Incubus

Escrito por Amélia | Revisada por Pepper

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  - Já vou para a cama. – falou enquanto levantava-se da mesa e seguia até a pia da cozinha depositando o prato que havia usado para jantar.
  - Você está indo dormir muito cedo esses dias. – a voz da mãe de percorreu o caminho da sala até a cozinha arrancando um suspiro pesado da garota, que voltou ao cômodo onde sua família fazia a última refeição do dia. – Acho que nossa garota está doente. – concluiu, voltando-se ao marido, mais preocupado em mastigar seu filé mignon e ver o que passava na TV do que responder a esposa.
   conteve-se para não revirar aos olhos ali mesmo e apenas imitou o pai, ignorando o comentário da mãe, seguindo escada acima em direção ao seu quarto e deixando os pais e o irmão mais novo terminarem seu jantar. Entrou rapidamente e trancou a porta, como se ela zelasse por algum segredo que havia ali dentro. Mas talvez o que acontecia ali dentro todas as noites realmente fosse um segredo. Sorriu timidamente, com as costas apoiadas na porta do quarto, olhando para sua cama. Antes ela achava o dossel infantil, afinal, tinha pedido uma cama daquele jeito quando era pequena, pensando nas princesas que via na televisão, mas depois que encontrou a companhia perfeita para seus sonhos não queria desfazer-se daquela cama nunca mais.
   afastou-se da porta para dar início ao ritual que precedia seu sono. Começou tirando todas as fotografias que preenchiam um mural magnético lilás posicionado bem em frente à sua cama. Fotos com os amigos de infância, colegas de sala, vizinhos, família, namorado. Nenhum deles deveria ver o que estava para acontecer ali, mesmo em fotografias; deitar em seu colchão e observá-los ali encarando-a incomodava a garota. Quando terminou, afastou-se, observando o resultado. O mural estava completamente vazio. voltou-se para outros dois porta-retratos que tinha em seu criado-mudo – um com o irmão e outro com toda a família -, tirando-os dali e guardando dentro da primeira gaveta do armário.
  Ela observou a cama mais uma vez e mordeu os lábios, sentindo sua vagina se manifestar. Cruzou as pernas com força tentando controlar sua libido – sem sucesso. Tinha completa certeza que estava molhada. Desviou o olhar da cama para o armário e abriu a terceira gaveta. Tirou sua blusa, jogando-a no chão, assim como fez com o sutiã. Olhou para a cama subitamente escondendo os seios com as mãos. Cerrou os olhos em questionamento: será que ele já estava ali? Não, não era possível. Balançou a cabeça para livrar-se dos pensamentos promíscuos e terminou de tirar a roupa. Ergueu o braço para alcançar sua camisola de seda – a que ele mais gostava -, mas parou no caminho, sorrindo devassa. Faria diferente naquela noite.
  Seguiu completamente nua para a cama. sentou-se lentamente sobre o colchão, passando suas mãos pelo lençol. Ela estava ansiosa para ele aparecer e fazê-la sua, como fazia todas as noites. Finalmente, deitou-se e puxou o lençol sobre o corpo. Agora ela só precisava dormir. . Era sempre a parte mais difícil. O cansaço e o sono que sentia durante o dia esvaía-se completamente de seu corpo dando lugar ao nervosismo e ao desespero de vê-lo novamente. A garota desceu a mão direita vagarosamente pelo corpo até chegar na virilha, onde deu um apertão. Ele era a melhor parte do seu dia. A melhor parte da sua vida naquelas últimas semanas. A parte mais deliciosa. mordeu o lábio inferior e inseriu o dedo médio dentro de si. Estava pronta para recebê-lo. Tirou a mão de dentro do lençol e lambeu o líquido ralo, mas viscoso que estava ali. Girou o corpo para o lado direito e fechou os olhos. Que o sono viesse rápido e, assim, ele também.

  Lá estava ela, novamente naquelas noites tão negras que não poderiam ser reais. Não saberia dizer se estava dentro de alguma casa, na escola, no parque do seu bairro ou no shopping – esses lugares comuns que as pessoas costumam sonhar -; estava tudo imerso em trevas. Sentiu uma rajada de vento atravessar seu corpo e tentou proteger-se inutilmente cruzando os braços. Por um instante, arrependeu-se de não ter vestido sua camisola.
  A garota ignorou a baixa temperatura que estava ali e olhou ao redor, procurando seu amante. Observou uma pequena chama tremeluzente bem distante de onde estava. Não clareava a escuridão que preenchia sua visão, mas estava lá, vermelha e amarela, mesclando-se com laranja e ela sabia o que aquilo representava. Ele. Deu alguns passos lentos em direção à luz, pela primeira vez receosa de vê-lo. Engoliu em seco. Não havia motivos para receio. Era seu querido, seu amor e amante que estava ali para vê-la. Ela esperou o dia todo para poder tocá-lo e agora não sabia o motivo de não correr até seus braços. Tentou dar mais um passo e não conseguiu. Suas pernas não lhe obedeceram. fechou as mãos em punhos e deu leves socos nas coxas. Talvez aquilo ajudasse. Forçou outro passo e não conseguiu. Arfou em desespero e olhou em direção à chama. Ele não estaria vendo que ela estava com dificuldade para andar? Por que não vinha ajuda-la? Ela pensou em gritar chamando-o, mas assim que abriu a boca para fazê-lo suas pernas voltaram a funcionar. Seus membros inferiores movimentavam-se para frente, depressa, e não conseguia controlá-los. Era como se suas pernas tivessem vida própria. Subitamente, a velocidade da corrida aumentou e ela não pode fazer nada além de tentar acompanhar suas pernas com o resto do tronco. Continuou olhando pra frente, vendo a chama crescer a cada passo que dava.
  Não saberia dizer quanto tempo ficou ali, correndo naquela escuridão, mas, vagarosamente, a chama, que antes era apenas um ponto luminoso nas trevas, começou a ganhar forma. Uma forma que ela já conhecia. A forma dele. Via o fogo se transformar naqueles braços fortes e torneados que costumavam estar ao redor do seu corpo, naqueles olhos que emanavam luxúria, naquele cabelo que ela adorava puxar enquanto ele a possuía, naquele corpo viril que encaixava-se perfeitamente no seu. Finalmente, depois de um dia todo de espera, ele estava ali. sentia vontade de abraça-lo. Implorar para que a possuísse logo e fizesse carinho em seu cabelo enquanto ela tentava adormecer. Porém, não faria nada disso. Sua timidez não lhe deixava. Ao menos, ela acreditava que era sua timidez. Ou seria um medo escondido do que ele poderia fazer com ela caso ela o desagradasse?
  O homem aproximou-se de sem quebrar o contato entre os olhos. A respiração da garota começou a falhar devido a aproximação de corpos e ela desviou o olhar, não suportando a intensidade daquela situação. Ele colocou uma das mãos na bochecha dela e puxou-a para si com a outra. O choque dos corpos foi eletrizante. fechou os olhos sentindo as carícias do homem em seu rosto. Virou a cabeça, passando o lábio pela mão dele que usou o dedo indicador para contornar o desenho daquela boca. Ela estava pronta, mais que pronta. Ele só precisava pedir e ela abriria as pernas para que ele fizesse seu trabalho. Mas aquele homem na sua frente não era assim. Ele gostava de ir devagar e ela adorava, apesar de ser torturante no início e extremamente cansativo no dia seguinte. Ela sempre acordava completamente derrotada.
  - ... – o homem sussurrou e ela sentiu seu hálito quente bater contra a sua face.
  Ela respondeu mordendo o lábio dele. Não queria que ele se ocupasse falando, e, sim, fazendo alguma coisa. A garota abriu seus olhos e encarou aqueles profundos. Eles escondiam tanta coisa... Desceu seus olhos para os lábios dele e resolveu agir daquela vez. Encostou suas bocas e esperou que ele aprofundasse o beijo. A língua dele entrou em contato com sua, fazendo-a perder o equilíbrio, mas ele estava lá, segurando sua cintura. Suas línguas trocavam carícias ternas dando ao beijo total calmaria. Ele afastou-se dela e observou-a sério.
  - O quê? – ela perguntou e ele colocou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.
  O rapaz nada disse, apenas riu com certo ar sombrio que provocou calafrios em e jogou-a no chão. A cabeça da garota bateu com força e ela sentiu uma leve tontura. Abriu a boca para reclamar, mas a única coisa que saiu de lá foi um gemido manhoso. Abaixou os olhos e viu seu amante ocupado com seus seios. Uma de suas mãos brincava com o mamilo enrijecido do seio esquerdo enquanto lambia devagar o outro. Ele parou com os movimentos circulares que sua língua fazia, para dar inicio à sucção com a boca. Sua mão livre apertou aquele seio enquanto ele chupava-o com toda força que podia. A garota gemia alto, de prazer e dor. A mão do homem que brincava com um de seus seios desceu para sua virilha e apertou o lado interno de sua coxa. Sem cerimônia, a mão saiu dali para entrar completamente dentro da garota. urrou de dor, arrancando uma gargalhada do homem.
  - Perdão, meu amor, mas você ainda vai sentir muito mais dor. – ele falou, tirando a mão inserida nela de uma vez para afagar seus cabelos e beijar-lhe a testa. Lambeu o líquido viscoso que caiu nos cabelos dela e voltou-se para seu corpo.
  Ele desceu o rosto para provocar seus mamilos novamente, quando sentiu que sua transformação estava para começar. Não se importou, na verdade, apenas abocanhou um de seus seios quando deu mais um urro de dor. Ele não entendeu e levantou a cabeça para encará-la. Franziu o cenho quando não encontrou mais aquele olhar infantil e apaixonado. A garota encarava-o completamente aterrorizada. Então, ele compreendeu. Desceu o olhar para os seus seios e, aquele que estava estimulando, sangrava. O homem passou a língua nos dentes e viu que eles já haviam se transformado em presas afiadas. Em breve, ele teria asas também e ficaria vermelho como fogo. Suas mãos e pés se transformariam em garras e sua orelha ficaria pontiaguda. Deu outra gargalhada, mais estridente e macabra dessa vez.
  - Perdão, , perdão. – repetiu, adquirindo um falso tom de pena. Passou o dedo que já se atrofiava e adquiria outra coloração no rosto da garota. Belo rosto ela tinha. Forçou o dedo contra sua pele e arrancou um filete de sangue. Lambeu, antes que escorresse, e passou a língua nos lábios apreciando o sabor. – Isso só não é melhor que seu gozo, meu amor. – o demônio bateu as asas, que já haviam crescido em suas costas. Viu uma lágrima descer pelo rosto de e fez bico. – Oh, criança, não chore. Depois de hoje, você nunca mais sentirá dor. – abaixou o rosto e falou contra os lábios da garota: - Eu prometo.
  Assim, aos gritos de dor e terror de , ele a possuiu pela última vez. E, diferente do outros dias, ela não acordou querendo vê-lo de novo. A garota apenas não acordou.

FIM



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