Indigo Girl

Escrito por Lia | Revisado por Mah

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  Era início de noite numa sexta feira, e eu estava voltando para casa. No caminho, uma de minhas vizinhas de rua. Ela tinha uma mochila nas costas e cadernos nas mãos. Usava um casaco um pouco fino cor de rosa, jeans e uma camiseta branca. Ela havia acabado de descer de um ônibus, provavelmente voltava da faculdade.
  Ela apertava os cadernos contra si, aparentando medo. Seus passos eram firmes e largos, talvez quisesse chegar mais cedo em casa.
  Bom, como eu imaginava que nosso caminho era praticamente o mesmo, a segui. Estávamos entrando em uma rua um pouco abandonada, e até mesmo grotesca. As casas com aparência velha e desgastada davam um ar sombrio àquele local. Ela estava em minha frente, e não olhou para trás alguma vez.
  Ao ver dois homens suspeitos, minha vizinha - cuja moça eu não sabia o nome - começou a andar mais rápido ainda, quase correndo. Ao passar por eles, teve que ouvir coisas cantadas e palavras sujas.
  Onde morávamos, por ser um bairro bem popular, era comum isso acontecer. Alguns o faziam por diversão, outros por interesse. Só sei que ela aparentemente se assustou.
  Algumas ruas depois, ela entrou em sua casa. Andei mais algumas casas e entrei na minha, onde encontrei minha mãe assistindo TV.
  - Cadê meu pai? - perguntei.
  - Foi até a casa do chefe dele. Parece que houve alguma urgência. - minha mãe respondeu sem desviar a atenção do televisor.
  - Ah sim. - disse baixo. - Acabei de ver aquela vizinha.
  - Que vizinha?
  - Uma loira, baixinha. Mora no 697 se não me engano.
  - ? - ela finalmente me olhou, surpresa.
  - Acho que sim.
  - Ela é uma boa garota.
  - Deve ser. - dei de ombros. Não a conhecia, não deveria me importar.

***

  Bom, no dia seguinte, no mesmo horário eu a encontrei novamente. Dessa vez, por estarmos caminhando praticamente lado a lado - mas em cantos opostos da rua -, resolvi chamá-la.
  - ? - disse alto.
  - Oi. - ela disse meio incerta. - Eu conheço você?
  - Não, eu sou seu vizinho de rua. Moro no 704.
  - Ah... - ela desviou seu olhar para o chão.
  - Nem me apresentei... Prazer, Joel.
  - Prazer. Bem, você já sabe meu nome. - riu baixo. Atravessei a rua rumo à garota, então começamos a caminhar lado a lado - literalmente.
  - Faz muito tempo que você mora aqui? - perguntei.
  - Não muito... Desde que entrei para a faculdade, aproximadamente um ano.
  - E por que você veio para cá?
  - Eu sou de uma cidadezinha do interior, bem pequena por sinal. E bom, meus pais sempre me incentivaram a ser alguém na vida. Quando terminei o ensino médio, resolvi vir. Mas meu coração ficou lá.
  - Você não mora com seus pais?
  - Não. Moro com duas colegas.
  - Ah... – respondi, enquanto estávamos chegando até sua casa. - Então... Eu te vejo amanhã?
  - Se você não for um psicopata tarado pedófilo, talvez. - riu.
  - Acho que estou bem longe disso. - ri também.
  - Até algum dia. - ela sorriu e entrou.

  Só vi uma semana depois daquele dia. Bem, não falei com ela. Na verdade, eu estava passando na rua e vi uma das janelas de sua casa acesa. Estava tocando uma música que eu não conhecia e me esforcei para enxergar. Ela usava um vestido florido e dançava lentamente abraçada com um urso de pelúcia. Ri. Acho que ela sentia falta de casa.
  Seus olhos estavam fechados e algumas lágrimas escorriam. Seus lábios mantinham um sorriso leve.
  Fiquei observando a cena até a música acabar. Ela limpou suas lágrimas e desligou o aparelho de som. Sua expressão mudou para triste e me senti mal por isso.
  Fui para casa e imediatamente subi até meu quarto. Peguei meu violão e tentei alguns acordes, mas nada saía. Parece que eu estava desconcentrado, havia algo que puxava minha atenção àquela imagem.

***

  Dias depois, me peguei cantando algo como "Are you ever gonna find a home?", então peguei meu violão e os versos foram saindo com facilidade.

  She's the kind of girl who likes to wear her flower dresses
  Ela é o tipo de garota que gosta de usar seus vestidos de flores
  When she floats through the room, she knows that she impresses
  Quando ela flutua pelo quarto, ela sabe que ela impressiona
  As she floats on the waves of attention,
  Enquanto ela flutua sobre as ondas de atenção,
  Deep down inside you know she's waiting for a song
  Lá no fundo você sabe que ela está esperando por uma canção

  Singing oh, oh, indigo girl, are you ever gonna find a home again?
  Cantando oh, oh, menina indigo, você nunca vai encontrar uma casa de novo?
  Singing oh, oh, indigo girl, are you ever gonna find a home again?
  Cantando oh, oh, menina indigo, você nunca vai encontrar uma casa de novo?
  Are you ever gonna find a home?
  Você nunca vai encontrar um lar?

  Her feet would move to the beat of her empty heart,
  Seus pés se moviam para a batida de seu coração vazio,
  Taking her from soirees in SoHo to the parties in Berlin
  Tomando-a de saraus em SoHo às partes em Berlim
  She always thinks that you gotta keep on moving
  Ela sempre acha que você tem que manter em movimento
  'Cause solid ground isn't a place she's ever been
  Porque terreno sólido não é um lugar que ela já foi

  Singing oh, oh, indigo girl, are you ever gonna find a home again?
  Cantando oh, oh, menina indigo, você nunca vai encontrar uma casa de novo?
  Singing oh, oh, indigo girl, are you ever gonna find a home again?
  Cantando oh, oh, menina indigo, você nunca vai encontrar uma casa de novo?
  Are you ever gonna find a home? (3x)
  Você nunca vai encontrar um lar? (3x)

  Singing oh, oh, indigo girl, are you ever gonna find a home again?
  Cantando oh, oh, menina indigo, você nunca vai encontrar uma casa de novo?
  Singing oh, oh, indigo girl, are you ever gonna find a home again?
  Cantando oh, oh, menina indigo, você nunca vai encontrar uma casa de novo?
  Singing oh, oh, indigo girl, are you ever gonna find a home again?
  Cantando oh, oh, menina indigo, você nunca vai encontrar uma casa de novo?
  Are you ever gonna find a home? (3x)
  Você nunca vai encontrar um lar? (3x)



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