Ghost Girl

  %Yeonjun% pintava incessantemente como se a sua vida dependesse disso, até que seu punho estivesse tão dolorido a ponto de fazê-lo chorar e o seu braço não aguentasse ficar mais na posição necessária. O seu amor pela pintura às vezes passava do nível saudável e vagava pela obsessão, mas quando se tem contas a pagar e a sua única renda são seus quadros, você acaba focando naquilo mais do que queria — por mais que, nesse caso, %Yeonjun% assumisse que ele literalmente vivia por suas artes. Apesar dessa questão, o homem vivia uma vida confortável e possuía um pequeno círculo de amigos — mesmo que ignorasse os convites de saídas na maior parte do tempo para ficar em seu estúdio —, e nada o incomodava, nem mesmo o alarme do carro do vizinho que tocava todos os dias às cinco da manhã. Quando estava focado nas telas, o mundo poderia acabar que ele não perceberia e honestamente, o rapaz não se importava.

  Mas, há cerca de um mês, ele começou a ter insônia, e nas poucas horas que conseguia dormir, %Yeonjun% sonhava com uma silhueta, mais precisamente um fantasma de uma mulher, e não era preciso dizer que aquilo o irritava. Por mais que quisesse dormir menos para pintar mais, ele sabia que era necessário uma boa noite de sono para ter um desempenho excelente em seu trabalho, e a partir do momento em que essa garota misteriosa apareceu em seus sonhos, %Yeonjun% sentia como se o seu mundo tivesse virado de cabeça pra baixo.

  No entanto, o rapaz havia desenvolvido uma nova paixão — ou obsessão — pelo fantasma, não conseguindo parar de pintá-la desde o dia um, curioso o suficiente para descobrir quem ela era e o seu nome. Em seus sonhos, ele tentava se comunicar com a mulher, e apesar de vê-la falando, não saía um som sequer de seus lábios rosados, o fazendo ficar constantemente na primeira fase. Tentou, então, outros tipos de abordagem, e mesmo que conseguisse se aproximar dela e até criar um tipo de laço, ainda não conseguia descobrir nada sobre a garota. Mais um mês passou e os sonhos pareciam estar mais tranquilos, e conforme se aproximavam, %Yeonjun% não podia negar que depois de anos ele havia encontrado algo que o mantinha tão vidrado quanto pintar, e assim como alguns artistas, o rapaz sentiu que tinha encontrado a sua musa inspiradora, provocando em si a sede de ir atrás de qualquer informação mínima que fosse a respeito dela.

  Em meio às buscas e sonhos, o pintor se viu preso em uma relação totalmente sobrenatural, contudo, ele não se importava; são ou não, %Yeonjun% havia encontrado a sua musa, e ele não queria perdê-la.

  Se a mulher quisesse, ela poderia levar a sua alma que ele não ligaria.

  Acostumado com as poucas horas de sono e o dobro dos copos de café, o rapaz continuava a pintar aquela silhueta misteriosa incessantemente, usando os cenários dos seus sonhos como referência e cada vez mais se envolvendo com aquela situação. Ele não se via mais sem a sua presença, e podia jurar que estava começando a vê-la no seu dia a dia, o que o fazia querer estar com ela mais e mais. Apesar do seu nome ainda ser uma incógnita, o rapaz conseguiu reunir algumas poucas informações sobre a fantasma, e por mais que tudo parecesse um quebra-cabeça sem fim, ele tentava ilustrar o que sabia em forma de pintura, percebendo que os seus quadros estavam lhe contando uma história.

  Talvez, quando completasse todos, %Yeonjun% descobriria a verdade por trás da sua musa.

  E ele completou.

  Aquela foi a última vez que sonhou com aquela silhueta tão bela que o fazia chorar. Dois meses haviam passado desde que %Rosie% apareceu em seu sonho, com um sorriso encantador e um olhar apaixonante que faria qualquer um suspirar. Pela primeira vez em meses, %Yeonjun% sentiu que estava em um sono profundo, e não tinha entendido o motivo até acordar e perceber que, quando se deitou para dormir no final do dia, a mulher havia sumido, o deixando apenas com a lembrança de como ela ficou feliz ao escutar o seu nome sair dos lábios de %Yeonjun%. Ele tentou chamá-la, mas todas as tentativas eram em vão, e aos poucos o rapaz percebeu que a sua musa não apareceria mais, e que nunca descobriria a razão pela qual ela surgiu em seus sonhos.

  O pintor encarou todos os seus quadros com um pesar, sentindo um aperto em seu coração ao ver uma %Rosie% alegre em suas pinturas, e sem saber muito bem o que fazer, ele saiu sem rumo pelas ruas frias, acendendo um cigarro para esquentar o seu corpo. Entre uma tragada e outra, ele observava o pouco movimento da cidade sem muito interesse, até que, por um breve momento, o rapaz podia jurar que havia visto %Rosie% vagando.

  %Yeonjun% seguiu todo o trajeto que ela tinha feito e acabou parando em um beco sem saída que era fundos de alguns bares locais, rindo sem humor. Provavelmente ele estava alucinando, afinal, não tinha uma alma viva naquele lugar e não tinha como %Rosie% estar ali, o que o fez suspirar alto, se sentindo idiota. A sua única opção era voltar para casa e pintar, e conforme refazia o caminho do seu estúdio, ele decidiu olhar os anúncios que os bares colocavam nas entradas, por mais que não passassem de folhetos com fotos e nomes dos bêbados que causaram brigas, até que um o chamou atenção. A foto nítida de uma bela moça com os dizeres “descanse em paz, nossa musa” fizeram com que %Yeonjun% caísse de joelhos no chão, e uma lágrima solitária rolou por sua bochecha. A data da sua morte era a mesma de quando ela parou de aparecer em seus sonhos, e mesmo que quisesse perguntar ao dono sobre, ele não conseguia se mover, se vendo preso e desolado na realidade que precisava encarar.

  Naquela noite, %Yeonjun% demorou a dormir, apesar de ter melhorado da insônia. O seu estômago doía e a sua cabeça não parava de repassar a foto sorridente de %Rosie%, o sorriso igual ao do seu último sonho, e, pela primeira vez, o rapaz pediu algo para os céus e fechou os olhos em seguida, caindo em um sono profundo instantaneamente. Com o coração calmo, %Yeonjun% pôde aproveitar o último relance da imagem de %Rosie%, tendo a certeza de que ela pra sempre estaria eternizada como a sua garota fantasma.