Four Flowers
Escrito por Sam | Revisado por Pepper
Quando eu era adolescente eu conheci um rapaz que poderia ser considerado como "o sonho de toda garota", ele tinha os cabelos curtos e pretos como o de um "príncipe valente", olhos castanhos que a luz do dia ficavam da cor de mel e quando ele sorria brilhavam mais que as próprias estrelas, era alto, tinha um físico não muito forte porém apenas o necessário para o tipo "sexy", suas covinhas que apareciam quando sorria davam a ele um ar inocente, porém passava despercebido por sua barba rala que mantinha o jeito sedutor, seu nome era Ethan Kenneth. Nos tornamos amigos e consequentemente nos apaixonamos, mas nosso romance não era certo ou ao menos permitido aos olhos dos meus pais já que de acordo com a concepção deles eu não poderia me casar com alguém que não possuía bens, diferente deles que eram donos de terras casas e hotéis por todo o Reino Unido, estupidez. Ele sempre dizia que deveríamos fugir e eu negava, afinal eu era só uma adolescente e ele era quase um homem adulto, mas depois de três anos de namoro "às escondidas" e eu ter atingido minha maioridade, Ethan decidiu que deveríamos fugir, me pediu em casamento e eu aceitei, tenho certeza que aceitaria qualquer coisa que ele me pedisse afinal eu já estava cega. Não é esse um efeito colateral do amor? Nós iríamos para Londres, viver em uma casa que o pai do Ethan havia simplesmente abandonado antes de ir embora com outra mulher, havíamos combinado o dia e o horário para nos encontramos, comprado as passagens de trem, mas de algum modo meus pais descobriram e quando chegou o dia, me doparam e quando acordei estava em uma cidadezinha qualquer bem longe de Cambridge, onde eu fiquei literalmente trancada dentro de uma casa até o dia em que eu li a notícia no jornal: "Jovem é encontrado morto na ferrovia de Cambridge, não há indicações de qual foi a causa morte porém policiais suspeitam de suicídio. Seu nome era Ethan James Kenneth de 23 anos de idade".
Eu fiquei completamente desolada, não pude evitar as lágrimas que vieram sem nenhuma pausa durante semanas, e só depois de chorar e ficar sem nem mesmo sair da cama eu resolvi fugir por conta própria, o que eu deveria ter feito antes e voltado a tempo de impedir a morte do homem que eu mais amei na minha vida, ou eu poderia simplesmente ter aceitado quando ele me pedia para fugir nas primeiras vezes, mas eu não fiz isso e agora ele está morto. Minha culpa. Peguei todos os cartões de crédito e dinheiro que consegui encontrar pela casa, comprei uma passagem de trem direto para Londres, onde tentei ao máximo recomeçar a minha vida, a qual não tem tido nenhuma alegria nesses longos anos.
Eu estou em Cambridge por ele, pelo Ethan, hoje fazem 4 anos desde a sua morte e resolvi vir visitar pelo menos uma vez a sua lápide pois estava me sentindo uma egoísta, eu havia praticamente o abandonado e continuei durante esses anos, não posso fazer isso com alguém que fazia tudo por mim e me amava mutuamente. Estacionei meu carro em frente ao cemitério onde Ethan provavelmente está enterrado, me sinto péssima percebendo que nem ao menos sei aonde o corpo está ou até mesmo se ele foi cremado. Pego o buquê de rosas que deixei no banco do passageiro e me retiro do carro, trancando-o em seguida.
- Com licença, posso saber onde Ethan James Kenneth está enterrado? - perguntei para a moça na "recepção".
- Claro, pode repetir o nome por favor?
- Ethan James Kenneth.
- Ethan... Foi uma pena o que aconteceu com ele - assenti sem esboçar nenhum tipo de sorriso, eu acho que essas recepcionistas não devem nem saber a causa da morte de cada pessoa enterrada ali, apenas sabe que é uma pena o que aconteceu, e o que aconteceu foi que a pessoa morreu - Encontrei, mas vou levar você até lá pois é um lugar um pouco mais afastado das outras lápides - assenti novamente enquanto ela saía de trás da bancada e seguia em direção ao tal lugar, não pude deixar de dar um longo suspiro ao ver todas aquelas lápides e imaginar que o meu Ethan, logo o MEU Ethan está enterrado embaixo da terra e uma daquelas pode pertencer a ele. Paramos em frente a uma lápide que ficava exatamente embaixo de uma árvore, belamente decorada e com a cruz encima, é tudo simplesmente lindo e em um lugar muito privilegiado, mas a família dele não teria como pagar um espaço assim - Tenho certeza que pagaram muito caro por esse espaço... Ethan deveria ser muito importante, vou lhe deixar a sós.
- Continua sendo - disse sem tirar os olhos do lugar onde está o corpo do meu primeiro e único amor verdadeiro. De repente senti várias lágrimas molharem meu rosto e caí de joelhos "ao seu lado" - Oi meu amor - comecei a falar e sei que ele estaria me ouvindo onde quer que estivesse, eu podia sentir sua presença me transmitindo segurança novamente - Eu estou aqui... Me desculpe por te abandonar durante todos esses anos e por não ter fugido antes, eu me sinto tão culpada... Queria poder voltar no tempo e impedir que isso acontecesse com você. - e foi nessa hora que comecei a chorar descontroladamente - Eu ainda te amo tanto - parei e respirei um pouco, apertei as flores em minha mão e fui colocando uma de cada vez. Pode parecer bobo, mas eu trouxe 4 flores, uma para cada momento bom que eu e Ethan estivemos juntos, momentos que me trazem dor e ao mesmo tempo felicidade ao relembrar.
Primeira Flor.
- Então... huh? – olhei para cima e vi ele, o rapaz mais velho que estuda comigo, o rapaz mais atraente desta escola.
- Sim? – eu já deveria estar corada por falar com ele, este homem era definitivamente o “sonho de consumo” de qualquer garota ali. Sempre desarrumado e aprontando por aí, era considerado como um dos “cool guys” isso se não era o principal “cool guy”, extremamente sexy.
- Posso ir com você? Também moro nessa direção. – ele colocou uma das mãos na nuca, e eu sinceramente me senti uma idiota por ter passado 5 segundos apenas olhando para o movimento da sua boca enquanto mascava um chiclete.
- Ahm, claro – 10 minutos se passaram e nenhuma palavra sequer foi dita, até chegarmos em frente à minha casa.
- Então... Topa sair qualquer dia?
- Um... Encontro?
- Pode se dizer que sim – ele sorriu e colocou sua mão na nuca, eu não sei o que estava sentindo no momento, talvez vergonha ou até mesmo medo, afinal, ele é o rapaz mais velho da sala, o “bad boy” e eu ainda sou a “daddy’s little girl”. Mas quem sabe... Não é hora de mudar.
- Claro!
Eu não sabia, mas ali havia traçado meu destino, e este seria amar Ethan Kenneth completamente e profundamente. Não estou reclamando, afinal amar este homem foi a melhor coisa que poderia ter acontecido comigo. Só não sabia que iria acabar tão rápido.
Segunda Flor (Dedicado a Thay, te amo Thay)
1 ano. 1 ano que eu havia entregado meu amor para Ethan, ele havia mudado completamente minha vida e devo dizer, para melhor. Ethan tinha seus problemas, mas quem não tem? Até os que parecem mais perfeitos tem a sua imperfeição, ninguém é o que parece ser, somos todos peças defeituosas em um tabuleiro chamado mundo. Eu não me arrependo de nenhum momento de cada um desses 365 dias, e tenho certeza que nunca me arrependerei, principalmente dos que ainda estão por vir.
- O que está pensando?
- Em como eu não me arrependo de nenhum momento que passei com você.
- – ele passou a mão pelo meu rosto, colocando uma mexa do meu cabelo atrás da orelha – Eu acho que nunca cheguei a amar alguém como amo você, e não sei se seria capaz de amar novamente se um dia eu chegasse a te perder. Você mudou minha vida, me mudou e sinceramente, todos os dias eu agradeço por te ter por que todas essas mudanças foram para melhor, mas eu agradeço principalmente por você me permitir estar na sua vida. - sorri e passei um pouco do meu sorvete em seu nariz, rindo com isso.
– Feliz aniversário de 1 ano de namoro! – me levantei ficando na ponta do pé e beijando a ponta do seu nariz – Eu te amo.
Solucei, apertando a terceira flor contra meu corpo. Lembrar de tudo isso está sendo um alívio para mim depois de tanto tempo me forçando a esquecer. Agora sei que a última coisa que quero é apagar essas memórias da minha mente.
Terceira Flor (Dedicado a Lara, a mina sensual)
Eu havia brigado com meus pais, nunca havia me sentido tão triste como naquele dia e foi ele, Ethan que estava ao meu lado, aguentando minhas lágrimas e me apertando contra seu corpo.
- Você não quer entrar? Esse frio pode não fazer bem.
- EU NÃO ME IMPORTO, NÃO ME IMPORTO!
- , amor, calma.
- Ethan... – eu me apertei mais ainda contra seu corpo, nós estávamos deitados no gramado da casa da mãe dele. Meus pais não entendiam que eu o amava e não viam o quanto Ethan me fazia bem, eles estavam sempre se importando com bens materiais.
- – ele segurou minha mão – você já pensou em casamento, o nosso casamento?
- Ethan, meus pais não aprovam nem o nosso namoro imagina um casamento!
- E o que você acha de fugir? Imagina uma vida, só eu e você vivendo em Londres – ele segurou a minha mão – com um filho talvez... – sorri ao imaginar isso, sinceramente no momento o que eu mais gostaria de fazer é ir embora daqui e abandonar tudo isso, deixar todos os problemas para trás e viver minha vida com o homem que eu amo... Mas eu tenho apenas 17 anos.
- Ethan, essa é uma proposta realmente tentadora mas, eu ainda não cheguei a maioridade.
- Você sabe que eu posso esperar, eu espero o quanto for preciso por você – e então eu o beijei. Um beijo calmo e sem segundas intenções, um beijo apaixonante. Dormimos ali mesmo, eu abraçada a Ethan e ele com a mão nos meus cabelos. Sentimos o sol em nosso rosto e rimos por nosso descuido de ter dormido no gramado.
- Eu te amo .
Quarta Flor (Dedicado a Marina, a menina que gama)
- Eu ainda não sei o que estamos fazendo aqui!
- Admirando a vista Sam, admirando a vista.
- Nós poderíamos fazer isso em casa, no sofá, assistindo filme, admirando a TV!
- Não seria a mesmo coisa, vem aqui – ele abriu a porta do carro e segurou minha mão, me tirando dali – Olha esse pôr do sol.
- Isso é meio clichê para o bad boy da escola não acha?
- Isso é amor – ele fingiu se emburrar e achei aquela cena tão fofa, que peguei meu celular e tirei foto, esse momento vai ficar marcado.
- EI! Para ficar mais clichê tem que ser fotos em casal e não só minhas.
- Okay, você está muito romântico hoje.
- Já falei que você me mudou? Devo ter ficado 10% gay namorando com você.
- Eu gosto disso.
- Eu sei que gosta, por que você acha que eu continuo fazendo?
- Você é muito bobo, sério.
- Você também gosta disso – revirei os olhos, tirando mais uma foto dele.
Minhas quatro flores, meus momentos preferidos, foram tantos... Mas posso dizer que esses quatro momentos me marcaram e são momentos que eu nunca conseguirei esquecer. Eu poderia falar do momento que ele me pediu em casamento e resolvemos fugir realmente, mas isso me faz lembrar que aquele foi nosso último momento juntos.
Eu sinto falta desse homem, eu sinto falta dos carinhos dele, da voz dele, da presença dele. Sinto falta todos os dias da minha vida, e tenho certeza que essa saudade nunca vai passar, este rapaz que hoje está enterrado foi a pessoa que mudou minha vida, a pessoa que eu mais amei. Eu não fui capaz, nesse tempo que se passou, de amar outra pessoa, meu coração simplesmente está preso ao Ethan, apesar de “Ethan” e “Dor” significarem a mesma coisa, acho que nunca serei capaz de sentir o amor de outra pessoa.
- Hora de ir – sussurro para mim mesma, apesar de ser contra a minha vontade, eu tenho que ir.
Saio andando em meio aquele cemitério olhando todas aquelas lápides e vendo flores ao redor. Imagino se alguém foi tão bobo como eu e pensou em um momento para cada flor.
- Ah. Me desculpe – olhei para cima e vi um rapaz com os olhos vermelhos, provavelmente por conta do choro, imagino que minha situação não esteja tão diferente.
- Sem problema – ele olhou para mim e senti minhas bochechas queimarem por termos ficado ao menos 5 segundos direto com este contato visual.
- Ahm, eu não vou perguntar o motivo de estar aqui pois é obvio, mas posso perguntar por quem você está aqui?
- Noivo, faleceu a um tempo. – segurei o choro que me veio por mencionar a palavra “noivo”.
- Irmã, faz 4 anos. Desculpe, qual seu nome?
- .
- Prazer, .