I care

Escrito por Samilla Way | Revisada por Isabelle Castro

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Capítulo 1

  Era o aniversário do meu marido , eu tinha feito o bolo de chocolate. Eu fiz um mashmallow, bati o creme na batedeira, coloquei no saco de confeiteiro, confeitei o bolo inteiro, eu fiz um creme de chocolate e escrevi feliz aniversário. Coloquei o bolo em cima da mesa, Arthur, nosso filho de três anos sentou na cadeira e passou a mão na cobertura do bolo.
  - Meu amor, esse bolo é pro papai. – Eu avisei para ele, que ficou decepcionado, fez um biquinho.
  - Eu queria comer agora, papai vai demorar muito. – Arthur cruzou os braços, eu dei um beijo na bochecha dele e fiz carinho no cabelo loiro dele.
  - Depois você vai poder comer a vontade.

  Ele desceu da cadeira, saindo correndo pela cozinha. Eu corri para o banheiro, tomei um banho rápido, após o banho passei um creme hidratante no corpo inteiro, abri o meu guarda-roupa, coloquei apenas o vestido vermelho com a calcinha, fiz uma maquiagem, passei um batom vermelho e arrumei meu cabelo colocando de um lado só. Peguei o salto embaixo da minha cama, coloquei a minha sandália, andei pelo apartamento. Arthur estava no sofá brincando com o meu celular, eu tirei o telefone das mãos dele. Era 6h00 da noite, esse era o horário que saía do trabalho. Mordi o lábio inferior, eu cheguei perto de Arthur, então arrumei o seu cabelo.

  Eu abri a gaveta do rack, peguei um saco de bexigas coloridas, eu comecei a soprar e dei uma bexiga azul para Arthur brincar e se distrair enquanto seu pai não chegava em casa. Deu 7h00, o horário que ele costumava chegar em casa, mas ele não apareceu. Eu não entendi, mas coloquei as bolas pela sala, passei devagar para não as estourar com meu salto agulha. Deu 7h45, nada dele chegar, então eu peguei meu celular e liguei para , mas seu celular estava desligado. Então, entendi que ele não queria ser incomodado, eu peguei Arthur no colo, o coloquei na cadeira e cortei um pedaço de bolo e ele comeu, se sujou todo com a cobertura, eu dei um beijo em sua testa. Dei um suco de laranja para Arthur que ficou muito feliz, pediu outro de bolo para mim, eu dei outro pedaço.

  Eu peguei Arthur novamente no colo, o levei ao banheiro, ele escovou os dentes, o levei para o quarto, troquei sua roupa colocando um pijama o pus para dormir. Então saí do quarto de Arthur, voltei novamente a cozinha, peguei meu celular para ver as horas e era 8h30min.

  Eu sentei na cadeira, cortei um pedaço de bolo para mim, comi lentamente. Eu comecei a chorar, as lágrimas caíram borrando a minha maquiagem, sabia que eu ia fazer um bolo de aniversário, nós fazíamos isso todos os anos. Eu deitei na mesa e acabei adormecendo...

  Acordei com um barulho de homens falando alto na minha porta, eu tirei o salto, corri e abri para ver o que estava acontecendo. Quando abri era no meio de seus amigos bêbados, eu fiquei furiosa, eles começaram a rir quando me viram com maquiagem borrada e descalça, eu peguei um jarro de flores que ficava em nossa porta, o atirei na direção deles que fugiram correndo pelas escadas. entrou tropeçando pelas pernas e se jogou no sofá. Eu peguei meu celular na cozinha para conferir o horário, e era 4h03 da manhã.
  - Isso são horas de você chegar em casa! – Eu gritei.
  - Fica quieta, você vai acordar o Arthur. – deitou no sofá.
  - Desde quando você se importa com seu filho? Ou, comigo? Eu vou terminar a conversa amanhã bem cedo, antes que você resolva fugir de novo. E se acomode nesse sofá, pois é aí que você vai dormir um longo, longo tempo! – Eu terminei de falar, porque ele está bêbado e não ia lembrar-se de nada no dia seguinte.


  Eu peguei o bolo e joguei dentro da lata de lixo, eu entrei ao quarto, tranquei a porta com chave, me joguei no tapete e comecei a chorar novamente, mas dessa vez não consegui dormir.

  Na manhã seguinte, eu levantei bem cedo, não ia deixa-lo dormir, mesmo que fosse sábado e fosse seu dia de folga. Eu prendi o meu cabelo num rabo de cavalo, coloquei um conjunto de moletom, fiz minha higiene bucal, fui à cozinha e o observei dormindo todo jogado no sofá. Eu fiz uma panqueca e coloquei calda de maçã, e comi. Em seguida, eu coloquei meu prato no lava-louças, peguei uma panela dentro do armário e uma colher de pau, me aproximei do sofá e comecei a bater a colher na panela, fazendo um barulho e deu um salto do sofá. Ele levou um susto, e colocou a mão na cabeça.
  - Ótimo você está acordado. – Eu deixei a panela no sofá.
  - Claro você me acordou, eu estou morrendo de dor de cabeça. – levou as mãos à cabeça.
  - Estou me cansando dessa situação, estou cansada de me importar com você. – Ele deitou no sofá colocando a panela no chão. – Você não liga para mim e nem pro seu filho que você deve dizer pros idiotas dos seus amigos que o ama.
  - Tudo isso por um bolo estupido! – colocou as mãos atrás da nuca, eu cruzei os braços. – Só porque eu me casei, não tenho mais o direito de me divertir com meus amigos.
  - Você ficou fora de casa até as 4! – Eu mostrei quatro dedos para ele. – Sem contar que você desligou o celular, um dia você vai chegar das suas noitadas, e eu e o seu filho não estaremos aqui. – Eu respondi.
  - Você nunca vai sair de casa porque você me ama. – se levantou me olhou e aproximou a sua boca do meu ouvido e sussurrou. – Talvez se você fosse mais atraente, eu ficasse mais tempo em casa.
  - Manda seus amigos ficarem atraentes para você, você não vai ter nada de mim enquanto não mudar de atitude.

Capítulo 2

  Uma semana depois, eu fui buscar Arthur na escola, a professora dele me chamou no canto, ela colocou a mão no meu ombro, me mostrou um desenho de Arthur, tinha dois bonecos, eu e ele apenas. Eu não entendi nada então a professora me explicou.
  - Eu não quero me meter na sua vida... Mas, você e seu marido estão se divorciando?
  - Eu estou me divorciando. Por que você está me perguntando isso? – Eu me espantei.
  - É porque o Arthur não gosta de falar do pai e disse que o pai não gosta dele. – Eu fiquei sem reação.
  - O pai dele é um pouco ausente, só isso. – Eu fiquei sem graça.

  Arthur se aproximou de mim, eu o peguei no meu colo, ele me deu um abraço. Andamos até o nosso apartamento que ficava algumas quadras da pré-escola onde Arthur estudava. Chegando em casa, eu coloquei Arthur e o sentei no sofá. Ele me olhou nos olhos com seus olhinhos enormes.
  - Por que você disse pra professora que seu pai não gosta de você? – Eu cruzei os meus braços.
  - Porque ele nunca brinca comigo, ele não vem pra casa. – Arthur começou a chorar, eu sequei as lágrimas do meu filho com os meus polegares.
  - Ele te ama, dá forma dele, do jeito dele, ele ficou muito feliz quando eu fiquei gravida de você. – Nem eu mesma estava acreditando no que eu estava dizendo, eu nem sabia se ainda o amava, conseguia matar o que eu sentia por ele.
  - Amanhã vai ser a peça da escola sobre a natureza, eu vou ser árvore. – Arthur mudou de assunto, eu dei um sorriso.
  - Estaremos lá para ver você...

  À noite, quando chegou em casa, ele chegou no horário normal sem atraso, eu levei um susto. Eu estava dando o jantar para Arthur, Arthur continuou a comer, assim que viu o pai nem se importou, estava se comportando igual ao pai. me deu selinho na cozinha, eu não entendi, mas não resolvi falar nada, eu servi o meu jantar e fez o prato dele e comeu conosco.

  Após o jantar, eu coloquei Arthur para escovar os dentes e depois o coloquei para dormir na cama dele. Eu fui ao meu quarto para dormir, estava de toalha, me aproximei dele, colocando uma das minhas mãos em seus ombros. Ele olhou para o lado evitando o meu olhar, então eu me respirei fundo.
  - Amanhã à noite, vai ser a peça do Arthur na escola, por favor, se você ama um pouco o seu filho, só um pouco, você vá à peça dele. – Ele tirou a mão do meu ombro.
  - Eu trabalho. – Eu revirei meus olhos.
  - Às 7h30min dá tempo, eu sei que você não se importa, mas estou avisando.

  Na noite seguinte, eu dei banho em Arthur, em seguida coloquei a roupinha nele, passei perfume nele, penteei seus cabelos e depois coloquei gel. Eu chamei um taxi, eu coloquei um salto alto, eu olhei para o relógio e era 6h40min, eu respirei fundo e mantive a esperança de que ele iria chegar a tempo.

  Chegando a escolinha, a professora já estava na porta pegando os alunos, ela pegou a mão de Arthur, eu dei um beijo na testa dele. Então ela o levou para dentro da escola, eu fui ao auditório passando pelo meio das pessoas e me sentei na frente, eu retirei o celular de dentro da bolsa para filmar.

  De repente as cortinas se abriram, eu liguei a câmera e comecei a filmar o meu filho vestido de árvore. Cantando e dançando, eu fiquei encantada, eu fiquei filmando juntamente com outros pais que nem percebi a hora passar.... Assim que a peça terminou, eu peguei Arthur no colo e o enchi de beijos, eu olhei para o lado e não vi , eu balancei a cabeça negativamente. Eu vi um taxi que se aproximava, eu assobiei e ele parou, ajeitando Arthur no meu colo, eu abri a porta e entramos. Eu sinalizei ao motorista onde ele deveria parar. Quando chegamos ao nosso destino, eu paguei ao motorista, e descemos do carro. Eu olhei para cima e a luz do apartamento estava acesa, subi normalmente, Arthur já estava sonolento em meu colo. Eu fiz um cafuné em seus cabelos loiros enquanto subia as escadas, avistei a porta do apartamento escancarada, uma gritaria dentro do apartamento.

  Eu entrei e avistei e seus amigos vendo futebol com várias garrafas de cervejas jogadas no chão, eu fiquei assustada, mas eu não ia brigar estava cansada daquela vida e dele também. Se ele não ia mudar, eu teria que mudar. Então eu passei por eles, os ignorando, entrei no meu quarto, coloquei Arthur na cama, peguei duas malas pretas, tirei as minhas roupas, coisas pessoais e as joguei dentro da mala. Peguei a mochila e a maleta vermelha de Arthur, segui para o quarto dele e catei tudo que era do meu filho, em seguida coloquei dentro da mochila e da maleta vermelha. Eu acordei Arthur, ele coçou os olhinhos, então eu coloquei a mochila nele. Eu liguei para um taxi pelo celular. Eu fiquei olhando para janela esperando o taxi, eu peguei outra mala verde, coloquei mais coisas dentro, eu estava furiosa, mas eu não ia recuar dessa vez.

  O taxi ficou parado na porta do prédio, eu assobiei e pedi para ele subir para pegar as malas. Eu peguei duas malas e coloquei na porta do apartamento, em seguida, coloquei as outras malas, voltei ao quarto e tirei a mochila de Arthur, e o peguei no colo mais uma vez. Eu fui à porta, o taxista chegou, pegou três malas e desceu. Finalmente se deu conta que eu ia embora de casa.
  - Por que está indo embora? – segurou o meu braço.
  - Eu estou cansada de você, você não foi a peça do seu filho na escola, você não se importa conosco. – Eu soltei o meu braço.
  - Para onde você vai? Pelo que eu sei você não tem amigos e nem família na cidade. Muito menos dinheiro. – Os amigos deles saíram do apartamento como ratos covardes.
  - Não sei, só quero ir para bem longe de você. Você vai ganhar a vida de solteiro como sempre desejou. – O taxista pegou as últimas malas e segurei a maçaneta da porta.
  - Te dou dois dias para você voltar para casa. – voltou a sentar-se no sofá.
  - Adeus.

  Eu soltei a maçaneta e saí do apartamento, eu abracei meu filho enquanto descia as escadas, assim entramos no taxi, eu deitei Arthur no banco de trás, eu me sentei ao lado dele, coloquei a cabeça dele no meu colo e comecei a chorar.
  - Para onde eu levo a senhora? – O taxista perguntou.
  - Para bem longe daqui.
  - Vou te levar pro aeroporto da cidade... Quer esperar mais um pouco? – Eu observei olhando pela janela, mas ele voltou rapidamente.
  - Não, pode seguir...

FIM



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