God Complex


Escrita porNobara
Revisada por Lelen


Prólogo

Tempo estimado de leitura: 7 minutos

  Lawrence, Kansas. 1999.

  Os barulhos incessantes dos ponteiros no maldito relógio da parede não paravam de martelar em minha mente.
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  Tic, tac. Tic, tac.
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  As mãos, dentro dos bolsos do casaco. Os olhos, indo de um lado para o outro naquele cômodo. Era insuportável a dor que sentia ao ver meu irmão deitado naquele caixão. Esquife horroroso, ele teria odiado. Jake, agora, estava tão gelado como o cadáver que se tornou.
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  Meus olhos estavam mergulhados em lágrimas que não paravam de cair. Meu coração se inquietava diante da dor estridente da perda e de ver minha melhor amiga, %Verity%, aos prantos, apoiada no corpo sem vida do namorado.
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  Meu irmão e minha melhor amiga namoravam desde o ensino médio e tinham quase a mesma idade. Jacob %Winters% sempre foi popular, bonito e cheio de amigos, ao contrário de mim. Apesar de ser o irmão mais velho — Jake nasceu alguns minutos antes de mim, éramos gêmeos —, ele sempre me incluía em tudo: me arrastava para sentar na sua mesa durante o almoço, me ajudava nos estudos e estava sempre tentando me lembrar de controlar o meu costumeiro mau humor. Éramos muito próximos, gêmeos em tudo que nos propúnhamos a fazer.
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  Quando %Verity% conheceu meu irmão, até eu fiquei surpresa. Jake não era exatamente mulherengo, mas também não costumava entrar em relacionamentos fixos. Ele era do time do apego evitativo e dos medrosos quando o assunto era romance. Parece clichê, mas algo nele mudou quando %Verity% apareceu naquele fim de mundo. Não tenho muito a dizer, a história realmente aconteceu como estou contando e se eu pudesse resumir os dois, seria com “pieguice extrema” ou o maior filme de romance clichê e super apaixonado de todos.
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  Isso era Jake e %Verity%. O casal mais bonito da escola. Rei e rainha de todos os bailes de fim de ano seguintes do ensino médio até a formatura. Agora, perto dos vinte anos, ela foi obrigada a seguir sua vida sem seu grande amor. Minha melhor amiga soluçava de tanto chorar, inconformada com a morte do meu irmão tanto quanto eu.
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  Nós duas havíamos perdido uma parte importante de nós mesmas, e sabíamos que não tinha mais volta. %Verity% sacudia os ombros em meio ao pranto, apertando o colar em seu pescoço e no pescoço de Jake. Era como a aliança deles, um relicário prateado e delicado. Meu irmão havia presenteado %Verity% com essa joia quando completaram um ano juntos, e dentro do pingente guardavam uma foto deles dois. Como eu disse, clichê, mas tudo era feito de corpo, alma e coração entre eles.
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  Enquanto ela chorava, eu estava tentando manter meu navio inteiro no meio daquela tempestade de sentimentos. Sentia-me vazia, desolada e incapaz. Estava incapacitada de confortar minha própria amiga naquele estado.
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  Eu não acredito que você me deixou, seu idiota! Não acredito, você me prometeu que nunca faria isso, gritava minha mente, numa mistura de tristeza e raiva.
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  A morte de Jake foi súbita como um suspiro. Inesperada.
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  Ele sempre foi o centro das atenções, brilhante e sorridente. Jake era genuinamente feliz. Porém, perto de sua morte, ele se tornou um cara frio e distante. Seu olhar, que antes refletia uma galáxia, passou a ser como um iceberg capaz de congelar qualquer um que entrasse em contato direto. Ele evitava a namorada, me deixava em um abismo emocional escuro e solitário, sumindo por dias e quase nunca parando em casa. Até que, um dia, simplesmente desapareceu de vez. Espalhamos cartazes por toda a cidade, procuramos até cansar e não obtivemos respostas.
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  A busca foi sem sucesso, porque procurávamos um Jake vivo, e o que encontramos foi o corpo sem vida do meu irmão perto do lago em Lawrence. O legista disse que a causa da morte foi suicídio, mas ele não deixou nada: nem bilhete, nem um “vai se foder, %Cassie% e família!”. Absolutamente nada. Depois disso, passamos os próximos momentos supondo os motivos que levaram Jacob a se matar.
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  — Ele nunca se mataria — falei, claramente em negação.
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  Minha mãe, vestida totalmente de preto, bem como todos os presentes na sala, suspirou como quem diz “de novo não” e esfregou o lencinho no nariz avermelhado de tanto chorar.
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  — Por favor, não vamos começar com isso novamente... — respondeu ela, sendo abraçada pelo nosso pai.
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  %Verity% pareceu entender o que eu havia dito. Parou de chorar alto e se manteve em soluços baixos como se esperasse que eu desse continuidade. Já minha mãe, rezava aos céus para que eu calasse a boca. Era assim, eu e Jake também éramos opostos: ele era o filho querido, o prodígio. Eu, “a rebelde indomável”, segundo minha mãe. Mas isso não tinha a ver com ser rebelde ou não. A morte do meu irmão gêmeo era suspeita e eu tinha a plena certeza que ele não faria aquilo.
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  Ele nunca me deixaria, nem abandonaria %Verity%.
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  — Estou dizendo, isso é muito suspeito. Jake levava uma vida incrível... digo, você nem ao menos considera outra causa além de suicídio? — questionei novamente.
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  Minha mãe suspirou mais uma vez, e então se levantou, voltando a chorar descontroladamente.
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  — Chega! — exclamou ela. — Não vou ficar aqui ouvindo isso de você. É seu irmão, e ele se foi. Quanto antes nós aceitarmos, mais cedo ele poderá descansar e mais fácil serão as coisas agora que ele partiu.
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  E então, se retirou dali. Entretanto, Jake ainda era velado por %Verity%, que havia parado de chorar e me olhava de relance. Seus olhos estavam vermelhos, carregando uma ira e uma tristeza indescritíveis.
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  — Você sabe que eu tenho razão — tentei novamente, mas dessa vez, com o tom de voz mais brando, suavizando a demonstração de injustiça que inundava meu coração. — Jake não se matou. Ele foi morto.
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  — Eu sei — respondeu ela. — Eu tenho tanta certeza que Jake não se mataria como a que tenho de que vou morrer um dia.
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  Ela se levantou.
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  Uma faísca acendeu em meus olhos. Uma chance de buscar justiça por Jacob.
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  — E nós vamos descobrir quem foi — concluiu %Verity%.  
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Prólogo
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