Garota Nacional

Escrito por Ray Dias | Editado por Lelen

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  A boate estava apinhada de pessoas e muitas, vidradas nos movimentos de . A mulher chegou naquela noite acompanhada de e , suas amigas, e extremamente nervosa por ter sido demitida após negar sair com seu chefe. Detestava com todas as suas forças, a forma como os homens acreditavam ser capazes de impor qualquer domínio sobre ela. E naquela tarde, ela havia estourado.
  — Muito bem amiga! Se jogaaaa! — gritou para . As duas já estavam para lá de Nárnia com o álcool correndo por suas veias. — Aquele babaca do seu chefe não será capaz de estragar sua noite!
  — Ex-chefe ! Ex! — corrigiu igualmente bêbada.
   não estava atenta à conversa das duas. Mantinha-se concentradíssima em sua dança sensual no meio da pista, tendo o cuidado de não derramar nenhuma gota de sua bebida, tampouco estragar seu vestidinho preto indefectível. havia chegado na boate um pouco antes das três mulheres, e desde então notou . Estava no balcão do bar observando-as e bebendo desde que elas chegaram. Não tinha muita coragem de se aproximar, e logo o bartender não suportou a curiosidade:
  — Cara, me desculpe, mas você não vai lá, não? Está babando na mulher desde que elas chegaram! Eu ‘ agoniado!
   riu, e olhou para baixo bebericando mais um gole de sua cerveja. Apontou para si, como se fizesse pouco caso da própria figura e respondeu:
  — Olha para mim, irmão. Sou um qualquer, vulgar. Vê bem se uma mulher daquelas vai querer treta comigo…
  — Você está é marcando a maior bobeira! Vai que ela se interessa por “qualquer vulgares”. — O bartender riu e saiu retornando ao trabalho.
   então pensou: “é, pode ser…”. Como se criasse coragem, ele caminhou direto ao local onde balançava seus quadris extremamente sensuais. e não deixaram de notar a presença masculina cheia de pose e peito estufado, como se fosse à guerra. Entreolharam-se e riram:
  — Iii… Pronto… — pronunciou.
  — Homem é tão ridículo não é? — perguntou.
  — Por isso eu nem perco meu tempo com eles… — gargalhou, e sentiu tocando-lhe o cotovelo de modo gentil.
  — Me desculpe, com licença, por favor? — pediu ele.
  As duas deram passagem e observaram a cena que viria. se aproximou cauteloso, de . Pigarreou e lhe desejou boa noite.
  — O que você quer, hein, cara? — perguntou revirando os olhos.
  — Saber se você estaria a fim de trocar uma ideia… — já estava meio na defensiva depois da recepção da mulher.
  — Trocar uma ideia? De que tipo? Do tipo minha língua na sua boca? — Ela perguntou dando as costas.
  — Ah! Não necessariamente… Quer dizer, eu até quero, mas… Eu só estava falando de nos conhecermos mesmo.
  O muxoxo de nem foi notado por , que se irritou com ele e disparou:
  — Vai para a puta que te pariu, cara! Vocês são uns babacas! Chegam com essa conversa fiada de “se conhecer” e o caralho a quatro, mas o que vocês querem é arrancar nossas calcinhas de qualquer jeito! Vai-te à merda!
   e soltaram uma gargalhada estrondosa e se colocaram preparadas para o caso de ser o tipo que “não sabe levar um não”. Mas, na verdade, ele apenas levantou as mãos para cima, em sinal de rendição, e olhou para de um modo decepcionado. Deu as costas a ela e pôs-se a voltar para o balcão. Puto. Muito puto com a humilhação desnecessária e falta de educação dela. As amigas de encararam a situação com surpresa.
  — Nossa, mano, essa eu não esperava. O cara saiu mansinho… — falou um pouco confusa, e até preocupada olhando ao redor:
  — Sei não… Ele está sozinho?
  — Ai caralho! A gente não deveria continuar aqui… Vai que ele saiu na boa assim para armar para nós depois? — preocupou-se também.
  — Calma gente! Estamos tão acostumadas com babacas que quando alguém não reage, até assusta, mas… Sei lá, eu fui fudida né? Ataquei o cara sem motivo… — suspirou frustrada: — Que idiotice a minha! Fiquei puta com o Carlos que descontei no moleque, gente… Nada a ver!
   ficou muito incomodada com o que viu nos olhos de . A extrema rejeição dele pela atitude dela. Completamente desnecessária, aliás.
  — Relaxa amiga! Deixa isso para lá! — afirmou, mas sacudiu a cabeça arrependida:
  — Não, não! Eu vou lá pedir desculpa!
  As amigas ficaram a chamando, mas ela não deu ouvidos. Depois, de se aproximarem um pouco do lugar para onde estava se encaminhando, as amigas ficaram na espreita para saber se tudo ficaria bem. estava de costas para a pista, havia pedido seu último drinque preparado para ir embora. Aquela garota talhou seu sangue.
  — Ei cara! — falou se aproximando.
   olhou para a mulher que se posicionava ao seu lado, e fechou os olhos contrariado.
  — Aí, na moral, me deixa quieto. — ele pediu.
  — Não, escuta… Eu vim pedir desculpas, sabe? Foi “mó” desnecessário o que eu fiz ali. É que eu tive um dia fodido, sabe e…
  — Cara! — a interrompeu: — Acha que é a única que teve um dia péssimo e veio para balada distrair? Tua falta de educação não tem justificativas.
  Ele respondeu e se levantou já deixando o copo vazio em cima do balcão. Deu as costas e pôs-se a sair da boate. ficou olhando boquiaberta e de olhos arregalados para o lugar onde antes ele estava. Ela procurou as amigas com os olhos e ao encontrá-las as chamou. Mas, nem deu tempo de e entenderem nada, já que estava saindo atrás do tal homem.
  — O que ela está fazendo? — perguntou confusa à , e as duas a seguiram.
   saiu apressada e percebeu parando perto de um ponto de ônibus, onde mexia em seu celular.
  — Cara! Me desculpa! Você tem toda razão, eu fui... Ridícula!
   olhou assustado na direção dela, e quando se deu conta, os olhos de suplicavam por perdão e as duas amigas dela os olhavam afastadas, confusas. Tanto quanto ele.
  — Tá bom… Relaxa. — Ele falou desconfiado e voltou sua atenção ao próprio telefone, que mostrava o Uber se aproximando.
   notou que ele estava prestes a ir embora e perguntou:
  — Aceita o meu telefone?
   não entendeu nada. Olhou para ela ainda mais confuso, mas o motorista o chamando fez com que ele confirmasse a corrida e pedisse ao homem para esperar um pouco. Voltou a olhar para , e ela explicou melhor:
  — Meu número de telefone! Ou… Sei lá, me passa o seu?
  — É sério isso? — perguntou mais baixo, com medo de qual fosse a pegadinha.
   assentiu, com o olhar tão vidrado nele, que foi impossível negar. Ela era detestável, mas muito atraente, e ele queria muito ser ao menos, amigo de uma mulher tão cheia de si como ela. Mal educada, claro. Mas, não poderia julgar, já que ela rapidamente se arrependeu por tratá-lo mal. E também, colocando-se no lugar dela pensou: “quantas vezes ela não teve que lidar com caras babacas o suficiente para ela estourar daquele jeito com ele?”. No fim das contas, talvez ele nem fosse um qualquer tão vulgar. Ou o bartender estivesse certo. O que importava é que ele deu o próprio número de telefone a ela. Achou mais prudente e cavalheiro, e ela aceitou.
  — Garota! — chacoalhou a amiga quando o carro de foi embora. — , maluca!?
  — Ai, gente, ele nem é babaca. Não completamente… Sei lá, curti a real que ele me mandou. Acho que ele só queria bater um papo mesmo.
  — Ah, puta que pariu viu… Tu é exatamente a Garota Nacional! — esbravejou também pedindo por um táxi.
  As outras olharam para ela, sem entender.
  — Que garota nacional, maluca? — perguntou.
  — Aquela… Da música do Skank… Detestável, sensual e bem trouxa.
  As outras duas riram, até protestar:
  — Ei! Mas a garota da música não é trouxa!
  — Não, não. Essa é você, que deu seu número pra ele! — respondeu enquanto elas entravam no carro, aí apontou para o próprio telefone e disse:
  — Não, não. Ele quem deu o dele.
  As amigas arquearam a sobrancelha um pouco menos decepcionadas.
  — ! Você é um pouco trouxa. — falou.
  — A gente só vai ter certeza depois que ela ligar. — corrigiu.
  — Ela não vai ligar, vai?
   marotamente, apenas terminou de beber o resto da cerveja em seu copo e cantarolou sem uma resposta clara, arrancando gargalhadas das amigas:
  — Beat it laun, daun daun… Beat it laun, daun daun…

Fim



Comentários da autora


  Nota de autora: Ei pessoal, espero que tenham gostado desta short! Obrigada por lerem e se você chegou até aqui, por favor, deixe um comentário! =)