Capítulo Um
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— Bom dia! E você? — %Taeri% sorriu na direção do cliente e depositou as mãos sobre o balcão.
— Preciso de flores de cerejeiras para serem plantadas… você é nova aqui? Não me lembro de ser atendido por você antes…
%Taeri% senti as bochechas esquentarem de vergonha. Ela era a dona da floricultura e basicamente nunca havia sido vista por nenhum cliente, já que quase não atendia, gostava mesmo dos bastidores. Mas agora a loja precisava de atendentes extras e enquanto ela não contratava resolveu
“pôr a mão na massa”. — Digamos que sim e que não também… eu sou a dona.
%Taeri% observou o homem à sua frente, que, ao ouvir suas palavras, arregalou os olhos e ficou em silêncio por um momento. A surpresa estava estampada no rosto dele, como se tivesse acabado de ouvir algo impensável. Ela notou o jeito como ele parecia tentar processar a informação, os olhos indo de um lado para o outro, até que finalmente ele respirou fundo e começou a rir, desconcertado.
— Desculpe, eu não… — ele começou, seu sorriso um pouco nervoso. — Eu realmente não esperava que a dona fosse tão jovem. Achei que fosse alguém mais… experiente, digamos. Desculpe a minha reação.
%Taeri% riu baixinho, sentindo as bochechas esquentarem. A situação era até engraçada, mas ela não podia deixar de se sentir um pouco lisonjeada.
— Não tem problema, eu entendo — ela disse com um sorriso suave. — Eu sou mais nova do que a maioria das pessoas espera, mas sou a dona, sim.
Ele pareceu aliviado e rapidamente mudou de postura, agora mais atento e educado.
— Eu realmente não queria ofender, não sabia.
— Não foi nada — ela respondeu com um gesto leve de mão. — Então, você queria flores de cerejeiras, certo?
O homem assentiu, seu semblante agora mais sério, como se a ideia de comprar as flores fosse algo importante para ele. Ele parecia hesitante, quase como se estivesse confuso sobre como falar sobre isso.
— Sim, para serem plantadas... — ele disse, e depois, como se tentasse mudar de assunto, acrescentou: — Você é a %Taeri%, certo? Eu ouvi falar de você.
A mulher ficou surpresa. Não esperava que ele soubesse seu nome, mas ele não parecia ser um cliente comum. A curiosidade foi instantânea.
— Eu sou, sim. — Ela sorriu, tentando manter a conversa fluindo. — Você é o Doyoung, não é? O cliente fiel que sempre compra flores de cerejeira para a Yuki?
O homem fez uma pausa, e seus olhos brilharam com uma leve admiração, antes de ele dar um pequeno sorriso, quase tímido.
— Sim, é para Yuki… Digamos que tudo isso é algo muito especial para mim. — Ele sorriu com uma expressão suave, quase como se estivesse falando de algo que tocava profundamente seu coração.
%Taeri% sorriu, tocada pela sinceridade dele. Algo naquela conversa fez seu interesse crescer, mas ela se conteve, não querendo ser intrometida.
— Uma mulher de muita sorte a Yuki— ela respondeu, sentindo um novo tipo de respeito por aquele cliente misterioso.
O homem corou ligeiramente, e %Taeri% notou a forma como ele evitou seu olhar por um momento, como se estivesse tentando esconder alguma coisa. Ele balançou a cabeça em negativa, e quando olhou de volta para ela, sua expressão estava mais séria, como se o assunto fosse mais delicado do que ele queria revelar.
— Na verdade… — ele começou em um tom suave, quase hesitante, como se estivesse decidindo se deveria ou não compartilhar aquilo. — Yuki não é uma pessoa.
É um parque de cerejeiras. %Taeri% franziu a testa, confusa, mas algo nos olhos dele a fez perceber que ele falava com uma seriedade que não poderia ser ignorada.
— Um parque? — ela repetiu, agora mais curiosa. — Como assim?
Ele respirou fundo, parecendo pesar as palavras antes de falar novamente. Sua voz, agora mais baixa, era carregada de um sentimento de urgência e dedicação.
— Yuki é um dos últimos parques de cerejeiras em Tóquio. Está sendo ameaçado de ser destruído para dar lugar a novos edifícios. Eu… — Ele fez uma pausa, tentando juntar coragem. — Eu estou tentando salvá-lo. E essas flores de cerejeira, elas são uma forma de me conectar com ele, de manter o legado vivo, mesmo que só por mais um tempo.
%Taeri% sentiu uma onda de empatia por ele. O homem à sua frente não estava simplesmente comprando flores; ele estava em uma missão, e essa missão, tão cheia de paixão e preocupação, tocou algo profundo dentro dela.
— Eu entendo — ela disse suavemente, tentando disfarçar a emoção que começava a tomar conta de si. — Yuki é realmente especial, então.
Ele sorriu, mas o sorriso estava marcado pela dor de quem sabia que o tempo estava contra ele.
— Sim, e cada flor que compro é como uma promessa de que vou lutar por isso até o fim.
A sinceridade dele a fez querer ajudar, mais do que qualquer outra coisa. Ela sabia que, se existia uma causa que merecia ser apoiada, aquela era uma delas.
— Se precisar de ajuda… eu posso fazer mais do que vender flores, você sabe — ela disse, sem pensar duas vezes.
Ele a olhou surpreso, como se não tivesse esperado aquela oferta, mas o brilho nos olhos dele ficou mais intenso.
— Eu agradeço. Quem sabe, talvez você possa me ajudar a fazer com que mais pessoas vejam Yuki da mesma forma que eu vejo.
%Taeri% sorriu em resposta, sentindo um calor inesperado no peito. Havia algo genuíno na forma como ele falava sobre Yuki, algo que a tocava de um jeito que ela não esperava.
— Espere só um instante. Eu já volto com o seu pedido.
Doyoung assentiu com um sorriso discreto, recuando um pouco enquanto observava o interior da loja com atenção.
%Taeri% caminhou até a parte de trás da floricultura, refletindo sobre tudo que acabara de ouvir.
Um parque de cerejeiras… Ela nunca teria imaginado algo assim. Seu primeiro instinto foi pegar apenas as flores que ele havia solicitado, mas, enquanto separava os galhos cuidadosamente, teve outra ideia.
Ele estava tentando salvar algo importante. Algo bonito. Algo que deveria continuar existindo.
Com um pequeno sorriso satisfeito, ela pegou algumas mudas extras e ajeitou tudo em uma bela embalagem. A floricultura poderia contribuir um pouco mais por uma boa causa.
Quando retornou ao balcão, entregou o pedido a ele com delicadeza.
— Aqui está. — Ela esperou ele pegar as flores antes de acrescentar, em um tom casual: — Acrescentei algumas mudas extras. Considere um presente da loja para Yuki.
Os olhos de Doyoung se arregalaram ligeiramente, surpresos. Ele abriu a boca para dizer algo, mas logo fechou, parecendo procurar as palavras certas.
— Isso é… — Ele parou por um momento, depois soltou um suspiro quase aliviado. — Obrigado. De verdade. Isso significa muito para mim.
%Taeri% apenas sorriu, sentindo que, de alguma forma, aquela não seria a última vez que conversariam sobre Yuki.
🌸🌸🌸
Doyoung saiu da floricultura com as flores cuidadosamente embaladas, o coração leve e o sorriso no rosto. Ele mal podia esperar para voltar ao parque e fazer tudo o que fosse possível para salvar Yuki. Não era todo dia que ele recebia um gesto tão generoso como o de %Taeri%.
Com o espírito elevado, ele caminhou até o carro estacionado na esquina. Lá estavam Johnny, Jaehyun e Yuta, todos sentados no veículo, já prontos para partir para o parque e depois para o trabalho. Eles estavam acostumados a acompanhá-lo nas visitas ao parque sempre que podiam, ajudando com a manutenção e, às vezes, apenas oferecendo companhia.
Doyoung abriu a porta do carro com certa dificuldade pelas mãos ocupadas, mas com um sorriso radiante, e os três amigos imediatamente notaram sua empolgação, Yuta ajudando-o com algumas flores.
— O que aconteceu, Doyoung? — Johnny perguntou, arqueando uma sobrancelha, notando o sorriso largo do amigo. Ele sempre tinha uma expressão um pouco mais séria, mas sabia como ler Doyoung com facilidade.
— Acho que a floricultura me surpreendeu hoje. — Doyoung respondeu com um sorriso malicioso, segurando as flores com um pouco de orgulho. — Conheci a dona da loja. E ela… Bem, ela fez algo incrível por Yuki.
Jaehyun virou a cabeça para ele, curioso.
Doyoung abriu a embalagem com cuidado, revelando as mudas extras que %Taeri% havia dado.
— Ela me deu essas mudas. Como um presente da loja. — Ele explicou, e os outros três ficaram em silêncio por um momento, visivelmente tocados pela atitude.
— Isso é… incrível mesmo — Yuta disse, sorrindo e olhando as flores com admiração. — Parece que nós não estamos lutando por Yuki sozinhos, depois de tudo.
Doyoung assentiu, sentindo um calor no peito.
— Não estamos. E vamos continuar lutando, mas agora com mais apoio. Ela me fez ver que até os pequenos gestos contam, e isso vai fazer toda a diferença.
— A gente também tá com você, mano. — Ele fez uma pausa, olhando para os outros três. — Eu, Jaehyun e Yuta já combinamos que vamos continuar ajudando no parque sempre que for possível. Agora, não importa o que aconteça, Yuki vai resistir.
Doyoung, emocionado com o apoio dos amigos, deu um rápido aceno de cabeça. Eles não eram apenas seus amigos, eram seus sócios, e o trabalho que eles faziam juntos era a base da vida deles. Os quatro eram donos de uma empresa de paisagismo e arquitetura ambiental, especializada em proteger espaços verdes e naturais de áreas urbanas em expansão. O trabalho deles não se limitava a projetos de design, mas também à preservação de parques e jardins urbanos, o que, claro, incluía a missão de salvar Yuki.
— Então, o que acha da gente fazer um trabalho voluntário no parque hoje antes de irmos para o escritório? — Jaehyun sugeriu, sempre a favor de dar um apoio extra em projetos que envolvessem natureza e preservação.
Doyoung sorriu ainda mais. — Isso seria perfeito. Vamos cuidar de Yuki juntos. Não há melhor maneira de começar o dia.
Johnny ligou o carro, e o grupo seguiu em direção ao parque, onde continuariam o trabalho de preservação com ainda mais energia e determinação. Eles sabiam que a missão não seria fácil, mas com a força da amizade e o compromisso com o que era certo, tinham a certeza de que fariam o que fosse necessário para salvar Yuki.
🌸🌸🌸
%Taeri% ficou parada por um momento após a saída de Doyoung, observando a porta da floricultura que se fechava atrás dele. As flores de cerejeiras que ele comprara agora ocupavam uma parte do balcão, mas sua mente estava longe dali, absorvida pelo que acabara de ouvir.
Ela já tinha ouvido falar de parques sendo destruídos para dar lugar a novos empreendimentos urbanos, mas ouvir Doyoung falar sobre Yuki — aquele parque de cerejeiras que ele estava tentando salvar — tocou um ponto fundo nela. Ele parecia tão dedicado à causa, como se estivesse fazendo mais do que lutar por um pedaço de terra, mas por algo simbólico, algo que representava uma parte vital da história e da beleza de Tóquio.
Ela voltou à sua rotina, pegando mais flores e arrumando as prateleiras com cuidado, mas seus pensamentos estavam em Yuki. A imagem do parque, com suas cerejeiras florescendo sob o céu azul, parecia viva em sua mente. Ela sabia que tinha algo a mais para oferecer — algo além de vender flores. Era uma causa nobre, e ela sentia um desejo crescente de se juntar a ele, de ajudar na missão de preservar o parque.
%Taeri% soltou um suspiro, colocando as mãos na cintura enquanto observava a loja. Ela não sabia exatamente como poderia contribuir, mas sentia que, de alguma forma, isso era maior do que ela. Havia algo especial em todo o contexto, algo que a chamava a agir.
Ela se virou para os dois funcionários que estavam organizando os arranjos de flores na outra parte da loja, e os chamou com um sorriso suave.
— Ei, quando o Doyoung aparecer de novo, podem me avisar, por favor? — ela pediu, ainda refletindo sobre a ideia de se envolver. — Eu acho que… talvez eu deva conversar mais com ele sobre o projeto dele. Acho que posso ajudar de alguma forma.
Os dois olharam um para o outro, um pouco surpresos com a seriedade no tom de %Taeri%, mas rapidamente assentiram.
— Claro, dona %Taeri% — respondeu um deles, com um sorriso compreensivo. — Você parece bem empolgada com isso. Vai ser ótimo ajudar o Doyoung.
— Eu também acho — %Taeri% disse, mais para si mesma do que para os outros, com um sorriso que misturava determinação e expectativa. — Acho que vou descobrir o que mais posso fazer por Yuki.
Ela voltou ao seu trabalho, mas dessa vez com um novo propósito. Não era só sobre as flores ou a floricultura; era sobre ajudar a salvar algo maior. E, quem sabe, talvez ao fazer isso, ela também encontrasse um novo caminho para sua própria vida.