I'm A Psychopath?

Escrito por Danny Stan | Revisada por Jubs

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Capítulo 1

  Era uma bela noite de Lua Cheia, e o céu estava sem nuvem alguma. Em consequência dava a ligeira impressão de que estivera ainda mais próxima da terra, era quase palpável para mãos humanas, ao menos era essa a conclusão que Brooke tirara do olhar glorioso que era voltado para ela vindo da grande esfera luminosa.
  Seus pequenos olhos castanhos estavam vidrados, e pelo deslizar da garrafa de Whisky e dos seus infindáveis tropeços, tudo indicava que ela já estava mais do que alta graças a bebida. Desde ás 19:00 ela iniciara o seu processo de embriaguez, toda vez que falava sua fala era arrastada, sua língua parecia grossa e embolada dentro de sua boca, expressando palavras incompreensíveis. Por mais de uma vez, foi obrigado a manda-la se calar e, aparentemente, enfim ela resolveu atender ao seu humilde pedido.
  Mas para Brooke, o silêncio parecia entorpecedor demais. Ela ligou o som no último volume. Com os pés descalços e o vestido de festa esvoaçante, jogando os longos cabelos negros de um lado para o outro ela dançava distraidamente nos arredores da piscina sob a madrugada enluarada de uma bela sexta feira de maio.
  — Bang, bang, you should me down.... — cantarolava, alegremente, voltando-se para , enquanto dramatizava a cena de uma garota recebendo um tiro. Mórbido o suficiente para o seu gosto macabro.
  No refrão ela começou a pular, freneticamente, perdendo o senso de que tinha uma garrafa de vidro nas mãos e a deixando rolar para dentro da piscina, fazendo um estrondo quando atingiu o fundo da grande estrutura aquática.
  — Caralho de garrafa! — praguejou com a típica irritação estupida de um bêbado.
  — Já chega, Brooke. Bebeu demais pelo ano inteiro. — repreendeu seu parceiro, jogando a revista que vinha lendo pelos últimos quinze minutos e se empertigando na poltrona de praia na qual se mantinha sentado — Seus pais podem chegar a qualquer momento.
  — Primeiro pare de ser chato, . Segundo a bruxa que eu chamo de mamãe não viria nem que minha vida dependesse disso, e outra coisa o Stefan não é meu pai, ele deve ter a idade da . — resmungou, cambaleando em direção a ele, se jogando sobre suas coxas — Terceiro, deveria beber um pouco, para se soltar. Estamos indo para o terceiro ano, não é demais? Vamos deixar de ser calouros, seremos veteranos. — a jovem ergueu os braços para o ar e os balançou, num gesto exagerado de alegria ou apenas irracionalidade. — Eu amei o baile, deveria ter ido.
  — Não obrigado, prefiro manter minha sanidade e a proposito bailes são entediantes. Aliás, esse não é baile de formatura, falta meses para terminamos o segundo ano ainda. E não queria ver nenhum daqueles idiotas. — disse, cabisbaixo em seu habitual estereótipo taciturno.
  — Haha... — ela gargalhou com escárnio, enterrando seus dedos finos pelos espessos cabelos loiros do garoto, os puxando para trás, fazendo com que seus rostos ficassem frente a frente — Sanidade, meu bem? Você nunca teve isso. E quer saber de uma coisa? Eu sei porque não quis ir ao baile, antissocial.
  — Calada. — sibilou com tamanha frieza, que seu tom cru fez com que o corpo de Brooke se arrepiasse por completo, infelizmente aquilo só servia para atraí-la ainda mais ao invés de a repelir.
  A jovem se eriçou, apanhando a mão esquerda dele e a levando para debaixo de seu vestido e a estimulando sobre o tecido fino que cobria seu sexo ao passo que se inclinava sobre ele beijando cuidadosamente seu pescoço.
  — Se fizer um favor para mim, eu prometo... — suspirou ao senti-lo acariciar levemente sua intimidade, sem demostrar grande animação — que deixo você colocar a onde quiser. Ah! Melhor, onde e o que você quiser.
  — Jura? — deixou transparecer emoção ao indagar e logo se pôs a corrigir — Quer dizer, diga o nome.
  Este era o assunto que o excitava de verdade.
  — . — sussurrou, passando a língua por sobre a pele sensível de seu lóbulo e a mordiscando ao completar — Mate ela para mim.
  — é nossa amiga, nós combinamos que não machucaríamos uns aos outros, lembra? — o pedido o enfureceu, mas demonstrar o que realmente sentia não estava incluído em sua vasta lista de habilidades. Por sua vez ele soou paciente e tranquilo ao falar.
  — é uma vadia, ela roubou o meu lugar na torcida, eu fui rebaixada para o fim da pirâmide. , olha para mim eu peso 50 quilos, eu vou ser esmagada nessa posição. Eu preciso da minha vida de volta e ela tem que sumir do mapa.
  O que ela tinha de bonita, tinha de tola, frívola e superficial. Depois de conviver tanto tempo com ela, conhece-la de verdade, causava uma dor lasciva nos membros de o fato de a ter por perto, ver seu rosto que embora perfeito, tivesse sempre aquele jeito esnobe que dava nos nervos e sua voz… Era torturante ouvir qualquer palavra vinda daquela boca que só tinha utilidade quando se perdia no corpo dele em uma tarefa mais eficiente do que falar bobagens. Brooke não passava de um passatempo, que só tornara obsoleta, entediante.
  — Não! Se é isso que quer, faça sozinha. Eu não pretendo mover um dedo sequer para ajudá-la. — o olhar glacial de seus olhos escuros a contrariaram ao se chocarem com os seus, até então embargados de esperança.
  — Nós somos parceiros, meu queridinho, . Eu o ajudei muito até agora, mas se falhar comigo serei obrigada a contar sobre os quatro cadáveres que a mamãe encontrou há duas semanas. — seu dedo tocou a ponta do nariz dele, como se ela estivesse tratando com uma criança levada.
  — Está me ameaçando? — inquiriu ele, arrancando brutalmente sua mão de entre as pernas da garota e a jogando para o lado, ao se levantar — Nem tente me intimidar, Brooke , eu não sou nenhum garoto imbecil que se deixa seduzir pelo calor de suas coxas, sabe perfeitamente que meu prazer está em outro lugar.
  — Sim, eu sei perfeitamente. O seu “gosto” deixou muitas marcas espalhadas pelo meu corpo e o de , até no seu, mas tudo bem porque nós gostamos, o problema é que algo está acontecendo. — choramingou Brooke, mordendo o lábios inferior ao esfregar uma perna na outra com inquietação.
  Nunca foi um segredo para ela o tipo de garoto que era. Para muitos ele não passava de uma misteriosa aberração, mas mesmo assim ela encontrou uma forma de amá-lo com toda a sua loucura, talvez fosse exatamente isso que ela amasse. fugiu do convencional, ele era irrequieto e imprevisível, grotesco e carinho, tudo na mesma medida e intensidade. Era doentio e encantador.
  Quando ela o descobriu ele foi seu, essa deve ter sido a melhor época dos dois, foi logo no início do primeiro ano. O rapaz era extraordinário e a levava as alturas, a fazia experimentar coisas inimagináveis, porém ficou obvio que era impossível lidar com ele sozinha então foi envolvida na história. Exatamente como Brooke, ela se apaixonou por e ambas partilhavam do “namorado”, o satisfazendo em todas as suas necessidades. O que incluía o seu gosto psicótico por homicídios.
  Ser um serial killer adolescente só fazia com que ficasse mais gato, em meio a sua paixão disfuncional.
  — É melhor eu ir, sua irmã pode chegar e eu não gostaria de... — ele estava a caminho da entrada da sala de estar para pegar sua mochila, quando ouviu a gargalhada sarcástica de Brooke ás suas costas.
  — Ela não virá, não tem com o que se preocupar. Hoje de manhã ela disse que achava que estava no momento certo, quer dizer, preparada, sabe? e ela estavam dando uns amassos bem quentes no baile e saíram mais cedo. Todos sabem que eles devem estar transando loucamente agora. — riu com deboche, ajoelhando-se na cadeira e apoiando os cotovelos sobre as costas da mesma, observando o enrijecer do corpo de que permanecia estático — Eu sei que a ama, mas precisa aceitar que o pênis de outro está comendo a sua virgem.
  Brooke sentiu um formigamento no estomago e uma grande necessidade de rir ao ouvir suas palavras imundas contra a própria irmã mais velha. Parecia engraçado zombar dos sentimentos dos outros e ao mesmo tempo causar pelo menos um pouco de emoção em , infelizmente ele não saiu chorando ou gritou com ela como esperava. Seus movimentos foram friamente calculados.
  Seus lábios se mantiveram fechados, ele entrou dentro da casa e não provocou nenhum ruído. A moça esticou o pescoço para tentar enxergar melhor o que estava acontecendo dentro da propriedade, não viu nada e então minutos de um ensurdecedor silêncio se passaram até que ele ressurgiu, calmo e sereno com passos lentos e um grande objeto quadrado entre as mãos.
  — Ela não é a coisa mais linda que seus olhos tiveram a honra de ver? — Brooke percebeu que ele segurava um quadro antigo, era a fotografia ampliada do rosto sério e inexpressivo de Gena aos quinze anos. Tirado pela mãe, antes do divórcio, quando ela pensava que poderia ser uma fotografa de sucesso.
  — É sim, mas muito melancólico. Uma beleza triste e sem vida.
  — Isso se deve ao fato de que ela não sabe a quão perfeita é, a falta de amor adequado a entristece, mas isto está prestes a mudar. — os olhos estavam fixos ao retrato em preto e branco, uma de suas mãos tocaram a imagem coberta por uma espessa camada de vidro que a protegia, contornando os finos lábios, o nariz alinhado e a delicado epiderme, não pode conter o desejo de imaginar a maciez e o calor da pele da verdadeira. Em seguida segurou as hastes com firmeza.
  — Alô! Vamos ficar falando da mosca morta ou vamos transar? — a voz aguda e aborrecedora soou como um tiro contra os ouvidos de e seu primeiro impulso foi calar o locutor.
  O quadro parecia a arma perfeita. Brooke odiava e seria por sua imagem que ela encontraria a sua merecida morte. Ele acertou em cheio a cabeça da garota com o retrato, o impacto poderoso a lançou praticamente dois metros de distância com a cabeça ensanguentada coberta por vidros que se cravaram também em seu rosto e ombros. soltou a arma, estilhaçada que se manteve inclinada por cair aos pés da cadeira, com os olhos fotografados de como que observando a tudo o que se passava.
  Mesmo com os dedos trêmulos ela conseguiu levantá-los o suficiente para tocar sua cabeça, elas voltaram vermelhas e o chão estava lavado com seu sangue. Anestesiada pela dor, ela ainda tinha plena consciência de que seu crânio estava rachado e metade do seu rosto coberto por cacos de vidro — principalmente nos olhos e no ouvido direito, assim como grande parte do ombro.
   resolveu se virar contra ela. Tal possibilidade não passou pela sua cabeça e ela se odiou por isso. Agora ele se aproximava e ela não conseguia se mover, estava estatelada no chão como uma boneca de trapo. parou diante dela e a olhou com algo parecido com ternura, um sorriso dócil brotou em seu rosto pálido e antes que Brooke pudesse ter qualquer espécie de alivio, ele a chutou com uma força descomunal no estomago, e de novo, de novo, de novo. Em seguida no rosto e ela gritou alto.
  Ele voltou a repetir o movimento até que seus gritos perdessem a intensidade e se tornassem baixos e fracos. Quando os cessou ela estava deitada de costas, com o rosto mascarado pelo plasma corrente e o único olho bom semiaberto apreciando o luar.
  — A lua... é....t-tão bon-nita.... — grunhiu de maneira pitoresca tentando inutilmente formar uma frase, movendo os dedos irregularmente pelo piso liso.
  — Sim, ela é. Infelizmente você estava ocupada demais, sendo uma grande vadia para notar, trate de se despedir dela, meu bem. — murmurou com desprezo se preparando para um último e fatal golpe. Mirou de relance a barra de ferro que estava atrás da porta que dava acesso a varanda, aos seus olhos ela era muito atraente.
  Uma fresta de luz apontou quando a porta começou a ser aberta e uma gargalhada meiga e revigorante a seguiu, olhou na direção e reconheceu as compridas mexas castanhas de e sua silhueta ao se escorar ao lado da porta, enquanto conversava com alguém que deveria ser o tal .
  - Ad....., por favor. — sibilou Brooke, desesperada por ajuda, o rosto de virou um pouco fazendo com que ambos pensassem que ela ouvira, mas ela logo tornou a encostar a porta e esta foi a deixa de . A expectativa de ser pego não o assombrava, ele não tinha medo, entretanto não queria ser flagrado por . Ela era a única que ele nunca imaginou mutilando.
  Não lhe restava tempo para matá-la da forma planejada, isso causaria um estrondoso barulho que atrairia para dentro e isso era a última coisa que ele desejava, por isso optou por dar meia volta e segurar Brooke pelos calcanhares e arrasta-la até a piscina.
  — O que... fazendo?
  — Vamos dar um mergulho, amor. — agilmente ele a trouxe até a beirada da piscina, posicionou todo o seu corpo e se preparou para finalizar, com um imenso esforço ela agarrou a manga de sua camisa
  — , por favor.
  — Eu a teria perdoado por me provocar, irritar e desobedecer, só que você escolheu mexer com o meu amor. é tudo o que há de sagrado para mim, você deve ser castigada pelo seu pecado.
  E então sem pestanejar, com a frieza de um assassino a empurrou, o corpo ao se chocar com a agua não causou muito barulho, mas foi o suficiente para chamar a atenção da irmã que acabara de entrar. não teve tempo para fugir, por isso se limitou a esconder-se entre os arbustos do jardim da família. foi atraída até a área da piscina, sendo cautelosamente vigiada por seu sádico admirador.
  Era a primeira vez que ele a via naquela noite. Ela trajava o seu vestido de baile, um modelo cor de azul-turquesa, rendado nas costas, poucos centímetros acima dos joelhos, simples e delicado como era de se esperar. Os longos cabelos pendiam lisos e retos por suas costas e ombros e o formoso rosto estava devidamente maquiado, realçando seus pontos fortes. podia sentir a fragrância de seu perfume a distância e ele se embriagou com sua essência.
  Mas rapidamente o lindo rosto de foi tomado pelo horror, quando encontrou seu retrato estilhaçado, forrado por sangue, assim como o chão, ela teve medo, mas seguiu em frente.
  O que viu era o tipo de coisa que nenhuma irmã deveria presenciar — ou melhor nenhum ser humano, entretanto quando se trata de alguém amado, do mesmo sangue a dor tende a ser insuportável — o corpo de sua irmã mais nova boiava na superfície da piscina, de braços abertos e uma expressão sofrida no semblante descorado, a água tornara-se vermelha e aos olhos de tudo era sangue e morte.
  Era demais para processar.
  Ela quis ir ao socorro da irmã, tentar reanima-la, ela sabia primeiros socorros poderia salvá-la. Ao menos correr até o telefone e ligar para a ambulância ou gritar por ajuda, no entanto ela não o fez. Ver a irmã morta a matou por dentro e sem controle sobre si, suas pernas bombearam, os olhos embaçaram, o choque da agua vermelha batendo contra seu rosto e pôr fim a inconsciência total. Seu corpo desfalecido boiou juntamente com o da irmã, naquele mórbido mar de sangue.

[...]

POV’s

  — Querida, suas mãos estão tremendo! Têm certeza de que não quer um cobertor? — a voz afável do policial Kent parecia distante, era como se estivéssemos em galáxias diferentes. Eu ouvia, mas não entendia.
  — Obrigada, eu estou bem. — era a primeira frase que havia conseguido formular sem ter uma crise histérica. Apertei a xícara em minhas mãos, fitando fixamente o líquido negro em seu interior. Por que eles sempre acham que chá ou café irão fazer você se sentir melhor
  — Não precisa mentir para mim, , eu conheço você e a Brooke desde bem pequenininhas. Você está sofrendo, mas precisa ser forte e tentar se lembrar de mais alguma coisa, é fundamental. — Kent puxou uma cadeira e se sentou à minha frente, apoiando os cotovelos sobre os joelhos e enlaçando as mãos, com apreensão ao me examinar.
  — Eu queria poder ajudar mais, o problema é que tudo o que eu vejo quando penso em tudo o que aconteceu é na minha irmãzinha ensanguentada e....— me afoguei em soluços desesperados, minhas lágrimas salgavam minha bebida. Levei a mão tentando abafar o som do meu choro, mas foi em vão, quando me dei conta todos me olhavam como se eu fosse algum alienígena.
  Tudo aconteceu muito rápido. Num momento eu estava aproveitando o melhor baile da minha vida, ao lado do meu namorado. No outro eu estava entrando dentro de casa e me deparando com a minha irmã mais nova morta na piscina, ainda consigo lembrar dos cacos de vidro, do quadro estilhaçado, sangue por toda parte e o cheiro de morte que emanava de seu corpo. Se eu não tivesse resolvido esticar a noite, se eu não tivesse inventado de ir até aquele maldito motel. A culpa era minha por decidir que estava pronta para ir mais além, no final das contas nada aconteceu entre nós. Eu não consegui e insisti para que ele me levasse de volta para casa.
  Contudo foi tarde demais. Quando eu cheguei a desgraça já tinha acontecido, foi então que cada pequeno momento, cada gesto e palavra passaram pela minha cabeça. Eu vi nossas vidas passarem diante dos meus olhos, eu quis trocar de lugar com ela, quis segui-la. Desejei morrer com ela. Então eu caí ao seu lado e pensei que tudo estava acabado.
  Quando eu acordei o cenário era diferente. Estava deitada na minha cama, no meu quarto, vestida com o meu pijama lilás, a única certeza de que havia realmente caído na água fora os meus cabelos úmidos, embora parecessem ter sido secados por uma toalha que repousava aos pés da cama. Isso não estava certo, eu e Brooke morávamos sozinhas, desde que o papai se internou na clínica.
  Corri para a sala, à procura de alguém. Não encontrei ninguém. O sangue tinha sido limpo, os cacos recolhidos, sem rastros de qualquer visitante. O corpo dela ainda boiava e quando dei um passo à frente, tencionando ir até ela, notei que o quadro —antes estilhaçado e jogado ao chão, estava novamente preso a parede, emoldurando minha fotografia na sala de estar.
  Uma cratera se abria desde o crânio até a testa, os olhos límpidos e amedrontados encaravam os meus que eu podia jurar que se encontravam no mesmo estado. Por muitas vezes eu senti medo ao longo da minha vida, ainda assim isso era diferente, era algo frio e horripilante que se impregnava na pele, caia na minha corrente sanguínea e envenenava a minha alma. De alguma forma aquele quadro fez parte de tudo, antes o sangue escorria por entre as rachaduras e agora estava perfeito. Aquele objeto sabia de tudo e eu sentia que ele desejava me contar.
  Pensar nisso só fazia com que eu me sentisse pior, mais insana do que o recomendado para uma pessoa nesta situação.
  — , , por favor, diga algo. — solicitava ele, sem obter qualquer resposta minha.
  — A senhorita está catatônica. — cortou a nova delegada, adentrando a sala com toda a sua petulância e arrogância que se evidenciavam ainda mais pelo rosto rígido e o corpo grande — É meu dever informar que seu depoimento está repleto de furos.
  — Como assim? — ergui os olhos em sua direção, apertando o cobertor em meus ombros de forma protetora. Não tinha certeza se seria capaz de lidar com um ataque agora.
  — Veja bem, criança. — ela fez sinal para que Kent se levantasse e tomou o seu lugar, brevemente achei certa familiaridade em seu rosto. Olhei seu crachá: Brenda Grant. Não, era desconhecida — Você contou que encontrou na cena do crime um quadro estilhaçado repleto de sangue. Você caiu na piscina e por todo o lado haviam evidências de um ataque. — suspirou enfaticamente, como se repetisse uma fábula enfadonha — Entretanto, quando chegamos, tudo estava limpo, o agressor ainda teve tempo de limpar cuidadosamente o sangue de seu retrato, o chão e apagar todos os seus rastros. Até então razoavelmente compreensível. O problema está na forma como ele lidou com você, o homicida após atacar sua irmã teve a oportunidade de terminar o trabalho com você, e então sem mais nem menos ele a deixou em paz. Não tocou num único fio dos seus sedosos cabelos. — uma risada sarcástica escapou de sua boca e ficou claro que ela considerava aquilo uma grande piada, provavelmente foi a primeira vez que senti ódio de alguém — O agressor a conhece, senhorita , possui alguma espécie de afeto por você e devido a isto te tirou da piscina, a secou, trocou suas roupas e a deitou confortavelmente em sua cama, enquanto deixava o corpo da sua irmã apodrecer.
  — Está equivocada, senhora. Não conheço ninguém que teria motivos para fazer o que fez com a minha irmã, ela era uma boa garota, cheia de amigos. Caso eu esteja enganada e ela tenha inimigos não há porque pouparem a mim. — me surpreendeu a firmeza com que minha voz saiu. Os severos olhos azuis da delegada me encararam com empatia.
  — Eu também não concordo com essa teoria. Por isso ponho mais fé nessa. — com um aceno de sua superior o policial Kent colocou em minhas mãos uma pasta transparente, li na primeira folha o nome de , minha melhor amiga, aquilo era um depoimento
  — Mais cedo colhemos o depoimento da menina . Segundo ela, você saiu ás 22:45, na companhia de seu namorado, Houston. Vocês ficaram sem se falar por três horas, quando por volta das 2:15 da madrugada você ligou para ela, dizendo coisas sem sentido. Quando a pressionamos quanto ao motivo disso, ela admitiu que você estava sob o efeito de uma droga alucinógena.
  — O quê? Não, eu não me droguei. Jamais usei qualquer coisa parecida, a proposito também não falei com a , nessa hora eu estava inconsciente. — rebati, perplexa por aquela acusação absurda. Só porque eles eram incapazes de descobrir a verdade estavam tentando me convencer de que eu era uma drogada com imaginação fértil.
  — Mesmo? Acho que se estivesse no seu juízo perfeito se recordaria de que nos autorizou a fazer um exame de sangue em você durante o percurso na ambulância. O resultado foi positivo, ingeriu uma quantidade perigosa de ecstasy, mais um pouco e teria uma overdose, garota.
  A escutei em choque, não fazia sentido. Tudo parecia errado. Era mentira, só podia ser mentira. Eu não me drogava, nunca, não obstante eu não possuía defesa e tudo apontava para a minha culpa. Em um certo momento da noite, de forma milagrosa, eu me deixei levar pelo calor do momento e aceitei o ecstasy de alguém. Por isso perdi a razão e sofri com vividas alucinações.
  — Você viu o corpo da sua irmã, estando sob o efeito da droga não deu grande importância, ligou para a ua amiga, tomou uma ducha, vestiu o seu pijama e dormiu por horas a fio. — Grant levantou-se, ajeitou o cinto abaixo da saliente barriga e completou: — Brooke , bebeu muito, há horas estava investindo em um rígido processo de embriaguez e ao dançar próximo a piscina acabou escorregando, bateu a cabeça na borda e sofreu um violento traumatismo craniano que a pôs em coma.
  — E.... e quanto ao quadro? — murmurei, sem ousar voltar a olhar para aquela escarnecedora mulher.
  — O objeto é irrelevante, Brooke o derrubou em algum momento e o restabeleceu ao seu lugar, suas digitais foram as únicas encontradas. A borda da piscina está rachada, marcando o lugar onde a pancada ocorreu. Tudo mostra claramente que foi um fatal acidente. — a conversa parecia dada por encerrada, era estranho a delegada chegar sem mais nem menos com tanta certeza quanto a resolução de um incidente que fora descoberto há apenas duas horas. A voluptuosa mulher parou a porta, pegou uma rosquinha da mesa e sussurrou ao colega de trabalho antes de sair vitoriosa — Afinal, as crias saíram exatamente como o pai. Um bando de malditos viciados.
  Meu sangue ferveu, desejei defender minha família, mas isso só parecia agravar ainda mais.
  Abaixei a cabeça e olhei para minhas mãos, senti meu rosto enrubescer e tive vergonha. Primeiro por saber que no dia seguinte estariam rindo da minha pobre irmã, dizendo que ela tentou se matar por causa de alguém que a rejeita — exatamente como o papai — e que eu era a maior viciada da cidade, novamente como o meu progenitor. Sempre fiz todo o possível para ser discreta, não chamar atenção, não ser o alvo das fofocas, contudo eu não teria como escapar e estaria sozinha. Sozinha, não, eu não vou suportar a solidão.
  — . — o toque leve em meu ombro me despertou, ergui a cabeça fitando os olhos preocupados do policial — Sua mãe chegou, ela está te esperando lá fora.
  — Obrigada, senhor Kent. De verdade. — disse com a voz falha.
  Com pouca firmeza me coloquei de pé, passei como um raio pela delegacia, tentando evitar os olhares especulativos que eram dirigidos a mim e corri para o estacionamento onde rapidamente encontrei o meu porsche preto. Mamãe estava no volante, com o impecável cabelo loiro platinado, roupas finas, maquiagem feita — uma linda boneca que não aceitava os seus 45 anos de idade e tentava resgatar a juventude namorando um cara com metade da sua idade — Eu não concordava com seu modo de vida, por isso ela me afastava.
  — Olá, mamãe. — cumprimentei secamente, entrando no carro e prendendo o cinto de segurança.
  — Como vai, meu bem? — sua voz afetada ainda me irritava, soava tão indiferente, ela não se importava — Espero que tudo isso não a tenha traumatizado. — aí estava o discurso da falsa mãe protetora, enquanto punha o automóvel em movimento, pela rodovia que ela havia pegado pude constatar que estávamos indo para o hospital. Graças a deus! Eu estou louca para ver Brooke — Sofri um choque anafilático quando recebi a notícia. — revirei os olhos diante de sua ignorância.
  — Tenho certeza de que está sendo exagerada, mãe. A polícia está culpando Brooke pelo acidente.
  — Patético! Está mais do que claro que a culpa não é dela. — estava prestes a concordar quando ela completou — A culpa é do seu pai, aquele estupido viciado que passou esses hábitos imundos para vocês.
  — Assim como a culpa também era dele de você estar transando com o time de basquete do meu colégio. — retruquei, eu não suportava que absolutamente ninguém ousasse falar contra o meu pai.
  — Willians . — gritou autoritária — Eu ainda sou sua mãe e você me deve respeito. Ser emancipada não faz de você uma bastarda, comporte-se, menina. Eu não vim aqui para lavar roupa suja com você, a questão é que sua irmã está muito mal e precisa de nós. Voltei para cuidar de vocês.
  — A Brooke ficaria feliz se estivesse aqui quando ela acordasse. — resmunguei, apoiando minha cabeça na janela, evitando olhá-la, porém senti quando sua mão se entrelaçou na minha.
  — Eu estarei, nós seremos uma família de novo, . Vamos voltar a ser felizes como nos velhos tempos.
  — É tudo o que eu sempre quis. — fechei os olhos, uma lágrima quente escorregou por meu rosto

Capítulo 2

  Às vezes eu ainda me surpreendo com a estupidez humana, para ser necessariamente mais especifico me refiro a minha estupidez. Nem em um milhão de anos existira alguém mais tola do que eu, por acreditar pela milésima vez na historinha batida da minha mãe sobre o nosso “felizes para sempre”.
  Dentro de sua cabecinha oca passava o seguinte pensamento " Eu irei uma ou duas horas por dia no hospital, vou segurar sua mão e dizer meia dúzia de palavras bonitas, em duas ou três semanas ela estará curada e todos dirão que magnífica mãe eu sou. " O furo no plano perfeito foi que, uma semana se passou, depois duas, e ao completar a terceira semana ela não se aguentou mais. Brooke estava desacordada e ela entediada.
  Sônia era o tipo de mulher que nunca deveria ter sido agraciada com a maternidade, pelo simples fato de ser incapaz de se importar com outra pessoa além dela. Era uma mulher narcisista, egoísta, arrogante e orgulhosa que tinha toda a sua atenção voltada inteiramente à ela mesma, isso durante a minha existência toda. As únicas coisas úteis que aprendi com ela foram as vaidades de mulher e a cozinhar o único prato que sabia fazer. Um guisado aguado que mantinha eu e Brooke vivas enquanto ela saia para fazer compras com as amigas.
  Sônia era bem-nascida, mimada e cercada de luxo desde o berço, mas aos dezesseis anos o pai foi à falência e meteu uma bala na cabeça para escapar dos problemas, a mãe o seguiu, contudo ela não tinha pretensão de morrer tão cedo. Portanto escapuliu para o campus de Yale e fisgou um recém-formado advogado criminalista. Este era o meu pai, Anthony , o homem mais doce e bondoso do mundo. Infelizmente minha mãe o arruinou.
  Dona de uma personalidade marcante e difícil — infelizmente herdada pela minha irmã mais nova — a vida pacata e sem grandes emoções que o meu pai lhe oferecia em Manhattan não a satisfazia, resolvendo por assim encontrar sua própria diversão. Ela aproveitava enquanto meu pai estava trabalhando para me deixar sozinha com Brooke e meu irmão August, que tinha apenas um ano de idade. Seus casos e bebedeiras tomaram proporções vergonhosas e em pouco tempo toda a vizinhança a via com maus olhos.
  Papai tomou a decisão de se separar, porém como uma mulher ardilosa ela jogou seu charme sobre ele e se fingiu arrependida. Consequentemente ele a perdoou, quando completei sete anos nos mudamos para Lafayette, Indiana. Os problemas entre meus pais pioraram, ela continuava a traí-lo e incapaz de reagir começou a se embriagar, o álcool não foi o bastante e as drogas serviam para preencher as lacunas em seu coração ferido. A prostituta e o drogado tornaram-se populares na cidade.
  Sem mais nem menos, August, que sofria desde o nascimento de um problema cardíaco morreu. Com apenas três anos meu irmão morreu, pela falta de interesse de minha que estava atenta demais ao próprio umbigo. Eles tentaram levar a relação o máximo possível, entretanto permaneciam com seu mau proceder, finalmente no meu aniversário de quinze anos eles se divorciaram. Sonia saiu da cidade na companhia do jardineiro, dezoito anos mais moço que ela, e Anthony teve uma overdose o que acarretou sua internação numa clínica de reabilitação para dependentes químicos. Eu fui emancipada e me tornei responsável por Brooke, éramos tudo uma para a outra.
  Não podia contar com mais ninguém.
  Num belo dia ela veio até mim com a desculpa de que tinha negócios urgentes no Canadá e precisava viajar o mais rápido possível e em breve estaria de volta. Fingi que acreditei, sorri como uma disciplinada garota e dei adeus e disse que iria esperar ansiosamente por seu retorno. Mentir parecia ser o único modo de me comunicar com aquela mulher que não passava de uma desprezível estranha para mim.
  Brooke e eu ficaríamos bem. Nós sempre ficamos.
  As férias de verão passaram, agora estava no quarto ano e a poucos meses de me formar, entretanto Brooke ainda não apresentava melhora nenhuma. Eu a visitava todos os dias, levava flores, contava histórias, cantava suas músicas prediletas e dormia quase todas as noites ao seu lado. Nunca a abandonando ou a deixando se sentir sozinha.
  Quando ela tornasse a abrir seus olhos desejava que a primeira pessoa a ver fosse eu, então ela voltaria a ser a boa menina de antes. Seríamos inseparáveis, irmãs mais uma vez.
  O primeiro dia de aula chegou e eu fui obrigada a deixa-la, atravessar os portões do colégio sem ela ao meu lado. Ao andar percebi cada olhar sobre mim, eles sabiam tudo e deveriam tirar suas próprias conclusões sobre o caso que tinha como conclusão que Brooke causou o próprio acidente e que eu estava ocupada demais me drogando para a ajudar. Ouvi boatos sobre eu mesma ter tentado matá-la para ficar com a casa só para mim, era impressionante até onde a imaginação pode chegar.
  Minha irmã era tudo para mim, nunca passou pela minha cabeça feri-la. Jamais!
  — ! Hey! Acorda! — despertei, arregalando os olhos ao acordar com o chacoalhar de em meus ombros.
  Dormi a aula de Inglês inteira, estive em claro por tantas noites, a exaustão conseguiu me abater em fim. Eu malmente conseguia manter meus olhos abertos, ouvi de longe o estridente som do sinal indicando o intervalo. A sala estava praticamente vazia.
  — Senhorita , poderia nos dar um minuto, por favor? — pediu o professor Cheester, cruzando os braços e se escorando na mesa. assentiu e sussurrou que me esperaria no corredor e em seguida se retirou. Passei a mão por meu rosto, para afastar a sonolência e me pus de pé.
  — Desculpe, professor. Eu juro que não vai mais acontecer.
  — Tudo bem, . Desde o primeiro ano você tem sido uma aluna exemplar, nós sabemos de sua situação e estamos abismados. Creio que esteja sendo exaustivo. — suspirou ele em tom melancólico — Brooke tinha os seus problemas, mas continuava a mesma garota atenciosa, no última dia ela expressou seu desejo de ser minha ajudante este semestre. Disse estar pensando em estudar literatura.
  — É mesmo? — perguntei surpresa, ela nunca havia me expressado tal desejo. A distância entre nós cresceu bastante no último ano, queria tanto poder me reaproximar dela e de seu mundo. Já sei. — Senhor, eu poderia assumir temporariamente o cargo da minha irmã. Gostaria de ajuda-lo, só enquanto ela se recupera.
  Sr. Cheester, coçou o queixo em modo pensativo e voltou a me olhar com seriedade.
  — Tem certeza, ?
  — Absoluta, ela iria querer isso. — respondi com convicção. Ele sorriu ligeiramente.
  — Que seja. Podemos começar amanhã?
  — Claro, mal posso esperar.

[...]

  — Eu devo ser alguma espécie de idiota por mesmo depois de tantos anos não fazer ideia de como a sua cabeça funciona. — resmungava repetidamente — Você não está em condições para assumir tal responsabilidade , deveríamos ir até a sala do Cheester e dizer que você mudou de ideia.
  Ergui meu rosto para o céu. Era uma bela segunda feira de julho, em breve seria o aniversário da Brooke, cuidar de seus interesses parecia ser um bom presente, juntamente com alguma bolsa bem cara. Estava disposta a tudo para ouvir sua boca suja gritando alguma besteira pela manhã, o mundo parecia menos colorida, mais cinza e tristonho sem ela o pigmentando.
  Sequei uma lágrima que ameaçara ser seguida por outras. Era necessário ser forte, não tinha segunda opção. Respirei o ar puro e voltei a olhar ao redor, no canto isolado, na área rural do colégio havia um verdejante grupo de arvores e grama e um pequeno murinho apoiado numa das imponentes arvores. Sobre ele, sentado com grande desenvoltura estava um pálido rapaz de cheios cabelos louros e roupas quentes, apesar do calor. Um livro grosso tomava toda a sua atenção do mundo ao seu redor.
  Senti inveja dele. Parecia tão bem, livre de problemas ou tristezas, confortável com sua própria companhia. Então aquele menino me pareceu familiar, sim, eu já o vira certa vez em casa, fazia um bom tempo. Ele deveria ser amigo da Brooke.
  — , qual é o nome daquele rapaz? — sinalizei disfarçadamente com a cabeça na direção do garoto.
  — Grant . Por que o interesse? — empertigou-se e deu um passo a frente, meio intimidadora para o seu gênio.
  Grant? Oh, não! Ele só podia ser parente daquele carrasco que chamávamos de delegada. Agora eu tinha certeza de que eu realmente o tinha visto em casa. Será que ele sabia sobre a Brooke? Fui tomada por uma repentina vontade ir até lá e conversar com ele, tanta espontaneidade não fazia bem o meu estilo é que parecia tão sereno, acho que me aproximar dele faria com que eu me sentisse melhor também.
  — Vou falar com ele. — dei um passo à frente e senti um aperto nada amistoso em meu braço, me impedindo de prosseguir.
  — Calma aí, não irá falar com ele. — protestou de forma enfática, a encarei na mais completa confusão. Ela compreendeu e me soltou, voltando ao seu tom de voz normal   — Você nem o conhece, ele está lendo. Seria indelicado.
  — E daí? Pretendo conhece-lo agora, com licença, . — a pulso ela saiu do meu caminho e eu prossegui.
  Digamos que eu mantinha certa popularidade no colégio, não que eu fosse uma daquelas abelhas rainhas que sonham em ser a rainha do baile de formatura — longe disso — , mas eu tinha uma modesta fama. Que me permitia nutrir a confiança de que se eu chegasse até de repente não seria desprezada ou expulsa por ele. Não era nada demais, queria apenas conversar e meu desejo era que fosse especificamente com ele. Conhecer gente nova faz bem.
  Levei menos tempo do que gostaria para chegar até ele, fiquei correndo a mão pela alça da bolsa durante meu percurso, era ansiedade. Os raios solares produziam um brilho curioso nos cabelos de , era bonito de se ver, com a cabeça curvada eu podia ver muito pouco de seu rosto. Confesso que este pouco que eu vi remetia a um semblante angelical. Examinei a capa do livro, não era uma obra geek como eu esperava, ele lia O Grande Gatsby.
  — Ótimo gosto para a literatura. — comentei ao tocar o dedo na capa dura, chamando a atenção dele — Vivo uma paixão avassaladora com esse livro.
  — . — o livro escorregou entre seus dedos, por sorte estava atenta o bastante para apanha-lo no ar. Os olhos de se abriram tanto e a boca entreaberta deram clareza as minhas suspeitas de que ele não desconfiava de minha aproximação.
  — . — retruquei, lhe devolvendo o reconhecimento, seu rosto estava bem exposto desta vez. A pele bem clara e os cabelos loiros tinham o consenso rompido pelas pérolas negras em seus grandes olhos, o nariz fino e a boca larga de cantos arqueados, fáceis de sorrir me causaram uma automática simpatia por meu companheiro — Me corrija se eu estiver enganada, mas você é amigo da Brooke, certo?   — sua cabeça moveu em concordância, suspirei aliviada por não ter pagado nenhum mico, me sentei ao seu lado — Você é novo na cidade? A delegada é nova na cidade, isso quer dizer que você também.
  — Vejo que conheceu minha mãe. — mudou de posição, virando para o meu lado, enquanto fechava o grosso livro e voltava a atenção para mim — Sou de Lafayette, vivo indo e vindo, voltei no início do ano quando conheci a Brooke. Meus pêsames, fiquei arrasado ao saber do que aconteceu, espero que ela se recupere em breve.
  — Obrigado, eu espero o mesmo.
  — Não deveria deixar isso te atingir.
  — O que? — indaguei em dúvida ao que ele se referia.
  — Eles. — ele indicou com a cabeça os inúmeros rostos curiosos e desagradáveis que nos fitavam. O meu fã clube de odiadores continuava a crescer — Acham que você fez algo estúpido e pensam ter o direito de a crucificar por isso.
  — Não acredita que eu fiz? — esbocei um sorriso fraco, inclinando a cabeça para o lado, encarando o olhar dócil que ele me dirigia.
  — Acredito no que você acredita, eu vejo claramente o que você é. Linda por dentro e mais linda ainda por fora. Segundo minha mãe você se diz inocente, então é isso. Você é inocente. — decretou com facilidade, como se suas palavras fossem a mais pura verdade imutável. À primeira vista ele era excêntrico e adorável, a forma como ele me olhava era diferente, desesperada e fascinada e o modo de sua fala era simples sem engrandecimento, mas sábia.
  — Eu sou inocente. — murmurei, tentando me convencer também. Olívia acenou do outro lado da rua, deveríamos estar atrasadas para a próxima aula. Tive de me levantar e estender a mão para , me despedindo prematuramente, ele pareceu receoso e logo segurou minha mão. Estranho — Foi um prazer te conhecer, .
  — , por favor, me chame de . — pediu ao recolher sua mão por sobre o livro novamente, um brilho luminoso percorreu seu rosto, quando eu sorri para ele.
  — Certo, . Me chame de , eu prefiro assim, até mais, amigo. — me despedi, lhe dando as costas e seguindo ao encontro de .

POV’s

  Dei um belisco em meu braço. Apenas para ter certeza se estava apenas sonhando ou aquela era a gloriosa realidade. Pisquei algumas vezes, a observando partir; O sol sob seu rosto cor de pêssego, o vento movendo seus cabelos lentamente, seu confiante e sensual modo de andar, o balançar de seus quadris e por fim o sorriso meigo e consternado que despontava em seus lábios toda vez que cumprimentava algum colega. Cada movimento, cada curva, pensamento, sentimento ou palavra dela era automaticamente captado por mim. Estávamos irrevogavelmente ligados um ao outro, sei que se ela se esforçasse apenas um pouco poderia perceber tudo como eu, ela saberia de meu amor e me amaria também.
  Abaixei a cabeça, voltando a atenção para o meu livro, ele parecia ter perdido a graça depois que um anjo desceu dos céus e me estendeu a mão. Inflando-me de esperanças e expectativas.
  Era estranho pensar que as pessoas raramente conseguiam o que eu e a tínhamos. Eles passavam vidas vazias, sem significado e sanguinárias, se concentrando unicamente no prazer de ceifar a vida do próximo, para mim não havia lógica, muito menos juízo em tudo isso. O que me movia era um forte proposito, puro o bastante para purificar minha alma e não me permitir sentir remorso nunca.
  Esse meu lado se manifestou ainda muito cedo, quando tinha quatro anos, eu possuía um gosto excêntrico por órgãos, na verdade era obcecado por isso. Sendo assim, todos os meus animais de estimação acabavam sendo curiosamente encontrados refrigerados no freezer do porão com cortes desde a garganta até a virilha. Nesta época tudo não passava de curiosidade, meu quarto era repleto de recipientes com corações, rins, cérebros, etc. Até aí meus pais nutriam a ideia de que era uma inclinação pela medicina, arrisco o palpite que a falta de intervenção deles tenha agravado o meu estado.
  Aos sete eu era um esportista nato, minhas modalidades de melhor desempenho: Pesca e caça.
  Era excitante ver o desespero do peixe quando eu o arrancava de seu lar e o torturava por longos dias, me deliciando com sua agonia. Já a caça envolvia mais selvageria, frieza e perspicácia, ou seja, todos os meus pontos fortes e eu os usei a meu favor. Meu pai nos levava até uma floresta, fora de Lafayette, entregava nossos rifles e nos deixava livres para usarmos como quiséssemos, eu gostava de ir atrás dos animais maiores, aqueles que tentavam reagir e lutavam com unhas e dentes. Descobri que não havia êxtase em lutar contra moribundos, a diversão está em enfrentar os fortes.
  Os lobos eram minha caça favorita, o melhor é que depois de abatidos havia muito o que se fazer com ele, descarná-lo retirando seu pelo, abrir e retirar seus órgãos e por fim cortá-lo em pedacinhos bem lentamente, sangue e vísceras era mais empolgante que qualquer jogo de futebol. Ao contrário de mim Ritchie, meu irmão mais velho preferia ir atrás dos coelhos, sem nunca lhes causar um arranhão.
  Ritchie era fraco e covarde e eu o odiava por isso, foi no dia em que deixei de me satisfazer com os animais que descobri minha real vocação o legítimo prazer estava em fazer isto com os humanos. Eles tinham consciência do que estava acontecendo e os seus medos eram mais satisfatórios e apetitosos e outra, eles mereciam o mau que lhes era dirigido.
  Tentei lutar contra, mas não havia o que fazer era a minha natureza. Jamais quis me desfazer dela ou compartilha-la com quem quer que fosse. Ficava feliz em ser desse jeito, único e perfeito a minha própria maneira. Era uma vida solitária.
  E então eu a vi…
  Foi no primeiro dia, havia sido transferido para o colégio Lafayette, onde os calouros teriam de ver a apresentação dos veteranos. Não tinha interesse em assistir a uma apresentação estúpida de um bando de crianças retardadas. Todos se sentaram em seus respectivos assentos demarcados no auditório, antissocial assumido que era fiz questão de me manter o mais distante possível, mas assim que a vi entrar meu coração sempre tão manso e frio, aqueceu e pulsou acelerado dentro do meu peito.
  Os alunos estavam representando o já batido Mágico de Oz, fazia o personagem de Glinda, A Bruxa Boa do Sul. Me encantei ao vê-la tão linda embalada em seu vestido branco rodado cheio de tecido, com um laço azul amarrado na cintura, havia uma tiara prateado no topo de sua cabeça, naquele tempo seus cabelos eram mais claros e curtos, com grandes cachos.
  Era a visão mais bonita do mundo, tão adorável ao sorrir e balançar elegantemente sua varinha de plástico pelo ar. Até sua voz aguda e alta era como música para os meus ouvidos.
  Eu pensei que assim como eu, o resto das crianças estava ocupada demais sendo hipnotizados pela perfeição de , e mais uma vez eu estava redondamente enganado. Ninguém, além de mim, era capaz de enxergar o brilho que emanava daquela pequena menina. Foi apenas um pequeno deslize, uma falha insignificante que a destroçou em mil pedaços. Aposto que se hoje em dia eu ir até o auditório encontrarei os pedaços de sua inocência sobre o palco.
  Estávamos quase no fim da apresentação, quando , a Dorothy foi até o seu encontro, a cena mais aguardada e então travou, ela se esqueceu de sua fala.
  Provavelmente pelo nervosismo repentino que a afligiu, pude notar pela forma como apertava com firmeza sua farinha, como se estivesse se agarrando a uma âncora para evitar que afundasse. Não a perdoaram pelos dois minutos em que se calou.
  — Fala alguma coisa! — gritou uma garota da primeira fila.
  — Vish, acho que ela deve ter tomado alguns remedinhos. — debochando gritou um menino em resposta, eu reconheci como sendo a voz de Ritchie — Ela é uma drogada exatamente como o pai.
  — Já chega, Richard . — ordenou a professora avançando entre as fileira para pegá-lo.
  — A covarde vai mesmo ficar quieta. — conclui a primeira garota, depois vim a descobrir que ela era a própria irmã de , Brooke — Covarde!
  — Covarde! Covarde! — começaram a gritar em uníssono, como um hino.
  Não existe criatura mais cruel do que uma criança, bem talvez exista algo pior, uma criança psicopata. E era exatamente o que eu era, o ódio ferveu em minhas veias.   Antes que a professora chegasse até Richard ele insistiu em fazer uma partida dramática, lançando um copo plástico com suco em cima de Gena. Seu vestido branco tomou um aspecto grudento e úmido, o branco virou roxo e seus cachos se desfizeram.
  Eu pensei que ela fosse chorar, mas ela tirou os fios desgrenhados do rosto e sorriu modestamente antes de dizer:
  — Agora eu sei que tenho um coração, porque ele está doendo.
  Ela errou sua fala propositalmente e fez uma breve reverência ao público antes de se retirar. O rosto antes alegre e pueril tomou um ar melancólico e desapontado. Em seguida eu também me retirei, sentia repulsa por todas as pessoas envolvidas no episódio. A natureza deles parecia duplamente pior do que minha, talvez agora eu pudesse ver com outros olhos o que eu tinha em mim. Eles a machucaram com suas ações e palavras, então eu poderia encontrar uma forma bem mais dolorosa de machuca-los.
  Quando cheguei, fiz minha lição de casa. Descobri cada detalhe sobre a vida e a família de . Ela se tornou minha obsessão. A única coisa que eu presava e amava de verdade.

Capítulo 3

  " Querida, Brooke,
  Sem dúvida você irá pensar: Qual é o meu problema para estar te escrevendo sendo que você agora está em coma numa cama de hospital? Eu sei, também acharia estranho se fosse você.
  Acontece que hoje fui conversar com a orientadora e ela me disse que seria uma grande ideia mantê-la atualizada quantos aos acontecimentos do nosso mundo, quando você acordasse poderia ler tudo o que eu escrevi e esqueceria de que passou esse tempo todo dormindo. Já faz dois meses!
  Também iria ajudar a mim, firmar minhas esperanças de que você vai acordar. Eu preciso continuar a acreditar, por nós duas.
  Primeiro começaremos por quando você sofreu o acidente, a mamãe passou um tempo aqui, recitando seu velho mantra: Eu voltei por vocês! Seremos uma família de novo e blá, blá, blá… Então chegaram as férias, os dias que se passaram foram um saco. Nossos tios vieram nos visitar e fizeram aquele clássico drama em cima de você, chorando e relembrando de coisas sobre a sua infância — como se eles se importassem, bando de hipócritas! — Bem, a vovó também veio e nos trouxe um gigantesco bolo para o meu aniversário. Lamento dizer que acabei devorando ele sem você, a e o me deram uma ajudinha. Finalmente 18! Alguma ideia de como comemorar?
  Eles estão morrendo de saudades suas. Queria que estivesse bem.
  Ah! Ontem às aulas começaram, eu saí das líderes, de repente eu não me sentia mais parte da equipe. Estou mais concentrada nos exames das universidades, decidi cursar direito na Yale. Vamos torcer para que eu consiga entrar. O vai tentar a Columbia, ele quer entrar com a bolsa de atleta, são grandes as suas chances de ganhar. A propósito a me falou sobre o seu amigo, .
  Nós conversamos ontem e eu o achei encantador. Ele é um gato e muito intelectual, seria uma boa você considerar namorar com ele. Quem sabe, um dia você resolva seguir os conselhos da sua irmã mais velha. Brooke, já está tarde e eu tenho aula amanhã, não tenho sono, é difícil se sentir bem numa casa desse tamanho sozinha. Estou ansiosa por seu retorno, até lá iremos conversar por aqui.
  Boa noite, irmã. Tenha bons sonhos!
  Com amor, ."

  Esqueci de fechar as persianas na noite passada, em compensação às seis e meia da manhã um fortíssimo sol invadiu o meu quarto e se instalou na direção da minha cama, mais especificamente em meu rosto. Puxei o travesseiro na tentativa de bloqueá-lo, mas ele estava impossível. O despertador começou seu anúncio escandaloso, tateei a mesinha de cabeceira à sua procura, o silenciando. Puxei as os lençóis de cima do meu corpo e corri para o chuveiro, já estava ficando ligeiramente atrasada.
  Tomei uma ducha gelada para espantar toda a sonolência que me cobria e saí para o quarto, a procura do que vestir. Era o terceiro dia de aula, em outras palavras já não era mais tão necessário ir bem vestida ou sequer penteada para o colégio. Coloquei um curto vestido florido, um cinto fino na cintura, coturnos e apanhei minha jaqueta antes de sair correndo.
  No meio do caminho pela cozinha, soltei meus cabelos escuros e roubei uma maçã da fruteira. Mais uma vez buzinou. Corri para fora da casa, a tranquei a porta.
  — É para hoje? — gritou , dando mais uma buzinada.
  — Não enche. — respondi, tropeçando até o carro, ele abriu e eu entrei — Melhor correr se quisermos chegar antes da aula da Weese.
  — Por que? Estou ótimo onde estou. — resmungou ele, inclinando a cabeça para trás e fechando os olhos, fingindo estar dormindo. Bufei irritada, as provas não estavam longe de começarem, não posso perder nem um mísero minuto que seja.
  — Ok, ok. — me inclinei sobre ele, lhe dando um rápido beijo nos lábios — Pronto.
  Ele arregalou os grandes olhos verdes e balançou a cabeça incrédulo, deixando sua cabeleira castanha ainda mais desgrenhada e ficando absurdamente charmoso.
  — Você só pode estar brincando? , amor, um homem precisa de um beijo decente pela manhã. Se você ficar agindo desse jeito comigo, eu entrarei no treino hoje e serei uma merda. Vou perder a posição de quarterbeck, nosso time vai perder, a bolsa de estudos para a Columbia vai pelos ares e então você será obrigada a casar com um fracassado. Isso se eu não me matar primeiro. — arregaçou as mangas de seu moletom do time e fez uma carranca irritada. Como sempre cheio de gracinhas.
  — Se conseguir chegar antes da aula da Weese você terá o seu tão exigido beijo. — prometi, abrindo minha bolsa e vasculhando minha nécessaire.
  — Feito. — suspirou e logo revirou os olhos ao se dar conta do que eu estava prestes a fazer — Não vou poder dirigir à cem por hora com você se maquiando. Aliás você já é linda naturalmente.
  — Eu sei, mas prefiro destacar minha perfeição natural. Não precisa se preocupar com a ponta do delineador atingindo meu olho, sou expert nisso.   — disse, enquanto passava corretivo abaixo dos olhos. As noites mal dormidas estavam resultando em olheiras terríveis, depois foi a vez do pó, blush, delineador e gloss. Ufa, estava pronta. Não estava nenhuma rainha do baile, mas poderia ter um tranquilo dia de aula sem espantar meus colegas com minha cara de morta.
  — Ei, você poderia me dizer a onde foi parar a cosplay do The Walking Dead que estava aqui do meu lado quase agora? — zombou , dando um sorriso largo. O fulminei com os olhos, só então me dando conta de que o automóvel estava parado.
  — Nós já chegamos? — indaguei estupefata. O relógio do carro marcava 6:50, ainda me restavam dez minutos. Suspirei aliviada — Você é demais, .
  — Não quero elogios, quero o meu pagamento. — disse simplesmente, sem fazer movimento algum.
  A atitude teria de ser minha. Tirei o cinto e sentei em seu colo, passei os braços ao redor de seu pescoço, minha mão esquerda subiu por sua nuca, aproximando seu rosto do meu. Nossos lábios se tocaram e nossas línguas se uniram, numa dança lenta e quente. Diferente do anterior esse foi um verdadeiro beijo, com vontade, com paixão. Suas mãos se apossaram de minha cintura e a necessidade um do outro aumentava, por mais intenso que o beijo fosse ele já não nos saciava mais. Senti sua mão deslizando até a minha perna e se esgueirando para baixo do meu vestido. Um calafrio percorreu minha espinha e espalmei minha mão sobre a sua.
  — , eu não quero. Não aqui, não agora.
  Ele assentiu e franziu o cenho, parecia frustrado, mas menos do que das outras vezes. Estávamos juntos há quase dois anos e eu sabia que era difícil para alguém como ele, o quarterbeck do time, o garoto mais bonito e popular. Desejado por todas as garotas ter de levar uma vida de celibato só porque a sua namorada covarde morre de medo de transar. Ainda assim ele me esperava, continuava fiel a mim e a minha vontade. Eu o amava tanto por isso. Olhei na direção do portão e encontrei um rosto conhecido, Simon estava na escadaria coincidentemente cruzando seu olhar com o meu.
  Ele me deu um sorriso simpático e eu acenei em retribuição. quase quebrou o pescoço para encontrar o destino de meu gesto.
  — Quem é aquele cara? Por que está acenando para ele?
  — Ele não é aquele cara. — o corrigi reprovando seu tom de voz arrogante, desci de seu colo e peguei minha bolsa — Ele é , um amigo da Brooke. É um ótimo garoto, está no segundo ano.
  — Mais novo, hein? Com certeza você deve ser a musa dele. Sem dúvida, olha a cara dele, o doce não passa de um nerd virgem. — sua zombaria estava começando a me tirar do sério, ele parecia um daqueles garotos idiotas que saem por aí fazendo bullyng com qualquer um.
  — Deixa de ser babaca, . Eu o proíbo de incomodá-lo. Afinal, acho que ele gosta da Brooke.
  — Que meigo, mas o Chad ainda está louco para namorar com ela. — neguei com a cabeça — Ele é um ótimo cara. Deveria dar uma chance para ele. Mas na minha opinião o ali quer transar com você.
  — Vai se ferrar, meu amor. — destranquei a porta e fiz menção de sair, a mão dele segurou a minha.
  — Eu não vou mexer com ele, prometo. Boa aula. — ele beijou minha mão e eu sorri.

[…]

  Graças ao consegui chegar a tempo de receber uma humilhante bronca da Senhorita Weese, se aquilo não era ódio eu realmente não sei o que é. Para todos ela era só elogios e críticas construtivas, mas para mim só foram reclamações e pontapés. Eu não fazia a menor ideia do que estava acontecendo, antes das férias ela estava tão empolgada comigo, me incentivando e dizendo que eu seria uma excelente advogada e agora era só esporro.
  Somente no final da sua segunda aula foi que ela teve a bondade de me revelar toda a sua insatisfação comigo. Devido ao acidente da minha irmã eu me tornei muito ausente, abandonei as líderes, os clubes do qual fazia parte, a equipe de vôlei e renunciei ao cargo de presidente estudantil. Em outras palavras eu havia deixado de existir no quesito acadêmico, e isso a irritou profundamente.
  A senhorita Weese tinha apenas trinta e dois anos, ainda assim ela dizia que me via como uma filha e como tal desejava apenas o sucesso para mim. Partilhávamos da mesma adoração por Yale e eu sabia que não conseguiria ter o meu lugar ao sol estando tão por fora; foi então que eu decidi voltar toda a minha atenção para a única atividade extracurricular que era capaz de conquistar o meu interesse, ser professora de reforço dos alunos mais novos.
  Ao meio-dia recebi a lista do professor Cheester, se tratava da lista dos alunos que tinham problemas com a matéria e iriam precisar de ajuda: Era um programa bem simples, do tipo adote um aluno, havia uma lista de auxiliares, os alunos os escolheriam e seria nosso dever ajuda-los até o final do semestre. Grande parte das líderes e dos jogadores se escreveram apesar de precisarem de mais ajuda do que seus auxiliares. Mas todos iriam precisar de notas para se formar.
  Fui a única pessoa “ex-descolada“, que se inscreveu como professora. Se fosse há três meses atrás, provavelmente todos os alunos iriam querer ter aulas comigo e tudo estaria ótimo. Meu currículo ficaria impecável. O problema é que ninguém me quis como professora. Fiquei de queixo caído quando eu vi minha lista totalmente vazia, algumas garotas que passavam no corredor olhavam para lista e para a minha cara e davam risadinhas abafadas.
  — Decepcionada? — o senhor Cheester surgiu ao meu lado, olhando com a mesma perplexidade para o mural a nossa frente.
  — Frustrada, talvez, mas eu não os culpo. Quem iria querer ficar perto de uma drogada que deixa a irmã morrer? — falei, sentindo uma pontada de tristeza. Ouvir aquelas palavras saindo da minha própria boca doíam mais do que as ouvir da delegada. Dei as costas para o mural — É melhor eu ir para...
  — Espere, senhorita , tenho um aluno para você. — anunciou ele.
  — Quem? — girei nos calcanhares, com grande curiosidade.
  — Grant . O rendimento dele caiu bastante, ele é um garoto estranho, muito volátil. — ele suspirou, me entregando a ficha de — Eu não estou passando ele para você porque não tem alunos, ou para não se sentir excluída. As pessoas são estupidas e você sabe bem disso, , você é a garota mais madura e sensata que já tive o prazer de conhecer e creio que poderá fazer bem ao alguém como você. Ele não precisa de alguém que o ensine inglês, precisa de alguém que o ensine a ter sentimentos, seja amiga dele, .

[…]

  Apesar de estudar há anos no Lafayette nunca estive na biblioteca, ela sempre me pareceu designada unicamente aos gênios e prodígios, em outras palavras eu não era bem-vinda ali. Em certas ocasiões eu até mesmo tive vontade de entrar, mas quando me viam na porta com o uniforme de chefe de torcida os olhos esbugalhados e os sorrisos forçados acabavam me espantando instantaneamente. Esse era o meu último ano, já estava mais do que na hora de conhecer aquela área tão secreta para mim.   A adentrei sem ser notada, a falta de um uniforme nos tornava invisíveis e isso me deixou aliviada. O silencio era total, uma velhinha guardava a recepção e entre seções e mais seções de livros cuidadosamente organizados o encontrei, sentado em uma mesa de estudos ao lado da janela, havia uma pilha de livros em sua mesa e ele estava deveras concentrado.
  — Olá, . — o saudei, ele levantou os olhos castanhos e pareceu brevemente espantado. Me esforcei para dar um largo e gentil sorriso, precisávamos ser amigos — posso me sentar com você? — assentiu, sentei-me — Você tirou um F na prova de Inglês, o Senhor Cheester está preocupado com você, por isso pediu que eu o auxiliasse.
  — Tirei um F. — murmurou ele, conversando consigo mesmo, ou com qualquer outra pessoa que não fosse eu. Levantou o rosto e um repentino sorriso surgiu em seu rosto, algo tão inesperado que chegou a ser assombroso — Nunca fiquei tão feliz por ser burro. Vai ser uma honra ser ensinado por você, senhorita .
  — Que isso?! Pode me chamar de e você não é burro. — num impulso natural, segurei sua mão que estava sobre a mesa, ele a fechou abaixo da minha e constatei que não era habituado a deliberados atos de carinho, a retirei discretamente — Vi alguns dos seus exames anteriores você é genial. Amei suas resenhas sobre E O Vento Levou, Tristão e Isolda e Morro dos Ventos Uivantes, o engraçado é que são as minhas obras prediletas. Coincidência ou não?
  — Talvez eu tenha descoberto que são as suas obras favoritas e tenha escrito sobre elas apenas para te impressionar.
  — Me impressionar, com qual finalidade? você é um mistério. — disse seguindo seu mesmo tom de ironia, ele coçou a cabeça e deu de ombros — O que acha que essas três têm em comum que tanto o atraem?
  — Amor. — falou, voltando a me encarar — O amor sofrido e mau correspondido, com um fim trágico. Repleto de obstáculos e divergências entre as personagens.
  — Concordo, mas não diria que exista divergência entre os personagens. Afinal todos partilham do mesmo gênio e opiniões e são suas semelhanças que os separam. — apoiei meu rosto sobre as mãos, o observando cuidadosamente.
parecia um garoto peculiar, com um pensamento muito particular e um jeito próprio, ele sorria para si mesmo e quando refletia seus olhos ficavam baixos, como se saísse do ar temporariamente e quando voltava exalava uma certa ternura e aspereza em seu semblante ao mesmo tempo.
  — Esse é o problema, todos poderiam ter sido felizes desde o início se tivessem aprendido a tirar vantagem de suas semelhanças. Veja bem, se por exemplo eu e você partilhássemos de um determinado gosto, não seria mais fácil assumi-lo do que você se propor a negá-lo e só dificultar as coisas e causar sofrimento a ambos. — explicou ele, debruçando sobre a mesa e inclinando o rosto para frente ao diminuir a altura de sua voz.
  — Depende das consequências que isso traria. Tudo têm limite. — ele levantou um dedo, em negação.
  — Errado, ! O amor não possui limite e todas as consequências são aceitáveis quando se trata disto. Não podemos impor uma barreira em algo tão poderoso como uma paixão, ela precisa ser perseguida e alcançada independente das regras impostas por estupidas leis morais. — explanava suas ideias tão bem, não parecia o rapaz insociável que o professor havia comentado — Tentar contê-lo ou o renegar só pode acabar de uma forma, em tragédia.
  — Acho que você tem um certo problema com regras. — murmurei lhe dando um sorriso de cumplicidade.
  — A reciproca é verdadeira. — ele suspirou, abrindo um dos livros — Suponho que seremos grandes amigos.
  — A reciproca é verdadeira. — retruquei.

Capítulo 4

  Tinha revirado a escola inteira à procura de , o professor Cheester queria lhe entregar sua prova, mas ele havia desaparecido. Em outras circunstancias eu teria aceitado sua ausência e o procuraria no dia seguinte, acontece que mais de dois alunos declararam tê-lo visto. Nas últimas semanas, nós tínhamos passado muito tempo juntos e aprendi um pouco sobre a complexa personalidade de .
  Ele era um garoto extremamente inteligente, assim como arrogante, ele se considerava superior a grande parte de seus colegas e por isso não fazia questão de interagir com eles, apesar de muitos deles demonstrarem o desejo se aproximar dele. Apesar de seu estilo resignado ele era cativante e isso atraia as pessoas, mas ele persistia em ser antissocial. Ao que tudo indicava eu era a única pessoa com quem ele mantinha um contato frequente, embora eu tenha certeza de que minhas aulas são bem dispensáveis.
  O cara tirou um A+, sem que estudássemos a matéria.
  Depois de trinta minutos de busca inútil, estava começando a me cansar. Quase todos já tinham ido para suas casas e eu tinha combinado de sair com , ele iria ficar furioso com esse bolo descarado. Escorei-me na parede e me permiti deslizar até o chão, era tão bom ouvir o silêncio, apenas apreciar o céu pelas grandes janelas do corredor.
  Então ela veio a mim, uma melodia inicialmente suave que depois fora se encorpando, uma voz a acompanhava. O idioma não era inglês, meu palpite seria italiano, se bem que a canção me soava familiar. Levantei os olhos, eu estava ao lado da sala de música, alguém cantava lá dentro.
  Me esforcei para não chamar a atenção quando adentrei no cômodo, Simon parecia absorto na execução de sua apresentação. Fiquei imóvel atrás dele, próxima a parede, espreitando a partitura acima do piano: Brucia La Terra, Nino Rota; quem diria que ele gostava de Poderoso Chefão.
  Que bela voz o garoto possuía. Seu domínio sobre o idioma parecia excelente. Eu só lamentava por não poder compreender uma palavra sequer do que ele dizia.
  — A lua arde no céu e eu ardo de amor. — traduziu como se lesse meus pensamentos, arfei quando ele girou no banco, ficando frente a frente comigo, os cabelos louros caiam desgrenhadamente sobre sua testa e ele vestia a camisa de alguma banda de rock desconhecida, o sorriso meigo e pueril como de uma criança estava lá.
  — Desculpe, eu só queria te... — se pôs de pé e retirou de minhas mãos a prova que eu fazia menção de lhe entregar e a jogou sobre o piano. Abri a boca para concluir minha frase, seu dedo indicador tocou meus lábios, me silenciando.
  — O fogo se consome, como o meu coração. — seu dedo se afastou e se entrelaçou em minha mão esquerda, enquanto a mão livre foi colocada ao redor da minha cintura — Dance comigo, .
  — Não temos música e eu não sei dançar. — menti, me forçando a manter a seriedade, quando na verdade estava louca para desatar numa gargalhada desenfreada, o projeto de punk era imprevisível demais para mim — E além disso o deve estar me esperando.
  — Esqueça o , concentre-se no som da minha voz. Está é a nossa música. — foi como se uma corrente elétrica percorresse o meu corpo, sem mais nem menos, seu braço adquiriu uma força brutal que colou meu corpo ao dele de forma que parecia necessitar da força de dez homens para nos separar, segurei seu ombro por instinto e sua bochecha tocou a minha — Minha alma chora, dolorida. Não estou bem, mas que noite tão má. — seu corpo começou a se mover eu o segui, ele realmente estava dançando e eu me vi desejando dançar com ele — O tempo passa, mas não amanhece, não há mais sol. Se ela não voltar.
   me rodou brevemente e logo voltou a me ter em seus braços, de uma forma desesperadora. Seus passos eram leves e agradáveis de se acompanhar, desta vez quando voltei para ele, nossos olhares se cruzarem e seus olhos pareciam negros, como ônix ao se cravarem em meu rosto. Era um olhar profundo e forte, repleto de dor e sentimento. O que aquilo significava? Por que ele estava olhando daquela forma para mim?
  — A minha terra está ardendo e o meu coração está queimando, ela anseia por agua, e eu anseio por amor. — a beleza de sua voz e a forma como ele a dirigia a mim, estava fazendo meus joelhos fraquejarem, eu me perdia em seu olhar, sua voz, seus braços ao meu redor. Era hipnotizante, cada bela palavra proferida me tirava a razão e devolvia a paz — A quem eu canto a minha canção, se não há ninguém que venha à janela, — fechei os olhos, me deixando levar, o toque suave de sua mão sobre minha pele me fez suspirar — e ela eu canto, a minha canção, se não há ninguém que venha à janela, — o calor quente de sua respiração estava unindo-se a minha, o coração em meu peito acelerava de forma frenética, eu desejei ardentemente ser beijada por ele e então sua voz veio como um sussurro — Se não há ninguém que venha à janela.
  Eu estava flutuando, a mão em meu rosto deslizou por entre meus cabelos e seus lábios tão inquietantes e enfeitiçados roçaram sobre os meus. Uma urgência crescente surgira dentro de mim, como se eu necessitasse mais daquele gesto do que de oxigênio; a sirene soou, me arrastando de volto ao mundo real. A voz de estava próxima demais.
  — , , cadê você? — ele gritava, estava no corredor a menos de dois metros de distância.
  Instantaneamente o plano perfeito veio a minha mente, eu fingiria apenas estar entregando inocentemente a prova do , me despediria com toda a seriedade de uma garota comprometida e sairia de mãos dadas com o meu namorado como se nada tivesse acontecido. Tanto eu, quanto o esqueceríamos este episódio e seguiremos nossas vidas como bons amigos. Só isso. Apenas isso.
  Entretanto, eu não me movi. A voz do estava cada vez mais próxima e eu ainda estava enroscada nos braços do meu aluno, me virei para ele atordoada demais com o flagra evidente.
  — Não vá, . Deixe esse idiota, fique aqui, fique comigo. — suplicou, sua voz era baixa e sinistra, meu coração afundou diante de suas palavras inapropriadas.
  — Eu não quero, ele é meu namorado, . Não tem o direito de pedir isso para mim, o que quase aconteceu aqui foi um erro. — disse com severidade, para que ele me entendesse de vez — Agora me solte, eu não quero que ele termine comigo, não quero mágoa - lo.
  Os braços dele se afrouxaram ao meu redor, seu olhar tornou-se glacial e duro, como chumbo. Uma vez livre, peguei minha bolsa que havia escorregado até o chão. se jogou para trás, sentando no banco do piano e apanhando a prova que eu havia lhe entregado, ele a leu com tranquilidade, sem deixar transparecer quaisquer emoções de antes.
  — Um A? Uau! Eu devo está nota a você, obrigada por ser uma professora tão dedicada e comprometida com as minhas necessidades. — se ele estava sendo irônico não deixou transparecer, isso não me deixou menos desconfortável do que eu já estava.
  — Não precisa agradecer, o mérito é seu. — me empertiguei, o analisando com atenção, era de se admirar a facilidade com que ele mudava de humor, aparentemente nada de suspeito poderia ser tirado dele. Mas eu tinha a impressão de que tudo aquilo era fingido, dissimulado. Será que ele é sempre assim?
  — Amor, você está aí. Eu te procurei por toda parte. — falou , numa voz alta e um tanto possessiva ao caminhar até mim e agarrar firmemente minha mão — E ai, Punk? Tem roubado bastante minha namorada nesses últimos meses. — não respondeu, tampouco o olhou — Está na minha vez de pegá-la de volta.
  Sem me dar tempo de me despedir, me arrastou para fora da sala, depois pelos corredores me levava como a uma boneca de pano, o mesmo se seguiu até o estacionamento e eu não suportei mais seu showzinho. Finquei meus pés no chão de concreto e não dei mais um passo sequer.
  — Vai falar alguma coisa ou vai continuar agindo como uma garotinha irritada? — ele soltou minha mão como se tivesse nojo de mim.
  — O que estava fazendo sozinha com ele? — bufou, os olhos dele estavam vidrados, era algo raro meu namorado se enfurecer desse jeito. Eu não queria mentir e a verdade não era uma opção.
  — Sério? Vai querer bancar o ciumento agora? Isso não te interessa, . — gritei o chamando pelo sobrenome, eu só o utilizava quando ele realmente me irritava. Se ele tivesse visto o que realmente tinha acontecido eu não o culparia por perder a cabeça, mas nas circunstâncias que ele nos encontrou seu comportamento estava sendo irritante e louco. Era psicótico.
  — Beleza. Se você quiser vai ser assim, não precisa falar. Eu tiro a verdade do magrelo lá dentro. — avançou em direção ao portão, eu não poderia permitir um confronto entre os dois por minha causa, entrei na frente dele e o segurei pelos ombros — Sai da frente, . Senão vai sobrar para você.
  — Pretende fazer o que me bater? Vai em frente, bata em mim, mas não tente pôr a culpa nele. — suas sobrancelhas se uniram em completa incompreensão — A culpa é sua por nosso relacionamento estar indo por água abaixo, é sua.
  — Minha? Quem é que se recusa a transar mesmo depois de dois anos de namoro? — qualquer um poderia ouvi-lo berrar a quatro quarteirões dali. Mais uma vez ele estava jogando aquilo na minha cara, ele sempre faz isso, usa a carta do sexo para me responsabilizar por tudo que há de errado.
  — De que valem dois anos se você continua sendo o mesmo idiota do segundo ano? Eu prefiro mil vezes transar com o do que com você. — ser dominada pela ira e dizer besteira no calor do momento tendem a ter consequências, a minha consequência foi sentir uma dor terrível na coluna quando ela se chocou contra o chão. Doeu e foi inesperado, mas estava tão irritada que ignorei a dor e me apoiei nos cotovelos, o encarei com revolta.
  — Afinal, você não passa de uma vadia, exatamente como a sua irmã.
  Aquilo foi a gota d'agua, suspirei e tentei conter meu desejo de matá-lo naquele exato momento.
  — Vá embora, . — estava fazendo o mesmo jogo que , transparecia serenidade e controlava com perfeição a altura da voz, mesmo que ardesse de ódio por dentro. entendeu o recado e entrou no carro, dirigindo rapidamente para longe.
  Um embrulho subiu até a minha garganta, me sufocando, em um misto de raiva e vergonha, consegui me reerguer e fugindo ao meu controle as lágrimas se apossaram de minha face
  — Ele não vale a pena, não é digno de suas lágrimas. Pare com isso, por favor, não se humilhe desse jeito.
  De relance olhei para cima e ele estava parado na janela. me olhava, ônix e castanho se cruzando, fixo um no outro. O modo como ele me olhava, a expressão de revolta e vingança nele, eu já tinha visto aquilo antes. Há muitos anos atrás, alguém me fitou da mesma forma, mas aqueles sentimentos exibidos em suas feições não eram para mim. Ele se enfurecia com o que tinha acontecido comigo, se sentia uma espécie de guardião para mim.   Balancei a cabeça, eu só posso estar delirando, preciso sair daqui. Voltar a ser quem eu costumava ser.

[...]

  — Vamos, , se quisermos ser as melhores na torcida temos que dar o nosso melhor. E isso — apontei para sua apresentação de espacate — definitivamente não é o seu melhor, na verdade não é o melhor de ninguém. Está um lixo.
  — Cruzes! — exclamou , esticando as pernas e reclinando o corpo para trás e fechando os olhos — Que bicho te mordeu? Se está de TPM é melhor falar logo? E todo mundo sabe que se você quiser voltar para a torcida não precisa fazer teste, eu por outro lado estou arruinada depois que caí da pirâmide.
  — Acidentes acontecem, agora chega de drama, temos que entrar na torcida antes do campeonato. — disse, voltando a me alongar, depois de tantos exercícios começava a me arrepender de ter ido de moletom, pelo menos estava de shorts. Para um dia frio e nublado eu estava sentindo calor demais — Eu preciso voltar a ser a rainha da popularidade.
  — Que história é essa? Você é o sonho de um bando de marmanjos. — estendi as mãos para Olívia e ela as segurou, levantando, olhou para o lado e deu um sorriso surpreso — Não olhe agora, mas tem um admirador seu bem ali, na arquibancada. — ela arqueou a sobrancelha, indicando o lugar.
  Segui seu sinal disfarçado, era ele, novamente cruzando o meu caminho. Depois de uma semana, e eu estávamos nos reencontrando, ele estava sentado na arquibancada vestindo uma jaqueta de couro, cabelos dourados e um rosto belo me fitando. Meu desejo foi fingir que não o vi e sair correndo o mais rápido possível. Mas não estava do meu lado hoje, ela pegou sua mochila e acenou a uns três metros de distância.
  — Divirta-se! — senti meu rosto enrubescer ao ouvi-la gritar bem na frente dele, ele teria de ser surdo para não ouvir. Que bela amiga eu tenho!
  — Tem medo de ficar sozinha comigo? — não tinha uma resposta para aquela pergunta, pois não esperava ouvi-la. Depois do episódio na sala de música não me dei a liberdade de pensar em reencontra-lo. Eu o evitei com sucesso durante uma semana, só que neste momento estou de mãos atadas sem saber onde enfiar a cara.
  — Tenho medo de muitas coisas, você não está incluído nesta lista. — suspirei, andando em sua direção, minha única solução era encará-lo.
  — Não faz ideia do quanto fico em feliz em saber disso. — sua postura se suavizou, apoiou seus cotovelos nos joelhos e coçou o queixo em estado contemplativo — Mesmo que eu saiba que você não sente o mesmo. — o olhar felino me seguiu, desde meu percurso do campo, até eu me sentar na arquibancada em um degrau abaixo — Por que está treinando? Pensei que tivesse largado a torcida.
  — Sim, eu saí durante as férias, mas estava pensando em voltar. — confessei, puxando as mangas de meu moletom e pondo os braços sobre as pernas, na tentativa de esconder a grande parte de minha pele. Eu não sei ao certo o motivo, mas perto dele eu sentia algo estranho, uma sensação de perigo e censura, não me sentia segura daquela forma próxima a ele. retorceu a boca, discordando de mim — Acha que sou tão ruim assim?
  — Ah! Não me leve a mal, não é isso. Você é ótima em todas essas acrobacias. — explicou, fazendo um gesto vago com as mãos em direção ao campo — O problema é que a líder popular não combina com você, duvido que qualquer uma destas garotas tenha metade do seu cérebro.
  — Não tenho o direito de ser esperta e popular? — rebati, o encarando com atrevimento. Maldição! Eu caí no feitiço de seus olhos, olhá-lo era como cruzar a vista com a medusa. Estava empedrada.
  — Depende. — sussurrou, abaixando a cabeça para que nossos rostos ficassem mais próximos — Se quiser ser popular vai continuar com o mesmo com ele te batendo no pátio do colégio, se escolher usar o cérebro vai mandá-lo para o inferno.
  — Ele não me bateu. — revirei os olhos, me enjoando com as palavras que saiam da minha própria boca — Foi um acidente.
  — Ótimo. Ele já se desculpou? Te mandou flores? Fez uma serenata? — me poupei de responder suas indagações zombeteiras — Lógico que não. Ele não passa de um moleque estúpido, não te merece. Nenhum deles te merece, você é boa demais para eles. Eu por outro lado nunca lhe faria mal, ou te machucaria. Prefiro a morte do que te ferir.
  — Pelo amor de deus! Quer parar com toda essa cafonice? Eu não sou boa demais para ninguém, pelo contrário. Ele é bom demais. — ele bufou alto o suficiente para que o ouvisse, mesmo sem o estar olhando — Você só tem dezesseis anos, . Um garoto inocente demais, o amor é complicado.
  — Mentira. O amor é simples, os idiotas é que o complicam. — estendeu sua mão sobre a perna e me convidou a uni-la a minha. Mesmo relutante a segurei, ele levou meu dorso até seus lábios e lhe depositou um beijo casto, porém quente e sincero, o arrepio se fez presente novamente. Seus dedos escorregaram até meu pulso — Vê? Um gesto simples como este tem poder. Seu coração está sendo ferido há muito tempo, carente de amor.
  — Descobriu tudo isso medindo minha pulsação? — tentei reaver minha mão, ele continuou a segura-la e me puxou para perto, seu rosto tornou a se curvar próximo ao meu, de meu pulso sua mão seguiu até minha bochecha e a acariciou com leveza — Eu não posso, isso é errado.
  — Minha boca já tocou a sua antes, o pecado já fora tencionado, agora basta tornar consumado. — a sombra de um sorriso diabólico passou por seu rosto — Quebre está regra, só por essa vez. Eu suplico.
  Então eu o beijei. Não esperei que ele continuasse a me convencer ou manipular com seu charme e rosto angelical. Fui dona de mim mesma e do desejo incandescente que queimava minha pele, por anos eu estivesse com e ele nunca foi capaz de causar o mesmo que causava em mim. Ele era um pirralho mais novo e provavelmente imaturo demais, mas ele exalava confiança e coragem. Possuía elementos que nunca encontrei em mim mesma.
  O fato de não possuir medo de ser rejeitado por ou ser morto por , ou o que quer que fosse o tornava tão sedutor e irresistível. Aquilo só podia ser desejo, me entreguei ao domínio de sua boca se apossando da minha, que se iniciara dolorosamente suave. Roçando seus lábios nos meus numa caricia leve como uma pluma, com o mínimo de pressão. Em seu pequeno gesto inicial havia algo que me deixou zonza e fraca, meu braço sobre seu joelho e sua mão em minha nuca eram as únicas que sustentavam meu corpo.
  Estava me sentindo estranha, sem equilíbrio, como se ele estivesse sugando algo de mim. A suavidade e a doçura foi dando lugar ao desejo, ficando ardentemente colados um ao outro. Sua entrada foi deliberada, com os lábios ardentes e a língua exploradora ele me teve sobre seu domínio, me entregando toda a paixão e o desejo que uma mulher poderia querer.
  Então quando perdi o folego, dei por mim a loucura que estava cometendo. Era um erro, estava traindo , usando e magoando a mim mesma.
  Me separei dele e me levantei, saindo ás pressas para o mais longe possível daquele demônio que me perseguia.

Capítulo 5

POV’s

  “ Oi, você ligou , infelizmente não posso atender, mas não se desespere. Deixe um recado que eu retornarei assim que for possível. Beijos. “
  Foi a vigésima oitava vez que me deparei com essa maldita mensagem gravada. Não importava quantas vezes eu ligasse, ela estava me ignorando, fugindo de mim. Tudo porque não tinha coragem suficiente para me encarar, depois de me beijar e sair correndo desesperada pelo campo de futebol como se um assassino a estivesse perseguindo.
  Se ela continuasse se esquivando eu seria obrigado a fazê-la ter motivos para correr. Batuquei os dedos por sobre a escrivaninha, inclinei a cabeça de um lado para o outro, examinando minha coleção de armas e as fotos que colecionava de minhas vítimas, expostas em meu mural.
  Cada uma com um significado particularmente especial. Estreitei o olhar na fotografia de Richard . A data era de seis anos atrás, então eu já estava realizando esta tarefa há tantos anos. Haviam homens, mulheres e algumas crianças na época em que eu também era uma, não havia lugar na minha coleção para , , mas para eu poderia encontrar um bem merecido.
  — A torta está pronta, querido. — disse minha mãe, esgueirando-se para dentro do quarto — Pensando em caçar?
  Movi a cabeça em negação, prendendo os olhos em meus brinquedos. Ela entendeu isso como sua deixa para se aproximar, Brenda adorava bancar a mãe companheira que se achava no direito de se intrometer em meus assuntos. O único motivo de poupá-la era o fato dela me proteger, não que eu me importasse com a polícia ou com todo o resto sabendo o que eu realmente era, mas eu não queria que soubesse. Não ainda, ela teria medo e fugiria ainda mais.
  Brenda pôs a mão sobre meu ombro e o apertou.
  — Poderíamos comprar uma arma nova. Suas facas estão velhas. — ela estendeu a mão, tencionando tocá-las, a olhei de soslaio, sabiamente se refreando — Têm estado deprimido, . Ainda apaixonado pela ?
  — Quem sabe. — murmurei, mordendo o lábio inferior, recordando o sabor de seus lábios nos meus, do calor de sua pele e a maciez dos cabelos entre meus dedos.
  — Esquece, está mais do que na cara. Sabe que se quiser mesmo, basta dizer, a mamãe cuidará de tudo. — ofereceu, entendia perfeitamente o que aquilo significava. Empurrei a cadeira, brutalmente a chocando contra o chão, ficando de frente com ela.
  — Não pense que o fato de não ter te matado ainda a torna uma pessoa amada por mim. — sussurrei próximo ao seu ouvido, ela concordou cautelosamente — Ótimo, continue se comportando e ficaremos bem, você só se aproxima da quando eu mandar, do contrário fique longe. Agora me diga, eu sou um psicopata?
  — Não, você é um rapaz perfeitamente normal.
  — Exatamente. Trate de sumir da minha frente, tenho um compromisso essa noite e não a quero me atrapalhando.

[...]

  Como todo o começo de agosto estávamos todos reunidos para o início do tornei dos jogos de futebol. Os GreenHall, time da casa enfrentaria algum outo estupido time. Mas eu não fui até aquele jogo ridículo para assistir um bando de homens se atracando no meio do campo ou rolarem na grama como um bando de maricas que eles eram. Eu fui ver ela.
  Mesmo mantendo distância de mim por mais tempo do que eu gostaria, me manteve informado. Eu sabia que tinha conseguido retornar ao time das líderes de torcida e que a repulsa dos colegas por ela vinha diminuindo, isto era uma falha e tanto para o meu plano. Estava na hora de contratar e deixar tudo do jeito que eu queria.
  Tomei um banho, tentei arrumar o cabelo, calcei meus all star, calça preta, uma camisa de rock e vesti minha velha jaqueta de couro e sai para um jogo de futebol. Me escorei num dos pilares da arquibancada e acendi um cigarro, enquanto esperava a torcida entrar, aparentemente eu era um adolescente normal e nada suspeito. Insisti em deixar minha insanidade em casa, mas quando ela entrou no campo, percebi que minha loucura por ela estava bem ali. Queimando em meu interior, pulverizando meus ossos.
  O cabelo estava preso em um alto rabo de cavalo e aquele curto e justo uniforme de torcida era uma tentação difícil de resistir. Eu me arrependia de nunca ter ido a um jogo para poder assisti-la daquele jeito. Um garoto não muito afinado estava no camarote, cantando e dançando uma música sobre “ Cheerleader “, eu o ignorei e me fixei nela.
  Deus como ela estava linda! Sorrindo ao dançar como uma verdadeira bailarina, estava fantástica refazendo todas aquelas acrobacias que a vi praticar outro dia. que era o problema, ficava me secando o tempo todo com sua cara de vadia ciumenta. Durante toda a apresentação das líderes ela foi a estrela e desta vez não houve erros, ela foi perfeita e todos a aplaudiram quando ela ficou no topo da pirâmide.
  Quando eles agradeciam os elogios e se preparavam para sair e dar lugar ao time de futebol que estava prestes a retornar do intervalo, ela me viu. Aquela noite se assemelhava bastante com a do nosso encontro na piscina, eu a admirava e ela ficava sem reação. A diferença é que eu tinha me tornado aos seus olhos.
  Com um último agradecimento ela saiu do campo e correu até mim, me segurando pela gola do casaco e me puxando para debaixo da grande arquibancada de madeira. Sua respiração estava acelerada, em parte pela sua trabalhosa performance e meu ego sorriu ao saber que por outro lado ela estava assim por mim.
  — Não deveria estar aqui. Precisa me deixar em paz. — não pude dar atenção ao que dizia pois estava concentrado demais em admirar o decote de seu top, sua desejável barriga e o belo par de pernas expostas — , aqui, preste atenção em mim.
  — Tem toda a minha atenção. — admiti, passando a mão por meus cabelos úmidos, ficar perto dela me causava um calor infernal — Eu precisava de ver, depois do que houve no campo você fugiu de mim. Estou cansado de você se esconder o tempo todo.
  — Precisa entender o que isso tudo está fazendo comigo. A minha irmã está em coma há meses, meus pais são dois malucos, estou perdendo as chances com a Yale e o meu namorado é o ser mais difícil de se lidar, a última coisa que eu preciso agora é de um amante. — confessou ela, tremendo cada parte do seu corpo, incapaz de me encarar.
  Aquilo não era exatamente o que eu queria ouvir. Não mesmo. Amante, não foi uma ideia que passou pela minha cabeça, muito menos ser rejeitado. Estávamos em um lugar escondido, num terreno afofado, bom o suficiente para ser escavado. Adelaine era pequena e magra, eu era muito maior e mais forte, poderia facilmente me aproximar e a segura-la firmemente enquanto a sufocava. Então cairia como um peso morto em meus braços, enterraria seu corpo ali mesmo e tudo estaria acabado.
  Exceto pelo fato de que meus demônios continuaram em minha cabeça gritando e chorando por ela. Porque eu simplesmente preciso dela, eu não mato sem a tê-la como musa inspiradora. Minha alma amaldiçoada se apoiava na pureza daquela pequena menina a minha frente. Apavorada demais com o mundo e com a maldade dele.
  Dei um passo à frente e toquei seu rosto, o erguendo para encarar o meu.
  — Não serei seu amante, um dia, em breve, serei seu namorado. — seus lábios estavam trêmulos, sua pele estava fria — Eu serei seu tudo. — minha boca encontrou a sua, a aqueci com todo o meu calor, a maciez e a doçura de seus lábios renovavam minhas energias, eu me sentia mais forte. Invencível. Minhas mãos desceram até suas costas e a abracei com intensidade, então para a minha surpresa, sua mão miúda subia por minha nuca e afagava meus cabelos.
  — Seu filho da puta desgraçado! — urrou um energúmeno as minhas costas. O assustador estava pronto para me matar, se ele sequer sonhasse que eu é que era o verdadeiro assassino entre nós dois molharias as calças na hora.
   recuou, com a mão sobre a boca, garotas tendem a não gostar de ser flagradas, principalmente quando o namorado idiota delas é um tipinho como aquele. Me virei em sua direção, ocultando por completo de seu campo de visão, desta vez ele não tocaria num único fio de cabelo dela. Caso tentasse teria uma morte agonizante e impiedosa.
  — O que pensa que está fazendo com a minha namorada? — gritou o quarterbeck, para a minha desvantagem ele estava bem equipado com seu uniforme e um monte de proteção, sem falar do maldito capacete na cabeça.
  — Suponho que você saiba, mas já que insiste em perguntar tenho o prazer de responder que eu a estava beijando. — respondi, audacioso e decidido a deixa-lo se achar o maioral e me bater. Matar o grandalhão aos murros acabaria com as minhas chances com e levantaria muitas suspeitas, seria uma péssima ideia reagir. Eu apanharia, só desta vez.
  Como um bom cão raivoso, ele correu até mim, gritando um amontoado de palavrões incompreensíveis e.... Inferno! Como esse monte de merda é pesado. Ele ficou sobre mim, enquanto socava meu estomago e rosto, longe de possuir a força que eu imaginava, o deixei se sentir o macho alfa. Quando ele se cansou daquela posição me ergueu pelo pescoço e me acertou na barriga, me lançando por terra, se preparando para um próximo golpe.
  — Socorro! Pare com isso, . — gritou , entrando no caminho, desta vez eu reagiria se ele ousasse avançar. Os outros jogadores chegaram e o seguraram, o arrastando para fora.
  — Eu vou te matar, , vou te matar. — berrava mesmo depois de estar bem longe de nós.
Ela se apressou ao meu socorro, ajoelhando-se na minha frente, tocou o meu rosto machucado. Não precisava ser um gênio para deduzir que ela estava assustada demais, eu a segui a vida inteira e sabia de seu pavor por violência. O medo por descumprir as regras e principalmente por encarar duras realidades. Era uma das coisas que eu mais prezava nela, seus medos a tornavam tão humana e frágil, tudo o que eu não era. Ficar perto dela fazia com que eu acreditasse ser capaz de senti-los também.
  — Você está muito ferido, deveria te levar para um hospital.
  — Estou ótimo. — cuspi um pouco de sangue. iria pagar caro por aquilo. Até mesmo sei como, aproveitando que estava com o rosto virado, dei um sorriso vermelho para mim mesmo — É melhor eu ir embora, lamento ter atrapalhado sua noite.
  — . — murmurou, colocando a mão em meu peito, exatamente sobre o meu coração, olhei para seu rosto e ele estava banhado por suas lágrimas, plantou um beijo terno em minha sobrancelha — Eu sinto muito, sinto tanto. De verdade. — ela soluçou, abaixei a cabeça e foi quando vi, em sua mão estava uma escandalosa aliança de noivado.
  — Vai casar com ele? — minha voz soou falha e trêmula. Como a de uma vadia assustada, merda! Ela concordou — Mesmo estando apaixonada por mim?
  — Eu não estou.... — afastei sua mão e me recompus, ela me observava assustada e com expectativa, ainda de baixo.
  — Se não estivesse não teria me beijado e com toda certeza não estaria chorando. Isso ao menos serviu para algo, agora eu sei que tenho um coração, porque ele está doendo.
  Engoli minha dor e fui embora.

[...]

  “Irmã,
  Minha vida está uma bagunça! Voltei para a torcida, minhas notas estão ótimas, consegui mais alunos para ensinar no reforço e subi alguns degraus na lista de espera da Yale, e segundo os médicos o seu quadro está melhorando. Mas eu estou enrascada.
  Me apaixonei por . Isso mesmo, seu amiguinho chegou do nado e despertou sentimentos complexos em mim. Eu não esperava sentir algo por ele, incialmente não passava de uma companhia agradável, conforme estudávamos juntos e conversávamos, ele se mostrou muito gentil e divertido, contudo desde o dia na sala de música as coisas foram mudando.
  Primeiro eu o beijei e sonhei durante dias com isso. Ele parece ter saído de um daqueles livros, lembra que vivia me dizendo que ler tanto acabaria me fazendo enlouquecer? Você tinha razão porque a única explicação que consigo encontrar para o que temos é a de Emily Brontë em o Morro dos Ventos Uivantes: “ Seja de que forem feitas nossas almas, a dele e a minha são as mesmas...”
  E mesmo estando certa de que fomos feitos um para o outro aceitei o pedido repentino de de casamento, eu simplesmente não posso arriscar tudo o que temos. Namorámos há dois anos, eu o amo e confio nele, por mais bruto e estupido que ele possa ser as vezes ele é o meu primeiro amor e o é um risco que eu não estou disposta a correr, parti seu coração ontem à noite.
  Não me orgulho disso, ainda mais porque descobri que era ele mesmo que estava na peça do Magico de Oz me olhando de forma protetora. Ele diz querer me proteger, mas já fez com que eu estivesse em perigos demais. Não posso me render ao que quer que sintamos um pelo outro, ele é um garoto vai superar e eu também irei.
  Com amor, . ”

  Assinei e guardei o diário dentro da minha bolsa, tomando o máximo de cuidado para não ser flagrada pela Senhorita Weese, eu estava voltando a cair nas suas graças, não podia pisar na bola justamente agora que as coisas estavam tentando entrar no eixo. Olhei para o meu celular, escondido dentro do estojo, ainda não havia retornado. Passei a noite em claro, ligando para ele e todas as vezes caindo na caixa postal.
  Ele estava fazendo o mesmo que eu fiz. Fugindo de mim e eu não podia culpa-lo, mas sentia a sua falta. Ainda poderíamos ser amigos.
  Entortei a boca observando o anel de brilhantes em minha mão, as meninas não paravam de elogia-lo e dizerem que garota de sorte eu era por ter conseguido fisgar tão bem , olhei de relance para ele, estava sentado na cadeira da frente conversando com outros colegas do time. A professora estava prestes a expulsá-los da classe.
  Assistíamos um vídeo entediante sobre a história dos Maias ou Incas, tanto faz. Uma ou duas vezes olhei para tela, estava absorta demais em meus pensamentos, no entanto quando um burburinho começou e virou-se para mim falando um monte de coisas sem sentido, olhei para frente e vi algo que me revirou o estomago. Um vídeo em que estava transando com uma outra garota, abri mais os olhos para identificar sua parceira e desejei ser cega. Era o com a Brooke.
  Os dois, juntos, nus, transando.
  Uma lágrima solitária escorreu por um de meus olhos, levantei e dei um tapa com toda a minha força na cara de , ele aguentou firme e correu atrás de mim, quando não suportei continuar naquele lugar. Ele me alcançou no corredor e me segurou pelos braços.
  — Me solta, você está me machucando. — gritei, com a voz rouca repleta de ódio, rancor e tristeza. Me debatia tentando me desvencilhar dele.
  — Precisa me escutar, amor. O que você viu, foi um erro, eu e a Brooke estávamos bêbados demais. Eu procurei esse vídeo por toda parte, mas ele tinha desaparecido. — explicou ele, tentando m convencer de sei lá o que. Sua inocência, talvez? — Por acaso não vê como tudo isso é conveniente? Eles armaram tudo isso, o Punk e a Brooke, eles. — chutei sua canela e movido pela dor, ele me soltou, dei alguns passos para trás mantendo o máximo de distância possível.
  — Chega! Não pode estar querendo que eu acredite que a minha irmã, que está em coma, colocou aquele vídeo só para que eu o visse e terminasse com você ou que o tenha te obrigado a transar com ela. O único culpado é você, me diga quando... — respirei fundo, reunindo forças para completar, a esta altura um aglomerado de pessoas estava ao nosso redor assistindo tudo de camarote — Quando você vai virar um homem e assumir suas responsabilidades?
  — , pense bem, você está de cabeça quente.... Eu amo você. — ele rastejou até mim, agarrando-se a minha cintura.
  — Não me toque. — arranquei suas mãos imundas de mim — Eu tenho asco de você. Eu te odeio. — tirei o anel do meu dedo e taquei em seu rosto — Nunca mais chegue perto de mim, ou da minha irmã de novo.
  Olhei para a cara de meus telespectadores e caminhei em passos largos para longe da multidão, o corredor estava empanturrado de pessoas, ao menos quanto eu “a protagonista” passava por eles, a passagem me era dada. Continuei seguindo, ignorando todos que tentavam falar ou se aproximar de mim. Seguia até meu objetivo. Até a parte deserta do colégio, onde mais ninguém fofocava sobre mais uma humilhação para a minha coleção.
  Na área mais silenciosa, onde o único som era o de meu sapato contra o piso. Passei a mão pelos cabelos, admirando a chuva que caia naquele fatídico, enquanto o ouvia com sua voz suave. Ele parecia ler meu coração, cantar aquilo que eu queria e precisa ouvir. Deslizei meus dedos pela maçaneta da porta da sala de música, o observando no piano, cantando, assim como eu admirando a tempestade que se seguia do lado de fora.
  — And the world will live as one. — cantei a última frase, chamando sua atenção. Diferente das outras vezes, ele não estava empolgado em me ver. Se virou em minha direção e seus olhos estavam tão melancólicos que me fizeram chorar.
  — Sua voz é linda. — elogiou, com o olhar vago, ele não queria me ver e eu insistia em atormentá-lo — Por que veio está aqui?
  — Eu descobri que a lei do bumerangue é verídica. Tudo o que vai, volta, . Eu parti seu coração ontem e partiram o meu hoje. — lutei contra a dor, mas ela me nocauteou e eu cai aos seus pés, deitei a cabeça em seu colo e me coloquei a chorar inconsolavelmente — Não aguento mais, estou farta de tanto sofrer. — senti sua mão afastar o cabelo de meu rosto, foi reconfortante saber que ele não me odiava.

Capítulo 6

  — Bem, eu não sei ao certo se você pode me ouvir, mas mesmo assim eu preciso dizer que... — engoli em seco, apertando suas pálidas mãos entre as minhas —, não estou brava com você. Eu a amo tanto quanto antes. Não me importo com nada que tenha feito antes, você é só uma criança, quando acordar eu prometo que o não chegará perto de você, nós superamos isso, certo?
  — Tenho quase que cem por cento de certeza que ela não pode te ouvir. — retrucou , sentado na poltrona do outro lado da cama.
  — Deixe-me adivinhar, você leu isso em algum livro? — ele fez uma careta cômica e negou.
  — A vidrada em livros aqui é você, eu curto outro tipo de coisa. — rolou seus dedos pelo braço da poltrona, desviando o olhar, arquei uma sobrancelha tentando deduzir ao que ele poderia estar se referindo.
  — Sei, agora respeite a minha irmã, . — o repreendi, acariciei seu rosto, ela estava mais magra e pálida, não me parecia um bom sinal — Embora não pareça os médicos dizem que ela está ótima.
  — Isso é bom, não é? — ele se levantou e debruçou-se sobre o leito, assim como eu a contemplando — Linda, é uma pena que alguém tão jovem e bonita tenha de sofrer tanto. Eu a conhecia pouco, fomos parceiros de laboratório por um tempo, mas me machuca vê-la assim.
  — Imagine a mim. — inspirei, esforçando-me ao máximo para continuar forte. Rezei uma prece silenciosa para que ela ficasse bem o mais rápido possível — O horário de visitas acabou, temos que ir. — dei um beijo na testa de Brooke e peguei minha bolsa. Saí na frente e ele se demorou um pouco e logo me seguiu.
  — Quer dizer que nosso encontro já acabou? — perguntou andando ao meu lado, ele colocou o braço ao redor de meus ombros e eu agilmente o repeli.
  — Não estamos em um encontro. Somos amigos, não namorados.
  — Por enquanto... — seu humor estava esplendido naquela manhã. Deve ser porque resolveu tirar sua camisa de banda e vestiu roupas normais para variar, estava uma gracinha com sua camisa de manga longa azul escura, jeans e tênis preto, até seu cabelo parecia mais alinhado.
  — Amigos, pronto e acabou, mas tem razão. — cedi tendo um mal pressentimento quanto aquele sorriso malicioso em seu rosto — Você tem se portado muito bem comigo nos últimos dias e eu te devo uma compensação, e então o que quer fazer?
   se inflou com todo aquele ar meigo e infantil que o cercava vez ou outra e fechou os olhos, pensando em uma resposta. Me senti um tanto idiota, parada no meio do corredor do hospital esperando por uma resposta dele. Quando ela veio, ele se inclinou para frente e tocou sua testa na minha, senti a pulsação acelerar. Mau sinal.
  — Festa! — ele gritou. Tampei os ouvidos, quase fiquei surda por sua causa. Algumas enfermeiras apareceram assustadas e eu me desculpei pela cena dele. Diferente de mim, não se incomodou ele se divertia com toda a exaltação.
  — Qual festa?
  — , a dondoca me ligou hoje de manhã e me pediu para te convencer a ir.
  — Ela é minha amiga, não a chame assim. — dei um soquinho em seu ombro e me dei conta de que ele vivia com camisas de manga longa — Por acaso você nunca sente calor? Vive cobrindo o braço. — levantei uma de suas mangas e ele segurou minha mão.
  — Problemas psicológicos. Eu sou um pouco louco. — falou, dando ênfase na última palavras ao dar um beijo em meu rosto e seguir andando — Nos vemos ás 22:00? Quero você linda.
  — Vou fazer o possível. Tenta arrumar esse cabelo. — gritei em resposta rindo.

[...]

POV’s

  — Acho que tem gente demais. — resmunguei, me apoiando no peitoril de madeira do segundo olhar, tendo uma visão ampla da sala amontoada de pessoas desconhecidas. A aglomeração crescia a cada toque da campainha. me entregou um copo e continuou a beber seu drink.
  — É nisso que dá festas repentinas, é preciso antecedência para uma lista de convidados, quando isso não acontece eu sou obrigada a convidar todo mundo. Sua sorte é que eu sou popular e todo mundo vem mesmo. — bufei, sem dar grande importância para a sua explicação — Que saco, ! Eu fiz tudo isso por você, poderia ao menos agradecer, não acha? — a mirei incrédulo, ela se intimidou — Não precisa dizer obrigado nem nada do tipo...
  — O que você quer, ? — cruzei os braços e a observei tentando aninhar-se a mim como a gata sonsa que ela era.
  — Olha, eu sei que você tem todo esse lance místico com a , é a ela que você ama de verdade e tudo bem, sério. Eu a amo também. — usando sua astúcia, uma das mãos de já passava por meu braço, subindo até o ombro — Não sou nenhuma estúpida de fazer o que a Brooke fez, mas eu acho que está dando muita prioridade à ele e se esquecendo de dar o devido valor a uma amiga leal como eu.
  — Tem razão. — concordei, isso serviu de incentivo para que ela teimasse em se aproximar, deslizando a mão até meu rosto. Desfiz minha pose e apanhei sua pata no meio do caminho, segurando seu pulso a encarei bem nos olhos — A questão é que eu não quero reconhecer o valor de ninguém agora. Somente o dela. Se você não entendeu que eu só terei algo com você quando eu quiser sugiro que vá até o hospital e pergunta para Brooke. — mirei de soslaio o andar de baixo, mesmo a contragosto a morena se mostrava apavorada com minha melhor encenação de psicopata ameaçador — Melhor, posso fazer uma demonstração aqui e agora, será fantástico.
  — Não é necessário. — murmurou, amansando comigo — Apenas acho que se esforça demais para conseguir transar com ela.
  — E você perde tempo demais cuidando da minha vida ao invés de fazer o que eu mando. — repliquei, me enfezando com aquele lugar, multidões tendem a me deixar nervoso — Ela chegou, vai dormir com algum jogador imbecil, querida. — ela não gostou, mas obedeceu.
  Ao descer as escadas ela passou por e cumpriu com perfeição o seu papel de anfitriã e amiga, se ela permanecesse andando na linha seria muito bem recompensada por isso futuramente. Fingi ser o garoto geek desajeitado e deixei cair meu copo vazio no chão, apenas com o intuito de pode-la apreciar de uma dimensão diferente. Foi o que fiz quando a vi se aproximar.
  — Vejam só o pobre atrapalhado. — zombou parando a minha frente. Levantei os olhos e sorri com minha exuberante visão. estava inteiramente de preto, com roupas justas que marcavam cada curva pecaminosa de seu corpo, ela estava de salto o que a fazia ficar quase na minha altura. O que seria muito conveniente quando ela fosse me beijar por livre e espontânea vontade. Os fios lisos estavam cacheados e pela primeira vez desde que nos tornamos "amigos" ela pareceu realmente animada.
  — Fazer o que. Acho que fiquei em choque por ver de calças, todo mundo sabe de seu vício compulsivo por saias. — brinquei me perdendo dentro daquelas esferas amendoadas. pôs a mão na cintura de forma autoritária.
  — Meu caro , isso não passa de uma grande mentira.
  — Não é não, uma grande mentira seria dizer que você não é a mulher mais bonita desta festa. — coloquei uma mecha de cabelo atrás de sua orelha e sorri ao ver que ela havia corado. Ela podia negar o quanto quisesse, mas bem ali, dentro dela havia um lugar destinado à , mesmo que ela ignorasse fervorosamente.
  — Então se está dizendo a verdade, gostaria de dançar com a garota mais bonita da festa? — franzi a testa, estranhando seu pedido, ela deu de ombros — Sem tive vontade de ir em um baile Sadie Hawkins, deixa eu me divertir, seu chato.
  — Com prazer. — segurei a mão que ela me estendia.
  E assim seguimos até a sala de estar — que sem os móveis se assemelhava bastante a um grande salão de festas — onde a maioria dançava, a música estava altíssima e isso parecia agrada-la. No meio do caminho bebeu dois ou três drinques que lhe ofereceram e isso a deu coragem e confiança, duas coisas que combinam muito bem com ela. Seu corpo começou a se mover no ritmo da música, lento e sensual, depois ela passou os braços ao redor do meu pescoço e me fez segui-la.
  A grande maioria era um desastre. Pareciam um grande bando de idiotas, eu preferia que Olívia tivesse chamado o mínimo de pessoas, mas não, ela tinha que chamar uma trupe do que há de melhor na escória. Ainda assim tudo ia bem. estava feliz e atrevida, dançando com seu corpo rente ao meu, mas tudo o que é bom dura pouco.
  — Oh! O casalzinho feliz! — gritou vindo do além dos ex-namorados. Puxando pelo braço e apontado o dedo em minha direção — Não acredito que me trocou por esse trouxa.
  — Me solta. Você está bêbado e com um cheiro péssimo. — disse ela com desprezo, tentando se livrar de suas garras que se fincavam em seu braço.
  — Se você se afastar agora poderemos fingir que nada aconteceu. — avisei de forma cavalheiresca. Tinha me reprimido demais, isso já começava a me fazer mal.
  — Claro, aí você sairia com o rabo entre as pernas como sempre faz. — anunciou chamando toda a atenção para ele, grande pavão que era — Vaza daqui e eu não arrebento a sua cara.
  — Babaca! Vamos embora, .
  — Opa, você fica, amor. Temos muito o que conversar. — o observei aproximar seu rosto do de e aquilo foi a gota d'agua.
  A puxei para trás e avancei contra ele, só ousaria tocar uma vez naquele inseto.
  Acertando um único soco no meio da testa do desgraçado, o nocauteando automaticamente. Era difícil descobrir ao certo quem estava mais surpreso, o bando de desconhecidos, ou o pobre moribundo estatelado no chão. Diria que no final fui eu. se aproximou apenas alguns centímetros e sua boca aveludada estava sobre a minha, em um beijo leve e puro que me deixou extasiado. Ouvi uma salva de palmas quando nos separamos.
  O percurso desde a sala até o quarto de hóspedes no andar de cima foram apenas flashes. Quando dei por mim, estava pressionado contra a parede com em cima de mim, me beijando com selvageria, as mãos movendo por minhas costas. Seus lábios desciam por meu pescoço e eu senti meu corpo se enrijecer por completo. Só podia ser um sonho.
  Aqueles lábios febris e intensos estavam repletos de urgência e paixão voltados a mim. Desta vez nossas peles ardiam e eu sabia o que ela queria e ansiava por dar a ela todo o prazer em uma bandeja de prata. O desejo maior era o meu, o controle tinha de pertencer a mim.
  Minhas mãos envolveram sua cintura fina e desceram até suas coxas, a erguendo e a pondo ao meu redor, apertei seu traseiro e ela soltou um gemido abafado entre os incessáveis beijos. Eu não podia me separar dela, se o fizesse perderia meu oxigênio e morreria ali mesmo. Segui a passos cegos até a cama, onde sentei com ela sobre mim.   Suas mãos curiosas procuraram a barra da minha camisa e rapidamente a encontraram, deixei minhas neuroses de lado e ergui os braços, a ajudando. Quando ela se desfez da peça e observou meu corpo não tocou no assunto que eu estava louco para não falar, ela acariciou meu peito e voltou a selar nossos lábios.
  Eu me sentia em chamas, fora de mim, com uma necessidade anormal de arrancar sua roupa e possui-la de todas as formas e em todos os cômodos daquela casa. Era um desejo sufocante para se prolongar, mas ela era virgem. Não uma virgem qualquer como Brooke quando a conheci, mas sim a mulher que amo e idolatro. Isso tinha de ser contido. Arranquei sua blusa em tempo recorde e assim o fiz com o sutiã, contemplei a beleza de seus seios e tornei a toma-la em meus braços e a deitar de costas na cama.
  Deitei sobre ela e beijei seu queixo, seus olhos estavam fixos em mim e sua expressão não era da mais relaxadas.
  — Eu estou nervosa. Nunca fiz isso antes. — confessou com a voz fraca.
  — Melhor ainda. Eu sei o que estou fazendo, fique tranquila, amor.
  Deixei que minha língua seguisse desde seu queixo, delineando a elegante curva do pescoço até o espaço entre os seios, beijei levemente o esquerdo em seguida o tomando com a boca. A senti estremecer em baixo de mim, elétrica e ofegante. Continuei a chupar um e a brincar com o outro, minha mão foi aos poucos descendo, abrindo os botões de sua calça. Rocei o dente no mamilo sensível e desta vez ela se permitiu um gemido mais alto.
  Beijei sua barriga, carinhosamente, enquanto minhas mãos trabalhavam em se livrar da calça, o que foi tratado rapidamente, ao passo que me aproximava de seu sexo ela se tornava apreensiva. Não era bem a minha vontade, mas refiz o caminho, desde sua barriga até seu pescoço. Ela estava excitada demais e eu prestes a explodir.
  — Tudo bem, amor. Apenas relaxe. — a acariciei por sobre o tecido fino da calcinha, a sentindo encharcada. Meu membro começava a reclamar pela tortura a que estava sendo submetido.
  — Eu não sei porque sou assim, eu confio em você é só que... — as palavras escaparam de seus lábios quando ela gritou ao sentir meus dedos acariciarem diretamente seu sexo e se enterrarem dentro dela, sem cerimônia — O que está fazendo?
  — Te dando prazer, na verdade é só o começo. — mordisquei sua orelha, assistindo cada reação, enquanto mergulhava mais um dedo dentro dela, realizando movimentos circulares. Ela fechou os olhos e uma de suas mãos apertou os lençóis, a outra tomou um rumo inesperado. Alcançando meu membro ainda guardado, ela pressionou sua mão contra ele, o acariciando sobre o tecido. Isso me fez aumentar meu empenho com ela.
  Eu os retirava e tornava a enterra-los dentro dela. Ela era tão quente e macia, conforme suas pequenas mãos me tocavam eu podia me imaginar dentro dela. Indo cada vez mais fundo, a satisfazendo por completo. Beijei seu pescoço e ela inclinou cada vez mais a cabeça para trás. Sua mão soltou o lençol e segurou meu ombro em desamparo. Ela abriu a boca e um gemido longo e baixo saiu. havia gozado, ela estava mais do que pronta.
  E então eu cometi o erro. Sim, o erro de olhar para ela, tão frágil e perfeita, nua e excitada a mercê dos meus desejos e completamente inexperiente. Intocada, pura, minha. Por longos anos eu sonhei com ela, fantasiei muitas vezes com isso, mas a realidade era muito melhor. A garota que eu sempre desejei e que nunca olhou para mim, estava deitado debaixo de mim, desfalecendo depois que eu lhe dei um orgasmo.
  O modo como seu peito se movia conforme ela respirava, os lábios entreabertos, os olhos fechados, e os cabelos despejados por sobre a cama e sua pele quente na minha, estes devem ter sido os fatores que me guiaram naquele momento.
  — Eu te amo. — suspirei, ignorando toda a razão.   Seus olhos se arregalaram ao me olharem. Segundo ela, nós nos conhecíamos há apenas dois meses, era extremamente estúpido soltar um " Eu te amo" daquele tão repentinamente. Muitos garotos diziam esse tipo de coisa em tais momentos só para conseguirem uma transa, mas sabia que eu não era assim. Embora doesse ela não me amava, não ainda.
  O balançar de sua cabeça e as inúmeras vezes que ela piscou deram a entender que eu estraguei o momento. puxou os lençóis por sobre o corpo, se escondendo ao se sentar na beirada da cama. Coloquei minha cabeça para funcionar, mas meu cérebro me deixou na mão.
  — , eu… desculpe não era momento. O que eu quero dizer é que eu gosto muito de você e… — quanto mais eu tentava me explicar mais eu me enrolava.
  — ? — calei a boca e prestei atenção no que ela queria dizer — Pode me deixar sozinha?
  Fiquei sem reação. Estava sendo expulso. Tudo voltará a ser como antes.
  — Posso, sim. — peguei minha camisa e a vesti, olhando para a garota encolhida em meio aos lençóis. Mais um pouco e ela teria sido minha, mais um pouco e eu seria inesquecível para ela, mais um pouco e ela me amaria também.

Capítulo 7

  — Quando o correio a entregou hoje de manhã, meu primeiro impulso foi correr até o escritório para te contar. — relatei, com um súbito interesse pelo meus dedos que batucavam na mesa. Ele percebeu meu desconforto e sua grande e protetora mão cobriu a minha, restabelecendo o meu sossego.
  — Mesmo depois de três anos não se acostumou com a minha ausência? Deveria tomar cuidado ou vão querer te internar aqui. — sussurrou como se fosse perigoso que eles nos ouvissem.
  Apesar de estar naquele cenário de clínica de reabilitação, as roupas e as mesas postas uma ao lado da outra como numa cadeia não alteraram o seu bom humor. Infelizmente eu não tinha permissão para ir sempre que eu queria, por isso foram raras as vezes em que nos vimos nos últimos três anos. Ele ainda estava tão bonito, Brooke era idêntica a ele, o mesmo cabelo preto e os olhos absurdamente azuis.
  — Foi só desta vez, mas o doutor disse que você vai muito bem e que em breve poderá receber alta. — descartou minha notícia com um aceno.
  — É sempre a mesma coisa, eu melhoro e quando estou prestes a sair tenho uma recaída. — suspirou com os olhos tristes — O que aconteceu com a Brooke me deixou deprimido, eu queria poder vê-la, mas não assim, eu quero estar bem e livre para cuidar de vocês duas. — então um largo sorriso surgiu em seu rosto — Minha garotinha vai para Yale, se tornar uma advogada de prestígio. Está realizando o sonho de todo o pai.
  — A maioria dos pais sonham com suas filhas se casando com homens exatamente como eles. — alfinetei com a voz embargada de sarcasmo. Anthony riu com vontade, coisa que não fazia com frequência, presumo.
  — Tem razão. Você é uma gata, , vai arranjar um prodígio rapidinho na universidade.
  — Quanto a isso, eu acho que já tenho um namorado.
  — Você disse que terminou com o tal na semana passada.
  — Sim, é que quando estava namorando com ele eu meio que me apaixonei por outro. — meu pai arqueou a sobrancelha — Eu o trai e sei que depois do que aconteceu entre você e a mamãe…
  — Por Deus! Não confunda as coisas, . O que houve entre sua mãe e eu foi uma situação bem diferente, você é uma boa menina e se você se apaixonou o bonitão só pode ter feito algo de muito errado. — sondou, demonstrando que continuava um excelente advogada.
  — Ele é meio excêntrico pai, puro mistério, mas eu gosto tanto dele, me sinto presa a ele. — finalmente aquela relação entre pai e filha era reavivada, eu podia olhar para ele e ver um bom ouvindo e sábio conselheiro — Ontem ele disse que me amava e eu o mandei embora. Fiquei apavorada, em choque e ao mesmo tempo louca para poder dizer algo que não o fizesse se sentir tão mau.
  — Você não o ama. — anuí — Mas se gosta mesmo dele não pode afastá-lo toda vez que ficar confusa. Homens são muito sensíveis em questões como essa, se ele pensar que despreza seu amor vai nega-lo a você por mais que o doa.
  — Eu já o afastei vezes demais e o magoei.
  — Hum. — ele franziu os lábios e suspirou — Suas chances estão diminuindo, querida. A esta altura do campeonato ele pode ter deixado de te amar e pela forma que fala sei que não está muito longe de amá-lo também. Vá atrás dele.
  — Obrigado papai. — dei um beijo em seu rosto e ele afagou meus cabelos. Segui em direção a porta e o ouvi gritar — Compre flores para ele. Garotos nessa idade são românticos. — acolhi com carinho sua sugestão.

[…]

  Bati pela terceira vez na porta. Não sei ao certo se era pelo calor de 30° graus, a ansiedade e o receio de encará-lo depois de tudo o que aconteceu. Mas talvez fosse o simples fato de não saber onde enfiar a cara, enquanto ele se recusava a abrir a porta para mim. Foi quando aconteceu um movimento vindo de dentro da casa, no segundo andar.
  Ergui a cabeça, na tentativa de vê-lo, foi quando a porta se abriu e algum garoto passou buzinando de bicicleta. Droga! Tinha me esquecido que teria de bancar a babá com Alex, o filho da minha vizinha. Ele buzinou novamente.
  — Vem logo, ! — berrou do outro lado da rua — Se continuar demorando vou deixar de ser seu namorado.
  — Cala a boca. — gritei de volta, bufando para a careta medonha que me dava.
  — Já encontrou um novo namorado? — quando ouvi a voz de , me virei em sua direção. Ele estava na porta de braços cruzados, com uma expressão de poucos amigos. O inédito é que o vi com uma camisa de manga curta e os cabelos estavam molhados e para trás, ele parecia tão normal assim.
  — Não, na verdade eu vim recuperar o meu. — disse com a voz hesitante, ele pendeu a cabeça para o lado — Eu lamento pelo que houve ontem, eu fui uma grande idiota.
  — Infelizmente sou obrigado a concordar, mas eu também vacilei. Acabei dizendo o que não devia. — seus dedos correram por seus cabelos com nervosismo, ele parecia tão desconcertado quanto eu na noite passada. Na verdade vê-lo naquele estado me fez sentir melhor.
  — Você se arrepende?
  — Não. — respondeu confiante, me dei conta de que era tudo o que eu queria ouvir. Dei um passo à frente e lhe entreguei as rosas vermelhas que estavam murchando por culpa do calor.
  — Quer ser meu namorado? — perguntei repentinamente. Encontrando coragem sabe-se Deus onde.
  — Está brincando comigo?
  Balancei a cabeça em negação.
  — É verdade, eu quero ficar com você. — cheguei mais perto, passando a língua pelos lábios, antes de voltar a encará-lo — Não como um amigo, um caso de uma noite ou um amante. Eu quero que você seja meu e quero ser sua.
  Ele tentou não sorrir.
  — Apesar de toda a dor que você me causou ontem… — ele sussurrou, retorcendo os lábios — física e sentimental, eu aceito o seu pedido por mais esquisito que seja.
  — Eu pensei que o fato de sermos uma líder de torcida e um nerd já nos tornava fora do convencional e então não seria tão estranho se eu o pedisse em namoro. — expliquei, enfim voltando a respirar normalmente, livre do medo de ser rejeitada — Já que estamos entendidos eu vou indo.
  Alex me olhou emburrado, com as duas mãos sobre a buzina de sua bike pronto para instalar o terror. Eu precisava cuidar dele e ao mesmo tempo tentar lidar com o que eu acabei de fazer. Sentia como se fogos de artificio estourassem em meu interior, um desejo gigante de gritar para o mundo que apesar de ser uma grande idiota eu tinha tido coragem suficiente para retomar o controle da minha vida e estar dando uma segunda chance ao amor.
  — . — chamou , erguendo as flores até o nariz e sorvendo o perfume — Obrigada, namorada.
  — Não há de quê, namorado. — a palavra tinha o sabor de mel em minha boca, as laterais de meus lábios se curvavam em um sorriso bobo ao me despedir dele sem palavras.
  Alex fez um escândalo e eu não me importei, pois me sentia feliz como nunca antes. Se sentir amada era a melhor sensação da qual se pode desfrutar.

POV's

  Dizem que o sinal do fim é visível. Claro e gritante, tal como o sol sobre nossas cabeças. O primeiro sinal foi o ocorrido com Brooke , ela o aborreceu muito e por isso teve o destino cruel no qual estava aprisionada agora. Eu a visitei umas duas vezes com a .
  Sempre que olhava para o seu rosto pálido e magro eu me recordava do início do meu terceiro ano. Era apenas uma aspirante a líder de torcida recém transferida sem grandes chances ou expectativas, tive a sorte de sentar atrás da abelha rainha do Lafayette, . A perfeição em pessoa, não havia um que não a adorasse, aos olhos de todos ela era linda, poderosa e confiante, mas no real era um poço de neurose.
  Ela tinha problemas bem sérios que a impediam de enxergar seus pontos fortes, como sua gentileza e bondade. Se tornou rapidamente uma amiga leal e inseparável. Acontece que tende a ser bem difícil ser amiga de alguém como ela, que chama a atenção de todos, perto dela era uma garota invisível e isso era pior do que simplesmente não ser ninguém. Eu vivia assim, nas sombras até o dia em que Brooke nos apresentou numa festa.
  Consigo me lembrar como se fosse ontem, do rosto angelical e o porte atlético, do sotaque britânico e de sua conversa profunda e intelectual. foi de início cativante e amável e eu posso garantir que o amei desde que o conheci. De amigos fomos evoluindo para algo mais íntimo e em seguida algo que poderia ser encarado como imortal, ele partilhou seu segredo comigo, me tornou sua aliada.
  Eu quis morrer quando descobri que seu coração batia por ela, pela Miss Perfeição, .
  Hoje eu era capaz de lidar com este fator, podia aceitar o fato de que a amava e tinha a mim como segunda opção. Embora eu saiba que ela nunca acolheria o seu segredo como eu. Estava terminando de me vestir quando o vi surgir na porta do quarto, puxei o zíper do vestido e o fitei através do espelho.
  — Estou exausta, você me manteve ocupada a noite inteira. — suspirei, virando para ele e caminhando em sua direção, com um olhar malicioso — A Srta. Castidade deveria te deixar na mão mais vezes, estava tão bem disposto ontem.
  — Pode parar de se iludir, o que aconteceu não vai mais se repetir, a proposto essa tal castidade está com os dias contados. — se esquivou de mim, e se jogou em sua poltrona com um buque próximo ao rosto. Ele parecia encantado com aquele amontoado de flores murchas.
  — Quem te deu flores? — enrolava uma mecha de cabelo, mascarando o misto de raiva e ciúmes que eclodia em mim.
  — Minha namorada. , o amor da minha vida. — senti náuseas ao vê-lo tão apaixonado. afastou as rosas e me olhou com desinteresse — Você foi útil, . Pode ir agora.
  — Pretende mesmo continuar a me tratar como uma prostituta?
  — Pretende mesmo continuar a me atormentar? Chega de bancar a surda, suma da minha casa agora. — vociferou, mudando brutalmente de humor. Fiquei imóvel — , desapareça. Não suporto olhar para essa cara de vadia ciumenta.
  Engoli em seco e lhe dei as costas. As lágrimas queimavam ao cair por meu rosto, estava envergonhada e principalmente irada.... Com ela.

[...]

  O treino estava um verdadeiro horror, por mais que a treinadora tentasse nos fazer pegar a coreografia era impossível. Grande parte das garotas ainda estava convencida que o time ganhou o jogo graças a nossa coreografia divina e devido a este sucesso, era dispensável treinar qualquer outra. Obvio que eles tinham cérebros tão pequenos como uma ervilha, para pensarem assim. Já nossa capitã, parava de cinco em cinco minutos para responder as mensagens do namorado.
  Todos aqueles risinhos e conversas estava me dando nos nervos. Será que ela acharia adorável se eu contasse sobre a personalidade distorcida e psicótica do Romeo?
  Minha consciência me alertou para ficar quieta, haveria consequências em mexer com a doce . Que se dane! Estou cansada de viver a sombra dela, de ser chamada de vadia e ela de rainha. Está tudo errado.
  O treino acabou e fomos dispensadas para o vestiário, mas para mim aquele era um caminho muito longo. Principalmente quando continuava a conversar com o meu homem, na minha cara. Quando olhei para ela vi um saco de areia, pronto para ser socado.
  — O treino foi um desastre. — comentava uma garotas as minhas costas.
  — Talvez tivesse sido melhor se a nossa capitã não ficasse o tempo inteiro transando com o namorado pelo celular. — provoquei, estava a minha frente e parou na hora e me olhou, perplexa. O mesmo aconteceu com o restante da turma.
  — Do que é que você está falando? — disse em tom baixo, sem causar agitação. Discreta em excesso, pavor de humilhação, mesmo que já tenha vivido umas dez.
  Avancei até ela, confiante e atrevida, com as mãos na cintura e o queixo empinado de forma arrogante. Teria sido perfeito se eu fosse um pouco mais alto do que ela, mas um pouco mais baixa também serviria.
  — Estou falando que já chega. Não quero mais viver a sua sombra, deixar o time ruir só porque você não tem coragem de fazer sexo pessoalmente e prefere por mensagem. — provoquei risinhos abafados em nossas colegas — Você é covarde e fraca. Roubou tudo o que deveria ser meu. — meu tom de voz foi se elevando, assim como o burburinho na quadra — Eu te odeio.
  Quando disse meu corpo pareceu mais leve, então como programado, dei uma em . Acertando em cheio sua boca, aquilo a derrubou e eu parti para cima dela. Uma pacifista nata, ainda assim ela tinha sua fama de confrontos, por isso o golpe certeiro que a desarmaria de primeira. Uma vez em cima dela passei a dar socos em seu estomago e rosto e a arranhá-la.
  Acho que se eu tivesse uma faca teria matado ela ali mesmo. Minhas mãos foram envoltas ao pescoço e me aproximei de seu ouvido, sussurrando:
  — Depois que eu acabar com você, vou a casa do e nós vamos transar pra valer. Bye, bye, vadia.
  Ela estava começando a se debater, quando um grupo de meninas veio ao seu socorro me tirando de cima dela e a arrastando para longe. Observei enquanto a ajudavam a levantar. Quanto ódio eu sentia.
  — Não pense que acabou. Eu vou te matar, você vai para o inferno ainda hoje.
  — Meu deus! Ela só pode estar tendo um surto psicótico. — ouvi a voz de Natasha Ridley dizer em alto e bom som para todos. Outra piranha!
  Me arrastaram para fora da quadra como seu realmente fosse uma louca. É a forma como eu tremia e gritava palavras embargadas de ódio voltadas a davam a entender que era bem verdade. Eu enlouqueci de raiva.

[...]

  Á tarde meus pais me levaram a um psicólogo. Achavam que tudo não passava de um surto, movido a estresse e inveja, ouvi boatos de que a rainha da beleza quase perdera seu posto quando eu acabei com ela. Eles poderiam ficar juntos, mas eu a tinha marcado e isso era o suficiente para mim. Pois no exato momento em que abri minha boca no ginásio, a agredi, saí do psicólogo e pedi que me deixassem sozinha ao anoitecer eu sabia que ele viria. Eu não era digna de seu perdão.
  Tudo bem, eu sempre me imaginei morrendo por suas mãos mesmo e assim seria. Quando abri os olhos, tarde da noite ela já estava em meu quarto, sentado em uma cadeira a frente da cama, me assistindo dormir. A luz da lua invadia o quarto, ele estava todo de preto e com aquela expressão fria e cruel. vestiu sua armadura de psicopata para me encarar.
  — Estou honrada! Você veio especialmente atrás de mim. — falei sentando na cama, ficando de frente com ele.
  — Você a feriu muito hoje, a assustou e magoou.
  — Pobrezinha, quer que eu peça desculpas? — dei uma risada irônica, trágica demais para a ocasião.
  — Não existe perdão. — ele se levantou da cadeira e chegou até a beirada da cama, tocando o meu rosto — Eu tentei cuidar de você, mandei que se afastasse e não cometesse os mesmos erros que a Brooke, mas preferiu fazer pior. — notei uma pontada de dor em sua voz, segurei sua mão e a beijei.
  — Foi inevitável. Eu te amo, . Te amo loucamente. — solucei, deixando algumas lagrimas escaparem.
  — Agora você irá morrer por isso. — beijou o topo da minha cabeça e fechei os olhos, senti a lâmina fria acariciar a pele sensível de meu pescoço. Não tive medo, eu estava pronta, e depois cortá-lo o gosto de ferro encheu minha boca e por fim engasguei com o meu próprio sangue.

Capítulo 8

  Estava repleta de hematomas, grande parte na lateral do rosto. Por sorte, não era muito forte e com isso seus golpes não tinham ficado tão firmemente presos a minha face. Doía, sim, mas nada que uma boa base não pudesse disfarçar. Infelizmente a cabeçada que ela me deu quase custou dente, ele sobreviveu, mas deixou um belo corte em meu lábio superior que ardia ao menor toque. Por isso pedi para que não viesse me ver.
  Ainda havia o problema com o meu pescoço, o arranhão nele foi tão profundo que precisei levar seis pontos e estava com curativos para o caso de me reencontrar com e ela tentasse terminar o trabalho. Até agora eu não conseguia entender o que houve com ela, muitas garotas sentiam inveja umas das outras, mas eu nunca dei motivos para .
  Eu sempre a amei como se fosse minha irmã, fiz tudo o que pude por ela. Contudo eu jamais a coloquei para baixo, eu a amo de verdade e pensei que o sentimento fosse recíproco. Queria ligar para ela e pôr as cartas na mesa, descobrir o que aconteceu. me convenceu que seria melhor manter distância por enquanto, havia passado apenas um dia.
  Tinha terminado de trocar o curativo do meu pescoço quando ouvi meu celular tocar, eu o tinha deixado na sala. Corri para pegá-lo, lendo a mensagem no visor.
  " , sei que está meio deprê pelo que houve. Eu e as meninas encontramos uma forma de te animar, vou passar na sua casa lá pelas dez. Esteja linda.
  XOXO".
  Era a Natasha, a antiga chefe da torcida. Ela era uma garota muito alegre e divertida, mas não tinha muita certeza se seria uma boa ideia sair com ela. Ergui os olhos e aquele velho quadro medonho ainda estava na parede. Nunca gostei dele, desde que minha mãe insistiu em pendura-lo na parede. Na adolescência eu não fui uma moça muito bonita e a forma daquela fotografia, a expressão em meu rosto me dava calafrios só de olhar.
  Com tudo o que estava acontecendo nem me dei ao trabalho de trocar a moldura. O vidro ainda estava rachado, eu ainda sentia que ele estava envolvido com tudo. Me aproximei dele, antes que estivéssemos verdadeiramente próximos notei uma fraca luz vermelha sair do estilhaço no crânio.
  Foi assustador, levei a mão sobre meu peito, meu coração estava acelerado. Sem dúvida eram os analgésicos, eu estava pirando e por isso via coisas que não existem.
  — Não posso enlouquecer. Não posso enlouquecer. Não posso enlouquecer — repetia como um mantra ao me afastar daquele quadro.

[…]

  Virei o vigésimo Bourbon, sentindo minha garganta arder quando o líquido forte desceu, peguei mais um da bandeja do garçom. Natasha estava no meio da pista dançando com três caras de uma só vez. As demais meninas também dançavam e aproveitavam a companhia de outros caras. Eu me contentava em ficar perto do bar, bebendo sem parar e vez ou outra me movendo conforme a música eletrônica da boate.
  Confesso que quando a Nat me chamou pensei que estivesse pensando em me levar para o cinema, algum clube do livro, no máximo um restaurante, mas nunca em uma boate quase do outro lado da cidade. O lugar foi surpresa e graças ao bom deus eu decidi pôr um vestido. Por mais básico que fosse era melhor do que um moletom ou jeans.
  Candice Ridley, a irmã mais velha da Natasha estava de passagem na cidade, ela estava em seu último ano de psicologia na Yale. Em outras palavras nos tornamos melhores amigas de cara.
  Ambas éramos comprometidas e por isso evitamos toda a empolgação do grupo das solteiras. Era impressionante como ela conseguia beber bem mais do que eu em tempo recorde, sem falar que não parecia nem um pouco bêbado. Apesar de parecer embriagado por natureza, era curioso que alguém aparentemente desequilibrada como ela escolhesse a psicologia.
  — Depois que você for para a universidade isso aqui vai parecer brincadeira de criança.   — falou com a voz enrolada, agora ela parecia começar a ficar bêbada — Um brinde à Yale, a escola dos sonhos.
  Ela bateu seu copo de gim contra o meu, forte o bastante para fazer com que o meu copo caísse. Estava tão bêbada que nem me importei por ter manchado meus sapatos.
  — Opa, acho que deveria trabalhar essa sua agressividade.
  — Protesto!
  Começamos a gargalhar, zombando das futuras profissões uma da outra. Candice puxou seu cabelo ruivo para trás e o prendeu em um coque, com o rosto livre suas sardas ficavam mais evidentes, assim como os grandes olhos verdes e o sorriso debochado. Ela se apoiou no balcão e me observou atentamente.
  — A Nat disse que você namora um cara mais novo.— assenti, dando um longo gole em minha bebida — Quando eu tinha a sua idade namorei um cara mais novo, eu estava no quarto ano e ele na oitava série.
  — O que? Você está me zoando, né? — cuspi a encarando, incrédula.
  — É sério, foi quando comecei a atender no consultório do papai. Ele era uma graça, mas psicótico. Sua mente era muito perturbada, achava que era um garoto apenas diferente. — deu de ombros, olhando para o vazio — Estranho, mas chegava a ser assustador a forma como ele nos encantava, sempre dizendo o que queríamos ouvir, agindo da forma ideal. Ele podia ser dito como perfeito.
  — Engraçado, pelo jeito ele lembra o meu namorado, exceto pela parte do psicótico. Ele é totalmente normal. Pelos menos, no quesito psiquiátrico. — gargalhei ao pensar no quanto o garoto que ela estava falando era parecido com — Como é o nome dele?
  — Costumava chamá-lo de Hannibal, depois dos boatos que seu irmão foi devorado. — falou com a voz rouca e baixa, dando um toque de terror na frase — Dizem que ele o devorou.
  — Credo! — exclamei ficando em pé, mesmo que aos tropeços, segurei suas mãos a puxando em direção a pista — Vamos dançar. Assim você aproveita e esquece o filhote de exorcista, como conseguiu gostar dele?
  — Sei lá, ele soube ser envolvente. — Candice começou a girar, bem desajeitada como uma bêbada sem ritmo.
  Também comecei a dançar, balançando o cabelo e os quadris no mesmo ritmo. Ela me puxou, indo de encontro com o restante do grupo. Podia ser dito como um exagero, mas todas estavam eletricamente animadas e sua energia misturada com a alta quantidade de álcool ingerida me deixaram fora de mim. Dançamos por horas, todas as músicas mesmo a que não conhecíamos, tentávamos cantar mais alto do que o CD e nos perdíamos no ritmo.
  Olhei para cima e o misto de luzes me cegava e hipnotizava. Estava me sentindo mais leve, era o acidente de Brooke, a traição de , o surto de e o amor inesperado de sendo arrancados de meus ombros. , era livre e leve como uma pluma.
  Fechei os olhos por um longo tempo e quando os abri precisava vê-la. Corri quase sem tropeçar até o bar, paguei minha conta e fui direto para o estacionamento. Liguei o carro e comecei a dirigir o mais rápido possível, sentia um aperto no coração o mesmo desejo de estar com ela que senti no dia do acidente da Brooke.
  Poderia ser sexto sentido. Uma premonição. Não, era uma árvore mesmo.
  O impacto foi forte o bastante para partir a árvore ao meio. Ainda bem que tinha lembrado milagrosamente de colocar o cinto de segurança, do contrário teria sido arremessada para o meio da floresta.
  Ah! Eu peguei o caminho errado, entrei acidentalmente na floresta dos limites da cidade. Levei a mão a cabeça, o para-brisas foi trincado e alguns cacos foram arremessados para o interior do automóvel, um deles cortou minha testa e mesmo sem me machucar a batida me deixou mais fraca e tonta. Empurrei a porta, saindo do carro.
  Meus pés se atolaram na lama úmida. Deveria ter chovido. Meu celular ainda estava no bolso da minha jaqueta, comecei a discar o número da Olívia ao andar sem rumo pela imensidão negra. A embriaguez me deu coragem e tirou todo o juízo. Invés de ligar para a emergência ligava para a minha amiga.
  — , atende. Eu sei que tivemos momentos difíceis, mas eu amo você. Você é como uma irmã comigo, corro o risco de perder a Brooke, não posso perder você tam... Jesus Cristo! — a frase ficou pelo avesso quando uma generosa gota de sangue acertou minha testa. Meus membros gelaram e sem o meu consentimento olharam para cima.
  Aquilo seria um braço?
  Recuei vários passos para trás, vendo a tela de um massacre sendo ampliada. Era um grande carvalho antigo, repleto de galhos, algum monstro louco resolveu adorna-lo com os membros de alguém. O esquartejador usou uma espécie de fio e os amarrou aos pedaços do corpo e os atou nos galhos do carvalho. Eram vários. Haviam órgãos também.
  Parecia um filme de terror. Novamente me vi envolvida numa realidade macabra, repleta de sangue e fedor de morte e vi o rosto da vítima pendurado no galho mais alto.
  — Não. — gritei caindo por terra, o pranto veio forte e violentamente sobre mim. O corpo mutilado era dela, era da . Eu sabia. Eu senti e não consegui salvá-la — , perdão. Perdão por tudo. Eu fui uma estúpida, eu deveria ter morrido no seu lugar. Perdão, perdão. — solucei sentindo a dor familiar apertar o meu sofrido coração.

[...]

  Outro flash atravessou a cortina quando eu a fechei. Por uma pequena fresta continuei a observa-los. Eles eram tantos e estavam parados a minha porta desde manhã cedo, gritando, batendo em minha porta, ligando e tirando mais e mais fotos, como se eu fosse alguém realmente interessante.
  Me afastei da janela, não tinha nada para ver daquelas pessoas, só me importava com eles bem longe de mim. Rondei a sala, procurando por algo que me distraísse, o velho quadro foi o eleito. Parei diante dele, o perguntando em pensamento se ele também tinha a resposta para o que aconteceu com a .
  A luz vermelha trespassou por meus olhos novamente e atingiu um ponto específico, segui seu caminho e por menos de um milésimo de segundo ela iluminou o ombro de , que se sentava no sofá, ocupado demais com seus afazeres.
  Doía pensar que aquelas pessoas estavam estacionadas na fachada da minha casa por me considerarem uma sensitiva. Que era atraída pelos mortos, ou a própria assassina. Em três meses encontrei dois corpos vítimas de atentados violentos, ninguém se importava com a dor ou a perda, só com quem publicaria a manchete primeiro.
  — " e eu fomos como irmãs. Nossas vidas estiveram atadas desde o início. Ela era uma garota excelente, com um destino vitorioso pela frente." O que acha? Está só no começo, mas me pareceu muito bom. — leu ele, jogando seu caderninho no sofá ao lado, olhando com ansiedade para mim.
  — Você está escrevendo um discurso fúnebre?
  — Estou, afinal o enterro é hoje e você não está em condições de escrever algo. — explicou ele.
  — Eu não irei ao funeral e você não tem o direito de pôr palavras na minha boca. — berrei extravasando toda a minha cólera, os visitantes do lado de fora ouviram e se alvoroçaram a porta. Ignorei os gritos e apanhei o caderno de , o estraçalhando com as mãos — Vá embora, saia da minha casa. Agora.
  Gritei, tentando ser firme, quando na verdade tremia como uma garotinha em pânico. Ele não se moveu e isso me irou profundamente, o puxei pela camisa. Ele levantou e eu comecei a soca-lo compulsivamente no peito, tentando de forma histérica e desesperada lhe infligir dor, sua paz era aterradora para mim, me sentia uma pilha de nervos. Tão impotente, sozinha e arrasada, eu queria que ele sentisse o mesmo que eu.
  Queria que ele sofresse, mas aos poucos os socos foram enfraquecendo, os gritos abaixaram e tornaram-se resfôlegos em meio ao choro. Meus braços se envolveram ao redor de sua cintura e apoiei a cabeça sobre seu peito. O abraço apertado que me envolveu foi como o paraíso acalentando a um descrente.
  — Você precisa ir, . Ficar perto de mim é perigoso. Todos os que eu amo e que me amam morrem. Devo ter sido vítima de alguma maldição, deve haver algum louco empenhado em me destruir, sei lá. — me apertei mais contra ele, sentindo sua respiração contra o meu cabelo — Estou tão triste e cansada, não suporto mais sofrer, esse sofrimento está tampando minha garganta e me sufoca cada vez mais. Eu quero gritar e dizer ao mundo que ele conseguiu me esmagar. Eu quero morrer.
  — Shii, não diga isso nem de brincadeira, . — advertiu, acariciando minhas costas — Coisas ruins acontecem, infelizmente, antes do arco-íris sempre vêm a tempestade. Abras os olhos, eu estou aqui e não vou a lugar nenhum. Vai ser perigoso para mim ficar longe de você, perto um do outro estaremos seguros.
  Levantei a cabeça, encarando seus negros olhos, repletos de segurança. Suas mãos seguraram o meu rosto e eu pisquei várias vezes, tentando encontrar uma forma de fazê-lo partir.
  — Eu não quero te perder, tenho tanto medo.
  — Posso te ajudar com isso, posso te fazer deixar de ter medo. Basta querer. — ofereceu ele.
  — , eu quero. Quero deixar de ser covarde, me tornar forte e destemida. Alguém indestrutível, que não chora, não sofre e não teme.
  — Você será, eu prometo.

Capítulo 9

  — ? — chamei com a voz hesitante.
  — Sim? — ele interrompeu o que estava fazendo e virou a cabeça em minha direção.
  — Eu posso não fazer isso? —pedi na esperança de ouvir um “Sim” como resposta.
  — Combinamos sem desistências, lembra? — se aproximou, se posicionando atrás de mim e apoiando meu braço, me ajudando a parar de tremer — Olhos fixos no alvo. — sussurrou em meu ouvido — Mais para cima, isso. — seus lábios roçaram em minha orelha e seu corpo pressionou o meu de forma descarada — Segure firme, com mais força, . Excelente. Respire e atire.
  Me deixei levar por seu comando. Não estava certa do que tinha de fazer, mas ele me passava uma força, poder que eu queria ter. Segundo, , esse era o único jeito de o obter. Respirei fundo, estreitei os olhos, fixos no alvo e puxei o gatilho. O som do tiro era ensurdecer, assim como sua velocidade era surpreendente, quando levantei os olhos mirei o cervo caído em meio a grama.
  — Meu Deus! Eu o matei. — sibilei, arregalando os olhos e levando a mão sobre a boca.
  — Parabéns, meu amor. — seu beijo estalou em minha bochecha, retirou o rifle de minhas mãos e seguiu caminhando a minha frente — Estou tão orgulhoso, até parece que você nasceu para isso.
  — Não tenho tanta certeza assim, querido.
  Conforme me aproximava uma onda de náuseas me atacava. O tiro atravessou a garganta do pobre animal, lhe rendendo um buraco cheio de sangue. Seus olhos estavam abertos e ele me encarava, mesmo sem vida, com melancolia e decepção. Na mesma hora senti remorso e me arrependi de ter aceitado o convite de para caçar. Não sirvo para matar, não mesmo.
  — Cometi um erro, eu não tenho o direito de matar um animal indefeso. — constatei, ousando tocar em seu cadáver, com as mãos trêmulas.
  — Tem sim. — protestou ele, retirando de sua bolsa uma longa adaga — Nós estamos no topo da cadeia alimentar, somos a elite, eles não passam da escoria. Alguns humanos também se enquadram no mesmo grau que eles. — ele me ofereceu e eu a peguei, mesmo sem saber o que ele queria que eu fizesse com ela.
  — Não sente remorso?
  — Não.
  — Nunca?
  — Nunca.
  — Você não pode ser normal.
  — Eu sinto de menos e você sente demais, nenhum de nós é normal. Quando aprendemos do que somos capazes nos tornamos fortes. A força está aqui. — meu namorado tomou minha mão com destreza e se pôs a guia-la, seu plano era arrancar a pele do animal. Supri a vontade de vomitar — Em controlar a vida e a morte dos outros.
  — Eu não quero controlar a vida ou a morte de ninguém. — desviei o olhar do que se passava diante de mim.
  — Para de ser covarde, . — gritou ele, me fazendo voltar a olhar imediatamente. Sua voz voltou a ser suave — Não tenha medo, você já viu coisa pior. Foi isso o que fizeram com a , imagine que esse cervo a feriu. Não há nada mais puro do que uma boa vingança.
  Aos meus ouvidos o que ele dizia fazia sentido. O ato foi deixando de ser tenebroso e se tornou divertido, quase que prazeroso. Eu agia conforme ele mandava, até que tivéssemos finalizado.
  — Bom trabalho, quer caçar mais? — perguntou com animação, certo de minha resposta.
  — Quero.
  — Está com medo?
  — Não mais. — sorri, comtemplando minha arte no animal — Acho que eu levo jeito.
  — Concordo plenamente.

[...]

  Á primeira vista ninguém poderia imaginar que tipo de homem era . Eu costumava pensar nele como alguém incompreendido, solitário e espetacularmente inteligente e romântico, mas me enganei. conseguia ser muito mais do que isso, havia um lado seu que se manteve oculto de mim no início e que aos poucos ia se revelando. Hoje descobri o seu lado selvagem, após caçarmos ele me ensinou a atirar, usar flechas e alguns golpes de luta. Me fez esquecer um pouco das desgraças que tanto me assombravam.
  Depois do pôr do sol ele se recusou a me levar de volta para casa, fez questão de me apresentar a uma de suas choupanas na floresta. Ficar naquele lugar não me agradou tanto, porém acabei cedendo ao seu desejo. Afinal, ele me ajudou tanto, não custava nada o acompanhar desta vez.
  Diferente do que eu esperava não era nenhuma casinha de madeira, caindo em nossas cabeças, coberta de mato e ratos por toda a parte. Ela era grande e agradável, bem construída e parcialmente mobiliada, e o pai costumavam usar aquele lugar quando iam caçar e acabavam se empolgando. Por isso, as cabeças de animais e rifles espalhados por toda a parte. Era uma decoração rustica, mas eu gostava. Principalmente a parte da grande lareira próxima a porta de entrada.
  Estava deitada sobre o tapete em frente a ela, me aquecendo naquela noite fria. AS chamas alaranjadas eram fascinantes e eu não conseguia tirar os olhos dela, me provocavam uma sonolência.
  — Não me diga que está dormindo? — inquiriu , girei o corpo em sua direção. Ele tinha acabado de sair do banho, vestia apenas uma calça presta, o tronco estava desnudo e os pês descalços, ele passava uma toalha sobre a cabeça, secando os cabelos.
  — Quase. — murmurei, fechando os olhos, fingindo estar adormecida.
  Seus lábios se pressionaram contra o meu, sua língua pedindo passagem e eu a dei de bom grado. Desta vez ele não foi delicado ou gentil, não, ele foi áspero e selvagem, um homem com um proposito. Eu sabia bem qual era e estava pronta para aceita-lo. Me entregar de corpo e alma, por completo a ele.
  Senti seu corpo cobrir o meu, a mão percorria meu corpo, abaixando meu vestido e envolvendo meu seio em um aperto leve e tentador, mordi seus lábios ao sentir o calor de sua pele na minha.
  Soltei um gemido entrecortado, sua boca está em meu pescoço me beijando e mordendo, enchi a mão com seus cabelos espessos. Me contorcendo provocantemente embaixo dele. Os dedos de seguem desenhando círculos ao longo das minhas coxas, fazendo minha pele formigar, em seguida agarra e aperta minha bunda deslizando para debaixo do meu vestido, pressionando-me contra sua virilidade que se mostra bem-disposta.
  — . — sussurrei em seu ouvido — Eu não vou te parar hoje.
  — Isso me deixa bem mais aliviado. — ele franze os lábios achando graça, sua boca roça na minha, mas não me beija. ergue a cabeça, vendo melhor meu rosto — Acho que estou em desvantagem, você é linda demais para resistir.
  — Eu perco o ar toda vez que olho para você. — admiti, algo percorreu seu rosto, poderia jurar que se tratava de surpresa — Estou tão apaixonada por você.
  — Paixão é um bom começo. — ele sorri maliciosamente e pressiona a virilha contra a minha mais uma vez.
  — Vou aprender a resistir a isso?
  Em seus olhos surge um deleito lascivo, percorrendo uma de suas mãos de forma insolente por meu corpo, apalpando e acariciando por onde passa, beliscando meu mamilo no caminho.
  — Ai! — gemi e isso o fez rir.
  — Esqueça, tentar resistir é inútil. — retrucou, tentando me beijar.
  Jogo a cabeça para o lado, com o intuito de impedi-lo. Prontamente ele toma aquilo como uma afronta e o vejo verdadeiramente contrariado, sua mão segura meu queixo, enquanto ele passa os dentes pelo meu maxilar. Uma queimação brotou no pé da barriga e subiu até meu peito, arfei com a caricia de seus dedos em minha intimidade.
  — Nunca mais. — ele enterra a cabeça na base do meu pescoço — Tente me impedir. — sua respiração vai se suavizando à medida que seus lábios deslizam para os meus seios.
  — Com prazer... Ah! Caramba. — sussurro ao vê-lo circular meu mamilo com a língua antes de colocá-lo na boca e sugar com força.
  Eu gemo e me contorço ainda mais, arfando contra seu corpo. Sinto seu sorriso sobre minha pele e ele volta a atenção para o outro. Suas mãos dessem até meu quadril e ele finca seus dedos em minhas coxas, me mantendo grande parte do tempo de olhos fechados e extasiada de excitação. Quando os abro meu vestido, assim como sua calça são um embrulho no meio da sala.
  Seus olhos se encontraram com os meus, como que pedindo permissão e eu a concedi. Senti uma pontada dolorosa quando ele entrou dentro de mim, ele era duro e incomodo, mas eu estava pronto para senti-lo, ele aproxima seu rosto o meu sem nos tocarmos e após alguns instantes imóvel ele começa a se movimentar dentro de mim. De forma lenta e agradável apenas para que eu pudesse me acostumar.
  Aquilo tem um certo efeito sobre mim, seu ritmo vagaroso não mais é o bastante. Eu quero mais, anseio por isso. Antes que eu diga qualquer coisa ele inverte as posições, eu fico sobre ele, sem saber bem o que fazer.
  — Me dê o seu ritmo, . — suspiro com os lábios entreabertos, ainda confusa — Tome o controle. — me segura firmemente pelos quadris e meu corpo me guia.
  Experimente uma grande sensação de poder na posição em que estava. Tinha o controle sobre tudo, sobre mim e sobre ele. Eu sabia que precisava e desejava por ele. Comecei a me mover sobre ele, lentamente o sentindo me preencher por completo. Joguei a cabeça para trás e pressionei seus ombros ao arfar de prazer.
  Conforme meu instinto me guiava eu aumentava o ritmo, acelerando cada vez mais. As mãos dele apertavam com força meus quadris, vez ou outra subindo por minha barriga e tocando meus seios. Era um prazer absoluto, inigualável que eu estava experimentando.
  Estou sem folego, descontrolada.
  Ele abre um sorriso feroz e irresistível. Desta vez se levantando, me sentando sobre ele. Ambos nos movemos, mas é ainda mais intenso e determinado do que eu.
  O fogo que se acendeu em mim arde com feracidade, meus membros parecem se enrijecer, abraço seu pescoço e enterro minha mãos em seus cabelos. Ele me envolve com força em seus braços, os olhos adquirindo um tom mais escuro revelam seu prazer.
  Sinto o rubor em minha face.
   sorri, ele segura meu queixo, ergue minha cabeça e deposita um beijo casto em minha boca.
  — Eu te amo.
  Desta vez sua confissão não me espanta, ela me faz querê-lo ainda mais. Se é que é possível.
  Fecho os olhos e explodo com intensidade ao chegar ao meu clímax. O mesmo acontece com ele quase que na mesma hora, automaticamente me sinto fraca e caio meu corpo sobre o dele, praticamente desfalecida. Assim permaneço, com a cabeça sobre seu ombro, alisando seu braço.
  — Por que tantas marcas? — perguntei, tomando coragem para falar sobre as cicatrizes em seu peito e braços, aproveitando seu estado afável.
  — Um bom caçador sempre tem cicatrizes. — respondeu beijando meus cabelos.
  — Aham. — assenti, fechando os olhos, prestes a adormecer —Eu amo você...

[...]

  Andávamos de mãos dadas pelos corredores. O fim do ano estava chegando, juntamente com as provas e o estardalhaço para saberem se foram ou não aceitos nas universidades desejadas. Eu estava um poço de felicidade, afinal tinha a vaga garantida em Yale, os últimos eventos no qual estive envolvida não prejudicaram minha entrada na universidade, mas eu torcia para que traumas como o de Brooke e não viessem nunca mais a acontecer.
  Estar com era como viver no paraíso, ele era como eu desejava. Gentil, doce, romântica, divertido e atrevido nos momentos certos.
  Depois da nossa visita a choupana estes certos momentos foram triplicados.
  Paramos diante da minha sala, era hora de nos separarmos, mas nestas últimas semanas em que fiquei fora por conta do que houve com não me separei dele por nenhum instante. Era doloroso se despedir, mesmo que por duas horas.
  — Você poderia matar essa aula. — sugeriu , apertando minha cintura e se aproximando de mim, como sempre fazia quando queria me convencer de algo.
  — Nem pensar, se quiser continuar com a minha vaga tenho que ser uma aluna exemplar. — argumentei, me esquivando de seu enlace e lhe dando um beijo na bochecha.
  — Yale, Yale, Yale. — arremedou com a voz se assemelhando a minha, não sabia que ele era bom com imitações — Pensa mesmo que vai conseguir viver em Connecticut sem mim?
  — New Haven não é tão longe, nos veremos no final de semana, vai ser ótimo. — prometi, revirou os olhos e assentiu.
  Antes de entrar na sala o observei se afastar, Candice passou do lado oposto ao dele e sua expressão mudou da agua para o vinho, quando chegou até mim seus olhos estavam arregalados, ela tinha ficado pálida e tremia sem parar.
  — É ele. — ela apontava para — O garoto louco, o psicopata.
  — Está enganada, Candice. Aquele é o meu namorado, . — tentei explicar, enquanto a acalmava.
  — , ele mesmo. — gritou de forma histérica, me segurando pelos ombros e me chacoalhando — Precisa ficar longe dele, eu o diagnostiquei como psicopata. Ele não possui emoções, tudo o que demonstra é falso e sem verdade nenhuma, o caso de é ainda pior, pois ele tem tendências homicidas e é agressivo. Alguém como ele pode surtar a qualquer momento.
  — Chega de dizer absurdos. — a empurrei, em choque com suas acusações sem cabimento — Você teve uma paixão platônica por ele quando criança e agora quer me convencer de que ele é alguma espécie de louco para me tirar do caminho. Por Deus, Candice! Não imaginei que você fosse esse tipo de pessoa.
  — Porque eu não sou. Eu sei pelo que está passando, mesmo aos catorze anos ele já era carismático e persuasivo ao ponto de nos moldar segundo a sua vontade. Ele a enfeitiçou e vai fazer com que você dance conforme a música dele.
  — Acho que a única doida aqui é você, Candice. Adeus.

Capítulo 10

  Fui incumbida de uma tarefa de grande importância — e se tratando do baile só haveria diversão — já que este seria meu último ano e eu costumava ser a presidente estudantil por três anos seguidos. Este seria o meu presente de despedida aos colegas que partiriam e os que ficariam. Em outras palavras eu estava realizando este baile para o , ao passo que a minha viagem para Connecticut se aproximava ele se tornava mais arisco e distante de mim.
  Parte de mim sabia que ele desejava que eu desistisse de uma hora para outra e ficasse em Indiana com ele, mas isso definitivamente não iria acontecer.
  Eu confessei que o amo — apesar de ter pegado no sono e ter ficado quase dois dias inconsciente ele considerou este episódio como sendo muito romântico —, entretanto abrir mão dos meus sonhos e objetivos estava fora de questão. Estudaria em Yale e me formaria em direito como meu pai, este era o plano e não seria modificado independente das circunstâncias.
  Um outro problema que vinha me tirando a paz e torturando o meu era a aspirante a psicólogo alcoólatra. De acordo com Candice, era um psicopata perigoso e dissimulado que estava me usando apenas para inflar seu ego nada modesto e depois me descartaria, na pior das hipóteses por meio de uma morte violenta e sangrenta.
  Depois de setenta e oito mensagens decidi manter meu celular desligado.
  No entanto ao acordar naquela manhã, ouvi alguém tocar a campainha. Quando abri a porta não havia ninguém, apenas um envelope amarelo sobre o tapete, o abri e era um dossiê. Contendo informações sobre um tal de Richard , só podia ter algum grau de parentesco com o . Dentro havia um bilhete.
  “Sei que você não quer me ver ou falar comigo, eu também não iria no seu lugar. Nos damos tão bem e a última coisa que quero é que se machuque. Quando digo para se afastar do não é porque eu o quero para mim, mas sim porque ele pode te causar muito sofrimento. Por favor leia, e se possível, acredite em mim. Candice.”
  Passei duas ou três horas, lendo e relendo o arquivo. Era todo o caso sobre o assassinato de Richard aos doze anos de idade, o homicídio permaneceu em aberto por muito tempo, contudo nunca encontraram o culpado. A opinião da mãe era de que o assassinato teria sido cometido pelo meio-irmão menor de Ritchie, G. .
  Pensando melhor, não me lembro de ter comentado sobre o irmão. Como alguém que foi apontado como possível assassino do irmão não fala nada sobre o assunto? Nem por uma vez sem querer?
  Numa das páginas constava o endereço da mãe de Richard. Ofélia Thurman. Eu poderia visita-la.

[...]

  — Boa tarde, Sra. Thurman. — falei ao aceitar seu convite para que me sentasse no divã a sua frente — Como eu disse mais cedo no telefone sou , estou cursando direito na universidade. Neste semestre nos entregaram casos do qual deveríamos formular uma teoria sobre o assassino. Segundo o que li o assassino do seu filho não foi encontrado.
  — Obrigado, Inês. — a empregada trouxe o chá, a Sr. Thurman me entregou uma xícara e pegou a outra, quando terminei de falar ela afastou a bebida de seus lábios e esboçou um sorriso triste — Meu doce Richard era tão bom. Todos se cegaram para a verdade, culparam deus e o mundo. Mas protegeram com unhas e dentes aquele diabinho. Foi o bastardo, .
  Engasguei quando a ouvi. Na época em que Richard morreu era uma criança, com não mais do que dez anos. Incapaz de fazer mal a alguém. Me empertiguei, adotando uma postura formal de uma simples estudante sem grandes interesses no assunto.
  — Bem, segundo os arquivos você o acusou, mas o juiz não levou em consideração. tinha dez anos ele era apenas um menino.
  — Um menino mau, com simpatia pelo demônio. — o ódio emanava de suas palavras, o rosto da Sra. Thurman era o de alguém presa ao luto há muito tempo, consternada e depressiva o tempo todo. Não podia levar suas palavras em consideração.
  Ela percebeu. Prendeu a respiração e se acalmou, ajeitando alguns fios soltos do elegante penteado que se desfazia devido a sua agitação. A mulher se levantou e pousou ao meu lado, bem mais sã do que antes.
  — Sei o que está pensando. Meu filho morreu e eu enlouqueci, explicando o fato de acusar um menino indefeso. — fiquei em silêncio, tudo o que ela disse era o que eu pensava — Vou lhe contar uma história, moça, depois que a ouvir pode me dizer se sou louca ou não. Sua opinião será meu veredicto.
  — Que seja. — concordei, apurando os ouvidos para não perder nenhum detalhe.
  — Por doze anos meu marido e eu, o Sr. , tentamos ter um bebê. Infelizmente eu sofria muitos abortos e depois de um tempo parei de engravidar. Foi uma época triste para nós e então eu voltei a ser abençoada. Desta vez tomei todas as precauções, me isolei do mundo e até de meu marido. Eu esperava um bebê e sua sobrevivência era tudo o que importava. — ela suspirou com o olhar nostálgico no rosto — Neste meio tempo Haword teve uma amante, Jaden Grant. Acho que nunca a viu, ela é a atual delegada da cidade, corpulenta e mau encantada, mas antes ela costumava ser bem diferente. Esguia e elegante, uma beleza rara de cabelos louros, ainda estudava na academia de polícia. Para Haword foi um caso insignificante, para Jaden a chance de conseguir um marido.
  A Sra. Thurman abriu um estojo que estava sobre a mesa e pegou um cigarro. Acendeu e começou a fumar, fitando a lareira, aquela mulher não estava mais no mesmo mundo que eu. Sua mente vagueava por tempos passados.
  — No aniversário de três anos do Ritchie ela apareceu, carregando um rebento pálido e de cabelos amarelos tal como os dela. Chorou e chorou, dizendo que o menino era doente e que não podia cuidar dele sozinha. “Ele precisa do pai”, ela disse, quando na verdade era “Eu quero o seu marido para mim.“. Devo admitir que meu proceder foi bem compreensivo em relação aos dois, eu aceitei como parte da família e toda vez que ele estava conosco eu era o melhor possível com ela. A prostituta tinha razão o garoto era doente.
  — Um problema de saúde? De que tipo? — abri meu bloco de anotações, encorpando meu disfarce. A mulher o fechou e negou com a cabeça.
  — O problema sempre esteve aqui. — ela tocou um dedo na cabeça, sinalizando que a doença era mental — Começou com as imitações, se ele via um cão na TV latindo passava o dia inteiro latindo, via um gato miar começava a fazer o mesmo. Certa vez ele me viu chorando e se pôs a chorar também, na minha cabeça era o sinal de que se tratava de um menino sensível, mas não. Era só mais uma imitação — fez um gesto vago em direção ao retrato de um homem sobre a compra, devia ser o ex-marido — Haword era tolo e acreditava em tudo o que o miserável dizia, na ocasião em que o irritei ele revelou sua natureza ruim, rasgou as roupas e infligiu ferimentos ao próprio corpo, naquela tarde ele inventou seu melhor papel o de vítima. Chorou como um bebê e contou mentiras deslavadas dizendo que eu fiz aquilo com ele.
  Não conseguia imaginar uma criança tramando algo tão cruel e traiçoeiro por mais arteiro que fosse, não podia botar fé nela.
  — Haword nunca mais o levou até nossa casa, foi passando mais tempo com sua outra família até o dia em que nos deixou. Eu não o culpo, Jaden tinha vinte e eu beirava os quarenta. Sabe, eu fui capaz de perdoar o adultério e o abandono, mas o que fizeram com o meu menino, não. Disso eu não sou capaz.
  — Como pode ter certeza de que foi o ? Por que não o pai ou a amante?
  — Haword era um covarde imbecil, Jaden não teria paciência para torturá-lo, contudo sempre foi cruel, matava os animais do Ritchie, gostava de caçar apenas para extravasar sua maldade. Richard me contava sobre as ameaças que o menor fazia, dizendo que ele iria atirar em sua cara ou dar de comida aos cães, meu filho era muito bondoso. Certa vez ele se portou mal com uma garota só para que o irmão pensasse que ele também era mal e o deixasse em paz, ele se arrependeu tanto disso. Não fez muita diferença.
  A Sra. Thurman soltou um longo e angustiado suspiro.
  — Imagine que seu filho desapareceu, quando o reencontram ele está morto, enterrado em uma cova rasa. A única testemunha era o irmão caçula maquiavélico que o ameaçava. Seu menino levou um tiro no pé, segundo a testemunha foi o próprio quem se acertou. Vale lembrar que a arma pertencia a , não a Richard. Depois ele foi mutilado e devorado ainda vivo. Haviam marcas de dentes nos pedaços encontrados, os suspeitos eram dois meninos cegos que cometeram suicídio logo depois. Meu filho foi torturado e agonizou longamente até a morte.
  Abaixei os olhos, refletindo sobre o que ela e Candice me disseram sobre ele. Ela tocou a ponta de meu queixo e ergui o rosto.
  — Há alguns anos veio até mim uma menina com a mesma história que a sua. Fez várias perguntas sobre e ficou pensativa exatamente como você. — ela só podia estar falando da Candice — Também tinha se apaixonado por ele. O vi algumas vezes depois de crescido, é um belo rapaz capaz de conquistar corações aos montes. Mas não acredite ele mente.
  — Meu namorado não é assim. — protestei partindo em sua defesa.
  — Seu namorado é uma farsa. possui muitas facetas, ele pode ser o que quiser. Tem que ser forte e lutar contra o que sente, ele matou o meu filho pode matar o seu também. — tive um sobressalto e me levantei, tencionando escapar de tudo aquilo.
  — Obrigado por seu tempo, senhora. — me despedi abrindo a porta.
  — Vai dizer a ele que está grávida?
  Pensei na resposta, porém preferi o silêncio.

[...]

POV’s

  Suspirei, tocando os fios negros que caiam como um véu aveludado sobre seus ombros. O rosto estava tão pálido e magro, diferente do da garota alegre e exuberante de outrora. Deixá-la naquele estado foi a pior coisa que eu podia ter feito a ela. Brooke cometeu muitos erros, mas nada justificava o fato de a ter feito ficar em coma presa a uma cama de hospital por tanto tempo. Só então, estando frente a frente com ela foi que me dei conta do mal que vim causando a ela e a irmã, permitindo que Brooke continuasse a sobreviver daquela forma.
  Eu comecei aquilo e era meu dever terminar.
  Sabia que a grande motivação de para querer ir embora da cidade era a dor de ver o sofrimento da irmã. Eu a queria aqui comigo, poderíamos viver felizes em Lafayette, teríamos filhos e seriamos uma família normal e amorosa. Poderíamos ir para a Disney nas férias e o nosso mundo seria perfeito.
  Tudo seria perfeito, mas antes minha velha amiga teria de ser libertada.
  Examinei os tubos presos ao seu corpo. Eles eram muitos. Precisaria escolher com cuidado qual deles desligar, estreitei os olhos para um azul claro. Foi quando senti uma mão segurar meu braço, o toque fraco de Brooke me surpreendeu. Estava certo de que ela estava nas últimas.
  Infelizmente ela resolveu ressuscitar bem agora.
  Os grandes olhos azuis me encararam com espanto, retirei a máscara de oxigênio e me inclinei sobre ela.
  — Vejam só quem resolveu voltar do mundo dos mortos, então como é o inferno? — dei um sorriso sarcástico.
  — Ele está a sua espera. — suas palavras saíram com um sussurro quase que incompreensível.
  — Tenho certeza disso. — toquei sua pele opaca com as pontas dos dedos. Era fascinante como ela havia perdido a graça para mim.
  — precisa saber que tipo de monstro é você.
  — Tarde demais. Ela disse que me ama. — sussurrou, deslizando a mão para a lateral de sua cabeça, apanhando o objeto propicio pra o momento — Está na hora de dormir, Srta. . Tenha bons sonhos.
  Tapei seu rosto com o travesseiro e me debrucei com força sobre seu rosto, o pressionando para que ela se asfixiasse o mais rápido possível. Brooke se debateu e puxou alguns fios no processo, me mantive indiferente ao seu desespero. Ele não me afetava, apenas incomodava.
  Seus espasmos foram parando, diminuindo mais e mais até cessarem por completo. Joguei o travesseiro para o lado e por fim meu trabalho estava concluído.
  Sua morte foi dada como asfixia, ou seja, um homicídio. Com as provas que plantei contra ele já deveria estar sendo levado para a prisão neste exato momento. Então, pontualmente ás 16:00, saiu do quarto da irmã.
  Seu rosto estava branco e o olhos fundos e avermelhados de tanto chorar. Precisava fazer o papel de bom namorado agora. Ela iria precisar de apoio, ficar mais dependente de mim.
  Caminhei em sua direção e ela veio cambaleando até mim, contudo antes que me alcançasse ela desmoronou. Acelerei o passo para chegar antes que ela se chocasse contra o chão, a envolvi em meus braços e ela se agarrou ao meu braço como se sua vida dependesse daquilo.
  — Brooke está morta. está morta. está preso, ele é o assassino. — ela chora copiosamente com a mão no rosto. Reviro os olhos sem compreender o motivo de tantas lágrimas, era uma pena que alguém tão bonita sofresse tanto por coisas banais como a morte. Afaguei seus cabelos e murmurava palavras de conforto que nada significavam para mim.
  Depois de cinco horas na mesma posição estava exausto. Eu podia amá-la, mas tudo tinha limites. Virei o rosto na direção dela, continuava a olhar sem expressão pela janela do quarto, estava silenciosa demais e isso me deixou preocupado. Pessoas como ela tendem a agir muito mal a perdas na família, esperava por um escândalo ao menos um desmaio então nada aconteceu. Ela me pediu para leva-la para casa e ficar com ela.
  A fitando em silencio pude notar que ela tinha mudado bastante desde aquela fatídica noite do mês de maio. Parecia mais forte e destemida, até fria. Algo em seu semblante sério e amargurado lembrava a mim, deslizei para o seu lado e segurei sua mão na minha.
  — Quer que eu escreva o seu discurso fúnebre? — ofereci, ela concordou lentamente, sorri agora estávamos chegando a algum lugar — Creio que vai querer adiar sua viagem depois de tudo...
  — Não. — contradisse, encarando o luar — Depois de tudo o que aconteceu aqui, neste lugar... Não posso continuar a viver nessa cidade, preciso ir para longe e esquecer de tudo e de todos que eu já amei.
  — Isso inclui a mim? — soltei sua mão e arqueei a sobrancelha à espera de uma resposta.
  — Eu ainda não sei dizer, mas nada vai me fazer mudar de ideia.
  Tudo o que saiu da sua boca pareciam ter sido palavras escolhidas propriamente para me enfurecer. Levantei de meu lugar e marchei em direção a porta, decidido a encontrar uma forma de fazê-la mudar de ideia por bem ou por mal.
  — Eu estou gravida. — a ouvi murmurar para mim.
  Eis mais um motivo para que ficássemos juntos. Agora estava certo, tudo iria se encaixar. Eu precisaria usar alguns acessórios especiais, me alongar e durante o baile iria me despedir terminantemente de todos os miseráveis que me cercaram por anos. Após muito sangue e morte seria rejeitada pela Yale e nós poderíamos viver juntos.
  Era uma ideia formidável.

Capítulo 11

  O terror era o tema. A decoração estava impecável, grandes abóboras com rostos assustadores cravados, fios vermelhos e uma banheira com água pigmentada de carmesim davam um estilo mais sangrento ao baile. As luzes eram baixas num misto de azul e roxo, consegui cuidar de tudo nos mínimos detalhes para que se assemelhasse verdadeiramente a uma mansão dos mortos. O melhor de tudo, sem dúvida, eram as fantasias.
  O pessoal caprichou para o concurso de monstro mais horripilante da noite. Também havia o da fantasia mais sexy, quase cai para trás quando vi meu nome na lista das concorrentes. Segundo a Natasha minhas chances eram boas.
  Particularmente não partilhava de sua opinião. Fiquei tão absorta com o baile e os demais assuntos que descuidei da escolha da fantasia, seria um fiasco se a organizadora fosse como ela mesma. Por sorte encontrei a fantasia do ano passado da Brooke, consegui entrar nela por milagre. Brooke era magríssima.
  Vesti seu vestido branco de boneca, justo na altura do tronco, e se tornando rodado em baixo se assemelhando bastante a um tutu de balé, calcei coturnos negros e uma jaqueta de couro por cima. Contratamos uma maquiadora de teatro e ela deu o toque final ao desenhar alguns ferimentos para dar uma incrementada no meu visual, assim como nos demais. Era uma legítima " Noiva do Chuck", morena.
  O único detalhe pendente foi a falta do meu par. Depois de duas horas o esperando já começava a parecer uma noiva abandonada no altar. Conversamos mais cedo e ficamos combinados de que ele se fantasiaria de Chuck, seria esplêndido. Mas a Natasha ficava falando sem parar que ele preferiu me dar o bolo ao invés de pagar esse mico.
  Engoli toda a minha vontade de ligar para ele a cada cinco minutos e continuei na porta. Recepcionando os convidados que iam jogando, segundo a senhorita Weese ser a organizadora de um evento grande como um baile contaria muito a meu favor e foi o que fiz, assumi o papel de anfitriã do baile.
  De vez em quando lançando olhares apreensivos ao redor do salão. Nada do . Foi quando nossos olhares se cruzaram, não pude fingir que não o vi.
   estava a alguns metros de mim, fantasiado dele próprio. Ouvi boatos de que ele tinha sido libertado após pagar a fiança, mas não esperava que ele tivesse a ousadia de aparecer na minha frente depois de tudo o que me fez. Novamente o tempo pareceu parar.
    Os olhos de se perderam do meu, os recém-chegados ficaram imóveis, assim como aqueles que dançavam antes com tanta empolgação. Até mesmo o DJ travou no início de Monster da Meg&Dia. Eu gostava da música, mas não o bastante para ouvir mil vezes e o mesmo trecho, foi quando virei para a direção em que todos se concentravam tanto.
  Era ele. . Não usava a roupa combinada, e sim um terno próprio para funerais e não bailes, seu rosto estava sombrio, inexpressivo e em seus olhos havia algo ruim. Que me causava calafrios só de olhar. O que assombrava todos não era a cara de poucos amigos, mas o revolver em suas mãos e o rifle atado as costas. Eu os conhecia, tinha usado ele no dia da caçada. Eram de verdade.
  — Amor. — chamei, entrelaçando seu braço ao meu e o guiando cuidadosamente para a saída — Adorei sua fantasia de Senhor das Armas, eu disse que combinava com você.
  O arrastei até o corredor, onde ninguém poderia nos ver ou ouvir. Ele guardou a arma em um coldre que trazia na cintura e se encostou nos armários, tão serena e despreocupado. Era perturbador respirar até o mesmo oxigênio que ele.
  — O que está fazendo? Essas armas são de verdade. — gritei apontando para o seu generoso armamento — Poderia ter ferido alguém, . Que brincadeira é essa?
  — E ai está você. Sempre achando que eu estou brincando, eu não sou uma criança, . Eu não machuco ninguém, eu mato. — foi como se uma nuvem negra pairasse sobre ele e o envolvesse, transformando cada palavra e gesto em algo sombrio que me repelia.
  — Não pode ser! Quer dizer que a Candice estava certa. Era você o assassino. — meus olhos se abriram. Eu começava a enxergar mais claramente o homem a minha frente.
  — Errado. Quer dizer que eu a quero aqui. Ninguém vai querer alguém envolvida em tantos assassinatos estudando junto com seus filhos. Você ficar presa em Lafayette comigo. — uma expressão leviana surgiu em seu rosto e ele estendeu uma mão, me puxando pelo ombro, invertendo nossas posições.
  Fiquei encurralada entre seu corpo e os armários embutidos. Senti seus lábios percorrendo meu pescoço de forma áspera e fria, livre de quaisquer sentimentos ou gentileza, uma das mãos serpenteando meu corpo se esgueirando para debaixo da minha saia. O rapaz carinhoso e amoroso se dissolveu junto a nuvem de mentiras e o que sobrou foi aquela criatura maquiavélica que tencionava me tomar mesmo que a força. Eu sabia, sentia em seu toque que eu não era o objeto de seu desejo. Ele tinha um caso doentio com outra. A morte.
  — Não. Saia daqui. Eu não quero mais você. — gritei empurrando seus ombros, me livrando de seu violento enlace.
  — Ser bonzinho não funciona com você, Srtª . Estou farto de fingir para você. — anunciou falando ainda mais alto e grosseiro do que eu, tudo nele me era estranho desde sua voz, o jeito e principalmente o olhar. Era sanguinário, homicida — Ninguém diz não para mim. Ninguém.
  Dito o seu mandamento, suas mãos agarraram minha cintura e ele me jogou em seus ombros abruptamente. Bati em suas costas, para que ele desistisse e me deixasse em paz, mas eu era muito pequena e fraca perto dele. Meus golpes não surtiram efeito algum nele. Seguindo seu tranquilo caminho até deus sabe onde.
  Eu gritei com toda a minha força, diversas vezes até perder a voz e ficar rouca, mas ninguém ouviu e mesmo que ouvissem era Halloween. Um grito de socorro não era levado a sério nesta data em particular.
  Saímos da escola e seguiu seu percurso até o meio do estádio de futebol, as grandes luzes estavam acessas e eu apavorada. Ele me jogou contra a grama e se deitou sobre mim.
  — Estive pensando e acho que devemos providenciar um irmãozinho para o nosso bebê. — sua voz era sarcástica e os gestos cada vez mais bruscos. Notei quando ele abriu a calça e levantou meu vestido se posicionando entre minhas pernas.
  — , por favor não... — a frase deu lugar a um grito agudo de dor ao senti-lo me invadir sem permissão. Doía tanto por dentro quanto por fora. Era vergonhoso e decepcionante, me deixei levar até aquela situação. Abri meu coração para o monstro que dizia que me amava, graças a minha tolice estou sendo estuprada por um psicopata em um campo de futebol.
  Cada vez que ele se movia algo em mim se partia.
  — Seu maldito porco! Canalha desalmado! Tire suas patas dela. — gritou atrás dele. não pareceu se intimidar, ele se vestiu vagarosamente e depois de satisfeito consigo mesmo se virou para encarar seu oponente.
   não era um assassino e sim uma vítima que mal teve tempo de reagir. Visualizei perfeitamente o momento em que sacou seu revolver e atirou na cabeça de a sangue frio.
  — Ah, meu deus! Não, seu maldito. — fiquei em estado de choque ao ver melhor quando me levantei. Depois de tudo nada mais poderia me ferir, mas eu estava enganada, foi arrasador ver meu primeiro amor como um cadáver.    coçou a cabeça com o cano da arma e inclinou a cabeça de um lado para o outro, olhando para o corpo com toda a sua perturbação exalando de seu ser.
  — Eu tentei. Te dei uma chance de colher os louros de meus feitos, ou assassinatos como vocês caretas dizem. Mas você quis demais, cara.
  Eu quis ir até , abraça-lo e sofrer por ele, contudo não havia tempo. contemplava sua arte e eu estava temporariamente livre para escapar. Comecei a correr desesperadamente.
  — Não adianta, amor. Eu vou te achar, sempre acho. — soltou uma gargalhada desmedida ao acenar para mim.

[…]

  Uma garota normal teria ido direto para a delegacia. O problema estava no fato de ser filho da delgada e ao que tudo indicava eram cúmplices. Então fui para casa, lá eu poderia pensar em uma solução. Por dentro vivia uma turbulência de ódio e revolta comigo mesma. Respirei fundo, a procura de uma resposta quanto ao que eu deveria e precisava fazer.
  A solução estava próxima, tudo o que eu tinha de fazer era abrir minha mente. Foi quando a luz vermelha atravessou meu caminho, novamente.
  Mirei o quadro, cheguei perto, mais perto e mais perto. Toquei na cratera que se abriu no meio do retrato e então eu vi, era o que eu precisava. A verdade que há tanto me atormentava.
  Peguei a câmera e a conectei no notebook. Ela era antiga, meu pai a instalou para vigiar mamãe na época em que estavam casados. De resto eram um amontoado de momentos meus e da Brooke, entretanto existia uma gravação do mês de maio muito útil. Dei play e a tela foi tomada pelo rosto de , a voz de Brooke ao fundo, a mesma escuridão de hoje o possuía daquela vez. Estava sério, obstinado. Ele segurou o quadro e o levou para fora, minha irmã continuou a tagarelar coisas irrelevantes e então a atingiu na cabeça.
  A imagem se tornou uma mistura de sangue e vidros estilhaçados, o objeto saiu no chão, mas permaneceu com foco. Registrou a chutando, ouço minha voz não muito distante. Por um triz não o flagrei, quando me calo ele a puxa pelos tornozelos e a lança na água. Neste instante eu entro e ele corre, se escondendo. Naquele momento ele estava lá comigo.
  Ele a matou, e então. … Sofri um sobressalto ao ouvir o baque do computador ser fechado, a figura grande e doentia de surgiu com um olhar glacial direcionado a mim.
  — O jogo acabou, amor. — comentou amarrando ainda mais forte os nós em meus pulsos, me remexia para dificultar sua tarefa — Se eu fosse você eu colaboraria.
  — Se eu fosse você me perguntaria como consegue dormir a noite depois do que fez? — evitei olhar para ele, o ódio que fervia em mim era tão grande que temi sofrer um colapso se encerrasse o diabo por muito tempo.
  — Muito bem, na maioria das vezes na companhia da minha namorada gostosa. — respondeu com a voz embargada de ironia — Deveria me agradecer, ninguém foi capaz de fazer o que eu fiz por você. Eu te amei.
  — Mentiroso, tudo o que disse para mim, todos os nossos momentos foram copiados de algum filme ou livre, nunca foi de coração. — senti meus olhos arderem e o ignorei   — Você não tem um coração, não existe verdade em você. , você é um falso.
  — Eu sou, sei disso. — ele parou na minha frente e entortou os lábios com descaso — E daí? A mentira que meu subconsciente contou para mim foi tão boa que me fez acreditar cegamente que eu te amo. Suspeito que depois de tantos anos se tornou verdade, você é o que há de puro em mim.
  — Você matou minha irmã. — o lembrei, indignada com tamanho cinismo.
  — Brooke era uma vadia, dei apenas o que ela merecia.
  — E você terá o que merece.
  — A minha vida toda eu a tenho protegido. — falou como se isso fosse um motivo plausível para que eu o perdoasse e aceitasse tudo o que ele fez.
  — Matou pessoas inocentes. — afirmei, horrorizada com sua loucura — Você não percebe o mau que causou?
  — Foi por você. — mentiu voltando a andar pela sala.
  Ele pareceu perturbado.
  — Espero que não esteja esperando que eu agradeça por isso.
  — Quantas vezes vou ter que dizer, eu não quero agradecimentos. Eu quero que você me ame incondicionalmente. — ele começou a gritar, tomado por uma fúria monstruosa. Estava tentando me adaptar as suas abruptas mudanças de humor. Conforme ele se revelava mais volátil ficava.
  Me inclinei para a frente o máximo que minha posição permitia, levantei os olhos para sua figura distorcida de um rapaz doce e gentil que um dia me deixei apaixonar.
  — Se quer meu amor precisa confiar em mim.
  — Confiança não faz parte da minha natureza. — coçou a cabeça com o cano da arma dando voltas e mais voltas — Poderia lhe contar o que eu já fiz.
  Um calafrio o meu corpo. Não tenho certeza se quero ouvir suas condições, no entanto estive cega por muito tempo se teria de abrir os olhos que fossem para ver o mais claro possível.
  — Me conte. — pedi.
   engoliu em seco e se sentou no sofá, alguns metros de distância de mim.
  — Há alguns anos atrás eu tive um irmão. Ele era estúpido e fraco, e eu o odiava, não havia um motivo específico eu só não entendia o motivo de sua existência. Então, no dia em que ele a humilhou publicamente eu não pestanejei e o castiguei por seu pecado. — ele se inclinou para trás, estendendo os braços por sobre o ombro do sofá, tranquilamente.
  — Você o comeu?
  — Não. — ele fez ar de ofendido — Obriguei dois garotos cegos de outro colégio fazerem isso, foi divertido. Nunca fui um canibal, eu sou um ser humano normal.
  — Ser humano normal. — repeti com desprezo — Você tem problemas mentais.
  — Está dizendo que eu sou um psicopata? — ele arqueou a sobrancelha, me desafiando a responder.
  — Não, você é um monstro mesmo. — fui seca e fria e nem isso o atingiu. Ele deu um meio sorriso e prosseguiu.
  — Este monstro te livrou de um namorado infiel, uma irmã vigarista e da amiga psicótica. Nenhum deles queria o seu bem, todos te feriram e eu apenas revidei.
  Por mais que eu tentasse não tinha a capacidade de entender o que se passava dentro da cabeça dele. falava sobre homicídios cometidos a sangue frio como se não fossem nada e ainda por cima dava os créditos de seus atos a mim e não a seu ser miserável.
  — Doente! — exclamei, trabalhando em uma forma de conseguir me livrar do nó da corda em meus pulsos, enquanto o distraía — Você é um assassino que não tem coragem de tomar para si a responsabilidade de seus erros, sabe que se abrir os olhos e enxergar o sangue que derramou vai se consumir de tanto remorso.
  — Tudo o que eu fiz até agora foi por você. — me inquietei na cadeira ao assistir o assassino vir até mim e se ajoelhar ao meu lado, virei o rosto para não o olhar. Sua mão segurou meu queixo e me obrigou a olhar seu rosto que se tornará o espelho da insanidade — Somos iguais, . Eu e você somos um só, não vou pedir que me entenda é impossível, mas não pode tentar se voltar contra mim, meu amor. — ele aproximou seu rosto do meu, lutei para recuar, sua força me impediu — Você é como eu, se eu sou louco você também é. Quando matou aqueles animais na floresta provou ser como eu, acho que a sua loucura é como a minha. — um frio beijo foi posto em meus lábios — Nós iremos superar, vai ficar tudo bem.
  — Não tem como, você matou a todos que eu amava. Não existe mais nós. Só você e o sanatório.
  — Quer calar essa maldita boca? — sua mão apertou meu rosto com agressividade, podia sentir suas unhas se cravando em minha pele e então sua voz acalmou mais uma vez — Eu estarei no colégio, nos jardins, você irá me encontrar — interrompi, negando com a cabeça — Você vai sim, meu amor. Estarei te esperando as onze e quarenta, será tempo suficiente para fazer suas malas, iremos embora, longe de todos esses fantasmas que a assombram. Mas se decidir não vir será os pedaços dos seus pais que irei te servir amanhã no café da manhã. A escolha é sua.
  Os portões do inferno me encaravam com expectativa em pensar que eu me encantava com aqueles olhos diabólicos. Mordi o lábio inferior, reprimindo a vontade de gritar e usar sua arma para estourar seu cérebro disfuncional. Porém o encarei sem menção de reagir.
  — Eu irei. — concordei.

Capítulo 12

  — Candice. — chamei.
  — Então finalmente resolveu me dar ouvidos? — indagou Candice do outro lado da linha, fiquei em silêncio e isso a preocupou — Qual é o problema?
  — Estou cansada, exausta, na verdade. As pessoas mais próximas de mim morreram sem motivo, apenas por capricho de um louco Ele é obcecado por mim e não vai me deixar em paz, não enquanto eu viver. — disse com olhos fixos a adaga que ele me deu de presente.
  — Calma, . Você não está bem, respira, eu vou até aí te ver. Não faça nada do que possa se arrepender. — precavia, balancei a cabeça, negando para mim mesma tudo o que eu ela dizia.
  — Eu não me arrependo de nada, não possuo mais remorsos. Só ódio e raiva. A doença dele me infectou, invadiu minha corrente sanguínea e está crescendo dentro de mim. — mordi os lábios, tocando a barriga.
  — , você está gravida?
  — Por enquanto sim. Candice, é possível que o bebê seja como ele?
  — Não, mas talvez se ocorrer algum trauma ou… — a interrompi com um Shii.
  — Eu entendi perfeitamente. Poderia mandar as autoridades até o colégio, lá eles encontrarão o cadáver de e vou deixar algo aqui, para você, ele vai provar a sua teoria de quem é. — balbucio com a voz hesitante. A lembrança de ainda me causava arrepios.
  — , por que você não faz isso? — quis saber, desesperada.
  — Tenho outros planos. Ele matou todos. É meu dever acabar com aqueles que ele ama, vou pagar na mesma moeda. Adeus. — despedi-me, jogando o celular na piscina com a certeza de que não nos falaríamos nunca mais.
  Há meses atrás eu poderia ter encontrado a minha paz naquelas águas e se isso tivesse acontecido os três estariam vivos e bem. Todos estariam seguros. Por minha culpa eles estavam mortos, a sete palmos da terra com seus sonhos e ilusões enterradas junto com eles. Em breve eu os faria companhia e aproveitaria para me redimir.

[…]

  Apalpei a terra fofa sobre seu túmulo. A foto em sua lápide era muito bonita, me lembro de a ter tirado algumas semanas antes. A observando me lembrei da menininha que só entrava na escola segurando minha mão, que todas as noites escapulia para a minha cama com medo do escuro. Obcecada por histórias de princesas e viciada em contar estrelas, Brooke amava livros e eu os lia para ela, mesmo quando ela já sabia ler.
  "Gosto de ouvir sua voz", ela dizia e depois ria exibindo mais uma janelinha em sua boca com a perda de mais um dente de leite. Eu bancava a fada dos dentes e ela começava a enriquecer as minhas custas. Imaginei como seria a vida com August.
  Eu teria amado vê-lo crescer, as meninas correriam atrás dele querendo namorar e ele só pensaria em vídeo game e animes. Mamãe e papai estariam casados e felizes. Brooke se formaria e eu entrando em Yale com a , casando com e deixando todos orgulhosos.
  Passei os olhos por cada lápide. Estavam todos ali presentes, exceto August. Mas eles não podiam sentir orgulho de mim, não sentiam mais nada. Neste departamento eu era como eles.
  Meu peito estava oco, leve demais como se estivesse vazio e de fato estava. Meus olhos secos, incapazes de derramar mais lágrimas, elas se esgotaram. Não tenho mais nada.
  — Estava te esperando. Por que não avisou que viria para cá?
  Tudo o que eu tinha era ele. . E eu não o queria mais.
  — Eles estavam chamando por mim. — alisei a grande pedra com o nome de minha irmã entalhado — Pediam por ajuda, não é engraçado como no fim nossa cabeça fica repleta de e “Se”, procurando uma forma de restaurar o passado.
  — Muito comovente. — zombou ele, parecendo estranhamente impaciente, dando passadas longas até mim — Temos de ir logo.
  — Engraçado, eu penso o mesmo. — tirei a adaga da jaqueta e a segurei com determinação entre meus dados firmes. Não tinha mais medo de matar ou morrer — Você tem que pagar pelo que fez a eles.
  — Pretende me matar? — provocou convicto de que eu não seria capaz de tanto.
  Em meio a escuridão notei que ele havia se desfeito do paletó, a manga de sua camisa estava suja de sangue e não era dele. Houve mais uma vítima depois que nos encontramos.
  — Quem foi desta vez? — apontei para a mancha em seu braço.
  — Minha mãe, ela encontrou o que procurava. — deu de ombros.
  — Você não perdoa. Quer dizer que as marcas em seu corpo não são de caçadas e sim de vítimas que reagiram. — deduzi, bateu palmas de forma escandalosa.
  — Parabéns, eu gosto de desafios. Coisas fáceis não causam prazer algum.
  — Eles te deram prazer? — continuei a apontar o objeto pontiagudo fazendo sinal na direção das lápides.
  — Deram, todos eles cumpriram seu papel.
  — E qual é o nosso? Você mata todo mundo e eu te aceito independente de sua monstruosidade.
  — Para que todo esse espetáculo? Estão mortos, não importam para ninguém. Nós temos que ir de uma vez, . Esqueceu o que acontecerá com os seus pais? — ameaçou ele, bufando ao me fitar irritado.
  — e importam para as suas famílias, Ritchie importa para sua mãe até hoje e a Brooke importava muito para mim, mas e agora? Tanto eu quanto você deixamos de ser importantes, não faz diferença se vivemos ou morremos. — girei a faca em minhas mãos, imitando sua mania de usar sua arma para coçar a cabeça.
  — Nós importamos um para o outro é o que vale. — disse ele, suas palavras me pareceram tão estupidas.
  — Eu estive bêbada de amor por você. Estava carente e me sentia sozinha e então você surgiu, bancando o coitado que precisava de um amigo, depois foi o Romeo e por fim o deus do sexo, matou todos ao meu redor e me engravidou de propósito. — bati palmas diante dele, minha vontade era acertar seu desprezível rosto — O prêmio vai para por saber como conquista uma garota.
  — Chega, . — gritou num de seus acessos de ira, olhei para o céu não demoraria muito para amanhecer e voltei a vê-lo — Você vem ou não?
  — Eu vou. Você irá me acompanhar? — sem pestanejar enterrei a lâmina em minha barriga.
  Não senti nada. Como eu previa realmente havia me tornado oca, a puxei e ela veio embebida de sangue, meu vestido foi forrado por sangue. Meus olhos se anuviaram sorri recordando o suco de uva em minha fantasia de bruxa. Foi engraçado, triste na época. Mas hilário agora.
  Meus joelhos dobraram e como eu esperava ele veio. Cai em seus braços, coloquei a mão ao redor de seu pescoço e os efeitos do que fiz iam se revelando, doía demais, mas eu sabia que poderia resistir, pelo menos até conseguir fazer o que era preciso.
  — , não. Você enlouqueceu? Matou o nosso filho. — dizia ele, sujando as mãos com meu sangue a tentar estancar o ferimento, fingia bem o desespero.
  — Não existe nosso filho. Não existe nada. — sibilei friamente o apunhalando nas costas.
  Ele gritou de dor, se arqueou e me soltou, usei minhas forças restantes para repetir o golpe na frente, por um triz não acertei seu coração. caiu sobre o túmulo de e consequentemente cai sobre ele, incapaz de me mover, com a cabeça sobre seu peito pressionando seu ferimento.
  O sol começava a surgir no horizonte, ainda fraco, porém grande e luminoso. O amanhecer sempre me trouxe alegria e não era diferente desta vez, senti o movimento do tórax de , ele ainda respirava.
  — Você podia ter me convidado para o baile do meio ano. — comentei pensando em como tudo poderia ter sido diferente.
  — Poderia, e então todos estariam vivos e talvez você não me odiasse tanto. — ele suspirou — Eu sou incapaz de imaginar outra realidade, uma forma diferente de ter feito as coisas. Me parece errado.
  — Em outra vida você nasceria normal. Nos apaixonaríamos, eu seria advogada e você musico. Durante o natal tocaria no piano para as crianças com toda a família reunida. Eu seria sua e você seria meu. — estava delirando, por isso me deixei dizer o que vinha a mente. Uma lágrima caiu de meus olhos provando que eu ainda tinha humanidade — Poderíamos ir até a Inglaterra e você me mostraria a cidade em que nasceu, seriamos de verdade, não apenas uma ilusão na sua e um arrependimento na minha.
  — Gostaria de viver nesse mundo. — ouvi sua risada — Eu menti, para variar. Nunca me convenci de que eu tinha de te amar, só aconteceu. Por isso quando eu digo que você é o que eu tenho de melhor é verdade. O único laço que eu construí, a única pessoa que eu amei.
  — Eu vou acreditar pela última vez. — concedo.
  — Obrigado, doce — me arrastei sobre ele até alcançar seu rosto e meus lábios tocaram os seus em nosso beijo de despedida — “Amo a minha assassina.”   — citou relembrando o garoto pelo qual me apaixonei — Zombei da Brooke quando ela falou sobre o céu, mas vejo melhor agora e ele é mesmo bonito. É triste que percebamos a beleza do mundo quando estamos prestes a partir dele.
  — Cante para mim. — pedi. Voltando a deitar a cabeça sobre ele, a poça de sangue ao nosso redor ia crescendo.
  — Vale Blink 182? — concordei e ele começou a cantar baixinho.
  Fechei os olhos gravando cada palavra em minha mente e a emoldurando no filme de nossas vidas. Desde quando éramos crianças no auditório, o encontro no intervalo, na biblioteca, a dança na sala de música, o beijo no estádio e debaixo da arquibancada, o pedido de namoro, nossa primeira vez e agora nosso último beijo. O fim de nossas vidas chegou tão rápido.
  — I miss you. — cantou , então seu peito parou de mover e seus lábios se silenciaram. Tudo ficou calmo e me agarrei ao seu corpo.

[...]

  — Ela está acordando. — anunciou alguma voz desconhecida acima de minha cabeça — Como está a pressão?
  — Estável. — respondeu alguém do outro lado.
  — E o bebê?
  — Também. O golpe não atingiu o feto, ele passa bem. — informou uma voz de mulher com alívio.
  — Viu, ? Seu bebê está bem.
  Abri os olhos vagarosamente, identificando o lugar no qual estava. Ele era todo branco e estava em movimento, haviam aparelhos e medicamentos por toda a parte e três pessoas vestidas de branco me cercando. Aquilo deveria ser uma ambulância.
  — Onde ele está? — consegui dizer antes de perder o ar, a mulher colocou uma máscara de oxigênio sobre meu rosto.
  — Quem?
  — , o rapaz que estava comigo. — empurrei a máscara e a mulher tentou me fazer colocá-la mais uma vez.
  — Você foi encontrada sozinha. Ouvi a polícia dizer que esse tal de está desaparecido, ele é amigo seu?
  — Não, ele não é ninguém. Ninguém. — murmurei sentindo uma sonolência, deveriam ter colocado alguma coisa no meu soro.
   estava desaparecido. Era impossível que ele tivesse levantado e ido embora, eu estava com ele quando seu coração parou, mas se não quem o levou e porquê?
  — ? — sussurrei — Você está vivo? — mesmo hoje em dia, muitos anos depois, posso jurar que ouvi um "Sim" antes de adormecer de novo.

FIM!



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