Good Years

O som que preenche a sala é como o som de uma tarde de verão que não prevê nenhuma chuva, mas que em questão de poucos segundos tem o céu tomado por nuvens carregadas que anunciam a chegada de uma nova tempestade.
Estamos na sala de prática, apesar de estarmos fazendo um intervalo entre ensaiar uma coreografia e outra.
Namjoon trabalha em uma mesa, no canto da sala, num sample para uma letra que compôs e queria mostrar para a empresa para tentar inclui-la no novo álbum.
Jin e Jungkook estavam sentados do outro lado da sala conversando sobre qualquer coisa que eu não sabia direito, mas riam escandalosamente enquanto olhavam para a tela do celular, antes que o furacão entrasse na sala e acabasse com a paz que um intervalo podia ter.
Hoseok estava ensaiando passos novos e era assistido por Jimin, que arriscava dar alguns palpites, apesar dos estilos de dança serem diferentes.
Eu estava realmente esperando aquele intervalo, vinha trabalhando demais e as dores no ombro que me acompanham há anos incomodavam ainda mais.
E bem, no sofá de frente ao que eu estava tentando relaxar, estava ele, preso na tela do celular, rolando o feed de alguma rede social ou de algum site. A visão de onde estava era linda, ver Taehyung alheio ao mundo externo era um dos meus passatempos favoritos, antes mesmo que fôssemos um casal. Nas últimas semanas não havíamos passado muito tempo juntos por conta do trabalho em excesso e seria assim por pelo menos mais dois meses.
A empresa já tinha determinado a data do comeback e estávamos trabalhando em conjunto para que tudo saísse do nosso jeito, já que finalmente havíamos recebido esse aval.
Como eu disse, a sensação de calmaria antes de uma tempestade.
O sol deixa a cenário para que as nuvens cinzas e escuras entrem em cena.
Estava tudo muito bom para ser verdade, então vi a expressão em seu rosto mudar. A serenidade que o homem que é dono do meu coração tinha estampada no rosto se transformou em raiva. Já tinha visto aquela expressão e não gostava nem um pouco daquilo. Seus olhos deixaram a tela do aparelho e se encontraram com os meus.
Que merda vinha agora? Naquele meio era muito difícil ter mais que dois dias de paz, sempre surgiam rumores sobre algum membro, que estaria namorando, ou que o grupo, apesar do sucesso daria disband em algumas semanas. Era tão difícil manter um relacionamento. Seokjin mesmo era um dos que havia visto seu noivado de dois anos ir embora por conta das obrigações de ser um idol. Me sentia cansado e saturado daquilo tudo, e ainda tinha Taehyung. O namorado ciumento que perdia a noção toda vez que surgia qualquer coisa relacionada a mim.
E era exatamente o que tinha acontecido.
— Não entendo o motivo dessa merda continuar acontecendo — a voz de Taehyung sai calma, mas ainda assim, alguns tons mais altos, chamando a atenção dos outros caras que estavam naquele espaço. A voz de Taehyung é como o anúncio das trovoadas. — Por que? — e a falsa calma foi pelos ares quando ele grita.
Pela visão periférica, posso ver Jimin deixando Hoseok de lado e vindo em nossa direção, provavelmente para acalmar o melhor amigo e entender o que estava acontecendo.
— Que merda é essa, hyung? — o Kim pergunta me mostrando a tela do telefone.
Respiro fundo, enquanto olho a foto, que tenho certeza que foi tirada meses atrás e de um ângulo que comprometeria qualquer um que estivesse em um relacionamento, o que é o meu caso.
Abaixo da foto, que era a principal na página inicial do site de fofocas mais famoso da Coreia, tinha a seguinte frase: “Suga é flagrado beijando IU meses depois de terem gravado uma música juntos”. Em letras menores estava “O novo casal da Coreia foi visto saindo de um restaurante na última terça e pareciam estar completamente apaixonados”.
A pior parte disso tudo é que o calendário marca quarta-feira, fazendo com que supostamente a foto tenha sido tirada na noite de ontem. Mas acontece que não saí de casa ontem depois que cheguei do apartamento de Taehyung, onde mais uma vez trocamos promessas e juras de amor entre beijos e carinhos. No entanto, assim que cheguei, tomei remédios para dor e apaguei, quando acordei de manhã meu celular estava descarregado, e aquela hora do dia, já até tinha escutado reclamações de Taehyung por não ter atendido suas ligações.
Então vieram mais trovões e as primeiras gotas de chuva.
Nada que eu dissesse melhoraria a situação para o meu lado. E como se a boca de Taehyung fosse uma metralhadora, ele começou a falar, e nem mesmo a mão de Jimin em seu ombro, tentando contê-lo, foi capaz de pará-lo.
As frases saíam emboladas e começavam a se misturar com um choro. Por que ele tinha que chorar? Por que ele não podia me escutar? Era tão difícil assim?
Taehyung tinha o rosto tão próximo ao meu, que achei que a qualquer momento nossos corpos fossem se chocar, até mesmo pensei que ele fosse me bater, como na última vez.
Foi a mistura de ‘Você me prometeu’, ‘Não acredito que você fez isso comigo’, ‘Achei que você me amava de verdade’, ‘Seu filho da puta’ e ‘desgraçado’ que fizeram Namjoon despertar do trabalho. Veio em nossa direção. Ficando entre mim e Taehyung, que era amparado por Jimin e Jungkook, que havia deixado o celular de lado.
— O que está acontecendo aqui? — O líder do grupo pergunta, afastando Taehyung de mim. Era ele quem sempre tomava a frente para resolver os problemas amorosos dentro do grupo.
— Saiu mais uma fofoca envolvendo o Yoongi-hyung — Jungkook conta.
Namjoon levou a mão até a cabeça, massageando as têmporas.
— A empresa já sabe disso? — Namjoon perguntou e neguei. Não sabia na verdade.
— Ela ainda não soltou nenhuma nota, devem estar decidindo o que vão dizer — é Hoseok quem diz. — A matéria foi publicada há quinze minutos.
— Certo, vou falar com eles — responde. — Espero que quando eu voltar, vocês tenham se resolvido. Deixe o Yoongi-hyung se explicar, Tae — fala antes de nos deixar ali.
A sala ficou em silêncio por alguns segundos.
Como iria me explicar? Valeria mesmo a pena tentar? Tinha minhas dúvidas.
— Estou cansado disso tudo — sua voz sai mais serena, no entanto sei o quão ruim isso é. — Não sou suficiente pra você, não é? — posso sentir a dor em sua voz ao dizer aquilo. — Pensei que isso já tinha passado, por que você precisa dela? — pergunta se referindo a IU.
A resposta é que não preciso de ninguém além dele, mas não abro a boca.
Na época em que a música saiu, vários rumores haviam surgido. Saíamos muito tarde do estúdio e íamos comer junto com a equipe dela, mas Taehyung não levava isso em consideração, nem mesmo os convites que fazia para ir conosco. E então vinha isso. Era muito difícil lidar com ele.
— Devia saber que estava com ela quando te liguei e você não me atendeu — ele avançou em minha direção, mas a mão de Seokjin o impediu. — Você tinha me prometido. Você me prometeu que quando o contrato com a empresa acabasse íamos assumir que… — Não termina. Vejo dúvida passar por seus olhos.
Eu tinha plena certeza do que havia prometido a ele. Minhas promessas ainda estavam de pé. Pouco me fodia para o que ia acontecer, desde que ficasse com ele. Mas porra, aquilo não tinha sentido. Não vejo IU há meses. Estou com ele há três anos. E além de tudo, o amo.
— Vou poder falar ou você vai continuar falando essas coisas que não fazem nem um pouco de sentido? — Pergunto. Ele não diz nada, então continuo. — Achei que nessa altura do campeonato eu não teria que provar nada pra você, mas se você não confia em mim, acho que não existem motivos para continuarmos juntos, já que meu amor por você não parece ser suficiente.
A expressão em seu rosto muda. A raiva some dando lugar ao desespero. Meu coração aperta, mas não posso continuar com isso se ele não mudar. Essa não é primeira vez que temos essa conversa e ele não mudou. Quantas vezes já choramos, brigamos e discutimos por causa disso…
— Dessa forma só estamos machucando um ao outro — continuo. — Vê sentido em manter uma relação assim?
Essa é a última vez que seguro o choro por esse motivo. É a última vez que o vejo chorar por isso. Por nós.
— Sei de todas as promessas que te fiz e faria o que fosse necessário para cumpri-las — falo. — Eu realmente achei que tínhamos o mesmo sonho, mas agora já não tenho certeza.
— Hyung… — ele sussurra, sabendo das palavras que vem em seguida.
— Eu amo você, Taehyung e todo mundo nesse prédio sabe, mas parece que só você que não, mas não posso continuar com isso — terminei. Me afastei ainda mais de Taehyung, estava me sentindo sufocado por minhas próprias palavras e também pelo choro sendo retido.
— Yoongi — escutei ele chamar, mas não paro. Preciso sair daqui antes que me arrependa.
Escuto ele chamar meu nome mais uma vez, dessa vez sua voz é acompanhada por passos e logo sinto o calor do seu corpo perto do meu outra vez, segurando minha mão, fazendo com que eu me vire em sua direção e o encare.
— Me desculpa — ele diz. — Espere, pedir desculpas não é suficiente — ele respira fundo antes de continuar. — Me perdoa, Yoon. Me perdoa por não confiar em você, por não confiar no que você sente — a voz dele embarga.
Taehyung encosta sua testa na minha e olha no fundo dos meus olhos. Meu coração bate tão rápido, tão alto. Nossas respirações se misturam. É como se nossas almas estivessem conectadas, fazendo um filme passar diante de nossos olhos. Sei que é assim para ele também.
Sei que Taehyung se lembra dos beijos roubados quando os outros já estavam trancados em seus quartos no antigo dormitório e só ficávamos os dois, assistindo tv. Das vezes que fugíamos para o quarto do outro, nos quartos de hotéis mundo a fora. De quando disse que o amava e de quando ele se declarou também. E principalmente quando prometi, ainda na Inglaterra para um show da turnê, que quando o contrato com a empresa acabasse iríamos morar juntos e diríamos que somos um casal, que não me importaria com o inferno que fariam da nossa vida por sermos um casal fora do que a Coréia dizia ser o ideal.
— Faço o que você quiser, hyung, mas não termina comigo — fala.
— Você tem que confiar mais em mim — digo baixinho. — Tem que parar de machucar a gente, tô falando sério. Pensei que fosse ter um treco no coração te vendo chorar por essa idiotice — continuo. — Amo você, Kim Taehyung.
Sua mão deixa a minha, tomando meu rosto e meus lábios nos seus.
Essa é a ultima vez que brigamos, digo em minha cabeça. Não conseguiria viver sem ele, sem seus beijos, seus toques, seu calor. Os melhores anos da minha vida foram ao lado desse homem. Não posso desperdiçá-los e não vou, repito várias e várias vezes. Não somos o primeiro casal a brigar na história da humanidade, e nem seremos o último.
— Acabou o drama? — escuto a voz de Seokjin dizer quebrando o clima.
— Parece que sim, hyung — é Jungkook quem diz.
— Se isso acontecer outra vez — Jimin começa —, vou dar um chute na bunda dos dois — completa.
— Digno de uma cena de novela — Hoseok solta. — Mas vocês precisam parar com isso. Vou marcar uma sessão de terapia pro Taehyung, tá precisando demais.
Taehyung levanta o dedo do meio para o quarteto, enquanto passo os polegares pelos caminhos marcados pelas lágrimas, não ligando nem um pouco com três deles serem seus hyungs. Respeito pra que, não é mesmo?
E como depois da tempestade, as nuvens sempre vão embora e sol volta a brilhar, a sala volta a ter o clima bom de antes, e Namjoon, coitado, quando aparece outra vez, minutos depois, não entende nada.
Hum, já devia ter acostumado com a tempestade Kim Taehyung.

Fim

Nota: Ei você que chegou até mim, essa é a primeira vez que publico aqui no Espaço criativo, é um universo novo para mim, espero que goste (especialmente quem escolheu essa música do Zayn).