I'm Happy For you
Escrita por StrangeDemigod
Capítulo Único
Eu realmente não sei como começar isso.
Já é a décima carta que escrevo e vai ficar assim.
Não me julgue.
Você sabe muito bem como sou.
E sabe quem eu sou, não é?
Se não souber, nossos quinze anos de amizade estão acabados!
Sim, eu mesma.
E por que estou escrevendo esta carta? Ainda mais manualmente?
Vejamos…
Tudo começou quando nos conhecemos, e não, não foi pelo fato de sermos vizinhos ou amigos de infância.
Nos conhecemos quando os nossos ideais já estavam quase formados nas nossas cabecinhas.
E nossa amizade demorou para se construir e firmar-se.
Você era o único que sabia o que eu passava.
O único que sabia que meus sorrisos eram, muitas vezes, falsos.
E foi o único que se propôs a ajudar.
Mas eu era tola. Tão tola.
Recusei sua ajuda -todas as vezes que você me ofereceu.
E o que aconteceu?
Aquele acidente…
Lembro-me de você debruçado na minha cama de hospital, chorando como uma garotinha, dizendo que aquilo não teria acontecido se você fosse mais insistente.
Querido, a culpa não foi sua. Foi somente minha.
Eu mereci ter perdido a perna. Fui estúpida e me deixar levar.
Ok, chega de lembranças assim.
Quando voltei à escola, a atenção de todos caiu sobre mim.
E eu só queria me isolar, me esconder.
Mas também queria você ali comigo.
Mas você não estava.
Você se distanciou de mim.
Tudo por causa de uma garota.
É, você, apesar de um pouquinho atrasado, havia entrado na fase de “só pego a menina por causa do corpo”.
Não minto, todos os meninos entram nessa fase um dia.
Esquecem o caráter e valorizam o corpo.
Admito, senti ciúmes e inveja.
O que eu poderia fazer?
Eu não era como ela. Não tinha as curvas dela, nem sua beleza.
Mas me mantive forte. O sorriso no rosto do lado de fora e completamente sem chão do lado de dentro.
Por quantas noites eu chorei por você, sem você sequer saber?
Muitas.
Infelizmente, naquele ponto, eu já havia me apaixonado por você.
E eu sabia que nunca iria ser recíproco.
Então, apenas escondi isso.
Menti para mim mesma, dizendo que estava tudo bem.
Lembro-me bem, no último baile da escola.
Você todo alegre, dançando com ela. Enquanto eu estava num canto, mexendo no celular.
Oh, céus, você estava lindo naquela noite. Radiante, na realidade. Parecia que você e ela se contrastavam.
Literalmente perfeitos um para o outro.
Eu me senti mal.
Mal por ter desejado algo ruim a você.
E olhe só, vocês dois vão se casar hoje.
Posso até não ser a sua amada, mas ainda assim, amo você.
Amo você independente de tudo.
Mas eu não mereço você.
Por favor, não a magoe. Elogie ela todos os dias. Dê-lhe flores.
Ela vai gostar, eu garanto.
Seja feliz, assim como eu estou nesse momento.
Nos vemos, algum dia.
Analisou o que escreveu e sorriu levemente.
Colocou a carta no envelope e lacrou-a, assinando o nome do destinatário na frente.
Só faltava entregar a ele.
Infelizmente, ela não teria tempo de falar com ele.
Seu vôo era em duas horas e ela não poderia perdê-lo.
Ajeitou a prótese na perna e alisou o vestido que usava.
Agarrando a única mala que levava, foi em direção à casa dele.
Sim, preferiu ir à pé. Poderia refletir enquanto caminhava.
Demorou menos de dez minutos.
Viu que havia diversas pessoas chegando, se cumprimentando.
Passou reto por elas, adentrando à casa.
A cerimônia seria nos fundos da casa dele, no seu jardim.
Algo bem simples.
Subiu as escadas, indo na direção do quarto dele.
Abriu uma fresta da porta, vendo ele tentar arrumar a gravata.
Soltou um riso baixo, tampando a boca com a ponta dos dedos.
Aproveitando que ele estava distraído, deixou o envelope na mesa próxima a porta.
Fechou-a com delicadeza e voltou a descer as escadas.
“Melissa?” Ela travou. Olhou para trás e o encarou.
“Você me ouviu?”, arqueou uma sobrancelha.
“O seu shampoo… Você continua usando o mesmo de anos atrás”, apontou.
“Ah…”, ficou sem reação por instantes. “Bom, eu tenho de ir…”
“Pensei que fosse assistir à cerimônia.”
“Não posso perder meu vôo, John.”, abraçou os cotovelos.
“Aonde vai?”, indagou, curioso.
“Arrumei um emprego em Nova Iorque. Aquele meu sonho de criança nunca morreu”, riu de leve.
“Nunca mais pretende voltar aqui?”
“Não tenho nada que me atraia de volta.” Deu de ombros. “Quero deixar o passado no passado.”
“Melissa, eu…” Ela o calou ao levantar a mão.
“Está tudo bem.” Sorriu. “Você vai se casar, já deveria estar no altar.” Voltou a descer as escadas. “Ah, John...” olhou por cima do ombro na direção dele. “Se ela é a sua felicidade, eu estou feliz por você.”
E desceu as escadas.
Enquanto caminhava na direção do ponto de táxi mais próximo, deixou uma última lágrima cair.
Ela estava feliz por ele.
E iria em busca da sua felicidade agora.