Capítulo 1
Tempo estimado de leitura: 15 minutos
"There was a time when broken hearts and broken dreams were over. There was a place where all you could do was wish a four leaf clover..."
%Hyeri%’s POV:
Me peguei olhando o pequeno trevo de quatro folhas na palma de minha mão enquanto esperava por %Johnny%. Aquilo seria um sinal divino? Essas coisas existiam mesmo? Caso sim, seria um sinal do que especificamente?
Eu não negava que estava completamente perdida com o que fazer com o meu relacionamento com %Johnny% e todas mentiras que ele já havia me contato. O aperto em meu peito se intensificou. %Johnny% e eu éramos um caos, no começo éramos um caos organizado, belo… mas agora?
Agora éramos somente poeira da lua, uma estrada sem rumo definido, caminhávamos, caminhamos e nunca chegávamos em lugar algum. E eu me perguntava se só amar alguém era realmente o suficiente para manter uma relação de pé.
Ainda encarando o pequeno trevo em minhas mãos eu senti meus olhos marejarem com força. Fechei os mesmos tentando controlar a avalanche de sensações que me invadia, mas pareceu inútil, logo as primeiras lágrimas já escorriam por minhas bochechas pintadas com um blush rosado.
Foi quando ouvi passos atrás de mim. Não precisei olhar para saber quem era. %Johnny%. Ele sempre tinha esse jeito de se aproximar silenciosamente, como se quisesse me pegar desprevenida. Ele se sentou ao meu lado no gramado, o cheiro de seu perfume familiar invadindo meu espaço, algo que antes me confortava, mas que agora só me deixava ainda mais inquieta.
— %Hyeri%... — Sua voz saiu suave, mas com uma preocupação que parecia forçada, como se ele não soubesse o que fazer diante da minha tristeza, como se fosse a primeira vez que me visse chorando. Ele olhou para mim, provavelmente sem entender o motivo, já que nunca soube que suas mentiras eram as responsáveis por isso.
— O que aconteceu? — Ele perguntou, mais uma vez se inclinando em minha direção, tentando enxugar uma lágrima que escorria pela minha pele. Eu queria afastá-lo, me afastar dele, mas ao mesmo tempo, eu sentia um vazio tão grande dentro de mim que não sabia mais o que fazer.
Tentei respirar fundo, mas só consegui soltar um soluço fraco. O trevo de quatro folhas ainda estava na minha mão, mas a verdade é que, naquele momento, nada parecia capaz de me salvar. Eu estava perdida em um labirinto de incertezas e mentiras, e %Johnny% parecia ser a chave de tudo, mas também a razão de minha prisão.
— Você realmente não faz ideia, ou só gosta da sensação de me ter nas mãos %Johnny%? Como se controlasse tudo, inclusive o que eu sinto ou deixo de sentir?
— Do que você tá falando %Hyeri%? Ei, eu vim o mais rápido que pude, eu larguei tudo o que estava fazendo e tô aqui agora!
— Você é um idiota %Johnny%! — levei uma das minhas mãos até o peito dele e desferi um primeiro tapa, com toda a força que eu tinha dentro de mim.
Depois fechei os olhos e disparei mais alguns golpes em seu peito enquanto permitia que as lágrimas caíssem sobre minha face.
%Johnny% deixou que eu extravasasse toda minha raiva, com os olhos fechados, apenas sentindo a pele arder debaixo dos meus tapas. Ele sempre se deixou levar pelas minhas emoções, como se, de alguma forma, ele se acostumasse com os altos e baixos.
Foi quando ele, com uma expressão que não consegui ler, segurou meus pulsos com uma das mãos, interrompendo o fluxo de raiva. Antes que eu pudesse reagir, ele me puxou para um abraço apertado, encaixando meu corpo contra o dele.
Senti meu peito se apertar ainda mais, mas não consegui me afastar. Eu não queria, mesmo que me odiasse por sentir seu calor, por sentir a proteção do seu abraço, por sentir que, de alguma forma, ele ainda conseguia me controlar. Minhas lágrimas continuaram a cair, agora mais silenciosas, enquanto meu corpo ficava frágil sob o toque dele.
— Me solta, %Johnny%... — minha voz estava quase inaudível, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que o que eu realmente queria não era ser solta. Eu queria entender por que ele ainda tinha esse poder sobre mim, mesmo depois de tudo o que ele fez.
— %Hyeri%, por favor! — ele pediu encostando o queixo no topo da minha cabeça — Me explica o que aconteceu… nós estávamos tão bem e agora isso?
— Chega %Johnny%! Não finja que não sabe. Você mente caramba! Tudo o que você sabe fazer é mentir para mim. — Minhas palavras saíram pesadas, como se eu estivesse carregando um fardo que não conseguia mais suportar.
Ele pareceu surpreso, o olhar dele passando rapidamente por meu rosto, tentando encontrar algo que justificasse o que estava acontecendo.
— O que eu menti dessa vez %Hyeri%? Eu não fiz nada que você não saiba… coloquei tudo em pratos limpos e você não disse nada.
Eu respirei fundo, mas a raiva só aumentou, e cada palavra parecia mais difícil de engolir. Ele estava tentando se defender, como sempre fazia. Não havia sinceridade no que ele dizia. Não para mim.
— Você nunca me disse que estava metido nessas coisas, além das suas corridas ilegais. — Eu disse com a voz embargada, apontando para ele com a mão tremendo. — Nunca me falou sobre os seus outros problemas, sobre o que realmente estava acontecendo. Eu não sabia de nada, %Johnny%! Você foi me envolvendo em mentiras e mais mentiras, e agora eu estou aqui, perdida, sem saber se posso confiar em você.
Ele recuou um pouco, como se as palavras me atingissem de forma mais profunda do que ele esperava. Ele abriu a boca, mas parecia sem palavras, sem saber o que dizer. Eu vi um relance de culpa em seus olhos, mas não era o suficiente. Nada mais era suficiente.
— Você não entende... — sussurrei, mas ele me interrompeu.
— Eu sei que fiz coisas erradas, %Hyeri%. Mas não foi por querer te machucar. Eu só... eu só não sabia como te contar a verdade. — Ele me olhou com uma expressão angustiada, como se estivesse tentando justificar suas ações, tentando me convencer de algo que eu não queria mais ouvir.
Mas eu não conseguia mais acreditar. Cada mentira que ele me contava, cada segredo que ele escondia, me afastava mais e mais. Eu não sabia mais quem ele era, e pior, eu não sabia mais quem eu era quando estava ao lado dele.
— Há quantos anos você mexe com todas essas coisas? Ainda mexe, não mexe %Johnny%? Aliás, eu sei que mexe, não sei porque estou perguntando, não sei porque estou aqui com você.
— Porque me ama. Porque você me ama %Hyeri%. E eu amo você, pronto! Basta. — Ele disse, com uma firmeza que soou vazia, como se estivesse tentando se convencer mais do que a mim.
Eu não aguentei mais. A raiva, a frustração, o medo, tudo se misturava em mim, criando um turbilhão de emoções que eu não sabia mais como controlar. Meus olhos queimavam com as lágrimas, meu coração estava desfeito, e, ao mesmo tempo, eu sentia uma raiva que não conseguia dissipar.
— Basta? %Johnny% eu preciso conhecer quem está ao meu lado. Preciso saber quem é você… caramba %Johnny%! — As palavras saíram de uma vez, carregadas de dor, mas também de um desespero que eu não conseguia mais esconder. Eu estava exaurida, não só fisicamente, mas mentalmente, emocionalmente. Tudo em mim parecia gritar por uma resposta, por algo que me dissesse que valia a pena ainda tentar.
Sem conseguir controlar mais, me levantei abruptamente, com a intenção de ir embora. Eu não conseguia mais ficar ali, não conseguia mais ouvir suas mentiras e fingir que estava tudo bem. Eu precisava sair, precisava respirar longe dele.
Ele, por sua vez, levantou-se com uma rapidez inesperada e, antes que eu pudesse dar mais de dois passos, ele segurou meu pulso com força, me impedindo de seguir. O toque dele, que antes me trazia alguma sensação de segurança, agora me fazia sentir sufocada.
— %Hyeri%, não faz isso. — Ele disse com uma voz baixa, quase sedutora, puxando meu corpo contra o dele, de modo que nossos rostos ficaram a centímetros de distância. Eu podia sentir o calor do corpo dele, o cheiro familiar que, antes, me fazia sentir em casa, mas que agora só me causava desconforto.
Eu tentei me soltar, mas ele era mais forte, suas mãos envolviam meu corpo com uma possessividade que me arrepiava.
— Você me ama, %Hyeri%. Sabe que me ama… — Ele murmurou, seus olhos fixos nos meus, com uma intensidade que parecia quase desesperadora. Ele estava tentando me seduzir, como sempre fazia quando as coisas ficavam difíceis. Suas palavras eram doces, mas carregadas de uma pressão que eu não queria mais suportar.
Ele deslizou uma das mãos pela minha cintura, sentindo meu corpo reagir ao toque. Eu queria empurrá-lo, queria afastá-lo, mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim ainda estava ali, lutando contra o desejo e a raiva. Ele sabia como me provocar, como fazer com que eu esquecesse por um segundo tudo o que estava acontecendo.
— Você não pode ir embora agora, não pode deixar tudo pra trás. Não assim, %Hyeri%... — Ele sussurrou, as palavras como um veneno doce em meus ouvidos. Eu sentia meu corpo responder aos seus toques, mas minha mente gritava para que eu me afastasse, para que eu não cedesse àquela ilusão de que as coisas poderiam se resolver assim.
Meus pulsos estavam firmemente presos pelas mãos dele, e eu não sabia o que fazer. O que eu queria? O que era real? Ele ainda me tinha de alguma forma, e eu odiava o fato de saber disso.
— Para %Johnny%! Me solta… — os lábios dele se encostaram nos meus, convidativos como sempre.
— Eu amo você %Hyeri%…caramba, o que mais eu tenho que fazer para te manter aqui? — Ele disse com a voz rouca, carregada de uma dor que eu não sabia se era real ou apenas parte do jogo dele. Ele me olhou de uma forma que me fazia sentir tudo e nada ao mesmo tempo.
Minhas mãos, que antes tentavam afastá-lo, agora estavam presas no peito dele, minhas unhas cravadas na camiseta que ele usava. Era como se algo dentro de mim estivesse cedendo, quebrando a barreira que eu havia construído.
Eu queria gritar, queria me afastar, mas no fundo, uma parte de mim ainda desejava aquele toque, ainda queria acreditar nas palavras dele. Meu coração batia forte, acelerado, e, sem perceber, fechei os olhos, deixando-me levar pela atração que, por mais que eu tentasse, não conseguia controlar.
Então, sem mais palavras, sem mais resistência, nossos lábios se encontraram. O beijo foi intenso, como um fogo que reacendia tudo o que eu tinha tentado apagar. As mãos de %Johnny% envolveram meu corpo, me puxando ainda mais para ele, e eu, em uma rendição silenciosa, correspondi ao beijo. O calor, a urgência, a mistura de raiva e desejo… tudo parecia se dissolver naquele momento.
Mas, no fundo, sabia que esse beijo não resolvia nada. Não apagava as mentiras, nem as dúvidas que eu carregava. Porém, naquele instante, naquele beijo, só existíamos nós dois, tentando, de alguma forma, encontrar algo que talvez nem soubéssemos o que era.
Os lábios dele estavam quentes e insistentes contra os meus, e eu senti todo o peso das palavras que ele havia dito se dissolver no toque. A princípio, eu resisti, as dúvidas ainda ecoando em minha mente, mas à medida que ele me puxava mais para perto, as mãos firmes em minha cintura, a urgência do beijo me envolveu.
Seus lábios se moveram com uma suavidade quase possessiva, como se ele soubesse exatamente o que fazer para me fazer esquecer tudo ao nosso redor. Ele deslizou uma das mãos para o meu pescoço, os dedos acariciando minha pele, e eu senti um arrepio passar por todo o meu corpo. A resposta foi imediata — minha boca se abriu um pouco, deixando-o aprofundar o beijo, suas línguas se encontrando com uma intensidade que fez meu coração disparar.
O sabor dele, o calor, a forma como ele me envolvia… parecia que, por um segundo, o mundo todo tinha parado, que só existia aquele momento, aquele beijo. Eu cedia, me entregava ao toque e à sensação, deixando-me perder na confusão de sentimentos contraditórios que ele sempre provocava em mim. Cada movimento dele era um convite para mais, uma promessa de algo que eu não sabia se queria, mas que, de alguma forma, me atraía.
Mas, assim como tudo no nosso relacionamento, o beijo não durou. Quando ele finalmente se afastou, um fio de saliva ainda nos conectando, eu senti o vazio voltar. Ele estava ali, respirando pesadamente, os olhos fixos nos meus, esperando talvez que eu dissesse algo, que aceitasse o que acabara de acontecer.
Eu olhei para ele, sentindo a raiva e a dor se misturarem novamente. As palavras que eu precisava dizer estavam ali, na ponta da língua, e eu não queria mais me enganar.
— %Johnny%… — eu disse, a voz tremendo de frustração. — Me diz a verdade agora. Eu preciso ouvir de você. Toda essa merda, tudo o que você tem escondido, já não dá mais pra ignorar! Me conta, caramba, ou vai ser sempre assim? Mentira após mentira, e eu aqui, achando que tudo vai melhorar?
Ele ficou em silêncio, os olhos desviando para o chão, como se procurasse as palavras certas, mas elas nunca vinham. Eu vi o medo e a culpa passando por seus olhos, e, ao mesmo tempo, ele não sabia como me dizer o que eu já sabia. Ele não sabia como me falar sobre as corridas, sobre os outros segredos que ele tinha enterrado, e tudo o que ele era.
Eu não aguentava mais. Já estava cansada, exausta de tentar fazer ele entender o quanto eu precisava de verdade, de transparência. Me afastei dele, um passo atrás, e olhei para ele pela última vez.
— Eu não posso mais, %Johnny%. Não assim. — Eu disse com firmeza, sentindo cada palavra pesar no meu peito. — Acabou. Eu não vou viver com isso, com mais mentiras, mais segredos. Não é assim que eu mereço viver.
Os olhos dele se arregalaram, uma expressão de incredulidade no rosto, mas eu já sabia o que precisava fazer. Eu não podia mais continuar me iludindo. E, com um último olhar, virei as costas, sem olhar para trás, deixando-o ali, sem reação, imerso na sua própria incapacidade de ser quem eu precisava que fosse.
🍀🍀🍀