Hidden

Escrito por Tata | Revisado por Paulinha

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Capítulo 1

  Estava voltando das aulas num dia chuvoso. Odeio escolas, odeio sair, odeio chuvas, odeia ficar em casa, odeio pessoas... Voltava sem ânimo algum pois sabia que quando chegasse encontraria meus problemas, ela estaria brava e ele bêbado.
  Cheguei, coloquei minhas coisas no quarto e fui direto pro banho, evitar contato tem sido uma boa maneira de me manter forte. Tomei um delicioso banho quente e me deitei na cama.

   “ Ouço que ele chegou, tudo vai começar mais uma vez. Cadeiras sendo arremessadas e vasos se quebrando, ela grita e xinga freneticamente á ele. Ainda não fui mencionada, ainda bem. Droga! Dizer faz com que as coisas aconteçam? Ela está na minha porta gritando ofensas e me mandando abrir. Ele ainda bêbado, enfim a apoia em algo. Minha porta será quebrada á qualquer momento mas não vou abrir, não, porque hoje quero estar feliz

  Depois de muitos gritos e murros, eles desistiram. Porque não brigam entre si e descontam em si mesmos a raiva? Eu tenho de ser o saco de pancadas de cada um? Hora de fugir da realidade. Peguei uma caixa de cigarros que eu escondia na gaveta de calcinhas, retirei um e fui até a varanda para esfriar a cabeça. Acendi o cigarro e traguei com força as substâncias. Senti a nicotina se espalhar pelo meu corpo, me dando uma sensação relaxante de alívio. Fui sorrateiramente até a sala pegar uma garrafa de uísque antiga de meu pai. Bebi boa parte da garrafa, já me sentia menos sóbria e melhor, então com certa dificuldade, devolvi a garrafa em silêncio.
  Escondi tudo e fui dormir, bastante bêbada.
  Acordei com muita dor de cabeça e preguiça, então me arrumei para a escola com menor velocidade. Você deve estar se perguntando porque eu vou, mas prefiro mil vezes estar num local chato com pessoas chatas que estar em casa com eles. Dormi até o fim da aula, sendo acordada somente pelo sinal. Líderes de torcida, patricinhas, oferecidas, nerds, esquisitonas, rockeiras e normais saíram em grupos andando alegremente por aí. Corpos maravilhosos, jeans 36 que se encaixam perfeitamente em suas pequenas curvas. Cabelos longos ondulados de dar inveja, peles e olhos perfeitos, bocas destacadas e bochechas delicadamente rosadas. Assim eram as garotas da escola, magras, bonitas, perfeitas. Todas com seus corpos atléticos e seus cabelos macios, todas com lindos namorados e uma família perfeita. Grande coisa, afe.
  Cheguei e me tranquei no quarto. Tomei um banho para esperar as brigas de mais tarde.
  - Toc! Toc! Toc! O jantar está pronto! – minha mãe gritava.
  Ótimo, pode comer então, pensei comigo mesma. Fui dormir o mais cedo que pude para espantar a fome e não ter de ouvi-los brigar.

   Flashback Off

  - Hey, tudo bem? - perguntou.
  - Tá sim. Só estou um pouco cansada – menti.
  - Hoje vamos pra minha casa?
  - Não, tenho trabalho pra fazer, melhor não nos encontrarmos hoje – pedi.
  - , você fez de novo e não quer me ter por perto para atrapalhá-la? – ele disse, senti um arrependimento queimar no estômago (ou a fome, talvez) mas fingi não ter acontecido nada.
  - Claro que não! Só tenho um trabalho importante e se você estiver comigo, não vou me concentrar! – fui convincente.
  - Não me importo, vou pra sua casa e ponto final.

   “Calcule a massa do corpo de madeira comparando os resultados com o número de prótons do corpo de isopor”
  - Poxa , faz meia hora que estou tentando fazer isso, você tira minha concentração!
  - Desculpa... Vou fazer um lanchinho para a gente - disse.
  - Não estou com fome, pode fazer só pra você – ele me olhou com uma cara séria.
  - você não almoçou, só deixei que passasse porque você disse que tinha comido no fim da aula, mas agora, sei que você está com fome sim! – ele nem me esperou rebater, saiu e foi em direção á cozinha.
  Pronto! Acabei as atividades e estava distraído, aquele sanduíche não ia me fazer bem, melhor dar um jeito.
  - Toc! Toc! Toc! o que você está fazendo?
  Merda! Esse menino virou minha babá!
  - Indo ao banheiro, oras. Com licença, posso continuar a fazer minhas necessidades?
  - Não minta pra mim, sabe que está machucando a si mesma, não sabe? Mas, acima de tudo, está ferindo muito mais a mim. – ele tocou de leve na porta e ouvi passos. Esperei ele se afastar bastante, então coloquei dois dedos na garganta e me livrei do peso.

XX

  Eu estava com um pijama simples e ele somente de shorts. Eu estava deitada em seu peito e ele acariciava meus cabelos. Na alta madrugada ele já estava dormindo como pedra. Então me levantei, peguei minha caixa de cigarros e fui para a varanda. Peguei também o uísque de meu pai. Fumei mais um cigarro e bebi mais um gole da bebida, então guardei –escondi- tudo em seu devido lugar. Escovei os dentes diversas vezes para disfarçar o cheiro do álcool. Novamente me deitei ao lado de , ele com suas mãos quentes envolveu minha cintura e juntou nossos corpos. Ele chegou bem perto de minha orelha e sussurrou “Eu sei o que você estava fazendo, isso não faz mal só a você e isso não é segredo pra ninguém”, senti um aperto no peito, mas me mantive imóvel e acabei adormecendo. Acordei com gritando e adentrando no cômodo com uma bandeja com pães, queijos e frutas.
  - Poxa amor, não precisava. Eu estou com muita dor de cabeça, não quero comer agora. – ele fez cara de decepção, colocou a bandeja no chão e veio até mim.
  - Por favor, só um pouco – ele insistiu, mas neguei com a cabeça e fiz uma cara triste, massageei as têmporas e voltei a deitar. Ele veio até a cama e se deitou.
  - Hey, não vai comer? – o olhei com surpresa.
  - Estou com muita cabeça, não quero comer agora. – ele disse e se virou de costas pra mim, fingindo dormir.
  Eu quis protestar, mas se eu o fizesse seria obrigada a comer, então deixei que seu estômago o fizesse por mim. Acordei com a barriga de roncando, ele parecia dormir, um pouco atordoado, mas dormindo. Passei as mãos por seus cabelos e senti pena pelo sacrifício que ele estava fazendo por mim, então, peguei uma faixa de queijo e comecei a comê-la. Ele imediatamente abriu os olhos, sorriu e pegou uma fatia de pão com manteiga e um pouco de suco de laranja.
  Comi uma única fatia de queijo, então decidi que isso podia ficar em meu estômago. Tomei um banho e arrumei meu quarto, não falou nada sobre o que eu havia feito na noite passada, que segundo ele, ele sabia. Minha mãe estava arrumando a casa e já desde cedo, me xingando sobre qualquer coisa. Peguei minha mochila e passei direto. já me esperava lá em baixo, então fomos para a escola, de mãos dadas. Chegando lá senti diversas pessoas me fitando dos pés á cabeça. Ignorei os comentários e fui para a sala. Me virei, mas já tinha ido embora, então fui direto para o fundo da sala me sentar.

  “Hoje, várias garotas disseram que eu era gorda e feia demais pra namorar. Porque todo mundo tem que se meter? Eu gostaria de não ser julgada por um dia, só pra saber a sensação de não ter que ser exatamente como o padrão“.

  Nos intervalos, fico observando como as garotas são tão preocupadas com seus cabelos e corpos, estão sempre tão bem arrumadas e ainda sim são traídas por idiotas. Tão bonitas e elegantes e ainda sim são trocadas, é isso que deve fazer comigo quando some. Ele realmente merece garota melhor que eu. Talvez eu mereça ser melhor. Fui até o banheiro, já amarrando o cabelo num coque alto. Entrei no último banheiro e apertei o estômago para me deixar mais enjoada. Coloquei os dedos na garganta e senti toda minha culpa sair pela boca. Me senti fraca e vazia, talvez até mais magra instantaneamente. Lavei bem a boca e ajeitei o cabelo. Fitei meu corpo no espelho e fiquei decepcionada, mesmo estando sem comer por alguns dias e vomitando tudo que como, ainda estou realmente gorda, eu nunca entraria num jeans 36, pode conseguir milhares de garotas mais bonitas que conseguiriam. Tentei arrumar meus cabelos como elas arrumam, mas simplesmente não consigo, meu cabelo não é tão macio, bonito e condizente. Eu estava completamente pálida, sem maquiagem alguma e com o cabelo horrível, como eu ainda estava namorando ? Além de ser problemática, eu sou horrível, o que ele pode ver em mim? O sinal bateu e tive de voltar pra sala. Dormi os horários restantes e acordei com uma vadia colando um papel nas minhas costas. Dizia “Me chute”, tinha também chiclete no meu cabelo e meu caderno estava com as folhas de matéria todas arrancadas e as restantes rabiscadas. Quis que o mundo acabasse e engolisse aquelas pessoas. Fui até o banheiro e tive de cortar a mecha com chiclete. Tentei salvar os pedaços das folhas que tinham sido arrancadas e traduzir o que estava rabiscado. Senti meu estômago doer de fome, então bebi um pouco de água e masquei um chiclete. me esperava, preocupado, na porta da escola, vazia e deserta.
  - Demorou hoje – ele disse pegando minha mochila de minhas mãos.
  - Impressão sua, só queria esperar essa multidão infernal passar primeiro.
  Chegamos em casa e a comida estava pronta, coloquei bem pouco no prato, mas me advertiu com o olhar, então acabei colocando mais um pouco. Ele observou minha comida e pôs somente as mesmas coisas em uma quantidade um pouco melhor. Comi minha comida devagar, eu já não aguentava mais, estava sem fome e sem vontade pra comer. Subi e comecei a mexer no material da mochila. percebeu meu caderno rasgado e rabiscado
  - Não suporto o que você tem que passar todo dia, se eu pudesse, sofreria tudo por você.
  - Por que diz isso? Não me acha capaz de sobreviver a isso?
  - Claro que é, você é a garota mais forte que conheço. Só acho que se eu morresse agora eu seria um inútil, pois minha vida é fácil demais. Você é só uma garota de 14 anos e ainda sim é mil vezes mais guerreira que qualquer um – ele me abraçou e acariciou meus cabelos.
  - ... Por que eu? Existem milhares de garotas lindas... Com cabelos maravilhosos e corpos perfeitos. Não sou bonita, não sou magra e meu cabelo é horrível, como ser interessante pra você?
  - Caráter. Garota nenhuma vai conseguir fazer melhor que isso, nunca. – ficamos abraçados pela tarde, relembrando bons momentos.

  Fui até o banheiro para tomar um banho, tirei toda a roupa e fiquei me olhando no espelho, eu não era como aquelas garotas com uma barriga sequinha e coxas pequenas. Isso eu podia mudar, se talvez eu abrisse mão de certas coisas eu talvez possa ser como elas...

Capítulo 2

  Ouvi coisas se quebrando, meu pai deve ter chegado. Ouço minha mãe já iniciando uma briga com ele. Liguei o chuveiro. Encontrei no lixo do banheiro, um pedaço de meu caderno, rasgado pelas garotas. A pressão exercida pelas pessoas me deixou enlouquecida, peguei minha lâmina e abri um novo corte em meu pulso, ver meu sangue escorrendo de alguma forma é reconfortante, me desliga do mundo, me sinto extasiada e entorpecida. É como se toda sua vida saísse por aquele mero corte, liberando as coisas ruins e te fazendo esquecer que todo o mundo lá fora está pronto pra te machucar.
  Terminei meu banho e conferi se não havia vestígio de sangue ou da minha lâmina no banheiro. estava deitado na cama, entediado, olhando para o nada.
  Quando cheguei, ele foi para o banheiro, para que eu trocasse a roupa. Escolhi uma roupa comum e me troquei rápido, sempre tive vergonha de me trocar perto de , não tenho o corpo que ele merecia que sua garota tivesse. Bati na porta para que ele pudesse sair de lá, ele veio até mim e selou-me os lábios. Ele pegou minha mão e me puxou até a varanda, senti uma dor incômoda, pois ele segurava bem em cima de meu corte recém-aberto. Abafei um gemido de dor, para que ele não percebesse, ele olhou pra minha mão e eu fiz de tudo para esconder o pulso sem ser suspeita. Acho que funcionou pois ele ignorou e me conduziu até a sacada. Me abraçou por trás e disse para eu ver como a lua estava brilhando tão intensamente, “Ela brilha tanto quanto eu amo você”, ele disse, naquele momento eu me sentia bem, nada poderia me deixar triste ou poderia?

XX

  Minha mãe bateu na porta como de costume, mas dessa vez ela tinha uma carta na manga, ela achou a chave reserva. Destrancou a porta e veio até mim, gritando ofensas e me xingando por qualquer coisa. Voltei pra dentro do quarto e procurei meus fones de ouvido. Ela pegou um chinelo e começou a distribuir chineladas pelas minhas pernas e braços, eu não tentei me defender, apenas me joguei no chão e me encolhi, tentando talvez, pará-la. Ela me bateu até se cansar, eu estava toda roxa e vermelha, com o corpo todo dolorido e os olhos inchados. Eu não deixei que ela me visse chorar, tem coisas que ela não merece. Me tranquei no banheiro e me descontrolei. Saí rasgando novos cortes por minhas coxas e pelos meus pulsos. Cada centímetro aberto derramava um pouco de meu sangue, me sentia fraca, exausta e derrotada. O chão de meu banheiro estava começando a me dar problemas, então, liguei o chuveiro e deixei que a água levasse meu sangue e minhas lágrimas.
  Minha mãe tinha o terrível hábito de amar meu pai e querer seu bem, porém, não impor a ele limites. Ele nunca estava em casa e bebia muito, gastava todo o nosso dinheiro e não era bom pai. Ela se sentia mal com tudo isso, então se tornou fria e insensível, eu não gosto mais de estar perto dela, não suporto estar em mesmo local que os dois, porque ele começa a brigar com ela, ela grita, xinga mas nunca dá um jeito nisso. Então, para aliviar a tensão e o estresse, ela briga comigo e as vezes, me bate. Estou cansada de ser o saco de pancada em que todo mundo alivia as tensões. A essa altura, já batia na porta, desesperado. Fechei o chuveiro e me vesti com o pijama de antes, que, por sorte cobria todos meus cortes. Quando saí, ele me abraçou e com certa desconfiança, segurou meu pulso, ele olhou fundo em meus olhos para ver minha reação. Consegui não dizer “Ai” nem coisas do tipo, mas devo ter franzido a testa momentaneamente, pois ele abaixou e balançou a cabeça negativamente. Uma lágrima escorreu de seu rosto, ele puxou os cabelos para trás e se encolheu, chorando baixinho. Me aproximei dele e o abracei, ele me afastou com a mão e com os olhos vermelhos me disse:
  - Não sou o cara perfeito que você diz, nunca consigo evitar isso – ele apontou para meus pulsos, acabei abaixando a cabeça e limpando a lágrima que a essa altura já havia caído. Ele novamente se encolheu.
  - Você é a única coisa boa na minha vida, não se culpe.
  - Como posso ser bom se nem ao menos consigo proteger você?
  - Você ainda é a única razão de eu continuar viva, . Se você não existisse eu sem dúvida me matar...
  - Não termine essa frase, morro só de pensar em não ter você – ele soluçou e tentou engolir o choro. Ele veio até mim e me abraçou. Correspondi ao abraço e ele me levou no colo, até a cama, me deitando lá e arrumando um lugar ao meu lado. Ele afagou meus cabelos até que eu dormisse. Na madrugada acordei por causa de um pesadelo. Fui até a cozinha e pisei em algo estranho... Cortante... Vidro! Olhei pro chão e fiquei muito assustada ao ver que no chão estava os restos da garrafa de uísque que eu sempre bebia. Não consegui pensar em como ela estava ali e o porquê. Passei direto e peguei um copo d’água. Peguei um Band-Aid no armário e cobri o corte que se abriu em meu pé devido ao vidro. Voltei pro quarto e estava com a luz acesa, lendo algo.
  - O que faz acordado? – perguntei .
  - Não consegui dormir nada, e quando você ficou assustada pelo sonho, não consegui mais dormir. Deite-se, vou desligar a luz, posso fazer outra coisa.
  - Não estou com sono, aqueles fantasmas estão me assombrando, se eu dormir vou me lembrar de tudo hoje... – ele abriu os braços e me sentei em seu colo, ele me abraçou e beijou o alto de minha cabeça – Eu...
  - Você?
  - Nada... – ele sorriu e me apertou junto a ele
  - Eu te amo – ele disse calmo e sincero, não tive resposta. Ele suspirou e pegou minha mão. Entrelaçamos nossos dedos e ele cantarolou “Just The Way You are” no meu ouvido. Ele levantou a manga de meu pijama, revelando ali meus cortes recentemente abertos. Estava escuro, mas acredito que ele pode ver. Não me escondi, ele me conhecia e sabia o que havia acontecido. Ele começou a espalhar beijinhos leves por todo o meu antebraço.
  - Por que está beijando meu pulso? –perguntei .
  - Para sarar mais rápido. –não consegui conter minhas lágrimas - Se meu amor puder curar sua dor, eu darei minha vida por você. Eu faria qualquer coisa para ver um sorriso sincero em seus lábios todos os dias, sei que não sou motivo suficiente para fazê-la feliz, por isso, eu quero tanto poder sofrer tudo isso por você, para que talvez, você consiga dormir a noite e acordar bem todas as manhãs.
  Não tive palavras para dizer, só o abracei e fiquei ali, perto dele.
  - Eu... Aaam... Amoo... Vvvo... Você – falei gaguejando com voz chorosa.

XX

  Ele desapareceu de novo. Não tive vontade de ir para a escola, mas vontade não resolve os problemas. Fui para a aula com um moletom enorme, ninguém precisava saber como eu me sentia.
  Quando cheguei da aula, minha mãe esperava, sentada no sofá, com uma cara séria. Passei direto por ela e fui em direção ao meu quarto, mas ela foi atrás de mim e chamou por mim. A ignorei e entrei em meu quarto. Antes que eu fechasse a porta, ela entrou no local e pegou meu livro-diário. Com lágrimas nos olhos ela balançou a cabeça negativamente. Peguei o livro de sua mão e gritei para que ela saísse dali. Ela derramou algumas lágrimas e disse para si mesma, “Só, me perdoe, não consigo mudar” chorando, ela desceu as escadas lentamente.
  - Ahh! , você não deve continuar, vai acabar se tornando como seu pai. Uma dependente - É, ontem ela tinha quebrado a garrafa por mim. Senti raiva por ela ter invadido minha privacidade, descoberto sobre meus segredos mais ocultos e isso nem ao menos era algo relevante pra ela.

XX

  Fiquei por duas semanas sem ser incomodada por eles, não trocamos palavras e eu definitivamente preferia assim. Algo me deixava um pouco melhor, notei que algumas calças estão mais largas. Não tenho comido muito, o que me livra da terrível queimação que sinto quando tenho de induzir o vômito. reapareceu e é sempre carinhoso e agora, mais paciente.
  Me senti mais confiante para fazer tal coisa, é um ótimo namorado e merece isso. Ele conseguiria coisa melhor, mas insiste em estar comigo, então quero dar a ele uma prova de amor. Vesti um short jeans comum e uma camisa larga.
  Passeamos por toda a tarde, pela primeira vez em muito tempo, eu havia me divertido. Quando chegamos em casa, tomei um banho e vesti roupas leves. estava só de calça jeans e all star, deitado na minha cama, esperando para vermos um filme.
  - não sou a mais bonita, mas acho que estou um pouco melhor que antes, então me sinto confiante pra te provar meu amor... – tirei a blusa do pijama, ele me olhava atento a cada movimento e com certa surpresa. Me preparei para tirar o sutiã, mas ele me interrompeu
  - O que está fazendo? Não entendo... – tirei o sutiã e ele fitou meus seios e depois meus olho s- , o que está fazendo? – fui até ele e comecei a beijá-lo, mas ele interrompeu o beijo – Eu não vou transar com você! Sua virgindade é uma coisa muito especial, não vou deixar que a perca assim só pra provar algo. Sei como é difícil pra você estar fazendo isso, mas não vou aceitar que faça isso por mim. Quero que faça por você, por nós, quando estiver pronta e tiver vontade. Eu não disse que não tocaria em você para convencer seus pais, eu disse porque era uma promessa e só vou quebra-la quando você estiver querendo isso de coração. – fiquei completamente sem graça e envergonhada. Me levantei de seu colo e me virei de costas pra ele.
  - Não posso acreditar que fiz isso! Você não quer transar comigo porque sou gorda e você pode comer qualquer modelo que quiser, como eu pude achar que você sentiria... Atração por mim? – eu gritava com certa raiva na voz.
  - Não comece a duvidar do meu amor por você, só não vou fazer como seu tio e tirar de você uma coisa por pura necessidade. E eu não gostaria de “comer” nenhuma modelo, é você que eu amo. Se não quiser acreditar que faço isso para preservar você, então acredite que é porque prometi ao seu pai. E tem uma coisa que venho notado, você está muito mais magra do que quando nos conhecemos – acabei exibindo um sorriso vitorioso, eu estava de costas mas mesmo assim ele viu – Isso não é um elogio! Eu amava a que conheci, com 60 quilos, cabelos rebeldes e rosto pálido. Não essa magrissíma, com fios alisados e maquiagem perfeita. Quanto mais você emagrece, alisa os cabelos e se maquia mais se distancia da que me apaixonei e que amo. Você sempre soube que eu amava você exatamente do jeito que era, se quer mudar é porque já não estou sendo suficiente pra você. - socou o espelho e vi sangue escorrer de sua mão. Ele se ajoelhou na minha frente e abaixou a cabeça – Eu devia ir embora – eu solucei – Mas te amo demais para deixa-la – eu o abracei – Por favor, não duvide mais de mim...
  - Prometo não duvidar mais de você, promete não se afastar nunca de mim?
  - Prom... Pode ser mais tarde? É que agora você está seu roupa, no meu colo... Nossos corpos estão colados e você está sem blusa, quero muito preservar você, mas apesar de ser um bom garoto, eu tenho limites, preciso me afastar agora, já estou muito excitado com tudo isso... Por favor? – sorri e ele correspondeu, beijei seus lábios e comecei a deitá-lo na cama. Mordi o lóbulo de sua orelha. Voltei para seus lábios e as mãos dele passeavam por meu corpo. Senti sua excitação pedir passagem pela calça jeans - Hey! Chega, eu preciso de um banho frio! – ele nos afastou e eu me deitei ao seu lado. Ele se levantou arfando e indo para o banheiro.

XX

  - Por favor, só um pouco? – ele insistia.
  - Não, estou mesmo sem fome – eu reforcei. Ele então retirou os pratos sem nem tocar na sua comida.

XX

  Tenho me sentido muito mal, fazem duas semanas que ele parou de comer, percebo como ele está mais magro e com aparência cansada. Ele já devia ter perdido quase 6kg, isso é muito, não é? Ele começou a fumar e por alguns dias o peguei desmaiado em meu quarto. Odeio vê-lo nessas condições, mas ele disse que só volta comer quando eu voltar a comer. Não podia deixar ele se matar só pra sentir que estava comigo em todos os momentos ruins. Tentei comer, mas meu estômago rejeitou, então , induziu o vômito, fiquei chocada em presenciar aquela cena, aquilo era realmente preocupante. Eu sabia que eu estava acabando com minha saúde e com a dele, mas ele insistia em sofrer comigo. Lembrei-me de que no início eu me sentia como ele, desmaiando por aí e com muita indisposição, senti medo que assim como eu, ele ficasse preso nisso tudo. Eu tinha de tomar uma decisão, não gostava nem um pouco de vê-lo assim.

Capítulo 3

  - , me prometa que vai voltar a comer. Eu voltarei a comer.
  - Faria mesmo isso por você?
  - Não. Faria por você.

XX

  Vejo que ele está bem melhor, nos últimos dias consegui convencê-lo a comer normalmente porque ele sabe que não consigo realmente comer como antes. Algumas coisas têm melhorado, minhas notas são um bom exemplo. As vadias da escola pararam de colar coisas em mim e notar minha existência. Meus pais pararam de brigar um pouco, não que eu me importe, mas agora está pior. Eles me levam a uma psicóloga toda semana e até com nutricionista fui obrigada a me consultar. Ela disse que tenho que comer, pois já estou 4kg abaixo do normal para uma garota de 14 anos e 1,68m, que seria no mínimo 47kg e isso segundo ela, ainda é bem pouco. Agora sou monitorada a cada refeição, mas sempre dou um jeito de ir sozinha ao banheiro, até mesmo consigo enganar. Me senti um pouco indisposta nos últimos dias por ter vomitado muito. Minhas costelas e meu estômago doem, mas estou ficando sem opções, só quero emagrecer mais um pouco e aí eu vou parar, não precisarei disso tudo mais.    disse que estou consideravelmente mais magra, mas que não entende o porque já que estou comendo mais do que o normal. Ele acreditou que é porque tenho feito bastante atividade física, então meu corpo não absorve as calorias. Desmaiei algumas vezes, mas foi sozinha, em casa. Me encontrei várias vezes dormindo no chão, o que me levava a conclusão de que eu havia desmaiado.

XX

  A nutricionista disse essa semana que não estou me comprometendo corretamente com a dieta, estou cada vez mais magra e isso pode fazer muito mal pra mim, atualmente estou pesando 41kg. Nessa consulta meus pais não foram, mas estava, então eu sabia que ele me obrigaria a comer e estaria do meu lado 24 horas por dia.

XX

  Droga! Acordei num hospital. Eu havia desmaiado. Os médicos diagnosticaram minha doença como bulimia. Estou internada há vários dias tomando soro, eles disseram que estou desidratada e com baixa de plaquetas, glicose e um pouco de anemia. Meus pais estão preocupados e não desgruda da cabeceira da cama. Ele não dorme há dias e também não quer comer, sinto que a qualquer momento ele também vai cair de cama. Os médicos disseram também que posso ter contraído uma infecção no sangue por causa de lâminas não esterilizadas. Também me diagnosticaram como auto-mutiladora obsessiva. Só quero sair daqui e ter novamente uma vida. Não tenho bulimia, não tenho obsessão em me cortar e não estou magra excessivamente. Não preciso parar de comer, não preciso vomitar mais, sei que estou bem assim, não quero emagrecer mais.

XX

  Aqueles 90 dias num hospital foram a pior experiência de minha vida. Eu estive sendo monitorada 24 horas por dia e tive de suportar a falsa preocupação de meus “pais”. Estou melhor, posso ir pra casa agora, tudo normalizou e meu quadro é estável. Estou atualmente com 45 quilos, mas os médicos disseram que preciso me alimentar bem para chegar no mínimo em 48kg, o que seria saudável e seguro pra mim.

XX

  Voltei para minha rotina normal, estou com 46,5 e pra mim isso é o máximo que chegarei, não quero e não vou ser mais pesada que isso. A escola até tem sido um lugar legal, estranho né? Minha casa é silenciosa e a comida é até boa. tem sido o melhor homem do mundo, tem sempre paciência comigo e parece me amar verdadeiramente. Ele está saudável de novo e está malhando, sinto um pouco de medo de ele me trocar por outra, agora ele está tão bonito.

XX

  Velas, rosas, banheira, espuma, cama, champanhe, balões. Hoje faço 15 meses de namoro, deixei tudo pra pronto para hoje, ser um dia mais que especial. Fui á uma ginecologista e ela disse que está tudo bem comigo, exceto o fato de eu estar abaixo do peso (46 quilos). Ela me deu dicas para ter uma boa primeira vez e apesar do constrangimento, acabei lembrando toda e cada dica da doutora. Comprei um lingerie e fiquei por horas falando com o espelho o que eu devia fazer. Eu queria fazer uma surpresa pra , mas dessa vez era algo que eu também queria muito.

  Fomos jantar na cobertura do prédio, levamos comida do restaurante. Eu estava vestida para um grande dia, pela primeira vez em algum tempo, eu quis me arrumar um pouco e mostrar pra que talvez eu não fosse tão feia quanto eu pensava. Terminamos o jantar e ficamos observando as estrelas. Estava tarde e fazia frio, então fomos para baixo. Chegamos finalmente ao quarto que eu tinha alugado para hoje.
  - O que faremos aqui? – ele perguntou com olhar curioso
  Fui até o sofá e tirei o salto. Ele fechou a porta e com um sorriso malicioso veio até mim. Ele se sentou ao meu lado e deixei os sapatos no chão. Ele segurou meu rosto e nos aproximou. Nossos lábios se tocaram suavemente, acariciei seus cabelos.
  - Se sente pronta e confortável com tudo isso? – ele parou o beijo para perguntar.
  Selei seus lábios e fiz “Sim” com a cabeça. Continuamos a nos beijar, sua língua explorava toda minha boca. Nossas línguas dançavam em sincronia em movimentos lentos e intensos. Levantei um pouco sem parar o beijo e me sentei no colo de . Ele me segurou pela cintura e me puxou mais para ele. Eu parei o beijo e comecei a distribuir beijos em seu pescoço, ele suspirava e suas mãos passeavam pelo meu corpo. Cheguei até o lóbulo de sua orelha e mordi levemente, fazendo se arrepiar e apertar minha bunda. Ele se levantou comigo em seu colo, segurando minhas pernas envolvas em sua cintura. Voltei a beijá-lo e ele andava até a cama. Ele me deitou levemente sobre a cama ficando por cima de mim. Ele parou o beijo e me olhou nos olhos, como se pedisse permissão para tirar minha roupa. Eu sorri pra ele e voltei a beijá-lo. Ele começou a subir meu vestido com as mãos já na altura de minha barriga. Ele beijava meu pescoço enquanto já tirava por completo meu vestido. Me lembro de ver meu vestido sendo arremessado pelo quarto. Desabotoei a camisa de e a tirei rapidamente. O calor de nossos corpos tornava a sensação mais intensa. Ele fitou meu corpo e nesse momento senti muita vergonha, então tentei puxá-lo para mais um beijo, porém ele me parou. Continuou fitando um pouco mais meu corpo e disse:
  - Você é muito linda – ele se acomodou entre minhas pernas e voltou a beijar-me. Eu pude sentir sua excitação por cima da calça, pedindo para ser descoberta. Puxei sua calça para baixo e a conda pedia passagem pela boxer vermelha de . Sorri e mordi os lábios quando vi como ele estava se sentindo. Acariciei levemente sobre a cueca, seu membro já inchado e duro, ele soltou um gemido de prazer e necessidade. Interrompi-me e sentei-me na cama, ele quase me matou com o olhar pedindo por mais. Retirei sua cueca e vi o quanto ele estava animado com tudo isso. Ele se encaixou entre minhas pernas e começou a retirar meu sutiã enquanto roçava seu membro sobre o fino tecido de minha calcinha. Ele retirou meu sutiã e beijou meus seios. Depois de dar a devida atenção aos meus seios, ele retirou minha calcinha num só movimento e a jogou longe. Perguntou se podia me penetrar e assenti com a cabeça. Naquele momento o medo tomou conta de mim, apenas apertei os olhos e segurei os lençóis. A dor era terrível, lágrimas escorriam por meu rosto.
  - Sei que estou machucando você... Eu... Vou parar. – ele retirou seu membro de mim.
  - Não, tudo bem, eu aguento, por favor, não vamos estragar tudo agora!
  - Podemos fazer isso diferente. – ele veio até mim para beijar-me. Ele começou a fazer “carinho” lá em baixo. Meu corpo estremecia com cada pequeno toque de , eu estava finalmente mais calma e excitada.
  - Tudo bem, vamos tentar de novo - ele sorriu e mordeu os lábios.
  - Ainda não, serei um garoto mal.
  Ele começou a me penetrar com dois dedos, acabei soltando um gemido. Ele alternava entre estocadas e carícias em minha intimidade. Eu estava quase no auge, então, ele parou completamente e veio beijar meu pescoço. Num gemido, quase que num grito eu quis que ele voltasse a fazer o de antes, mas ele estava sendo mal. Ele beijava meu pescoço e apertava meus seios. Sua intimidade roçava levemente na minha. Eu o desejava dentro de mim, eu precisava. Ele apenas beijava meu pescoço e meus seios, enquanto eu pedia desesperadamente que ele enfim me penetrasse. Ele não fez o que eu queria, então o empurrei e subi em cima dele. Ele me olhou com certo desafio. Beijei seus lábios rapidamente e mordi o lóbulo de sua orelha. Desci os beijos para seu peitoral e para sua barriga. Comecei a arranhar levemente sua barriga enquanto eu beijava seu abdome. Desci os beijos até bem próximo de seu membro, mas quando ameacei toma-lo em minhas mãos, voltei os beijos para sua barriga. me olhou com indignação. Sorri delicadamente pra ele e enfim peguei seu membro. Comecei a masturba-lo com intensidade, porém devagar. Ele gemia e me pedia por mais. Mas limitei-me a tortura-lo. Coloquei apenas o início da conda na boca e fiz movimentos circulares com a língua. Retirei-a da boca e voltei a masturba-lo, ele meio que gritou quando eu parei todos os movimentos. Ele colocou minha mão novamente em seu membro, e me olhava com súplica. Quando não aguentava mais tortura-lo, acabei colocando todo seu membro na boca e dei-lhe o prazer que ele tanto queria. Quando ele quase alcançava o auge, tirei-o de minha boca e voltei-me para ele. Beijei seu pescoço e pedi que ele me penetrasse. Ele não precisou pensar muito. Dessa vez foi um pouco menos dolorido, senti que podia suportar. Em poucos instantes eu sentia prazer e gemíamos juntos. Atingimos o clímax e ele caiu ao meu lado. Estávamos suados e grudentos, mas eu me sentia feliz por finalmente ter compensado por ser tão bom namorado. Ele sorria feliz para mim e então entrelaçou nossas mãos.
  Adormeci em seu peito, mas de manhã eu estava enrolada em lençóis numa cama vazia. Ao meu lado tinha uma bandeja com café da manhã. Ele saiu do banheiro e me desejou Bom dia.
  Ficamos o dia todo juntos, vendo filmes e dizendo bobagens.

Capítulo 4

  - Venha me ajudar com isso garota! – minha mãe berrava da sala.
  Eu desci e me dirigi ao quintal. Comecei a lavar a frente da porta de trás, juntava folhas de debaixo da árvore enquanto cantarolava algo.
  - Por que eu sempre tenho de varrer? – ele perguntou com cara indignada, que fofo!
  - Por que eu tenho dores na coluna. – mostrei língua para ele.
  - Está falando sozinha? – minha mãe apareceu atrás de mim.
  - Não, estou falando com .
  - De novo? Você tem que ir ao psicólogo amanhã!
  - Já sei. Me deixe terminar. – ela voltou pra dentro. Senti uma lágrima escorrer por meu rosto. Lavei o quintal e juntei as folhas de debaixo da árvore. Voltei pro meu quarto e peguei papel.

  “Porque me magoar assim? Ela me disse que isso não é real, você não está fazendo bem pra mim, é tão difícil me deixar ser feliz?”

XX

  - Você tem que parar com isso! – Dra. Forbie falou – Isso está te prejudicando! – ela me ameaçou com o dedo, mas abaixei o dedo dela e a olhei com arrogância – Você... Precisa comer, está novamente mais magra.
  - Pare de cuidar da minha vida! – eu estava irritada.
  - Pois sou paga pra isso, e sinto como se fosse responsável por você.
  - Pois sinta-se dispensada. – levantei-me e saí dali.

XX

  Ouça.

  Elas me olhavam com desprezo quando eu passei. Algumas cochichavam algo sobre meu cabelo e outras sobre minha sanidade. Não consegui comer nos outros próximos dias.
  Ele tinha me deixado de novo, mas dessa vez me senti diferente. Seria pra sempre? Espero que não. Voltei a fumar e a beber. Essa era a única hora que eu podia tê-lo para mim. Acredito que minha balança está errada, pois ela diz que estou pesando 38, mas na verdade estou significantemente mais gorda.
  Meus desmaios têm sido mais frequentes, mas ele sempre me salva. Aceitei me consultar, pois estava sentindo uma intensa dor na cabeça, e quando ia comer, tudo descia como lâmina.
  - Gostaria que estivesse com alguém ou dizer só pra sua família.
  - Não gosto que cuidem de mim, e não tenho ninguém além de .
  - Não é de minha conta... Se insiste tanto direi á você mesmo... Senhorita você foi diagnosticada com um tumor no cérebro, impossível de ser retirado. Mas poderíamos pará-lo e você tomaria remédios para não sentir mais dores, porém está com uma inflamação do esôfago. Além de estar muito abaixo do peso, está com anemia e baixa de hemácias, plaquetas e glicose. Eu recomendaria que se internasse agora, posso arrumar tudo pra você, se quiser. – eu fiquei surpresa, mas no fundo sabia que estava indo num caminho sem volta. Talvez eu nunca mais visse o rosto de , e ele seria realmente a única pessoa da qual eu sentiria falta. Eu não queria ser internada, eu não queria mais lutar. Estava cansada, todos merecem um descanso. Eu me sentia mal em deixar , mas eu estava preparada para me render, então eu preferia passar meus últimos dias com a pessoa que amo do que num hospital internada, lutando contra algo que não posso e nem desejo vencer.
  - Quanto... Tempo? – eu fiquei em silêncio, mas nesse momento, isso era algo que eu precisava saber.
  - Com os tratamentos você pode ter uma vida normal, só precisa se internar para aumentar as plaquetas, as hem...
  - Não farei tratamento algum, quanto tempo me resta? – estava já um pouco exaltada.
  - Se não fizer o tratamento, as chances serão nulas... Você poderia ter 30 dias de vida. – eu não esperava e não precisava de mais do que isso, só queria preparar para viver sem minha companhia. Eu sabia que isso seria o melhor para todos, então me sentia feliz e realizada por já ter chegado até aqui. Eu gostaria de viver eternamente ao lado de , mas estava cansada de todo o resto, lutar não é mais algo que eu queira fazer. Estou me entregando. Vou me render finalmente, assim quem sabe as coisas se tornem mais fáceis para mim?

XX

  PRIMEIRO DIA (APÓS A CONSULTA):

   ontem quis saber sobre o resultado do exame, mas eu consegui que ele acreditasse que estava tudo bem. Hoje eu tive de me olhar no espelho, mas não gosto de fazer isso, pois eu nunca vou conseguir me acostumar a ver aquela imagem que ele reflete. Estou significantemente mais magra, me sinto cansada, mas ninguém precisa saber disso. E eu tenho de estar feliz, pois daqui a pouco eu poderei descansar eternamente. Nós fomos passear no parque, pois isso sempre foi uma coisa que eu fazia com meus pais aos domingos quando eu era pequena.

  SEGUNDO DIA:

  Hoje e eu vamos ao cinema, ele quer saber porque estou com tanta vontade de sair. Não consegui comer a pipoca... Ele ficou preocupado porque vomitei sangue. Fiquei o dia todo na cama, ele segurou minha mão para que eu me sentisse segura. Não consigo dormir á noite, minha cabeça lateja e me faz ter insônia.

  TERCEIRO DIA:

  Não consegui sair da cama, estava fraca demais. cozinhou meus pratos favoritos, mas não consegui comer nada, ele ficou decepcionado, mas eu fiquei mil vezes pior. Me forcei a lanchar mais tarde e consegui não vomitar, porém desmaiei. Ele quer me levar ao médico.

  QUARTO DIA:

   se convenceu de que estou bem e feliz porque consegui deixar tudo que comi no estômago. Hoje foi melhor, a comida não insistiu em sair, mas estou tossindo sangue... Meu sangue está claro, quase parece rosa... me levou á um planetário, amei ver as estrelas com ele.

  QUINTO DIA:

  Nunca tinha percebido como Londres é linda pela manhã, saí por aí passeando com e ele me comprou uma rosa de plástico, pois nosso amor só morreria junto a ela, eu gostaria que assim fosse, mas talvez eu vá antes dela. Minha mãe me chamou de louca por conversar com na hora do almoço. Meu pai não está bebendo, espero que as coisas estejam boas por aqui quando eu for. Não tenho certeza se fiz tudo que queria, mas tenho certeza que meus melhores momentos foram com , me sinto um tanto egoísta por não dizer nada á ele, mas não quero preocupa-lo.

Capítulo 5

  SEXTO DIA:

  Hoje fui á vários lugares, cinema, museu, parque de diversões, restaurante e visitei a casa de minha avó. Ela não entendeu a visita, mas a abracei como se fosse meu último dia. Minhas primas e tias estão muito bem, espero que elas cuidem de minha avó quando eu não puder mais. também me levou á um belo jardim. Eu quis dormir lá, mas ele disse que estava frio. Compramos uma barraca e foi muito legal.

  SÉTIMO DIA:

   e eu viemos embora cedo, pois minha mãe ficaria preocupada. No caminho vomitei sangue na frente dele. Ele quis me levar á um pronto socorro, mas eu insisti que estava bem. Desmaiei pela tarde, mas ele não estava aqui. Não consegui comer nada hoje, estou triste.

  NONO DIA:

  Ontem eu estive no hospital, então não tenho o que contar. insistiu que eu fosse, então eu desmaiei e só acordei lá. Os médicos iriam fazer exames em mim, mas eu disse que já sabia o porque de tudo, eu só queria ir pra casa ter meus últimos dias. Eles disseram a que eu estava com uma virose, então hoje ele está aqui, cuidando de mim. Estou realmente preocupada pois não sei como dizer a ele.

   Quando a outra música acabar, ouça

.

  DÉCIMO, DÉCIMO PRIMEIRO E DÉCIMO SEGUNDO DIA:

  Eu não pude levantar da cama. não percebeu mas minha nuca está inchada. Acabei desmaiando no décimo primeiro dia, mas não acordei, então achou que eu estava em coma. Os médicos conseguiram me reanimar, mas eu teria de ficar de repouso.

  DÉCIMO TERCEIRO DIA:

  Hoje vou pra praia com , estou bem animada pois será incrível estar perto da água. Foi um dia cansativo, mas foi bom, estou feliz.

  DÉCIMO QUARTO DIA:

  Hoje eu fui pra escola, não tenho amigos lá, mas sei que vou sentir saudade daquele local, então eu quis ir até lá uma última vez.

  DÉCIMO QUINTO DIA:

  Hoje as coisas mudaram completamente, achei que ia ser meu último dia. Vomitei sangue durante o dia todo, não consegui me mover e não consegui nem ao menos falar com , nos comunicamos por papéis.

  CONTAGEM REGRESSIVA; FALTAM QUINZE DIAS:

  Hoje eu consegui ficar de pé por alguns minutos. Me obriguei a ver no espelho o que me tornei. Estou horrível, estou pesando 31 quilos, não consigo me manter de pé. Hoje eu vi uma foto de alguns meses atrás, eu mudei muito. é fiel e verdadeiro, ainda me diz todos os dias que me ama e que sou linda pra ele. Acho que ele sabe que estou doente, ele só não acha que tenho duas semanas de vida restantes.

   CONTAGEM REGRESSIVA; FALTAM QUATORZE DIAS:

  Umas amigas distantes minhas vieram aqui hoje, algo está acontecendo, acho que descobriram algo. Tive de ir ao médico pois não estou comendo nada. Tomei soro o tarde toda.

  CONTAGEM REGRESSIVA; FALTAM TREZE DIAS:

  Saí do hospital, estou com 33 quilos, legal né? Até parece que tudo vai ficar bem, mas não vou criar expectativas falsas sobre nada, minha história acaba aqui, é assim que tem que ser.

  CONTAGEM REGRESSIVA; FALTAM DOZE DIAS:

   se irritou comigo hoje porque eu estou escondendo alguma coisa dele. Eu pedi que se hoje e amanhã ele não me procurasse, eu diria tudo a ele, ele aceitou o trato.

  CONTAGEM REGRESSIVA; FALTAM DEZ DIAS:

   não me ligou, nem me procurou por dois dias, acho que talvez ele consiga fazer isso pra sempre. Ele está comigo agora e quer muito ler, mas eu não vou deixar ele descobrir, não agora. Não escrevi nada sobre os outros dois dias, porque você deve imaginar o que eu fiz.

  CONTAGEM REGRESSIVA; FALTAM OITO DIAS:

  Estou sem forças para nada, está sempre comigo, mas não posso pedir que ele escreva isso por mim, é algo que terei de fazer, pois ele não pode saber. Notei que minha nuca está roxa e mil vezes mais inchada, mas meu cabelo cobre. Emagreci de novo e não consigo me levantar nem para vomitar. Consigo comer torradas e água, é assim que tenho sobrevivido. Acho que está chegando a hora e tenho que me preparar para contar a . Estou com medo de ele ficar bravo, se eu for embora sem que ele me perdoe, eu nunca vou poder descansar em paz.

  CONTAGEM REGRESSIVA; FALTAM SEIS DIAS:

  Eu fico na cama tomando soro o dia todo, e me faz companhia, vendo filmes ou conversando comigo, mas deve ser algo muito chato, pois não consigo mais falar, perdi as forças até pra isso.

  CONTAGEM REGRESSIVA; FALTAM CINCO DIAS:

  Hoje eu contei tudo á , ele está muito mal, mas me prometeu que vai ficar comigo até meu coração parar de bater. Eu disse tudo, exceto o fato de que faltam menos de uma semana para que eu deixe-o.

  CONTAGEM REGRESSIVA; FALTAM QUATRO DIAS:

  Hoje eu quis passear. me levou pelos mesmos lugares em que passeamos nos primeiros encontros, foi bom mas é meio estranho estar numa cadeira de rodas. Eu tentei me levantar, mas eu caí no chão.

  CONTAGEM REGRESSIVA; FALTAM TRÊS DIAS:

  Não acho que a doutora esteja certa sobre os 30 dias. Estou mais do que bem, eu poderia enfrentar um exército. Quem me dera que esse exército fosse feito de areia. Hoje eu vomitei sangue, mas meu sangue foi escuro... segurou minha mão, mas senti como se fosse a última vez, não entendo, estou tão bem agora e consigo ficar de pé, mas há algo de errado nisso tudo. não consegue me ver, ele está encolhido no chão da sala chorando por algo. Minha mãe está com os olhos vermelhos e meu pai está ligando pra uma funerária, eu... Estou muito assustada, o que está acontecendo?

  Quando cheguei perto de entendi o que se passava, um corpo frio e magro estava junto dele, ele segurava a mão da garota... Eu...

  Narrador POV’S:

  A família providenciou tudo para o funeral da garota. não desgrudou dela por um instante, ele foi até mesmo na autópsia do corpo, ele realmente está mal com isso. Ele sabia que um dia, ela iria, mas ele não esperava que fosse tão cedo... Hoje ela faria 15 anos e a mãe fez um pequeno bolo para ela. esteve no enterro, ele não se conteve, era difícil vê-la tão jovem sendo obrigada a estar em uma cova eternamente... A mãe não se conforma com a morte da filha, ela gostaria de não ter sido a pessoa que foi, mas tem uma coisa que ela se arrepende mais que tudo. A filha tinha um sério problema psicológico, ela tinha um namorado imaginário. A mãe nunca entendeu bem a filha e sempre a julgou por isso, mas hoje ela sabe que era real. Ele era o anjo-da-guarda de , ele se apaixonou por ela e assumiu todas as consequências, até mesmo renunciar á sua divindade e poder amá-la, não se sabe o paradeiro de . está finalmente descansando em paz, ela não precisa mais se machucar para ser boa o bastante, onde ela está são todos iguais.

FIM



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