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#008 Temporada

Fuckin Perfect
P!nk


  

Fuckin' Perfect

Escrita por Agatha Mello

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  P.O.V. Her

  As lágrimas vieram, mais uma vez, quando fiquei sozinha, escondida dentro da cabine do banheiro da escola depois de ouvir novos comentários e olhares tortos sobre mim. Talvez fossem as vozes em minha mente que quando se uniam a insegurança se tornavam verídicos e concretos. Talvez os sussurros pelos corredores que ecoavam até meus ouvidos fossem opiniões sinceras que refletissem minha real aparência e não aquela que eu via no reflexo do espelho uma vez por semana.
  Pareceu que horas se passaram dentro daquela cabine até que batidas contra a porta se tornassem audíveis, me assustando e então me deixando em alerta com o que poderia vir a seguir.
  Permaneci em silencio. Eu não precisava de mais palavras desagradáveis para piorar a minha auto estima baixa. Não agora.
  - ? – A voz era familiar. O timbre baixo, rouco e firme era mais do que familiar, pertencia ao porto seguro que me sustentava há vários anos. – , sou eu. - Não demorou para que eu descesse do vaso sanitário e abrisse a porta, me jogando nos braços de , meu melhor e único amigo. – O que aconteceu? – A preocupação era nítida em sua voz enquanto seus braços me apertavam contra si.

  “Made a wrong turn
  (Segui o caminho errado)
  Once or twice
  (Uma ou duas vezes)
  Dug my way out
  (Cavei até conseguir sair)
  Blood and fire
  (Sangue e fogo)
  Bad decisions
  (Decisões ruins)
  That's alright
  (Tudo bem)
  Welcome to my silly life
  (Bem-vindo à minha vida boba)”

  Mas, a resposta não apareceu. Ela nunca chegou aos meus lábios.
  As vozes em minha cabeça novamente estavam vencendo.

[...]

  O sorriso surgiu inicialmente tímido e se transformou para descontraído a medida que as piadas de eram contadas durante o caminho que faziam até o cinema. Era quarta-feira. Dia de fazerem algo, juntos.
  O silencio se aproximou sorrateiro e nos acolheu confortavelmente.
  Caminhar em silencio era algo único na nossa amizade de, por incrível que pareça, dez anos.
  Conheci com cinco anos de idade enquanto brincava em um parque próximo a casa que morava quando meus pais ainda eram casados. Ele estava sendo atormentado por três garotos mais velhos e eu querendo brincar sem presenciar qualquer injustiça, usei um balde de areia de brinquedo para acertar a cabeça dos mais velhos. O ato inconsciente me redeu uma bronca de mamãe e um amigo incrível.
  Às vezes, as vozes faziam com que eu questionasse essa amizade e trazia discussões terríveis que rendiam brigas duradouras entre nós dois. Afinal, o que um garoto “popular” está fazendo perto de alguém como... eu. faz questão de lembrar que uma amizade sincera como a nossa não se baseia em aparências ou no que os outros pensam de nós, mas sim no que sentimos quando estamos um com outro. Ele diz se sentir seguro e confiante. Eu nunca disse como me sinto de verdade.
  Algumas verdades não devem ser ditas.
  Algumas verdades devem ser mantidas no “escuro”.
  Algumas verdades ferem mais que as outras.

  “Mistreated, misplaced, missunderstood
  (Maltratada, deslocada, incompreendida)
  Miss know it, it's all good

  (Senhorita “sabe tudo”, está tudo bem)
  It didn't slow me down

  (Mas isso não me parou)
  Mistaken, always second guessing
  (Errada, sempre em dúvida)
  Underestimated, look I'm still around
  (Subestimada, olha eu ainda estou por perto)”

  Nossos olhares se encontraram quando vimos alguns amigos de conversando e rindo escandalosamente na fila da bilheteria. Eu sabia que ele estava pronto para ignorá-los e me proteger dos comentários maldosos que poderiam ser proferidos. Mas, eu também sabia o que aquilo provocaria e machucaria ele de alguma forma mais cruel. Nós dois sabíamos que o jogo da adolescência não funcionava daquele jeito.
  - Está tudo bem. Não precisa se preocupar.  – Murmurei antes de vê-lo sorrir fraco, como se pedisse desculpas pelo que viria.
  Nós nos aproximamos do grupo e, imediatamente, os olhares foram direcionados a mim. Eles diziam coisas que magoavam, que destruíam quem eu era ou quem deveria ser lenta e gradativamente.
  - Não sei se vocês se lembram, mas essa é . Minha melhor amiga. – fez questão de me apresentar pela milésima vez e deixou entrelinhas que não aceitaria qualquer desrespeito comigo em sua presença. Os problemas sempre ocorriam quando ele estava longe, quando ele havia acabado de dar as costas aqueles que chamava de “amigo”, quando sua inocência o fazia acreditar em todas as belas palavras ditas por terceiros.
  Um falso coro animado se pronunciou com as famosas frases: “Quanto tempo, !”, “Você está linda! Onde comprou essa blusa?”, “É um prazer conhece-la!” e tantas outras, mas apenas um deles foi sincero o suficiente para dizer o que todos queriam, só não tinha a coragem necessária.
  - Nós já a conhecemos, . – O garoto de olhos azuis disse, olhando para o outro com seriedade antes de desviar sua atenção para mim. Seu nome é Drew. – Nós a conhecemos muito bem. – Ele acrescentou enquanto nossos olhares se mantinham fixos.
  O sorriso surgiu forçado nos lábios daquele garoto e a vontade de chorar me sufocou. E, novamente, para não magoar os sentimentos de e destruir o que deveria ser a “nossa” noite, ignorei todas as provocações e a asfixia aumentou.
  Não demorou para que a sensação de estar fora da zona de conforto se fizesse presente, tal como a noção de estar deslocada, fora do ambiente tão confortável e seguro que me protegia da dor e insegurança.
  Quando o horário de entrarmos na sessão do filme escolhido previamente antes de sairmos de casa, tive a vontade de voltar para casa, de seguir meus instintos e dar meia volta sobre meus calcanhares para me afastar daquela situação sufocante e cansativa.
  Eu queria ir para casa.
  Essa foi uma decisão fácil de se fazer, tanto que não pensei duas vezes antes de ir embora. saberia sobreviver sem a minha presença indesejada por seus amigos.
  Ignorar seu chamado foi a parte mais complicada porque isso significava que estávamos rompendo nosso laço de amizade.
  Um golpe teria doido menos.
  Uma ameaça teria sido menos assustadora do que a incerteza de estar fazendo ou não algo certo.

  “Pretty pretty please
  (Querido, querido, por favor)
  Don't you ever ever feel
  (Você nunca se sente?)
  Like you're less than fucking perfect
  (Como se você fosse menos do que fodidamente perfeito)
  Pretty pretty please
  (Querido, querido, por favor)
  If you ever ever feel
  (Se em algum momento você se sentir)
  Like you're nothing
  (Como se fosse nada)
  You're fucking perfect, to me
  (Você é fodidamente perfeito pra mim)”

  P.O.V Him
  
Eu não entendia o motivo pelo qual não se amava.
  Eu não entendia como alguém, como ela, não conseguia amar as pequenas e sutis sardas que dominam seu nariz e bochechas, dando um toque único a garota. Não entendia como ela podia não gostar do sorriso sincero que preenchiam seus lábios e iluminavam seus olhos de uma maneira indescritível, tanto que me fascinavam e faziam amá-la cada dia mais. Não conseguia entender quando ela havia deixado que as “vozes” a vencesse e destruíssem seus sonhos mais inocentes com o tempo. Não conseguia entender como ela não podia amar sua risada escandalosa ou suas manias imperceptíveis ao morder o lábio inferior quando estava concentrada com alguma coisa, principalmente, com os deveres de matemática. Não queria entender o motivo pelo qual ela odiava seu próprio corpo que, aos meus olhos, havia sido uma das criações mais maravilhosas e fascinantes do Todo-Poderoso lá em cima.
  Meu coração parecia ter sido partido quando a vi ir embora, sem olhar para trás uma única vez, sem responder aos meus chamados, as súplicas indiretas, para que ela ficasse e ignorasse aquelas vozes que a destruíam. Ela estava perdendo a melhor parte de sua vida por dar razão a algo invisível.
  Meus novos amigos disseram para deixa-la ir e aproveitar o restante da noite ao lado deles, mas não havia mais graça em estar naquele cinema sem por perto. Por um momento, senti raiva deles por serem tão insensíveis com ela, porém precisei abafar tal sentimento quando lembrei que não era fácil de decifrar e que até eu, mesmo após anos, ainda não o consegui por completo e acredito que isso nunca irá acontecer.
  Voltar para casa foi uma atitude automática.
  O “nosso” dia especial estava arruinado.

[...]

  O final de semana se aproximou lentamente.
  Eu e não estávamos nos falando, minhas tentativas estavam falhando e a esperança começava a morrer junto com a vontade continuar lutando por algo que não tinha lógica ou retorno. Lutar em uma batalha já tendo um vencedor não trazia ânimo algum para a minha força de vontade, nem para ela.
  Na verdade, ela era a minha preocupação e coragem para vencer a guerra que se aproximava.
  Mais uma semana se iniciou e as tentativas permaneciam frustrantes.
  Foi em uma sexta-feira que acabei cansando daquele jogo caótico.
  - ? – Chamei e ela fingiu não me escutar, pois seus passos se aceleraram a minha frente enquanto desviava de alguns alunos. Respirei fundo e apressei os meus passos, sorrindo simpático para algumas pessoas quando toquei o braço dela e a conduzi para um canto mais reservado. – Por que está me evitando? – Perguntei com seriedade e vi o arrependimento se fazer presente junto a algum outro sentimento ainda indecifrável. – Fui eu quem ficou para trás, como um pateta, chamando pela amiga no meio do salão de recepção do cinema. – Relembrei.
  - Não estou te evitando. – Foi a única coisa que ela se prontificou a dizer.
  - Não está? Tem certeza? – Não fui capaz de conter o sarcasmo e quando notei o descontrole se fazendo presente, respirei fundo e contei até dez. – O que está havendo? – Perguntei por fim.
  Seus olhos acumularam as lágrimas e brilharam de uma maneira indescritível. Minha vontade era de pedir desculpas por ter sido tão estupido, contudo eu não podia voltar atrás. Não agora que havia uma chance de algo mudar.
  - Eu sou horrível. – Ela disse, tampando o rosto com suas mãos minúsculas, se comparadas as minhas. – Como você pode querer andar com alguém como... eu? – A pergunta retorica me fez fazer careta de desagrado. Não gostava quando ela se depreciava deste jeito. Ela, realmente, não conseguia ver quão crível é? – Tenho pequenas sardas que mais parecem cravos no rosto, meu corpo não está dentro dos padrões estabelecidos pela sociedade, meus cabelos não são sedosos como os comerciais de Shampoo, não consigo ser uma pessoa sociável ou simpática como você a ponto de fazer amigos a cada passo que dou. – Ela desabafou rapidamente, secando as lágrimas teimosas que escaparam e rolaram por suas bochechas. Havia raiva no gesto. – Não é justo que você tenha que se privar de algo apenas por ter uma péssima amiga como eu, então estou facilitando o trabalho e te dando o adeus primeiro. – As palavras machucam, ferem, doem. As palavras deixam cicatrizes profundas se não forem utilizadas com sabedoria.
  E ela conseguiu me ferir. Profundamente.

  “You're so mean
  (Você é tão mau)
  When you talk, about yourself
  (Quando fala sobre si)
  You're wrong, change the voices
  (Você está errado. Mude essas vozes)
  In your head
  (Na sua cabeça)
  Make them like you instead
  (Faça eles gostarem de você dessa vez)
  So complicated
  (Tão complicado)
  Look how we are making
  (Olha como estamos conseguindo)
  Filled with so much hatred
  (Cheio de ódio)
  Such a tied game
  (Um jogo tão empatado)
  It's enough, I've done all I can think of
  (Chega, eu fiz tudo que pude)
  I've chased down all my demons
  (Eu persegui todos os meus demônios)
  I see you do the same
  (E vejo que você faz o mesmo)
  Ooh ooh”

  - Você é tão má quando fala sobre si mesma. - Pontuei, fazendo careta. -  Você está errada! - Garanti, exasperado com a situação, angustiado por estar preso em um carrossel eterno, cansado de lutar sem ter resultados positivos para variar o placar. - Então mude essas vozes na sua cabeça. - Tratei de aconselhar antes de colocar as minhas mãos dentro dos bolsos frontais de minha calça jeans. - Faça eles gostarem de você dessa vez. - Aconselhei, deixando com que um sorriso fraco surgisse em meus lábios e impedisse que meus dentes ficassem amostra. A olhei por mais alguns segundos e então dei meia volta sobre meus calcanhares, seguindo meu caminho para fora da escola. Desta vez, foi a minha vez de não olhar para trás.

  “Pretty pretty please
  (Querido, querido, por favor)
  Don't you ever ever feel
  (Você nunca se sente?)
  Like you're less than fucking perfect
  (Como se você fosse menos do que fodidamente perfeito)
  Pretty pretty please
  (Querido, querido, por favor)
  If you ever ever feel
  (Se em algum momento você se sentir)
  Like you're nothing
  (Como se fosse nada)
  You're fucking perfect, to me
  (Você é fodidamente perfeito pra mim)”

  Quando um novo final de semana se iniciou, não me permiti ficar preso em casa, como um pássaro engaiolado, olhando para o teto como se esperasse que ele criasse uma boca e resolvesse todas as perguntas que ajudassem a resolver os meus problemas. Não era certo me afundar na “bad’ até segunda-feira chegar e me dar um pontapé.
  Foi assim que decidi ir até o centro da cidade, passar o tempo. Acabei conhecendo algumas lojas que estavam iniciando seus negócios pela área, comprei novos livros e jogos, comi todas as besteiras que minha mãe odiava e, no final, fui a uma festa a qual o convite havia sido feito dois meses antes.
  Foi inevitável não me sentir desconfortável no meio daquelas pessoas que mal conhecia, tentando seguir por um caminho que não fazia o meu estilo, apenas para acalmar uma mente confusa que implorava por notícias sobre a garota problema.
  Éramos horríveis juntos.
  E eu não me importava.

  P.O.V. Her
  Tudo o que havia me dito em um momento caloroso, onde suas emoções estavam gritando coisas piores do que as proferidas, permanecia rondando minha mente e acuavam, nos dias seguintes, a minha vontade de ir até ele nos corredores da escola ou passar por sua casa para pedir desculpas pelo meu ato infantil.
  Um furacão tinha transformado meu mundo inteiro em gelatina e o sacudiu, deixando somente a desordem pelo caminho.
  Passei boa parte do meu sábado encarando o teto. O gesto era o máximo que minha mente poderia permitir sem me acusar de algo.
  O surpreendente da situação era que: desde que havia jogado parte da verdade em mim, as vozes se calaram.
  Era um avanço histórico.
  Foram as batidas leves na janela do cômodo que me tiraram do meio dos devaneios e então meus lábios acomodaram um sorriso tímido quando o vi se apoiar no batente e se jogar para dentro do quarto.
  - Temos que conversar. – Dissemos juntos após minutos constrangedores de silêncio. A risada veio fácil. E o mundo pareceu mais simples.

  “The whole world is scared so I swallow the fear
  (O mundo inteiro está assustado, então engulo o meu medo)
  The only thing I should be drinking
  (E a única coisa que eu deveria beber)
  Is an ice cold beer
  (Era uma cerveja bem gelada)
  So cool in lying and we tried tried tried
  (Facilmente mentindo e eu tentei, tentei)
  But we try too hard, it's a waste of my time
  (Mas nós tentamos demais, é um desperdício do meu tempo)
  Done looking for the critics
  (Cansei de procurar pelas críticas)
  Cuz they're everywhere
  (Porque elas estão por todo lado)
  They don't like my jeans
  (Eles não gostam do meu jeans)
  They don't get my hair
  (Não entendem o meu cabelo)
  Stringe ourselves and we do it all the time
  (Sempre tão rigorosos com nós mesmos o tempo todo)
  Why do we do that?
  (Por que fazemos isso?)
  Why do I do that? Why do I do that?
  (Por que faço isso? Por que faço isso?)
  Yeah
  Ooh
  Ooh, pretty pretty pretty
  (Ooh, querido querido querido)”

  - Por favor. – Ele pediu, deixando seu cavalheirismo falar mais alto, fazendo um gesto leve com a mão para que eu me pronunciasse.
  - Você está certo. – Disse. – O mundo inteiro está com medo, completamente assustado e eu estou cansada de procurar pelas críticas. las sempre estarão por todos os lugares e lados que eu olhar. – Soltei um suspiro cansado em seguida. – Eu sinto muito por ter te magoado. – A sinceridade naquele pedido de desculpas o fez sorrir fraco antes de seus braços envolverem meu corpo em um abraço apertado. Seu nariz se escondeu na curvatura de meu pescoço e o hálito quente arrepiou-me inconscientemente. A promessa de mudanças, mesmo que indireta, havia sido feita e formalizada verbalmente. Faltava apenas começar a colocar o plano em ação.

  “Pretty pretty please
  (Querido, querido, por favor)
  Don't you ever ever feel
  (Você nunca se sente?)
  Like you're less than fucking perfect
  (Como se você fosse menos do que fodidamente perfeito)
  Pretty pretty please
  (Querido, querido, por favor)
  If you ever ever feel
  (Se em algum momento você se sentir)
  Like you're nothing
  (Como se fosse nada)
  You're fucking perfect, to me
  (Você é fodidamente perfeito pra mim)
  You're perfect
  (Você é perfeito)
  You're perfect
  (Você é perfeito)”

  - Tenho algo a dizer para você, . – murmurou quando me soltou do abraço. - Pretty pretty please... If you ever ever feel like you're nothing, You're fucking perfect, to me (Querida, querida, por favor... Se em algum momento você se sentir como se fosse um nada, você é fodidamente perfeito pra mim). – Ele cantarolou, sorrindo abertamente. – Você é perfeita para mim.

FIM