I Gotta Have That

Escrito por Carol S. | Revisado por Mariana

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   é uma garota normal. É, dá pra dizer que ela é normal quase todos os dias. Aquele tipo de garota que tem seu grupinho de amigos para sentar junto na hora do almoço ou para ir ao cinema uma vez por mês. Sua vida é definida em horários: na segunda, aula de natação depois da escola; terça, francês; quarta, ajudar a mãe no trabalho (uma forma de ganhar um dinheiro extra além da mesada); quinta, levar os irmãos gêmeos mais novos para o futebol; sábado, faz estágio num petshop. Ela reserva as sextas e domingos para si mesma e para os amigos. Tudo isso sem contar o tempo em que passa no quarto fazendo tarefas da escola e trabalhos ainda não pedidos pelos professores.
   é uma garota exemplar. Sempre faz o que pedem, nunca se atrasa e é educada com todos.
   nunca achou que se apaixonaria por um garoto como .

  Já fazia um tempo que ele estudava na mesma escola que , mas ainda era considerado “o garoto novo”, a novidade. Eles tinham algumas matérias juntos, mas nunca olhavam um na cara do outro. achava que isso era desnecessário. Mas todas as outras garotas pensavam diferente, pois era como o badboy dos filmes americanos. Cabelo negro propositalmente malcuidado e bagunçado, olhos claros, vive com um sorriso sarcástico no rosto. Ele ainda usa uma jaqueta de couro o tempo todo e tem uma Harley! Ele era bonito, isso não podia negar, mas achava que não conseguiria passar o dia suspirando por ele.
  - Moça, quanto custa pra dar banho no meu cão?
  - Depende da ra...ça. – levou um susto ao ver quem estava parado na frente do balcão do petshop. Isso aí, o .
  - Ah, eu tenho um cocker. – Ele se abaixou e não pode deixar de notar que sua camiseta subiu um tiquinho, mostrando a base de suas costas e um pedaço da cueca vermelha. Quando se levantou de novo, colocou um filhote de cocker em cima do balcão e sorriu para . Ela desejou não ter arrumado o cabelo loiro escuro num coque bagunçado no topo de sua cabeça e estava torcendo para não ter corado com a visão anterior. – Ele só tem alguns meses, vai ser o seu primeiro banho! – Disse, animado.
  - Primeiro banho? – olhou desconfiada, a mão a meio caminho de fazer carinho entre as orelhas do cão.
  - Não, eu já dei banho nele em casa, mas é a primeira vez que o levo a um petshop. – disse, ainda sorrindo para .
  - ! Olha que fofo esse laço pro Cerberus! – Uma garota alta, loira, praticamente uma versão humana e melhorada da Barbie apareceu balançando um laço cor de rosa neon na frente do rosto do .
  - Cerberus? – ignorou totalmente a garota e se voltou para . – Como o cão que guarda as portas do mundo inferior?
  - Mundo inferior? Tipo, o inferno? – A tal garota guinchou, colocando as mãos na cintura e fazendo uma expressão de descontentamento. – Que horror! Você disse que era porque ele é um cachorro inteligente!
  - É, Tiffany. – revirou os olhos. Óbvio que o nome dela é Tiffany. – E ele não vai usar um laço rosa. – O garoto segurou o laço entre dois dedos, como se estivesse com nojo, e o colocou com cuidado bem longe do seu cão, fazendo uma careta para , que riu.
  - E que tal aquela coleira de diamantes que vimos no shopping outro dia? – Tiffany segurou o braço de de um jeito que só uma namorada poderia fazer. sentiu algo dentro de seu peito ser esmagado.
  - Então, quanto é? – Ele se voltou para . Ali, parado na sua frente, ela não pode deixar de notar como ele estava diferente. Ela nunca imaginara ele ali, segurando um filhote de cocker e falando com ele como se fosse um bebê. – Moça? Quanto é? – Ele a tirou de seus pensamentos.
  - São trinta reais. Se for deixar agora, pode passar para pegá-lo antes do almoço. – A garota assumiu seu tom profissional enquanto preenchia a ficha de no computador. Quando foi lhe entregar o comprovante, ele encostou em sua mão sem querer e, antes de soltar, perguntou:
  - Eu não te conheço de algum lugar? – Ok, era impressão ou ele meio que estava flertando com ela na frente da namorada? Ele sorria e olhava no fundo dos olhos dela enquanto esperava por uma resposta.
  - Não sei. – Ela não queria ter mentido, mas “não sei” eram as únicas palavras que combinavam com o dar de ombros involuntário dela. agradeceu, se despediu de Cerberus e saiu da loja sem olhar para trás, com Tiffany grudada em seu pescoço.

  - Como foi quando ele foi pegar o cachorro? – Genie perguntou no telefone mais tarde naquele dia. imaginou o amigo se revirando na cama e se enrolando no fio do aparelho. Ele achava que, para esse tipo de conversa, ele deveria usar o telefone com fio, para dar um ar de anos 90.
  - Não foi. – andava pelo quarto. Estava no celular, então não tinha o tal problema com o fio. – Meu chefe me mandou levar um labrador para o dono um pouco depois das onze e meia e disse que eu podia vir para casa depois. Então não sei se ele foi pegar ou não.
  - Que pena. Será que ele vai te reconhecer na escola? Vocês têm aulas juntos, não?
  - Sim, temos. E espero que não.
  - Por quê?
  - Não sei. Só sei que gostaria de não tê-lo visto hoje. – Ainda mais com a Tiffany, ela pensou.
  - Qual é o problema de tê-lo visto fora da escola?
  - Ele estava diferente, sabe? – A garota não sabia como colocar tudo aquilo em palavras para explicar ao amigo. – Imagine. Você vê o garoto na escola todo dia com aquele jeito de machão, aí, de repente, ele aparece segurando um filhote de cachorro e sendo todo fofo com ele. Eu vi um lado dele que ninguém mais viu!
  - Isso é muito dramático, ! – Genie revirou os olhos. – Olha, eu tenho que tirar a máscara de abacate do meu rosto. Conversamos depois, tá? Beijos!
  - Tchau! – Às vezes, Genie era mais feminino que a própria .

  - Hey, Ginie! – estava do lado de fora da escola esperando o amigo. Levou um tempo até ele conseguir vê-la.
  - O que aconteceu? A Forever 21 vomitou em cima de você? – Ele disse, olhando-a de cima a baixo e parando nos seus pés. – Ok, se você não estivesse usando seus Nikes, eu diria que alguma coisa séria tinha acontecido, eu mal te reconheci.
  - Sério? – Ela olhou para ele esperançosa. – Se você, que me conhece tão bem, mal me reconheceu, então vai continuar ignorando a minha presença!
  - Oh, querida. – Genie a abraçou de um jeito fraternal. – Essas coisas só funcionam nos filmes da Disney!
  Para a infelicidade de , ele estava certo. Ela não é a Hilary Duff em A Nova Cinderela tentando se esconder do príncipe encantado que era o Chad Michael Murray.
  Mas talvez a vida dela fosse um pouco como os filmes, porque durante todo o dia, cada vez que ela via , o pegava olhando para ela com curiosidade. Será?

  - Ei, moça? – estava na biblioteca depois da aula, estudando enquanto esperava dar o horário para ir para a aula de natação. Uma voz conhecida a distraiu. Ela levantou a cabeça de seu livro e viu o badboy a encarando com aquele sorrisinho sarcástico. – Eu sabia que te conhecia de algum lugar.
  - Ah! – Ela não sabia o que fazer, apenas ficou olhando-o com um meio sorriso enquanto ele puxava a cadeira em frente a ela. O movimento fez barulho, e pôde sentir os olhos da biblioteca encarando-os. – Ahn... Como está Cerberus?
  - Está bem. Continua lindo e feliz. Ele claramente gostou mais do banho que vocês deram do que os que eu dou nele. – Ele ali falando coisas que não combinavam nem um pouco com ele deixava confusa, era tão estranho! Ela não sabia o que pensar ou falar, mas falou antes que ela tivesse qualquer chance. – Bem, é melhor eu ir. Você parece estar bem ocupada. Até mais.
  - O quê? – Ela percebeu que ainda segurava a caneta no ponto em que tinha parado no caderno, e a outra mão apontava para a linha em que ela estava lendo no livro quando foi interrompida. Enquanto deixava a biblioteca passando a mão pelos cabelos, percebeu uma coisa que a assustou: ela o queria.

   sempre ia a pé para seus compromissos depois da aula e sempre chegava antes. Hoje não foi diferente, não chegou atrasada... na sua aula de francês?!
  - , o que está fazendo aqui? - Madam Isabeau falou com seu sotaque afetado quando encontrou na sala de espera. Seu nome é Isabel e ela vem uma cidadezinha do interior, mas faz chamarem-na de “Isabú” e diz que é de Paris. Todos sabem que é mentira, mas decidiram que contrariá-la não era uma boa ideia. – Sua aula só é amanhã, certo?
  Só então percebeu que havia se confundido. Ela ficou mesmo pensando tanto tempo no e naquele sorriso que acabou errando o lugar?
  - Excusez-moi, madame. – Ela se desculpou e, deixando Madame Isabel sem resposta, se virou e saiu. Estava atrasada para a natação, sinceramente, já nem queria mais ir na aula. tinha decepcionado a si mesma por ter se distraído desse jeito. Ela estava indo para o shopping mais próximo – resolveu que não contaria a sua mãe sobre a falta – quando o ronco de uma moto surgiu ao seu lado.
  - Oi, moça! – Parecia até cena de filme. parou a moto ao lado de , tirou o capacete e passou a mão pelos cabelos para bagunçá-los do jeito certo. Sem contar o sorriso sarcástico.
  - . – A garota disse, se aproximando. Quando viu que ele não entendeu, continuou. – Meu nome é , não “moça”.
  - Eu sei, . Temos aulas juntos. – Ele disse aquilo como se fosse óbvio. – Mas posso parar de te chamar de “moça” se isso te incomoda. – Não incomodava tanto assim, então ela apenas deu de ombros. – Está indo aonde?
  - Para qualquer lugar. Eu devia ir para a aula de natação, mas já estou atrasada mesmo, então vou faltar. – esperou que ele falasse alguma coisa, mas a única coisa que fez foi pegar o capacete extra que estava amarrado atrás dele e jogar para ela.
  - Eu te dou uma carona para qualquer lugar. – Algo no subconsciente de gritava para que ela não fosse. Mas, sem sequer perceber, estava colocando o capacete e se sentando na moto, colocando seus braços em torno da cintura de .
  Ela nunca havia andado de moto antes. A sensação de liberdade era incrível! cruzava entre os carros, deixando-a com medo, e , sem querer querendo, acabava apertando um pouco mais seus braços ao redor dele. Decidiu fechar os olhos e se deixar sentir.
  - Chegamos. – disse uma eternidade depois, parando a moto. Quando finalmente abriu os olhos, não pôde se conter.
  - Wow. – Foi tudo o que conseguiu dizer. Atrás de uma cerca, o brilho do sol e o topo das árvores refletiam em um lago de águas claras. Se ela não estivesse ali, diria que era uma pintura. Enquanto admirava, pelo canto do olho viu escalando a cerca bem ao lado de uma placa “Não ultrapasse – propriedade particular”. – O que você está fazendo?
  - Está um lindo dia. Vou nadar no lago. – E, assim dizendo, pulou a cerca e caminhou sem pressa até a borda do lago, tirando suas roupas no caminho e jogando-as por aí, como se formassem uma trilha.
  - O quê...? – A garota não sabia bem como reagir. tinha entrado numa propriedade particular – isso era ilegal, não era? – e estava andando em direção ao lago apenas de boxers! Nenhuma revista de adolescente ensinava o que fazer numa situação dessas!
  - Você vem ou não? – Mesmo de longe, conseguiu ver o sorriso sarcástico do garoto a desafiando. Ela revirou os olhos, respirou fundo e fez o mesmo que ele. Pulou a cerca e foi tirando a roupa pelo caminho, ficando apenas de calcinha e sutiã. Agradeceu mentalmente por ter se depilado no dia anterior. a encarava durante todo seu trajeto, sem mudar a expressão ou falar alguma coisa. Então, sem aviso, a pegou pela cintura e correu até o lago, jogando-a e pulando atrás logo em seguida.

  O sol já estava quase se pondo quando ouviram conversas e risadas.
  - Shhh. – colocou a mão na boca e ficaram quietos por um tempo. não entendia nada. – Venha. – Silenciosamente, ele pegou em sua mão e foram ajuntando suas roupas até chegarem na cerca.
  - Hey! – Um grito atrás deles quase fez cair. a ajudou a subir, pulou atrás dela e foram correndo até a moto, com a garota segurando a roupa dos dois.
  - Essa foi por pouco. – Os dois falaram juntos quando desceram da moto alguns quilômetros depois para colocarem suas roupas de volta. Graças ao vento, não iriam precisar de uma toalha.
   estava colocando a blusa, quando sua cabeça passou pela gola, deu de cara com bem próximo dela, olhando fundo nos seus olhos. Era mais uma situação que você não vê em revistas de adolescentes. agarrou sua cintura e a puxou para mais perto ainda, colando seus lábios nos dela. Foi um pouco bruto, mas não se importou. Foi a primeira vez durante a tarde inteira que ele demonstrou algum sentimento por ela.

  - , onde esteve? – A mãe de perguntou assim que ela passou pela porta da frente de casa. havia deixado-a na esquina, para evitar qualquer problema com seus pais. – A escola de natação ligou dizendo que você não foi. E o que aconteceu com o seu cabelo?
  - Ah. – Ela levou a mão ao cabelo, ele tinha um aspecto e textura estranhos. – Eu fui na casa do Genie estudar. Estava muito quente, então tomamos um banho de piscina. Perdi a noção da hora. Desculpe ter me esquecido de avisar. - A mãe suspirou. Era a primeira vez que fazia algo do tipo, então nem ela sabia direito como agir.
  - Tudo bem. Só não faça mais isso. – A garota nem acreditou na própria sorte. Não gostava de mentir para a mãe, mas o que ela iria pensar se dissesse “Mãe, faltei a aula de natação para ir nadar só com a roupa de baixo num lago particular com o garoto novo da escola”. Pensando bem, talvez a mãe dela nem fosse acreditar nessa história. O único garoto com quem tinha contato era Genie, e ele é gay.

  No final do mês, estava irreconhecível. Suas notas haviam abaixado, vivia com sono (costumava sair escondida durante a madrugada), frequentemente faltava aos compromissos e, quando ia, chegava atrasada. Seus pais não a confrontavam, achavam que ela estava passando “por uma fase”, como ouviu sua mãe sussurrar para seu pai no outro dia. Os professores a olhavam com pena quando notavam a cor escura em baixo de seus olhos.
   a beijou mais algumas vezes, mas o momento que vinha depois fazia parecer que nada tinha acontecido. Não se falavam na escola, embora ela o pegasse encarando-a de vez em quando, e ele nunca fez questão de apresentar para seus amigos. Essa era a deixa para ela se afastar, mas aquele garoto tinha algo que viciava.
  Para sua sorte, Genie sempre estava por perto. Ele não sabia o que estava acontecendo entre a amiga e , mas se preocupava com ela o suficiente para se obrigar a não se afastar, o que foi de grande ajuda.
  - ? – A garota estava parada na frente de uma das imensas janelas da biblioteca. Quando Genie chegou mais perto, pôde ver o que a incomodava. estava apoiado na moto, com as mãos na cintura de uma morena alta e a língua enfiada na garganta dela. – Venha. – Pegou na mão dela e a conduziu para o pátio da escola, bem longe de e sua moto.
  - Como... Como ele pôde fazer isso comigo? – disse, desabando em um banco e escondendo o rosto nas mãos. – Não somos namorados, mas ele sabia como eu me sentia. Ele sabia! – Genie não disse nada. Não tinha o que dizer.
  Durante alguns dias, uma garota diferente da outra aparecia na escola para esperar na saída. Diferente era modo de dizer, pois todas elas eram altas e esbeltas, do tipo modelo da Victoria’s Secret, e usavam roupas caríssimas. Isso destruía por dentro, pois ela achava que nem poderia ser comparada àquelas garotas.
  O que mais a irritava era que ela sempre sentia o olhar de nela durante as aulas, além do sorriso sarcástico, o que tirava totalmente a sua concentração.

  - Oi, moça. – Ele chegou no mesmo lugar e do mesmo jeito que havia feito da primeira vez. Já fazia alguns meses que e não se falavam mais. A relação deles terminou do mesmo jeito que começou: Rápida e inesperadamente. Ela havia conseguido recuperar as suas notas, e seus pais e professores estavam felizes de novo. Ele continuava um idiota, segundo ela.
  - O que você quer? – Ela disse, ríspida, sem fechar o livro que estava lendo e olhando para com os olhos semicerrados.
  - Eu sinto falta das nossas escapadas. Queria saber se você quer sair de novo.
  - É meio tarde pra isso. O semestre está no fim, e eu preciso ir bem se quiser ir pra faculdade. E a chance de isso acontecer se eu voltar a sair com você é zero.
  - Tudo bem. – Ele puxou uma cadeira e tirou da mochila um livro igual ao de . Ela apenas o encarou, sem saber direito o que fazer ou dizer.

FIM



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Xxx.
Carol.