Home is where we started

Escrito por Julia | Revisado por Natashia Kitamura

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  Não sei de mais nada. "Home is where the heart is", era só isso o que passava pela minha mente. Eu não conseguia pensar direito, nem ouvir mais minhas próprias tentativas de pensar algo com um pingo de sentido. Me joguei no sofá, enquanto encarava um ponto qualquer da TV desligada.
  "E agora?" Coloquei a mão por cima do ventre e sorri involuntariamente. Meu sorriso sumiu instantaneamente quando lembrei que ele não estava mais ali pra ouvir essa notícia. "Vamos ter um menino" eu diria, há um tempo "vai ser guerreiro como você!" Isso não aconteceria, e simplesmente porque a vida resolveu ser filha da puta e fazer isso comigo.
  Há três meses, meu pesadelo começou. Veja bem, só começou…

  ~ Flashback ~
  Há um mês eu havia descoberto que estava grávida. Levava uma vida tranquila até, trabalhava numa Starbucks do outro lado da cidade, e morava com meu namorado que eu tanto amava. Minha vida era perfeita.

  "Hey! I’m look up for my star girl…" Era o toque do meu celular, e fiquei sem graça por todos olharem para mim, mas ao mesmo tempo sorri. Era o toque que indicava que quem ligava era ele.
  "Oi, amor!"
  "Senhorita… ?" Um homem perguntou do outro lado da linha, meio inseguro. Pera lá! Essa não era a voz do … Respirei fundo, com um pressentimento horrível súbito.
  "A própria. Quem deseja?"
  "É do hospital, está internado, sofreu um acidente." A cada palavra meus olhos se arregalavam mais e mais "Por hora ele está bem, mas precisamos que venha ao hospital, por favor"
  "COM CERTEZA! Onde é?" Quase gritei de desespero. Sim, eu ouvi o homem dizer que por hora ele estava bem, mas a sensação horrível não saiu de dentro de mim, e eu não respirei aliviada. Algo muito ruim iria acontecer, por favor, não seja com meu
  O homem me disse o nome do hospital e o endereço e eu praticamente voei para chegar até lá. Peguei o primeiro táxi que vi e indiquei o endereço, tremendo, com mais medo do que em toda a minha vida. Eu não iria chorar!
  Cheguei surpreendentemente rápido ao local, saltando do táxi e quase esquecendo de pagar a corrida, voltando rapidamente e dando uma nota qualquer na mão do taxista. Ele me olhava preocupado, mas como eu não tinha muito tempo (era o que sentia), não dei muita bola.
  Saí correndo pra dentro do hospital e quase me joguei em cima da mulher que estava na recepção, perguntando onde se encontrava.
  "Na UTI, senhora. A senhora é o que dele?"
  "Namorada" Depois raciocinei. UTI? Oh meu Deus! Tentei me manter relativamente calma, apesar disso
  "Ok, a senhora pode ir por ali e entrar no segundo correr à esquerda. Irá encontrar alguns médicos, eles te guiarão"
  Saí correndo, sem nem agradecer. Não havia tempo, e eu (estranhamente) sabia disso.
  "Moço! Médico!" Cheguei afobada a um médico "Onde está?" Repetir o nome dele a todo instante estava me causando sentimentos estranhos
  "Nesse quarto da UTI, senhorita" ele apontou pra um dos quartos e eu já havia me dirigido para ele quando senti a mão do mesmo médico no meu ombro esquerdo "Opa, opa! Espera" ele me puxou "Ele está em estado grave, os ferimentos são feios, e eu não sei se ele aguenta por muito tempo" Eu arregalei os olhos. Quê?
  "Como assim? Me diz que isso é brincadeira, por favor, doutor!" Eu não conseguia nem chorar de tão nervosa que estava
  "Infelizmente, não. Mas, a senhora desejaria vê-lo? Só 10 minutos, é o máximo" ele sorriu complacente. Eu não conseguia sorrir de volta, só balancei a cabeça afirmativamente. Ele, então, me fez colocar aquelas roupas ridículas "Para proteção, tanto sua como dele" argumentou. Eu não estava com tempo de discutir
  Entrei quase correndo. Quase, o médico me olhou feio. Tentei andar devagar, mas era meio difícil controlar a ansiedade.

  Olhei para meu homem desacordado. Pelo menos era como ele parecia. Vários cortes pela testa e a boca um pouco inchada. Continuava lindo. Coloquei uma mão em sua bochecha roxa fazendo um carinho, e ele abriu os olhos
  "Oi, amor" Sussurrei. Ele tentou sorrir, mas fez uma careta de dor em seguida. Os monitores apitaram, e ele começou a abrir e fechar a boca tentando falar algo, mas nada saía. Eu olhava dos monitores para seus olhos, que iam perdendo o brilho devagar
  Então, ele me chamou fracamente com a mão. Eu quase corri para abraçá-lo.
  "Home is where the heart is" Foi a única e última coisa que eu ouvi sair de sua boca naquele hospital. Então, o monitor ao meu lado fez um barulho irritantemente contínuo "piiiiiiii" e eu pensei que não podia ser. Isso não estava acontecendo comigo. Olhei de novo em seus olhos, mas neles não vi nada. Brilho, vida, felicidade, simplesmente nada. Não havia mais vida naquele corpo. E então, meus soluços irromperam pelo quarto. Não sabia o que fazer, se ia chamar os médicos ou abraçava ele. Optei pela segunda opção, e abracei-o, mesmo não sentindo o gesto ser retribuído. Comecei a chorar mais alto, mas me afastei dele fechando seus olhos e repetindo suas fracas palavras… "Home is where the heart is."
  Sentei ao pé de sua cama e continuei chorando copiosamente, simplesmente mais que nunca. Vários médicos irromperam o local uns poucos minutos depois e, ao contrário do que pensavam, não fiz objeção nenhuma quando me levantaram para me levar para fora do quarto. Eu não aguentaria. Não aguentaria ver o corpo dele no estado que estava, imóvel, sem vida, sem batimentos. Ele agora era frio, e não era mais meu. Alguém podia me dizer por que doía tanto?
  Saí do quarto e não sei como liguei para , a única a quem eu tinha no momento. Com a voz mais morta do mundo, mas sem chorar mais uma lágrima sequer, passei a ela o endereço de onde estava
   havia morrido? Ficado frio? Eu havia ficado mais.
  Quando se foi, ele não levou só sua vida e suas lembranças, mas também a minha vontade de viver. Como seria daqui para frente?
  Braços subitamente me pegaram. Eram de . Eu via o rosto desesperado da minha amiga de canto de olho olhando em minha direção, enquanto seu namorado me carregava no colo até seu carro e voltava para ver meu recém-morto namorado
  Eu não aguentaria mais um minuto daquilo. Quando veio me abraçar, eu somente apoiei a cabeça em seu ombro e a ouvi soluçar baixinho. Eu não tinha mais vontade de nada. Não chorei, não troquei uma sequer palavra com ela. Simplesmente não vivia mais. Não havia mais nada que me fizesse ir pra frente. Nada.
  Quando voltou, também não trocou uma palavra conosco e dirigiu até minha casa. me ajudou a subir as escadas e me colocou na cama, falando que dormiria comigo e que não havia como protestar. Não movi um músculo sequer enquanto ela foi falar com . Olhei pra algum ponto do teto branco e comecei a lembrar de tudo o que havíamos vivido, bom e ruim. Quando ela voltou, eu continuei sem mexer um músculo, do mesmo jeito.
  Ela quase precisou me dar uns tapas para que tomasse banho, mas me recusei a comer
  Naquela tarde tive um pesadelo. Sim, com ele. Mas era pesadelo somente por ele não estar mais comigo. Ele beijava meu pescoço pra me acordar e quando eu virava para vê-lo sorrir, acordava. Acho que sonhei umas 20 vezes com a mesma coisa
  Passei uma semana sem fazer nada. Faltei à faculdade, ao trabalho, ao curso, e só atendia aos telefonemas da minha querida (e chata) amiga para confirmar que continuava viva. Pelo menos, meu corpo continuava vivo.
  Mal comia, não me importando quando minha barriga roncava. Até que um dia me lembrei… Eu… Estava grávida. Sim, só fui lembrar novamente desse fato uma semana depois.
  Olhei pra minha barriga, que roncava, e já estava enorme. Sorri, pela primeira vez naquela semana. De repente a vida voltou a mim. Não de uma vez, aos pouquinhos. Conforme passava o dia e eu acariciava meu ventre, meu estômago reclamou de fome e minha bexiga de vontade de ser esvaziada. Fiz ambas com as mãos onde meu ventre resplandecia alegria, em mim. Se não fosse ele, eu não viveria. Não haveria como. Mais tarde liguei para . Assim que atendeu, nem deixei-a completar o sermão de que eu não havia a atendido mais cedo e já disparei
  "Você pode vir aqui? Com o ? Tenho um comunicado importante, beijos" Não deixei-a responder também.
  Ela chegou à minha casa com uma cara de preocupada, os olhos arregalados e não entendeu quando me encontrou vestida decentemente, com umas 3 mochilas ao meu lado.
  "Posso ir passar um tempo com vocês? Até conseguir um dinheiro com esse apartamento e conseguir uma casa onde criarei meu pequeno sozinha" Nessa hora eu estava em frente a ela, com a mão no ventre, olhando sua feição surpresa. Ela estava com os olhos marejados e as mãos na boca, e tinha um sorriso sutil desenhando seus lábios. Estava feliz pelo amigo, tenho certeza. Levei tudo meu para lá, alegando que minha vida não havia parado, apesar de doer. Doía no fundo da minha alma. Mas eu não demonstrava nunca, a nenhum dos dois.

  Um mês e meio depois consegui vender o apartamento, com mobília e tudo. Pedi (lê-se: supliquei) a que retirasse as coisas de . Doía, mais do que tudo. Mas eu continei em frente. Forte, porque tinha uma criança dentro de mim. E eu precisava ser forte por nós dois
  ~ End Flashback ~

  Era um menino. Jack. Foi o nome que ele escolheu. Ele viveria bem, teria amor, e conheceria o pai apenas por fotos. Eu já conseguia falar seu nome sem chorar, mas evitava. Ainda doía. Bastante.
  Mas era a minha vida. "Se aconteceu, era porque tinha que acontecer. Bola pra frente! Aliás, me deu uma vontade de comer bolinhas de chocolate…" Salivei, e saí correndo para a rua, a fim de comprar meu doce.
  Minha vida não era mais adocicada, não tinha mais o mesmo teor, a mesma felicidade. Mas ainda era a minha vida. E do pequeno Jack também.
  "Home is where the heart is" Ele sempre estaria comigo, presente em mim. No pequeno Jack, então…



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