Graciously
Escrito por Jamile Galterio | Revisado por Angel
Capítulo Único
Seu cheiro cítrico estava impregnado nos travesseiros e sentia-me mais leve cada vez que o respirava. Seus cabelos não muito longos estavam esparramados para todos os lados e cobrindo seu rosto.
Vesti minha boxer e deixei que ela continuasse dormindo enquanto eu fazia o café da manhã, algo que eu nunca fazia quando alguma mulher dormia em casa. Fiquei pensando se ela acordaria assustada por estar na casa de um estranho e se ao menos se lembraria de tudo o que aconteceu na noite passada.
“O Lightning Pub estava mais cheio do que nunca e tive que empurrar algumas pessoas até conseguir chegar no bar para pedir uma bebida. Um grupo de garotas estavam encostadas no balcão e pareciam extremamente aborrecidas com o fato dos barmen não estarem dando conta de atender a todos.
- Ei. – gritei pelo barman e ele veio até mim – O que vocês vão querer? – perguntei a elas.
Todas me olharam assustada, com exceção da que tinha os cabelos até os ombros e os lábios extremamente vermelhos. Ela sorriu de um jeitinho malicioso para mim e depois se virou para o barman.
- Quatro cervejas e um uísque. – ela falou de um jeito confiante e apoiou o cotovelo na mesa.
Alguns minutos depois ele lhe entregou as quatro cervejas e o copo, que ela rapidamente bebeu todo seu conteúdo. A garota entregou as três cervejas as amigas e se virou para mim com um sorriso malicioso.
- Obrigada. – ela me entregou a garrafa.
Peguei de sua mão ainda um pouco perplexo e ela colocou algumas notas no balcão, saindo rapidamente com suas amigas.
Voltei para a mesa que estava, mas sem parar de procura-la. Eu tinha a sensação de que já a tinha visto em algum lugar, mas era muito difícil me lembrar onde. Sentei-me ao lado de Reagan que me abraçou de lado com força, fazendo com que meus amigos dessem risada entre si.
- Você não trouxe minha bebida. – ela fez biquinho.
- Eu me esqueci, foi mal. – olhei para os lados atrás da garota, mas ela parecia ter evaporado.
- Quem você está procurando? – Reagan segurou meu queixo.
- Ninguém. – suspirei.
Eu não conseguia parar de pensar naquela garota e em como eu tinha certeza que a conhecia de algum lugar. Era horrível a sensação de não conseguir saber se era verdade ou apenas coisa da minha cabeça.
- , você está prestando atenção no que estou te falando? – Reagan disse irritada.
- Sim, estou. – respirei fundo.
- Então repete. – ela cruzou os braços e meus amigos riram.
- Repete aí, . – Peter falou rindo.
- Você estava falando sobre aquilo da... – comecei a gesticular com a mão e a tentar lembrar sobre o que ela falava – Não faço ideia, Reagan.
- Caramba, , você não presta atenção em nada do que a gente fala para você. – ela me empurrou – O que você tem hoje? Você está com a cabeça no mundo da lua.
- Desiste, Reagan. – Tommy disse – Na verdade eu não sei como você não desistiu dele ainda, não tem olhos para mulheres.
- Palhaço. – taquei uma bolinha de guardanapo nele.
- Talvez você tenha razão. – ela disse emburrada – Eu vou embora, para mim a noite já deu. – ela pegou sua bolsa e jaqueta e se levantou brava.
- Qual é, Reagan. – me levantei e segurei seu rosto – Desculpa, eu prometo prestar atenção...
- Você não está nem ai para o que eu digo, . – ela sorriu triste – Vocês todos tem razão. – ela apontou para os garotos – Ele só é educado demais para dizer que nunca vai acontecer nada entre a gente. – ela me deu um selinho extremamente rápido e saiu andando.
Me sentei derrotado e fiquei ouvindo as risadinhas inconvenientes dos meus amigos.
A minha situação com Reagan não era das mais difíceis, porém não era fácil. Estudávamos juntos desde meu primeiro ano na faculdade e algumas semanas atrás acabamos dormindo juntos depois de uma longa noite de bebedeira em seu apartamento. A partir desse dia ela resolveu investir todas as suas fichas na única pessoa do nosso círculo social que não queria um relacionamento: eu.
Meus amigos tinham toda razão do mundo, eu não conseguiria dispensar Reagan. Não por educação, mas porque eu tinha medo de fazê-la sofrer com isso, então apenas evitava ficarmos sozinhos por muito tempo e sempre desconversava quando ela tentava falar de nossa noite junto.
Todos nós já tínhamos bebido o suficiente para uma tremenda dor de cabeça no dia seguinte, então resolvemos encarar a multidão de pessoas para poder chegar até a porta. Apertei a jaqueta contra o meu corpo ao sentir o vento gelado e segui os garotos pela calçada.
- Ei, você tem fogo? – ouvi uma voz feminina falar.
Peter remexeu no bolso da calça e acendeu o cigarro da mulher que estava com a maior parte do rosto escondido na sombra do pub.
- Obrigada. – ela falou com uma risadinha e soltou a fumaça no ar.
Ela saiu da sombra e pude ver que era a garota que estava no bar. Continuamos andando e ela foi na frente com um pouco de pressa. Pensei em segui-la para pelo menos agradecer pela cerveja, mas era óbvio que ela ficaria com medo de um homem seguindo-a.
Algumas quadras depois cada um seguiu seu caminho, mas ela parecia estar fazendo o mesmo que o meu. Fiquei com medo de que ela achasse que eu a estava seguindo e entrei em um bar que parecia bem mais vazio que o anterior. Me sentei no balcão e pedi por uma cerveja, contando no relógio para saber se era seguro que eu continuasse meu caminho sem amedrontá-la.
- Uma cerveja, por favor. – alguém tocou em meu ombro.
Olhei para o lado e a vi ali com um sorriso no rosto. Os olhos delineados perfeitamente em preto, cílios que davam a sensação de que ela ficou na frente do espelho por horas até que eles estivessem enormes e batom vermelho nos lábios perfeitamente desenhados.
- Resolvi te seguir também. – ela se sentou ao meu lado e pegou a garrafa de cerveja tomando um longo gole.
- Oi? – perguntei confuso e ela deu uma risadinha.
- Você. – ela me olhou e pude finalmente notar seus olhos incrivelmente – Estava me seguindo ai e depois sumiu ai resolvi te seguir também.
- Eu podia ser alguém perigoso, sabia? – sorri de lado e ela riu.
- Sei me cuidar. – ela retirou um canivete da cintura de sua saia e o guardou logo em seguida.
- Obrigado pela cerveja.
- Se você não o tivesse chamado nós provavelmente ainda estaríamos lá tentando conseguir algo. – ela terminou de beber sua cerveja e colocou a garrafa com força na mesa – Sempre achei que a coisa mais fácil do mundo em ser mulher era conseguir cerveja em um bar, mas parece que eles só servem com rapidez homens e as mulheres que dão em cima deles.
- Não é assim em todo lugar. Aqui sua cerveja foi entregue mais rápido do que o tempo que você levou para termina-la. – dei uma risadinha e ela gargalhou.
- Não sei você, mas eu odeio cerveja quente. – ela fez uma careta.
Ela ergueu a mão chamando o barman e pediu mais uma cerveja. Observei o jeito que ela fazia seus movimentos e principalmente o jeito sensual de molhar os lábios. Eu não sabia se aquilo era para me provocar ou era apenas seu próprio jeito, mas ela fazia aquilo de forma tão natural que era impossível não notar.
Iniciamos uma conversa totalmente aleatória sobre bares e eu devia estar parecendo um idiota olhando para ela. Era difícil não ficar igual um bobo enquanto ela falava sobre algo e gesticulava de um jeito gracioso.
Já estávamos na nossa sexta cerveja e eu não tinha a menor vontade de ir embora. Poderia passar a madrugada inteira ali apenas ouvindo-a falar sobre como ficava indignada com a forma que as mulheres eram tratadas em bares.
- O que você faz da vida? – ela mudou de assunto abruptamente e dei uma risadinha sem graça.
- Estou terminando a faculdade. – tomei um gole de cerveja – E você?
- Começando. – ela colocou o cabelo atrás da orelha – Você estuda o que? Direito, administração, qualquer coisa que seu pai disse para você que era para estudar porque ficaria milionário ou escolheu totalmente ao acaso só para não te encherem o saco? – ela me olhou com um sorriso nos lábios.
- Felizmente eu mesmo quem decidi. – falei rindo e ela arqueou as sobrancelhas – Eu estudo mídia.
- Então é um daqueles garotos riquinhos que podem estudar qualquer porcaria. – ela riu – Aposto que você fica o dia inteiro perseguindo mulheres na rua até o horário da faculdade.
- Como você adivinhou?
- Eu posso ler as pessoas rapidamente. – ela deu uma piscadela – Você já trabalha com isso ou está esperando se formar?
- Achei que você tivesse a resposta para isso. – olhei-a desafiador.
- Fica chato se eu te mostrar que sei todas as respostas. – ela mordeu o lábio.
- Eu faço algumas fotos e as vezes vídeos para as pessoas, não quero ficar preso a uma agência ou coisa do tipo.
- Inteligente. – ela me apontou com a garrafa.
- E você? – semicerrei os olhos – Deve estar aqui torrando sua mesada.
- Correto. – ela riu – Eu divido meu tempo entre a faculdade e a vida de modelo nada em ascensão.
- Hum. – murmurei surpreso.
- O que? – ela sorriu – Eu sou tão feia assim que te surpreende que eu seja modelo? – ela riu e neguei com a cabeça.
- Pelo contrário. Me surpreende o fato de uma garota tão linda como você não seja a próxima Gisele Bündchen. – falei de forma sincera e vi suas bochechas coradas.
- Obrigada. – ela abaixou a cabeça e seu cabelo caiu para frente tapando seu rosto – Mas fique tranquilo. – ela me olhou confiante e nem parecia que eu a tinha deixado envergonhada segundos atrás – Eu sou a sucessora natural dela, o mundo só não descobriu isso ainda.
- Como você consegue passar rapidamente de envergonhada com um elogio para totalmente convencida?
- Qual é, se eu não me achar bonita quem vai? – ela colocou a mão na cintura.
- Eu te acho bonita. – sorri de lado e ela mordeu os lábios novamente.
- Eu sei. – ela se levantou.
- Como você sabe? – perguntei curioso.
- Porque você ficou me procurando a noite toda e eu tenho certeza que você não faria isso se não tivesse me achado bonita. – ela segurou a gola da minha camisa.
- Eu podia estar apenas querendo saber a marca do seu batom. – olhei para os seus lábios e ela riu.
- É M.A.C., mas você precisa provar para ter certeza.
Ela puxou-me pela gola da camisa e juntou nossos lábios em um beijo apressado. Segurei firmemente sua cintura e ela passou a arranhar meu pescoço enquanto nos beijávamos. Nos afastamos um pouco para recuperar o folego e ela dei uma risadinha maliciosa.
A ideia de convida-la para meu apartamento passou pela minha cabeça milhares de vezes, mas pela primeira vez na vida eu estava com medo de tomar um fora de uma garota e ela não parecia ser do tipo que apenas falava ‘não’.
Trouxe seu corpo para mais perto do meu e mordisquei seu lábio inferior fazendo-a rir. Respirei fundo e senti o cheiro cítrico de seu perfume invadir minhas narinas.
- Você mora aqui perto? – ela sussurrou contra os meus lábios e eu assenti.
- Porque? – fechei os olhos quando ela passou a distribuir beijos em meu pescoço.
- Se você gostou tanto assim do meu batom também pode ficar interessado pela minha lingerie. – ela sussurrou em minha orelha – Mas eu não posso te mostrar aqui. – ela disse de forma sensual e senti meu pênis formigar.
Peguei a carteira e tirei algumas notas, deixando-as no balcão sem nem me importar com o troco. Entrelacei nossos dedos e a guiei para fora do bar.
Demoramos até chegar em meu apartamento, pois a cada rua que tínhamos que atravessar nós começávamos a nos beijar ardentemente. Tentei me lembrar da situação que estava minha casa, mas o cheiro de seu perfume no ar me fazia esquecer de tudo”.
Encarei a mesa por alguns segundos pensando se eu a arrumava para o café da manhã ou deixava tudo em cima do balcão, mas tive meus pensamentos interrompidos ao ouvir a porta do quarto se abrir.
Ela caminhou lentamente até o balcão com suas pernas longas e minha camisa meio desabotoada em seu peito que ia até pouco mais de sua cintura. Assisti-a se sentar na minha frente e olhar para o fogão com um sorrisinho. Seus lábios ainda estavam um pouco vermelhos e sua maquiagem meio apagada, mas os cílios permaneciam intactos. Talvez ela não passasse horas na frente do espelho arrumando-os.
- Um tradicional café da manhã irlandês. – ela disse tirando-me do meu transe e fazendo-me perceber que eu devia estar sendo um tremendo idiota olhando-a desse jeito.
- Espero que você não seja vegana. – coloquei um copo de suco e ela o bebeu, negando com o indicador no ar.
- Nem um pouquinho. – ela sorriu de um jeito meio infantil – Se eu pudesse comeria isso todos os dias de manhã, mas tenho que manter uma dieta. – ela fez careta.
- Acho que você pode sair da dieta só um pouquinho. – coloquei na sua frente um prato com ovos, bacon, linguiça e algumas torradas com tomate frito.
- Tem que estar tudo muito bom para eu sair da dieta. – ela colocou um pedaço de bacon na boca.
- Eu moro sozinho e faço minha própria comida, ainda estou vivo, quer prova maior que essa de que minha comida é mais do que boa?
- É, da pro gasto. – ela disse rindo – O que você faz para queimar toda essa gordura da qual você se alimenta de manhã? – ela disse com a mão na frente da boca enquanto comia.
- Nada. – dei de ombros.
- Sério? – ela arregalou os olhos – E como você tem esse corpo? – ela indicou meu peito nu com o garfo e dei uma risadinha sem graça.
- Eu faço a maior parte dos meus trajetos a pé, talvez seja por isso.
- Mentiroso. – ela riu.
Alguma música da Britney Spears começou a tocar no quarto e ela saiu correndo até lá. Terminei de tomar meu café e ela parecia nunca sair de lá. Comecei a pensar que talvez fosse seu namorado ligando e ela estava dando alguma desculpa a ele e comecei a me sentir de um jeito estranho.
Ela saiu de lá colocando os sapatos de um jeito atrapalhado e ainda falando ao telefone pedindo desculpa por ter esquecido da hora. Vi-a caminhar até a porta e corri até ela.
- Já estou indo, saco. – ela disse brava e guardou o celular na jaqueta – Eu preciso ir. – ela bufou irritada – Tenho um compromisso importante e me esqueci completamente. – ela passou a mão nos cabelos tentando domá-los.
- Ah... tudo bem. – falei cabisbaixo.
- Obrigada pela noite de ontem e principalmente pelo café. – ela sorriu carinhosa e me deu um selinho.
Abri a porta para que ela saísse e quando ela estava apertando o botão do elevador me lembrei de que eu não fazia ideia de como era seu nome e como encontra-la mais uma vez.
- Q-qual seu nome? – gritei e ela sorriu para mim.
- . – ela gritou em resposta – E você é....?
- . – sorri – .
Assim que ela entrou no elevador me arrependi amargamente de não ter perguntado seu sobrenome ou ao menos pedir seu telefone.
Voltei para dentro do apartamento mais derrotado do que nunca por ter sido tão idiota a ponto de não lhe fazer perguntas básicas. Reagan tinha contato com diversas agências e seria fácil para que ela procurasse por mim, mas séria tremendamente estúpido pedir ajuda para ela com relação a isso.
Passei o dia todo na cama assistindo séries e me amaldiçoando por ter sido tão burro. O cheiro de seu perfume em tudo deixava mais difícil ainda esquecer a idiotice que eu tinha cometido.
Durante toda a semana tentei criar coragem para pedir a Reagan que procurasse por , mas todas as vezes que eu abria a boca para falar sobre, ela começava a falar para sairmos juntos ou irmos estudar em sua casa.
Decidi me focar totalmente nos trabalhos que eu precisava finalizar e me preparar psicologicamente para um desfile do qual eu tinha sido contratado para fotografar em Londres. Seriam horas intermináveis com modelos desfilando com roupas que ninguém jamais usaria, mas as pessoas mesmo assim insistiam em fazer.
Peguei um taxi da estação de trem até o lugar onde seria o evento e faltava uma hora e meia até começar, mas as pessoas já estavam se acomodando em seus lugares. Deixei alguns equipamentos no backstage e me juntei a um outro fotografo também contratado. Conversamos sobre o saco que era tudo aquilo e concordamos de que apesar de ser uma grande perda de tempo, eventos como aquele eram o que pagava o aluguel no começo do mês.
Fui até a entrada para fotografar algumas pessoas que estavam chegando e me surpreendi ao encontrar , um dos meus melhores amigos e o único que tinha conseguido a chance de ir estudar nos Estados Unidos.
- Caramba, , o que você está fazendo aqui? – ele perguntou surpreso.
- Trabalho. – falei rindo – O que você está fazendo por aqui? Veio dar em cima de algumas modelos?
- Quem dera. – ele riu – Minha irmã vai desfilar hoje e tive que vir vê-la. – ele revirou os olhos.
- Com quantos anos ela está? – perguntei curioso – Depois que você se mudou nunca mais a vi.
- Dezenove e ainda não caiu a ficha.
- Eu imagino.
- Amor, vamos nos sentar. – uma moça muito bem arrumada apareceu e entrelaçou seu braço no dele.
- Já vou. – ele disse para ela – A gente se vê depois?
- Claro, claro. – assenti.
Ele seguiu a moça até seus assentos e continuei meu trabalho com a cara mais simpática e falsa que eu conseguia fazer. As luzes foram diminuindo e corri até o meu lugar perto do palco. As modelos foram entrando e na minha cabeça comecei a fazer uma oração de agradecimento pelas roupas serem algo que qualquer pessoa usaria no dia-a-dia.
Era impossível acreditar que depois de uma semana pensando loucamente em ela estava finalmente ali na minha frente caminhando extremamente confiante como se nada no mundo pudesse derrota-la. Me foquei completamente em fazer as fotos dela, mas minha cabeça só ficava pensando no quão louco era aquilo.
Já não via a hora do desfile acabar para que eu pudesse procura-la e convida-la para sair ou algo do tipo, e quando finalmente acabou dei o suspiro mais aliviado de todos.
Praticamente corri até o backstage com a desculpa de que pegaria alguns equipamentos nas minhas coisas e tentei não parecer um maníaco enquanto perguntava sobre ela para as pessoas. Eu não queria desistir de encontrá-la, mas parecia que realmente não era para ser, pois fazia meia hora que o desfile tinha acabado e ela não estava em nenhum lugar, era como se minha cabeça tivesse projetado tudo aquilo.
Guardei todas as minhas coisas e quando estava saindo do backstage encontrei e a moça que o acompanhava abraçados com uma garota que só podia ser sua irmã caçula. Ele me viu e acenou para que eu fosse até lá, mas minhas pernas ficaram grudadas no chão quando a garota olhou para mim com seus olhos e vi que a garotinha que eu tinha visto crescer e chorar atrás de mim e do irmão era .
Aquele parecia ser meu momento final de vida onde todas as coisas que eu fiz passavam na minha cabeça, mas elas foram todas trocadas por coisas que aconteceram com quando ela era pequena e a última delas era ela gemendo embaixo de mim dias atrás.
Quando finalmente consegui andar, o que pareceu minutos depois, mas tudo aconteceu em questão de segundos, vi sorrir carinhosamente para mim e me toquei do porque eu ter achado que a conhecia.
- , você lembra do ? – perguntou e ela sorriu envergonhada sem responde-lo – Ela vivia choramingando por ele para a minha mãe. – ele disse para a moça – , essa é Jenna, minha namorada.
- É um prazer conhece-lo. – ela estendeu a mão para mim e eu a cumprimentei – sempre fala bastante de você.
- Coisas boas. – ele disse rindo.
- V-você estava muito bem lá em cima, . – tentei soar o menos desconfortável possível e ela colocou o cabelo atrás da orelha, deixando à mostra suas bochechas rosadas.
- Espero que você tenha feito muitas fotos boas minhas. – ela sorriu – Não estava na minha melhor forma.
- Claro que estava, . – Jenna a abraçou.
- Eu sai um pouco da dieta essa semana. – ela me olhou maliciosa e eu quis morrer ali mesmo.
Como ela conseguia falar uma coisa dessas com o irmão dela ali? E que história era aquela de que ela chorava por mim quando mais nova?
- Para onde você vai agora, ? – perguntou – Vamos com a gente comer algo e colocar a conversa em dia.
- Até que gostaria, mas preciso ir para casa, tenho que entregar as fotos na segunda de manhã.
- Fica para outra então. – ele me deu um tapinha no meu ombro – Você ainda está morando naquele mesmo apartamento em Dublin?
- Sim. – assenti – Apareçam por lá.
- Só se você cozinhar para gente. – sorriu de um jeito travesso e eu não sabia se chorava ou ficava excitado.
- C-claro. – gaguejei e ela sorriu vitoriosa.
Me despedi deles três e guardei a vontade de berrar até chegar em casa dali três horas que pareciam ter levado uma vida.
Quando finalmente cheguei em casa enfiei a cara no travesseiro e gritei o mais alto que pude, me arrependendo logo em seguida pois a maldita roupa de cama ainda não tinha sido trocada e o cheiro de não saiu de jeito nenhum.
Eu não sabia por quais motivos eu me odiava mais. Se era por não ter conseguido me lembrar dela quando a vi no bar, se era por não ter perguntado seu sobrenome para procura-la no Facebook ou por nem ter perguntado a sua idade, o que acarretou numa transa com uma garota de dezenove anos. Uma garota que eu conhecia desde bebê e que ainda por cima era a irmã caçula do meu melhor amigo.
Depois que editei todas as fotos e fiz tudo o que tinha para fazer, adiantando trabalhos e coisas da faculdade apenas para me ocupar e não ir procurar, por ela, mas chegou uma hora em que não tinha mais nada para me atrasar.
Procurei por no Facebook e foi o primeiro resultado. Um amigo em comum. Um maldito amigo em comum, seu amado irmão .
Sua foto de perfil era ela com um chapéu preto enorme e os lábios em um tom vinho com seu sorrisinho malicioso. Seus olhos pareciam penetrar os meus através da tela. Olhei todas as fotos em que ela foi marcada e a maioria eram de festas onde ela aparecia abraçada com as mesmas meninas do bar.
Passei pela sua linha do tempo e vi check-in de lugares dos quais ela frequentava e os mais recentes eram o lugar onde tinha sido o desfile e um restaurante em Londres. Ela compartilhava alguns vídeos de música indie e pop, e as vezes até alguns vídeos dela com as amigas dançando as músicas. Continuei olhando todas as suas coisas e encontrei algumas fotos dela com e a namorada dele.
Notei que em algumas fotos sempre tinha um garoto alto por perto e encontrei uma deles dois abraçados e ela lhe desejando feliz aniversário. Seu perfil não mostrava que ela estava em um relacionamento e entrei no garoto que também não mostrava nenhum relacionamento.
Eu já nem sabia mais palavras para descrever o que eu era e o papel ridículo que eu estava fazendo ao fuçar no perfil de uma garota de dezenove anos.
Saímos de uma palestra da faculdade e todo mundo insistiu para irmos ao Lightning Pub, mas eu estava morrendo de medo de encontrá-la por lá. Dei inúmeros motivos para não ir, mas no final quem acabou me convencendo a ir foi Reagan. Será que ela teria me convencido a ir se soubesse o real motivo? Obviamente não.
Apesar de ser sexta-feira o lugar não estava tão cheio como a duas semanas atrás e imaginei que talvez ela não aparecesse por lá.
Nos sentamos na mesa de sempre e horas depois estávamos todos visivelmente bêbados. Eu estava com tanto medo de encontrar , que não me levantei uma vez sequer para ir ao bar pegar algo. Eu não sabia o porquê do meu medo. Ela era maior de idade e fizemos tudo com seu consentimento, mas uma parte de mim dizia que eu não devia encontrá-la ou procura-la em respeito a .
Depois de horas sentado finalmente me rendi e fui até o banheiro. Assim que sai de lá encontrei esperando na fila para ir ao banheiro feminino.
Ela estava com um vestido curto preto de mangas e gola branca e um All Star branco nos pés. Analisei cada canto do seu corpo para lembrar a mim mesmo que aquela era , a irmãzinha de , mas assim que ela sorriu para mim com seus lábios pretos pelo batom foi tudo por água abaixo.
- Oi.
- E ai? – cocei a nuca visivelmente incomodado.
- Tudo bem com você? – ela abaixou a cabeça e ficou brincando com os pés.
- Estou.... estou bem. E você?
- Também. – ela levantou o rosto e sorriu de um jeito infantil – Eu vi as fotos que você fez do desfile, ficaram muito boas, todo mundo adorou.
- Ah... que bom.
- Principalmente as minhas. – ela deu um risadinha sem graça.
- Não fiz nada demais. – sorri envergonhado.
- Ficaram realmente boas, . – meu nome dito com o som de sua voz parecia a coisa mais incrível do mundo – Me chamaram para um edital de moda por causa delas.
- Sério? – perguntei surpreso e ela assentiu – Parabéns.
- Obrigada. – ela sorriu – Talvez o mundo esteja finalmente reconhecendo a Gisele Bündchen em mim.
Ficamos nos encarando alguns minutos em um silêncio totalmente estranho e muito constrangedor. Ela parecia bastante incomodada e agradeci por não ser o único.
- Eu preciso...
- Eu não contei para ele se é isso que está te incomodando. – ela falou um pouco irritada – Não tem nem o porquê de eu contar.
- Tudo bem. – dei de ombros.
- Não sou mais uma criancinha, , eu já tenho dezenove anos, sou bem grandinha para fazer o que fizemos e você não tem porque ficar desse jeito só porque dormiu comigo. – ela abaixo a cabeça e adotou uma expressão magoada.
- , não é isso... só que é meio estranho para mim.
- Tanto faz, ok? – ela suspirou e senti uma dor enorme no peito por tê-la magoado.
Novamente o silencio entre nós dois voltou e a vez dela de ir no banheiro finalmente tinha chegado. Pensei em pedir seu telefone, passando por cima dos princípios que eu tinha criado na minha cabeça e dos motivos pelos quais eu precisa me manter afastado dela, mas Reagan apareceu.
- Estamos indo embora, você vem? – ela segurou minha mão e lá foi o primeiro lugar que olhou.
As duas se entreolharam e Reagan entrelaçou nossos dedos. Eu tinha que dar os parabéns a ela por não ter sido boba e marcado seu território em cima de mim. olhou novamente para nossas mãos e balançou a cabeça em negação.
- Foi legal te ver, . – ela disse com um sorriso enorme e saiu sem nem ir ao banheiro.
- Quem era ela? – Reagan perguntou curiosa.
- A irmã de um amigo. – soltei minha mão da sua – Vamos embora.
Enquanto fazíamos nosso caminho até a saída, vi e suas amigas sentadas em uma mesa rindo. Eu queria ir até lá e pedir a porcaria do seu número, mas em um piscar de olhos me lembrei de que agora eu tinha fácil acesso ao seu Facebook e poderia contata-la quando quisesse.
Durante o caminho até meu apartamento fiquei pensando sobre a forma que Reagan tinha agido e era óbvio que deveria estar achando que éramos namorados. Não tínhamos conversado sobre isso, mas era mais do que possível que eu tivesse conseguido uma namorada nas duas semanas que se passaram desde que nos encontramos.
Tomei um longo e demorado banho para tentar parar de pensar em , mas eu não conseguia. Ela parecia estar sempre ali. Até conseguia sentir seu cheiro no ar mesmo depois de ter trocado os lençóis. Eu estava sendo feito de idiota por mim mesmo e simplesmente não conseguia perceber isso.
Deitei-me na cama com o notebook no colo e a primeira coisa que fiz foi entrar no Facebook dela. Uma amiga tinha feito check-in no Lightning Pub e a marcado. Já tinha algumas fotos postadas pelas amigas enquanto elas estavam lá e as agradeci mentalmente por isso.
Ela sorri alegremente nas fotos recentes e desejei ter feito as coisas diferentes naquela noite. Talvez se eu não tivesse criado regras na minha cabeça, poderia estar lá com ela a essa hora.
Atualizei a página e ela tinha postado um vídeo a alguns segundos atrás. Apertei o play e um barulho quase ensurdecedor começou, mas ainda podia ouvir perfeitamente ela e as amigas rindo. Elas seguraram copinhos do que parecia ser tequila, virando-os em seguida e chupando limão. Todas as garotas fizeram caretas, com exceção de que ria muito alto das amigas.
Fechei o notebook com força e o joguei para o lado como se estivesse me queimando. Ela era a maldita , a irmã caçula de que adorava fazer pinturas estranhas com tinta e olhava para as pessoas com um olhar vingativo quando não conseguia o que queria.
Uma coisa dentro de mim dizia que eu não devia continuar seguindo sua vida social na internet, pois ela era a irmãzinha do meu melhor amigo. Me peguei pensando se desconfiava das coisas que sua irmã era capaz de fazer na cama com alguém e gritei alto com meu pensamento sujo. Era errado tudo isso. Era errado continuar pensando nela e a lembrar das coisas que tínhamos feito.
Acordei com meu celular tocando extremamente alto e o nome de Reagan aparecendo na tela. Respirei fundo algumas vezes e a atendi.
- Bom dia. – ela disse em um tom alegre.
- Oi. – falei emburrado.
- Desculpa te acordar agora, mas eu consegui algo para você. Um trabalho, então é melhor você já ir se trocando.
- Trabalho, Reagan? Hoje é sábado. – resmunguei.
- E você trabalha de sábado, lembra?
- Sim. – era óbvio que eu trabalhava de sábado.
- Tem uma agência que quer que você faça as fotos de algumas garotas para ontem.
- Agência do quê?
- Modelos. É aqui de Dublin mesmo. Eles me ligaram e eu indiquei você.
Óbvio que era uma agência de modelos. Meu coração ficou acelerado com as possibilidades – mínimas, talvez – de encontrar e tentei me lembrar se prometi algo a mim mesmo na noite passada com relação a isso.
- , você está aí?
- Estou, estou. – falei desperto – Me manda o endereço por mensagem.
- Tudo bem. Tchau.
- Tchau.
Corri para o banheiro tomar um banho rápido e quando voltei Reagan já tinha me enviado o endereço. Tentei ao máximo não escolher uma roupa pois era possível que eu me arrumasse para ver e ela nem estivesse lá, porém foi mais forte que eu e quando me dei conta já estava pronto.
Coloquei a mochila nas costas e fui calçando os sapatos enquanto ia para a porta. Eu queria chegar lá o mais rápido possível só para confirmar de que ela não estaria lá, então fui decidi ir de carro e novamente tentei não fazer nada idiota, mas não consegui e corri até o permitido para chegar lá.
Me apresentei para a recepcionista e ela me indicou para o lugar onde estariam acontecendo as fotos. Assim que entrei olhei para as meninas, mas todas elas estavam de costas para mim com seus roupões extremamente brancos e olhando para os espelhos.
Uma mulher de uns quarenta anos veio até mim e agradeceu por eu ter ido, e pedindo desculpas pela chamada de última hora. Ela me deu todas as instruções e disse que queria as fotos o mais natural possível, pois seriam para os perfis das garotas.
Todas elas se viraram e foram tirando seus roupões, ficando apenas com lingeries beges. Olhei para todas e sorri sozinho ao ver que a penúltima delas era . Me parabenizei mentalmente por ter me vestido bem para aquele dia.
As garotas eram todas lindas, com seus rostos livre de maquiagens, mas nenhuma parecia ter a mesma beleza de . Quando chegou sua vez ela se posicionou em frente ao fundo branco e ficou me olhando com seus olhos que pareciam penetrar minha alma e descobrir o que fiz na noite passada ao procurar sua vida na internet.
- , quero que você olhe diretamente para a câmera de um jeito sério e depois algumas fotos sorrindo, querida. – a mulher falou por cima do meu ombro e ela assentiu.
Tirei algumas fotos dela e quando ela sorriu para mim e não para a câmera eu sabia que poderia morrer naquele momento. Ela sorria maliciosamente e era incrível o fato de todos acharem aquilo incrível e maravilhoso. A mulher continuou a lhe dar as instruções, mas parecia estar pouco se importando em olhar para a câmera, pois ela sempre olhava para mim.
- Pronto, meninas, podem ir se trocar. – a mulher disse assim que terminamos e as garotas saíram.
Olhei para pelo canto do olho na esperança de que ela olhasse para mim, mas ela estava conversando com uma garota e parecia que eu nem estava ali.
- é uma das nossas melhores. – ela disse enquanto via as fotos pelo visor da câmera – Ela tem esse sorriso meio malicioso e travesso que é lindo demais. Todas as pessoas que a contratam dizem que é uma das coisas mais linda nela.
- É.... ela é realmente muito bonita. – falei tentando não soar apaixonado.
- Você quem fez as fotos do desfile em Londres, não? – ela me olhou.
- Sim. – cocei a nuca.
- Você trabalha muito bem. – ela sorriu.
- Obrigado. – sorri em resposta.
- Todas as fotos do desfile ficaram maravilhosas, mas não posso negar que as de são as melhores. – ela deu uma risadinha – Ela tem mesmo esse jeito que faz as pessoas se apaixonarem por ela rapidamente.
- Nem tinha reparado muito. – tentei disfarçar o óbvio e ela deu uma risadinha como se soubesse que eu estava mentindo.
Entreguei-lhe o cartão com as fotos e fui para a recepção pegar o dinheiro. Eu queria sumir dali antes de ver novamente ou eu não me aguentaria ficar sem falar com ela, mas a recepcionista parecia levar anos. Sai quase correndo assim que peguei o envelope de suas mãos. Patético, , patético.
Guardei a mochila e quando fui entrar no carro senti um cutucão na costela.
- Oi. – disse com uma voz infantil.
- O-oi... oi. – gaguejei.
- Veio de carro. Sua casa não é tão longe daqui, preguiçoso.
- Como você sabe...?
- Já estive lá. – ela revirou os olhos com um sorriso – Ou você já se esqueceu?
Eu não fazia ideia do que responder. Era óbvio que eu não tinha esquecido então permaneci em silêncio.
- Quer uma carona? – perguntei subitamente e ela me olhou surpresa.
- Eu não moro tão longe, posso ir de ônibus. – ela disse sem graça.
provavelmente não morava mais com seus pais, pois a casa deles era muito longe dali e perto da casa dos meus pais. Geralmente me tomava meia hora de carro até chegar lá.
- Vamos, eu te levo. – tentei não soar desesperado, mas eu já estava quase jogando a toalha e caindo aos seus pés.
- Não precisa, , sério. – ela colocou o cabelo atrás da orelha e se apertou no moletom – Você deve estar cheio de coisas para fazer.
- Estou livre o dia todo. – sorri e ela me olhou.
- Tudo bem. – ela suspirou e sorriu.
Abri a porta para que ela entrasse e dei a volta no carro. Algumas das meninas que estavam na agência naquele dia nos viram e cochicharam entre si.
- Onde você mora? – perguntei assim que entrei.
- Naqueles apartamentos do Temple Bar, perto da Urban Outffiters. – ela cutucou o rasgo da calça jeans.
- Não é tão perto igual você pensa. – falei rindo.
- Sim. – ela riu.
Eu queria falar qualquer coisa com ela, qualquer coisa mesmo. Estava desesperado para ouvir o som de sua voz, mas durante os quinze minutos até sua casa ficamos em silêncio. Ela não parecia incomodada com ele, até se mostrava confortável olhando para as coisas pela janela do carro.
Estacionei em frente ao prédio e olhei para ela que prestava atenção em algo na rua. pareceu perceber que chegamos e balançou a cabeça com um sorriso no rosto.
- Obrigada pela carona. – ela me olhou.
- Sempre que precisar. – sorri.
- Sua namorada é muito bonita. – ela colocou o cabelo atrás da orelha.
- Ela não é minha namorada.
- Ah. – ela mordeu o lábio e abaixou a cabeça.
Ficamos em silêncio por uns dois minutos e ela começou a rir sozinha.
- Você quer... sei lá. – ela me olhou meio envergonhada – Entrar?
- Claro. – falei exasperado e ela sorriu.
Sai do carro rápido para abrir sua porta, mas ela já tinha saído. Apertei o alarme e a segui. Subimos as escadas e vários adolescentes vieram em nossa direção, correndo e se esbarrando para descer.
- Essas são as consequências de morar perto da faculdade. – ela riu.
Acabei me tocando de que eu nem cheguei a perguntar onde e o que ela estudava. Quando abri a boca para lhe perguntar ela já estava abrindo a porta.
Seu apartamento era arrumado de um jeito meio bagunçado e até bonitinho. Não era grande e a cozinha era acoplada com a sala assim como o meu, apenas dividido por um balcão. A mesa de centro estava cheia de revistas e alguns recortes em cima de um notebook aberto. No lugar onde deveria ficar a televisão estava um quadro enorme de um homem e me lembrei de que ela gostava de pintar.
- Você quem fez? – apontei para o quadro e ela assentiu envergonhada.
- Não é um dos meus melhores..., mas também não é dos piores. – ela riu.
- Então você continuou com o sonho de ser artista?
- Faço algumas pinturas as vezes. – ela apontou para um cavalete ao lado de uma mesa perto da porta de onde devia ser seu quarto – Mas resolvi estudar outra coisa. – ela foi para a cozinha e eu a acompanhei.
- Tipo o que? – perguntei curioso.
- Filosofia. – ela riu – Quase mais idiota do que você estudar Mídia. – ela prendeu os cabelos e bagunçou a franja.
- Ei. – fingi estar ofendido.
- É a verdade. – ela se apoiou no balcão e ficou olhando para mim do outro lado – Sempre achei que você faria direito igual ao meu irmão.
- Nunca tive as mesmas ambições que .
Eu tinha a sensação de estar traindo meu amigo e isso era horrível. Eu já tinha transado com sua irmã e agora estava ali, no seu apartamento perfeitamente bagunçado.
- só queria saber do dinheiro. – ela riu – Já você escolheu ver modelos de lingerie. Bem melhor. – ela piscou e meus batimentos pararam por alguns segundos – Você quer beber algo?
- Não, obrigado. – sorri.
Ela caminhou em direção a geladeira amarela e a abriu. praticamente entrou lá dentro até conseguir pegar uma caixinha de suco com um desenho infantil na frente.
- Você não sabe o que está perdendo. – ela falou rindo enquanto furava a caixinha com o canudo.
- Bastante adulto.
- São mais gostosos e bem mais baratos que cerveja. – ela se sentou ao meu lado – Com o preço de uma garrafa de cerveja eu posso comprar uns quinze desses. – ela analisou a caixinha de suco.
Olhei para o desenho da embalagem e rapidamente me veio à cabeça de que ela sempre tomava sucos de caixinha quando criança, preferencialmente os de uva com os desenhos exatamente iguais ao que ela tinha em mãos.
Eu não devia estar ali e muito menos devia ter lhe oferecido carona. Agora eu sabia onde era a merda de seu apartamento e não conseguiria não vir para esse lado da cidade para vê-la. Já sabia até onde ela estudava e onde a encontraria no campus. Cada vez mais eu ia me afundando naquilo.
- No que você está pensando? – ela me olhou curiosa e jogou a caixinha na pia.
- Eu... eu não devia estar aqui, . – suspirei.
- Porque não? – ela se levantou e me olhou meio brava.
- Você é irmã do meu melhor amigo. Eu te vi crescer...
- Me viu tanto crescer que nem me reconheceu. – ela revirou os olhos – Eu tenho dezenove anos, , eu sou adulta o suficiente para saber as coisas que eu faço.
- Não tenho culpa que você... que você.... – comecei a gesticular tentando encontrar as palavras certas.
- Que eu cresci? – ela colocou as mãos na cintura – Que agora eu tenho corpo e rosto de mulher e não pareço mais a garotinha que chorava por você?
- Em minha defesa eu não sabia que você fazia isso. – falei rindo e ela me deu um tapa no braço.
- Era amor de criança. – ela riu – Você estava sempre em casa e era o único menino que eu tinha contato além do , era meio óbvio que eu acabar gostando de você.
- Não era para mim. – dei de ombros.
- O que importa é que isso já era e eu sou adulta agora. Não vou me iludir se você ficar e também não vou chorar se você for. – ela passou a unha pelo meu pescoço e senti meu corpo se arrepiar com seu toque – A decisão é sua. – ela se afastou.
- Você vai me enlouquecer. – baguncei meus cabelos.
Passei o braço por sua cintura e a trouxe para perto de mim. Ela brincou com nossos lábios e parecia ter levado uma eternidade até que nos beijássemos. Assim que sua língua tocou a minha, me dei conta que eu tinha sentido falta da sua boca na minha de um jeito inexplicável.
Ela pressionou sua pélvis contra a minha e suspirei alto, fazendo-a rir durante o beijo. Puxei-a para cima e ela entrelaçou suas pernas em minha cintura, arranhando minhas costas e puxando meu cabelo para trás enquanto beijava meu pescoço.
Tateei o caminho até o sofá e joguei as diversas coisas que estavam lá no chão, deitando-me por cima dela. finalmente abriu os olhos e eles não pareciam em nada com a garotinha que eu conhecia. Beijei-a com fervor e me esqueci completamente de tudo que eu tinha colocado na minha cabeça sobre aquilo ser errado.
Meu peito subia e descia rapidamente enquanto respirava ofegante contra meu pescoço. Passei a ponta dos dedos por suas costas nuas e ela deu uma risadinha baixa, fazendo-me sorrir.
Ela se sentou ao meu lado e começou a fuçar em nossas roupas, pegando nossos celulares. Ela digitou algo no meu e logo em seguida o seu celular começou a tocar e ela digitou rápido.
- Agora você tem meu número. – ela colocou os aparelhos na mesa de centro e se deitou ao meu lado.
- E porque você acha que eu gostaria de ter seu número? – provoquei-a e ela começou a rir.
- Eu sei das coisas, . – ela acariciou meu rosto.
- Posso de perguntar algo?
- Claro. – ela se ajeitou ao meu lado.
- Aquele dia no bar... você sabia quem eu era?
- Sim. – ela suspirou – Eu meio que fuçava no seu Facebook as vezes, só para garantir que você ainda continuava bonito. – ela disse envergonhada e eu dei risada.
Fiquei aliviado em saber que eu não tinha sido o único a procurar sobre o outro nas redes sociais.
- E porque você não disse nada?
- Não sabia se você ia me reconhecer. Você e não se falam mais com frequência então achei que você nem fosse lembrar de mim. – ela falou em um tom magoado e segurei seu queixo obrigando-a a melhor olhar.
- É lógico que eu ia me lembrar de você. – sorri apaixonado – Eu me lembro que você gostava de pintar, de que seu suco de caixinha favorito é o de uva... – suas bochechas foram ficando vermelhas a medida em que eu falava – E também me lembro de você ficar triste sempre que eu ia embora da sua casa.
- Ai meu Deus. – ela escondeu seu rosto em meu peito.
- O que? – falei rindo.
- Eu era muito idiota. – ela me olhou – Falava sobre você para todas as minhas amigas, escrevia nossos nomes no meu diário... era patético. – ela gargalhou.
- Se te consola, eu olho seu Facebook praticamente todos os dias e já me sinto bastante amigo das suas amigas. – ela me olhou curiosa e sorriu – Você era criança, é totalmente normal, mas eu já sou um homem de vinte e quatro anos, é bastante estranho além de assustador.
- Você tem razão. – ela se sentou e começou a se vestir – Mas eu perdoo se você prometer não começar a me perseguir na rua de novo. – ela riu.
- Ei, eu não estava te perseguindo. – fingi estar ofendido.
Comecei a me vestir e gargalhava alto como se eu tivesse lhe contato a mais engraçada das piadas. Era meio difícil me trocar enquanto ela parecia tão graciosa rindo.
- Vou fingir que acredito. – ela se levantou.
entrou em seu quarto e terminei de me vestir. Olhei as coisas em cima da mesa de centro e eram todos recortes de revistas de moda e alguns papeis com o emblema da faculdade.
Ela voltou vestindo um pijama de raposas e ficou me olhando indignada por estar rindo da sua roupa.
- Você é muito idiota. – ela arrumou os cabelos.
- Está fofa assim. – caminhei até ela e notei o quão alto eu era perto dela.
Segurei seu rosto e a beijei calmamente, acariciando sua bochecha e tentando não suspirar apaixonado com o toque de suas mãos em meu peito.
- Preciso ir. – sussurrei e ela assentiu.
Eu queria que ela me pedisse para ficar, queria passar o resto do dia vendo-a enquanto ela fazia seus recortes de revistas e não dava a mínima atenção para o jeito apaixonado que a olhava, mas isso só aconteceria nos meus sonhos mais estúpidos.
me acompanhou até a porta e nos despedimos com um beijo sem falar nada um com o outro.
Meu corpo parecia tão leve enquanto eu descia as escadas e me sentia um completo idiota com um sorriso enorme no rosto. Pensei novamente no quão errado era aquilo, por ela ser mais nova, por ser a irmã do meu melhor amigo, mas eu já não me importava mais com aquilo. Como ela mesma disse, ela era de maior e sabia muito bem o que estava fazendo.
Assim que liguei o carro pude ver e sua namorada cheios de sacolas de supermercado entrando no prédio de . Respirei aliviado por nenhum dos dois terem me visto, mas logo comecei a ficar ansioso com a possibilidade de ele descobrir sobre nós dois.
Dirigi totalmente no automático sem prestar atenção em nada ao meu redor. Eu só queria chegar em casa rápido e ficar sozinho pelo restante do dia. Logo que entrei em casa recebi algumas mensagens de Reagan e meus amigos convidando-me para irmos a uma festa, mas dei uma desculpa qualquer e os ignorei pelo resto da tarde.
Tinha se tornado quase um ritual olhar o Facebook de antes de dormir e me arrependi mais do que nunca por tê-lo feito essa noite. A primeira coisa que apareceu assim que abri seu perfil era uma foto publicada por uma de suas amigas. Ela e o mesmo cara de algumas fotos estavam se beijando no que parecia ser uma festa.
Talvez aquela fosse a mesma festa que Reagan me convidou, ou não, mas o pensamento de que podia ser e eu tinha recusado me assombrou durante a noite. Poderia ser eu naquela foto com ela se eu tivesse decidido sair de casa. Se eu não tivesse ido fuçar onde não devia talvez eu não teria visto a foto e conseguiria dormir tranquilamente lembrando dela em meus braços mais cedo.
Eu não teria chances com e era idiota me iludir dessa maneira. Ela era irmã do meu melhor amigo, era mais nova e ousada, ela nunca iria se prender a alguém nessa idade onde a maioria das pessoas queriam curtir sua vida e ficar com quem quisessem. Eu mesmo não queria nenhum relacionamento na sua idade e a única coisa que eu queria era ir para festas e ficar com várias garotas diferentes.
Cliquei para desativar meu perfil, impedindo-me de procura-la novamente e ver coisas que eu não gostaria de ver.
Rolei na cama diversas vezes na esperança de conseguir dormir, mas parecia que eu nunca mais conseguiria dormir na minha vida. não saia da minha cabeça por um segundo e a maldita foto também não. Minha noite de insônia resultou em olheiras enormes e um mal humor gigantesco quando meus pais apareceram para me visitar na manhã de domingo.
“- Como você consegue passar rapidamente de envergonhada com um elogio para totalmente convencida?
- Qual é, se eu não me achar bonita quem vai? – ela colocou a mão na cintura.
- Eu te acho bonita. – sorri de lado e ela mordeu os lábios novamente.
- Eu sei. – ela se levantou.
- Como você sabe? – perguntei curioso.
- Porque você ficou me procurando a noite toda e eu tenho certeza que você não faria isso se não tivesse me achado bonita. – ela segurou a gola da minha camisa.
- Eu podia estar apenas querendo saber a marca do seu batom. – olhei para os seus lábios e ela riu.
- É M.A.C., mas você precisa provar para ter certeza.
Ela puxou-me pela gola da camisa e juntou nossos lábios em um beijo apressado. ”
Recebi algumas mensagens de durante a semana e me obriguei a não responder nenhuma. Algumas delas perguntavam sobre meu Facebook e de que ela precisava dele para saber se eu ainda continuava bonito, outras eram sobre um batom ou lingerie novo que ela tinha certeza que eu me interessaria, mas na maior parte era apenas alguma coisa sobre seu dia que parecia bobo para ela, porém extremamente interessante para mim. Em momento algum ela me mandou mensagens perguntando o porquê de eu não a responder.
Meus amigos insistiram para que eu saísse com eles e ficaram indignados por eu preferir ficar em casa num sábado à noite do que ir para um bar beber algo.
Lembrar de beijando outro já não me deixava triste, mas a possibilidade de ir ao bar e encontrá-la por lá me deixava angustiado.
Eu já tinha minha noite de sábado totalmente preparada. Pedi pizza e comprei bastante cerveja para uma maratona de Star Wars que me deixaria mais preocupado com o Império tomando conta do que encontrar uma garota em um bar.
A campainha tocou e coloquei uma bermuda qualquer para poder atender o entregador. Assim que abri a porta vi parada na minha frente cheia de roupas de frio e tremendo.
- O que... o que você está fazendo aqui? – perguntei surpreso.
- Vocês não têm termostato no corredor? – ela disse com os dentes batendo um no outro – Está congelando aqui.
Fiquei olhando para ela toda encolhida dentro das roupas e com os dentes tremendo. Eu nem sabia mais o que fazer ou perguntar, mas o entregador da pizza logo chegou, obrigando-me a fazer algo.
- ? – ele perguntou e eu assenti – Deu quinze euros.
Peguei o dinheiro no aparador ao lado da porta e o entreguei, pegando a caixa de pizza e sem nem tirar os olhos de .
- Pode ficar com o troco. – falei mais para ela do que para ele, mas segundos depois o entregador se foi.
- O que? – ela me olhou com um sorriso no rosto.
- O que você veio fazer aqui a essa hora da noite?
- Desculpa. – ela abaixou a cabeça – Estou te atrapalhando?
- Não. – suspirei.
- Você... você não respondia minhas mensagens. – ela me olhou triste – Ai eu pensei que tivesse acontecido alguma coisa com você.
- Eu estou bem. – falei estúpido e ela pareceu magoada.
- Porque você não me respondia? – ela perguntou brava e me assustei com sua súbita mudança – Foi porque meu irmão chegou aquele dia quando você estava indo embora?
- Não. – respondi exasperado.
- Então porque, ?
- É melhor você entrar, está frio aí fora. – sai da frente para que ela passasse.
Ela se sentou emburrada no sofá com pernas e braços cruzados e foi impossível não sorrir ao vê-la daquele jeito.
Coloquei a caixa de pizza em cima da mesa de centro e me sentei ao seu lado enquanto tentava formular uma resposta que não demonstrasse que eu estava criando sentimentos por ela e tinha ficado com ciúmes daquela foto.
- ...
- Não quero que você fale nada se não for para responder minha pergunta. – ela abriu a caixa de pizza e pegou um pedaço.
Era até engraçado seu jeito ousado. Ela parecia estar puta comigo, mas nem por isso deixaria de comer a minha pizza. Fiquei vendo-a mastigar e sua expressão logo foi se acalmando. olhou para a televisão que estava pausada em uma parte do filme e depois me olhou pacificamente.
- Já te dei tempo para pensar numa desculpa convincente o suficiente. Ou você me responde logo ou vou embora e ainda levo sua pizza. – ela falou tentando parecer brava mas o sorriso se formando no canto dos lábios a entregava.
- Você quer a resposta verdadeira ou uma que não mostre o quão idiota eu sou?
- Se eu quisesse outra resposta que não fosse a verdadeira eu teria criado na minha cabeça toda uma história e pouparia me tempo de vir até aqui. – ela revirou os olhos.
- Eu vi sua foto beijando um cara e.... fiquei meio que... com ciúmes. – fiz uma careta e ela se levantou extremamente brava.
- Qual seu problema? – ela gritou e a olhei assustado – Não me lembrava de você ser uma garotinha de treze anos do colegial que resolve seus problemas ignorando as pessoas.
- Calma, você está brava pelas mensagens e não pelo motivo? – perguntei confuso.
- É claro. – ela deu um tapa em meu braço e eu me encolhi – Você não precisava ter me ignorado só por causa disso.
- Mas eu pensei que você fosse me achar o maior otário por ter ficado com ciúmes.
- Você é o maior otário por não ter me respondido. – ela me deu outro tapa – E você não tem porque ficar com ciúmes de mim, , eu nem sou tua namorada.
Se ela tivesse me dado outro tapa com certeza doeria mais do que ouvir aquilo da boca dela. Eu tinha pleno conhecimento de que nós não éramos namorados e muito menos de que tínhamos algo um com o outro, mas doía bastante ouvi-la dizer aquilo.
Naquele momento ficou bastante óbvio que eu estava sentindo algo mais por ela, e seu jeito era uma das coisas que deixavam esse sentimento mais forte.
Respirei fundo algumas vezes e tentei pensar em algo. Eu já tinha tido algumas namoradas, mas eu nunca gostei delas de verdade e nem elas de mim, sempre foi algo mais para termos uma transa fixa do que um relacionamento em si. Era estranho aquilo, gostar de quando na verdade ela estava pouco se fodendo para mim e só se importava com o fato de eu não a ter respondido.
- Tudo bem. – me levantei do sofá.
Caminhei em direção a cozinha e fui acertado com uma almofada. Olhei surpreso para trás e ela estava totalmente vermelha e respirando fundo. Continuei andando e ouvi ela correndo até mim. Assim que abri a geladeira me acertou novamente com uma almofada e me virei para ela, sendo acertado por socos no peito.
Deixei que ela extravasasse toda sua raiva aparentemente sem motivo e continuei parado olhando-a gritar e me bater. Ela se encostou no armário e começou a respirar fundo.
- Pronto? – ergui os braços e ela gritou.
Peguei duas cervejas na geladeira e voltei para o sofá. Coloquei o filme para rodar e peguei um pedaço de pizza. Olhei para trás disfarçadamente e ela ainda estava lá.
Uns cinco minutos depois ela se sentou ao meu lado e abriu a cerveja em cima da mesa. Olhei-a pelo canto dos olhos e ela virou todo o conteúdo em questão de segundos, limpando a boca com a manga da blusa. Eu queria dizer que era incrível o jeito com o qual ela bebia tão rápido, mas eu tinha medo de abrir a boca e ela tentar me matar com a almofada, por mais bonito que seria a cena dela em cima de mim cheia de raiva pressionando a almofada no meu rosto.
Deixei em cima da mesa mais algumas cervejas e comemos toda a pizza enquanto assistíamos ao filme em um total silêncio. Os créditos do Episódio IV começaram a subir e olhei para ela que encarava a tela. Ela sabia que eu a estava olhando, pois me olhou algumas vezes pelo canto do olho até se virar para mim.
- O que foi? – ela disse emburrada.
- Você fica bonita quando está brava. – falei de forma carinhosa e suas bochechas começaram a corar, mas ela não parecia nem um pouco envergonhada.
- Porque você ficou com ciúmes da foto?
Mordi o lábio com força tentando não falar nenhuma idiotice, mas quando me dei conta eu já estava gargalhando igual a um idiota.
- . – ela me chamou irritada – Qual a graça? – ela se levantou e me encarou com as mãos na cintura e uma expressão raivosa.
- E-eu... eu gosto de você. – gaguejei e ela continuou a me olhar do mesmo jeito.
- Também gosto de você. – ela se sentou – Você é um cara legal.
- Não. – neguei com a cabeça – Eu gosto de você de um jeito... – as palavras pareciam sumir da minha cabeça e eu não sabia como falar aquilo – Eu gosto de você de um jeito... romântico.
- Você está apaixonado por mim? – ela me olhou surpresa e assenti.
Ela se afundou no sofá e respirou fundo algumas vezes. Apesar de tentar, eu tinha soado como um completo idiota.
Comecei a bater o pé no chão ansioso pelo que ela poderia falar ou fazer, mas ela estava levando anos para processar tudo aquilo. Automaticamente se iniciou o próximo filme e ela ainda estava ali sem nem se mover. Eu não conseguia ficar parado. Não precisava que ela sentisse o mesmo que eu, esse também foi um dos motivos pelo qual resolvi me afastar, pois ela não iria querer um relacionamento sendo tão nova.
Fui para o banheiro e lavei com rosto com água gelada algumas vezes. Permaneci com a cabeça abaixada tentando criar coragem para tomar o fora da minha vida, mas senti ela me abraçar por trás e beijar carinhosamente minhas costas. Ela sussurrou algo que não entendi e a olhei pelo espelho.
- O que você disse?
- Eu disse que... – ela me olhou pelo espelho com um sorrisinho malicioso no rosto – Eu também estou apaixonadinha por você. – ela riu.
Abaixei a cabeça e comecei a rir sozinho como se eu tivesse acabado de ganhar na loteria sozinho. Ela me abraçou com mais forças e acariciei suas mãos em minha barriga. me virou de frente para ela e ficou nas pontas dos pés até ter seus lábios junto aos meus. Segurei seu rosto e a beijei lentamente apenas querendo aproveitar aquele momento.
Pela primeira vez na vida eu sabia o que era ter borboletas no estômago por alguém e era a melhor sensação do mundo.
Peguei-a no colo e caminhei desastradamente até o sofá. Deite-me por cima dela e a desfiz do cachecol, beijando seu pescoço. Senti suas unhas apertarem minhas costas e ir descendo até minha cintura, apertando o local com força. Olhei para que estava de olhos fechados e eu sabia que poderia passar o resto da minha vida apenas apreciando sua beleza e ouvindo-a rir.
- . – ela me afastou um pouco e me olhou.
- Sim?
- Será que a gente pode só assistir ao filme... juntinhos? – suas bochechas coraram e eu as beijei carinhosamente.
- Claro. – me sentei e puxei-a para o meu colo.
Ela se aninhou em meu peito e continuamos a ver o filme. Inspirei o cheiro doce de seus cabelos misturados com seu perfume cítrico e um pouco de nicotina, sentindo-me mais leve.
Tê-la em meus braços era algo tão maravilhoso que eu quase não conseguia acreditar. Eu passei uma noite toda atrás dela, finalmente a tive e depois fiquei por uma semana obcecado em saber quem ela era até descobrir que ela era pessoa mais improvável de todas.
Acordei de madrugada no sofá com se remexendo em meu colo. Carreguei-a até meu quarto e a deitei na cama. Tirei seus coturnos e a jaqueta de couro que estava cheia de coisas nos bolsos internos. Coloquei seu celular na mesa de cabeceira e ele não parava de piscar indicando alguma notificação. Acendi a tela e vi uma mensagem de .
“, onde você está? Fui até o seu apartamento e você não estava. Me liga”.
Sem motivo comecei a me sentir ansioso novamente. O que ele diria se soubesse de nós dois? Eu conhecia a anos, mas não conseguia nem imaginar qual seria sua reação.
A mensagem dele tinha me tirado totalmente o sono. Olhei no celular e ainda eram cinco da manhã, mas de nada adiantaria eu me deitar na cama achando que dormiria enquanto só ficava rolando sem dormir.
Liguei o videogame e coloquei o headset para não a acordar. Me foquei tanto no jogo e em matar as pessoas no Battlefield que só acordei do meu mundinho ao sentir o cheiro de fritura. Olhei para trás e encontrei cozinhando e dançando ao som de Beyonce.
- My daddy Alabama, Momma Louisiana, you mix that negro with that Creole make a Texas bamma. – ela rebolou enquanto mexia com uma colher na frigideira.
Sorri sozinho ao vê-la alegre daquele jeito e deixei que ela continuasse até se dar conta de que eu a estava vendo, o que aconteceu bastante rápido, mas ela não pareceu se importar.
- Okay ladies, now let’s get in formation, causa I slay. – ela bateu no peito rindo e me chamou com o indicador.
Caminhei até ela que continuou a dançar enquanto cozinhava. Assim que cheguei perto ela colou suas costas em meu peito nu e foi rebolando até o chão deixando completamente louco. Puxei-a para cima e beijei seus lábios, sentindo o gostinho de laranja.
- Gostou da minha performance? – ela falou assim que a música acabou.
- Beyonce não faria melhor. – beijei sua testa e me sentei do outro do balcão.
- Gisele Bündchen e agora Beyonce, você é cheio dos elogios da cultura pop, mocinho. – ela pegou a jarra de suco e colocou na minha frente.
- É assim que eu conquisto as garotas mais novas. – falei convencido e ela revirou os olhos.
- Você não me conquistou para começo de conversa. – ela entregou um prato com ovos, bacon e torradas.
- Não? – perguntei rindo.
- Não mesmo. – ela negou rindo – Eu só vim parar na sua casa aquele dia porque eu não estava a fim de pegar um taxi até minha cada.
- Bom saber. – enfiei alguns pedaços e bacon na boca e ela ficou rindo do jeito que eu mastigava – E aquele dia na sua casa? – falei com a boca cheia.
- Só quis te pagar pela carona porque eu não tinha dinheiro. – ela deu de ombros – Mas se você continuar comendo e falando pode ser que me conquiste. – ela se debruçou no balcão e me deu um selinho – Gostou? – ela apontou para o prato e eu assenti enquanto ia me empanturrando.
- Eu poderia falar que ficou melhor que o meu. – bebi um gole de suco de seu copo – Mas depois da minha avó eu sou o melhor cozinheiro que eu conheço, então me desculpe. – encolhi os ombros e ela riu.
- Você não cansa de ser convencido? – ela mordeu um pedaço de bacon.
- Você está fazendo escola, , pois até mais um menos atrás eu era a pessoa mais humilde do mundo.
- Isso me deixa bastante contente. – ela sorriu.
Seu telefone começou a tocar e ela o atendeu impacientemente.
- Oi. – ela bufou – Estou bem, ... Você não avisou que estaria em Dublin essa semana então eu resolvi sair... Eu estou... – ela me olhou tensa e respirou fundo – Estou na casa de uma amiga... Tudo bem, daqui uma meia hora estou em casa. – ela disse triste.
Eu não a culpava nem um segundo por ter mentido, apesar de que aquilo era extremamente perigoso, mas não podia negar que tinha ficado triste por ela ter que esconder. Não sabia se nós dois estávamos namorando ou apenas estávamos juntos, mas eu não tinha colhões para lhe perguntar quando uma dessas respostas poderia ser não.
Ela foi para o quarto pegar suas coisas e voltou triste para a sala. Caminhei com ela até a porta e algo em seus olhos dizia que ela queria ficar.
- Me desculpa. – ela disse magoada – Será que eu estou destinada a apenas tomar café da manhã na sua casa e ir embora?
- Acho melhor você me avisar antes assim posso comprar mais ovos e bacon. – fiz uma careta na intenção de fazê-la sorrir, mas ela continuou cabisbaixa.
- Sinto muito mesmo, ... – ela colocou os cabelos atrás da orelha – O tem uma mania horrível de aparecer sem avisar e ainda querer que eu me materialize em sua frente.
- Está tudo bem. – segurei seu rosto – De verdade. – sorri e ela sorriu de lado – Você quer que eu te leve?
- Melhor não. – ela suspirou.
Senti uma pontada no peito, mas eu também criei expectativas demais achando que ela concordaria em leva-la até sua casa onde seu irmão – meu melhor amigo – estaria a esperando.
Nos despedimos com um beijo rápido e entrei para casa completamente derrotado. Eu não costumava fazer planos para o meu fim de semana, pois no final sempre acabava desistindo de tudo para jogar videogame e dessa vez não foi diferente.
Eu podia contar nos dedos quantas garotas já tinha tomado café da manhã em casa e essa era a segunda vez. Geralmente eu dava um jeito de que elas fossem embora o mais rápido possível pelo simples fato de eu não saber como agir com elas depois de uma transa. Queria de verdade que tivesse ficado para que pudéssemos fazer qualquer coisa que ela estivesse a fim, mas graças a e ao mundo isso não iria acontecer.
Já faziam duas semanas que e eu ficávamos frequentemente. Ela disse que preferiu não contar nada as amigas, pois elas tinham me achado bonito demais na noite em que eu a “conheci” e ela não queria que elas ficassem dando em cima de mim porque ela sabia que eu ficaria constrangido. Tão pouco tempo juntos e ela já me conhecia bem demais.
Também decidi não contar nada aos meus amigos pelo fato deles serem um bando de pervertidos e acharem o máximo eu estar saindo com uma garota mais nova, mas decidi contar a Reagan sobre ela e me surpreendi com sua reação um tanto quanto calma.
- Garota de sorte essa. – ela disse assim que contei que estava saindo com alguém.
- Eu tenho mais sorte que ela. – sorri de lado.
- Para com isso, . – ela me deu um tapinha no braço – Você é um cara legal e qualquer garota que te conquistasse seria uma sortuda.
- Me conquistasse? – perguntei rindo.
- Sim. Que te conquistasse e te deixasse com um sorrisinho apaixonado igual você ficou enquanto falava dela.
- Eu não...
- Não precisa mentir se a sua intenção é não me magoar. – ela falou séria – Já faz um tempo que eu entendi que as coisas entre a gente não será mais do que amizade. – ela sorriu – Mas o que você vai fazer com relação ao irmão dela, porque uma hora ele vai descobrir.
- A gente não está namorando nem nada.
- Mesmo assim, uma hora ele vai descobrir e você tem que estar preparado.
- Não faço ideia de como ganhar uma discussão com ele. – suspirei.
- Como não? – Reagan riu.
- sempre foi do tipo que não consegue conversar com as pessoas decentemente, no final ele sempre acabava partindo para cima de alguém.
- Vocês são amigos, ele não faria isso com você.
- Espero que não.
Troquei algumas mensagens com durante a aula e ela mandou uma foto fingindo que estava chorando e pedindo para que alguém a tirasse da aula.
Fiquei pensando em algo por alguns segundos e comecei a guardar minhas coisas na mochila com pressa.
- Ei, eu vou embora. – sussurrei para Reagan que me olhou confusa.
- Por quê?
- . – sorri apaixonado e ela deu uma risadinha fraca e assentiu.
Corri pelo meio da grama molhada do campus até o estacionamento e entrei desastradamente demais no carro. Tentei não correr muito, mas se eu queria surpreenda-la eu precisaria chegar até sua faculdade o mais rápido possível.
Estacionei em uma vaga para visitantes e fui perguntando para as pessoas sobre o prédio de filosofia. Subi as escadas feito um louco e quando cheguei encontrei uma amiga de saindo de lá conversando com o garoto que a estava beijando na foto.
- Você sabe me dizer onde posso encontrar ? – perguntei para ela e o garoto ficou me analisando de cima a baixo.
- É.... no segundo andar, sala duzentos e quarenta. – ela disse com um sorrisinho no rosto.
- Obrigado.
Esbarrei em algumas pessoas enquanto subia correndo pelas escadas e achei que cheguei no segundo andar a vi saindo da sala. Ela conversava animadamente com algumas pessoas e colocava o cabelo atrás da orelha a todo momento. Seu vestido vermelho contrastava bastante com sua pele e a meia calça de um cinza meio transparente. Ela ajeitou o casaco preto no corpo e a bolsa, finalmente virando-se para frente e me vendo.
Sua primeira reação foi de surpresa e logo depois ela disse algo as pessoas e correu até mim. Ela se jogou em meus braços e me surpreendi com seu ato. Abracei-a com força e a levantei por alguns segundos.
- O que você está fazendo aqui, seu louco? – ela disse rindo e entrelaçou os dedos em minha nuca.
- Você disse que queria ser socorrida da aula e aqui estou. – sorri de lado e ela me deu um beijo estalado na bochecha.
- Pena que você chegou meio tarde. – ela fez careta e encolhi os ombros.
- Talvez você tenha pedido seu socorro tarde demais.
- É, talvez. – ela abotoou minha camisa até o pescoço – Gostei dessa camisa xadrez. Vou roubar. – ela deu uma risadinha.
- Se você quiser posso tira-la agora. – falei malicioso e ela me abraçou com força.
- Não, são muitas meninas aqui, você não daria conta do assédio de todas.
- Quer apostar?
- Estou sem dinheiro aqui. – ela fez uma careta – Vamos embora desse lugar, minha cota estudantil já deu por hoje.
Andamos lado a lado até a escada e enquanto descíamos os degraus ela segurou minha mão e entrelaçou nossos dedos. Na maior parte do tempo quando saíamos juntos eu tinha medo de pegar em sua mão e ela negar meu ato, então eu sempre acabava esperando que ela o fizesse e nunca decepcionava.
Quando passamos pelo gramado pude ver a amiga dela que encontrei mais cedo e o garoto sentados em um banco e ele novamente me analisou por inteiro. acenou para os dois e perguntei se ela gostaria de ir até lá, mas ela negou com uma risadinha e me abraçou de lado.
Fomos almoçar em um restaurante japonês perto de sua casa e logo depois de eu pedir a conta ela se abaixou na mesa.
- O que foi? – perguntei confuso.
- Jenna. – ela sussurrou.
- Quem?
- A namorada do meu irmão, ela acabou de entrar. – ela pegou seu casaco na cadeira e se levantou – Vou te esperar lá fora.
Mal tive tempo de responder e ela saiu. Olhei-a caminhar até a saída, mas alguém a parou no meio do caminho. Era a mesma moça do desfile e aquele dia na sua casa. Me virei para a frente rapidamente e fingi estar lendo algo na conta. Chamei o garçom e lhe entreguei o dinheiro. Assim que me levantei vi as duas se despedindo e correndo para fora.
Tentei não parecer nem um pouco nervoso e passar disfarçadamente ao lado de Jenna que conversava algo com uma amiga. Peguei meu celular no bolso e fingi estar falando com alguém poucos segundos antes dela se virar e sorrir para mim. Cumprimentei-a com um aceno e sai, encontrando dentro de uma loja do outro lado da rua.
Jenna ainda podia ver as coisas do lado de fora pelo restaurante, então indiquei o fim da rua para . Dirigi bem devagar para que ela me alcançasse e ela suspirou alto quando entrou no carro.
- O que ela disse? – perguntei sem tirar os olhos dos carros a minha frente – Ela viu a gente?
- Se viu não disse nada. – ela falou brava.
- O que foi? – olhei-a rapidamente.
- É chato isso. – ela bufou – Eu não conto para as minhas amigas, pois não importa o quanto eu diga elas vão sempre achar que você é uns trinta anos mais velho. Já aconteceu isso com uma delas e foi um horror. Isso porque o cara só tinha dois anos a mais que a garota, imagine o que elas vão falar se souberem que temos cinco anos de diferença.
- Você não tem que se importar com a opinião dos outros, .
- Mas eu não me importo. – ela disse irritada – Eu não conto porque elas vão ficar enchendo o saco, mas tem também o idiota do meu irmão. Se a Jenna viu a gente junto tenho certeza de que ela vai contar.
- Talvez se você conversar com ela...
- Não. – ela gritou – Você ficou louco? E se ela não nos viu? Aí eu terei que explicar para ela e não sei mais o que. Vou acreditar que ela não nos viu.
- Tudo bem, mas vamos supor que ela nos viu e conte ao seu irmão, o que você vai dizer para ele? – eu não sabia se tinha perguntado aquilo por pura curiosidade ou estava esperando que ela disse algo do tipo sobre sermos um casal.
- Vou contar a verdade.
- Que é? – falei rindo, mas por dentro eu estava gritando querendo que ela falasse a coisa que eu mais queria ouvir.
- Que estamos... – olhei-a pelo canto do olho e a vi roer as unhas nervosamente – ... saindo.
Tentei não parecer abalado com sua resposta, mas eu tinha certeza de que falhei, pois pude vê-la me olhar triste.
Estacionei em frente ao seu prédio e neguei quando ela perguntou se eu queria subir.
- Tenho alguns trabalhos para fazer hoje.
- Ah, tudo bem. – ela colocou os cabelos atrás da orelha e pegou sua bolsa – Tem uma festa de uma amiga hoje...
Ela ia me pedir permissão para ir à festa minutos depois de ter dito que estávamos saindo e dado totalmente a entender de que não estávamos namorando?
- ... se você quiser ir comigo.
jamais me pediria permissão para ir a algum lugar, como pude ser tão tolo ao achar que ela faria isso. Desde o início ela se mostrou bastante independente e segura de si, como se não precisasse dar satisfações a ninguém sobre nada.
- Eu vou ver. – sorri meio forçado e ela assentiu.
- Vou te enviar o endereço por mensagem se você resolver ir de última hora.
- Tudo bem.
Ela se aproximou de mim e me deu um beijo rápido na bochecha, saindo mais rápido ainda. Esperei até que ela entrasse em seu prédio para ir embora e soquei o volante algumas vezes durante o caminho por ter sido tão idiota.
Nós não éramos a porra de um casal. Ela não iria pedir a minha permissão para ir a uma festa. Ela também não ia se lembrar de mim quando um cara bem mais legal e bonito aparecesse lá e pedisse para ficar com ela.
Fiquei imaginando ela com seu batom vermelho deixando que outros caras o “provassem” e comecei a sentir uma raiva descontrolada. Se eu tinha tanto ciúmes assim, porque diabos não criava coragem e a pedia em namoro? Ah, é claro, porque eu era um grandessíssimo idiota e patético.
Conversamos por mensagens pouquíssimas vezes durante o dia e eu pude notar que ela parecia chateada com algo que aconteceu mais cedo. Tentei ignorar isso e conversar normalmente com ela, mas chegou um horário em que ela simplesmente parou de me responder.
Dirigi até a casa de Peter para que pudéssemos fazer o trabalho e logo que entrei recebi uma mensagem de com o endereço da tal festa. Eram sete horas e ela provavelmente já estava quase pronta para ir.
Me foquei completamente no trabalho e esqueci totalmente de . Tomamos algumas cervejas assim que terminamos e ficamos jogando conversa fora. Acabei sem querer contando sobre ela e Reagan me olhava toda orgulhosa enquanto eu falava sobre o dia em que a “conheci” e todas as burradas que eu tinha feito até ficarmos “juntos” com bastante aspas.
- Quem diria que realmente gosta de mulher. – Peter disse rindo – Nós precisamos conhecer essa garotinha que roubou seu coração.
- Cala a boca. – Reagan disse irritada – Qual o problema de ela ser mais nova?
- Qual é, vai falar que você não se sentiria estranha se namorasse um cara mais novo que ainda por cima é irmão de uma amiga sua e para completar você viu o garoto crescer.
- Muitos amigos de infância ficam juntos.
- Mas eles não são mais velhos. – Peter argumentou – Tenho certeza de que você a via como uma irmãzinha quando vocês eram crianças. – ele me olhou rindo.
- Ela é bem mais madura que você. – apontei-o com a garrafa e eles todos gargalharam.
- A gente te dá todo o apoio, irmão. – Thomas me deu um tapinha nas costas – Mas não vamos te defender se o irmão dela decidir quebrar tua cara.
- Não sei nem se eu conseguiria me defender, pois ele tem um baita de um motivo para isso. – tomei um logo gole de minha cerveja.
Olhei no relógio e já era quase uma da manhã, então me despedi deles e fui embora pensando se mandava ou não uma mensagem para perguntando como tinha sido a festa.
Tomei um banho rápido quando cheguei em casa e fiquei deitado na cama esperando qualquer mensagem que fosse de , mas eu estava novamente criando esperanças e expectativas demais para algo. Ela provavelmente nem tinha chegado em casa ainda.
Vesti uma roupa qualquer e desci as escadas do prédio correndo até a garagem. Dirigi devagar até sua casa e logo que entrei na sua rua a vi de braços dados com um cara. Parei o carro no mesmo lugar e fiquei vendo-os. Eles ficaram parados em frente ao prédio conversando e ela parecia rir de tudo o que ele falava. ficou na ponta dos pés e entrelaçou seus dedos em sua nuca. Semicerrei os olhos e vi eles dizendo algo contra o lábio um do outro, beijando-se antes que eu pudesse raciocinar sobre.
Eu tinha sido um completo idiota por ter saído de casa no meio da noite para ir vê-la. Era óbvio desde o início. era ousada, independente e as vezes atrevida, gostava de brincar com caras em bares, ela não ia se prender no melhor amigo do irmão dela. Ela gostava de sair para festas com pessoas da sua idade, ficar com quem quisesse e eu era o tipo de pessoa que ia sempre para o mesmo bar na sexta à noite e passava meus domingos jogando videogame.
Não abaixei a cabeça por um segundo sequer enquanto eles se beijaram pelo que pareceu uma vida inteira. Vi ele indicar o prédio e ela negar com uma risadinha, empurrando em seguida. Eles se despediram com um beijo e entrou. O cara olhou para trás várias vezes e notei que era o mesmo de hoje na faculdade, nas fotos e em tudo na sua vida.
Em um ato totalmente idiota, liguei o carro e estacionei em frente ao seu prédio. Eu não conseguia pensar no que eu falaria ou faria, mas eu precisava falar com ela e esclarecer as coisas na minha cabeça.
Subi correndo as escadas e bati em sua porta algumas vezes até ela atender com uma cara entediada sem nem olhar.
- Eric, já disse que não... – ela me olhou surpresa e fez uma careta que eu acharia engraçada se a situação fosse outra – , o que você... eu te liguei sem querer? Desculpa.
- Não, não. – neguei com a cabeça – Eu... eu senti sua falta. – suspirei com o tamanho da idiotice que eu tinha dito.
Era só ser verdadeiro com ela e falar “eu vim te ver, mas você estava beijando outro lá embaixo e agora vou agir igual um idiota porque é isso que eu sou”.
- Ah. – ela mordeu o lábio – Está meio tarde, você não acha? – ela disse meio sem graça.
- Sim. Eu vou.... – apontei a escada – Eu vou indo.
Desci as escadas degrau por degrau sem a menor vontade de finalmente chegar ao meu carro e depois na minha casa, onde eu ficaria me achando o maior panaca do universo por não ter me aberto com ela e por ter saído atrás dela de madrugada.
Assim que abri a porta do carro ouvi passos extremamente altos no prédio e virei-me para trás encontrando uma ofegante e de cabelos bagunçados.
- O que você veio fazer aqui? De verdade? – ela me olhou meio culpada.
- Eu vim te ver. – suspirei – Eu não conseguia parar de você e aí resolvi... vir de ver, mas... – respirei fundo algumas vezes e baguncei os cabelos com raiva.
- Mas?
- Eu vi algo que... algo que eu não queria. – suspirei – É melhor eu ir embora, ok? – ela me olhou triste – A gente se vê por ai... algum dia desses.
Entrei no carro e olhei antes de fechar a porta. Seus olhos estavam marejados e ela se apertava dentro da blusa de frio.
- Você... você está meio que... me dispensando? – ela disse com um sorrisinho triste.
- Eu não sei, , de verdade. – sai do carro e segurei seus ombros – Você está me deixando louco. Uma hora nós estamos juntos, felizes e depois você se magoa com algo e começa a se distanciar. Aí eu venho te fazer uma surpresa ou qualquer coisa idiota que eu tinha na cabeça e te vejo beijando o mesmo cara que fez com que eu me afastasse de você.
- Sinto muito por você ter visto. – ela me abraçou com força, mas eu não consegui fazer o mesmo.
- Você não tem que me pedir desculpas. – suspirei – Nós não... não somos um casal, você pode fazer o que quiser.
- Por que você sempre faz isso? – ela me deu um soco forte no estomago e eu me dobrei com dor.
não parecia se importar se eu estava com dor, ela só continuou a me dar socos em todos os lugares possíveis.
- Você sempre dá ênfases em não sermos um casal ou sempre acaba trazendo o assunto para a conversa. – ela começou a chorar – Talvez você seja mesmo o idiota que acredita. – ela me empurrou contra o carro e se sentou nos degraus em frente ao prédio.
Continuei abaixado tentando me recuperar, mas sem tirar os olhos dela que chorava compulsivamente. Eu queria me matar por fazê-la chorar daquele jeito, era horrível vê-la daquela forma.
- Eu não faço por mal. – falei com um pouco de dor e ela jogou algo em minha cabeça.
- Cala a boca. Não quero ouvir sua voz. – ela soluçou – Merda, eu tenho a porra de um ensaio de fotos e você fica me fazendo chorar. – ela jogou algo na minha cabeça novamente dessa vez com mais força e vi que eram seus tênis.
Peguei eles do chão e me abaixei em frente a ela. Calcei eles em seu pé e achei que a qualquer momento ela fosse me dar um chute na boca ou coisa do tipo, mas ela só continuou fungando.
- Por que você ainda está aqui? – ela segurou os joelhos e dei de ombros.
- Porque eu gosto de você. – suspirei.
- É, estou sabendo já.
- Caramba, . – respirei fundo – Porque você é desse jeito? Você não consegue ver que eu estou tentando te falar algo importante, pelo menos para mim.
- Eu sei. – ela cruzou os braços e respirei fundo algumas vezes.
- Eu te amo, tá? Eu amo você, e eu estou cansado pra caralho para ficar só pensando nas coisas, pensando se você quer curtir sua vida sozinha ou quer ficar comigo, e de ter que ver você beijando o mesmo maldito cara que... eu não faço ideia de onde aquele infeliz aparece, mas ele sempre fode a minha vida sabia? – falei frustrado e ela começou a rir – Eu sei que eu fodo com tudo, que dou ênfases em não estar juntos, mas é porque eu tenho medo de te pedir para ter um relacionamento comigo e você falar que não quer porque tem coisa melhor para gastar seu tempo do que comigo.
- Sabe, eu podia estar lá em cima no quentinho tendo um maravilhoso sono de beleza para não estar horrível amanhã, mas eu estou aqui ouvindo você se declarar para mim e tirar conclusões totalmente idiotas de mim. – ela falou rindo – Você não tem o mesmo dom de desvendar as pessoas igual eu tenho.
Fiquei vendo-a rir de mim e toda a raiva que eu tinha criado rapidamente daquele babaca tinha ido embora tão rápido quanto apareceu. Ela segurou meu queixo e ficou brincando com seu nariz no meu.
- Eu sei que você me ama, . – ela sussurrou.
- Sabe? – olhei-a surpreso e ela assentiu.
- Já tem alguns dias. – ela encolheu os ombros – Eu quero perder meu tempo com você. – ela passou seu nariz pela minha bochecha – Quero ficar te assistindo jogar videogame aos domingos, te ver trabalhando do jeito mais preguiçosamente na cama... eu quero ver seu rosto perfeito em todos os meus desfiles. – ela beijou meu pescoço e suspirei alto.
- Você está dizendo que quer...? – falei de olhos fechados e ela chupou meu pescoço.
- Quero o que? – ela mordiscou minha orelha – Eu não vou tirar conclusões precipitadas. – ela deu uma risadinha e me olhou.
- Namorar comigo?
- Você está me pedindo em namoro, ? – ela dei uma risadinha e eu assenti – Só se você prometer não babar nas minhas amigas modelos e não ficar muito metido quando eu for extremamente famosa.
- Eu sou tenho olhos para você. – sorri – E você pode não ser famosa para o mundo, mas é a melhor de todas as modelos no meu coração.
- Onde você escondeu esse romantismo todo durante esses dias? – ela sorriu com os olhos marejados.
Segurei seu rosto com firmeza e beijei seus lábios calmamente. Eu não fazia ideia de que a amava de verdade até falar aquilo em voz alta. Ela me queria. queria ficar comigo por mais patético que eu fosse.
Algo molhado tocou minha bochecha e se perdeu em nosso beijo. Abri os olhos e a vi chorando de um jeito fofo. Enxuguei seus olhos e ela sorriu carinhosamente.
- É bom que você saiba fazer maquiagem para esconder olheiras, porque eu vou precisar. – ela me abraçou com força.
Apertei o alarme do carro e passei o braço por baixo de seus joelhos, pegando-a no colo enquanto ela gargalhava alto. Carreguei-a escada acima e me assustei ao ver sua porta aberta.
- Ops. – ela deu uma risadinha – Eu estava com um pouco de pressa.
Fechei a porta com o pé e a levei até seu quarto. A cama estava cheia de roupas e fomos jogando-as no chão.
Ela tirou meu moletom e minha blusa, tentando com dificuldade abrir meus jeans. Tirei seu casaco e puxei seu vestido para cima, sorrindo igual um idiota ao ver seu peito nu. rolou para o lado e a puxei pelas pernas, tirando sua meia calça junto das calcinhas e o tênis.
- Você está com muita roupa. – ela resmungou.
- Sim. E você está sem nenhuma porque vai tomar um banho e dormir. – peguei-a pela cintura e a levei até o banheiro.
- Vem comigo. – ela disse quando a coloquei em pé no box.
- Não, senhora. – neguei com a cabeça e ela riu – Você quer comer algo?
- Nop. – ela estalou a boca – Pode ir deitar, eu já vou. – ela mandou um beijo no ar.
Guardei as roupas do chão e deixei um pijama de arco-íris em cima da cama para que ela vestisse. Tirei minha calça e sapatos, deitando embaixo de sua coberta extremamente colorida e peluda da qual ela chamava de Sully.
Eu estava quase cochilando quando ela se deitou junto de mim e aninhou-se em meu peito.
- Colocou seu relógio para despertar?
- Sim. – ela beijou meu peito.
Me obriguei a não dormir enquanto ela ainda estivesse acordada. Afaguei seus cabelos e aos poucos sua respiração foi ficando pesada.
Acordei com o celular de tocando extremamente alto e acordei-a para que fosse se arrumar. Ela resmungou um pouco e foi tomar banho.
Fui para a cozinhar lhe preparar algo e cortei algumas frutas que estavam na geladeira e as coloquei em uma tigela em cima do balcão com a última caixinha de suco.
- Odeio acordar cedo aos sábados. – ela se sentou em minha frente resmungando – Eles não podem marcar essas coisas para um horário em que eu estiver mentalmente acordada? – ela furou a caixinha com raiva.
- Se você reclamar muito vão aparecer rugas. – falei rindo e ela me olhou brava.
- Eu estou um horror. – ela enfiou uma colher cheia de frutas na boca – Meus olhos estão muito inchados? – ela disse de boca cheia – Olha para quem vou pedir opinião. – ela revirou os olhos.
- Qual o problema com a minha opinião? – falei rindo – Eu estou sendo sincero, você está....
- Linda, perfeita, blá blá blá. – ela gesticulou – Eu vou estar sempre linda para você.
- Até quando fala de boca cheia. – dei de ombros e ela finalmente sorriu – Quer que eu te leve?
- Pode ser. – ela encolheu os ombros.
Lavei as louças enquanto ela foi terminar de se arrumar, o que parecia estar levando uma eternidade.
- , vou te esperar lá embaixo. – gritei para ela.
- Tudo bem, já vou descer.
Assim que sai de seu prédio e desativei o alarme do carro vi e a namorada chegando. Meu coração parou e senti meu corpo ficar frio. Minhas mãos estavam suando e tentei não parecer nervoso.
- E aí? – ele sorriu.
- Oi. – sorri nervoso – O que vocês estão fazendo por aqui? – maravilhosa pergunta, .
- Minha irmã mora aqui. – ele apontou ao prédio – E você?
- Um... um colega da faculdade mora aqui e vim trazer... umas coisas que ele... que ele ia precisar. – cocei a nuca e ele assentiu.
- Jenna, você sobe lá e chama a ? – ele falou para a garota e ela assentiu.
- Foi bom te ver de novo, . – ela disse.
Assim que ela começou a subir os degraus de entrada apareceu. Ela olhou para todos nós surpresa e seu rosto ficou extremamente pálido.
- O que vocês estão fazendo aqui? – ela gaguejou.
- Olha quem eu encontrei por aqui. – deu um tapinha nas minhas costas e ela sorriu amarelo.
- Ah, oi, . – ela colocou o cabelo atrás da orelha – O que você veio fazer aqui?
- Ele estava na casa de um amigo...
- Não ele, você, . – ela disse irritada.
- Sua mãe disse que você tinha um ensaio hoje e já que estávamos na cidade resolvemos vir te levar. – Jenna sorriu e assentiu.
- Tudo bem. – ela suspirou – Vocês precisam... precisa começar a me avisar da coisas, sabiam?
Eu não conseguia falar nada e muito menos me mover direito. E se não tivesse demorado ou eu tivesse a esperado lá em cima? Ou pior, nós podíamos ainda estar dormindo e eles chegarem.
- Para de ser chata, você ia ter que pegar ônibus ou pagar um taxi para ir. – riu.
- Vamos logo. – ela resmungou.
- Mulheres. – disse rindo para mim e sorri nervosamente – A gente se vê, .
- Até mais. – acenei com a mão.
Eles caminharam até o carro de e antes de entrar a vi sussurrar “desculpa”. Esperei até que eles sumissem pela rua para ir embora.
Ter que esconder nosso namoro ia ser uma droga. Essa já era a terceira vez que eles quase nos pegavam juntos. Eu não gostava nem de pensar o que faria se descobrisse. Ele sempre foi extremamente protetor com , as vezes de um jeito até meio estupido que incomodava as pessoas. Me perguntei se ele fazia ideia da nova vida de sua irmã em Dublin cheia de cervejas, cigarros e festas.
Ainda não tinha caído totalmente a ficha de que nós dois estávamos namorando e de todas as coisas que ela me disse. Ela estava certa ao dizer que eu tinha tirado conclusões precipitadas, mas isso era mais por conta do estilo de vida que ela levava.
Tirei a tarde para terminar alguns trabalhos e responder e-mails, alguns deles me convidando para fotografar desfiles. Me perguntei se tinha sido chamada para algum, mas talvez ela nem soubesse da existência deles.
Meu celular começou a vibrar em cima do balcão, notificando uma nova mensagem não lida.
“Sinto muito mesmo por mais cedo”.
“Sem problemas” digitei.
“A Jenna falou para ele que viu você no restaurante e perguntou se eu tinha visto que você estava lá, mas eu neguei. Ele queria saber quem era seu amigo que morava por lá e comecei a desconversar totalmente”.
“Você quer falar para ele sobre a gente? “
“Melhor não”.
Eu também não sabia se eu queria falar para ele. não ia aceitar nada bem seu melhor amigo namorando sua irmã cinco anos mais nova que eu. Ele sempre costumava dizer que era horrível namorar garotas mais novas porque elas se apegavam muito fácil, mas com e eu tinha sido completamente diferente, pois me apeguei a ela nos primeiros segundos em que a vi.
A agência de tinha me contratado novamente, dessa vez para fazer um vídeo com apenas algumas modelos selecionadas para uma campanha na internet. Ela tinha me contato que iria fazer o vídeo e parecia extremamente empolgada.
- Eu nem consigo acreditar. – ela riu sozinha – Foi precisava estar lá para ver, algumas delas pareciam que iam morrer a cada nome que era chamado.
- Você é muito malvada, sabia? – me sentei ao seu lado e ela subiu em meu colo.
- Não sou não. – ela fez bico – Eu não tenho culpa que nasci para brilhar. – ela jogou os cabelos para trás – Só espero que a pessoa que vá fazer o vídeo faça ele tão bem quanto aqueles seus da faculdade que você me mostrou.
- Virou crítica dos trabalhos do audiovisual, ? – falei rindo e ela assentiu.
- Estou aprendendo uma coisinha ou outra com meu namorado. – ela me deu um selinho – Embora eu quisesse muito que fosse você. – ela disse manhosa e sorri apaixonado.
- Por quê?
- Só pelo gostinho de te ver babando em cima de mim enquanto eu te olho do jeito mais sexy possível. – ela mordeu o lábio.
- Isso é tudo culpa minha, inflei seu ego demais. – virei-a no sofá.
Comecei a fazer cócegas em sua barriga e ela gritava e ria pedindo que eu parasse. Peguei-a no colo e a levei para o meu quarto, colocando-a carinhosamente na cama bagunçada.
Procurei seu batom vermelho em sua boca e fiz um enorme esforço para pintar seus lábios enquanto ela ria.
- O que você está fazendo?
- Como vocês conseguem passar essa coisa? – entreguei-lhe a embalagem e ela deu de ombros.
- Muita prática. – ela falou enquanto passava o batom perfeitamente em seus lábios sem nem precisar olhar em lugar nenhum – Ficou bom? – assenti – O que você vai fazer?
Peguei minha câmera na mochila e fiz alguns ajustes, indicando para que ela se sentasse em frente à janela. Tirei algumas fotos suas e ela parecia tão natural em frente a câmera que não precisei falar nada, pois ela parecia saber exatamente o que fazer. Ela desabotoou um pouco minha camisa que ela vestia e abaixou, deixando seu ombro desnudo. olhou para mim de uma forma tão inocente que até me esqueci de fotografa-la até ela dizer.
Ficamos o restante da tarde tirando fotos e até gravei um curto vídeo em que ela pulava na cama e depois ficava dançando no quarto de mãos dadas para mim. Ensinei-a como usa o programa de edição de fotos e a deixei que as editasse do jeito que ela queria enquanto eu editava seu vídeo.
Eu estava nas nuvens com ela. Estávamos juntos a exatamente um mês e as coisas pareciam só melhorar mesmo com algumas brigas. Ela continuava indo para suas festas e eu a sair com meus amigos. A buscava na faculdade e passava a tarde em sua casa ajudando-a a fazer recortes de revistas que ela apenas gostava de colar em seu diário. Íamos a praia algumas vezes para que ela pudesse pintar e eu fotografa-la no que parecia seu habitat natural.
- Terminei. – ela colocou o notebook na mesa ao lado do computador – Vê se ficaram boas. – ela disse empolgada.
Fui passando as fotos e eu nem conseguia reparar na edição, pois a coisa que mais me chamava atenção era o jeito que ela tinha onde parecia olhar para mim através da tela.
- E aí? Gostou? – ela segurou-me pelas bochechas e assenti – Preciso tarjar meu rosto para você prestar atenção na foto direito? – ela fez bico.
- Eu não tenho culpa se minhas fotos são ótimas e a modelo dá um toque especial nelas. – falei rindo e ela revirou os olhos – Ficaram boas. – beijei seus lábios – Mas o que eu te ensinei foi basicamente adicionar um tipo de filtro pronto e a mexer na exposição.
- Me deixa, , eu sou a melhor das editoras de fotos. Me contrate como sua ajudante. – ela virou a cadeira e se sentou em meu colo.
- Se você for minha assistente eu não vou ter olhos para nada que não seja você. – acariciei seu rosto.
- Você infla meu ego e depois não quer que eu seja convencida. – ela riu – Agora me deixa ver o vídeo. Você terminou? – ela olhou para a tela do computador com uma cara confusa – O que é tudo isso? – ela apontou para a linha do tempo.
- Eu coloco os arquivos aí e vou fazendo cortes, transições, e outras coisas. – mostrei a ela como funcionava.
Apertei o play e se agarrou em mim, apoiando a cabeça no meu ombro. O vídeo todo tinha ficado com quase dois minutos e coloquei uma música lente que eu tinha ouvido em seu celular dia desses. Ela o assistiu umas três vezes até me olhar com um sorriso enorme.
- Ficou lindo. – ela me beijou – A parte que eu mais gostei foi das nossas mãos entrelaçadas enquanto eu dançava. – ela sussurrou contra meus lábios.
- Minha parte favorita é a que você aparece. – lhe dei um selinho e ela sorriu de um jeito apaixonado.
Ela colocou o vídeo e as fotos em sua página no Facebook e não precisamos nem falar sobre a necessidade de não me creditar para que seu irmão não descobrisse.
- é um babaca. – ela disse emburrada.
Permaneci quieto e ela pegou o notebook e se deitou na cama, digitando algo rapidamente.
- Você pode acha-lo um babaca se você quiser. – ela disse despreocupadamente.
Virei para trás e ela estava de bruços digitando algo e balançando os pés no ar.
- Ele só se preocupa com você.
- Ele é um idiota. – ela me olhou por cima do ombro – Ele me ligou assim que viu aquela foto minha na festa...
- Beijando alguém. – fiz careta e ela riu.
Eu nem me preocupei em saber o nome dele e ela achava engraçado o fato de todos os amigos dela, ele ser o que eu mais “odiava”.
- Sim, beijando alguém. – ela disse rindo – Ele não entende que eu cresci e sou uma mulher adulta que pode fazer o que bem quer.
- Ele se preocupa de um jeito diferente com você. – dei de ombros e ela bufou.
- Você pode tenta-lo defender do jeito que quiser, para mim meu irmão ainda é um imbecil. – ela disse irritada – Tem momentos que ele trata a Jenna como se não se importasse se ela fosse embora da vida dele no dia seguinte.
- Sério? – perguntei surpreso e ela assentiu.
- é bastante paranoico. Ele mudou bastante desde que você foi embora. Ele acabou ficando muito parecido com seus amigos americanos otários e agora é um deles. – ela se sentou com as pernas cruzadas – Às vezes eu queria que Jenna terminasse com ele e encontrasse alguém tipo você. – ela abaixou a cabeça.
- Eu não sou perfeito. – falei envergonhado.
- Eu não disse que era. – ela me olhou – Mas você é diferente de outros caras que namorei e de muitos homens que eu conheço. – ela colocou o cabelo atrás da orelha – Você está sempre me elogiando e me colocando para cima. A única vez que meu irmão “elogia” a namorada dele é para falar que tal roupa está melhor nela porque com a outra ela estava horrível.
- Não sei o que dizer. – falei sincero e ela deu de ombros.
- Está tudo bem. – ela sorriu de lado – Minha mãe as vezes não consegue acreditar que o filhinho dela virou um babaca e namora uma garota legal feito a Jenna.
- Sua mãe... ela sabe sobre a gente?
- Mais ou menos. – ela mordiscou a unha.
- Como assim? – me sentei ao lado dela.
- Ela sabia que eu estava saindo com alguém um pouquinho mais velho, e aí quando começamos a namorar eu só contei a ela que estava namorando.
- Então ela não sabe que sou eu?
- Por mais feliz que ela fosse ficar por eu estar namorando o precioso e educado , eu resolvi não contar. – ela deitou a cabeça na minha perna.
- Por que não?
- Ela ia ficar feliz demais e acabar contando para o meu irmão. – ela suspirou – Você sabe como minha mãe sempre foi sua fã. – ela deu uma risadinha.
- Não tenho culpa se eu sempre fui um bom partido. – falei convencido e ela mordeu minha perna de leve.
- Quando meu irmão contou que você se mudaria para Dublin foi o pior dia da minha vida. – ela sorriu envergonhada – Eu não ia mais poder te ver depois da escola. As primeiras semanas sem você lá foram horríveis.
- Você me amava tanto assim, ?
- Eu não te amava. – ela disse autoritária e se levantou – Eu tinha uma paixonite por você, era diferente.
- Diferente por quê? – provoquei-a.
- Eu só gostava de você porque você estava sempre por perto e era legal comigo, tecnicamente eu fui obrigada a gostar de você.
- E agora? – segurei sua cintura e a puxei para perto.
- Agora eu não faço a mínima ideia. – ela encolheu os ombros – Mas é diferente.
- Diferente como?
- Antes era coisinha passageira, amor de criança, mas agora... – ela abaixou a cabeça e vi que ela estava tentando esconder as bochechas coradas com o cabelo - ... agora eu amo você e não acho que seja algo que vá passar.
Abri o maior sorriso do mundo ao ouvi-la dizer aquilo. Desde que começamos a namorar eram raras as vezes que eu falava que a amava, pois não queria que ela se sentisse obrigada a dizer o mesmo.
- É bom dizer isso. – ela sorriu apaixonada.
- E é bom ouvir isso. – puxei-a para cama junto comigo.
- Você não ficava triste por eu não dizer que te amava? – neguei com a cabeça e ela brincou com meus cabelos – Porque não? Eu ficaria.
- Porque eu queria que fosse natural, eu não queria te obrigar a sentir algo por mim ou dizer algo só para me agradar.
- Eu nunca mentiria para você sobre algo desse tipo. Nem para você e nem para qualquer outra pessoa.
- Você diz várias vezes que eu sou bonito e o cara mais legal que você conhece, mas eu sei que você só fala isso para me agradar.
- Ai meu Deus. – ela deu um tapinha em meu peito e comecei a rir – Eu não vou te elogiar agora. Agora você está muito feio e chato. – ela fez bico – Mas eu ainda te amo, .
- Eu também te amo, .
Estacionei o carro em frente a locação onde seria feito o vídeo e vi conversando com algumas pessoas e rindo alto. Fiquei vendo-a de dentro do carro e parecia que a cada segundo eu ia me apaixonando mais e mais. O jeito que ela falava algo e colocava os cabelos atrás da orelha, quando os prendia no topo da cabeça com força deixando sua franja toda bagunçada apenas para se concentrar totalmente em algo que ela fazia. A cada dia que passávamos juntos ela aparecia com mais motivos para que eu me apaixonasse por ela.
Desci do carro e uma das modelos disse algo e ela riu alto, olhando para mim com uma expressão feliz, mas também surpresa. Peguei minhas coisas e caminhei até elas. Eu não sabia se alguma delas sabia algo sobre nós dois, mas eu não iria arriscar.
- Oi. – falei assim que passei por elas e algumas deram risinhos bastante indecentes.
- Oi. – disse sorrindo.
Passei por elas e as ouvi começarem a falar rapidamente umas com as outras.
- Ele é muito gato, o que vocês aprontaram aquele dia que ele te deu carona, ?
- Nada. – disse constrangida – É, ele é bonitinho.
- Bonitinho? Você é louca. – uma delas riu alto – Se você não quer eu quero.
Fingi que não tinha ouvido nada e logo elas começaram a entrar atrás de mim.
- Então você vai fazer o vídeo de hoje? – uma garota morena com os cabelos cacheados até a cintura disse e percebi que era ela quem tinha chamado de louca.
- Sim. – sorri simpático.
- As fotos que você fez aquele dia ficaram muito boas.
- Obrigado.
- Você faz ensaios particulares? – assenti e ela chamou as meninas para perto de nós – O que você acha de fazer um ensaio de algumas de nós? Menos da porque essa metida já fez e não nos chamou. – ela fez biquinho e deu de ombros.
- Claro. – sorri.
- Passa seu número que a gente ela em contato. – uma outra disse com um sorriso malicioso.
Passei meu número para elas e vi revirar os olhos com um sorrisinho no rosto. Eu não conseguia saber se ela estava com ciúmes ou se divertindo com tudo aquilo que acabava me deixando um pouco constrangido. Fama era uma coisa que eu jamais iria gostar, pois o pouco “assédio” que eu recebia de algumas garotas bonitas já me deixava totalmente envergonhado.
- Vocês são muito atiradas, sabia? – riu – Deixa o garoto em paz. – ela foi empurrando-as.
- Nós ligaremos para combinar algo. – uma outra disse e eu assenti sorrindo.
O local estava pronto e cheio de araras com roupas para elas se trocarem. Conversei com a mesma mulher do outro dia e ela foi me explicando como seria e qual o foco do vídeo.
recebia elogios de sua agente em tudo o que ela fazia, fosse um sorriso ou o jeito que posava. Queria saber se eu era o único ali que percebia ela me provocando de um jeito sensual, mas também infantil. Ela era perfeita em tudo que fazia, e o fazia com tamanha destreza que eu estava prestes a pedir um babador.
Elas entraram para se trocar e voltaram minutos depois todas trajando biquínis coloridos e fluorescentes. Tentei ao máximo não ficar vermelho com os olhares que todas me lançavam, mas foi impossível e percebeu, pois me olhou tentando esconder o riso.
Uma moça ligou um ventilador e outra começou a jogar alguns confetes enquanto elas dançavam para a câmera. parecia tão leve e feliz que acabava me deixando exatamente do mesmo jeito.
Terminamos as filmagens em torno das seis da tarde e algumas delas vieram conversar comigo enquanto eu guardava os equipamentos.
- O que você achou? – uma ruiva perguntou – Estávamos bem?
- E-estavam. – sorri e ela deu uma risadinha maliciosa.
- Tudo bem, meninas, vão se trocar. – a agente delas apareceram e elas correram para dentro – Se eu pudesse conseguiria o melhor contrato do mundo para todas, pena que eu não posso. – ela suspirou.
Instantaneamente pensei em e no quão ela realmente merecia o melhor contrato do mundo para modelar. Terminei de guardar minhas coisas e esperei por ela encostado no carro.
Ela saiu de braços dados com a ruiva, conversando algo de um jeito animado e sorriu largamente ao me ver. Ela se despediu das garotas e correu até mim. Vi-as todas olhando para se aproximar de mim e me beijar. Passei o braço por sua cintura e abri a porta do carro para ela. Olhei para as meninas quando entrei e as vi rirem e provocarem que apenas deu de ombros. Ela abaixo o vidro e se apoiou na porta quando liguei o carro.
- Desculpa, meninas, mas acho que o fotografo bonitinho já tem namorada. – ela falou rindo e pude ouvir as meninas gargalharem.
Ela voltou para dentro e fechou o vidro, deitando a cabeça em meu ombro.
- Porque você não me contou? – ela disse manhosa.
- Você estava tão feliz que eu não quis te ofuscar. – falei rindo e ela beliscou minha barriga.
- Querido, minha estrela brilha tanto que ela não iria se apagar por sua causa. Metido. – ela gargalhou.
- Onde você quer ir? – beijei seus cabelos quando parei em um sinal vermelho.
- Podemos comprar algo para comer e ficar na sua casa, o que você acha? – ela acariciou meu rosto – Eu não tenho aula amanhã e posso te esperar lá até que você volte.
- Tudo bem. – lhe dei um selinho.
Fomos até um mercado perto de casa e parecia uma criancinha empurrando o carrinho e pegando qualquer coisa a sua vista e pedindo com um biquinho para que eu comprasse. Deixei que ela fosse pegar lasanha congelada e fui até o corredor de bebidas pegar cervejas e suco de caixinha para ela.
Assim que estávamos saindo, vi um cara idêntico a falar algo com alguém dentro de seu carro e empurrei até o meu. Ela me olhou assustada, mas apenas abaixei sua cabeça e a guiei.
- O que foi? – ela disse quando a coloquei dentro do carro.
- Seu irmão. – falei enquanto colocava as comprar no banco de trás.
- Claro que não, amor. Ele está nos Estados Unidos, minha mãe teria avisado se ele estivesse por aqui.
- Então acho que sua mãe não está sabendo de nada, porque eu tenho certeza que era ele. – entrei no carro e ela me olhou.
- Uma hora ele vai descobrir, , não adianta ficar escondendo. – ela falou irritada.
- Uma hora, não hoje porque eu estou morrendo de fome. – falei rindo na intenção de faze-la sorrir, mas ela virou o rosto para a janela e me ignorou durante todo o caminho.
Ela me ajudou a subir com as compras ainda sem falar uma palavra. O mesmo aconteceu enquanto guardávamos as coisas e depois colocávamos a lasanha no micro-ondas.
- Ei. – segurei seu braço quando ela estava saindo da cozinha.
- Que? – ela falou triste.
- Eu sei que seu irmão tem que descobrir, mas você achava que aquela era uma boa hora? – acariciei seu rosto e ela me afastou.
- Quando vai ser uma boa hora para você? – ela disse irritada e foi para o quarto batendo os pés.
Peguei dois pratos e nos servi, mas ela parecia não querer vir. Chamei-a algumas vezes e ela não respondeu. Fui até o quarto e a encontrei na cama digitando algo no celular.
- Vem comer. – puxei-a pelas pernas e ela começou a rir.
- Me carrega. – ela abriu os braços e a peguei no colo.
Carreguei-a até a cozinha e a coloquei sentada em um dos bancos em frente ao balcão. Abri a geladeira para pegar as cervejas e a campainha tocou. Olhei para a porta curioso e correu até lá.
Peguei as garrafas na geladeira e olhei para a porta vendo tentando fechá-la.
- Sai. – ela gritou e fez força, mas a pessoa do outro lado era mais forte.
Corri até ela e a tirei de lá, vendo e Jenna do outro lado. A garota estava chorando enquanto estava com o rosto vermelho e uma expressão de ódio.
- Eu tentei ao máximo acreditar que era algo da minha cabeça, mas eu vi vocês dois juntinhos hoje. – ele rosnou – Como você teve coragem, ? A minha irmã. – ele gritou e empurrou-me para dentro.
Jenna tentou segura-lo, mas ele a empurrou em cima de .
- É a minha irmã, porra. – ele me deu um soco na boca – Eu juro que tentei fingir que vocês dois não estavam tendo algo, mas era bastante estranho você se escondendo no carro na frente do prédio dela, depois a Jenna viu os dois saindo do mesmo restaurante e você toda assustada. – ele gritou para que parecia inabalada – Sem contar de quando você saiu do prédio dela bem de manhã e ficou todo nervoso quando viu a gente.
- Vai embora, – gritou.
- A gota d’água foi ver vocês se beijando enquanto andavam juntinhos pelo mercado. – ele gargalhou – Eu não podia me enganar mais uma vez quando o óbvio estava ali na minha cara.
Ficamos nos encarando e eu nem sabia o que falar ou se devia falar algo. Ele sabia e pronto. Senti o gosto de ferro na minha boca e continuei parado enquanto ele me olhava com ódio.
- De todas as pessoas do mundo, , você resolveu trepar justo com a minha irmã? – ele gritou e me acertou novamente.
e Jenna tentaram segurar ele, mas era mais forte que as duas e continuou me acertando. Coloquei meu antebraço em seu pescoço e fui empurrando-o até nós dois virarmos no sofá. Ele caiu em cima de mim e aproveitou para me acertar mais dois socos.
Vi pular pelo sofá e pular nas costas dele. Ele a jogou no chão e acertou um tapa com força em seu rosto. Ela permaneceu imóvel, apenas olhando-o furiosa. Uma onda de raiva passou por meu corpo ao ver seu rosto ir ficando vermelho onde ele a acertou.
Segurei-o pelo pescoço e o empurrei longe dela. Acertei seu rosto até ver o sangue escorrendo pelo seu supercilio. Uma delas pulou nas minhas costas e apertou meu pescoço enquanto dava chutes no ar até que conseguiu acertar . Me levantei e vi Jenna ajoelhada no chão chorando. Ele se levantou e se soltou de mim e foi para cima dele. Puxei-a pela cintura e ela se debatia no ar tentando se soltar.
- Vai embora. – ela gritava para o irmão – Vai embora daqui.
- Eu quero você longe dela. – rosnou para mim – Eu quero você longe da minha irmã. Não quero saber de você perto dela.
- Eu amo a sua irmã. – gritei – O que você vai fazer agora?
- Se eu pudesse te mataria...
- Então pode matar. – soltei e fui para cima dele – Você pode me matar porque eu amo a sua irmã e você vai ter que aceitar.
- Ela é uma criança, . – ele me empurrou – Você podia ter quantas mulheres quisesse, mas quis justo a minha irmã.
- Não sou mais criança. – gritou – Eu sei o que é certo e errado para mim.
- Como não é mais criança se continua agindo feito uma?
- , para com isso, vamos embora. – Jenna se aproximou dele.
- Você fica fora disso. – ele ralhou com ela que se encolheu toda e começou a chorar baixinho – Você sabia disso?
- Não. – ela negou com a cabeça freneticamente – Eu te disse que só encontrei eles, mas eles não estavam juntos.
- Mentirosa. – ele gritou.
- Eu juro. – ela o empurrou – Ela estava sentada em uma mesa com algumas amigas e ele estava sozinho.
- Você quer enganar quem? – ele riu – Você sempre passa a mão na cabeça das coisas que ela faz...
- E ela sempre passa a mão na sua quando falam para ela que você é um bosta. – gritou.
- Eu vou acabar com você. – ele rosnou para ela – Vamos embora. – ele empurrou Jenna e segurou pelo braço.
- Me solta. – ela gritou.
- , solta ela.
- Fica fora da vida da minha irmã. – ele me acertou com força e me empurrou para trás.
Minha cabeça começou a girar e vi a imagem embaçada dele carregando pelos ombros enquanto Jenna dava socos em seu braço.
- . – gritou – .
Ela segurou o batente da porta e a puxou com força. Ouvi o baque alto de sua cabeça contra a parede, mas eu não conseguia me levantar ou falar nada. Minha cabeça não parava de rodar. Arrastei-me com dificuldade até a porta, mas eu não conseguia saber se eles tinham ido de escada ou pelo elevador, mas de qualquer forma não conseguiria alcançá-los.
Fechei a porta com um chute e permaneci deitado no chão me odiando por não ter reagido. A minha intenção era deixar que ele fizesse o que quisesse comigo, pois ele até tinha um pouquinho só de razão, ela era a irmã dele, mas eu não podia deixar que ele batesse nela por se opor a ele.
Minha cabeça latejava e todo meu corpo doía. Eu não tinha a mínima vontade de levantar do chão, só queria ficar ali jogado igual ao idiota que eu era.
Acordei com meu corpo totalmente dolorido e ainda deitado no chão. Talvez eu devesse ficar ali pelo resto da minha vida.
Fui para o banheiro tomar um banho e vi meu rosto com roxos e sangue seco na boca. Fiquei sentado no chão e deixando a água escorrer pelo meu corpo numa tentativa de fazer a dor parar. Imaginei se estava bem e o que tinha feito com ela e Jenna. Ouvi seu celular tocar e corri até ele em cima da cama. O nome de Jenna apareceu na tela e apertei para aceitar a ligação.
- ? – perguntei preocupado.
- Não, é a Jenna. – sua voz tinha um tom extremamente triste e me perguntei se ela estava bem
- A está bem? Cadê ela?
- Nós estamos na casa dos pais dela, a trouxe para cá. Eu acho que ela está bem, ela se trancou no quarto e não quer mais sair de lá.
- Você está bem?
- Na medida do possível. – ouvi-a suspirar – Ele não quis ouvir ninguém, , eu sinto muito. Ele não quer mais que você chegue perto dela. Nunca mais.
- Ele não manda em mim e muito menos nela.
- Acho melhor você não contraria-lo, ele é bem capaz de a levar com a gente para os Estados Unidos.
- Qual o problema dele? – rosnei.
- São vários. Você ser o melhor amigo dele, os cinco anos de diferença, ela ser uma criança, e segundo ele você estraga a vida dela porque ele acha que você vai fazê-la deixar de ser modelo para ficar apenas com você.
- Eu jamais faria isso. – falei ofendido – Eu preciso falar com ela.
- Já tentei, antes de te ligar eu disse se ela queria falar com você, mas ela disse que eu estava mentindo só para ela abrir a porta.
- Eu vou até aí.
- , é melhor não. Deixa as coisas se acalmarem. Nós vamos ficar aqui por um tempo...
- Ela tem aula, sabia? A não pode perder aula porque o irmão dela é um gorila. – falei bravo – E os trabalhos dela? Ela tem coisas para fazer.
- Você precisa entender o lado dele...
- Entender o lado dele? – falei rindo – Qual é o lado dele? O problema dele é comigo, eu me afasto dela e ela volta para a vida dela, pronto. Ele que está parando a vida dela por minha causa, não eu.
- ...
- Vocês sequer pensaram no que estão fazendo com ela?
- Eu vou pedir para os pais dele conversarem com ele, mas o é impossível, você conhece ele.
- O que eu conheço não é assim e eu tenho certeza que o que você conheceu também não é esse babaca.
- Eu sinto muito por vocês dois, de verdade.
- Tanto faz. – suspirei – Eu vou ficar longe dela se é isso o que ele, mas se ele não trouxer ela de volta eu vou ai e a trago nem que eu perca um braço para isso.
Desliguei o telefone sem nem esperar uma resposta dela. tinha razão, era um babaca.
Joguei as lasanhas no lixo e limpei o apartamento tentando não pensar em uma confinada em seu quarto a quilômetros dali. Peguei seu celular e o guardei em sua bolsa, deixando em cima da mesa de centro.
A pior coisa que eu tinha decidido fazer naquele dia era a edição do vídeo do dia anterior. Ela estava sempre lá, sorrindo ou daquele jeito que parecia que ela me olhava através da tela. Tentei fazer daquele o meu melhor trabalho por ela e levei até a agencia assim que terminei.
Todos os lugares pelos quais eu passava me lembravam dela e me senti culpado por estar andando na rua enquanto ela estava em seu quarto trancada por minha causa.
Apesar das várias coisas estúpidas que eu fazia, eu estava prestes a subir em um grande e elevado patamar da estupidez. Parei em um posto de gasolina e enchi o tanque sem nem pensar muito no que eu estava fazendo antes que eu desistisse.
Dirigi tranquilamente pela rodovia até ver a placa indicando que faltava pouco até chegar em Bray. Eu conhecia o caminho até a casa dos perfeitamente mesmo não o fazendo mais a anos. Parei o carro em frente a enorme casa e vi o carro de estacionado onde costumava ficar o do pai dele. Olhei no celular e vi que ele ainda estaria trabalhando, o que seria menos uma pessoa para me ajudar caso viesse para cima de mim.
Logo que desci do carro ele saiu da casa conversando com sua mãe e Jenna. Sua expressão era um misto de ódio e surpresa. Ele desceu os degraus da varanda e veio de encontro a mim.
- O que você veio fazer aqui? – ele rosnou – Você perdeu o amor à vida?
- Eu vim buscar minha namorada. – falei brando e ele começou a gargalhar.
- Eu te mandei ficar longe dela. Que parte que você não entendeu?
- Fica tranquilo que eu entendi tudo perfeitamente. – dei um tapinha em seu ombro e ele me olhou confuso – Mas você não manda em mim e muito menos nela, então desculpe te desapontar.
- Vai embora antes que eu enfie a mão na sua cara.
- Igual você fez com a sua querida irmã onde? – falei rindo.
- Você fez o que ? – a mãe dele gritou e ele ficou pálido.
- Acho que você também esqueceu de contar que fez ela bater a cabeça na parede também. – suspirei – Eu não consigo nem imaginar o que ele faz com você, Jenna.
- Vai embora. – ele me empurrou para trás – Sai da vida da minha irmã, você entendeu?
- Se ela aparecer naquela porta agora e falar que quer que eu saia da vida dela, pode ter certeza que eu vou, mas enquanto ela não disser isso, eu não vou embora.
tentou me dar um soco, mas fui mais rápido e me abaixei. Agarrei-o pela cintura e o joguei na grama. Soquei seu rosto com tamanha força e raiva que seu supercilio se desfez do curativo e começou a sangrar. Sua mãe e Jenna gritavam para que parássemos, mas eu não sentia a menor vontade de parar.
Ele me acertou alguns socos e quando vi que ele estava cansado o deixei sangrando no chão e entrei correndo para dentro da casa.
- Ela está no quarto. – a mãe dela gritou as minhas costas.
Subi as escadas de dois em dois e logo estava na porta de seu quarto. Soquei com força e ela gritou com raiva dizendo que não queria falar com ninguém e que era para todos irmos para o inferno.
- Abre a porta, por favor, sou eu. – encostei a testa e respirei fundo – Eu vim de Dublin até aqui e tomei uns socos do seu irmão só para ver você.
Ouvi o barulho de coisas caindo no chão e ela abriu a porta com os olhos inchados e o rosto vermelho. Ela se jogou em cima de mim, abraçando-me com muita força. Peguei-a no colo e beijei seu rosto. Suas pernas se entrelaçaram em minha cintura e ela recomeçou a chorar.
- Não acredito que você veio. – ela soluçou.
- Nem eu acredito. – falei rindo – Pega suas coisas.
- O quê?
- Eu vim para te levar embora. – acariciei seu rosto – Eu não ia te deixar perder aula por culpa do otário do seu irmão.
- Foi só por isso que você veio? – ela pareceu decepcionada e eu neguei com a cabeça.
- Eu vim porque eu te amo e seu lugar é em Dublin.... Comigo. – beijei-a.
- Eu te amo tanto. – ela me abraçou.
- Você se machucou ontem? – segurei seu rosto e ela negou.
- Sinto muito. – ela tocou meu rosto e senti uma pontada de dor – Não era para isso acontecer.
- Agora já foi. – sorri – Eu apanharia quantas vezes fosse por você, .
- Vamos embora. – ela sorriu.
Pude ouvir a mãe dela gritar com no andar debaixo enquanto ela colocava um casaco e um par de botas felpudas. Ela me olhou preocupada, mas entrelacei nossos dedos tentando mostrar que eu estaria ao seu lado para tudo.
Descemos as escadas juntos e estava sentado no sofá com um saco de gelo no rosto enquanto sua mãe estava de frente para ele falando algo.
- Mãe... eu estou... indo. – falou tensa.
- Tudo bem, querida. – ela sorriu carinhosa.
- Você vai deixar ela ir com ele? – se levantou, mas sua mãe o empurrou de volta – Qual é, você não pode deixar. Olha a idade dele perto dela...
- Seu pai e eu temos quase dez anos de diferença e você também já namorou garotas bem mais novas que vocês, .
- É diferente. – ele resmungou.
- Me explica a diferença, por favor. – ela cruzou os braços e vi dar uma risadinha.
- A é uma garota de família... – sua mãe acertou um tapa em seu rosto antes que ele terminasse de falar e todos nós a olhamos assustados.
- Todas as garotas que você namorou eram de boas famílias, , quem você pensa que é para falar isso? Só falta você dizer que sua irmã é melhor que qualquer garota do mundo.
- Você sabia que ela anda fumando? – ele apontou para e ela se encolheu ao meu lado.
- Não. – ela olhou para – Não preciso te dar um sermão sobre isso porque você já é adulta, então você sabe que continuar com esse eu hábito pode te causar câncer, a escolha é sua. – ela disse séria e assentiu – E você, , não venha acusar sua irmã de fazer coisas que você também fazia. Eu não vejo problema algum deles dois namorarem. Se ele ama minha filha e a respeita, eu dou todo meu apoio.
- Daqui a alguns meses espero essa mesma resposta de você quando ela disser que vai abandonar a carreira de modelo para se dedicar ao namoradinho. – ele disse irritado.
- Que carreira? – foi até ele – Eu faço umas porcarias de desfiles e algumas fotos para campanhas de marcas extremamente pequenas, isso não pode ser nem chamado de carreira, seu projeto de advogado. – ela gritou – Diferente de você, ele me apoia em tudo o que eu faço e não me proíbe de nada igual você.
- Sabe qual o seu problema? – Jenna se levantou – Você não quer admitir que a sua irmã cresceu e que o seu melhor amigo namora ela.
- Fica quieta. – ele falou bravo.
- Quieto você, seu ogro. – ela deu um tapa em seu rosto e ele a olhou assustado – Eu estou cansada de você, , cansada. Você sim me proíbe e me priva das coisas. Você sim é um namorado que faz a outra pessoa para a vida por você. Já perdi a conta de quantas vezes eu perdi aula esse ano só porque você queria vir para a Irlanda vigiar sua irmã e olha para ela... – Jenna apontou – ... ela está bem melhor do que você imaginava.
- Jenna... – ele se levantou e ela o empurrou.
- Acabou, . – ela subiu correndo para o quarto e a ouvimos fechar a porta com força.
- Eu amo a sua irmã, cara. – abracei – Eu realmente amo a sua irmã. Você me conhece a anos, sabe que eu seria incapaz de fazer algo de mal para ela ou qualquer outra pessoa. Eu jamais a faria abandonar as coisas que ela gosta por mim, e ela jamais faria isso. – ela me apertou mais contra si e beijou meu peito – A não é nenhuma idiota, ela é inteligente, independente e segura de si. Se você quer saber eu pago o maior pau para ela. – ele e sua mãe deram uma risadinha – Eu tenho muito medo dela, de verdade, mas eu tenho mais medo ainda de ficar sem ela.
- Vamos embora, , meu irmão não sabe o que é amar alguém além de si mesmo. – ela foi me puxando para a porta – Tchau, mãe.
- Tchau, queridos, cuidado. – ela veio até nós – Cuida da minha filha, .
- Sempre.
dormiu durante o caminho e a carreguei até meu apartamento quando chegamos. Me deitei na cama junto dela e fiquei vendo-a dormir.
insistiu que queria cozinhar algo para nós em comemoração aos nossos seis meses de namoro e também para comemorar o fato de finalmente ter nos aceitado junto e admitido que ele não queria que a irmãzinha dele crescesse.
Ela estava praticamente morando em casa e eu a levava para a faculdade todos os dias de manhã e qualquer outro lugar que ela precisasse ir. Eram raras as vezes em que ela chegava extremamente bêbada de alguma festa com amigos e sempre pedia mil desculpas, apesar de eu achar engraçado ela chorar e dizer que nunca mais ia beber na vida. Meus amigos tinham finalmente a conhecido e Reagan parecia apaixonada por ela. Achei mais estranho o fato delas criarem uma amizade e saírem juntas as vezes e sem querer acabei contando a ela sobre a única vez que dormi com Reagan, mas ela pareceu não se importar e disse que qualquer coisa que eu tenha feito antes de namorarmos não era mais relevante.
Assim que abri a porta de casa senti o cheiro de carne assada e vi sentada no balcão com um livro de receitas em mãos. Joguei minha mochila no sofá e caminhei lentamente até ela que parecia não ter me visto ainda.
- Você não vai me assustar. – ela fechou o livro com força e me olhou rindo – Te assustei?
- Um pouquinho. – fiz careta e ela pulou do balcão – Dá para sentir o cheiro de queimado de lá debaixo.
- Sério? – ela me olhou assustada – Eu não senti nada. – ela abriu o forno rápido.
- Brincadeira. – puxei-a para mim e fechei o forno com o pé – Está cheirando bom. – dei-lhe um selinho.
- Espero que o gosto também esteja. – ela fez bico – Eu nunca fiz carne assada na minha vida.
- E porque resolveu fazer hoje? – lavei as mãos e abri o forno para ver o que ela tinha feito.
- Porque é um dia especial. – ela falou empolgada.
- Está tudo certinho. – fechei o forno e ela suspirou aliviada – Nós podíamos sair para jantar ai você deixaria para me envenenar no aniversário de um ano.
- Para de ser chato. – ela me empurrou com os quadris – Está quase pronto?
- Você é a cozinheira do dia, não eu. – falei rindo e ela revirou os olhos.
- Você tem duas opções, . – ela colocou as mãos na cintura – Ou come carne crua ou talvez queimada, ou olha se já está pronto.
- Tudo bem, mandona. – beijei-a.
Ela arrumou a mesa e fui colocando a comida em cima da mesa. logo apareceu com um champanhe e o colocou na mesa com duas taças que eu tinha guardado e nunca usava. Me sentei de frente para ela e nos servi.
- Não precisava ter gasto dinheiro com champanhe, amor. – falei rindo e ela sorriu.
- Mas eu não gastei. Eu ganhei.
- Sério? – ela assentiu empolgada – Por quê?
- O real motivo disso tudo não comemorar meu irmão idiota ter nos aceito ou o nosso aniversário de seis meses...
- Você vai me pedir em casamento, porque sabe, eu não estou preparado, sou muito novo para isso. – coloquei a mão no peito dramaticamente e ela riu.
- Hoje eu fui na agência receber o pagamento de um trabalho que fiz semana passada e aí... – ela me olhou com os olhos brilhando e meu coração disparou de curiosidade – Eu recebi uma proposta de emprego muito, mas muito louca mesmo.
- Você está brincando. – falei sério e ela negou – É do quê?
- A Victoria’s Secret está lançando uma coleção nova de lingerie para adolescentes de todos os tipos e formas, e aí eles gostaram de mim e me convidaram. – ela ergueu a garrafa de champanhe e tentou abrir com o dente.
- Não, sua louca. – levantei correndo e tirei a garrafa da sua mão.
Abri a garrafa e ela ficou rindo enquanto caia um pouco no chão. Enchi as duas taças e ela bebeu toda a sua.
- Ops. – ela falou quando a olhei indignado – Mais, por favor? – ela ergueu a taça e eu a enchi – Vamos brindar. – ela falou rindo.
Toquei sua taça com a minha e a beijei apaixonadamente. Se para mim estava difícil de acreditar naquilo eu nem imaginava como estaria sendo para ela.
- Parabéns. – sussurrei contra seus lábios – Você merece, mas não vai ficar muito metida.
- Cala a boca. – ela me cutucou – Eu vou estar nas revistas e outdoors, eu vou ficar metida sim. – ela riu – Imagina o tanto de coisas que eu vou ganhar, as festas que nós dois iremos visitar.
- Nós?
- Sim. – ela assentiu – Eu quero você comigo, bobinho, ou você achou que só porque eu vou me tornar famosa você ia ficar ofuscado. – ela me beijou – Já falei que quero você ao meu lado, .
- E quanto tempo isso vai levar? – perguntei curioso.
- Um ano. – ela colocou os cabelos atrás da orelha – Vou morar em Nova Iorque por um ano.
- Uau. – me sentei no chão sem conseguir acreditar.
- O quê?
- É.... é muito tempo. – suspirei.
- Sim. Eu vou finalmente ter um ótimo motivo para deixar a faculdade. – ela falou empolgada.
- Esse era seu maior desejo. – ri sem graça.
- O que foi, amor? – ela segurou meu queixo.
- Nada. – sorri – Ainda está difícil de processar que você vai estar nas revistas.
- Capas de revistas, capas. – ela riu.
- Menos, , bem menos. – falei rindo.
- Para vai, você sempre ficou exaltando que eu deveria estar nas capas de revistas...
- E agora me arrependo porque você nem está nas revistas ainda e já está deixando a fama subir na sua cabeça. – beijei sua testa – Agora vamos comer. Pega o telefone para você ligar para a emergência quando eu começar a engasgar.
- Você vai adorar a minha carne assada, todo mundo gosta. – ela sorriu convencida.
- Essa é a primeira vez que você faz carne assada. – falei rindo.
- Você é o meu todo mundo. – ela sorriu apaixonada.
Fiquei o jantar todo provocando-a dizendo que a comida estava ruim, mas ela nem se importava. Ela bebeu a garrafa de champanhe praticamente sozinha e se deitou sonolenta comigo no sofá.
Eu estava realmente feliz por ela, mas não podia negar que um ano era muito tempo longe. Guardei para mim qualquer preocupação e medo que eu tivesse, pois não queria chateá-la com isso. No meio de tudo aquilo eu mal tinha lhe perguntado quando ela iria.
Levei-a para o quarto e terminei alguns trabalhos da faculdade. Olhei em alguns sites de moda que costumava visitar e vi uma notícia falando sobre a campanha que ela iria aparecer e tinha até seu nome no meio de outras inúmeras modelos.
- . – chamei-a – , acorda.
- O que foi? – ela resmungou.
- Vem ver isso, agora. – falei empolgado e ela caminhou toda emburrada – Seu nome está aqui. – coloquei o dedo na tela e olhei para ela.
Ela leu toda a notícia e logo estava pulando na cama igual uma criança.
- Sabe uma coisinha que eu lembrei? – virei a cadeira para ela – Nós Estados Unidos só pode beber a partir dos vinte e um.
- Eu te odeio. – ela rosnou – Te odeio, . – ela correu até mim e se sentou em meu colo – Mas eu também te amo. – ela encheu meu rosto de beijos – Dessa vez eu te perdoo por ter me acordado, porque era para me avisar sobre os primeiros sinais da minha fama.
- Quando você vai? – baguncei sua franja.
- Daqui um mês. – ela se jogou para trás e eu a segurei, trazendo-a para cima.
- Então você precisa fazer bastante coisa e rápido. Trancar a matrícula da faculdade, seu visto...
- Posso te pedir uma coisinha? – ela fez careta e eu assenti – Eu não sei se vou.
- Porque não? Você já aceitou, seu nome tá na internet. – falei surpreso.
- Mas eu ainda não assinei nenhum contrato. – ela deu ombros.
- Qual é, amor, era isso que você queria, ficar famosa, estar nas revistas, ser a nova Gisele Bündchen. – segurei seu rosto.
- Eu não quero ser nada disso sem você. – ela disse triste.
- Nós não vamos estar terminando...
- Mas vamos estar longe.
- E eu vou te amar mais ainda. – sorri, mas ela ainda estava triste.
- Você iria comigo?
- O que? – olhei-a surpreso.
- Ir comigo para os Estados Unidos. Nós poderíamos morar juntos e lá você teria mais oportunidades de emprego. Você pode gravar clipes para essas bandas independentes e todo mundo gosta do seu trabalho, você conseguiria algo fácil por lá.
- Você quer mesmo que eu vá? – ela assentiu – E se eu te atrapalhar?
- Você só atrapalha um pouquinhozinho. – ela fez careta e eu ri – Eu sei que isso é pedir muito de você e é até meio egoísta pedir isso, porque nós dois sabemos que eu não conseguiria fazer isso...
- É isso o que você realmente quer? Do fundo do seu coração?
- Sim, mas...
- Então eu vou. – sorri.
- Mas e sua vida aqui? Você tem a faculdade, seus amigos, seus pais...
- Agora você está me dando motivos para ficar? – falei rindo e suas bochechas coraram – Eu posso vir visitar meus pais e meus amigos, e a faculdade é só eu pedir transferência. – ela assentiu – , nada disso faz sentido se eu não tiver você do meu lado, entendeu?
- Para mim também não, por isso eu quero que você vá.
- E eu vou. Estarei na primeira fila dos seus desfiles, comprarei todas as revistas em que você aparecer. Se duvidar ainda compro todas as revistas da banca e distribuo para todo mundo ver o quão linda e maravilhosa a minha namorada é.
- Eu te amo demais. – ela sorriu – Obrigada por tudo, pelo apoio que você sempre me deu, pelas vezes em que me acordou cedo em um sábado e aturou meu mal humor, por ter apanhado do meu irmão só para ficar comigo, e obrigada principalmente por não ter parado de tentar me encontrar aquele dia no bar, porque se você não tivesse feito isso eu jamais teria tido os melhores dias da minha vida ao lado de alguém que eu tanto amo.
- Minhas declarações parecem coisas bobas perto dessa. – falei rindo e ela me beijou.
- Aprendi com o melhor. – ela sorriu carinhosa – Fica comigo, ?
- Para sempre, sempre e sempre, .
- Sabe, talvez aquela paixonite de criança nunca tenha passado. – ela mordeu o lábio.
Eu não conseguia acreditar que meu namoro com estaria completando um ano em um dos dias mais importantes da vida. Prometi a ela que não ficaria empolgado demais, mas a minha namorada estava a poucos minutos de entrar na passarela de lingerie desfilando feito uma deusa para a Victoria’s Secrets.
Seus pais estavam lá para vê-la e até alguns de seus amigos. Ela não queria fazer muito alarde sobre o desfile, mas nunca disse que eu não podia.
Me sentei na primeira fila junto de seus pais e – e sua nova namorada que o estava botando na linha – e esperamos impacientemente por aparecer. Ela tinha dito que aparecia três vezes, mas não sabia dizer quando, então eu tratei de assistir todas atentamente até que ela aparecesse.
Beyonce estava no palco cantando “Formation” enquanto as modelos iam desfilando e na parte que mais gostava da música ela finalmente apareceu. Eu não conseguia me conter ao vê-la sorrindo e andando como se fosse melhor que todos ali. Era incrível o jeito que ela conseguia me deixar igual um idiota só com um olhar, e senti meu coração disparar quando ela chegou até a ponta da passarela e deu seu melhor sorriso malicioso para mim. Ela fez seu caminho de volta e fiquei ansioso pelas suas próximas duas aparições. Ela estava linda em todas as vezes e eu não conseguia nem escolher qual das lingeries usadas era a minha favorita.
Assim que foi anunciado o fim de desfile corri para espera-la na saída do backstage. Muitas das modelos já estavam saindo, todas ainda com seus penteados e maquiagens muito bem-feitas. Eu já tinha feito ensaios fotográficos de muitas das “desconhecidas” que estavam ali e elas me cumprimentaram à medida que foram saindo.
- Oi. – apareceu de surpresa com um sorriso radiante – E aí?
- Você estava perfeita. – abracei-a – Quem era Beyonce perto de você naquele palco?
- Ela estava incrível, não é? – ela disse empolgada.
- Eu só tinha olhos para você. – beijei-a – Você estava perfeita.
- Obrigada. – ela sorriu envergonhada – Arrependido por ter vindo para Nova Iorque comigo, mocinho?
- A única coisa que eu me arrependo é de não ter pedido seu número antes de você ter ido embora da minha casa naquele dia. – acariciei seu rosto – Eu te amo demais, .
- Eu também te amo, , muitão. – ela sorriu apaixonada.
Segurei-a com firmeza e beijei seus lábios apaixonadamente. Toda vez que a beijava tinha a sensação de que só precisaria daquilo para sobreviver e talvez eu tivesse razão. Eu era apaixonado por ela e ela por mim.
Fim!
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