Her Time

Escrito por Nindy P. | Revisado por Lelen

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Música: Just Tonight, por The Pretty Reckless

  As paredes brancas eram as mesmas há um tempo que ela já não fazia mais questão de contabilizar. As tentativas dos médicos de tirarem de seu quarto não foram de muito sucesso.

  Desde que perdera sua mãe, ainda muito jovem, vinha buscando motivos para viver, se agarrando as outras pessoas mais próximas. Como não conseguira se entender com seu pai, lhe restara o namorado Ryan e sua melhor amiga Carolyn. E como não tinha muita sorte na vida, há cerca de um ano, sua amiga havia falecido num trágico acidente de carro, e pouco tempo depois tinha descoberto que seu namorado a traía desde o começo do relacionamento. Ela não tinha muitos outros amigos, além de que as outras poucas pessoas com quem conversava, ou estavam do lado de Ryan, ou a faziam lembrar muito de Carolyn; o que fazia ser insuportável o convívio. Mas a solidão também era insuportável. O que ela fazia era chorar, mas ela queria parar de fazer aquilo; mas não era tão fácil. Sentia falta da mãe, de Carolyn, dos amigos que nunca teve; e da vida que sonhava em ter, mas que jamais teria. Dormir o tempo todo não era uma opção; não que ela não quisesse, apenas não conseguia. acabou se entregando aos remédios. Remédios para dormir, para depressão, remédios cada vez mais fortes.

  Quando deu por si, estava trancafiada em quarto branco, em uma clínica psiquiátrica. Talvez seu pai tivesse lembrado que tinha uma filha e resolvido se livrar dela de vez.
  E mais uma vez, uma enfermeira estava ali tentando tirar a moça do quarto para que ela fosse até o novo médico, tentar algum progresso em seu tratamento. não facilitou. O torpor que os medicamentos proporcionavam, permitiam que ela ficasse fitando o vazio sem sentir nada. Não sentir nada... Isso era tudo que ela queria.
  Sem sucesso, a enfermeira saiu bufando do quarto. Minutos mais tarde, a porta foi novamente aberta, e uma voz não conhecida se fez ouvir.

  - . A moça que não quis ir me ver. – o novo doutor disse em tom amigável.
  Sem se dar conta ela desviou o olhar do ponto em que estava fixado e se virou para o jovem doutor. Ali diante de seus olhos estava a figura de um jovem rapaz, com um sorriso atípico para um psiquiatra, que estranhamente fazia com que sentisse vontade de continuar olhando-o.

  O médico que analisava a prancheta em suas mãos ergueu o olhar até a moça por um segundo voltando-o logo em seguida para a ficha. Porém logo seu olhar pousou novamente sobre o olhar de , e ali se manteve por incontáveis instantes. Quando achou que tal gesto estava se tornando desconfortável ela desviou o olhar; olhou para o crachá preso no jaleco do rapaz que dizia ‘’Dr. ’’. Ele acompanhou seu olhar e disse alguma coisa que ela entendeu como uma apresentação, mas se limitou a concordar com a cabeça. Mal ouvia o que ele dizia. Mal se importava com o que ele dizia.

  Quantos outros médicos já haviam tentado conversar com ela? E quantas vezes ela conseguira ignora-los sem esforço? Não era porque esse era um tanto mais bonitinho que iria ser mais difícil.
  Quando percebeu já estava sozinha de novo. Talvez ele voltasse no dia seguinte, como eles sempre voltavam. Talvez viesse outro no lugar. A questão é que eles nunca desistiam. Insistiam em conseguir algum progresso; coisa em que ela já não acreditava e nem queria acreditar.
  No dia seguinte ninguém bateu a sua porta no horário de costume. Mas ainda assim, mais tarde ele estava lá novamente. Seus olhos calorosos insistentemente buscavam os dela.

  - Hoje você vai falar comigo? – perguntou.
  Ela olhou para os olhos dele que prenderam os dela por um momento, mas depois se pôs a encarar o chão. Pode ouvi-lo suspirar e sentar-se na cadeira no canto do quarto.
  - Se você cooperar será mais fácil.

  Isso era óbvio. Mas o que ela ganharia com isso? Não tinha nada lá fora. Não pra ela.
  Apenas deixou que o doutor continuasse a falar sozinho. E assim ele o fez, provavelmente até cansar, ou até que vencesse seu horário. Talvez, esse também logo desistisse do caso por frustração ou algo do tipo.
  Mas nos dias que se passaram o mesmo cara aparecia em seu quarto, insistindo em fazer perguntas. As quais ela não respondia. O que ela achava estranho, era que com o passar do tempo, foi ficando cada vez mais difícil ignorá-lo; embora as perguntas fossem repetitivas.
  - Vamos tentar mais uma vez. Por que você...
   foi interrompido por um longo suspiro.

  - Eu estava tentando fugir da dor, tá legal? Você consegue me entender? Eu chorava o tempo todo! Eu não tinha um ombro pra me apoiar. Eu só não queria mais pensar naquilo. Não queria mais pensar na minha amiga morta no meio da rodovia. Nas lembranças de minha mãe. Ou no idiota do meu ex! Era insuportável! Eu não aguentava mais! Meu pai não estava nem aí pra mim, desde que minha mãe se foi as únicas vezes que ele falou comigo foi pra me criticar e não suportava mais isso! Era demais pra minha cabeça! Eu estava sozinha! Sozinha! E se quer saber, nem quero a tal cura que vocês tanto falam, porque eu não quero voltar lá pra fora pra me sentir daquele jeito de novo. Pelo menos aqui com a medicação certa eu não tenho ataques sentimentais que me deixam pirada! Ok... Satisfeito? Dá pra me deixar em paz agora? – a moça disparou com a voz um tanto alterada.
  - Ataques, hmm... Tipo esse de agora? – deixou que um leve sorriso surgisse no canto de seus lábios.
   o fitou por alguns instantes e quando percebeu lágrimas escorriam por seu rosto. se aproximou e sentou-se ao seu lado na cama.
  - Calma. Isso vai ser bom pra você. Você vai ver.
  - O que está acontecendo comigo doutor? Eu nem pensava nisso mais. Eu não chorava mais.
  - Você não pode fugir pra sempre. Tem que encarar isso algum dia – suspirou. – Tomei a liberdade de mandar que alterassem sua medicação. Estão diminuindo gradativamente desde que cheguei aqui. Por isso você está mais emotiva. Por isso cedeu as minhas perguntas. Você precisa se comunicar, é natural.

   o fitou. Sentia vontade de cair no choro e aproveitar que tinha alguém com ela e abraça-lo. Mas naquele momento sentia também raiva por ele ter tomado tal atitude. O que seria dela se ele conseguisse o que ele queria? Tá, que ele parecia bem mais empenhado do que qualquer outro médico jamais fora, mas fora dali ela não teria o apoio dele.
  - Sai do meu quarto.
  - O quê?
  - Sai meu quarto! Me deixa sozinha!

   olhou para e pareceu entender o que se passava em sua mente. Talvez uma das vantagens em ser psiquiatra. Saiu do aposento sem dizer mais nenhuma palavra.
  As consultas seguintes foram parecidas. Embora, gradativamente conseguisse conquistar a confiança de . Ela apenas não admitia isso. O caso era que, era cômodo pra ela continuar como estava. gostava de ao seu lado, pois ele parecia realmente preocupado, de certa forma, mesmo estando fazendo apenas o trabalho dele. Mas se ela deixasse que o fizesse, logo ela não o teria ao seu lado, e estaria sozinha novamente, e isso ela não desejava de jeito nenhum, e por isso teimava em tentar não cooperar nas consultas. Porém era difícil não cooperar quando se tratava do jovem doutor , quando a moça dava por si já estava sorrindo e arrancando sorrisos vitoriosos do médico.

  Era uma sexta-feira, já era noite, quando , deu batidas fracas na porta do quarto de . A moça estranhou, pois não era hora de consulta. Trazia consigo uma bolsa, e entrou sorrateiro no quarto, desta vez usando roupas casuais ao invés do costumeiro jaleco branco. Provavelmente já havia terminado seu turno.
  - Tá tudo bem? – ele perguntou ao notar a expressão da moça.
  - Ahh... Só um pouco de dor de cabeça – ela respondeu para disfarçar o encantamento ao ver o doutor todo arrumado.
  - Bem, isso é normal. É por conta do corte de medicação. Mas eu quero muito que a gente tente uma coisa. Por favor, concorde comigo! – ele fazia uma cara como de uma criança quando tem uma ideia que julga ser muito brilhante.

   hesitou em perguntar do que se tratava, mas logo o fez.Se assustou um pouco com a ideia. Mas era tão insana, que despertou curiosidade; e por impulso ela logo concordou. Ele a deixou sozinha com a bolsa no quarto e foi esperar no corredor. Minutos mais tarde ela estava livre do uniforme e vestida com roupas normais. havia até mesmo arrumado alguns poucos artigos de maquiagem, mas ela havia passado tanto tempo sem usar, que quando o fez, achou que estava incrivelmente diferente. Ainda pensou por um momento antes de sair. Será que aquilo era mesmo certo? Não ia contra tudo que ela pensava ou fazia até agora? Mas por algum motivo sentia que devia ir.Abriu a porta do quarto dando de cara com um Dr. que agora encarava descaradamente sua paciente, o que a deixou sem graça, e de repente com uma grande vontade de voltar atrás. Como se percebesse essa vontade, lhe agarrou a mão e saiu pelos corredores do hospital, parando uma vez ou outra para olhar quem circulava por lá.

  - Dr. ! – uma voz se fez ouvir.
   congelou ao constatar que se tratava de MartynMcLian, simplesmente o chefe geral do hospital. Julgou que estava tudo perdido. Era ali que daria tudo errado.
  - Sr. McLian! Digo... Dr. McLian! Que surpresa... Não esperava encontrar o senhora essa hora - se manifestou.
  - Tive ficar para resolver uns problemas. Vejo que está acompanhado?!
  - Ah! Essa é minha irmã. Ela disse que eu estava demorando, e tínhamos combinado de sair. Ela tomou a liberdade de vir até aqui. – Logo tratou de inventar.
  Por sorte o mais velho não parecia se importar muito com a vida de e se distraiu quando seu celular tocou. As mãos geladas de estavam apertadas pelas de , mas isso ainda não amenizava muito o susto enquanto eles se encaminhavam para o estacionamento. Era como se ela achasse que a qualquer momento outra pessoa fosse aparecer e descobrir a farsa. Mas isso não aconteceu. Médico e paciente conseguiram se esquivar pelo portão dos fundos, no carro de vidros escuros do doutor.

  Já em meio ao trânsito da cidade ela se perguntava pra onde exatamente estavam indo, mas não queria fazer a pergunta em voz alta. Tinha muito medo do que estava fazendo. Sabia que ele estava se arriscando, e não sabia por que ele fazia isso; tinha medo de descobrir. Assim que o carro estacionou, se viu em frente a um pub movimentado.
  - O que estamos fazendo aqui?
  - Você está perdendo coisas aqui fora. Acho que só de te falar pode não parecer muito convincente. Você precisa ver. Hoje você vai se divertir, e vai prometer pra mim e pra você mesma que vai lutar com todas as suas forças pra se ver livre de tudo aquilo que você acabou de fugir, ok?
   hesitou olhando de para a fachada do pub.
  - Não sei... Não sei se posso lidar com isso.
  - Pode sim! Não quero te ver mal. Quero que você melhore cada vez mais. Tenho visto sorrisos ultimamente, coisa que eu não via quando cheguei ao hospital. Por favor, tente.
  A garota continuou calada, e então pegou sua mão e lhe olhou diretamente nos olhos.
  - Tente. Pelo menos uma vez. Só essa noite.
  Ela demorou um pouco para responder, mas olhando nos olhos do rapaz, não conseguiu negar.
  - Só essa noite. – concordou.

  Quando já estavam dentro do local ficou absorta por alguns minutos com o olhar perdido em meio as luzes do local, em meio as pessoas. Seus ouvidos demoraram um pouco a se acostumar com a música e com o misto de conversas que acumulavam por ali. Fazia tanto tempo que não participava daquilo que era até mesmo difícil acreditar que era real.
  - Vem, vamos dançar!
   olhou para que sorria abertamente e ali não via mais o médico e sim alguém que se preocupava com ela com ela como um amigo. Um belo amigo. Sorriu de volta ainda com receio, mas foi com ele. Achou incrível como dançar a fez rir depois de tanto tempo.
  Depois sentados no bar que havia ali, pediu dois refrigerantes, o que fez rir.
  - Sério que vai beber isso?
  - Ah, você está sob minha responsabilidade – disse com um ar superior.
  - É sério. Não vou insistir em beber porque sei que seu lado médico não vai deixar por causa do pouco de medicação que ainda tomo, mas... Qual é? Você não parece o tipo de cara que bebe só refrigerante, ainda mais depois de uma semana inteira de trabalho com gente problemática.
   a olhou assustado, mas depois caiu na gargalhada.
  - Não sei se é uma boa ideia.

  Depois de muita insistência ela conseguiu persuadir a pedir outra bebida para ele.
  Em meio a conversa que se seguiu, queria que ele lhe dissesse porque decidiu diminuir sua medicação de uma hora pra outra, se nenhum médico havia arriscado antes por medo de que ela tivesse uma crise nervosa. De inicio ele não quis responder. Pra fugir da pergunta, ele mesmo começou a perguntar. Perguntou coisas aleatórias das quais não se importou em responder. Quando já estava em seu quarto ou quinto drink foi que as perguntas que ele sempre insistia em fazer, e que ela sempre insistia em fugir, começaram a aparecer.
  - Por que escolheu essa saída? Digo, os remédios? Normalmente quando as pessoas se veem sem saída elas partem pra drogas mais pesadas, ou pra suicídio, sei lá. – riu sem humor.
   o encarou por um instante. A primeira parte da pergunta já era velha conhecida dela, mas o resto certamente a assustou. Não pode dizer nada pois sabia que ele não disse com a intenção de machuca-la ou coisa do tipo, era apenas a bebida fazendo efeito. Resolveu responde-lo dessa vez, até porque talvez ele nem se lembrasse da resposta depois.
  - Não sei ao certo. Acho que fui covarde.
  - Eu discordo. Acho que você foi corajosa. As outras opções te levariam a um fim mais rápido. Mas você não quis assim. É como se no fundo você ainda tivesse esperanças.
  Ela pensou naquilo por alguns instantes. Ele tinha razão?
  - ? – ela chamou, fazendo este se virar pra ela. – Por que meu pai me internou lá? Por que não numa clínica de reabilitação para dependentes químicos ou coisa parecida? Você sabe, não sabe?
  Ele suspirou.
  - Sei. Me contaram quando me entregaram seu caso. Bem, saiba que seu pai gosta muito de você e se sente culpado por tudo que aconteceu depois que você perdeu sua mãe. Digo, ele queria ter ficado ao seu lado, ter sido um bom pai. Então ele achou que aquele ambiente seria melhor pra você, considerando o que te levou...
  - Duvido – o interrompeu.
  - Foi o que me disseram. E realmente acho que assim que você puder deve procura-lo.
  - Eu vou – ela disse, mesmo sem ter nenhuma intenção de faze-lo. pareceu acreditar.
  - Você sente muita falta das pessoas que perdeu, não sente?
  Mais uma pergunta que incomodava a moça, e por mais que a resposta fosse obvia ele insistia nela, e ela como sempre, em não responde-la. Mas nessa noite estranha...
  - Muita. A todo instante. Eram as únicas pessoas que eu tinha. Com exceção do meu ex, esse acho que nunca tive. Mas Carolyn e minha mãe... É complicado pensar em viver aqui fora sem elas.
  - É claro que você jamais vai conseguir substitui-las. Mas isso não quer dizer que você não possa encontrar pessoas novas, e que não possa achar algo que dê um novo sentido pra sua vida.
  - Pra você é fácil dizer. Você tem a vida feita.
  - Todo mundo tem problemas, uns mais que outros, mas eu estou aqui para o que precisar.
   soltou um riso abafado.
  - Diz isso porque é meu médico. A partir do momento que eu suspostamente me ver livre daquela clínica não terei mais ninguém. Vou ter que começar do zero.
   sorriu olhando agora para o lado oposto do qual estava. Mas logo se voltou pra ela.
  - Você queria saber por que arrisquei cortar os remédios sendo que nenhum outro médico achou prudente?
   concordou com a cabeça, mesmo sem entender porque ele tocara no assunto naquele momento. Afinal, ela queria mesmo saber.
  - Sim, eu quero.
  - Quando entrei naquele quarto e te vi, uma moça tão jovem, tão bonita, ali trancada, encarando a parede, sem se quer prestar atenção ao que eu dizia, bem, não sei nem dizer o que senti. Eu não queria que você continuasse ali. Eu queria fazer alguma coisa. Qualquer coisa. E não digo isso como médico.
  - Como assim?
   se aproximou e se afastou.
  - Acho que você bebeu um pouco demais e está começando a não fazer muito sentido. Melhor irmos embora – disse se levantando e se dirigindo a saída.
   a alcançou quando ela estava perto do carro.
  - , espera! – ele disse segurando o braço da moça.
  - Vamos voltar, eu não deveria nem ter saído – ela disse já recobrando o mesmo espírito de sempre.
  - Você prometeu que ia se divertir. Essa noite; foi o que você disse. E a noite ainda não acabou.
  - Não quero mais ficar aqui. Me leva daqui.

   hesitou um momento mas logo estavam no carro. logo percebeu que não faziam o percurso para o hospital.
   Pra onde está me levando?
  - Pra casa.
  - Eu não tenho casa.
  - Pra minha casa – ele riu.
  - Você é louco?
  - Não sou eu quem está fugindo de uma clinica psiquiátrica.
  - Que senso de humor invejável.
  - Você também é adorável.
  Quando chegaram à casa de , ele colocou um filme para que visse, e então foi para a cozinha voltando algum tempo depois com uma tigela de pipoca, fazendo com que a moça deixasse escapar um sorriso bobo.
  - Acho que você não precisa ficar lá.
   Vai mesmo começar com isso de novo?
  - Mas é o que eu acho.
  - Já disse que não tem nada que me prenda aqui fora.
  - Nem lá dentro.
   pensou por alguns instantes. Até que estava certo. Era mais fácil achar algo fora da clínica do dentro.
  - Ou tem algo lá dentro que te interesse? – perguntou.
   hesitou.
  - Porque se tiver não se preocupe, porque eu vou estar com você aqui fora também – completou.
  Ela riu antes de responder.
  - Quem disse que você me interessa?
  - Eu vejo no jeito como você sorri. E não negue. Porque o psiquiatra aqui sou eu.
  - O psiquiatra afetado pelo álcool?
  - Afetado por você – ele disse fazendo a garota gargalhar.
  Sem que se dessem conta, enquanto o filme passava eles pegaram no sono, e acordaram quando a luz do sol atravessou as cortinas da sala numa bela manhã de sábado.
  - Ah, meu Deus! – disse assim que acordou.
  - O que foi? – levou a mão à cabeça parecendo meio desacordado ainda.
  - O que eu tô fazendo aqui? Há essa hora já vão ter dado por minha falta, e você vai levar uma bronca das grandes.
   suspirou, se virou e encarou pegando em sua mão.
  - Valerá a pena se você concordar em ficar.
  - Eu já disse mais de uma vez que aqui fora não tem lugar pra mim. Mas você nem deve lembrar do que falamos ontem.
  - Tem sim. Você pode morar comigo se quiser. Ou achamos um apartamento pra você. O que não vai faltar é apoio da minha parte. E você vai conhecer muita gente legal, você vai ver. Eu prometo pra você que vai valer a pena. E eu lembro de tudo o que aconteceu ontem, se quer saber. E eu te vi sorrir mais do que de costume, acho que a noite de ontem foi o bastante pra você perceber que pode sim ser feliz aqui fora. – ele sorriu daquele jeito que fazia ela ter vontade de sorrir.

  Ela se lembrou de como foi bom dançar, conversar, ou simplesmente sentir as pessoas ao redor.
  - Então você promete? Sabe que se der tudo errado a culpa é toda sua?
  - Sim, eu sei. Mas vai dar certo. A gente vai fazer dar certo.
  Depois de mais um pouco de conversa acabou por convencer . Afinal de contas, ela só precisava de um motivo pra sair daquelas paredes brancas, e havia se tornado esse motivo sem que ela percebesse. Ele saiu, e algumas horas mais tarde estava de volta com um papel em mãos, que era a liberação de sua ex-paciente. estava oficialmente de alta. Agora sim lhe batia um medo do que estava por vir, mas parecia tão feliz por ela que amenizava esse medo.
  - Até que enfim! Espero por isso desde a primeira vez que te vi! – disse abraçando-a.
  - Espero que realmente dê tudo certo – ela disse agora olhando pros olhos do rapaz.
  Foi então que fez algo pelo qual ela não esperava, ou talvez que esperava desde a primeira vez que o viu. Ele a beijou. E isso fez com que instantaneamente todo o peso acumulado em seu peito se esvaísse.
  - Pra dar sorte – foi o que disse.



Comentários da autora


Olá... Bem, essa foi minha primeira songfic. Acho que viajei bastante, mas espero que não tenha decepcionado tanto HAHA Enfim, é isso. Beijinhos!