I'm sorry i bullied you, i was trying to flirt
Escrito por autumn night | Revisado por Mariana
saiu pela porta giratória do Plaza Hotel e foi imediatamente surpreendida pela forte chuva que caía lá fora. Ela ergueu o colarinho do casaco sentindo o tecido macio acariciar o pescoço e pensou em voltar para dentro. Seu guarda-chuva ficou na chapelaria, mas não queria arriscar encontrar sua mãe se voltasse para buscá-lo.
Era uma típica noite ostentosa que sua mãe sempre fazia questão de estar presente. 4 mil dólares para comer, cercada de pessoas que a julgavam o tempo inteiro por cada fio de cabelo fora do lugar e não se importavam se ela escondia um cérebro por trás de toda aquela fachada elegante. Estava exausta de tudo, hoje ela enfrentaria a chuva se fosse preciso, mas precisava sair dali imediatamente.
O motorista da família estava ali em algum lugar com o Mercedes pronto para levar ela e mãe de volta para casa, mas a urgência de sumir dali era muito grande para que ela precisasse explicar a ele o porquê estava indo embora sem a Senhora . Uma rajada de vento gelado soprou o cabelo em volta do seu rosto, desmanchando o penteado que havia feito mais cedo. Fazia dois dias que não nevava, mas a chuva vinha sendo insistente.
Foi difícil encontrar energia para se mover de onde estava, embora o frio daquele fim de tarde estivesse invadindo o seu corpo. Sua decisão estava tomada.
Correu para a beirada da calçada e acenou com o braço pedindo parada para um táxi. Distraída, ela não reparou que um homem ao seu lado fez sinal para o mesmo carro e suas mãos quase se tocaram quando foram abrir a porta do passageiro.
— Você se importa em dividir até o final da avenida?
Ele perguntou em voz alta tentando ser ouvido mesmo com o barulho da chuva batendo no capô do carro.
olhou para o homem de cima a baixo. Parecia bonito, terno e casaco caros. Não parecia um serial killer. Deixou que ele abrisse a porta e entrou no carro depressa. Ele desabotoou o paletó e sentou-se respeitosamente a uma boa distância dela.
Tentou sacudir o casaco e o cabelo do melhor jeito possível, mas já estava encharcada.
— Vou ficar no 1136 aqui mesmo na Quinta Avenida.
Informou ao motorista.
O estranho abaixou o capuz do seu casaco.
— Obrigada por dividir. Essa chuva me pegou de surpresa.
teve a sensação de já conhecê-lo de algum lugar.
— Já nos conhecemos?
O homem se virou e seus olhos percorreram o rosto dela.
— ?
franziu as sobrancelhas e inclinou a cabeça analisando o rosto dele.
— Sou eu, .
Ele riu.
— ? Nossa, já faz bastante tempo.
Ela não esperava ver novamente. Quais as chances dos dois estarem dividindo um táxi? a perseguiu nas duas escolas que ela estudou durante sua vida, sempre pegando no seu pé. Os eram donos de uma fortuna considerável, lembrava bem de como sua mãe costumava tomar chá com a Senhora antes de ela ficar doente e ser levada pelo câncer. e ainda estavam no ensino fundamental e ela se lembrava também de como aquilo havia afetado o pequeno , que passou algumas semanas sem ir para a escola.
Ele pôs uma mecha rebelde de cabelo atrás da orelha. ainda usava os cachos da infância em um corte bem mais longo do que era considerado apropriado para um cavalheiro da sua posição social. Mas precisava admitir que ele havia virado um homem muito sexy com a pele bronzeada e a barba rala. Os traços do seu rosto estavam mais rígidos, o maxilar mais reto.
— Desde a formatura do ensino médio.
Ele disse.
— A formatura que você apareceu com o cabelo azul.
Ela deu um sorriso genuíno pela primeira vez naquele dia.
— Sim, graças a você que colocou tinta azul no meu xampu no vestiário.
Ele riu novamente mostrando os dentes brancos e perfeitos. não se lembrava que ele tinha um sorriso tão bonito.
— Você mereceu. Colocar as cobaias do laboratório no meu armário foi um golpe baixo.
— Mas foi bem engraçado. — Ele respondeu, sorrindo.
— Eu não achei graça nenhuma.
olhou para ela desconfiado. Os olhos dele eram castanhos claros com um contorno bem escuro ao redor.
De repente um barulho de buzina muito alto a assustou.
— O que está acontecendo? — perguntou em voz alta.
Alguns segundos depois e mais buzinas foram ouvidas, mas o carro não se moveu.
Ela olhou para fora, mas não conseguia ver nada com a chuva forte que ainda caía sem parar.
Através do retrovisor, o motorista olhou para os dois parecendo aborrecido.
— Acho que estamos presos em um engarrafamento.
afundou mais um pouco no banco do carro e suspirou. Ela não estava com pressa para ir a lugar nenhum, mas não gostava da ideia de ficar presa.
— Você não é claustrofóbica, é?
— Acho que não. Mas uma vez eu caí do cavalo na aula de equitação e tive que fazer uma tomografia. Não me senti confortável naquela máquina.
Ele se inclinou para mais perto do motorista.
— Acha que vai demorar muito?
tentou não ficar olhando para ele, mas não queria perder a chance de dar uma conferida. também era lindo de perfil.
— Não sei. Não parece ter sido um acidente, talvez seja só a chuva atrapalhando o trânsito.
O motorista respondeu, seus dedos frenéticos digitando no celular.
queria poder sorrir da situação. Coisas desse tipo nunca aconteciam com ela. Nada de muito interessante acontecia com ela. A sua vida era cheia de pequenas crises como perder o lançamento da última coleção da Versace, ou perceber no meio de uma festa que alguém está usando o mesmo par de sandálias Jimmy Choo. Ficar presa em um táxi com um inimigo da época de escola no meio da Quinta Avenida era a coisa mais emocionante que acontecia com ela desde que experimentou maconha no primeiro ano da faculdade.
— Acho que vamos ficar aqui por algum tempo — disse, e ajeitou o casaco no corpo se acomodando no banco de couro — A boa notícia é que podemos colocar o papo em dia.
não era boa com conversas casuais.
— Como estão as coisas?
Ela quase se encolheu com quão estranha era aquela pergunta. A verdade é que os dois nunca foram próximos. Talvez chamá-lo de inimigo fosse um exagero, apesar de que realmente não suportavam um ao outro naquela época, mas os dois definitivamente estavam longe de serem amigos.
— A última vez que ouvi sobre você me disseram que você estava em Barcelona — continuou.
— Londres. Fui para faculdade de arquitetura na Inglaterra. Me formei ano passado.
— Sério? Sempre achei que você viraria jogador de futebol profissional. Você era bom.
— Eu também. Mas se você se lembra bem do Senhor , sabe que ele jamais permitiria que o seu legado não continuasse com o filho mais velho. Mas e você? Foi para a faculdade?
— Sim, na verdade, eu estudei o que queria. Fiz faculdade de moda aqui mesmo. Mas não estou trabalhando na área. Minha mãe acha que é perda de tempo e que devo me dedicar a fazer nada o dia todo.
Ele a observou com cuidado. Um hábito que ele tinha desde que os dois eram adolescentes. Ele a encarava muito quando achava que ela não estava olhando. sempre achou que ele estava tramando a próxima pegadinha.
— Acho que, no fim das contas, nós não somos tão diferentes assim.
E não eram. Mesmo que, diferentemente dos , a família não tivesse vindo de berço de ouro, eles também faziam de tudo para manter as aparências. e ainda estavam fazendo a vontade de seus pais.
— Você também estava no Plaza?
Ela assentiu.
— Minha mãe está me exibindo por aí para suas amigas com filhos solteiros.
Justo no Dia dos Namorados, quando tudo que ela queria era ficar em casa abraçada com um pote de sorvete. Claro que gostaria de ter alguém para patinar no gelo no Rockefeller Center em um dia como aquele. Queria receber flores e chocolates e, se fosse honesta consigo mesma, não era contra a ideia de casamento, mas não agora, e definitivamente não com nenhum dos filhos das amigas da sua mãe. A decoração romântica por toda a cidade era um lembrete que ela estava sozinha e não tinha um encontro decente há meses.
— Por sorte, meu pai não parece se importar se quero me casar ou não. Está muito ocupado com o seu terceiro ou quarto casamento.
Os dois riram, mesmo que aquilo não fosse nada engraçado.
— Então não está interessado em se casar?
— Não parei para pensar nisso. Essas coisas devem acontecer naturalmente.
— Vejo que você não é mais o mesmo valentão que ria de mim.
— Me desculpe, eu não sabia lidar com meus sentimentos. A verdade é que eu achava você a menina mais linda da escola.
A respiração dela vacilou.
— O quê?
Ele deu uma risada, mas conseguia ver que suas bochechas estavam coradas.
— Acho que finalmente esse é o momento em que eu confesso que todo o bullying era só uma desculpa para chamar sua atenção. Sempre tive uma queda por você.
Ela entreabriu os lábios, mas ficou em silêncio por algum tempo antes de falar:
— Você está brincando!
— Estou falando muito sério. Eu era só um moleque meio rebelde, não sabia bem o que eu sentia no começo. E então no ensino médio, eu entendi que o que eu sentia era uma paixonite, mas você vivia cercada por pessoas mais interessantes, então meu único jeito de chamar sua atenção era continuar com as pegadinhas. Me desculpe por aquilo tudo.
— Você zombava de mim, perguntava se meus lábios eram assim porque uma abelha tinha picado a minha boca.
Disse com tom acusatório.
O olhar dele se desviou imediatamente para os lábios dela. Hoje em dia, sabia que uma boca como a dela desperta certas fantasias nos homens, e o jeito que olhava para eles naquele momento era prova disso, mas quando era uma pré-adolescente era bem insegura sobre seu corpo.
Ele pelo menos teve a decência de parecer envergonhado.
— Me desculpe.
— E daquela vez que você descobriu que eu já precisava usar sutiã? Você riu de mim, me torturou por semanas.
Ele não estava rindo agora. engoliu seco e esfregou a parte de trás da nuca. Ela apenas o encarou, boquiaberta. Durante todos aqueles anos, sempre implicara com ela, torturando-a e insultando-a.
— Sério, me desculpe por tudo isso.
riu para si mesma. Tantos anos brigando feito cão e gato e tudo poderia ter se resolvido com alguns beijos no armário de vassouras do zelador da escola.
— Tudo bem. Desculpas aceitas. Não somos mais crianças. E se estamos sendo sinceros, tenho que confessar que isso me chateava quando eu tinha 12 anos, mas no ensino médio era divertido. Eu poderia ter te ignorado, mas sempre caía nas suas provocações porque você era o único que tinha coragem de mexer comigo.
observou relaxar os ombros.
— Acho que nós devíamos começar do zero.
Nesse momento o carro voltou a se mover devagar. olhou para fora e percebeu que a chuva estava mais fina e agora ela conseguia ver os outros carros na avenida.
Na mesma hora seu telefone também começou a vibrar. Não precisava pegá-lo na bolsa para saber que era sua mãe.
— O trânsito está finalmente andando.
— Sim.
Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes.
— Hum, ? Você me daria seu telefone? Para mantermos contato. Eu entendo se você não quiser.
— Era isso que você queria em todos esses anos?
A expressão facial de demonstrava toda a emoção que ele estava sentindo. começou a gostar muito do rubor nas maçãs do rosto dele. Que droga, ele era muito bonito.
— É — concordou ele, sorrindo para — O que posso dizer? Não posso deixar essa oportunidade passar.
Os dois trocaram o número de telefone e enviou uma mensagem para ela para se certificar que ela não estava lhe dando o número errado.
— Número 1136?
O motorista parou o carro em frente ao prédio de .
— Sim, eu fico aqui.
deu ao motorista uma nota de 10 dólares e quando se virou para sair do carro, , como o perfeito cavalheiro que havia sido treinado para ser, já estava lhe esperando com uma mão estendida para ajudá-la a descer.
— Obrigada.
— Foi bom ver você, .
Ela sentiu suas bochechas esquentarem.
— Sim, você também, … Bem… Vejo você por aí?
— Ou eu posso te ligar?
— Claro, você pode me ligar.
O barulho alto de buzina a assustou pela segunda vez naquele dia.
— Preciso ir.
Ele riu nervosamente.
— Claro.
— Vejo você por aí… Em breve.
De repente, sentiu vontade de fugir e começou a caminhar para a entrada do prédio. Quando chegou à porta de vidro, a chamou.
— ?
girou o corpo e viu correndo na sua direção.
— O que aconteceu?
— Quer sair para tomar alguma coisa comigo? Amanhã. Sei que está em cima da hora para hoje e-
— Sim.
— O quê?
— Eu disse sim. Aceito sair com você.
— Oh, ok. Eu estava pronto para implorar.
O sorriso dele refletiu o dela.
Por um momento, ela sentiu que seu cérebro estava falhando. pensou por um momento e fez a pergunta que iria determinar se havia chance para os dois.
— Quer ir patinar no gelo?
sorriu e seu rosto se iluminou inteiro. sentiu um calor estranho no seu estômago e percebeu estar pronta para o que o futuro guardava para os dois.