Held Him a Little Too Tight

Escrito por Caterina Pesce | Revisado por Natashia Kitamura

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  Todos os dias uma força me impedia de levantar da cama. Parecia um sinal para esquecer tudo e continuar ali, deitada, em casa. Não conseguia ir pra faculdade, doía muito olhar para aquele caminho que fazíamos juntos todos os dias e não tê-lo segurando a minha mão, dizendo para colocar filtro solar pra não reclamar que estava com os ombros vermelhos e ardendo. Doía lembrar daquele dia, o dia em que Josh tentou me surpreender com um anel de noivado, indo à joalheria comprá-lo. Eu poderia estar noiva agora... Poderia estar noiva há 53 dias. Lembro como se fosse ontem...
  A televisão só falava sobre um tal assalto ou ataque – ainda não se sabia ao certo – a uma famosa joalheria em Manhattan, Nova Iorque. “Coitada daquelas pessoas!”, pensei. Houve uma explosão de granada, em qualquer lugar do mundo isso seria um caos, mas em Nova Iorque o medo e a angústia de que algo do tipo aconteça é tão maior que não tem explicação. “Que bom que Josh está no estágio”. Meu telefone tocou, era Sarah, irmã do Josh.
  - , me diz que o Josh está com você!
  - Calma, Sarah! Ele está no escritório, do outro lado da ilha.
  - Não, ... Ele ia na joalheria hoje.
  Não lembro o que eu fiz ou senti naquele momento. As pessoas ao redor de mim, como se eu tivesse sido atacada, também. Olhei para a televisão e aí tudo piorou. Todos os alunos no refeitório da NYU comigo reconheceram aquele homem. O meu Josh. Desmaiado, sendo carregado por dois bombeiros, ensanguentado e com muitas cinzas devido à explosão. Eu sentia que minha boca estava aberta, mas não saía som algum, diferente do olhar de todos para mim. O telefone caiu no chão, assim como eu. Nossos amigos rapidamente vieram até mim, que não parava de gritar. Eu sentia necessidade de gritar e chorar tão forte a ponto de fazer com que todos os meus órgãos saíssem do meu corpo. Marcus, seu melhor amigo, me segurou e me levou até a entrada da faculdade, sendo seguidos por alguns outros.
  - Ele vai ficar bem, ele vai ficar bem! – dizia tentando nos acalmar - TÁXI!
  Eu entrei em um estado de choque; a partir de então eu não falava, não me mexia, não tirava o olhar de um mesmo ponto. Sentia gosto de sangue na minha garganta por tanto gritar, mas não me importei, tinha problemas maiores. A imagem dele sendo carregado não saía da minha cabeça e só piorava quando fechava os olhos, como se ficasse mais forte. “Eu sou a culpada” pensava durante todo o caminho. Marcus segurou minha mão trêmula, e a sua estava suada. Olhei para ele e não dizemos uma palavra, apenas apertamos mais forte nossas mãos, como se demonstrasse que estamos ali para o outro.
  - Josh Montgomery, por favor. Ele estava na joalheria – perguntou Marcus à enfermeira da recepção.
  - Deixe-me procurar – disse. - Ele está em cirurgia. Fiquem calmos, aguardem na sala de espera no terceiro andar e logo um médico virá falar com vocês.
  Esperávamos, agora, em pânico. Sarah chegou e nos abraçamos, não era preciso palavras. Aliás, não existiam palavras para aquele momento, para aquele sentimento. Nosso pranto sincronizado corria pelos corredores. A angústia de não saber como ele está quase me matava. Não conseguia me acalmar, médicos e mais médicos dando notícias à outras famílias e nada sobre Josh. Foi quando um médico chegou procurando a família de Josh.
  - Nós fizemos a cirurgia, mas o estado dele não é estável. Ele está com uma hemorragia interna em dois órgãos, nós controlamos por hora. Seus pulmões estão altamente intoxicados.
  - Doutor, ele... – começou Marcus - ... Ele vai sobreviver?
  - Sinto muito...
  Naquele momento meu mundo acabou. Por que Josh foi justamente naquela hora comprar um anel de noivado? Não conseguia respirar, senti meu corpo adormecer por um instante, mas tinha que continuar forte, pelo menos pra mais uma pergunta.
  - Eu posso vê-lo?
  Nunca pensei que Josh poderia ficar tão vulnerável na minha frente. Sempre tentou de tudo para parecer mais forte que eu, porque sabia que eu precisava dele. Como no enterro do meu avô, quando ele via que eu não iria aguentar, segurava minha mão num sinal que significava “estou aqui com e por você, não precisa temer”. Aqueles fios ligados em seu peito, os cortes pelo seu corpo, na sua bochecha... Eu precisava segurar suas mãos e ele me olhar dizendo que é só uma brincadeira de mau gosto.
  - ... – disse Josh, ainda sem abrir muito os olhos.
  - Oi, meu amor. Eu estou aqui.
  Sarah e Marcus esperavam ao pé da cama. Eles sabiam que eu não aguentaria ficar ali sozinha.
  - Desculpa, eu sei que não vou...
  - Para. Não pensa nisso, ok? Você está aqui agora, é isso que importa.
  - Eu queria me casar com você, ter filhos... Viver.
  Eu tentava segurar o choro, não queria fazer com que aquele momento fosse ainda pior. Ele abriu os olhos, viu Sarah e Marcus, uma lágrima correu nos seus olhos. A única vez que o vi chorar foi quando estávamos num encontro e vimos seu pai com outra mulher. Deu um soco no rosto de seu pai e saímos dali até minha casa, onde passamos a noite inteira chorando.
  - ... Me prometa que você vai seguir em frente. Você vai casar, ter filhos, uma família.
  - Josh...
  - Por favor, prometa.
  - Eu prometo...
  - Sarah, eu te amo muito. Apesar das brigas, das brincadeiras... Eu te amo. Cuida da mamãe, diz a ela que eu a amo e que vou continuar tomando conta de vocês onde quer que eu esteja. – Sarah beijou sua testa entre soluços -. Marcus, eu coloquei um rato de borracha dentro do seu vaso sanitário antes de sair do seu apartamento. Não duvida do seu trabalho.
  - Eu te amo, cara. – disse Marcus, dando um beijo em sua testa.
  - ...
  Grunhiu de dor, quando olhamos para baixo, havia uma poça de sangue. Comecei a chorar ainda mais, então Josh segurou minha mão e me olhou fixamente.
  - Eu vou estar aqui sempre, . Não duvide disso. – continuava me olhando, mesmo com o médico e a enfermeira agora dentro da sala e o examinando – Eu quero que a última coisa que eu veja seja o seu rosto. Ele é a certeza que eu vou pra um lugar bom. – os batimentos começaram a cair.
  - Josh, eu te amo muito. Não vai. Não morra...
  - Eu nunca te abandonaria... Eu te amo...
  Seus olhos fecharam, a máquina tinha um som linear, agudo. Deitei-me sobre seu corpo, esperando de alguma forma tê-lo de volta. Gritava mais do que qualquer pessoa possa ter gritado em algum momento de sua vida. Estava desesperada, surtada. Precisava dele de volta, ele não podia ir embora.
  - , ele se foi. – dizia Marcus me tirando de cima de Josh.
  - , por favor, vamos sair daqui – dizia Sarah, aparentemente com medo da minha reação.
  - Não! Josh... JOSH! NÃO FAZ ISSO COMIGO! A GENTE IA SE CASAR, JOSH! Você ia me pedir... Desculpa por deixar você morrer, eu não quero anel, eu quero você. Você me ouviu? EU QUERO VOCÊ!
  Os médicos me tiraram da sala a força, não podia imaginar em deixá-lo sozinho ali. Não queria sair do seu lado, não aguentava o pensamento dele ter morrido de uma forma tão banal. Como pude deixar isso acontecer?
  53 dias. E me lembro dessas cenas como se a vida tivesse sido tirada de mim também. Sou uma máquina programada para continuar viva apesar dos pesares. Não conseguia entender como que alguém pensa em assaltar uma loja, muito menos se matar nela. O culpado sobreviveu e está preso. Não quero que ele morra, deixei bem claro pra polícia. Quero vê-lo sofrer na cadeia até enlouquecer. Pagar pelo que fez. Sofrer por todos nós que perdemos alguém naquele dia por conta de uma única cabeça fraca com uma ideia idiota.
  Minha mão esquerda descansava sobre o travesseiro de Josh, agora vazio. Pela primeira vez desde que ele se foi, senti algo em minhas mãos. Era como se alguém a segurasse. Alguém, não, ele. Fechei os olhos e pensei “você tem a força dele em você, ”. Levantei, tomei um banho, comi um waffle com Nutella e liguei para Marcus.
  - Marcus... Vamos sair hoje? Eu acho que está mais do que na hora de tentar.
  - Claro, mas... Eu já ia sair com a Sarah. Ela com certeza não vai se importar.
  - Vão sair? Tipo... Mum encontro? – perguntei, sorrindo pela primeira vez desde então. Com sinceridade, pelo menos.
  - É. Não lhe falamos antes porque sentimos que ia ser muita coisa e não estava pronta.
  - Não, não! Eu estou realmente feliz por vocês dois. Mas não quero atrapalhar...
  - Você não vai atrapalhar. Você nunca atrapalha.
  - Você sempre falou que eu atrapalho tudo! – rimos juntos, fazendo com que eu me sentisse bem. Olhei no espelho, ainda no telefone – Marcus, pode pedir pra Sarah vir se arrumar aqui? Preciso de um momento feminino.
  Seis da tarde e nada de Sarah. Aproveitei e fiquei mais tempo na banheira, relaxando ao máximo. Fechei os olhos e lembrei-me da imagem na televisão. Pulei da banheira, xingando minha memória. Justo quando eu estava me sentindo melhor? Olhei para o porta-toalhas na parede, caído. Ri lembrando a cena...
  Josh e eu estávamos no chuveiro, estava nevando do lado de fora e o aquecedor do apartamento não estava muito bom. Fizemos do chuveiro uma sauna. Pra sair, tinha que pegar a toalha muito rápido e colocar todos os casacos do armário num piscar de olhos. Só que Josh estava molhado, então escorregou no piso gelado e cortou o cotovelo e ainda por cima quebrou o porta-toalhas. Rimos bastante, mas ele pegou uma gripe muito forte, quase uma pneumonia.
  Pela primeira vez lembrei de algo que passamos juntos e ri, e aquilo me fez bem. Ele não teve escolha, ele não queria me abandonar, então resolvi dar mais uma chance à vida. Vou voltar a estudar, vou me formar e fazer o que lhe prometi; ter uma família. Naquele momento eu soube que tudo ficaria bem, que quando eu fechar os olhos vou poder senti-lo me segurar e saber que vou conseguir viver. Mesmo sem Josh eu sabia que eu estava bem, e ele também.



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