For The Second Time

Escrito por Melissa Lima | Revisado por Isabelle Castro

Tamanho da fonte: |


  Os olhos castanhos encaravam cansados o teto de madeira. O lado da cama vazio bem ao seu lado estava quente, como se ainda sentisse a presença de uma pessoa que recém saíra de lá. revirou-se segurando as lágrimas. Ter terminado com Gregory tinha sido a coisa mais sensata a se fazer, ela pensou. Com quase trinta anos tinha uma carreira em potencial, um elo forte com a família, algum bocado de amigos e uma vida amorosa meia boca. Veja bem, adorava a vida que estava levando: trabalhava como publicitária em uma agência que sempre sonhara; Embora morasse sozinha, tinha um contato muito grande com sua família; Tinha amigos de verdade que sabia que podia contar; Porém, no amor, ela tinha um dedo bastante podre. Os homens que entravam na sua vida tinham um traço em comum: a sem vergonhíce. Durante sua vida toda ela namorara quatro caras, sendo que três deles foram adúlteros. O outro, a gente fala sobre ele mais tarde.

She's all laid up in bed with a broken heart

  Gregory tinha sido mais um. Não que não desconfiasse, óbvio que sim, sua intuição nunca a enganar antes, mas esperava que, do fundo do seu coração, dessa vez tivesse sido só um alarme falso, embora claramente não teria possibilidade de ser. O local onde ela o conhecera já era suspeito o suficiente: balada. Ele cheirava a álcool e a cigarro, enquanto ela a morango e brisa de verão. Os dois, literalmente, se esbarraram e ele a olhou por três segundos, totalmente atordoado, antes de puxá-la pela cintura e beijá-la. poderia tê-lo detido, mas estava ali naquela noite pra isso mesmo; Superar o ex namorado era seu maior objetivo e que maneira melhor se não beijando um estranho bêbado na balada?
  Após uma hora, ele estava sóbrio o suficiente pra manter uma conversa no bar com , que estava claramente encantada. Gregory era advogado, tinha 29 anos e estava ali pelo mesmo motivo que ela. A garota só podia acreditar que era o destino ou coisa do tipo. Naquela noite os dois foram embora juntos e também dormiram juntos algumas horas depois.
  Os meses passaram e o casal finalmente se assumiu como tal. O começo foi aquele mar de flores: presentes toda semana, carinho, preocupação, cumplicidade. Mas foi quando Gregory perdeu o emprego, cerca de um ano depois do início do namoro, que as coisas começaram a desandar. Ele saía pra beber todo dia, voltando tarde; deixava preocupada; e só pra ajudar conhecera alguns rapazes de uma índole duvidosa. Ela observou que ele voltava estranho após algumas noites em que saía com eles, desligado, um pouco atordoado. Não dava mais atenção ao relacionamento e a mulher já vira algumas marcas de batom em sua camiseta.

While I'm drinking jack all alone in my local bar

   percebera esses sintomas, mas repetia pra si mesma de que estava vendo coisas e criando alucinações na cabeça, mas lá no fundo ela sabia que não. Ele voltara a ser um bêbado e, junto com isso, um drogado e adúltero.
  Três meses depois, então, ele simplesmente parara. Arrumara um novo emprego, tinha deixado a bebida de lado, aqueles amigos também e fora morar no pequena casa que tinha alugado. As coisas estavam melhorando e ela podia sentir isso, ele também. Até esbarrar com um daqueles amigos de novo. Começou como indo ao bar depois do trabalho uma vez ou outra, até que aumentou para três vezes por semana e quando foi perceber, Gregory chegava em casa bêbado todos os dias da semana e, novamente, estranho.
   aguentou o que pôde. Nove meses, pra ser necessário. Até aquela noite, quando ele chegou em casa exalando álcool e com uma mancha vermelha no pescoço.
  Os dois discutiram, ele quebrou alguns vasos de vidro e porta retratos e até avançou nela, mas se conteve. Arrumou sua mala e foi embora sem olhar pra trás.
  E lá se encontrava pela quarta vez, deitada na cama pensando se o amor era feito para todas as pessoas ou se só para algumas extremamente selecionadas, que tinham a sorte de encontrar alguém bom e verdadeiro que as amassem de verdade.
  Ela não poderia reclamar da vida que tinha, mas sentia que nada estava completo, que tinha algo faltando e a garota sabia que era essa parte da vida amorosa não bem sucedida.
  Veja bem, pode parecer idiotice, querer tanto alguém para dar certo dessa forma assim. Jogar e depender toda a sua felicidade no colo de outra pessoa, como se dissesse "toma, me ama aí". não queria isso. Ela era muito bem sozinha, sentia-se feliz sem precisar de alguém do lado, mas uma parte dela sentia falta de ter um relacionamento leve, livre e puro, como o primeiro que ela tivera. Com aquele cara, aquele único cara, que realmente prestou em toda a sua vida amorosa.
  .

And we don't know how, how we got into this mad situation

  Ele fora seu primeiro namorado. Ela tinha 17 e ele 19, mas a maturidade que ele tinha, ah, ultrapassava sua idade. Ele era um príncipe. Estava na faculdade, era inteligente, exalava conhecimento, fazia-a rir muito e a fazia sorrir como ninguém. Ah, e não podemos esquecer que ele tinha um sorriso maravilhoso. Daquele tipo que te faz tropeçar e que quando ele fala sorrindo, você não consegue parar de olhar pra boca dele. E não vamos esquecer do fato de que quando ele diz algo, dá vontade de parar o mundo todo só pra ouvir ele falar, e você poderia ficar ali por horas, e horas, e horas...

Only doing things out of frustration

  A mulher bufou e virou na cama, ficando deitada de bruços. Por longos minutos tudo o que pode ouvir foi o barulho da sua respiração, os olhos fixos em algo além do que ela podia enxergar.
  — Preciso arrumar esse quarto. — Ela disse de repente ainda deitada, olhando fixo pro guarda-roupa.
  Ficou naquela posição pelo que pareceu horas, até que sentou na cama e colocou o travesseiro em seu colo. Como quem respira, ela começou a socá-lo.
  — Por que merda eu sou tão burra assim? Por que eu que sempre tenho que sair com o coração partido, chorando num quarto escuro no meio da noite? — repetia para si mesma enquanto sentia algumas lágrimas rolarem por sua bochecha.
  Cinco minutos depois já estava recomposta. O bom de ter o coração partido tantas vezes, ela pensava, era que você se acostumava com a dor uma hora ou outra; O choro já não seria tão longo, e a queda não seria de tão alto; Ela simplesmente se acostumara a sentir aquela dorzinha enorme da perda.

Trying to make it work but man these times are hard

  Pegou o celular e olhou o visor, em busca de mensagens. Sabia que Greogry mandaria alguma coisa ali a pouco, como sempre fazia. Pensou que precisava mesmo mudar de número; A garota tinha aquele desde que se entendia por gente.
  Faria isso outra hora. Naquele momento tudo o que queria fazer era pegar num sono tão profundo que faria com que ela não sonhasse com nada. E assim aconteceu.

She needs me now but I can't seem to find the time

   foi despertada pelo toque insistente de seu celular. Abriu os olhos e o céu estava clareando. Quem, por Deus, estaria ligando uma hora daquelas?
  — Alô? — Ela disse sem olhar o visor pra ver quem era.
  — ? — Disseram do outro lado de linha e por dez segundos ficou atordoada. Não podia ser. A única pessoa que a chamava assim estava longe, muito longe. — Alô? Ainda tá aí?
  — ? — Ela piscou com força.
  — Ei. — Ele deu uma pausa e a garota tem certeza que ele estava sorrindo antes de perguntar a frase seguinte. — Como você tá?
  — Eu tô bem, mas e você? Meu Deus, faz tanto tempo. Como está o sul? Andou nevando por aí? — Ela riu e ele também.
  — Só as vezes.
  — Estou surpresa por estar ouvindo sua voz. Não imaginava, já faz tantos anos...
  — Faz alguns mesmo, mas sonhei durante esse mês todinho com você e senti que precisava te ligar.
  O silêncio na linha pesou.
  — Eu também tenho sentido sua falta mais que o comum ultimamente.
  — Você acha que nossa sintonia ainda continua firme, então?
  — Firme e forte pelo jeito. — riu e também.
  — Eu estou em São Paulo.
  A revelação fez o sorriso de congelar. Outro silêncio tomou conta da ligação. O cérebro da garota trabalhava a mil por hora pra processar a informação.
  — Você... Está em São Paulo?
  — Eu estou em São Paulo.
  Silêncio.
  — Uau.
  — Olha, pra ser sincero eu esperava outra reação. — riu nervoso e riu mais alto do que gostaria.
  — Não meu Deus, eu tô dando a impressão errada né? — Ela riu. — Eu tô muito feliz que você esteja aqui. Em São Paulo. De novo. — Repetia devagar pra processar a informação. — Eu só estou muito surpresa. Não tava esperando isso. Faz o quê? Oito anos!
  — Oito anos, quatro meses e cinco dias, pra ser preciso. — A garota ficou pasma. — Fiz a conta ontem.
  — Uau.
  — Uau.
  Silêncio.
  — Em que lugar de São Paulo você está?
  — No aeroporto ainda. Vou passar pra deixar minhas coisas na casa dos meus pais e queria saber se mais tarde, se você puder e se seu namorado não achar ruim, você não estaria afim de ir comer alguma coisa ou sei lá.
   teve certeza que ele estaria mexendo no cabelo, constrangido. Ela poderia ter dito um sim, um claro, um COM CERTEZA JÁ TÔ LÁ, mas tudo o que saiu da sua boca foi:
  — Que namorado?
   ficou em silêncio.
  — Sem namorado?
  — Recém sem namorado.
  — Quer conversar sobre isso?
  — Talvez. Mas não hoje, tá? Não quero estragar nosso encontro.
  — Encontro?
  A garota ficou gelada.
  — Encontro do tipo encontrar, e não do tipo...
  — Fica quieta, . Eu sei, só tava te zoando. — Ele riu e ela revirou os olhos, rindo também. Típico de .
  — Você ainda não deixou de ser idiota, é?
  — E você pelo jeito ainda não deixou de ser inocente.
  — Olha, isso é você quem está falando.
  — Isso é o que eu vou provar hoje, às duas. Marcado?
  — Marcado.
  — No lugar de sempre?
   sorriu.
  — No lugar de sempre.

I got a new job now in the unemployment line

   tentou dormir, mas quem disse que a garota conseguira pregar os olhos? Seu estômago girava e revirava. Ter falado com ao telefone depois de tanto tempo mexera com ela de uma forma que não estava esperando. Aliás, quem espera ver ouvir o ex depois de anos e anos e sentir todo o corpo tremer?
  Quando deu nove horas ela se deu por vencida e levantou da cama. Mesmo se dormisse naquele momento, provavelmente acordaria atrasada e se atrasar era, definitivamente, algo que ela não poderia fazer. Jogou os lençóis pro alto, sentando na cama com as mãos no rosto e os olhos fechados. Deve ter ficado nessa posição por cinco minutos antes de levantar-se e ir de encontro ao chuveiro.
  A água estava quente, como ela gostava. Nos dez minutos seguintes em que sentiu a água bater em seu corpo, pensou em tudo que acontecera nos últimos doze anos de sua vida. Nunca imaginara que chegaria a esse ponto da vida tão "rapidamente", trabalhando na Agência que sempre sonhara logo após o término da faculdade. Alguns homens, alguns términos, algumas decepções. E de volta. Quando, em todo essa tempo, ela imaginou sair com novamente?

And we don't know how, how we got into this mess is it a God's test
Someone help us cause we're doing our best

  Algumas vezes, ela pensou. Às vezes quando a vida apertava muito e ela queria sumir, pensava que era a pessoa perfeita para recorrer. Ele daria a ideia de fugir, só os dois, num carro e sem destino, pra ver onde as coisas dariam. , em parte, se sentia reconfortada com tais pensamentos, já que pensar em sempre fora uma válvula de escape para o caos interno da garota.
  Quando desligou o chuveiro ficou por mais alguns segundos enrolada na toalha dentro do box, com a fumaça evaporando a sua volta, os olhos perdidos em algum ponto do azulejo, ainda sem poder acreditar que encontraria o rapaz após muitos anos. Embora a surpresa, tinha uma expressão séria, porém serena, no rosto. Achou que se isso acontecesse novamente ficaria só sorrisos, borboletas, como uma adolescente apaixonada. Mas não estava assim, e isso não era de todo ruim, aliás. Todas as quedas que tivera deixaram-na desconfiada sobre tudo na vida. Estava surpresa, feliz pelo aparecimento do rapaz? Estava. Mas era como se algo dentro dela não acreditasse que ele fosse aparecer no local marcado, na hora marcada. Só acreditaria vendo, embora algo dentro dela dissesse que tudo iria ocorrer bem. tinha alguns tipos de pressentimentos, como sonhos, sentimentos e devaneios. Algumas coisas ela sabia que iriam acontecer, não exatamente do jeito que ela sonhou, ou com quem o sentimento dela incomodava, mas sempre aconteciam. Sempre.
   colocou o pijama, pegou uma coberta e jogou-se no sofá de sala, procurando algum filme na televisão. Era sábado, ela não trabalhava e tinha pouco mais que quatro horas até o horário marcado e precisaria matar esse tempo. Por fim, quando achou um suspense que havia recém começado, deixou-se envolver pela história.

Trying to make it work but man these times are hard

  Quando olhou para o relógio novamente percebeu que o já marcava meio dia. O filme acabara agorinha e respirando fundo, levantou-se do sofá e foi para o quarto.
  Puxou as portas do guarda roupa e encarou o que havia lá dentro por um minuto inteiro antes de constatar que não tinha nada bom o suficiente para aquele dia. Estava frio, mas um sol fraco despontava por entre as nuvens de vez em quando. Resolveu tirar todas as calças do guarda roupa e jogar na cama, olhando cada uma devagar e com atenção. Por fim pegou uma preta justa, que não usava havia uns meses por conta de Gregory. A peça, além de justa como já dito, era pouco rasgada na coxa, o que fazia o ex namorado de reprovar e virar os olhos. Mas hoje, tudo bem. Gregory não estaria lá.
  Voltou o restante das calças pro guarda roupa e tirou as blusas. tinha muitas, admitia. Mas nenhuma parecia perfeita para a ocasião. Até que bateu o olho em uma específica e não teve dúvidas de que seria aquela. Era uma regata larga, já um pouco desgastada, com uma frase em inglês na frente que tinha desde os dezessete anos. Vestiu-a e em seguida colocou uma jaqueta preta por cima, saindo dali e indo em direção a sua gaveta e pegando sua bolsa de maquiagem.
  Parou em frente ao espelho mirando seu reflexo de volta pensando o que iria fazer no rosto. Maquiagem mulher, maquiagem menina? Normalmente ela teria achado essa pergunta idiota, mas nessa altura do campeonato era necessário ser feita. Pegou a base e o pó, passou. Depois uma sombra rosa clarinha e o rímel. Pegou todos os seus batons e ficou indecisa. amava batons. Noventa por cento da sua maquiagem era batom. Normalmente usava vermelho, mas não achou que era o melhor para a ocasião. Pegou um rosa bem clarinho e passou, decidindo que ficara bom. Guardou tudo novamente e parou por dez segundos pra processar o que estava acontecendo.

But we're gonna start by drinking old cheap bottles of wine

   não se lembrava a última vez em que tivera a preocupação de colocar uma roupa legal ou se maquiar bem pra outra pessoa. Isso não acontecera nem pra Gregory, nem para ninguém. Havia muito, muito tempo que ela deixara de se importar o que as pessoas achariam de sua aparência. Só se importava com uma única opinião: A própria.
  Mas ainda assim estava se perguntando se tudo estava no jeito para poder sair. Penteou o cabelo, que agora estava um pouco abaixo do ombro, jogando-o de lado ao sentar no sofá. Faltava dez minutos para uma hora quando ela decidiu tirar as sapatilhas e ler um pouco até sair de casa. Esperava se concentrar na leitura e esquecer desse frio na barriga que ainda insistia em aparecer, firme, forte, como sempre.

Shit talking up all night, saying things we haven't for a while, a while, yeah

  O livro absorveu-a por alguns instantes até que olhou no relógio e viu que era uma e dez. Fechou-o, calçou as sapatilhas, pegou a bolsa. Trancou a porta antes de virar para rua e o vento gelado ter-lhe lembrado de uma outra situação que havia passado anos atrás.

We're smiling but we're close to tears

  Tinha acabado de trancar o portão de sua casa quando virou e apertou a blusa mais para si. O vento gelado batia-lhe no rosto cortante, fazendo arrepiar. Mas era por um bom motivo, pensou. Hoje a garota fazia um ano de namoro com o amor da sua vida. Eles tinham marcado de ir ao lugar de sempre, depois sairiam para jantar em um restaurante que havia aberto a pouco na cidade.
   lembrara de ter sido o melhor dia da sua vida.
   havia lhe dado um anel durante o jantar e a pedido pra ser sua pra sempre. Não que fossem casar, ambos eram muito novos e imaturos para lidar com um casamento; Mas sim, um anel que tinha a intenção que ele dissera: Para sempre.
  Óbvio que aceitou e óbvio que, como você já deve imaginar, não durou pra sempre, sempre. Um ano e poucos meses depois foi quando tudo aconteceu. usou o anel por quase dois anos depois que terminaram. Hoje ele fica guardado na sua caixinha de brincos, intocável. Ela não o usa, mas também não tem coragem de jogá-lo fora. A garota havia lido uma vez uma frase em um livro que a marcara para sempre "obrigada pelo nosso pequeno infinito". Era um pouco disso que lhe dera. Um pequeno grande infinito.

Even after all these years we just now got the feeling that we're meeting...
For the first time

  E dez anos depois lá estava indo , para o mesmo lugar, indo encontrar a mesma pessoa. São situaçõe diferentes, sentimentos diferentes, mas a ansiedade ainda é a mesma.
  Andou por meia hora até chegar ao local que não ia há muito, muito tempo. Ainda estava do mesmo jeito que se lembrava, ela pensou. As paredes de um rosa pastel, que outrora fora descascado e abandonado, o toldo lilás ainda estendido, o estabelecimento aberto com alguns clientes. A Shake Shop ainda tinha a mesma aparência que lembrava: de vida. Era uma loja que o produto principal era Milshake, mas também vendiam sorvetes e cupcakes. Aquele era o lugar deles antes mesmo de ser um lugar.

She's in line at the dole with her head held high, while I just lost my job I didn't lose my pride

  Estava chovendo forte e estava ensopada até a alma. Bendito dia em que fora esquecer o guarda chuva em casa. Voltava pra casa em um sábado após sair com algumas amigas e se via sozinha, molhada, sem um lugar para se esconder. Foi quando viu um único toldo aberto, fazendo proteção das gotas de chova e correu para lá. Ainda estava longe de casa e a chuva não estava com cara de quem cessaria logo, deixando a garota pensar que ficaria ali por horas.
  Começou a reparar de onde aquele toldo fazia parte. Era, com certeza, de uma loja que outrora fora de café e livros. Agora estava abandonada. A porta de vidro estava fechada, porém tinha uma fenda gigante na lateral que, com certeza, passaria uma pessoa por lá. Decidiu entrar e esperar lá dentro a chuva passar.
  O lugar era claro, limpo, ainda sem sinal de poeira. A loja deveria ter fechado há pouco. Ainda tinha um sofá bege no qual deixou-se desabar fechando os olhos, mas assim que os abriu novamente segundos depois levou um susto, gritando.
  — Quem é você? — Ela falou gritando levantando-se do sofá num pulo, se afastando.
  — Calma, eu não vou te machucar. — O outro falou rindo olhando o estado da garota e vendo que ela não estava tão diferente de si mesmo. — Meu nome é . Eu também estou ensopado.
  — E há quanto tempo você está aqui? — ainda dizia alto e firme, se afastando.
  — Há um minuto, na verdade. Acabei de achar esse lugar. — E apontou para a porta oposta da qual ela tinha acabado de entrar. A garota percebera, então, que o estabelecimento tinha duas entradas: Uma para a rua em que ela entrara e outra para a rua que ele entrara.
  — Então você não é nenhum tipo de ladrão, estuprador, ou algum tipo de pessoa que vai me fazer mal? — Ela perguntou ainda desconfiada, parando de recuar.
  — Claro que não! — Ele ria da desconfiança da garota.
  — Mas isso é exatamente o que um ladrão, estuprador ou algum tipo de pessoa que iria me fazer mal me diria primeiro. — disse cruzando os braços e arqueou uma sobrancelha, pensando que ela fora esperta, muito esperta.
  — Verdade. Mas oh, eu tô sem nada. — Ele levantou os braços e depois bateu nos bolsos. — Sem arma, faca ou qualquer tipo de objeto cortante.
   pensou por um momento. Depois descruzou os braços.
  — Mais aliviada? — provocou e manteve o orgulho.
  — Não. Mas é bom você não ser mesmo. Eu faço aula de karatê, sabia? — O que era uma grande mentira, mas o rapaz não precisava saber disso. Ele riu.
  — Tudo bem. Vou sentar aqui, se você quiser se juntar a mim.
  Ela o observou sentar no sofá, tão ensopado quanto ela. Colocou um de seus braços no braço do sofá e com a outra mão bateu no acento ao seu lado, chamando para sentar. Ele tinha um brilho diferente. Ele era de um branco quase pálido, tinha o cabelo loiro escuro e os olhos verdes. Tinha um jeito despojado, meio largado, meio arrumado. Sentou no sofá como se fosse de sua casa, sem se preocupar se estava molhado pela garota ter sentado ali pouco antes. Mas por que ele ligaria? Ele também estava ensopado.
  — Então? — Ele perguntou depois de um tempo, já que a garota ficara em silêncio. piscou rápido e ficou vermelha, como de quem é pega no flagra e disfarçou. Mas é claro que percebeu. E riu. Ela revirou os olhos, descruzando os braços e foi sentar ao seu lado, no sofá. Se ele não fosse tão idiota, ela até poderia se apaixonar por ele.

And we both know how, how we're going make it work when it hurts, when you pick yourself up you get kicked to the dirt

  Ela entrou no local e sentiu uma onda de nostalgia invadir-lhe o corpo. O cheio do Shake Shop era característico: Uma mistura de frutas e chocolate derretido. Sorriu ao sentir o aroma e procurou uma mesa para sentar. Por dentro ele ainda era exatamente igual: Listrado azul e branco, com cadeiras, pufes e sofás de cores claras. O balcão ficava logo a frente, com um cardápio diversificado e atendentes atenciosas para anotar o seu pedido. Foi uma surpresa tanto para quanto para quando descobriram que o lugar deles tinha virado uma loja de Milkshake. Se uma parte de cada um ficou decepcionada, a outra ficou animada depois que começaram a frequentar ali como estabelecimento.
  E foi assim, durante os mais que dois anos de namoro dos dois. Aquele foi o lugar deles.
  Ainda é o lugar deles.

Trying to make it work but man these times are hard

  Assim que ela sentou na cadeira, pegou o cardápio e começou a folear. Ainda tinha a maioria dos milshakes que tinham na época em que ela ia direto, mas alguns novos sabores tinham sido adicionados. Sorriu ao olhar de novo e quando olhou para cima, viu um sorrindo e mais bonito do que nunca a encarando de volta.
  Não pode deixar de sorrir.

But we're gonna start by drinking old cheap bottles of wine

  Ele estava maravilhoso. Por Deus, se era possível, ele estava mais lindo do que ela se lembrava e do que imaginara. Seu cabelo louro escuro ainda estava cacheado, pouco maior do que ela se lembrava; Em seu queixo havia vestígios de uma barba que estava por crescer novamente; Seus olhos, ah. sempre fora apaixonada pelos olhos que o rapaz tinha e estes pareciam um tom de verde mais profundo; Vestia um jeans escuro e uma camiseta branca.
  — Sempre chega mais cedo, né? — Ele sorriu sentando na cadeira em frente a da mulher.
  — Você também. — Ela sorriu e eles se encararam.
  — Velhos hábitos...
  — Que nunca mudam.
  Os dois ficaram em silêncio e se viu fazendo a perguntando que vinha atormentando-a o dia inteiro.
  — O que você faz aqui?
   ponderou por um momento.
  — Bom. Pra falar sobre isso eu preciso falar do momento em que eu fui embora.
   tremeu, mas assentiu, atenta.
  — Depois que eu fui embora por causa da minha proposta de emprego, eu meio que estagnei. Claro que era o que eu sempre quis; Na área que eu fazia faculdade, na empresa que eu quis trabalhar e eles me deram uma bolsa pra eu concluir meu curso lá. Você sempre soube que esse era meu sonho, né? — Ele falou de um jeito manhoso que fez com que só ouvisse e sorrisse. Já comentei o quanto ela amava o fato de que, quando fala, ela quer parar o mundo todo só pra ouvir ele falar? — Mas no primeiro ano eu fiquei perdido. Eu fui mal na faculdade e por um triz eu fiquei na empresa. Eu me envolvi com várias mulheres e sumia na manhã seguinte. Mas eu tive um clique, sabe? Eu tive um clique e me mudei totalmente. Eu foquei nos estudos, me dediquei ao trabalho, fui o melhor em tudo durante anos. — Ele falava sorrindo com a lembrança. — Eu namorei por três anos uma mulher que eu realmente gostei!
  O sorriso de murchou. percebeu e desviou o assunto.
  — Mas enfim. Por eu ter dado essa reviravolta, de um largado pra um dedicado, meu chefe gostou do meu trabalho e me promoveu.
  — Sério? — sorria ao vê-lo sorrir e sentia uma profunda felicidade por ele.
  — Sério. — Ele sorria aberto. E a promoção do cargo é de volta aqui.
   franziu a sobrancelha. Deveria ter entendido errado.
  — Aqui na cidade?
  — Aqui na cidade.
  A mulher estava tonta. ... de volta na cidade?
  — Meu Deus. — Foi tudo o que ela conseguiu exclamar.
  — Pois é. Meu Deus. — Ele pensou. — É engraçado pensar que depois de todo esse tempo meu futuro ainda continue aqui. E que depois de tanto tempo esse lugar — ele olhou em volta — ainda esteja aberto. E que você esteja aqui comigo.
  — Nem eu acredito às vezes. Fazia muito, muito tempo desde a última vez que eu viera aqui.
  — Quando foi?
   pensou.
  Havia sido dois meses depois que ele partira. Ela pedira o milkshake de sempre, olhando em volta e se sentindo sem vida. Tudo perdera a cor. A Shake Shop não parecia mais feliz, mas sim triste, nostálgica e carregada de lembranças. Os olhos encheram de lágrimas ao perceber que a cadeira a sua frente estava vazia. E que permaneceria vazia.
  — Algum tempo depois que você foi embora. Vim aqui sozinha. — Ela disse simplesmente escondendo a parte da fossa e do choro. Seria melhor.
  — O que vocês vão pedir? — Uma moça jovem perguntou-lhes com um sorriso no rosto e um caderninho na mão.
  — Um ChoCaramel.
  — O mesmo de sempre — comentou para , que sorriu. — E um La vie est belle, por favor.
  — O mesmo de sempre — comentou e sorriu.
  — É o melhor milkshake do lugar. — Ela comentou.
  — O ChoCaramel concorre forte com ele, viu. — provocou.
  — Mais ou menos. Chocolate e Caramelo é uma combinação ótima, mas amora, kiwi e chocolate é melhor ainda. — Ela dizia sonhadora, enquando o rapaz a observava sem desgrudar os olhos dela. Tinha ficado mais bonita, ele pensou. Ela sempre fora fã do cabelo longo, mas agora adotara o curto e este lhe caía muito bem. Estava com mais cara de mulher, de independência e exalava liberdade. Mas ainda transpirava a alma de menina que conhecera anos atrás. É difícil dizer.
  — Esse foi o seu significado pro nome do Milkshake.
  — Sim. Esse Milkshake faz com que você ache que a vida é bela. E isso é tudo.
  Poucos minutos depois os milkshakes chegaram e os dois engataram uma conversa animada. Ele contou tudo o que fez em outro Estado e ela, tudo o que fez por aqui. ficou super feliz por ter conseguido trabalhar onde queria, e que tudo estivesse dando certo pra ela.
  — Mas você me disse que estava sem namorado fazia pouco tempo. O que aconteceu?
   mexeu-se desconfortavelmente. Seu olhar pesou e mediu as palavras. Mas afinal, ele era , certo? Ela poderia contar tudo para .
  — Ele me traiu. E não tinha uma índole muito boa. Tive três namorados depois de você e todos eles fizeram a mesma coisa. Mas esse último foi o que mais durou. Achei que podia ser diferente. Mas não foi.
  — Sinto muito, .
  — Tudo bem. Na verdade, pra ser bem sincera, eu já tinha perdido um pouco a esperança nos homens. Você foi o meu único grande lance de sorte. — Ela disse sem pensar e ficou constrangida. sorriu.
  — Você também foi o meu grande lance de sorte. — Ela sorriu, mas desfez o sorriso assim que lembrou da outra pessoa.
  — Claro que não. Tem a garota que você está há três anos. Nós não chegamos nesse aniversário.
  — Não chegamos porque eu fui embora. Eu tenho certeza que teríamos chego e teríamos passado, se eu tivesse ficado. E ela foi importante pra mim, foi muito, eu a amei, mas acabou. Nós queríamos coisas diferentes e a gota d'água foi quando eu recebi a oferta.
  — Sinto muito.
  — Não sinta. Se não fosse por isso, não estaríamos aqui.
  Os dois sorriram.

Shit talking up all night, doing things we haven't for a while, a while, yeah

  A conversa fluíra. Falaram sobre muitas coisas, sobre a vida, sobre o que tinham conseguido, sobre o que queriam. Conversaram sobre a família, sobre os amigos, relembrando histórias e rindo bastante de algumas. Falaram sobre quem tinha engravidado antes da faculdade, durante e depois, e quem virara pai nesses mesmos períodos. Quem havia casado; Quem estava quase casado, mas que se separaram; E quem eles nunca imaginaram juntos, mas que acabaram ficando juntos; Eles riam, ficavam pensativos e discutiam sobre as voltas que a vida dava, perguntando se na época eles imaginariam que tudo acabaria da forma como está hoje.
  — Não mesmo. — disse e foi obrigada a concordar, rindo.
  Conforme o tempo passara, a impressão que os dois tiveram é que em momento nenhum se separaram. Ambos ainda tinham por volta dos vinte anos, criando expectativas de vida e sorrindo só por estarem um com o outro. Embora certas coisas fossem impossíveis de voltar a ser como antes, sorriu por tê-la ali naquele momento. O que a garota não sabia, entretanto, é que em muitos momentos ele tivera a certeza que só ela lhe compreenderia. Quando ele ficou perdido, quando não ia bem na faculdade, quando começou a ir bem em tudo, quando foi promovido... Ele sempre pensara que se ela estivesse lá, tudo teria dado bem mais certo do que deu nesse período. Não deixava de pensar nisso um só dia sequer.

Smiling but we're close to tears, even after all these years we just now got the feeling that we're meeting... For the first time

  As horas passaram voando e quando ambos perceberam, estavam no terceiro Milkshake e lá fora escurecia. olhou para o pulso ficando surpreso com a hora. olhou pelo visor do celular e viu nove ligações perdidas de Gregory e quinze mensagens de texto. Não ouvira o aparelho pois tinha deixado no silencioso.
  —Gregory?
  — Sim
  — Vai respondê-lo?
  — Não. — Ela limpou as notificações e virou a tela do celular para baixo. — Só preciso me lembrar de trocar de número.
  — Pode não ser ma boa ideia.
  — Por quê?
  — Se você tivesse trocado de número antes, não estaríamos aqui agora.
   pensou.
  — Aliás, só você pra permanecer com o mesmo número de telefone por doze anos. — riu e a mulher sorriu, rindo também.
  — Sabia que não mudar de número me valeria de algo algum dia.
  Os dois riram até a risada cessar e se encararem.
  — Saudade de você. — Ele disse por fim e só sorriu.
  — Saudade de você.
  Os dois sorriram, imersos na imagem um do outro. Ambos tinham imaginado esse encontro, mas nenhum imaginou de fato que iria acontecer.
  Pagaram a conta e saíram. Começaram a conversar sobre assuntos aleatórios quando um trovão os fez parar e encarar as nuvens cinzas acima de suas cabeças.

Drinking old cheap bottles of wine, shit talking up all night, saying things we haven't for a while

  — Não acredito nisso! — dizia remexendo na sua bolsa a procura de um guarda chuva que não estava lá. — Como eu posso ter esquecido isso de novo?
   só respondeu:
  — Destino.
   o encarou com leveza, e ele encarou-a de volta. A chuva começou a cair rápida e pesadamente enquanto os dois estavam parados na calçada se olhando sem mexer um músculo sequer. Ficaram assim por volta de cinco minutos inteiros até que olhou para o lado, mexendo no cabelo nervoso consigo mesmo.
  — Eu não deveria ter partido! Eu nunca deveria ter partido! Nunca deveria ter te deixado! Não tem um maldito dia em que eu não pense em como as coisas seriam se eu tivesse ficado com você, tivesse escolhido você! — Ele falava gritando, já que a chuva estava forte fazendo um barulho alto. — Eu nunca deveria ter te ouvido você quando me disse pra ir. — ele falou essa última parte baixinho, como se fosse mais para si do que para ela.

We're smiling but we're close to tears, even after all these years we just now got the feeling that we're meeting... For the first time

  — E agora você está aqui, linda, ensopada como no dia em que nos conhecemos, usando a blusa que eu te dei em um dos nossos aniversários, e eu simplesmente quero te beijar e não te soltar mais, mas eu não posso! Você tem um cara que se você quiser ele volta, de quatro. Você tem uma vida sem mim e isso dói, porque eu fui embora, eu te deixei, eu fiz exatamente o contrário do que eu te prometi!
   ficou em silêncio, congelada pelo que estava ouvindo.
  — Você foi. Você deveria ter ido. Era seu sonho e eu não queria ser a pessoa que fica entre você e o seu sonho.
  — Foi exatamente o que você me disse naquela época.
  — Porque era a verdade.

For the first time

   mexeu no cabelo pensativo antes de continuar.
  — Eu fiquei mal, trancado no dormitório por muitos dias. Esse primeiro ano em que tudo desandou foi por causa do nosso término. Ter te deixado... Foi a pior coisa que eu poderia ter feito. Mas você me disse uma frase que eu nunca esqueci: Eu não quero ser a pessoa que fica entre você e o seu sonho. E eu nunca esqueci isso. Eu pensei nessa maldita frase todos os dias em todos esses anos, querendo não ter te ouvido. Eu sempre amei você. E eu acho que ainda amo.
   encarou o homem, chocada, que esperava uma resposta que ela sabia qual era, mas não tinha certeza se podia dar.
  Não. Claro que não. É óbvio que podia dar a resposta que ele queria. É óbvio, ela sentia isso em todo o seu corpo. Em cada palavra que ele dizia, em cada frase, em casa vez que ele mexia a boca da forma que ela sempre amara. Então ela fez a única coisa que poderia ter feito naquele momento.
  O beijou.
  Deu um passo pra frente e jogou seu corpo contra o dele, colocando seus braços no pescoço do rapaz e juntando seus lábios, dos quais sentira falta do carinho e proteção que passava. Ele depositou suas duas mãos na cintura dela e se beijaram por muitos minutos, sem se importarem com a chuva, com as pessoas que passavam na calçada ou com os carros que buzinavam. Os dois corações batiam descompassadamente, mas compassados um com o outro. Ambos tinham borboletas em sua barriga. E ambos sentiam que o mundo estava caminhando pro lugar certo. Toda a história dos dois passava pela cabeça. Cada momento que estiveram juntos, quando se separaram, quando ele foi embora, esta tarde, tudo. Tudo que eles passaram, juntos ou separados, os levaram para aquele momento. Era ali que eles tinham que estar.

We just now got the feeling that we're meeting for the first time

  O celular de tocava alto deixando-na incomodada. Abriu os olhos e viu que encarava o teto de seu quarto, assim como na noite anterior. Ainda estava com a roupa que dormira, de sapatos e com frio. Bufou alto e seu peito doeu quando percebeu com o que tinha sonhado. Por Deus! Como é que ela pode sonhar com a essa altura do campeonato? Faz quase dez anos. É imprudente. Ele deve estar casado à essa altura. E ela ali, tendo sonhos adolescentes, tendo o quarto namoro falido.
  A pura ilusão da doce .
  Pegou seu celular e viu as notificações: quatro chamadas perdidas de Gregory, dez mensagens de texto e algumas de voz. E ah, uma chamada perdida de um número estranho. A mulher bufou e revirou na cama, pensando que novamente Gregory ligou do celular de algum amigo esperando que ela o atendesse. Mas já estava esperta, não iria cair nessa novamente.
  Levantou da cama e tirou a roupa da noite anterior. Entrou no chuveiro, quente, como ela gostava, e ficou pensando no sonho que tivera. Por que tinha que ter mexido com ela tão forte? Por que ela tinha que ter sonhado com logo agora? Ele estava há milhares de quilômetros, casado provavelmente, talvez pai, bem feliz, e ela estava lá, sonhando com ele, sonhando que ele voltara. Por que tinha que ter sonhado? Ficaria remoendo isso por semanas até finalmente se dar por vencida e acabar jogada nos braços de outro homem. E o ciclo iria recomeçar.
  Quando voltou para o quatro, havia mais duas chamadas perdidas do número desconhecido. Jogou o celular na cama, dizendo:
  — Eu não vou mais cair nessa, Gregory. Não mais.

Oh, these times are hard, yeah, they're making us crazy... Don't give up on me, baby

  Quando percebeu, começou a chorar. E chorou muito. Chorou pelo que Gregory fizera, chorou pelos outros dois ex namorados adúlteros, chorou pela partida de e chorou por ter sonhado com ele novamente. Por ter tido outro sonho no qual ele voltava e eles ficavam juntos de novo. Sentiu-se triste, e chorou por ter uma vida amorosa que deixava a desejar, quando tudo o que ela sempre quis esteve presente em seu primeiro namoro, mas o destino foi lá e separou, separou-a dos seus desejos, e do seu sonho, fazendo-na sentir-se infeliz toda vez que algum cara aparecia e a machucava ou então fazendo com que ela não se interessasse por alguém. Mas, por Deus, como é possível você se contentar com menos quando você já experimentou o paraíso?

Oh, these times are hard, yeah, they're making us crazy... Don't give up on me, baby

  O choro foi cessando aos poucos enquanto ela se encolhia no sofá e começara a ver um filme qualquer na televisão. Acabou se entretendo nisso por horas e assim que este acabou, começou outro. O dia passou depressa e quando o segundo acabou percebeu que era de noite. Havia chorado mais um pouco, mas parava logo em seguida. Pegou seu celular novamente e viu mais chamadas perdidas, mas não se importou, e nem retornou nenhuma delas.

Oh, these times are hard, yeah, they're making us crazy... Don't give up on me, baby

  Sua campainha tocou. Resmungou baixinho e não foi atender. Após alguns segundos tocaram novamente. Ela, xingando, levantou do sofá, calçou os chinelos e foi em direção a porta. Demorou algum tempo pra chegar. Pensou em quem poderia estar lá aquela hora. estava de pijama, cabelo bagunçado e com cara de choro. A campainha tocou mais uma vez antes de a garota abrir a porta e ter desejado estar apresentável.

Oh, these times are hard, yeah, they're making us crazy

  O rapaz lhe sorria como se estivesse vendo a pessoa mais linda que já vira em toda sua vida. lembrava dele exatamente como agora, só um pouco mais velho. O cabelo ainda da mesma cor, os olhos um tom de verde mais profundo, mas uma barba começando a nascer no queixo. ficou paralisada.
  — Oi, . — O rapaz disse, ainda sorrindo, chamando-a pelo apelido que só ele a chamava.
   teve vontade de parar o mundo só pra ouvir ele falar.
  — Desculpa vir sem avisar. Eu te liguei no celular, mas você não atendeu. Então eu falei com seus pais. Olha, eu posso estar sendo um idiota, ou alguma coisa assim. Mas eu senti que você precisava de mim. De uma forma que eu nunca senti antes. Acho que nossa sintonia ainda continua forte. — Ele parou e pensou um pouco antes de continuar — E, ah, e vou começar a trabalhar aqui agora. Eu fui promovido. Só cheguei mais cedo. Oliva, você está me assustando com esse olhar. O que aconteceu?
  E, de repente, ela sorriu. Sorriu muito.
  E o beijou.
  O destino, o mean to be, Deus, sorte, ou o que você quiser chamar, realmente existe, ela pensou. Ollhando pra ela teve a certeza que existe. E que não importa quanto tempo demore, os empecílhos, ou qualquer outra coisa que venha a atrapalhar.
  Se for pra ser, vai ser.

...Don't give up on me, baby

FIM



Comentários da autora


---