Hit song love

Escrito por Gabriella Moreira | Revisado por Mariana

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  B4.
  Três Libras.
  B4.
  Três Libras.
  B4.
  E um soco abafado levado pela maquina. Coitada.
  Ali estava sendo enganado por uma vending machines de salgadinhos, e por mais de engraçado que a situação parecia, ele estava explodindo de raiva. O mesmo se encontrava em uma sala de espera de um hospital perante pessoas exaustas esperando por tratamento medico em plena madrugada de um sábado. Por quê? Seu grandíssimo amigo, , sem responsabilidade sem juízo, diria, saiu à deriva pelas ruas embriagado de Red Bull, e como previsível de qualquer bêbedo sem seus sentidos automobilísticos atiçados, foi o responsável pela grande batida que provocou o choque entre a dianteira de seu carro com a arvore que enfeitava o inicio de uma linda pracinha.
  Estava totalmente transparente a preocupação que o garoto tinha por seu amigo, era de se esperar. sempre foi muito apegado ao , eles dividiam 50% da vida um com o outro. Era de fato uma amizade invejável por qualquer pessoa.
  E aquela maquina roubando ele não o deixaria nem um pouco melhor, pelo contrario, parecera que ele ficava cada vez mais e mais frustrado. O que permitia a secretária dar inúmeras olhadas de canto de olho para verificar se o mesmo permanecia controlado, porém, nesse caso só um grande pacote de cheetos para acalmá-lo.
  Vencido pelo cansaço, sentou-se em alguma das cadeiras livres, esquentando suas mãos nos bolsos do seu moletom, jogando sua cabeça para trás e tentando ao máximo esvaziá-la. Foi quando resolveu abrir suas pálpebras aos poucos, pensando e repensando se algum caso ele ia se arrepender do ato futuro feito, claro que não, o destino não armaria tanta desordem na vida de um simples estudante sonhador e comprometido com seu futuro.
  Logo o som dos saltos batendo no piso de cerâmica, reproduzindo o som para todo recipiente, fazendo grande parte das pessoas olharem para uma esplendida garota. Era bem visível a expressão de naquele momento. É, ele não é o tipo de cara que tenta esconder algo, pelo contrario, quanto mais claro melhor.
  Se por acaso notasse sua presença, provavelmente ficaria assustada com o jeito do garoto, era como se ele dissesse: “Estou mais do que pronto para te dar um dos meus péssimos flertes, gata”, felizmente nem percebera que havia alguém interessante naquela sala tão conhecida.
  Na verdade, conhecia aquele local desde seus seis anos de idade, e passado quatorze anos, quase nada mudara, pois aquela menininha que brincava de lego sozinha no hospital de seu pai, hoje é um aprendiz de adulta. Seu rosto era extremamente ingênuo e delicado como de uma garotinha de doze anos – com exceção das espinhas, lógico – mas seu corpo era de uma belíssima mulher.
  Mesmo sendo censurada na maioria das vezes por seu pai, que discordava que sua pequena filha levasse o posto de amadurecida, continuava com suas vestimentas sofisticadas de uma rica mulher aos trinta e cinco anos, levando em consideração que a própria só estava na faixa de seus vinte.
  Já era de se esperar atração de olhares de todos, a sua beleza era indistinguível para qualquer britânico que desconhecia as obras naturais brasileiras.
  Ela era , a filha do dono de todo hospital. Um dentista que mal praticava sua área, já que junto aos seus sócios poderiam render muito mais com estabelecimentos do que com diversas consultas. E sua filha sempre estava perambulando por aqueles corredores, conhecia a todos e todos a conheciam. Uma rotina que há muito tempo já havia ultrapassado o padrão normal para ela.
  Enquanto ela passava cumprimentando os mais conhecidos com o olhar, entrou em seguida no elevador e apertou o andar de destino com sua unha cintilante até que as portas fechassem a visão do garoto.
  0...1...2...3 contavam os olhos de que rolavam cada vez que os números da parte exterior do elevador mudavam.
  Dessa vez ele desistiu totalmente de pensar mais de duas vezes e correu a chamar todos os elevadores disponíveis. Aquela jovem era encantadora demais para ser perdida. Ele saltou correndo pelos corredores do terceiro andar até que viu uma das únicas portas abertas com uma plaquinha pendurada escrita: “Richard ”.
  Lá estava ela, era ali mesmo que ele ia ficar, na cadeira azul de poltrona dura. Isso era o que menos importava naquele momento já que o perfume da garota empatava os seus neurônios a se juntar com rapidez. Com toda coragem que o tinha – pois claramente não era nem um pouco inibido – respirou fundo olhando em direção a garota e falou:
  - Olá! – embora estava sentindo uma pontada de arrependimento após receber em resposta uma camada de silencio constrangedor, ele continuou – Sou o...
  O garoto foi levemente interrompido pela voz suave e meiga que provavelmente havia saído das cordas vocais de :
  - . – ele concordou com a cabeça. Algo tipo “fui descoberto, preciso de uma nova tática” meio que gritava em sua mente.
  - O preço da fama, não?
  A menina abriu a boca para responder, embora ainda não estivesse entendido a situação. Porém, a secretaria sentada em um banquinho quase que aos pedaços, mexendo em alguns prontuários o disse:
  - Desculpa, senhor – sua voz era extremamente irritante e afônica, quase insuportável – não há nenhuma consulta para ‘’.
  Falha. A garota soltou um riso baixo e abafado, fazendo com que o próprio desse um sorriso amarelo de vergonha.
  - Estou só acompanhando... – uma total tentativa vã de amenizar a situação.
  - Sim, claro, a Senhora Zeyles? – aquela senhora o provocava propositalmente, não era possível! Sem mais opção de fuga, concordou com a cabeça – mas aqui informa que ela veio sem nenhum acompanhante.
  - Vovó, sempre tão detraída e desatenta... Desculpe-me o transtorno, há algum problema se eu esperá-la aqui?
  A secretaria segurava seu riso provocante nos lábios, porém nada impossibilitou a mandar uma resposta educada e falsa.
  - Claro que não, acredito que a consulta vá demorar um pouco, sem problemas, não? – lógico que não havia problemas, somente soluções.
  , no meio de toda a historia, sacou seu celular para distrair-se, sem perceber que estava ao seu lado esperando por algo a mais que um singelo riso abafado e mais amostras grátis de como era sua doce voz.
  Quando a mesma secretaria resolveu fazer algo que preste, dizendo:
  - Então, – bingo. Meio passo andado, ele agora sabia o nome da sua nova paixão instantânea de cinco minutos – como vai seu pai e os negócios do hospital?
  A menina abriu um sorriso educado novamente, de forma singela, e a respondeu:
  - Bem, sim. Tudo vai bem, acredito.
  - Hospital? – intrometeu-se na conversa o jovem. Não poderia diante de todos, conter sua curiosidade.
  - Esse hospital.
  - O pai dela é o dono – a funcionário atrás do balcão respondeu – um dentista que nesse momento deve estar cagando no seu próprio dinheiro – murmurou com seu tom baixo e ao mesmo tempo elevado à raiva.
  - Dentista? – a cara de de duvida gritava em suas expressões e rugas que podiam se formar.
  - Sim! – já estava chegando ao seu nível de irritação. Quanta invasão daquele moleque nada estranho para quem lê revistas teen a cada quinzena.
  Ao fim, nada foi possível. Nada. Absolutamente nada rendeu dali. Nenhum assunto, ao menos algo polemico viera à cabeça dele. Aquela garotinha não era o tipo de mulher que possibilita uma visão de vida arrumada ao . Algo como filhos ou noivado... Apenas era bonita, nada mais. O próprio bufou mais uma vez, parecia que todo aquele cansaço anterior viesse à tona e deixasse sua mente mais pesada e atordoada como antes.
  O mesmo levantou-se dali e dirigiu-se até a sala de espera, encarou com certa dificuldade continuou encarando a maquina com um tanto de raiva extremamente persistente em seu olhar até que aquilo deu controle aos seus punhos – que nesse momento como num passe de mágica, se cerraram – e mais uma vez deu um soco na vending machin. Mas, para a surpresa de todos, um pacote de salgadinhos escorregou pelas molas e caiu. Logo, o jeito preocupado que continha no rosto do garoto, se transformara em pequenos indícios de um largo sorriso.
  Agora nada mais importava, estava alimentado. Alimentação era algo que conseguia reformular e desorganizar muito bem o seu humor. Anteriormente culpava sempre as mudanças da puberdade, porém não o restou nenhum argumento que comprovasse sua mudança de humor por conta de comida ou sono. Bipolaridade, quem sabe?
  Acima de tudo, o que importava naquele momento era a felicidade dele explicita em seu rosto. tinha os olhos mais cintilantes já vistos, barba mal feita, e o sorriso que sem esforço algum, se tornava o mais irresistível possível.
  Qualquer pessoa se sentiria levemente – ou fortemente – atraída por ele, provavelmente uma parcela do cérebro de pensava nisso, em como aquele homem pudera ser tão atrativo a tal ponto. Mas, se se interessou ou não no rapaz, não é a questão, e sim como naquele momento ambos estavam carregados de sede. Sede de alguém interessante que fossem ponto a ponto, nível a nível, do que eles estavam buscando.
  E como uma obra feita à mão, perfeita, do destino. Aquilo tinha de tudo para ser um verdadeiro amor recíproco.
  Logo, abriu o pacote de sensações, e pode sentir uma leve camada gordurenta de frango artificial chegar até suas narinas, aquele sim era o cheiro da felicidade. Por mais de tola, em sua cabeça ele comparava aquele odor industrial com o perfume mais doce que ele havia sentido no dia. Optou por seu platônico por batatas fritas com sabores artificiais, já que o deixavam livre, apenas a pensar em quantos quilos adquira depois dali, já o perfume de fazia ele sentir vontade de avançar e pouco coragem, formando uma intensa confusão na cabeça dele.
  Por falar nela...
  Será que não ficaria um momento sequer naquele hospital, sem em mente?
  Parecia que o universo conspirava contra seu favor, mas lá no fundo ele sabia que o destino a todo o momento continuava sendo seu aliado.
  Convenhamos, era uma quinta-feira à noite, a ansiedade para o final de semana era inevitável. E queria ao máximo sair dali como a maioria tinha feito. Retirou-se da sala dos plantões, onde por mais que não precisasse, descansara ali todas as noites para manter a qualidade do lugar cada vez melhor. Foi indo em direção a porta até que ao passar pela sala de espera viu o mesmo garoto que ela falou há pouco tempo atrás sentado, e resolveu trocar uma palavra, quem sabe...
  - Olá novamente – disse entre sorrisos.
  – Oi - respondeu seco.
  Não por culpa dela ou nenhuma infantilidade do tipo, e sim porque estava extremamente concentrado em sua saborosa refeição que tanto lhe fazia bem.
   continuava comendo como um animal por culpa do seu estresse, e no tal estado, seus dentes deviam estar sujos e um grande bafo industrial se formava no final da sua língua. Pouco se importava. Ele estava vivendo a mais verdadeira felicidade. Mal sabia o , que em pouco tempo sua felicidade se completaria.
  Olhou mais uma vez a de relance, percebendo seu olhar fixo e aproximação, e perguntou:
  - Que foi, garota? - ela concertou-se na poltrona, com uma expressão intimidada.
  - Você está se sujando como um garotinho de seis anos - disse rindo fraco, e sacando um guardanapo de sua bolsa.
  Naquele exato momento ele a encarava indagando o porquê de ter guardanapos na bolsa. E ela, limpando cautelosamente os cantos dos lábios de , apenas percebera de sua beleza, como não notar, principalmente a pequenos centímetros que os separavam.
  Aquela mulher era tão discreta quando o - isto é, nada discreta -, pois a própria fixava em sua boca, e aposto que nem mesmo ela percebera que se aproximava cada vez mais dos lábios de .
  Sorte enorme a dele que sua fama abaixara, e desde então ele se sentia tão livre de finalmente ter o resto da vida de privacidade sem a mínima espontânea vontade dos paparazzi's em conhecimento da sua vida.
  Eles estavam tão perto, a respiração ja chegava a debater no minúsculo espaço que ainda permanecia entre os narizes. Ambos lábios já se roçavam até que algo dá boca de saiu enojada:
  - Cheiro de fandangos...
  Droga. naquele momento estava preste a dizê-la: "OK, mudei de idéia, não irei mais te beijar, tchau". Qual o problema de diferenciar aquele salgadinho do aeroporto que tem gosto de frango com fandangos? Porém, não havia mais tempo, e ele ja podia sentir a língua dela invadindo todo o seu campo bocal e dentário com uma velocidade estranha demais para só uma desconhecida.
  Apesar da falta de ar que já chegava à tona, os dois sentiram alguém se aproximando, o que os fizeram eles se distanciarem rapidamente, ofegantes e tapando as bocas com a mão, olhavam assustados ao ser de jaleco com uma prancheta que se aproximava.
  – ? - o medico se aproximou e levantou para começar um dialogo ao mínimo educado - , não? - concordou com a cabeça - Enfim, com a maior sinceridade, há chance de hemiplegia, nada ao certo, também não muitas esperanças e...
  – Ele não irá ficar bem - estava incompreendido, receoso. Ao parecia que ele sentia dor de alguém o massacrando.
   desgrenhou-se da conversa, sabia que estava o observando assustada com sua mudança repentina de sentimentos que estavam explicitas.
  De novo estavam a sós, só os dois e as possíveis câmeras do hospital que provavelmente captavam tudo.
  – Entao... - suas tentativas vãs de puxar um papo eram tão falhas e previsíveis que até que mal o conhecia, riu fraco, do que talvez ela imaginara que aconteceria - olha, desculpa, foi legal ficar com você, você é bem legal e tal, mas eu realmente estou sem cabeça - de volta o seu embolo de quando está constrangido, aquele seu: 'erm' e a charmosa coçada no inicio da nuca - então tchau - era claro a incerteza que ele tinha, e talvez medo das palavras em que estava usando.
  O mesmo saiu, demonstrando que estava em meio a um esquema de fuga de uma estranha que ele sabia o nome.
  Ela permaneceu intacta, tentando assimilar o acabou de acontecer, algo como humilhação e raiva gritavam em sua mente, mas sua consciência falava mais alto, esperneava por vingança, ou melhor, tirar satisfação, pois à não importava se ele tem ou já teve fama na vida, continuaria ser humano.
  Enquanto ele passava pelas portas do hospital, o seguia. Mas sua cabeça estava lotada e naquelas circunstâncias seu senso geral estava como de um embriagado, tanto que nem ao menos percebeu que a garota o perseguia.
  Pés embolados, sentido turvo. Só tinha em si que “se virasse a primeira a direita, naquela esquina teria um pub maravilhoso para descarregar os problemas”. E assim o fez.
   direcionou-se ao balcão, sentou em uma cadeira curvando-se e levando um dos pequenos copos direto a goela que naquele momento ardia pelo liquido alcoólico, por em media cinco vezes repetiu a dose. Já estava completamente bêbado quando sentiu duas mãos o guiarem ao centro da pista de dança. Ele poderia captar as batidas da musica, eram como “oh oh oh” ou “yeah yeah yeah”, não tinha mais consciência do que escutava, mas tinha certeza de que aquela musica o agitava e provavelmente deveria ser uma canção muito boa, que seria perdida em sua memória.
  Todo o seu foco voltou a funcionar quando foram fixados aos olhos brilhantes de o encarando e dançando ao mesmo tempo. Continuaram assim, dançando aquela musica indistinguível, porém, com certeza era a melhor musica de todas.

  “And we danced all night
  To the best song ever”

FIM



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