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Quiz #3
// O Tema

Qual a profissão ideal de seu personagem?

// O Resultado

DJ





High

Escrito por Khloe Petit

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  O som pulsava de forma rítmica com meu coração. Enquanto tampava um dos meus ouvidos com o headphone, usava o outro para sentir a brisa que pairava entre as pessoas ao meu redor. Corpos balançando, mãos para o alto, copos cheios de álcool indo de um lado para o outro; o cheiro da fumaça, uma mistura de tutti-frutti com tabaco e outras drogas mais que ninguém, em sã consciência, gritaria estar usando.
  Abri meus olhos e vi as pessoas, em sua maioria, com um sorriso alterado nos lábios. A minoria usava da boca para fazer outra coisa: falar, beber… onde, diabos, estão os beijos?
  – Agora eu quero saber - peguei o microfone e diminuí o som, deixando a batida soar ao fundo –, quem gosta de beijar?
  A resposta foi imediata e ensurdecedora. Gritos e urros vindo da minha platéia, me passando a sensação de poder. Eu ditava o que eles fariam, a maneira como se movimentariam e o que sentiriam. Enquanto eu estivesse atrás daquele equipamento de som, as milhares de pessoas espalhadas pelo clube estavam sob o meu controle.
  – Hoje o desafio é para você, que está sem uma boca para beijar neste momento - falo, preparando a batida perfeita para fazer com que todas aquelas pessoas obedecessem ao meu comando –, eu vou contar de três a um, e quando terminar, eu quero ver você virar para a pessoa do seu lado direito e a beijar como se não houvesse amanhã!
  Um grito, em coro, de concordância tomou conta de todo o local. A ideia de terem uma desculpa para se agarrarem a alguém era bem-vinda; cabeças viravam de um lado para o outro, analisando a vítima que trocaria um bocado de álcool e saliva nos próximos minutos. Se alguém não tivesse a quem beijar, logo mais encontraria.
  – Três… - comecei a falar, preparando a transição da batida atual para a minha próxima música. Aqueles que estavam atrás de mim e ao meu lado erguiam as próprias câmeras do celular, para mostrar aos seus seguidores nas redes sociais, um pouco do que acontecia nos meus shows. – Dois…
  Pessoas começavam a se mexer de um lado para o outro; em busca de fuga ou de ficar mais próximo de quem achou atraente. Olhei mulheres sorrindo e homens trocando olhares; havia aqueles que ainda se questionavam se entrariam nessa loucura, e outros que, com uma dose extra do álcool que tinham em mãos, se entregariam de corpo e alma para a ação. O convite, entretanto, estava aberto para todos.
  – Um! - ouvi um coro gritar junto comigo e boa parte das pessoas ali mal esperaram eu aumentar o som para se agarrarem. – Beijem, porra! - gritei, em sintonia com minha equipe, que fez um bom trabalho com os efeitos especiais disponíveis no clube.
  Em questão de segundos, a balada se transformou em um centro de agarração. Beijos para todos os lados. Mãos percorrendo mais de um corpo ao mesmo tempo e, em alguns casos, beijos com mais de uma pessoa.
  Sorri, sentindo minha excitação, enquanto voltava a atenção à música e ao álcool que coloquei pra dentro ao ver que não poderia fazer o mesmo que aquela galera.
  Toquei por mais 30 minutos. O show combinado de 1h30 havia se estendido porque esse era o meu jeito. Meu empresário já nem discutia mais. Se ele aumentasse o valor e o tempo do show, eu extrapolaria ainda mais, sendo capaz de ficar um dia inteiro tocando para meus fãs.
  Me despedi ao som de gritos, palmas e assovios. Pedidos de mais música era frequente desde a minha abertura, mas eu já havia voltado uma vez para eles. Agora quem precisava de atenção era eu.

  – , abra essa porta!
  Com os olhos fechados, ouvi, ao fundo – bem ao fundo –, a voz do meu segurança chamando pelo meu nome. Aproveitei para ignorar qualquer som ou ruído que me fizesse mal, contando com aqueles gritos. Já era a quarta fez que ele atrapalhava o meu momento de meditação e eu estava cansada de ter que obedecer às ordens de uma pessoa que era paga para ser meu funcionário.
  – Caralho, ! - a voz de Bob, meu empresário, soou de repente e senti um par de mãos me tirar da minha paz. – De novo, porra? Você não consegue ficar sóbria por um minuto?
  Abri um sorriso. Sobriedade era uma merda. Era como meu pai quando eu tinha 15 anos e era obrigada a ouvir seus gritos sobre a minha incompetência, para em seguida bater na minha mãe, como se a culpa de eu gostar mais de música do que de matemática fosse dela. Esse é o mesmo pai que hoje diz para a mídia que sempre teve orgulho de mim, e que passa a mensagem para outros pais de que o importante é investir nos sonhos dos filhos e deixar que eles conquistem o que quiserem.
  Mais patético que isso, é eu deixá-lo permanecer perto de mim, só porque quero preencher a vaga que minha mãe deixou quando nos abandonou. Correção, quando me abandonou, na tentativa de fugir do meu pai. Ela jamais poderia ter me levado junto, uma adolescente de 17 anos rebelde que já frequentava baladas e passava finais de semana longe de casa.
  Hoje, minha mãe é a esposa de um cara poderoso por aí que mal sabe que ela tem uma filha. Meu pai, por outro lado, gasta o meu dinheiro investindo na indústria pornográfica – aparentemente, há muito trabalho lá para um advogado.
  Hipócrita.
  – Onde ela estava? - ouço a voz de Suzie, minha amiga. – , você ta acordada?
  – Uhum… - murmuro, sorrindo. Evito abrir os olhos porque ao ser carregada de um lado para o outro, a visão turva me causa enjoos.
  – Aonde mais? - Bob diz, aparentemente estressado, mas esse é um estado comum dele. – Na banheira.
  – De novo? - Suzie murmurou em um lamento.
  A voz de Daisy e Kara surgem no grupo e então há um bando de pessoas ao meu redor falando sobre o que fariam em seguida. Para onde me levariam, o hospital ou minha casa. O hospital, a propósito, não é o mesmo hospital que todo mundo vai quando se está doente ou machucado. É a casa de um amigo médico que cobre as minhas - e de vários outros artistas - pequenas overdoses em troca de muita grana. Mensalmente Bob transfere um valor para ele, já que minha visita na casa do médico é semanal.
  – Vamos para a High! - sorrio, erguendo os braços e abrindo os olhos, dando de cara com minhas três melhores amigas, Bob e o idiota do meu segurança. – Cara, você precisa parar de me agarrar, porra. – falei para o último, que revirou os olhos e olhou para o Bob, como se ele fosse o verdadeiro chefe.
  – Você vai pra casa. - Bob disse.
  Não respondi nada, porque, mesmo chapada, tinha plena consciência de que com Bob não se dava para discutir. Minha carreira era incrível por causa dele e, apesar de eu ser uma velha jovem rebelde de 27 anos, ele era mais um pai para mim do que meu próprio pai.
  – Vocês vão com ela ou para a casa de vocês?
  Minhas amigas murmuraram alguma coisa, que eu sabia ser a minha casa. Ainda eram três e meia da manhã e a noite estava longe para acabar.
  Chegamos à minha casa, uma mansão no bairro nobre de Los Angeles, e deixei que Bob cuidasse de tudo até estar em paz mental. Antes disso acontecer, reclamo de fome e os dois homens decidem que preciso de glicose, trazendo caixas de Twinkies para eu e minhas amigas comermos. Acabamos devorando para, logo em seguida, correr até o banheiro do meu quarto para vomitar tudo o que comi e bebi naquela noite.
  Bob manda a funcionária da noite limpar o meu banheiro enquanto tomo um banho. A sobriedade volta assim que coloco o pijama. Vejo meu empresário olhar ao redor quando nos vê espalhadas pelo meu quarto, e decide que aquilo é o melhor que ele poderia conseguir naquela noite. Quando ele e meu segurança saíram de casa, tudo o que nós 4 fizemos foi a mesma coisa de sempre: trocamos de roupa, engatinhamos até a garagem para não soar o alarme de segurança e partimos para a High, um clube de sexo mantido pelo meu pai e alguns sócios ninfomaníacos dele.
  O lugar é bem organizado, até.
  Para acessá-lo, é preciso ser sócio. E para ser sócio, é preciso de um convite. Ter dinheiro não é o único requisito, apesar de muito importante, afinal, manter um lugar daquele não era nada barato. Contratos com as autoridades, uso liberado de drogas e conexão com hospitais era só alguns dos benefícios oferecidos pelo local, mas o que todo mundo mais gostava, era que, por se tratar de um clube de sexo, ninguém estava lá para paquerar ou conversar. Era para fazer sexo e pronto.
  Sexo com homem, com mulher, com homem e mulher, com vários homens e várias mulheres, com objetos e consigo mesmo. Tudo dependia da opção que saciava o tesão de cada um que, a propósito, era muito respeitado por todos.
  Na High você dificilmente passava o tempo lá dentro sóbrio, mas para fechar a sua assinatura no clube, precisava estar bem limpo. Tudo porque havia um contrato muito bem feito – adivinhem por quem? O hipócrita – que garantia que ali não haveria problemas de cunho racial, social e qualquer outra coisa que trouxesse problema para as pessoas associadas. Aquele que quebrasse uma regra sequer ia direto para a polícia. E a polícia era bem frequente ali dentro, mas não exatamente para trabalhar.
  – E aí, ! - a voz de Jeff, que cuidava da entrada, diz com um sorriso. Eu adorava ele. Sempre me acobertava do meu pai, do Bob e do meu segurança. O papel dele era intimidar as pessoas. Era grande, forte e com uma cicatriz enorme no rosto. Há um rumor de que ele passou cerca de 5 anos na cadeia, até poder responder em regime semi-aberto e então se ver livre. Não gosta de se meter em encrenca e é o primeiro a colaborar com a polícia quando ela chega; mas eu e ele temos uma ligação. Ele é um cara legal, com uma filha que adora minhas músicas. – Minha filha foi no seu show hoje.
  – Ela deve ter beijado muito, então. - respondi, cumprimentando ele com uma troca de tapas na mão.
  Eu deveria passar pela revista, mas o Jeff nunca me revistava e nunca permitia que alguém o fizesse. Eu era a filha do dono do lugar, com uma carreira promissora a manter, se tinha alguém que poderia estragar aquele negócio, certamente não era eu.
  – Qual é, Jeff, você sempre me barra! - Kara reclama para ele, que solta uma risada.
  – Se você não estivesse sempre com o seu canivete, eu não precisaria te parar. - ele ergueu o objeto e tacou em uma caixa de metal.
  – Uma mulher precisa estar sempre preparada para se defender.
  – A única coisa que você precisa para se defender aqui dentro, é de uma camisinha e um kit de remédios para o fígado, garota. - ele entregou a ela uma pulseira com a chave do armário que havia guardado o pertence que havia sido bloqueado.
  Ela ergueu os ombros e se uniu a mim com Suzie e Daisy.
  – Tenho certeza que ele quer me comer. - Kara murmurou para nós quando nos afastamos do Jeff.
  – Você acha que todo mundo quer te comer, Kara. - Suzie diz, rindo, linkando seu braço no meu.
  – Mas todo mundo realmente quer comer a Kara, Suzie - eu respondo, fazendo as três rirem comigo.
  Passamos por um corredor longo com luzes em um neon que passava do vermelho vivo para o vermelho bordô. No caminho, mulheres e homens dançavam dentro de gaiolas pintadas de dourado, rebolando em torno de barras verticais. Funcionários novos da indústria pornográfica que, se tivessem sorte, conseguiriam uma grana extra até o final do expediente.
  O final do corredor nos leva para um enorme salão. Nele, há um DJ tocando música sem parar e bares ao redor. Garçons passavam com bandejas de fumos, álcool e camisinha. O local estava cheio, apesar de ainda ser quinta-feira. A High geralmente tem seus dias mais lotados às sextas. Houve uma época que os sábados eram melhores, mas com a necessidade de se manter as aparências para familiares, muitos optam por utilizar o clube durante os dias úteis.
  Observo ao redor, onde há homens e mulheres de monte.
  – Sabe quem disse que estaria aqui hoje? – Daisy sorriu, animada. Eu, Kara e Suzie reviramos os olhos e, juntas, dissemos:
  – Rachel.
  – Eu já havia contado? - Daisy nos perguntou, confusa. – De qualquer forma - ela balançou a mão, ignorando qualquer reação nossa –, reservei um quarto com ela. Não-me-chamem. Eu dou um jeito de ir embora. Tchauzinho!
  Ergui uma sobrancelha ao vê-la sair correndo na direção da única porta além da que havíamos acabado de passar. O salão, apesar de haver saídas de emergência, só tinha duas rotas disponíveis: o corredor da entrada, pela qual havíamos acabado de passar, e um enorme vão duplo que levava a  uma “loja” de artigos sensuais, só para o caso de alguém quiser apimentar o sexo da noite. Os brinquedos eram gratuitos e deviam sempre ser devolvidos para que pudessem ser limpos, esterilizados e reutilizados por outras pessoas. Dezenas de funcionários trabalhavam nessa sessão; o serviço, além de garantir que a locação do objeto fosse feita com organização, também funcionava para orientar os clientes sobre o funcionamento e, quem sabe, auxiliar na aplicação.
  – Vocês vão pro High-mix? - Suzie perguntou, olhando ao redor.
  – Você, pelo jeito, não, né. - Kara disse. – Está procurando quem?
  Suzie riu, sem graça. Já fazia cerca de um mês que ela estava nessa coisa de sexo exclusivo com um cara. Apesar de não terem trocado contato, os dois sempre se encontravam aqui e sempre acabavam transando.
  – Pois é, já achei. - ela disse, sorrindo para um ponto atrás de Kara. – Acho que sou a próxima a deixar vocês.
  – Carona?
  – Hum… - ela olhou para cima, pensativa, e então para o homem atrás de Kara. – Não.
  Ouvi Kara murmurar uma reclamação quando Suzie a empurrou para se atracar com o moreno que havia se aproximado dela.
  – Ela não tem um pingo de dignidade. - minha amiga murmurou, cruzando os braços. – Vamos, .
  – Eu preciso de uma dose - falo, finalmente percebendo que estava sóbria por tempo demais.
  A percepção vinha, na maioria das vezes, quando eu estava sozinha. Odiava a sensação da sobriedade. Gostava de estar frequentemente chapada porque, 1) eu ficava mais criativa; 2) eu lidava melhor com os problemas (eu os ignorava) e 3) não pensava em Anthony.
  Anthony, a razão da minha dor, de não querer passar um minuto na realidade.
  Nós namoramos por sete anos, até ele perceber que precisava de um tempo. Minha carreira estava atrapalhando nossa relação, e ele não estava gostando de toda a atenção que estava recebendo. Não que ele fosse tímido; ele só odiava o fato de que estava se tornando uma pessoa pública. Anthony e eu nos conhecemos em uma festa. Eu era novata, mas me amarrei nele de imediato quando ele elogiou o meu set. Seus olhos escuros me prenderam de uma forma que não quis mais saber de me agarrar com ninguém que não fosse ele.
  Anthony enfrentou meu pai quando viu que eu não tinha forças, e ajudava Bob a me manter na linha. Bob o adorava.
  E então, em um dia de primavera, quando estava próximo da época do Spring Break, quando eu estava para começar a minha viagem pelo hemisfério norte do planeta para tocar em diversas festas e raves, Anthony disse que não iria me acompanhar. Que não poderia pedir folga no trabalho e nem queria. Precisava começar a viver uma vida adulta e ter responsabilidade.
  Quando eu mencionei que poderia bancá-lo, ele ficou muito ofendido. Disse que não era um boneco para eu levá-lo para todos os lados como bem quisesse; tentei me explicar, mas ele disse que o melhor era que nós nos separássemos.
  Não tive muito tempo para pensar. Assim que ele saiu, chorei por três horas e então fui arrastada para o aeroporto, onde peguei um voo para Ibiza. Foi lá onde tudo começou. Em uma semana de festa, ingeri mais álcool e drogas do que toda minha vida até então. Bob contratou meu segurança e passei a ser acompanhada pelas minhas amigas. Eu não vivia sem um baseado. Nos países em que era proibido, eu me acabava no álcool, apesar de não ser a mesma coisa. Não permiti que meu cérebro acessasse o assunto Anthony. Ele era uma pasta isolada no meu sistema, fechada com sete senhas diferentes.
  – Ei, você não disse que ia diminuir? - Kara perguntou e enviei um olhar para ela. Ergueu as próprias mãos, pois de todas do grupo, ela era a única que não tinha moral nenhuma para me cobrar. – Vamos lá, vou te acompanhar.
  Usamos tudo o que podíamos e passamos pela loja, onde Kara pegou dois vibradores enormes para nós.
  – Se não tiver ninguém lá dentro, amiga, precisamos garantir que pelo menos um orgasmo vamos ter. Faz bem pro corpo. - ela disse. – Foi cientificamente comprovado, essa coisa do orgasmo fazer bem. Tento ter um todo dia.
  – Cala a boca - respondo, rindo e pegando o pinto de silicone da mão dela.
  A loja, assim como o salão principal, só tinha duas portas de uso comum. A que conectava com o salão, e a que levava a uma bifurcação: o High-mix e o High-close. O primeiro consistia em um labirinto de corredores com aquários de vidro, quartos abertos e tudo mais para aqueles que não tinham um parceiro, mas queria se divertir. Você podia arranjar um parceiro de foda ali ou se esconder em um dos quartos escuros, em que homens e mulheres fodem sem saber com quem estão fodendo; o outro corredor era mais organizado e funcionava como quartos de hotéis, com serviço de quarto e camareira. Nele, portas levavam a quartos simples até apartamentos de orgias fechadas a senha – geralmente usados por grupos específicos ou despedidas de solteiro. Só entrava no High-close, casais. E todos eram livres para ir e vir do High-mix para o High-close e vice-versa. Ao sair dos quartos particulares, os clientes acionavam as camareiras, que entravam para a higienização, troca dos lençóis e arrumação completa do quarto.
  – Quarto escuro? – Kara perguntou, apontando para uma das portas.
  – Hoje não.
  – Ihhh, ainda não bateu. - ela comenta, vendo meus olhos olharem de porta para porta, sem me decidir qual entraria. Caminhei pelo corredor com ela, observei as pessoas transando e ainda assim não me decidia se iria me unir a elas ou procurar outra opção. – Beba mais.
  Virei o copo do champanhe e entreguei para o funcionário que passava naquele momento. Olhei para o aquário, onde dentro havia um casal transando em uma posição torcida e fiquei observando, esperando a droga fazer o efeito no ponto em que eu queria.
  Quando uma névoa começou a pairar ao meu redor e meu corpo flutuava ao invés de caminhar, olhei para Kara e disse:
  – Estou bem, pode ir.
  Ela me olhou por alguns instantes e então sorriu.
  – Vou pro quarto escuro. Quer carona?
  – Não. - respondo, dando-lhe as costas e indo para mais fundo no corredor.
  Gritos e gemidos da área do sadismo se tornou mais alta, e então começou a ficar mais baixa, de acordo com que me afastava; essa era a única área que eu não entrava; a única vez que aconteceu, eu quase fiz com que a mulher que me espalmava fosse expulsa. Era melhor que eu não causasse mais uma cena por conta de um trauma idiota.
  Ao fim do longo labirinto havia uma sala com telas de computadores. Nele, um único sistema de catálogo estava disponível. Aquele era o lugar para quem queria uma companhia. Qualquer um poderia colocar seu nome lá e quem quer que escolhesse, não poderia ouvir a recusa da pessoa. Gosto pessoal não existia na High, não importasse a cor ou o formato de seu corpo, você sempre seria tratado como uma pessoa bonita ali dentro.
  Olhei para o catálogo masculino e passei o dedo desinteressadamente pelas opções. Não haviam muitas; pelo jeito, as sessões anteriores chamaram melhor a atenção deles essa noite.
  Escrevi meu nome no catálogo feminino e, pelo sistema possuir os dados de todos os clientes presentes, tudo o que fiz foi confirmar meu nome e então minha foto estava disponível com o número do quarto que eu deveria entrar. Agora, bastava alguém me ver ali e entrar no meu quarto.
  Assim que entrei na suíte, pedi por champanhe e cigarro. Ao mesmo tempo que meu pulmão clamava por ar, meu cérebro dizia que precisava de mais anestésico. Não sei bem quanto tempo passei fumando e bebendo. Olhei para o vibrador na cama e comecei a passar a mão nele, pensando se deveria seguir a sugestão de Kara ou se devia esperar mais um pouco.
  Decidi tirar minha roupa e entrar na banheira. Os esguichos da massagem que mais serviam para nos masturbar ligaram e uma dose de sabão foi inserida, criando uma camada fina de espuma. Fechei meus olhos e senti a força dos jatos de água bater pela extensão da minha perna.
  Enquanto aproveitava o som de ambiente, comecei a mover minhas pernas em uma dança sensual; na verdade, eu só queria criar o clima até levar meu clitóris na direção do jato.
  – Hum… - murmurei, quando a pressão passou bem próxima do meu ponto.
  Respirei o ar de limpeza, rosas e tabaco, até que um perfume diferente invadiu minhas narinas; antes que eu pudesse abrir os olhos para ver quem tinha me escolhido, uma boca cobriu a minha. Apesar do rosto estar de ponta cabeça para a minha, o beijo foi delicioso. Encostei minha cabeça na borda da banheira e me ajeitei, os braços abertos, apoiados também na borda, beijando o, percebi, homem que levou as mãos enormes para cobrir meus seios.
  Gastamos um bom tempo naquele beijo. Caramba, estava uma delícia. A névoa da minha embriaguez, somada às ondas da água, o jato entre minhas pernas, as mãos acariciando meus seios e aquela boca quase me engolindo… tudo o que eu precisava era só de mais um pouco para cumprir com a minha saúde, como Kara havia dito.
  – Não… - reclamo ao sentir a boca se afastar da minha.
  Mas não demorou muito, pois o corpo do homem logo entrou na água comigo e passou a me tocar em todos os lugares. Sua boca desceu por meu pescoço e não pude evitar desencostar da banheira, empurrando os seios em sua direção; ele lambeu, mordiscou e comeu os dois lados até eu estar sentada em seu colo, meus braços ao redor de sua cabeça com a minha própria inclinada para trás, aproveitando o toque.
  Quando seus dedos encontraram meu botão, eu estava a um toque de gozar, por isso, ao invés das preliminares, tudo o que fizemos foi me encaixar em cima de seu pau e então sentar lentamente, sentindo sua extensão me preencher.
  – Uau - suspirei, pensando na sorte que estava tendo dele ter um pau grosso e enorme.
  Olhei para baixo, mas a água estava turva e ainda cheia de espuma. O som das ondas que se formavam com o movimento que eu fazia com meu corpo era de excitar ainda mais. Como eu estava pronta para gozar, não deixei que ele ditasse a velocidade, aumentando eu mesmo as sentadas em cima do pau dele.
  – Ah! - gritei, prestes a entrar em um êxtase, e deixei que ele me erguesse e me levasse até contra a parede, onde começou a meter fundo e rápido em mim, ignorando meus gritos e meu corpo trêmulo de ter gozado.
  – Não vou parar - ele diz em meu ouvido, segurando-me pelas coxas enquanto eu, ainda de olhos fechados, gritava por mais.
  Era assim que minhas noites quase sempre acabavam. Se eu não dormia com os remédios, então eu dormia junto de algum estranho na minha casa, num hotel ou aqui na High. Um hábito que parecia ser irreversível, tudo por causa de uma perda. Um término não deveria significar tanto.
  O homem me jogou na cama e então me virou, fazendo com que eu ficasse ajoelhada de quatro para ele. Passou a mão entre minhas pernas, me bulinou até eu estar pronta para recebê-lo novamente e então meteu de novo em mim.
  – Isso! - gritei, empinando minha cabeça para trás.
  Senti seu peitoral tocar minhas costas e sentir seu corpo duro e musculoso me deixou ainda mais excitada. Geralmente não tenho preferência; transo com qualquer homem, gordo e magro, de pau pequeno e também fino, mesmo assim, me sinto excitada por eles porque, diz minhas amigas, estar chapada ajuda, mas quando um homem forte e gostoso, com uma pegada certeira e uma metida forte me pega de costas, eu poderia lhe oferecer o mundo.
  – Você gosta de ser comida assim?
  – Sim… - respondo, suas mãos uma acariciando meu clitóris e a outra revezando entre manter meu rosto virado para o dele de forma a beijá-lo ou apertar meus seios sem cuidado algum.
  – Então mostra a cachorra que você é. Fica de quatro para mim e faz meu pau entrar em você. - ele disse, afastando seu tronco de mim e parando de arremeter, de modo que eu tivesse que mover meu corpo para frente e para trás se quisesse ser fodida.
  Urrei com a força que usava para me mover. A cama não era dura, o que dificultava o equilíbrio, e eu não estava sóbria o suficiente para conseguir me segurar. No entanto, pude erguer a cabeça e olhar para ele pelo espelho que havia na parede à nossa frente.
  Meu corpo congelou assim que vi seu rosto.
  – Anthony?
  Ele olhou para mim ao perceber que eu havia parado. Deve ter sentido algo mudar. Suas mãos acariciaram minhas nádegas e cintura, e lentamente ele começou a se mover. Apesar de ainda estar com tesão e querer, mais que tudo, chegar a um novo orgasmo, a imagem dele era chocante demais para mim.
  Me afastei dele e me virei de frente, indo de costas para o lado oposto da cama, até minhas costas encontrarem o encosto.
  Seus olhos estavam tão confusos quanto os meus.
  – Meu nome não é Anthony. - ele disse. – Você quer que seja?
  Fiquei calada, olhando para ele ainda em choque. Ele era idêntico ao Anthony. Os cabelos escuros, um pouco mais compridos, mas muito macios e brilhantes. O corpo escultural, admito estar mais em forma do que me lembro, mas já faz três anos, Anthony poderia ter adquirido essa forma se quisesse.
  – Não. - murmuro, olhando para o lado. – Desculpe.
  – Por quê? - ele, cuidadosamente, veio para mais perto de mim. – Você não me ofendeu.
  Limpei minha garganta, sem graça. Acho que acabei com todo o clima.
  – Você está com vergonha? - ele perguntou, um sorriso sacana surgindo no rosto. Aquele sorriso, de alguma forma, me acalmou. – Quer um champanhe?
  – Quero.
  – Tudo bem. - ele voltou a se afastar e serviu duas taças, trazendo para mim uma, a mais cheia. Virei sem respirar e deixei que ele pegasse a taça de volta. – Mais?
  – Não, já estou melhor.
  – Eu posso fazer você ficar melhor. - ele disse, bebendo um gole do próprio champanhe e deixando a taça de lado para voltar a subir na cama. – Que tal?
  – Acho que… - comecei a falar, pronta para pedir para sair, mas suas mãos foram mais fortes e agarraram meus tornozelos, puxando-me para baixo e arreganhando minhas pernas. Sem esperar por mais nada, desceu o rosto entre elas e abocanhou meu sexo. – Ah…
  – Relaxa. - ele disse, fazendo meu corpo voltar a tensionar com o tesão. – Vou fazer você esquecer esse Anthony.
  Abri um pequeno sorriso, pois ele precisaria muito mais do que me comer para tirar Anthony da minha cabeça. Mesmo assim, permaneci calada, aproveitando a boa intenção do homem, pois era tudo o que eu precisava para a minha noite.
  Sua língua era firme como ele e comprida como seu pau. Parecia ocupar toda minha extensão úmida; junto de seus dedos, me fez ficar mais uma vez excitada de um modo a querer perder a cabeça. Nenhuma droga faria aquele serviço, eu sabia.
  – Você sabe o que faz. - digo, arfando, quando ele sobe os beijos por meu corpo.
  – Eu costumo saber.
  – Trabalha com isso?
  Ele sorriu.
  – Poderia.
  Beijou minha boca porque eu provavelmente estava começando a falar demais. Não se ia na High para falar, a boca tinha outras funções naquele lugar, e ele estava cumprindo muito bem com todas elas.
  – Você quer com ou sem?
  – Você me pergunta agora? - olho para ele com uma sobrancelha erguida.
  – Eu estava com. - ele apontou para a camisinha usada no chão. Deve ter tirado no caminho do champanhe. – Posso…
  – Não, tudo bem. - puxo ele de volta. – Quero experimentar você sem.
  – Eu gosto de gozar dentro. - ele disse, me beijando.
  – Bem… - olho para ele, movendo-se por entre minhas pernas. – É um risco a ser corrido.
  E com um sorriso safado, senti a ponta de seu pau na minha entrada. Olhei para a direção e vi que ele era ainda maior do que eu sentia. Entrou dessa vez mais devagar, como se de propósito para que eu precisasse sentir cada milímetro da grossura e comprimento dele.
  – Porra… - sussurrei, ouvindo um riso nasalado. – Você é muito grande.
  – E você é muito apertada.
  – Eu? Apertada? - quis rir, mas não tive tempo, pois estava chocada demais por ele ainda estar entrando em mim. – É sério, você é muito grande.
  – E você é uma gulosa - fez um sinal com o rosto para o lugar onde nos encaixamos e empurrou o que faltava de uma só vez –, agora você vai usar essa boca só para gritar.
  – Seu nome?
  Em um rápido movimento, ele saiu inteiro e voltou quase por inteiro, me fazendo gritar um palavrão e agarrar seus ombros com minhas unhas.
  – Quer menos?
  – Não! - gritei, empurrando meu quadril para cima, ouvindo sua risada. – Você precisa de mais que isso para me fazer gritar do jeito que quer.
  – Gata - ele começou o vaivém lento, seu corpo grudado em cima do meu –, você já está gritando de um jeito delicioso.
  – Ai, caralho… - murmurei, porque a voz dele era demais. O combo sexo, toques e voz sensual era tudo o que eu precisava para me manter chapada. – Me fode logo.
  Ele soltou mais uma risada e manteve o ritmo lento até seu pau, de alguma forma que eu não sabia como, crescer de tamanho e precisar de mais rapidez para manter-se fazendo o bom trabalho.
  – Porra! - gritei, meu corpo tremendo, bem preso sob o corpo dele enquanto seu pau me metia em investidas rápidas e profundas.
  O movimento vaivém, o toque de seu quadril no meu e o som de sua respiração não deixava que eu me secasse; eu tinha certeza que mal conseguiria sentar no dia seguinte, mas, por qualquer santo divino, aquilo estava uma delícia.
  E então, ele me usou. Moveu meu corpo em posições que eu nunca havia estado antes e, de alguma forma, gozei em todas elas porque ele fazia um ótimo serviço. E quando eu esperava ter acabado, o espaço de tempo entre mais álcool chegar e eu tragar meio cigarro o fazia ficar ereto novamente.
  Eu nunca havia transado tanto em uma noite.
  – Não, por favor. - disse, quando suas mãos puxaram-me para trás, onde minhas costas encostaram no peito dele e sua mão passou a acariciar minha abertura. – É sério, chega.
  – Shh… não vou fazer mais nada, relaxa. - ele sussurrou. – Estou só fazendo uma massagem ou amanhã você não vai se aguentar em pé.
  Deixei meu corpo relaxar aos poucos ao comando de seus dedos. E então a sonolência veio.
  – Não posso dormir aqui. - murmuro exausta, suas mãos ainda se mexendo por meu corpo, os dedos ainda dentro de mim.
  – Não se preocupe.
  – Quem é você? - pergunto, minha cabeça sentindo o travesseiro nunca tão macio quanto agora.
  – Com certeza, não sou Anthony.
  Abro um pequeno sorriso.
  – Você realmente me fez esquecê-lo. Por… algumas horas.
  – E isso é algo bom?
  Fechei meus olhos com um sorriso nos lábios.
  – Foi a primeira vez. - Foi a última coisa que me lembro de ter dito antes de apagar.

  – , caralho! - a voz de Kara soou ao fundo. - Você não pode dormir aqui, acorda!
  Abri meus olhos com dificuldade. Meu corpo estava destruído.
  Olhei ao redor e vi que ainda estava no quarto da High.
  – O quê? Nossa…
  – Caramba, amiga, essa foi a primeira vez que você dormiu depois de transar aqui.
  – É, eu… - e então me lembrei que havia adormecido nos braços de um homem. Um homem que não era Anthony.
  Com o susto, me levantei. Kara havia colocado minha roupa próxima de mim, mas eu estava mais preocupada em olhar ao redor. Não havia ninguém.
  – Vamos, chamei um carro pra gente.
  – Você vai comigo?
  – É claro, né. Se estou aqui te ajudando a se arrumar… Você já está bem sóbria. - ela resmungou. – Vou te esperar lá na entrada, vê se não se perde.
  – Você não precisa ir comigo, Kara. - digo, mas ela balança o braço. Eu sabia que seu lado protetor não permitiria. Geralmente era Daisy ou Suzie quem me acompanhava, porque era o papel delas desde que Bob pediu após Ibiza, mas Kara nunca reclamou quando as duas sumiam e sobrava para ela ter que servir de babá. Ainda que eu reclamasse dizendo que não precisava de todo aquele cuidado, uma das três sempre acabava no carro comigo.
  Me arrumei lentamente, observando meu corpo. Eu estava péssima. Dolorida, mas não tanto quanto imaginava estar. Será que foi um sonho? Olho ao redor e o vibrador está perto da banheira, exatamente onde lembro de tê-la deixado antes de entrar na água.
  Peguei o objeto e suspirei. Era melhor esquecer e seguir em frente.
  Saí do quarto e retirei minha foto do catálogo.
  – Você nem olhou para o lado - uma voz soou atrás de mim, me fazendo pular.
  Se não fosse sua voz, eu não teria o reconhecido. Não sei quanto tempo dormi, muito menos quão chapada eu estava enquanto transávamos, o que sei é que aquele homem, apesar de maravilhoso, não se parecia nada com Anthony.
  Os cabelos eram loiros, o corpo era maior; altura mais alta, lábios mais carnudos e… bem, os olhos eram no mesmo tom castanho escuro.
  – Você sai primeiro e espera ver se a mulher sai desesperada te procurando? - perguntei, erguendo uma sobrancelha.
  – Bem, eu esperava que você saísse me procurando. - ele se aproximou de mim, até me prensar contra a parede. – Mas parece que não fiz um bom trabalho.
  Abro um pequeno sorriso, sentindo o seu perfume misturado ao meu.
  – Você sabe que posso interpretar que você ficou devido à sua curiosidade em ver se eu procuraria por você.
  Por Deus, nem o sorriso dele era igual ao de Anthony. O que eu tinha na cabeça?
  Ao invés de me responder, ele beijou. E então senti que o beijo dele também não tinha nada a ver com o de Anthony. Além disso, percebi que eu estava muito mais sóbria do que quando cheguei aqui.
  Quebrei o beijo e olhei em seus olhos. Ele deixou que eu passeasse minhas mãos por seus braços, e então subir até sua cabeça, onde brinquei com seu cabelo e explorei, com meus olhos, todo o seu rosto.
  – Você não tem mesmo nada a ver com Anthony.
  – Ótimo, porque eu não quero ser o substituto de nenhum babaca que a machucou.
  Minhas mãos travaram em seus ombros ao ouvir sua afirmação.
  – Como você…
  – Eu estava dentro de você quando você me confundiu com ele. – ele disse. – Senti você perder todo o tesão ao achar que eu era esse tal de Anthony. Seja lá o que tenha acontecido, não é possível para eu interpretar que foi algo bom.
  Senti minhas bochechas corarem. Há anos uma intimidade não me causava timidez. Nunca imaginaria que ter um pau dentro de mim faria com que o cara soubesse ler parte do meu passado.
  – Sobre isso… poderia não… hum…
  – Contar? Tirar vantagem? - ele sorriu. – Eu não sou esse tipo de cara.
  – Bem… que bom. Obrigada.
  – Eu sou o tipo de cara que faria você ter esse tipo de noite todas as noites. - seu corpo voltou a se encaixar no meu e quase faltou espaço para passar ar entre nós.
  – Você quer ser exclusivo, é isso?
  – É um começo. - ele diz, inclinando-se para baixo. – Podemos começar como exclusivos, e então eu chamarei você para jantar um dia desses, e aí você poderá me conhecer além de um corpo para te foder aqui na High.
  Permaneci calada, o encarando em choque. Sua confissão havia sido mais do que qualquer coisa que ouvi nos últimos tempos. Seu olhar manteve-se fixo nos meus, como se não desse permissão para eu recusar seu plano. Ele estava propondo seguir meu ritmo, mas avisando qual seria o destino final.
  – Bem, você precisará se esforçar muito.
  O homem sorriu.
  – Acho importante você saber - ele disse -, mas minha vitalidade é uma das minhas maiores qualidades.
  Dei uma risada, pois se havia uma certeza sobre ele, era de que ele tinha, mesmo, muita energia dentro de si.
  – Além disso, sou bastante teimoso. - ele disse, voltando a colar seus lábios nos meus.
  – , caramba, você se perde… - não dei a menor atenção para Kara, que deixou a frase morrer e então sumiu. Quando separei do nosso beijo, procurei por ela, mas não havia nem sinal de que ela havia estado ali.
  – Acho que perdi a minha carona. - digo, sentindo seu olhar em mim.
  – Que bom que vim de carro. - ele disse, pegando em minha mão e me puxando no caminho em direção à saída. – A propósito, meu nome é . - virou seu rosto para mim e disse, com humor – Só para você não me confundir com um tal de Anthony.
  Soltei uma gargalhada. Era a primeira vez que ria de bom humor ao ouvir o nome do meu ex; que não senti meu peito apertar ou minha garganta fechar.

— H I G H —

  Dei uma chance a , que acabou cumprindo com o que havia dito.
  Ele se tornou, sim, meu sexo exclusivo na High. Durou duas semanas.
  Após esse tempo, ele me chamou para jantar numa segunda-feira, dia que eu, com certeza, não tinha trabalho.
  E então na terça nos encontramos no almoço de novo. E novamente no jantar.
  Na quarta, dormimos juntos em sua casa.
  Na quinta, ele veio na minha.
  Um mês depois, ele passava todos os finais de semana comigo, onde quer que eu estivesse. Seu trabalho se resumia a telefonemas e visitas ocasionais em uma das dezenas de prédios comerciais que ele possuía em Los Angeles e Seattle.
  Após dois meses desde o nosso primeiro encontro na High, passei a não frequentar mais o clube. No terceiro mês, me disse que havia cancelado sua assinatura.
  No quarto mês, Kara, Suzie e Daisy brigaram com Bob porque ele ainda achava que elas deviam estar comigo o tempo inteiro. Foi a primeira vez que enfrentou o Bob; é óbvio que ele ganhou.
  No quinto mês meu segurança foi transferido para um dos negócios do meu pai a pedido de Bob.
  No sexto eu fui para um centro de reabilitação passar um tempo para me desintoxicar das drogas e do álcool. Saí depois de 6 meses com um certificado de ótimo desempenho.
  Agora, um ano desde a primeira vez que conheci , era como se eu estivesse vivendo uma nova vida.
  – Tudo bem? - ele me perguntou, seus braços envolvendo meu corpo enquanto assistíamos ao pôr-do-sol. Eu havia pedido para Bob reformar a mansão durante a minha ausência, porque queria um novo ambiente para viver; ele acabou por vender a minha antiga residência e comprar uma nova, longe de toda a orgia artística e mais perto da praia. Para isso, saí de Los Angeles e fui para a região de Santa Monica, mais tranquila, apesar de ainda muito popular.
  – Uhum. - murmurei, aninhando-me bem entre seus braços.
  Permanecemos calados por um bom tempo. Essa era uma característica de . Ao mesmo tempo que ele me dava espaço para pensar, estava sempre comigo, como se fosse meu porto seguro.
  – Eu achava que nunca sairia daquela situação. - disse, respirando o ar fresco da noite que se aproximava. – Que iria ficar naquela névoa, embriagada para sempre.
  – Você foi muito forte esse último ano.
  Sorri e olhei para ele; eu estava mesmo muito orgulhosa de mim.
  – Ele não era uma pessoa ruim. - eu disse, pela primeira vez, para ele. Durante todo esse tempo, nunca mencionou o nome de Anthony, a não ser que fosse fazer alguma piada; tampouco me perguntou sobre o que havia acontecido, o que me deixou muito agradecida. – Ele apenas quis ter uma vida comum longe dos holofotes, com um emprego normal e um relacionamento normal. Fui eu quem transformou tudo em um monstro.
  – Foi uma maneira de você se defender da dor.
  – É. - concordei e respirei fundo. – Eu poderia ter morrido.
  – Você está, em partes, morta por dentro.
  Fechei meus olhos assim que uma brisa mais forte passou por nós. O inverno estava chegando e apesar de nunca ficar absurdamente frio nessa área da Califórnia, o clima estava mais fresco do que durante o dia.
  Virei para ele, abraçando-o de frente. De repente, senti que olhar para ele era mais importante do que ver o sol se pôr.
  – Você me salvou.
   sorriu.
  – Meus dotes quem salvaram você, vamos ser sinceros. - ele brincou, fazendo com que eu risse. Eu adorava isso nele. Que ele me fizesse sorrir, rir e gargalhar com tanta frequência. – Foi você quem salvou a si própria, . Ninguém sai de um lugar sozinho.
  – Então você foi um bom impulso.
  – Bem, esse crédito eu aceito. - ele sorri e me beija. – Você também me fez muito bem.
  Estalei a língua, fazendo pouco caso. Como eu poderia ter acrescentado tanto na vida dele, quanto ele havia feito na minha?
  Sua mão acaricia meu rosto gelado e seus dedos vão até a altura da minha orelha, arrumando meus cabelos bagunçados pelo vento.
  – Todos nós temos os nossos fantasmas, . Pode não parecer forte como o que nós sentimos, mas todo mundo tem.
  – Qual é o seu?
  – Atualmente? Te perder.
  Abri um sorriso. Queria perguntar qual o fantasma ele havia superado comigo, mas se não queria falar sobre o assunto, então eu também teria paciência em esperar, assim como ele teve comigo.
  – Diga que me ama, .
  – Eu te amo, .
  Não sei como consigo manter a postura toda vez que ele diz essas palavras, mas por dentro, é como se milhões de fogos de artifício explodissem e o meu passado sombrio nunca tivesse existido.
  – Eu também te amo, .

FIM