Happy Just To Be There
Escrito por Carol S. | Revisado por Lelen
Música: Beam Me Up, por P!nk
Estava quente. Levantei-me daquela cama imaculadamente branca e fui para a varanda. O sol nascia em algum ponto a minha direita, fazendo brilhar as ondas que batiam nas pedras. Eu até podia ver alguns peixes surfando nelas. Nas ondas, quero dizer.
Não me lembrava de ter chegado ali.
Senti uma movimentação atrás de mim, mas não me mexi, não havia motivo para tal. Uma mão pousou na minha cintura e a outra afastou meu cabelo do meu ombro direito, dando lugar a lábios levemente úmidos e uma barba por fazer, que roçava na minha pele nua.
Sorri. Uma paz me encheu naquele momento. Era como se o tempo tivesse parado, e eu aproveitaria aquele momento para sempre.
Virei-me e fiquei de frente para ele, que colocou as duas mãos na base das minhas costas. Levantei a cabeça e encarei seus olhos tão azuis quanto o oceano que se estendia atrás de mim. Ele se curvou e me beijou. Um beijo delicado e voraz ao mesmo tempo.
Separamo-nos e encaramos um ao outro mais uma vez.
- Quem é você? – Perguntei. Mas não de um jeito questionador. Eu sabia quem ele era. Sabia? É, eu sabia. Ele deu um meio sorriso, aquele que eu amava. Fiquei observando os traços fortes do seu rosto enquanto esperava a resposta. Não dá pra colocar em palavras, mas eu poderia compará-lo àqueles modelos da Calvin Klein, se você quiser uma descrição.
Não, ele é melhor que os modelos da CK. Muito melhor.
Sua boca se abriu para formar uma palavra, começar uma frase.
O quê? O quê?
Acordei sobressaltada. Achei tão estranho estar frio no meu quarto. E silencioso. Bati a mão na parede a procura do interruptor e, quando o encontrei, fiquei ligando-o e desligando-o, mas a luz não emitia um brilho sequer.
Sem luz, sem aquecedor.
Irritada, fui buscar outro cobertor no armário do corredor. Tentava não pensar em como seria me arrumar para o trabalho com a temperatura estando abaixo de zero.
Voltei a pensar na sensação que tive durante o sonho. Acredito que foi ela que me manteve aquecida antes de acordar. Mas como dormir quando um cara aparece na sua mente cada vez que você fecha os olhos? Eu tinha medo de pegar no sono, e ele não aparecer mais.
Olhei para o relógio, que felizmente funcionava a pilha, faltava ainda uma hora para meu despertador tocar. Eu tinha duas opções:
Primeira, a mais lógica: dormir.
Segunda: levantar e começar a me arrumar. Eu poderia chegar ao trabalho mais cedo, só pra variar.
Muito relutantemente escolhi a segunda opção. Foi bem difícil sair da cama, e pior ainda foi tomar banho frio no escuro! Meu cabelo implorava pra ser lavado, não tinha como eu não escutá-lo. Mesmo que isso me deixasse doente.
Fiquei pulando e me movimentando muito durante o banho para me esquentar. Teria sido uma visão cômica se alguém pudesse ver. A luz ainda não tinha voltado depois que eu saí, então não daria nem para tomar café.
Peguei minhas coisas, uma maçã para comer no caminho e fui trabalhar de cabelo molhado mesmo.
- ! Você é maluca? – perguntou assim que entrei na lanchonete.
- Bom dia pra você também! – Dei o melhor sorriso de sarcasmo que consegui.
- ! – Ela me repreendeu, colocando as mãos na cintura. – Você quer pegar uma pneumonia? Esse é o único motivo que existe para você ter saído de casa com o cabelo molhado!
- Faltou luz lá em casa, e meu cabelo precisava ser lavado. – Falei, na defensiva, indo para a sala dos funcionários ao lado da cozinha e pegando meu avental.
- Apenas vá para o banheiro e seque ele um pouco com o secador de mãos. – Eu não tinha pensado nisso. Dei de ombros e fui.
Enquanto, precariamente, secava meu cabelo, uma sensação me envolveu. Me concentrando um pouco, percebi que era a sensação dos braços daquele homem dos meus sonhos.
.
O nome apareceu na minha cabeça como uma lembrança de infância armazenada no fundo do meu cérebro e que resolveu que seria uma boa hora para ser lembrada.
Fechei os olhos. Quase podia sentir o calor do sol na minha pele. Ele na minha pele.
- ? Tá tudo bem? – apareceu na porta, me assustando. – Você está aqui há vinte minutos. Eu disse para secar um pouco o cabelo, não fazer uma escova.
- Desculpe. Perdi a noção do tempo. – Olhei no espelho, um lado estava mais seco e liso que o outro, mas não parecia ser muito. Tirei um prendedor da minha bolsa e fiz um coque frouxo.
- Bem melhor. – Ela disse, olhando meu reflexo. – Vamos?
Assenti e fomos atender às mesas do nosso turno.
Trabalhávamos em uma lanchonete 24 horas, que servia café da manhã o dia inteiro. Era legal até.
Seus lábios no meu ombro nu era tão... real. Eu podia jurar que sentia um formigamento na região que ele tinha tocado.
- Moça? – Opa. Eu tava divagando de novo. – Eu pedi mais um chá. – E estava enchendo a xícara do senhor com o bule de café. Sorri educadamente e fui trocar.
- Sério, . Está tudo bem? Você está tão avoada hoje. Mais do que o normal.
- Sinto muito, . Devo ter dormido mal essa noite.
- Eu acho – ela me olhava com os olhos semicerrados. – que você está ficando doente por causa do cabelo molhado de hoje de manhã. – Tentei protestar, mas ela me calou imediatamente. – Tire o resto do dia de folga. Outro dia você compensa.
- Tá. – Resmunguei e fui pegar minhas coisas.
Talvez eu estivesse mesmo ficando doente. Que tipo de pessoa passa o dia pensando num cara que apareceu num sonho?
A luz já tinha voltado quando cheguei em casa, exausta. Preparei uma xícara de chá e deitei na cama. Da próxima vez, não vou escutar meu cabelo.
- Eu não gosto muito de valsa. – Ele disse, enchendo meu copo com mais vinho tinto. Tal comentário foi feito por causa da música que a banda tocava. Estávamos do lado de fora, na sacada, mas ainda podíamos ouvir bem a batida vinda de dentro do restaurante. – Prefiro jazz.
- Acho que nunca ouvi jazz. – Eu sabia que já tinha ouvido a voz dele antes, mas essa foi a primeira vez que eu realmente a percebi. Ela era grave, quase rouca, mas suave, com um leve sotaque de algum lugar que eu não conheço. Eu só queria que ele continuasse falando.
- Devia, é incrível! Não tem ritmo certo, ou uma melodia certa. É, de certa forma, divertido de se ouvir. – Seus olhos brilhavam ao falar, mas eu não tinha como dizer se era por estar falando do seu gosto musical ou se era por estar comigo. – Um amigo meu tem um pub que só toca jazz. Acredito que você iria gostar. – Um sorriso sugestivo surgiu em seus lábios. não estava apenas dizendo que eu devia ir no tal lugar. Ele estava dizendo que eu deveria ir com ele.
- Talvez. – Sorri para ele, olhando em seus olhos de um azul tão profundo. Minha mão repousava em cima da mesa, ele a pegou e ficou fazendo carinho nela com o polegar. Sua expressão não tinha mudado, mas parecia que ele estava tendo uma batalha interna para decidir algo. – Quem é você? – A pergunta saiu da minha boca antes que meu cérebro pudesse processá-la.
Fiquei com medo de que ele se sentisse insultado e não me respondesse. Mas um olhar brincalhão e aquele meio sorriso apareceram em seu rosto como da última vez.
- Sabe, para algumas pessoas eu não mostro nem metade do que realmente sou. Não por medo, mas por não valer a pena mesmo.
Espera. Hã?
Uma batida forte na porta me fez sair do meu sonho. E eu até estava feliz com isso. Quem diz uma coisa daquelas?!
- Nossa, você parece horrível! – disse, entrando no meu apartamento.
- Que bom ver você também. – Eu estava enrolada em um cobertor e me sentia péssima, como se um caminhão tivesse passado por cima de mim. Não queria nem saber como estava meu cabelo! – O que faz aqui?
- Meu turno terminou agora. – Olhei para a janela, já era de noite. Eu tinha dormido tanto assim? – Passei na farmácia e comprei uns remédios pra você. – Ela estendeu uma sacola plástica para mim. Sorri agradecida ao pegá-la. – Sei que você não tem nem remédio pra dor de cabeça aqui.
- Quanto deu? Não estou achando a nota fiscal...
- Não se preocupe com isso. Considere um presente, nunca te dou nada mesmo. – Ela deu de ombros. Ficamos em silêncio por um tempo, enquanto eu lia as embalagens. – Bom, eu tenho que ir. Espero que esses remédios te ajudem.
- Também espero. Obrigada! – A abracei do melhor jeito que consegui para não deixar o cobertor cair. Tomei um dos compridos e voltei para a cama.
Dessa vez, e eu estávamos em uma pista de patinação. Eu não sabia patinar, então ele ficava me segurando.
- Olhe pelo lado bom. – falei. – Se eu escorregar, não corro o risco de cair num lago congelado. – Ele riu. A ideia de ir para a pista de patinação foi minha.
Tinha mesmo um lago congelado no centro da cidade, mas não era recomendado para patinação. Rumores de que alguém já morreu afogado lá.
- Se você caísse num lago congelado, eu entraria nele para te pegar. – Ele disse de um jeito meio irônico, mas, olhando em seus olhos, acredito que ele faria mesmo isso. apertou mais forte a minha mão e me puxou para irmos mais rápido.
Meus antigos namorados apertavam a minha mão também quando andávamos de mãos dadas. Por que com o é diferente? Ele me passava segurança. Eu sentia como se nada de ruim fosse acontecer comigo contanto que eu estivesse segurando a mão dele.
É claro que eu pensei isso cedo demais. Um garoto passou correndo por mim, me derrubando. Nossas mãos estavam bem firmes, então acabou caindo em cima de mim.
- Você está bem? – Perguntou, mas não movendo um único músculo para sair dali.
- Estou. – Sorri para ele. Eu estava realmente bem, e a situação era meio cômica. Eu tinha vontade de rir, mas fiquei com medo de estragar o clima, já que ele me olhava sério.
Ele fez menção de me beijar, mas ouvimos um pigarrear atrás de nós.
- Quando acabarem, poderiam se levantar e deixar o espaço livre para as outras pessoas? Obrigado.
- Claro. Faremos isso. – disse e me beijou. O cara suspirou alto, e pude ouvir seus patins se afastando.
- Você não existe. – Rimos. Levantamo-nos e saímos da pista. Sentamos em um banco para tirar os patins e colocar nossos sapatos de volta. Eu não queria, mas... – Quem é você?
Mais uma vez achei que ele fosse ficar ofendido. Eu vivia perguntando isso e nem sabia o porquê! Mas ele não ficou. É claro que não. Ele apenas sorriu – o meio sorriso, óbvio – e pegou minha mão de novo.
Lá fora estava muito mais frio. Ele me abraçou de lado e, enquanto caminhávamos, me respondeu.
- Eu sou uma pessoa realmente difícil de entender. Pelo menos é o que eu acho. Eu insisto em uma coisa por muito tempo, e posso levar apenas segundos para mudar de ideia. Eu não gosto de mudanças bruscas, seja no tempo ou nas pessoas. Levei algumas semanas para sair definitivamente da casa dos pais, quando era mais jovem, porque viver sozinho da noite para o dia me assustava. – Sorri com essa confissão. Parecia que eu o conhecia muito bem, mas ao mesmo tempo eu não o conhecia nem um pouco. – Em compensação, meu humor varia bastante. Uma simples coisinha pode me tirar do sério.
- É mesmo? Nunca vi você zangado. – Paramos na frente de um teatro.
- É porque você é uma simples coisinha que me deixa feliz. – segurou meu rosto com as duas mãos, passando o polegar na linha da mandíbula. – Muito feliz. – Sorri para ele, fechando os olhos e deixando que me beijasse.
- Está vendo aquelas três estrelas brilhantes?
- Sim.
- São as Três Marias. Encontrando elas, podemos ver a constelação de Órion, que fica em volta. – fez um desenho com as mãos, apontando para o céu, para me mostrar quais eram.
- Ah! – Foi tudo o que eu encontrei para dizer. Eu não estava vendo nada além das Três Marias.
- Você não está vendo, não é, ? – Ele me olhou. Estávamos deitados numa toalha, no meio de algum parque. Chegamos à tarde para o piquenique, mas o tempo estava tão agradável que resolvemos ficar. começou a me contar sobre as estrelas que podíamos ver dali. Eu não prestei muita atenção, metade do meu cérebro ficou reparando na sua voz, no toque da sua mão no meu braço e no meu cabelo, na batida do seu coração. Mas o meu cérebro inteiro deu uma “guinada” quando ele disse meu nome. Ele já tinha dito antes, não é? Eu não lembro. – ? – Ele repetiu. Eu me deliciava com esse som. – ?
- ? Acorda! – Eu me sentia sendo sacudida. . Ela sabe ser inconveniente. Resmunguei alguma coisa, e ela arrancou os cobertores de mim.
- Acordei! – Falei mais rabugenta do que precisava. – O que foi? Como você entrou aqui?
- São três horas da tarde! Você está dormindo desde ontem? Está melhor?
- Acho que sim. – Respondi, dando de ombros. Era sábado, meu dia de folga. Já me sentia melhor. E ela ainda não tinha me falado como entrou no meu apartamento.
- Você tem um sono bem pesado, heim! Precisei te chamar por uns dez minutos e te sacudir por cinco. Isso sem contar o tempo que fiquei tentando te ligar. – Ela foi até meu guarda-roupa e começou a tirar vários vestidos de lá. – E você estava sorrindo! Algum sonho bom? – Eu sabia que ela me encarava, mas um sorriso escapou dos meus lábios. – Wow! Foi tão bom assim?
- Bom... – Gaguejei, tenho certeza que fiquei vermelha também. Resolvi mudar de assunto para evitar mais constrangimento. – Por que está bagunçando meu guarda-roupa?
- Eu vou encontrar um cara numa balada semana que vem e estou sem dinheiro para comprar uma roupa nova. – Essa é a . É o jeito dela de pedir as coisas emprestadas. – Mas não vamos mudar de assunto. Quem era ele? – Ela se sentou na minha frente.
- Como assim “quem era ele?”?
- Não me venha com esse papo. Um sorriso daquele tipo só pode significar uma coisa: homem.
- É só... um cara.
- Um cara que você está saindo? Por que não me contou?
- É que... – não podia mentir para ela. era meio tapada, mas era minha melhor amiga. – Eu só saio com ele nos meus sonhos.
- Então não foi a primeira vez?
- Já sonhei com ele algumas vezes.
- E você sabe quem ele é?
- O que você acha? – Não esperei pela resposta. Mudei de assunto de novo. – Encontro com quem?
- Ah, é com um carinha que eu conheci na lanchonete. Ele é tão legal! – Mais uma vez, meu cérebro estava dividido.
O que estava acontecendo comigo? Eu estava mesmo começando a gostar de um cara que apareceu nos meus últimos sonhos? Isso não fazia o menor sentido!
No sábado seguinte, me convidou para ir à tal balada.
A semana passou se arrastando, como eu já havia imaginado. Os sonhos estavam ficando cada vez piores, no bom sentido, se é que havia um.
Eu quebrei vários copos, pratos e xícaras e errei inúmeros pedidos na lanchonete. Meu chefe estava querendo me demitir. Para minha sorte, me defendia, dizendo que eu estava passando por uma fase ruim. Apesar disso, ela não gostava nem um pouco do que estava acontecendo comigo. Não posso culpá-la.
Em alguns momentos, eu não culpava nem a mim mesma. era o motivo disso tudo. Quem mandou ele se meter nos meus sonhos e, consequentemente, na minha vida? Mas em outros momentos eu me sentia uma idiota por deixar. Eu fazia de tudo para que ele aparecesse nos meus sonhos, meu pensamento involuntariamente o chamava, e ele nunca me decepcionava.
Nós não ficávamos nos beijando ou nos encontrando em lugares incríveis. Na noite passada, estávamos sentados num banco que ficava num quarto branco.
Era tão estranho. Não sei como essa brincadeira começou, mas eu estava gostando dela.
Estávamos olhando um para o outro, com expressões sérias. Queria saber o que ele pensava e me perguntei se ele queria saber o que eu pensava.
Eu olhava atentamente cada detalhe de seu rosto. Percebi que sua mandíbula ficava rígida e seus lábios mais finos quando estava concentrado, uma pequena linha se formava entre suas sobrancelhas. Seus olhos estavam semicerrados, mas eu ainda podia ver o azul intenso deles.
Sorri sem querer. Não foi um sorriso grande. Tenho certeza que apenas um lado dos meus lábios se levantou, mas mesmo assim ele disse, rindo.
- Perdeu! – Sorri mais abertamente. Não ligava por ter perdido, eu amava sua risada e o modo como seus olhos se fechavam quando sorria bastante.
Segurei seu rosto com as minhas mãos, analisando mais de perto aqueles detalhes.
Não sabia o que dizer. Acredito que não importava muito naquele momento.
- Sabe – quebrou o silêncio. –, às vezes eu queria parar o relógio pra poder ficar aqui com você pra sempre. Não queria que você acordasse nunca.
- Acordasse? – O que ele queria dizer com aquilo?
- É. Se eu pudesse escolher entre a realidade e os sonhos, eu escolheria os sonhos. Na verdade, pra mim, eles são reais. Estar com você aqui é real. Você é real. – suspirou fundo, me analisando da mesma forma que eu o analisara antes. – Quem é você?
- , estou ficando preocupada. – disse depois que recusei, educadamente, sua oferta de sair.
- Eu sei. – Murmurei.
- É sério. Você não pode evitar sair só porque quer ficar em casa sonhando com um cara que você nem sabe se existe!
- Ele existe, sim! Eu consigo sentir. Só preciso encontrá-lo.
- E você sabe como encontrá-lo? – Ela perguntou, já sabendo que eu responderia “não”. Mas um clique na minha cabeça me fez responder:
- Sim. Eu sei. - Parecia bobeira, mas quantos clubes de jazz há na cidade? – Desculpe, . Mas eu preciso me arrumar.
Levantei correndo e fui tomar banho. Quando saí, ainda estava lá. Ela achava que eu estava maluca. Não disse nada, apenas balançou a cabeça negativamente e saiu.
Passei um tempo na frente do meu guarda-roupa, imaginando o que usar. Fazia frio – raramente faz calor na minha cidade -, então eu não podia colocar um vestido bonito, eu não era a , que era capaz de enfrentar qualquer temperatura para impressionar um cara.
Chamei um táxi depois de encontrar no Google o único clube de jazz da cidade: Sinatra’s. No caminho, percebi uma coisa. Quem iria garantir que morava na mesma cidade que eu? Uma intuição não quer dizer nada!
Não tive muito tempo para me arrepender, pois logo chegamos ao tal lugar. Mesmo que não desse em nada, ficaria feliz por eu ter saído de casa.
Não entendo muito de jazz, muito menos de lugares que tocam esse tipo de música. Dentro do clube tocava um DVD de alguma banda que eu, obviamente, não conhecia. Mas do lado de fora tinha uma banda que tocava ao vivo. O meu conhecimento super limitado sobre o assunto me disse que eles eram muito bons.
Fui até o bar e pedi um Martini. O barman me disse que martinis combinavam com jazz.
- Oh, é mesmo? – Perguntei, achando estranho que uma bebida pudesse combinar com um estilo musical.
- Na verdade, não. – Alguém sentou ao meu lado. Estava meio escuro, então não consegui ver seu rosto, mas sua voz rouca me fazia suspirar. – O jazz não poderia ser definido numa bebida. Você poderia beber até água se isso a fizesse se sentir bem ao ouvir jazz. Poderia inventar uma bebida, pois o jazz é um estilo único e criativo, sem restrições. – A luz de um holofote iluminou metade do seu rosto, e eu levei um susto. Pisquei várias vezes para ter certeza de que eu não estava vendo porque queria vê-lo. Como saber se não era meu subconsciente cansado me pregando peças?
- Quem é você? – Eu tinha que perguntar.
- Sabe, para algumas pessoas eu não mostro nem metade do que realmente sou. Não por medo, mas por não valer a pena mesmo. – Ele sorriu, levando o copo com whiskey à boca. Foi um meio-sorriso, pude perceber. Eu já tinha ouvido aquilo antes e continuava não gostando. – Shakespeare disse isso. E ele estava certo, não vale mesmo a pena. Mas você só percebe isso depois que já mostrou tudo o que é para as pessoas, então você se arrepende. – Ele sorriu de novo, dessa vez, mostrando os dentes e me estendendo a mão. – Sou .