I Believe
Escrito por Leeh Way | Revisado por Natashia Kitamura
Bastou que eu fechasse os olhos, para que eu o sentisse aqui... Voltaria a acreditar na magia do natal esta noite.
P.O.V
O natal se tornou uma data triste para mim. Triste era pouco, este dia simplesmente se tornou um pesadelo pra mim. Primeiramente porque eu perdi o amor da minha vida. Quem? , o da banda Nx Zero. Ele morreu num acidente de carro quando estava voltando do litoral de São Paulo, vindo pra minha casa. Sabe o que tornou o acidente mais horrível, além do fato de ter sido causado por uma fã que me odeia e que pensava que eu estava naquele carro? O fato de somente o ter morrido.
Meus olhos começaram a arder e eu parei de encarar aquela árvore de natal sem graça e sem enfeite nenhum. Nós dois sempre enfeitávamos a árvore, passávamos a noite de natal juntos e depois íamos pra casa da família do ou então pra casa da minha mãe.
Fazia três anos que esse acidente tinha acontecido, e todo natal a dor parecia piorar. Os meninos sempre me chamavam pra passar esse dia com eles, mas eu sempre preferia passar ali sozinha. Esse ano em especial eu queria passar sozinha. Iríamos nos casar, tínhamos tudo marcado... Mas por causa de uma fã, nada deu certo.
Me encolhi naquele sofá gelado e deixei que as lágrimas lavassem meu rosto, como haviam feito por quase mil dias até aqui. Apenas deixei que as gotas continuassem fazendo seu trabalho, que era tentar, na medida do possível, diminuir minha dor.
Levantei o rosto, e observei bem aquela casa, enfeitada como o tanto gostava. O corrimão das escadas com bolinhas de árvore de natal azuis penduradas; a mesa com um ceia linda que eu mesma tinha preparado, e a árvore vazia, somente com a estrela dos pedidos.
A estrelas dos pedidos era muito importante para o , como era pra mim. Ela era branca, e se abria, lá colocávamos nossos pedidos. Nos dois até riamos dizendo que estávamos pedindo os nossos presentes atrasados para o papai Noel. Enfim, todo ano colocávamos alguma coisa ali. Foi assim durante seis anos... E agora completam três anos que não colocava nada ali.
Hoje, incrivelmente eu quis mexer naquela estrela. Me levantei e praticamente corri em direção á arvore. As luzes apagadas, somente o pisca-pisca da árvore iluminando a casa fazia com que o vazio se tornasse mais vazio ainda - adorava o pisca-pisca que eu colocava na árvore.
Peguei a estrela e me sentei no chão, relutei um pouco em abri-la mais algo dizia que eu deveria abri-la sim. Abri a estrela sentindo as lágrimas escorrerem dos meus olhos. Tinha só um papel lá dentro pra minha total surpresa. Eu o peguei um pouco receosa de que fosse mais uma das brincadeiras idiotas do , que tinha passado em casa pela manhã pra ver como eu estava, mas depois voltei atrás... Ele não seria capaz de uma brincadeira tão estúpida.
Finalmente encontrei forças pra abrir aquele papel. Foi o maior susto da minha vida ler aquilo.
"Aonde estiver, espero que esteja feliz e encontre seu caminho. Guarde o que foi bom, e jogue fora o que restou".
Te amo...
."
As lágrimas começaram a escorrer freneticamente por meu rosto. Joguei longe a estrela e me afastei da árvore, indo pra perto da janela. Fiquei observando a rua, sempre vazia. Dois segundos depois, percebi um papel preso no vidro, do lado de fora. Abri a janela pra pegar o papel e outra vez me surpreendi.
"Desculpa ter sumido por tanto tempo. Desculpa ter mentido e ter te deixado tanto tempo sem minhas piadas sem graça... Só quero que você tenha um bom natal."
Joguei o papel pra fora e tranquei a janela com raiva. Estavam tirando uma com a minha cara? Ninguém respeita a dor de ninguém mesmo. Me virei, olhando para o relógio que ficava na parede, bem no topo da escada e suspirei triste. Meia noite. Nessa hora provavelmente eu e estaríamos atendendo telefonemas, ou então comendo alguma coisa e rindo sem parar, ou quem sabe estaríamos renovando nossos pedidos na estrela.
Fechei a cara e decidi ir dormir. Assim a dor não seria tão insuportável. Desliguei o pisca-pisca e subi as escadas rapidamente, deixando pra trás um telefone que não parava de tocar. Não queria falar com ninguém, com quem quer que fosse. Não estava em condições de ouvir um feliz natal, porque meu natal não era feliz.
Abri a porta do quarto e me deitei naquela cama espaçosa. Sozinha. O que doía mais era saber que eu não tinha mais ele... Doía demais. Me encolhi e abracei meu ursinho. Eu sentia falta de tudo que era dele, desde do cachorro fofo e insuportável que tinha - o - até das nossas raras brigas.
Fechei os olhos e procurei pelo sono em algum lugar no meu subconsciente. Em questão de segundos eu parecia estar chegando ao meu objetivo do dia: Dormir. Se eu não tivesse percebido um outro papel, no criado mudo com certeza estaria dormindo.
Peguei o papel que dizia assim:
"Se você sempre acreditou que todos os nossos pedidos se realizariam, então por que não acreditar que o que você tanto pede se realizou?"
Suspirei cansada demais daquela brincadeira sem graça. Me levantei um tanto nervosa. Todo ano eu deseja mentalmente que o voltasse.
- QUAL É GRAÇA GENTE? PODE SAIR! POXA, NINGUÉM RESPEITA A MINHA DOR!- gritei não obtendo nenhum tipo de resposta.
Paralisei por alguns bons dez segundos, até que resolvi descer. Dormir eu não conseguiria, então ficar na sala assistindo qualquer coisa não seria pior do que ler aqueles bilhetes. Desci as escadas vagarosamente notando que o pisca-pisca estava ligado. Me lembro de ter desligado quando subi para o quarto.
- HEY, EU SEI QUE TEM ALGUÉM AQUI! SEJA LÁ QUEM FOR, EU NÃO TENHO DINHEIRO, NÃO TENHO DROGA NENHUMA, OK? - gritei ouvindo em resposta somente o silêncio.
Corri para o sofá e peguei o controle da TV, na mesinha de centro. Liguei a televisão e deixei em qualquer canal, mesmo que estivesse tocando Nx Zero. Não interessa, ouvir as musicas do Nx era o único jeito de me sentir mais perto do .
Tentei me concentrar o máximo possível no desenho infantil que passava na globo, mas não consegui, porque ouvi uns barulhos estranhos vindo da cozinha. Agora tinha certeza de que alguém estava dentro da casa. Só poderia ser um assaltante, porque quem mais invadiria uma casa toda escura em pleno natal? Faz sentido.
Depois de vários minutos gastos com um desenho sem sentido, senti uma estranha necessidade de fazer uma coisa que eu não fazia desde que o havia partido: Rezar. Mesmo com os estranhos ruídos que vinham da cozinha - eu realmente não me importava, se fosse um assaltante logo ele iria embora -, mesmo não fazendo sentido essa estranha vontade.
Me ajoelhei, meio sem jeito no meio da sala com a TV ainda ligada. Não sabia por onde começar, mas sabia que de alguma forma eu teria que fazer isso. Respirei fundo e comecei expondo o que eu sentia dentro de mim.
- Deus ou a quem interessar - foi assim que o começou a rezar um dia quando eu tinha ficado doente, ele queria me fazer rir. Nesse momento foi inevitável que as lágrimas não voltassem a cair, então continuei -, faz tanto tempo que não rezo que estou um pouco sem prática, não sei por onde começar, mas vou colocar aqui as coisas que estou sentindo - ouvi uma risada baixa que não me era estranha vir da cozinha, mas continuei - Por que o senhor me tirou o , se ele era tudo que eu queria de natal? Eu não estava merecendo um presente como aquele? Não obtenho respostas agora. Sério, nunca pensei que ficaria tão triste e revoltada com a vida como fiquei quando soube que nunca mais o teria aqui. - fiz uma pausa olhando pra aquela casa.
Enfeitada, mas em si vazia. Se ele estivesse aqui com certeza estaria cheia de gente ou então nós dois trataríamos de preencher todo vazio, como das outras vezes.
- O ouve quando eu choro chamando por ele durante a noite? - continuei me sentindo louca por estar rezando em voz alta, tão sem jeito - Agora resolvi parar pra pensar, se milagres de natal existem, quero uma prova disso, quero o aqui, hoje, agora. Quero meu presente de natal atrasado de três anos atrás. É pedir demais? - ouvi outro barulho vir da cozinha, me assustei um pouco com o estrondo mas continuei. - Se isso acontecer eu acredito agora. I believe - sussurrei ouvindo outra voz junto com a minha.
Fiquei por alguns minutos de olhos fechados, esperando alguma coisa acontecer. Acreditem, aconteceu. Quando eu abri os olhos, ele estava ali sentado no pé da escada, sorrindo pra mim.
- , o que você... - não consegui terminar aquilo era demais pra minha cabeça. Fiquei paralisada, esperando que aquela miragem simplesmente desaparecesse da minha frente.
- , você me desculpa por eu ter ficado longe por tanto tempo? - perguntou com um sorriso tímido e fofo nos lábios.
- Desculpo, mas eu queria entender o que você está fazendo aqui... Estou louca é isso? - perguntei meu corpo tremendo, era este o milagre de natal que eu tanto queria?
- Não, você não está louca... Estou aqui!- ele disse se levantando e andando e minha direção. - Estava aqui esperando o melhor momento pra falar com você!
Me levantei do chão e o abracei, para ter certeza de que aquilo não era só uma miragem. E para minha surpresa, não era. Eu podia sentir sua pela quente. Um sorriso que não se abria nos meus lábios a muito tempo apareceu e as lágrimas começaram a cair de novo.
- Me desculpa por mentir pra você, eu não morri. Eu só queria te proteger dessa fã maluca...- ele sussurrou no meu ouvido a voz calma.
Eu suspirei aliviada se aquilo era um pesadelo, havia acabado.
- Eu não consigo acreditar que você está aqui comigo!- eu disse fechando os olhos o abraçando com toda minha força.
- Estou aqui , estou aqui. Eu não estava mais agüentando ficar longe de você pra te proteger... - falou alisando meu cabelo com antigamente.
- Mas, por que... ?- perguntei ainda sem reação ao perceber que o que estava na minha frente era mais do que real.
- Medo de que te machucassem... Só isso, eu sei que com certeza esses três anos foram péssimos para você, mas agora acabou. Estou de volta!- ele sorriu me afastando um pouco pra olhar nos meus olhos.
Eu me afastei bruscamente. Era mentira, eu estava sonhando, coisas do tipo nunca acontecem no natal. Só em filmes.
- Mentira, eu estou sonhando e vou acordar daqui á três segundos!- eu disse convicta, me beliscando.
- Para , você não está sonhando coisa nenhuma, estou aqui!- ele disse ficando um pouco bravo com a meu surto.
- É serio? - perguntei um pouco receosa se acreditava ou não.
- Sério, pra te provar que é verdade olha isso. , VEM! - sorriu chamando o cachorro que veio pela sala correndo e pulou em mim.
- Nossa... - eu suspirei sem conseguir acreditar enquanto brincava com o cachorro. riu.
Eu estava presenciado um milagre de natal.
- Você demora pra acreditar nas coisas... - ele riu expulsando o de cima de mim e me abraçando com força, encostando sua testa na minha.
- Três anos , você queria o quê?! - me defendi aproximando meus lábios dos seus e lhe dando um selinho.
- Desculpa por isso! - ele pediu novamente me beijando com calma.
Aquele fora o beijo mais gostoso, o beijo mais cheio de emoção que eu já tinha dado na minha vida inteira. Agradeci aos céus por ele estar ali, mesmo não acreditando muito em tudo.
- Eu já desculpei! Com tanto que você prometa ficar aqui pra sempre e nunca mais me dar um susto desse! - pedi olhando profundamente em seus olhos.
- Vou ficar aqui sempre. Sabe o que é pior? Você vai ter que agüentar minhas piadas sem graças e o pra sempre!- ele riu e foi inevitável que eu não desse risada junto.
- Assim espero. Melhor com suas e piadas e com o do que sem você! - confessei sorrindo.
- Coitado do meu cachorro. - ele riu e beijou minha bochecha - Agora vem que o deve estar esperando a gente lá na casa do e a gente ainda tem que passar na casa do - disse me puxando em direção á porta.
- Espera , vem cá! - eu o puxei de volta em direção á arvore de natal, peguei a estrela jogada no chão, bloquinho e caneta que ficavam na mesinha do telefone.
- O que foi? - ele perguntou parecendo um pouco confuso.
- Até parece que você não sabe o que eu estou fazendo ! - bufei e comecei a escrever numa letra legivelmente grande.
"Esse ano, eu desejo que todos os milagres de natal possíveis aconteçam. Seja no lugar que for."
- Sua vez! - entreguei o bloquinho e a caneta. apenas sorriu e escreveu.
"Milagres de natal. Somente isso e minha namorada linda sempre por perto!"
Nós dois nos encaramos por alguns segundos e depois selamos outro beijo.
- Vamos, antes que os meninos comecem a surtar!- ele me puxou mais eu parei outra vez.
- Olha a minha roupa, ! Calça jeans, camiseta e tênis. Hoje é um dia especial!- resmunguei olhando minha roupa com desdém.
- Ah , para! Eu to parecendo um mendigo e você que fica reclamando?! - ele riu e eu olhei pra roupa dele.
Estava lindo, calça jeans, camisa branca e tênis. Estava perfeito.
- Seu bobão, vamos logo!- e eu empurrei em direção á porta, com seguindo nos dois.
- Te amo sabia, ?- perguntou me abraçando antes que saíssemos de casa.
Eu assenti que sim com a cabeça e depois o beijei, pedindo para que aquele milagre de natal nunca acabasse. Nós dois quebramos nosso beijo rindo e depois fomos em direção á um noite feliz.
Eu ri, das piadas dele o caminho inteiro e fui acreditando mais do que nunca que milagres de natal existem, só basta a gente acreditar nisso que eles vem.