Is Enough

Escrito por Mandi A. | Revisado por Mariana

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  - Eu amo você, meu amor – a garota colocou seus cabelos para trás da orelha enquanto sussurrava para o vento. Levantou-se, dando às costas.

Cinco anos antes.

  - Eu tive um sonho, sorriu sonhadora para amiga, que mastigava um chiclete de morango com a boca levemente aberta. encostou sua cabeça no armário ao lado do qual sua amiga revirava. A garota lembrou-se do sonho, esperando que se fechasse os olhos, voltaria para aquela realidade.
   passou os olhos pela amiga, encorajando-a para falar mais. respirou fundo e abriu mais um sorriso.
  - Eu sonhei com ele, . Ele vinha me salvar quando eu estava prestes a cair de uma ponte, prestes a desabar na água escura. Ele salvou minha vida – contou, estralando os nós dos dedos de sua mão, uma mania que sempre possuíra, que às vezes, irritava a amiga.
  - , acorda. Foi um sonho, ele não te salvou de verdade – estalou os dedos na cara da amiga, que mantinha os olhos fechados – Aliás, você tem um namorado. não é um cara de se jogar fora, amiga.
   revirou os olhos, ignorando os comentários da amiga, que parecia estar em um péssimo humor nessa manhã, mas não deixaria que atrapalhasse a primeira manhã em tempos em que ela conseguia sorrir de verdade.
  Na noite anterior, e não brigaram. Ambos apenas agiam como se não se conhecessem e assim, e conseguiram dormir em paz, sem precisar ouvir nenhum grito e acordar chorando com o barulho e correr para o quarto da irmã mais velha. evitou levar seu olhar para seus pulsos, a fim de deixar que felicidade do sonho que teve escondesse todos os seus outros problemas.
   se afastou dela para ir até a sala onde teria o seu primeiro período. pegou seu celular, para conferir seu horário escolar. Lançou uma careta para a foto e bloqueou seu celular, dando meia-volta, para não precisar passar pelo professor de Histórias Humanas e ser pega no flagra.
   andou depressa pelos corredores já quase vazios e chegou ao seu destino quando o sinal ecoou pelo colégio. Não surpreendeu-se ao vê-lo sentado de costas no banco, com um violão em seu colo. Um vento percorria o jardim da escola, derrubando as folhas quase secas e bagunçando o cabelo de .
   era parceiro dela na aula de Biologia e juntos, sempre tiravam as notas mais altas da turma. podia classificar o que tinha com como uma boa amizade, mesmo ela não sabendo muitas coisas sobre ele e vice-versa. Ela apenas sabia o quanto era apaixonado pela música e compunha. nunca vira nenhuma de suas músicas.
  Ela se aproximou e tocou em seu ombro, sentindo as pernas bambearem no momento que ele virou-se para poder ver quem era e seus olhos entraram em contato com os dos seus. abriu um pequeno sorriso acolhedor, convidando-a para matar aula com ele.
  - Você encontrou meu esconderijo quando quero matar aula – ele brincou com ela, mudando de posição para que pudesse ficar de frente a ela.
  - Eu sempre o vejo aqui e se esconder no jardim não é bem um bom lugar, sorriu, fitando seus tênis vans rosa, evitando o contato visual com , temendo corar quando ele sorrisse para ela.
  - Gosto daqui. É um lugar transbordando de inspiração – ele compartilhou com ela, observando-a com o canto dos olhos, enquanto continuava mostrando interesse em seus pés. riu com a atitude de , ele nunca havia percebido o quanto ela ficava bonita quando estava envergonhada. Ele só não entendia o motivo dela estar envergonhada ao falar com ele. Quem era perto de , a namorada do capitão do time de futebol da escola?
  Se pelo menos soubesse que é com ele que andara sonhando essa noite, seus pensamentos não seriam tão de baixo-astral.
  - Parece que tenho um novo lugar preferido – comentou , parando finalmente de encarar seus pés e desviando sua atenção para o violão. sorriu – E aí, o que está tocando?
  - Você sabe, música – ele brincou com ela, que bateu fraco em seu ombro, repreendendo-o.
  - Talvez um dia você me mostre suas músicas.
  - É, talvez um dia – sorriu para ele, encarando-o pela primeira vez nos olhos. começou a tocar uma melodia qualquer e perdeu a vergonha e a timidez que provocava nela e apoiou sua cabeça no ombro dele, fechando os olhos e sorrindo por ouvi-lo tocando tão próximo dela.

*

   se inclinou na direção de , que deixou com que ele depositasse um rápido beijo em seus lábios. O garoto sorriu para ela, que também retribuiu, sem nem um pouco de emoção ou vontade. acenou rapidamente enquanto se afastava em seu carro. A garota destrancou a porta de casa com sua chave e a trancou logo depois, deixando a chuva do outro lado. Ela sacudiu seus cabelos molhados e bateu seus coturnos pretos e cheio de cadarços no tapete da entrada.
  - ? Cheguei – ela gritou, esperando que a irmã de 12 anos descesse as escadas, cumprimentando-a – ?
  Sua mãe costumava ficar em casa até a hora de chegar do colégio, para poder partir para o trabalho. sofria bullying no seu antigo colégio, seus colegas a chamavam de tudo quanto é nome por ser um pouco acima do peso padrão para as garotas de sua idade. cansada de receber ligações do colégio reclamando do rendimento escolar baixo de e de precisar acalmar a filha toda vez que a mesma chegava do colégio aos prantos, a tirou do colégio, pagando professores particulares para a filha mais nova. As duas costumavam assistir The Big Bang Theory, esperando que chegasse em casa. Mas hoje, não ouvia nenhum barulho de risadas ou da televisão ligada no volume máximo.
  - Tem alguém em casa? – gritou mais uma vez, tendo como resposta o silêncio. Ela foi até o armário da área de serviço, para pegar uma toalha que pudesse secar seus cabelos que estavam mais escuros. Após enrolar o cabelo, caminhou devagar até a cozinha, onde percebeu um pedaço de papel rasgado em cima da bancada.

, eu e seu pai levamos para almoçar, não voltaremos muito cedo. Qualquer coisa que precisar ligue para mim. Eu te amo, filha. xx Mamãe.”

   sorriu, havia muito tempo que não dirigia a si mesma a palavra mamãe. A garota achou engraçado e ficou feliz por saber que os três estavam juntos. Rezou para que pelo menos e poupassem a pequena de ter que ouvir suas brigas e as deixassem de lado, para poderem aproveitar a filha mais nova. subiu até seu quarto e pegou seus livros, seu lápis e conectou o fone de ouvido em seu celular. Colocou as músicas no aleatório e começou seu dever de casa.

*

  O barulho ensurdecedor da campainha tocou pela enésima vez, preenchendo a casa silenciosa. acordou sobressaltada. Esfregou os olhos e tirou os fones do ouvido, percebendo que havia adormecido enquanto estudava. Rapidamente, calçou suas pantufas e antes de sair de seu quarto, passou os olhos pelo relógio. 19:28 e nada de seus pais e de .
  A chuva ainda caia na rua e ficou sem ar ao ver quem estava na porta.
  Dois oficiais da polícia estavam parados em sua porta e a viatura piscava atrás deles. olhou assustada para eles, esperando que falassem.
  - Você é filha de ? – um deles disse, com a voz rouca e com gotas grossas de chuva pelo seu rosto e por seus cabelos castanhos.
   assentiu, preparando-se para o pior. Seu coração parou de bater pelos alguns segundos que os oficiais permaneceram em silêncio.
  - O carro de seu pai caiu da ponte de St. James – disse o outro oficial, um moreno alto e forte, com a voz mais calma e com um tom acolhedor. sentiu que ia desmaiar – Foi relatado que ele tentou desviar de um caminhão que vinha na contra-mão, mas infelizmente ele perdeu o controle e o carro bateu contra a mureta da ponte, despencando.
  A garota ficou sem reação. Não podia estar acontecendo isso com ela. precisava estar tendo pesadelo!
  - Eles… Eles estão bem? – ela perguntou, deixando as lágrimas quentes escorrem pelo seu rosto. Mesmo sabendo a resposta, ela não queria acreditar. Precisava ouvir a confirmação para que seu mundo acabasse.
  - Eu sinto muito em dizer isso a você, querida – começou o oficial de cabelo castanhos e desabou no chão, aos prantos. Não houve sobreviventes. Ela ouviu a voz abafada por sobre seu choro. Seus pais, sua irmã… Mortos? Não! Não e não! queria gritar, mas não encontrava forças para tal ato.
   chorou por minutos incontáveis, colocando para fora tudo aquilo que estava preso dentro de si. Esperou para acordar do pesadelo, mas a cada segundo que passava, ela perdia as esperanças de estar dormindo e tudo não passar de ilusão de sua cabeça sonolenta. estava sozinha no mundo. Sozinha e devastada. mandou os oficiais irem embora, aos berros. Eles não hesitaram e antes de partirem da casa de , deixaram um cartão com o número deles e da delegacia para qualquer coisa que ela precisasse. os ignorou, chutando a porta com força quando eles saíram.
  Ela gritou. Gritou até que ficasse rouca. também chorou, até que não houvessem mais lágrimas à serem choradas. Qual era a razão de estar viva quando as pessoas que ela amava estavam mortas? Embaixo de um estúpido rio? Após cair de uma maldita ponte!
  Com os olhos inchados e a irritação e negação tomando conta de si, pegou a chave de seu carro e dirigiu – chorando e gritando sozinha – até se encontrar parada sobre outra ponte, embaixo da chuva. gritou mais uma pouco e deu várias investidas contra o volante do carro, inconformada com sua vida. não tinha mais razões para viver nessa droga de mundo.
  A garota saiu do carro, deixando-o com a porta aberta, para que qualquer pessoa chegasse e roubasse o carro, enquanto ela estaria dando um mergulho em direção a morte, como sua família dera. tirou suas pantufas e as jogou do outro lado da ponte, livrando-se delas. A chuva ensopara-a em segundos, mas não se importou com isso enquanto caminhava em direção ao seu fim. Suas lágrimas fundiam-se com a chuva. apoiou as mãos na mureta baixa da ponte, vendo o quão fácil seria para qualquer carro sem controle cair no abismo até a água, metros abaixo. sentiu o frio na barriga ao pensar na sensação que estava prestes a experimentar. A queda. A morte. Era tudo que ela desejava agora.
   apoiou o pé na mureta, logo estava equilibrando-se em cima do concreto, com o olhar fixo nas ondas criadas pela chuva no rio sob seus pés e sob a ponte. Quando estava preparando-se para deixar o mundo para trás, ela sentiu um puxão pela barriga, afastando-a de seu destino. Braços quentes, apesar da chuva, a envolveram. Ela gritou e se contorceu para sair dos braços de quem tivera a estúpida ideia de salvá-la. O arruinador de vidas a agarrou com ainda mais força, vendo que a garota não desisitiria de tentar escapar.
   conseguiu distinguir um par de olhos , mas não conseguiu ver a pessoa que possuía o par de belos olhos. O arruinador a jogou no banco de trás de um carro cheirando a um campo repleto de flores. gritou mais uma pouco quando ele entrou no carro, dando partida. virou-se de lado, amaldiçoando o arruinador do seu destino. Cansada, ela fechou os olhos, sendo envolvida por um mar de tristeza e escuridão.

*

   acordou com acordes baixos de violão. O quarto estava escuro, facilitando sua visão. Ela fitou a colcha azul-escura da cama de casal onde adormecia. Não reconhecia onde podia estar, mas não parecia que havia sido sequestrado por pervertidos. Ou por algum serial killer.
  Ela se remexeu na cama, deixando cair a fina coberta sobre ela. observou as costas da pessoa que tinha um violão no colo, a garota o reconheceu imediatamente.
  - ? – ela perguntou e percebeu que sua voz saiu fraca e rouca, ela bloqueou sua mente no momento que ela fez menção de relembrar os acontecimentos que causaram tais efeitos em sua voz.
  O garoto se virou, deixando o violão de lado. Estava com o cabelo molhado e sorriu fraco para ela, parecendo feliz que a mesma acordara. se sentou na cama, encostando-se nos milhares de travesseiros da cama que pertencia à . Seus cabelos também estavam molhados e ela os enrolou em um coque pequeno, que só se firmou por conta dos fios estarem pingando. sentiu o peso de todos acontecimentos como uma pedra caindo acima de seus ombros, ela desviou os olhos de , e fitou seus próprios joelhos, dos quais estava abraçada. Ela não se deixou chorar, apenas segurou as lágrimas que acumularam em seus olhos.
   sentou-se na ponta da cama, próximo dos pés descalços de . A garota se deu conta que havia sido ele que a impedira de se matar. a salvou de sua loucura pós-traumática. No fundo de seu coração, uma luzinha se acendeu, avisando a ela que se tivesse escapado dos braços dele e pulado da ponte, não estaria vivendo esse momento com ele, por mais triste e depressivo que parecia. deveria estar com pena dela e chorar, só pioraria as coisas para o seu lado.
  - Você está bem? – ele perguntou, tocando sua mão quente no pé de . Ela se arrepiou, recuando subitamente. levantou o olhar para ela, mas a garota não fez o mesmo, ainda fitando a si mesma – Eu salvei você, será que pode falar comigo? – pediu, brincando.
  - Não deveria ter feito isso – ela se ouviu dizendo brusca e sem remorso. A ironia fazia parte dos efeitos colaterais da perda?
   riu.
  - Você estava prestes a tirar sua própria vida. Algo tão bonito e belo. O que levaria alguém a pensar em acabar com a única vida que tem? Tanta gente que não tem a oportunidade e ainda existem pessoas desperdiçando a chance que lhe foi concebida – disse, em tom fascinado que surpreendeu . Ele falava como se fosse experiente no assunto vida. não o conhecia o suficiente para criar qualquer teoria. Agora, ela só conseguia se lembrar do sonho da noite passada, que parecia ser há milhões de noites atrás. No sonho, havia salvado sua vida e o sonho havia se tornado uma realidade, que assustava .
  - A dor, . A dor faz com que tentemos tirar nossas vidas – ela o explicou, afagando agora seus braços, abraçando-se logo depois. Dessa vez, não rira.
  - O que te faz sofrer tanto assim, ?
   respirou fundo para soltar tudo para ele de uma vez para que fosse menos difícil.
  - Meus pais acabaram de morrer em um acidente de carro, – ela quase gritou, encarando-o pela primeira vez desde que ele chegara na cama. a encarou e viu o momento em que seus olhos oscilaram.
  - , eu…
  - Eu não quero sua pena, . Eu só quero esquecer, então finja que não sabe nada. Então se você ficar quieto, eu agradeceria, falou rude e suspirou, derrubando a cabeça para trás e repousando.
  - Se você quer tanto esquecer, vamos mudar de assunto – ele começou, com a voz ofendida – Pare de me chamar pelo meu sobrenome, eu não gosto disso.
  - Eu não gosto de sentir a dor que eu estou sentindo – ela admitiu, fitando-o de novo. Dessa vez, os olhos de permaneceram firmes, ignorando a dor que sentia. Ela queria descontar sua raiva e sua dor no rosto perfeito de , que atormentava-a em seus sonhos mais profundos e secretos. Por mais que o desejasse secretamente há algum tempo, ela não queria que ele tivesse salvado-a.
   apoiou-se de joelhos com uma velocidade que pegou de surpresa. Ela estava em frente à ele, ambos separados apenas por centímetros que percebeu que não gostaria que existissem. tocou em seu braço nu e o toque esquentou todo seu corpo, além de transferir uma corrente elétrica que arrepiou das cabeças aos pés.
  - Me faça esquecer – ela pediu baixinho, aproximando-se desajeitadamente dele. parecia recuar a cada movimento dela.
  - Você não quer isso – apertou o braço de com certa força que a fez sorrir involuntária – Eu não posso fazê-la esquecer, , por mais que eu queira.
  - Do que você está falando? – perguntou , em uma distância considerada perigosa. não se limitou a responder, apenas agarrou-lhe o rosto e começou a beijá-la terna e delicadamente.
   ficou sem reação de início, ela não esperava que fosse agarrá-la de tal forma. Mas logo que o primeiro choque passou, ela entregou-se por completo ao beijo de , tão doce e tão carinhoso. nunca havia sido beijada da maneira como a beijava. Ninguém a tratara como se ela fosse uma boneca de porcelana que podia quebrar a qualquer momento. Ela esperou muito tempo para se sentir assim. Ela esquecera de tudo quando a língua de descobria sua boca. estava perdida.
   tirou uma de suas mãos do rosto da garota e a colocou na cintura dela, puxando-a para mais perto de si em um rápido movimento. passou sua perna ao redor dele, rápida do mesmo jeito. Suas mãos foram para seus cabelos e nuca, provocando cócegas na nuca do rapaz, que a beijava com voracidade. Antes que percebessem, passava a blusa úmida de pelos seus braços levantados e garota fazia o mesmo com a camiseta dele, sentindo seu abdômen quente em suas mãos.
  - Você tem certeza que quer fazer isso? – sussurrou perto de seu ouvido, quando ambos já estavam de roupas íntimas prontos para avançarem para a próxima fase. não tinha certeza de nada, mas sabia que queria aquilo e que queria . Ela assentiu e voltou a beijá-lo.
   só conseguiu achar uma certeza em sua vida confusa: naquela noite, ela descobrira o verdadeiro significado da expressão “fazer amor”.

*

  - Oi, – exclamou , abraçando a amiga logo depois da mesma abrir a porta.
   sorriu ao entrar na casa de . Ela lembrou-se de tantas vezes que fora recebida por na mesma porta, quando mais nova. De todas às vezes que correra pela aquela casa com a sua frente, gritando que ninguém conseguiria alcançá-la. respirou fundo. Foi em direção à avó de , que estava sentada na velha poltrona de vai e vem da sala de estar da casa de .
  - Boa tarde, Sra. a cumprimentou, inclinando-se para depositar beijos na bochecha da senhora.
  - Oh, , minha querida – ela abraçou , levantando-se – E, por favor, “senhora” é antiquado demais, me chame apenas de vó, você sabe muito bem disso. Até já me chama assim.
  As duas andaram uma ao lado da outra até a cozinha, onde estava abraçada a . apoiou sua mão no ombro da amiga, que sorriu no meio do abraço para ela. também recebeu um sorriso de , que o foi retribuido.
  - , querido, você fez café! – exclamou a Sra. e pegou duas xícaras do armário que conhecia tão bem. Serviu ambas, entregando uma para a “vó” e tomando com cuidado a sua, para não queimar os lábios com o conteúdo quente.
  Já passava de um mês do acidente dos pais de e a sua avó havia vendido com rapidez a sua pequena casa do outro lado da cidade, para vir morar com . Por mais que a avó tenha lhe implorado o contrário, largou o colégio no meio do último ano. Ela não tinha forças para continuar indo todo dia àquele lugar, mesmo que faltasse pouco tempo e tivesse , e sua avó a apoiando. Simplesmente não conseguia e não estava disposta a mudar sua opinião. Tudo que fazia a lembrava de , ou , ou . Até dormir às vezes lhe deixava triste, por lembrar que ela acordaria, mas sua família não. Ela também não aguentaria todas as pessoas sentindo pena dela. Como se já não bastasse tudo e a pena que sentia de si mesma. já estava mal o suficiente. terminou com por telefone, explicando que não podia continuar com algo que já não dava mais certo. Mas a verdade era que ele não era mais o cara certo. Como o explicaria que havia se apaixonado por outro homem?
   suspirou e após, inalou o perfume de que já conhecia tão bem e já tanto gostava. O cheiro dele a acalmava e sabendo disso, o garoto a apertou ainda mais no abraço, beijando o topo de sua cabeça. Alguns fios de cabelos grudaram em sua boca e riu por cima da xícara. estava feliz por ter alguém como em sua vida. Só não gostava da parte em que ela demorara tanto para achá-lo. Ele que sempre esteve tão perto, mas só realmente aparecera no momento mais difícil da vida de . Isso seria a única coisa que mudaria, ou talvez, mudaria também o passado, trazendo os pais de de volta, para não precisar ver a amiga sofrendo do jeito que estava.
   e a Sra. se retiraram da cozinha, conversando sobre assuntos que não interessavam mais à . A garota afastou seu rosto do peito de e sorriu para ele, segurando suas mãos.
  - Eu amo você, pequena – ele sussurrou para ela. sorriu, apertando a mão dele – E por isso eu preciso lhe contar uma coisa – o tom de voz de mudara repentinamente e sentiu uma aperto no coração – Não se preocupe, – ele riu fraco, mas o tom de sua voz não voltara ao normal, percebera .
  - , o que está acontecendo? Você não vai me chutar, né? – perguntou meio brincalhona, mesmo temendo a resposta dele.
  - Não, nunca. Mas o que vou falar é algo mais sério, .
  - Você está me assustando. Seja mais direto, – ela pediu, soltando sua mão e apoiando-se no peito dele.
  - Eu fui ao médico semana passada e ele pediu que eu fizesse alguns exames. Quando eu tinha 13 anos, descobri que eu tinha um tumor benígno no cérebro. Eu estava bem, mas parece que as coisas mudaram de rumo – ele suspirou fundo e paralisou, esperando mais uma vez pelo pior, que ela sabia que viria – Vou citar um de seus livros favoritos, : “Eu acendi como uma árvore de natal, Hazel Grace”.
  - , você está dizendo que também vai me deixar?

*

   acordou com a leve mexida de alguém tentando chamar sua atenção. Seus olhos foram preenchidos pela luz forte do corredor extremamente branco do hospital. Era que estava em sua frente, parecendo abalada.
  - Aconteceu alguma coisa? – perguntou alarmada. negou rapidamente, deixando a amiga um pouco aliviada.
  - Está na hora das visitas – assentiu, levantando-se rapidamente e caminhando em direção ao quarto no final do corredor. 541. Ela entrou, encontrando-o da mesma situação das últimas semanas. sorriu fraco ao vê-la. Sua pele estava pálida e ele estava ligado em um monte de aparelhos. sentou-se ao seu lado e pegou sua mão, acariciando-a com delicadeza.
  - Odeio que você tenha que me ver assim. Não é justo que tenhamos tido tão pouco tempo – ele falou, quase sem forças e controlou-se para não chorar. Ela passou sua mão pela testa dele, afastando algumas mechas do cabelo para que seus olhos ficassem visíveis. O coração dela pareceu diminuir.
  - Não fale assim – ela pediu, segurando com força sua mão – Você vai ficar bem, está me ouvindo?
  - Eu acredito em você, . Eu vou ficar bem por você.
  - Oh, – ela derrubou a cabeça na ponta da cama e as lágrimas finalmente escaparam, pingando em seus joelhos. so tentou algum esforço para apertar a mão de , mas o que conseguiu foi apenas um leve toque, que fez com que ela levantasse seu olhar para ele. sorriu para ela, encorajando-a de um jeito que ela deveria estar fazendo com ele – Meu amor, eu estou tão apaixonada por você. Eu tenho certeza que nunca amei alguém como eu amo você.
  - É recíproco, – a voz dele ficou fraca e baixinha, mas não percebeu, já que seu choro abafava todos os outros sons.
   ficou ali chorando por inderteminados minutos, segurando a mão dele. Ela odiava a doença de , que estava o tirando dela, assim como o acidente tirara sua família dela. A vida precisava ser assim, tão injusta? não conseguia explicar porque a vida gostava de arrancar dela as pessoas que eram importantes. Ela trocaria a vida da família e de pela sua. Se ela pudesse voltar ao tempo, ela morreria pelos quatro, certificando-se que nenhum deles iria sofrer pelo resto de suas vidas. Mas agora, quase nada restava.
  - Me desculpe por fazer você se envolver comigo – ela disse, chorando ainda mais. De repente, ela entendera o porquê de ter sido tão recluso no dia do acidente de seus pais. Ele ficara com medo dela sofrer no futuro. havia a protegido desde o começo – Você salvou minha vida, mesmo eu não querendo ser salva. Você chegou no momento certo, . Eu só quero ter você de volta. Então, por favor, volta para mim – ela parou no meio da frase, quando um soluço a interompeu – Volta para mim, . Ter você pela metade não é suficiente para mim.

   acenou para ela, perto do carro, com em seu colo. Os olhos da pequena brilharam ao ver a mãe se aproximando, da mesma maneira que os olhos de seu pai brilhavam. soltou , que correu na direção de . A mulher pegou a filha no colo, limpando as últimas lágrimas do rosto com as costas da mão.
  - Mamãe, você está bem? – perguntou, agarrando o rosto de com as duas mãozinhas pequenas. assentiu e sorriu para filha antes de depositar um rápido beijo na bochecha dela.
  - Tia cuidou bem de você nesse tempo?
  - Ela me contou quem você veio ver – disse, sorrindo, o que fez com que sorrisse ainda mais – Papai... Ele está bem? Quando vou poder conhecê-lo?
  - Oh, querida, você só vai conhecê-lo quando você estiver bem velhinha. De bengala e cabelo branco.
  - Mas mamãe, vai demorar – protestou, mexendo no cabelo da mãe, enquanto as duas aproximavam-se de , que esperava-as encostada na porta do carro.
  - Quanto mais demorar, melhor. Seu pai vai estar lá esperando por você. Sempre.
   apertou contra seu corpo com força, abraçando-a e afundando seu rosto nos cabelos compridos da filha. fechou os olhos e um vento frio bateu contra ela e contra . sentiu seus pelos eriçarem com o vento e ao abrir os olhos, viu a imagem dele sorrindo, desfazendo-se no vento que se dissipava. A vontade de chorar voltou e colocou a filha no chão, pegando na mão dela, sem esquecer na imagem que vira. Ela fechou mais uma vez os olhos, imaginando-o ali, junto delas, segurando a mão de . Mais ma vez se arrepiou, mesmo não tendo vento algum.
   sorriu, sentindo a presença do amor de sua vida com ela naquele momento. Como ela sempre sentia ao longo desses cinco anos.
   recebera uma ligação da mãe dele logo após deixar o hospital daquele dia que chorara em seu leito. Ele havia partido. apenas lembrava-se de ter chorado daquele jeito quando os pais e a irmã morreram ou quando descobrira estar grávida de , alguns dias depois que se fora. Ela agradecera a ele por fazer aquilo com ela. havia a deixado, mas em recompensa a dera .
  Ele de algum jeito sabia que não poderia deixá-la sem sua outra metade.
  Então apareceu. Um último presente de .
  Daquele dia em diante, o quase, virara suficiente para .
  Ela teve e agora tinha e para ela, era suficiente.

FIM



Comentários da autora


  Olá, eu sou a Mandi, a escritora dessa songfic e espero que tenham gostado dela.
  Quando recebi o email com a música que teria que inspirar minha história, fiquei assustada. Pois além de ser uma música calma, ela é bem romântica e histórias muito melosas particularmente não atraem minha atenção. Então, mudei um pouco o percurso. Mas no fim, o resultado saiu bem como eu gostaria.
  Eu amei escrever essa songfic <3
  Caso vocês queiram ler minha longfic, ela chama-se How to Hate Zayn e está na categoria "Em Andamento" do fandom One Direction.
  Qualquer coisa, gritem lá no @unknownniall.
  xx Mandi.