo como sempre. — Falei e ele sorriu. — O que você está fazendo aqui?
— Eu não prometi que voltaria?
Assenti.
— Mas eu já tinha perdido as esperanças de te encontrar.
— Mas agora eu estou aqui. — Ele disse, pegando minha mão esquerda e se ajoelhando. — , eu te amo e isso é tudo que eu realmente sei. Você aceita se casar comigo?
Ele tirou uma aliança do bolso e parecia que eu estava sonhando. Comecei a chorar e não conseguia mais parar. Respirei fundo e tentei falar.
— Sim. — Balbuciei e ele colocou a aliança em meu dedo.
— Seu pai já sabe, então não há com o que se preocupar. — Ele se levantou e me beijou mais uma vez.
Nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer comigo. Eu estava vivendo um conto de fadas e dessa vez ninguém estragaria. e eu teríamos nosso felizes para sempre.
Fim.