Foras da Lei

Escrito por Maby | Revisado por Natashia Kitamura

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Capítulo 1

  Justiça? Há, aonde é que essa porra existe? Em lugar nenhum!
  Eu estava em um tribunal sendo julgado por um crime que eu simplesmente não cometi. A vida é uma bosta mesmo.
  Disseram que a polícia tinha achado minhas digitais, um fio de cabelo meu e uma pegada minha na cena do crime. Ai eu disse que isso era idiotice, porque se eu fosse matar alguém, eu não iria ser tão óbvio. Adivinha? Só piorou a situação. Mas velho, eu nem conhecia o cara, era um tal de Jake ou Jack, sei lá.
  Depois de dois meses indo naquela joça de tribunal eles finalmente decidiram que eu era ... culpado, bando de filhos da puta! A justiça não existe mesmo. Dois policias apareceram, me algemaram e me levaram para uma delegacia.
  Eles foram pegar as minhas digitais, ai eu disse que já que eles tinham achado as minhas digitais na cena do "crime", então eles podiam usar aquelas. E eles me bateram, isso pode?
  Sabe? Eu estava pouco me fodendo se eu ia ser preso ou não, minha vida já estava uma bosta antes disso. Meus pais tinham morrido, eu fui desempregado, não tinha muitos amigos e a minha namorada estava me traindo. É, eu estava sendo chifrado, e constantemente, é que a minha namorada é meio idiota. Eu tinha ligado para ela para saber onde ela estava e ela disse que estava na manicure, mas a retardada esqueceu de desligar o celular e, bem, eu ouvi certos sons (se é que você me entende) e um cara falando. Ela nem apareceu no meu julgamento.
  12. Malditos 12 anos. Eu iria passar 12 anos na cadeia por um crime que eu nem ao menos cometi. Grrrrrrr 12 ANOS, PORRA! Me contentei e deixei os policiais me levarem para o ônibus que me deixaria na prisão, cadeia, xadrez, onde o Sol nasce quadrado. Sei lá, só sei que subi no ônibus.
  Cheguei no local, e eles me obrigaram a usar um tipo de uniforme ridículo. Eu decidi ficar afastados de todos na prisão. Não queria arrumar encrenca. As pessoas morrem na prisão ou são estupradas. Eu até que tive sorte, meu companheiro de cela não era ruim e nem queria me bater. Mas ele dava medo pra cacete, da primeira vez que eu o vi, pensei que não sobreviveria uma semana naquele lugar.
  O nome dele era Walt, ele era grande, negro, musculoso e tinha umas tatuagens estranhas. Eu fiquei com medo, mas eu tomei coragem e perguntei por que ele havia sido preso, e ele disse que foi por roubo, então ele não ficaria muito tempo na cela. Depois ele riu e disse que o roubo foi o que a policia descobriu, já que ele havia cometido um monte de homicídios, e ai ele começou a rir ainda mais. Foi assustador. Porém, Walt tinha mudado, agora ele era um tipo de fanático religioso e sempre que nós conversávamos, ele começava a falar do cominho de Deus ou coisas do tipo. Ele tinha até tatuado um Cristo nas costas dele.

Capítulo 2

  A prisão era um tédio. Tá, não é só isso. A comida era uma merda. A cela era uma merda (Detalhe: a privada fica na cela, e eu ainda não consigo usar a privada com o Walt me olhando) e a situação de lá é precária. Eu fiquei gripado na primeira semana e eles me deram injeções; que tipo de idiota da injeção pra quem está SÓ gripado? Um tylenolzinho já estava bom.
  Quando eu ficava na cela, nem ficava com medo, mas dia sim e dia não, os prisioneiros eram obrigados a ir á um tipo de pátio a céu aberto para, eu sei lá, se socializarem e verem a luz do sol.
  Eu sempre ficava em um canto perto de uma cerca beeeem alta, onde ninguém podia me ver. Walt ficava pregando a bíblia para alguns presos. Ninguém chegava perto de mim, não sei se era por medo ou falta de interesse. Alguns eu tinha certeza que tinham medo de mim, não sei por que, eu nem sou assustador.
  Estava no meu canto habitual, escondido nas sombras, e vi algo se mexendo do outro lado da cerca.
  - Olá? - eu disse.
  E instantaneamente uma faca veio da sombra e foi pressionada no meu pescoço.
  - Cala boca ou eu rasgo a sua garganta - uma voz feminina disse.
  - Calma, eu só disse olá.
  - Cala boca, vão descobrir que eu estou aqui - ela disse e pressionou a faca com mais força.
  - Ta bom - eu sussurrei.
  - Para de falar comigo idiota - ela disse e tirou a faca do meu pescoço.
  Passaram alguns minutos e eu não aguentava mais ficar calado.
  - Meu nome é - eu disse estendendo a mão por entra a grade.
  - , . - ela respondeu segurando a minha mão.
  - O que você está fazendo desse lado da cerca?
  - É onde as mulheres ficam, deeer.
  - Tem esse negócio aqui?
  - Tem, ué.
  - Então por que eu nunca te vi... Até hoje pelo menos.
  - Um dia as mulheres ficam no pátio, e no outro são os homens.
  - Então o que diabos você está fazendo aqui?
  - Eu fugi da minha cela - ela disse como se fosse a coisa mais normal do mundo.
  - Como?
  - Eu tenho meus métodos.
  - Então por que não sai da prisão?
  - Isso é um pouco mais complicado. Mas eu vou fazer isso, até parece que eu vou passar 10 anos aqui.
  - O que você fez? - eu perguntei. - Sabe? Pra vim parar aqui.
  - Cúmplice de homicídio, uma amiga queria se livrar do ex-namorado e disse que eu só tinha que me livrar do corpo, só que a idiota deixou digitais.
  - Ela vai fugir com você?
  - Claro que não, ela vai estragar tudo... de novo. E você o que fez?
  - Homicídio doloso, mas foi tudo armação, eu nunca machucaria ninguém. Alguém plantou pistas.
  Peeeeeeeem, um alarme soou e eu soube que o tempo no pátio tinha acabado.
  - Tchau - disse me levantando e indo embora.
  O dia seguinte foi um saco, o tempo parecia não passar, tudo o que me diziam parecia me irritar e a comida estava pior do que nunca.

Capítulo 3

  Saímos para o pátio e eu fui para o meu canto.
  - Oi? - disse.
  - Oi - ela respondeu.
  Senti um cheiro estranho e comecei a tossir.
  - Que droga é essa?
  - Maconha.
  - Como você conseguiu isso? - perguntei
  - Eu tenho meus métodos.
  - Tá, tá, sei ...
  - Por que você sempre fica nesse canto hein? - ela questionou.
  - Como você sabe que eu sempre fico aqui?
  - Eu sempre venho pra cá, só que você nunca me viu.
  - Que bizarro - ri e ela também. - desculpe, é que você sempre fica escondida nas sombras, na verdade, eu nunca te vi.
  - E talvez nunca me veja, porque se eu sair daqui as pessoas vão me ver e eu vou passar uns dias na solitária.
  - Hmm... então como vai o seu plano para escapar?
  - Vai indo... você quer fugir comigo?
  - SIM, SIM, CLARO, quer dizer... pode ser - eu disse me corrigido e mudando minha postura, ela riu e solto mais fumaça na minha cara, me fazendo tossir mais ainda e fazendo-a rir mais - dá pra fazer isso pro outro lado?
  - Não - ela disse rindo e depois soltou mais fumaça.
  Eu fui tentar pegar o cigarro dela e ele caiu no chão, quando ela se abaixou para pegá-lo seu roto saiu da sombra e eu consegui vê-la. Ela tinha cabelos e olhos , sorri ao ver a tatuagem no pescoço dela.
  - Há! - eu disse. - Agora eu vi o seu rosto!
  - E daí? Você iria ver de qualquer jeito, esqueceu que a gente vai fugir? - e nesse momento eu me senti idiota, então eu comecei a rir.
  Peeeeeeeeeeem. O sinal tocou, eu me despedi e entrei no prédio, na cela logo fui abordado por Walt.
  - Com quem você estava conversando? - ele perguntou, eu devo ter respondido algo muito inteligente com "hãm?" ou "deer", porque eu entrei em pânico, todos sabiam que Walt era gente boa, mas ele era um puta de um X9, eu não podia arriscar - Vou perguntar de novo: com quem você estava conversando? Hoje na cerca.
  - Com... com... com o meu primo.
  - O quê?
  - E-eu sou esquizofrênico - pensei rápido.
  - Ah, por que não disse antes?
  - Achei que você ia me achar estranho - inventei na hora.
  - Não, tudo bem, to contigo véi, meu tio também é.
  - Então tá, acho que vou dormir cedo hoje - disse me deitando.

Capítulo 4

  Eu e conversávamos sempre que era dia dos homens no pátio, depois de um ou dois meses (eu não sei, o tempo é diferente na cadeia, não tínhamos nem relógio lá) nós já havíamos arquitetado um plano. Lembra dos métodos dela? Uma guarda era amiga dela e deu uma lixa de unha para que a pudesse sair da CELA (somente da cela) quando ela quisesse, ela disse para essa amiga, a Clara, que ela tinha perdido a lixa dela, então a Clara deu mais uma lixa para a . Quando nos encontramos, me deu a lixa e um beijo na bochecha, senti um arrepio ao seu toque, coloquei a mão no local onde seus lábios haviam tocado, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa o sinal tocou e eu fui obrigado a deixá-la.
  Eu sei que não é muito, porém, aquele beijo mexeu comigo. Ta. Foi na bochecha, mas sei lá, acho que a prisão estava me deixando doido.
  Mas então voltando ao plano, daqui uma semana um tal de sargento viria para a prisão, ele faria uma inspeção e depois haveria um tipo de "festa". Essa seria a oportunidade perfeita, depois da inspeção, todos os guardas estariam reunidos e um só lugar.
  Não todos, pois alguns ficariam de vigia, mas eles fariam uma troca de turno (que seria lá pelas 3) para que todos os guardas possam desfrutar da tal festa.
  Então o plano era o seguinte: primeiro nos sairíamos das nossas celas enquanto todos estivessem dormindo, para que ninguém pudesse nos atrapalhar. Em seguida nós nos encontraríamos perto do muro e esperaríamos até as 3. Quando fosse 3 horas iríamos escalar o muro em um ponto cego (todo dia nós fazíamos pequenos furos no muro para ficar mais fácil de escalar).
  A festa seria dia 19, faltavam apenas 5 dias, e eu não conseguia deixar de ficar nervoso com isso. tentava me acalmar, mas ... não estava dando muito certo.
  - Calma , vai dar tudo certo, daqui cinco dias estaremos livres - ela passou a mão por entra os buracos da grade e levantou meu queixo - Sem mais injustiça!
  Os dias foram passando, eu queria e não queria que dia 19 chegasse, eu estava realmente muito nervoso, mas a disse que qualquer problema que eu tivesse na fuga ela iria me ajudar e isso ajudou a me acalmar.
  O tempo passava devagar, aqueles foram os 5 mais longos dias da minha vida, mas dia 19 tinha finalmente chegado, e eu só consegui pensar na liberdade, no quão verde a grama seria do lado de fora, no cheiro do ar fresco entrando nos meus pulmões, nas cores ( na cadeia TUDO era cinza) e principalmente no rosto de , que eu finalmente veria melhor.

Capítulo 5

  Às 9 da manhã o tal sargento chegou. Ele olhou todas a celas, revistou todos os prisioneiros, umas duas vezes, checou o "hospital" e provou a comida.
  - Péssimo - foi o que ele disse ao provar. - Bom trabalho!
  Lá pelas 8 e meia todos foram convocados ao pátio (prisioneiros, prisioneiras, pessoas da cantina, médicos, pessoas da limpeza e guardas), o silêncio reinava até que o sargento subiu em uma torre de vigia, pegou um megafone e anunciou:
  - Essa prisão está em ótimas condições, na verdade, é a melhor até agora e além do mais, ela não teve nenhuma tentativa de fuga e nenhuma morte - ele pigarreou. - Por isso não vou presentear somente os guardas e sim todos, isso, então todos, eu disse todos, compareçam no grande salão.
  Bosta, o plano inteiro estava comprometido, me arrastei até o "salão" (na verdade, era só um lugar cimentado e coberto, nós tínhamos a opção de ir ao pátio ou ao salão, eu sempre ia ao pátio porque lá era meio triste, tipo tudo era tão... cinza e sem vida), olhei para e ela estava fazendo a mesma coisa.
  Gesticulei para ela "estamos ferrados", "a gente da um jeito " ela gesticulou de volta. Chegando lá, o sargento disse que os prisioneiros tinham de ficar algemados, por duas razões 1- Para não fugirmos e 2 - Para nos socializarmos. Sorri e fui para perto de para sermos algemados juntos. E deu certo.
  Ele só algemaram homens com mulheres, e vice-versa, pois como nós não nos víamos nunca seria difícil para nós escaparmos. Idiotas.
  - Vamos continuar com o plano então - eu disse no pé do ouvido dela.
  - Ok - ela sussurrou de volta.
  Como ainda eram 9 e 20 e o plano só entraria em ação às 2, nós resolvemos dançar, não tínhamos nada para fazer mesmo e foi bom conseguir ver o rosto da , ela estava linda, mesmo usando roupa da prisão. Começou a tocar uma música lenta, segurei sua cintura, ela colocou os braços arredor do meu pescoço e apoiou a cabeça no meu ombro.
  Olhei para o seu braço e observei sua tatuagem, era no braço dela, era um tipo de planta que se enrolava do topo até o pulso dela e uma rosa se abria na palma de sua mão.
  Levantei seu queixo e aproximei nossos rostos, mas bem quando nossos lábios iam se tocar a música mudou para uma super agitada, ela se afastou e começou a dançar, fui atrás dela, coloquei minhas mãos em sua cintura e comecei a acompanhar seu ritmo.
  Ficamos dançado até as 2 e meia, pois nesse horário os guardas estavam bêbados e todos estavam cansados, e alem disso daqui a meia hora seria a troca de turnos. Aproveitamos que todos estavam dançando e saímos pela porta, corremos pelo pátio sem que ninguém pude-se nos ver. Encostamos no muro, para ficarmos fora do campo de visão dos guardas.
  Guando eles começaram a sair nós escalamos o muro, usando as cavidades que nós havíamos feito para apoiarmos o pés e mãos, pulamos o muro sem ninguém nos ver. Porém, eu passei meio perto de um holofote e eles nos viram. Um alarme começou a soar, ouvi latidos e nós começamos a correr.
  Depois de um tempo correndo nós finalmente os despistamos.
  - Temos que tirar esse negócio - ela disse levantando as mãos.
  - Tá, só posso fazer uma coisa antes?
  - Se você for urinar, por favor, vai atrás daquela árvore - ela disse apontando.
  - Não é isso boba - disse me aproximando.
  Então eu a beijei, finalmente, eu já não aguentava mais aquela grade idiota nos separando. Aprofundei o beijo e ela colocou uma mão no meu ombro, pois a outra estava com a algema, portanto, em sua própria cintura. A prensei contra uma árvore.
  - Ai - ela disse. - Essa algema fica me apertando.
  - Desculpe, acho melhor nós a tirarmos primeiro - dei um sorriso malicioso.
  Tirei a lixa que ela havia me dado do bolso e a entreguei, porque ela era mais experiente nisso. Depois de alguns minutos nós estávamos LIVRES, nós dois. E nunca seriamos pegos. NUNCA.
  Caminhamos até um penhasco que tinha uma placa escrita "Ponto dos beijos", meio anos 80, mas tudo bem. Vi um garoto e uma garota se pegando em um carro conversível azul.
  - Me dá as honras? - perguntei.
  - Claro - ela respondeu.
  Fui até o carro e separei o beijo.
  - Os dois, fora - eu disse - FORA!!! - gritei dando um soco no capo.
  Eles correram em desespero, fui até a porta do passageiro e abri.
  - Você primeiro - ela entrou no carro, eu fui para o banco do motorista e dei a partida.
  Estávamos na estrada e eram umas cinco e meia da manhã (tocava Free, do The Maine, no rádio), o sol estava nascendo atrás de nós e a partir daquela manhã nós éramos, oficialmente, foras da lei.

FIM



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