Física Ou Química?

Escrito por Amanda Paiva | Revisado por Beezus

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Prólogo

  Outro dia assistindo mais um daqueles documentários do Animal Planet ouvi algo sobre: “Os leões quando longe dos seus ficam vulneráveis até a um ataque de hienas”, ou seja, até o mais forte e poderoso quando sozinho torna-se vulnerável. Trazendo a realidade animal para a humana não fica muito difícil encontrar semelhanças. Daniel Jones não me deixa mentir, o ‘rei da selva escolar’, durante a aula que temos juntos me passou um bilhete – um pedaço de papel qualquer, nele uma letra quase legível, mas bonita.

  “Eu preciso da sua ajuda,
  

  Depois de bons anos estudando juntos descubro que sim, ele sabe que existo não que seja muito difícil de acreditar ou nada disso, mas pensei que eu fosse algum tipo de fantasma ou assombração dentro desse colégio. era popular, de certo seus olhos cor de céu e seus cabelos perfeitamente cacheados contribuíam de forma gigantesca para sua popularidade, mas tinha algo mais que não podia ser definido, ao menos não com palavras que eu pudesse distinguir, era como se ele fosse um ser que eu não poderia simbolizar em palavras.

  “Minha ajuda?
  

  Pude sentir seus olhos irem de encontro aos meus e o vi sorrir e acenar de forma positiva, com certeza aquela simpatia repentina se devia ao fato de estar longe de e todas as outras loiras-populares-e-vez-ou-outra-sem-cerebro, ele nunca se quer olhou pra mim e nem para metade da escola que não fosse ao mínimo pertencente algum tipo de ‘casta’ nobre. Não pude mais concentrar-me em qualquer explicação sobre os “Belts Americanos”.

  - Oi – pude ouvir alguém falar atrás de mim, logo que a aula terminou.
  - Oi – respondi de supetão ao ver que sim, era parado ao meu lado sorrindo um sorriso que nunca vi, seus olhos estavam mais claros que o habitual acho que sua camiseta azul piscina ressaltava a beleza dos olhos que não brilhavam, seus cabelos eram um assunto a parte, como um cabelo cacheado pode ser tão perfeitamente desgrenhado?
  - Eu preciso da sua ajuda. – sua voz deu som ao bilhete que recebi há instantes atrás e entendi porque algumas meninas morriam por falar com ele, sua voz era doce e hipnotizava com uma facilidade acima do normal.
  - Com o que posso ajudar? – tentei não gaguejar o máximo que pude, mas ainda não sei se consegui, pois pude perceber um sorriso torto em seus lábios.
  - Você é muito inteligente, não? – Perguntou de forma retórica – Preciso de ajuda em física e não tenho paciência de frequentar qualquer grupo de apoio, pensei que pudesse me ajudar com isso. – Como? Minha cabeça deu mil voltas antes que eu pudesse pensar numa resposta no mínimo inteligente. Eu não era tão inteligente como todo mundo pensava, mas sei que é mais fácil taxar alguém assim, pois a maioria das pessoas aqui tem preguiça de pensar ou se esforçar para entender qualquer matéria que seja, eu não era fora do normal, era apenas... Esforçada.
  - Mas – pausei de forma dramática – por que precisa de ajuda em física, nunca o vi se importar com coisas relacionadas à escola. – Tem vezes que é melhor pensar antes de falar e mesmo pensando, pensar mais uma vez, para que coisas como essa não saiam da sua boca e façam o garoto mais perfeito da escola fisicamente falando arquear a sobrancelha esquerda e responder algo como:
  - Eu pensei que pudesse me ajudar – senti que deu um longo suspiro antes de relaxar os ombros – eu preciso passar em física para continuar no time de futebol. – confessou.

Capítulo. 01

Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no... Espaço?

  Os saltos finíssimos das botas Jimmy Choo de Olívia ecoavam pelo imenso pátio do colégio Albert Einstein. Olívia chegou cedo; como era editora do jornal do colégio, estava sempre antenada em tudo e praticamente morava no prédio antigo, mas bem arrumado que era o Albert Einstein. Olívia era a pessoa mais normal daquele lugar – tenho que confessar, não éramos melhores amigas, mas almoçávamos algumas vezes juntas. Simpática como sempre e com um sorriso enigmático no rosto cumprimentou educadamente o segurança que ficava na porta. Com certeza a personalidade dela diferia da de seu irmão – – capitão do time de futebol do colégio, popular, bonito e cobiçado por onze entre dez meninas do Albert Einstein.

  Futebol não era um esporte muito comum, porém qualquer campeonato que acontecia na cidade era um marco – mal de cidade pequena. Com pouco mais de sete mil habitantes praticar qualquer esporte te fazia conhecido por todos, não que fosse muito difícil.

  - Ainda não entendi que diabos você precisa estar aqui tão cedo! – disse ainda sonolento, tentando arrumar os cabelos castanhos desgrenhados.
  - Você não precisava ter vindo comigo – enfatizava Olívia.
  - E acha que eu deixaria minha linda irmãzinha andar por aí sozinha? – perguntou irônico.
  - Vá se danar ! – ria enquanto apressava o passo.

  Apesar de Olívia ser muito diferente de , era inevitável dizer que os dois eram os mais populares do AE, por diferentes motivos, é claro. Olívia conversava com tudo e todos, alegava que precisava participar de todos os grupos, pois era uma jornalista e necessitava ser imparcial. Já com sua popularidade se baseava em 90% de sua beleza e os outros dez pelo seu talento inegável num esporte basicamente feminino – futebol. Se ele estivesse na Inglaterra tudo bem, mas quem nos Estados Unidos prefere futebol a basquete ou futebol americano? Ele era bonito o suficiente para ser um ótimo quarterback do time horroroso do colégio.

  Aos poucos o pátio central do AE ia se enchendo de preto e vinho – as cores oficiais do colégio – e notava-se de longe o bom humor coletivo, posso dizer que o motivo é o sol, poucas vezes o sol era tão expressivo quanto naquele dia. Poucas vezes o sol dava sinal de vida por dois dias seguidos e aquele era o caso. Sentei-me em um lugar qualquer e o mais longe dos alunos possível e observei aquela verdadeira selva escolar. As líderes de torcida lideradas por Michele, os esquisitos por Bernard – é, ele já tem um nome estranho - os jogadores de futebol por e e os normais, lê-se 90% do AE, bom, nós não éramos liderados por ninguém, uma anarquia basicamente. Nos noventa por cento se encaixavam os excluídos, mas quer saber? Éramos maioria, quer dizer, não éramos intercambistas sem direito a voz, nem nerds a procura da resolução do “Problema dos três corpos”. Conclusão: éramos pessoas que se submetiam às atrocidades das oligarquias populares e mesmo sendo maioria do colégio aceitávamos isso sem reclamar. Poderia fazer um imenso paralelo entre os colégios públicos americanos e a China, mas creio que você, querido leitor quer que eu vá direto ao ponto, certo?

  Ao longe e com cara de sono pude notar um um pouco desatento com tudo, seu olhar corria por todo o pátio até que por fim me encontrou e seu sorriso não fez esforço algum de se alargar, afinal era mais do que comum me ver todos os dias ali, sentada o mais distante possível com o objetivo de me camuflar dentre aquelas peladas árvores.

  - Bom dia – é inegável dizer que está com sono, seus olhos estavam vermelhos e seu rosto ainda inchado.
  - Dormiu bem? – o ignorei e percebi que já deitava no meu ombro a procura de uns minutos a mais de sono.
  - Sabe como é né? Maratona de Star Wars em casa, terminou tarde – nem se deu ao luxo de abrir os olhos e continuou no meu ombro.
  - Queria ter ido, mas que pena então. Sua primeira aula é de... – era estranho como os olhares são especialmente direcionados a nós, talvez porque fazer cafuné em um amigo com sono não é tão comum, ou então porque é popular e eu... Bom, não.
  - Física, acredita que o professor Fuller foi reclamar com o treinador sobre as nossas notas? – de repente vi um desperto e indignado – Sorte que minhas notas estão boas, mas alguns jogadores vão ter que ralar, senão.... Adeus campeonato. – Droga, mil vezes droga. me deixava ainda mais com duvida. Deveria eu ajudar ou não ?

xx

  Confesso que decidi ajudar a passar em física não por ele ter os olhos mais lindos que já vi, ainda mais vistos de perto e nem por ter a voz mais hipnotizante que já ouvi, creio que decidi o ajudar por ele simplesmente ter sido... Ele mesmo comigo. No final de todas as aulas e antes de seu treino, fui falar com ele e disse que talvez eu pudesse ajudá-lo em física.
   me suplicou para que ninguém do colégio soubesse que ele estava tendo aulas particulares comigo, tento e prefiro acreditar que isso não tem nada a ver comigo e sim às estranhas convicções que ele tenha. Além do mais creio que meu namorado – sim, eu tenho um namorado – não ia gostar de saber que eu ajudaria no meu tempo livre.

  Tínhamos marcado que logo após o treino eu iria até sua casa e teríamos a nossa primeira aula. Ok, aquilo era especialmente estranho, já tinha frequentado uma ou duas vezes a sua casa, não para vê-lo é claro, mas por causa de Olívia e sua mãe que insistiram que eu participasse do Clube do Livro do nosso bairro. Era até legal, mas depois de dois ou três encontros aquilo mais parece – O Clube da Fofoca. Dona Dolores, uma mexicana que viveu mais da metade da sua vida nos Estados Unidos era a principal, todas as vezes que eu frequentei o clube uma noticia nova aparecia como, por exemplo, a vez que a Dr. Williams – médico da cidade – traiu a esposa com a secretária. CLICHÊ. Talvez até um clichê maior do que a minha própria história. Qual é? Uma desconhecida que a passou a vida inteira tentando se camuflar começa a dar aulas particulares, mas não era para qualquer um, claro que não, esse alguém era especial. Esse alguém era o alguém X por quem ela passou a infância apaixonada, X que agora era popular e capitão de alguma equipe da escola. Não te lembra nada? Talvez um desses filmes que passem durante a tarde na TV aberta, ou quem sabe, clássicos da comédia romântica dos anos 80. A única diferença era que X não se apaixonaria pela mocinha no final. Uma tragédia dos anos 00?

  - Obrigado mais uma vez – agradeceu após ter conseguido resolver um problema de matemática simples.
  - Logo começamos com a matéria de física – prometi – só precisa antes entender alguma coisa de matemática.

  Estávamos na escrivaninha de seu quarto, com livros, cadernos e calculadoras ao nosso dispor. Admito que enquanto ele resolvia os problemas que tinha preparado para ele, observei particularidades de seu quarto. Tinha muitos pôsteres de bandas antigas de rock, percebi que ao menos tínhamos algo em comum, gostávamos dos “The Smiths” e éramos fãs dos “Lakers”, um time de basquete da NBA.

  - Fã dos Smiths ou dos Lakers? – quando que ele começou a reparar pra onde olho que não percebi?
  - Ambos. – respondi com um sorriso tímido eu tenho certeza disso eu podia sentir minhas bochechas ficarem vermelhas a cada palavra que saia de sua boca.
  - Pouco comum, as meninas geralmente não gostam de basquete – comentou – e quanto ao rock... Verdade que gosta dos Smiths? – sorriu.
  - Verdade, sou apaixonada por basquete e pelos ‘nerds’ britânicos. – desde que o vi pela primeira vez imaginei ele gostando de músicas diferentes, algo mais parecido com... Snoopy Dog ou um desses rappers da moda.

  Tanta conversa sobre música ou esportes americanos nos distraia e eu sabia disso, só não sabia quem começava com isso. Tantas equações e números ficavam de lado toda vez que eu saia do lado dele, não sabia que poderia ser tão... Difícil. Tentava me concentrar no fato de eu ter um namorado, um namorado extremamente fofo e... Inseguro.

  - Desculpe, me distraio muito fácil – Disse tentando defender-se de qualquer forma de uma acusação que só – pensei.
  - Tente não se distrair, por favor – minha voz saiu num tom de dramática súplica.

  Finalmente comecei a explicar física, precisamente “Dinâmica Impulsiva”, movimentações e velocidade dos corpos. Não entendo porque tanta gente não gosta de física, é algo tão mágico. Penso muitas vezes nesses que a odeiam, queria saber se odeiam chuveiro elétrico, computadores, televisões ou luz elétrica. Garanto que não. É, meus amigos, toda essa modernidade do mundo atual é graças ao quê? Claro, física.
  - Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço? – perguntou e pude sentir uma pitada de malícia em sua voz.
  - Definitivamente não. – respondi com certeza.

   soltou um sorriso de lado querendo indicar algo que não descobri o que era e olhou-me com seus olhos hipnotizantes e piscou algumas vezes o que me deixou de fato confusa. Balancei a cabeça dando sinal que ao menos dessa vez não nos distrairíamos, mesmo que fosse com uma lei tão básica da física. Ainda não sei porque sinto-me incomodada com – uau, primeira vez que não o chamo de e seu apelido soava bem aos meus ouvidos, mesmo que em pensamentos. Eu só poderia estar louca, ele nem me olhava, conversava comigo por causa dessa estúpida aula de física e há poucos dias atrás nem sabia sequer que eu existia.

  - Eu posso acreditar que sim, dois corpos podem ocupar o mesmo lugar no espaço – ele sorriu – ao menos podem tentar.
  - Dinamicamente falando é improvável isso acontecer – foi inevitável sorrir – mas se pode tentar se quiser. – Wow, já disse para pensar antes de falar? Seu sorriso malicioso se abriu ainda mais e percebi que dessa vez seria mais difícil a concentração voltar, já tínhamos nos dispersado demais.
  - Pode deixar podemos testar essa teoria – sua voz ficou mais rouca e meus olhos se arregalaram – afinal, é ciência – concluiu sem tirar o sorriso maroto daquele perfeito rosto.

  Ok, tenho mais uma vez uma confissão: eu fico atônita com esse garoto. Eu nunca percebi como ele me deixava assim, na realidade nunca consegui entender o porquê das garotas morrerem por um sorriso dele, agora entendo: ele é surreal.
  Nunca imaginaria que eu, a garota mais transparente do Albert Einstein School estaria conversando com ele: e o pior, achando-o uma pessoa realmente interessante. Agora posso entender quando dizem que um sorriso pode hipnotizar, que um olhar pode trazer devaneios, como uma voz pode te deixar paralisada, não que eu esteja apaixonada ou algo assim, mas que ele é único isso ele é. E além do mais eu namorava, se concentra no Ricardo.

Capítulo. 02

Hidrostática: Choques.

  Confesso que um dos meus programas favoritos era “A Supercâmera” da Discovery Channel, mas nem o meu programa favorito me impedia de me lembrar do quão estranho foi o dia no colégio. Muitas vezes não reparamos em coisas corriqueiras e cotidianas, mas ao olharmos de perto percebemos o quão grande elas podem se tornar.
  Quando cheguei sonolenta e desajeitada, logo meus olhos foram atraídos para , aquele mesmo que me fazia perguntas e resolvia equações de física, com comentários maliciosos e olhos que brilhavam.
  O mesmo que hoje voltou a ser o ‘rei da selva’ e sequer direcionou um olhar pra mim, sorri em pensamento, ele um dia pediu pra que não contasse pra ninguém sobre as nossas aulas, ele precisa manter a fama que ‘conquistou’, a menos que queira tornar-se transparente tal qual sou algumas coisas deveriam ser escondidas.

  - Bom dia! – me cumprimentou com a mochila num ombro só e seu cabelo bagunçado, assim como todos os dias. Na realidade, minha vida seguia um padrão, portanto minha rotina não poderia ser diferente. Eu chegava na escola ao menos vinte minutos antes do sinal bater, enquanto eu esperava , ficava pensando na vida ou lendo algum livro.
  - Bom dia – respondi enquanto caminhávamos lado a lado até nossos armários.
  - Que tal? Algo pra me contar? – duas perguntas seguidas? Um recorde para , geralmente é uma de cada vez, muitas vezes não esperando eu responder sequer mais de duas palavras. e eu nos conhecemos desde... Sempre. E também desde sempre foi mais falante do que eu, talvez por isso nos damos tão bem, sou de poucas palavras e muitos pensamentos e ele é o oposto, tudo o que sente é a necessidade de expressar todos os seus sentimentos, muitas vezes se ‘dá mal’ por não pensar nas consequências. Na verdade ele quase nunca pensava nas consequências, agia por impulso. Seu lema era: “prefiro me arrepender pelo que fiz, do que me arrepender pelo o que não fiz.” Talvez, por eu ser o oposto – quer dizer, eu sempre pensava nos prós e nos contras e depois nos contras e nos prós e assim por diante – sejamos tão amigos.
  - Acredito que não, alias... – pausei, não podia contar para o que fazia com , mesmo que não fosse nada além de estudar física, pode parecer estranho, mas senti a necessidade de esconder isso de . – e você?
  - Nada – arqueou a sobrancelha direita como sempre faz quando desconfia de algo, mas prefere não comentar, pois acredita ser melhor assim. Esse é o grande problema da amizade, conhecemos cada trejeito do outro.

  Conversamos coisas banais até as aulas começarem, na realidade não teve muita coisa interessante até a hora do almoço, exceto pelo escândalo de alguma líder de torcida alegando que a amiga tinha ficado com o namorado dela, mas aquilo já era normal. As aulas não se estenderam muito, pois teríamos uma palestra sobre SAÚDE (lê-se sexo na adolescência) no auditório do colégio, ou seja, todos os alunos reunidos num ambiente só e ouvindo uma pobre coitada que não vai conseguir falar e se por acaso conseguir vai ouvir diversas piadas e risos depois.

  Caminhei pelo enorme jardim do Albert Einstein que levava até o teatro, na realidade como a palestra seria para todos os anos e no mesmo horário, me arrisco a dizer que aquilo estava um caos, já não sabia onde estava e sequer tinha visto algum rosto conhecido.
  - Garota, você não olha por onde anda? – perguntou com seus olhos azuis raivosos e seus cabelos bem loiros ao perceber que tinha esbarrado nela.
  - Desculpe – respondi apenas isso, não ia entrar em discussão com a garota ‘top das top’s’ a menos que queira sentir-me imensamente inferior.
  - Só isso? Desculpa? – sorriu um sorriso presunçoso – realmente você me enoja.
  “Eu te enojo? Não preciso humilhar ninguém para sentir-me superior, não tenho medo de mostrar minhas fraquezas. Desculpa se não tenho medo de ser humana” – pensei. Não pude evitar sorrir com tais pensamentos, não valeria a pena discussão a menos que eu quisesse acabar com a minha vida social, o que já não era grande coisa. não era o tipo de pessoa que você gostaria de arrumar confusão, ela mesma tendo ataques de maldades era influente, de alguma forma, ela era mais influente que as fúteis líderes de torcida (que por sinal eram incrivelmente ruins, assim como o time de futebol americano, ou o de basquete). O fato é que nunca gostou de mim, sem um motivo aparente, pois ela não era o tipo de garota que iria me humilhar sempre, mas era o tipo de garota que não gostava que eu esbarrasse com ela, o tipo de garota que desde que eu não estivesse no seu campo de visão, tudo bem.
  - Por que sorri? – perguntou furiosa.
  - Nada – respondi num sereno – tchau! – não esperei que pudesse dizer alguma coisa, sai praticamente correndo daquele lugar e escolhi meu lugar bem no fundo do auditório, não queria me juntar com os populares que estavam bem na frente para presenciar o fiasco da palestra.

  Roberta, esse era o nome da sentenciada e palestrante. Com o objetivo de falar o menor tempo possível ela nos encheu de ‘slides’ e a nossa paciência, não havia piada a ser feita, não havia papel a ser jogado, aquilo tudo era chato demais. Podia ver pessoas na minha frente praticamente dormindo, era demais até pra mim. O teatro estava lotado e os professores estavam todos sentados na primeira fileira, na segunda fileira estava quem realmente queria prestar atenção, da terceira em diante as pessoas se alternavam em dormir, mexer no celular ou escutar alguma música. Eu só não pegava um livro, pois a sala estava um breu só, a imagem do slide chegava a doer os olhos e aquele cheiro de lugar fechado, misturado com nachos estava me enjoando. Levantei-me daquela cadeira acolchoada e fui em direção à porta do auditório, mas me lembrei de que a sala estava escura se eu a abrisse, um facho de luz entraria e chamaria atenção, então decidi sair pelo caminho de cortinas pretas que tinha por ali.

  - Que faz aqui? – perguntei a um menino que estava sentado num canto daquela sala escura. Na verdade era a coxia, estava tão escura como o teatro, porém a luz de emergência estava mais forte.
  - Palestra chata – se limitou a dizer isso, e eu reconhecia aquela voz. Não o podia julgar, eu estava prestes a escapar daquela palestra insuportável, provavelmente eu ficaria atrás das arquibancadas do ginásio de basquete torcendo para que um casal com hormônios borbulhantes não aparecesse por lá.
  - Entendo – me dirigi até a porta na esperança de sair daquele lugar, mas senti uma mão no meu ombro, era do menino desconhecido.
  - Aonde vai? – perguntou assim que abri a porta e a luz de fora entrou – ? – perguntou surpreso – fugindo de uma palestra? – deu mais um dos sorrisos irresistíveis.
  - Como bem disse: palestra chata. Vou sair daqui. – pude recuperar o fôlego que ele tinha me tirado assim que vi que seus olhos eram mais azuis do que eu sabia, era especialmente irresistível quando queria e quando não queria ele era também.
  - Minha professora ‘nerd’, nunca esperaria isso de você – comentou debochado ainda com a mão em meu ombro, mas agora eram as duas mãos, uma em cada ombro. Agora estávamos especialmente perto. Era um saco quando o garoto que você passou a vida idealizando chega tão perto de você desse jeito, na realidade era um saco por eu não ter autocontrole suficiente para me afastar e lembrar que eu tinha um namorado que me amava.
  - O que espera de mim? – posso não querer dizer isso, mas essa frase saiu num mais provocativo do que eu queria que ela saísse.
  - Eu quero ver esses olhos bem de perto – ok, a resposta veio para uma pergunta que não fiz, sendo assim seu rosto se aproximou do meu e pude ver as sardas que seu rosto tinha, nunca tinha reparado nelas e agora elas estavam tão... Perto, assim como a sua boca estava da minha – você é linda – disse em um sussurro antes de encostar seus lábios nos meus, mas não de forma invasiva e sim de forma gentil. Línguas não foram incluídas, pude apenas sentir apenas seus lábios macios nos meus e um sorriso em meio a tal ação.
  – Um corpo colide com o outro quando há entre eles uma aproximação, seguida de uma rápida interação de contato e um rápido afastamento – estava mesmo repetindo as palavras do livro de física? – Pode acontecer também, que os corpos permaneçam unidos após a interação. – Sim, ele estava repetindo palavras de um assunto que tínhamos estudado há algumas boas horas atrás. Ele ainda estava relativamente perto de mim mais do que minha sanidade suportaria então decidi delicadamente me desvencilhar de seus braços. Eu precisava pensar em coisas que não me tirassem do sério como ele fazia. Ricardo, sim Ricardo. Espera um pouco, Ricardo é meu namorado, ELE que tem de me tirar do sério, mas de alguma forma isso não acontecia, ou melhor, nunca aconteceu.
  - Hidrostática – respondi, sem perceber que tinha passado a língua em meus lábios.
  - Choque! Nunca pensei o quão divertido poderia ser testar física na prática. – respondeu com um sorriso no rosto.

  A palestra já devia ter acabado, pois eu podia ouvir vozes mais altas vindas do auditório e em poucos minutos as pessoas estariam saindo pela porta e aquele único momento com estava perto do seu fim, na realidade estava a segundos de terminar. Ele apenas me lançou um sorriso, pegou sua mochila, colocou nas costas e seguiu em direção à saída. Toquei meus lábios com as pontas dos dedos, mas me repreendi por ser tão idiota a ponto de ter pensamentos tão impróprios com .

  Depois de alguns minutos lembrei que teria aula de Química e tive que correr para não chegar atrasada. A aula de química começou pontualmente, quem daria a aula seria o professor Keane, um professor no auge de seus quarenta anos e extremamente simpático e volátil assim como suas equações. Sempre com um sorriso no rosto era triste, ninguém nunca soube por que ele largou a família, sendo que era uma das mais ricas da cidade. Ele quebrou o ciclo de advogados ricos e poderosos e tornou-se um professor de Química II numa High School.

  - Pessoal concentra – dizia chamando a atenção pra si – Primeiro, o que é uma reação de oxiredução? – disse sentando-se sobre a mesa do professor.
  - É uma transferência de elétrons – respondi, sabia que ninguém daquela aula se arriscaria.
  - Perfeito – disse com um sorriso indo escrever a matéria no quadro negro.

  Os primeiros minutos da aula transcorrem normalmente até alguém bater na porta calmamente. Ricardo entra no laboratório devidamente trajado com seu jaleco branco, assim como todos os alunos que lá estavam. Uma pergunta que não quer calar, que diabos ele está fazendo aqui, que eu lembre não temos nenhuma aula juntos.

  - Desculpe professor – disse – troquei meu horário hoje - Ricardo estava com os cabelos castanhos revoltos e parecia um pouco tímido.
  - Ok. Sente-se com – disse voltando a anotar as mirabolantes fórmulas da equação. – A propósito vocês são namorados, não? – droga, comentário impróprio, diversos gritinhos começaram a ecoar pelo laboratório. As aulas de química no laboratório não eram tão cheias assim já que não eram obrigatórias, só participava mesmo quem precisava de créditos extras ou quem realmente gostava de química – e esse era o meu caso.

  Rick me olhou e logo depois sorriu e começou a copiar a matéria do quadro negro. Não conseguia mais me concentrar, lembrei-me de alguns momentos com meu namorado, foi tão engraçado e inesperado. Ricardo nunca foi o que mais atraiu olhares, porém não era feio. Compartilhávamos a mesma cor de olhos, apesar dos dele serem mais claros, seus cabelos bem escuros davam um enquadre interessante para seu rosto. Rick é bonito, ao menos pra mim. Seu pedido de namoro foi tão estranho, nem ao menos um beijo tínhamos trocado antes, ele simplesmente se apaixonou por mim, e eu? Eu. Eu não sei, mas o jeito fofo e inseguro de Ricardo era tão novo pra mim que decidi aceitar e tem me feito bem, até hoje. Sinto-me tão, tão... Estou o enganando não estou? Não contei que estava dando aulas para e pior ele me beijou. Ok, não foi um beijo cinematográfico nem nada, mas seus lábios tocaram os meus.

  - CO2 + 2H2O. Essa reação é oxirredução? – disse Keane realmente empolgado – Primeiro de tudo ache o NOX, sem o NOX realmente não tem como saber. – disse olhando pra sala.
  A voz grossa do professor começava ficar cada vez mais distante aos meus ouvidos, só podia me concentrar nesses pensamentos cruéis, como eu sou cruel. O que penso que estou fazendo? Decidido, não darei mais trela para as possíveis investidas de , serei cética e só explicarei física, nada mais. Sabe o que é o pior? Nem sei se são realmente “investidas de ” ou se é apenas a minha criativa e ilusória imaginação.

  - Você entendeu aquela conta? – Rick se aproximou do meu ouvido.
  - O quê? – uau, saí dos meus devaneios, eu precisava sair...
  - Perguntei se você entendeu a conta – disse apontando a equação no caderno.
  - Ah! Claro... Digo, não entendi não. – respondi e tive a certeza que minhas bochechas ficaram claramente mais rosadas do que o normal.
  - Tudo bem – sorrindo – você é uma figura, por isso te amo. – foi inevitável sorrir, apesar de tudo é muito bom saber que alguém nesse mundo te ama, além de seus pais, é claro.
  - Parece que sou seu novo parceiro de laboratório. – a voz suave e rouca era capaz de torturar o mais cético dos seres.
  - É – sorrindo – Parece.

Capítulo. 03

Termodinâmica

  Faz alguns dias que aquele projeto de beijo aconteceu e não consigo tirá-lo da minha cabeça. Falamo-nos algumas vezes depois daquilo – nas nossas aulas obvio, ele não fala comigo dentro do colégio – porém, sem qualquer menção àquele fato tão marcante, ao menos pra mim. Talvez por ter se aproximado de forma drástica de e pelos comentários não duvido que ele esteja gostando, afinal ela é bonita, loira, alta, olhos claros e... O tipo dele. Com incentivos mil vindos de e outro dos seus amigos não duvido que beijos já tenham acontecido entre e , senão beijos algo mais físico, se é que me fiz clara. E enquanto isso continuo a explicar matérias que tenho que estudar o dobro para conseguir explicar pra ele e em contrapartida responde ‘sms’s’ com certeza mandados por .
  Às vezes secretamente eu desejava que me notasse ou que quisesse saber mais sobre mim, mas logo meu pensamento era repreendido, pois por mais excitante e divertido que fosse pensar nisso eu tinha que me contentar com a minha realidade. Ricardo era a minha realidade, embora ele nunca tenha me feito sentir como quando penso em...

  - Consegui entender esse negócio de termodinâmica – despertou-me de meus pensamentos no mínimo masoquistas.
  - Fico feliz, logo não precisará mais de mim – comentei – você só precisa de organização e de um tempo para estudar. – me endireitei na cadeira e tentei relaxar meu tenso pescoço com movimentos circulares, eu precisava da minha sanidade de volta. Seria tão mais fácil ensinar algo a , tudo bem eu não gostava dele, mas ao menos ele não era meu platônico amor infantil. era e quando dois mundos colidem desse jeito o resultado só pode ser esse... Minha loucura completa.
  - Eu prefiro estudar com você. – sorri ainda de olhos fechados, mas não consegui acreditar ou preferi não me iludir mais, não sei ao certo.
  - Está cansada? – perguntou com uma voz preocupada, sentia sua respiração próxima ao meu ouvido, mas evitei abrir os olhos ou eu não aguentaria.
  - Apenas não dormi bem. – comentei tentando me afastar dele e consegui agora eu poderia abrir os olhos com segurança. – Sabe como é... Insônia. – menti com a cara mais lavada do mundo, eu não dormia bem há dias, aquele pseudo-beijo não saia da minha cabeça e o fato de Ricardo estar cada vez mais atencioso comigo não me deixava ter uma noite de sono tranquila.
  - Podemos continuar amanhã se você quiser – aquelas palavras vieram como musica aos meus ouvidos e realmente queria ir embora para casa antes que aquilo tornasse minha sanidade nula.
  - Jura? – respondi com um sorriso – eu prometo que amanhã estudamos mais, mas hoje realmente preciso de umas horas a mais de sono. – prendi meu cabelo num coque mal feito antes de soltar um sorriso sincero para .
  - Claro. – ele pegou minhas mãos e me levantou da cadeira logo após me abraçou e sussurrou em meu ouvido:
  - Fica bem. – nesse momento pude perceber claramente a física ‘térmica’ quando diz que quanto maior a agitação das partículas de um corpo, maior é a temperatura deste. E cada partícula do meu corpo estava agitada e sentia que a qualquer momento eu ia evaporar de tão quente que meu corpo estava. Numa volta à realidade sai daquele abraço.
  - Pode deixar – respondi num fio de voz. Será que ele sabe as reações que ele provoca na minha mente e corpo? – amanhã continuamos. - continuei com o resquício de voz que eu ainda tinha. Sinto-me tão idiota por conta disso, como alguém pode se descontrolar de tal maneira? Percebi que ainda estava perigosamente perto, de certo não sei como ele chegou tão perto, mas sabia que precisava sair.
  - Sim, eu posso continuar amanhã – ele se afastou para minha sorte num ímpeto, deitou em sua cama o que me deu a dica de pegar meus livros e caderno coloca-los numa mochila e seguir meu caminho para casa, não sem antes nos despedirmos.

  Desci as escadas da casa de e esbarrei sem querer com Olívia. Ela me olhou surpresa, seus olhos azuis iguais aos de seu irmão se arregalaram e a derradeira pergunta:

  - , o que faz aqui? – questionou – não que eu não te queira aqui, mas...
  - Ah! O me chamou pra eu ajudar com algumas coisas de física, coisa boba, mas não conta pra ninguém, ok? – O que eu tenho na cabeça? Tudo bem que a Olívia é irmã do , mas teoricamente ela é jornalista, apesar de achar que esse assunto não seria uma grande notícia. Se bem que se não fosse seu irmão e eu não fosse sua amiga Olívia bem que poderia publicar, ou não? Afinal, o que tem demais no capitão do time de futebol estudando com uma pseudo – nerd como eu? Nada. Certo? Aliás, quando se tratava de minha vista estava com muitos “pseudos”.
  - Não teria motivo de eu contar para alguém – sua frase saiu com uma descrença – afinal, meu irmão é mesmo ruim em física, bom espero que consiga ajudá-lo – sendo assim, Olívia subiu para o seu quarto com as mil caixas que estava em suas mãos.

  Consegui sair daquela casa e aquele dia estava especialmente frio, estava começando a sentir falto do sol que se fez presente nos dias anteriores. Dias ensolarados realmente tinham o poder de me deixar mais alegre, porém aquele vento gelado estava levando um pouco da minha culpa se isso fosse possível. Não entendo o motivo da culpa, afinal não fiz nada errado, mas era tão terrível esconder coisas do meu namorado. Droga. Eu também estava escondendo do . Droga o , me afastei tanto dele que nem sei se ele ainda lembre o meu nome. Drama. Quem disse que ser adolescente é fácil? Já reparou que estou cheia de questões? Não?!

Capítulo. 04

Um respiro I – o amigo.

  Meus olhos se abriram aos poucos e pude ver que o sol já entrava pela janela do meu quarto. Que droga! Eu estava atrasada para o colégio, de certo seria mais de dez horas da manhã. Passei a mão pela mesinha ao lado da minha cama e olhei no visor do meu celular: ONZE E QUARENTA E TRÊS! De fato as noites mal dormidas de semanas atrás resolveram se vingar de uma vez só, tinha perdido várias aulas naquele dia, inclusive uma de laboratório. Odiava perder aula, mas não estava me culpando naquele momento, me sentia de fato relaxada, aquelas paredes brancas com ocasionais pôsteres e fotos tinham o poder de me trazer a realidade, o que me fez levantar e procurar algum sinal de vida naquela casa.

  - Mãe – a chamei enquanto descia as escadas em busca de alguém.
  - Aqui na cozinha – ouvi minha mãe dizer enquanto eu olhava o quão lindo o dia estava naquela sexta feira.
  - Bom dia ou boa tarde, que seja – sentei-me enquanto a observava preparar mais um de seus bolos incríveis.
  - Acordou tarde hein mocinha?! – disse minha mãe antes de me dar um sorriso terno – e antes que pergunte o porquê não te chamei – fez uma pausa enquanto procurava um pano de prato para tirar o bolo do forno – te achei muito cansada, precisava um dia seu, dormir um pouco.

  Sim, minha mãe estava certa, esses últimos dias têm sido um verdadeiro caos para mim e para minha sanidade. As aulas estavam ficando cada vez mais estranhas e também, sem perceber eu também estava mudando. Esses dias veio me visitar para assistir filmes antigos como sempre fazíamos as segundas feiras e simplesmente minha mente estava em órbita, tanto que acabamos brigando e faz três dias que não nos falamos. O que era um recorde se pensarmos em todas as vezes que brigamos, na realidade mal lembro quando tivemos uma briga realmente séria. Geralmente discutíamos acerca de personagens idiotas de desenho animado e ficávamos cinco minutos sem nos falar. Mas três dias era demais, tempo demais sem meu melhor amigo, tempo demais sem aquele sorriso que eu tanto amava.

   enquanto você não me falar o que acontece com você, não dá pra continuar com isso. Sério, perdi minha melhor amiga nessas ultimas semanas e nem sei o porquê”.

  Essas foram suas palavras antes de bater violentamente a porta do meu quarto e me deixar pensando em o que eu sinceramente queria com e o porquê ele me deixava paralisada, eu sinceramente não sabia. Era mais uma briga idiota, mas dessa vez ele tinha levado a sério, ele sabia que acontecia algo comigo e que eu não queria contar. É, talvez minha mãe estivesse certa eu estava muito cansada esses dias.

  Segui o conselho materno, me arrumei com uma roupa simples – as que comumente visto: calça jeans, uma camiseta colorida, neste caso laranja e um tênis velho, neste caso um all star. Saí de casa sem talvez ter um rumo a seguir, é, realmente eu não tinha um rumo a seguir, mas somente o sol que esquentava minha pele e aquele vento fresco me bastavam naquele momento. Eu podia sentir que as pessoas me achavam um pouco depressiva, mas eu não estava talvez pensativa demais, como, por exemplo, Como o tempo mudou de maneira tão drástica de um dia para o outro? Talvez o aquecimento global pudesse explicar no começo da semana o frio cortava minha pele, já era quinta feira e eu poderia me dar ao luxo de sair de casa sem o casaco, realmente o mundo está ao contrário e ninguém reparou¹.

  Mais a frente, quando eu me via perto de um parque pequeno da cidade e eu vi uma mochila conhecida, essa mochila do qual o dono eu sentia tanta saudade, esse dono que resolveu não falar comigo enquanto eu não me abrisse de vez com ele. De ímpeto tive vontade de correr e dar um abraço em e foi o que fiz. Parecia uma louca, as pessoas que decidiram apreciar o sol que resolvera dar as caras me olhavam como se eu tivesse algum sério problema, mas eu não ligava. Se eu acreditasse em destino eu provavelmente o agradeceria por pôr o meu melhor amigo no mesmo parque que eu, se eu acreditasse em destino agradeceria por ele ter cabulado aula para poder aproveitar o sol matinal naquela manhã.

  - Você é louca ou algo assim? – eu pude sentir o sorriso que ele teimou em não oferecer pra mim nesses dias.
  - Não, apenas senti saudades. – fui sincera? Fiz de tudo para parecer e deixar meus sentimentos transparentes.
  - Hm – foi aí que percebi que com um abraço apenas as coisas não se resolveriam.
  - Desculpa – droga! Por que eu tinha que ser tão chorona? Por que meus olhos sempre me traiam? – Eu simplesmente não sei o que aconteceu comigo nessas semanas – mentirosa – está tudo tão... Confuso.
  - Vem – deu um sorriso terno que de imediato me confortou – vamos conversar sobre isso, sim? – o garoto de olhos sinceros me arrastou para dentro do parque até que chegássemos a uma mesa de piquenique, nos sentamos um em frente ao outro e eu tremi. Tremi por saber que pela primeira vez aqueles sentimentos seriam falados e não apenas sentidos e pensados, eu os colocaria pra fora?

  Respirei fundo e os olhos atentos de indicaram que eu poderia começar a falar a qualquer momento, poderia demorar cinco, dez, quinze minutos, mas ele estaria ali. O lugar onde estávamos era o mais frio do parque, talvez pelas densas árvores que lá havia. sorriu pra mim e comecei a falar, gaguejei de inicio e seus olhos se arregalavam quando eu narrava as aulas com , mas não eram olhos de pânico e sim de... Surpresa.

  - Eu não durmo, estou o tempo todo em outra dimensão – o sorriso de se alargou e percebi o quão idiota e insana era aquela frase – só quero minha sanidade e racionalidade de volta. – conclui num suspiro, o que me pareceu realmente idiota naquela hora.
  - Sabe o que acho? – depois de longos minutos se pronunciou com aquela voz serena numa pergunta retórica – Eu acho que você quer se aproximar dele, do , não duvidaria que você está imensamente atraída por ele – IDIOTA, é isso que o é. Como ele pode dizer isso numa voz de tanta certeza? Eu não estou atraída pelo . – E quanto ao Ricardo eu tenho certeza absoluta que você não o ama, está na cara. Senão ele não vivia perguntando. “, o que você pensa de caras como eu? Gosta do meu cabelo? O que mais gosta em mim?” – em sua ultima frase ele imitou a voz do Ricardo e foi impossível não rir, era bem verdade que essas eram as perguntas mais frequentes do meu namorado, mas não era necessariamente um chato.
  - Impossível – sorri meu sorriso mais cínico – eu só estou... Estou... Estou confusa, é isso. Confusa.
  - Confusa? , você pode entender de números, fórmulas, gramática e o diabo a quatro, mas eu entendo de relacionamentos interpessoais – ele acha que aquela psicologia barata realmente me convencia? Aliás, psicologia é a coisa mais inútil na face da Terra, de certo não vejo utilidade para tanta subjetividade.
  - Entende? – minha risada irônica saiu mais alta do que eu planejava – sinto muito, mas dessa vez você errou.
  - Ok, se você é a parte envolvida na história me diz que eu errei, eu acredito – eu odeio quando o faz essa voz cínica, quando ele sorri desse jeito sabendo que está certo e que é questão de tempo para a teoria dele ser provada. ODEIO, já disse? O-D-E-I-O.

  Conversamos sobre mais algumas besteiras, como o quanto era linda (obvio que são falas de , porque sinceramente a acho uma vareta com silicone, enfim...) e como as líderes de torcida do Dallas Cowboys não representavam direito o estado da estrela solitária – Texas.

  Eu sentia falta do meu amigo, meu melhor amigo. Fomos caminhando até minha casa, afinal era quinta feira e iríamos assistir pela trigésima vez a um filme que ele tinha alugado: “Curtindo a Vida Adoidado”. Quando chegamos Ricardo estava parado em frente a minha porta.

  - O que ele está fazendo aqui? – sussurrou no meu ouvido.
  - Não sei – tentei ignorar e fui até a porta cumprimentar Ricardo e pela primeira vez desde que começamos a namorar eu neguei um selinho.
  - Tudo bem com você amor? – Ricardo perguntou exasperado – Fiz alguma coisa errada? – começariam então as mil questões – já sei, não gostou da minha roupa, tudo bem eu volto para casa e mudo, sem problemas.
  - Não... Nada disso, é que o está aqui e sou meio tímida você sabe – mentirosa. nem sequer estava mais lá, já tinha entrado e com certeza já estava conversando animadamente com minha mãe.
  - Tudo bem – seu sorriso então se alargou – passei aqui porque achei que estávamos muito distantes durante essas semanas – concluiu. – não te vi no colégio hoje.
  - Acordei tarde e depois sai pra caminhar – nessa altura do campeonato já estávamos sentados na pequena escada que tinha em frente a minha casa – encontrei o e viemos pra casa ver um filme.
  - Então nada de cinema hoje? – perguntou com certa tristeza na voz.
  - Nada de cinema hoje, mas podemos ir amanhã, o que acha? – disse na tentativa de animá-lo ao menos um pouco. Por que era fato que estávamos realmente muito distantes de umas semanas para cá.
  - Ok amor. Bom filme com o . – sorriu, me deu um beijo estalado na bochecha e seguiu seu caminho. Oh! Meu Deus, o que se passa comigo? Neguei um beijo ao meu namorado.


  ¹ Não resisti e usei a música Relicário do Nando reis.

Capítulo. 05

Um respiro II – Conhecendo as personagens.

  Nas muitas conversas que tive com minha avó e minha mãe, sempre perguntava como meus pais tinham se conhecido. Até uns dois anos atrás era um mistério pra mim e na verdade até hoje não entendo pra que tanto exagero em torno dessa história.

  1989

  No mesmo ano do Massacre da Praça da Paz Celestial – acontecido na China – meus pais se conheceram. Pelo que minha avó conta, meu pai era um ‘rebelde sem causa’, andava com roupas rockers e cantava músicas típicas dos anos oitenta. Isso não posso negar que herdei do meu pai, eu amo um bom rock e uma boa guitarra. Enfim, meu pai era vizinho da minha mãe e como sempre dona – Bianca sempre foi a “filinha de papai” e toda menininha. Sempre a melhor nota, sempre a primeira da sala, fazia teatro e participava de diversas atividades extracurriculares – uma filha exemplar.

  Até que um belo dia o vizinho charmoso com topete e casaco de couro a chamou para sair, ela negou – é o que mamãe diz, mas duvido – mas cedeu meses depois. Percebeu que papai era uma boa pessoa e se tornaram melhores amigos – o que são até hoje se me permite comentar. Porém, algo muito avassalador acontecer no ano de...

  1991

  - Pai, estou grávida – pelo relato da minha avó, minha mãe ficou branca ao contar isso para meu rígido avô George.
  - Eu não acredito, que tipo de irresponsável você é? Você tem dezessete anos menina – meu avô gritava a plenos pulmões e não se importava com os vizinhos.
  - Sr. George, nós criaremos essa criança, eu já estou trabalhando e... – Pedro, meu pai, foi interrompido pela voz raivosa de meu avô.
  - Você trabalha em uma lanchonete, acha que isso é emprego? – meu avô esbravejou. É tão complicado ouvir essas histórias porque não consigo imaginar meu doce avô tão bravo.
  - Pai, definitivamente não há mais nada que se fazer – concluiu corajosamente mamãe – estou grávida e pronto, agora Pedro e eu encontraremos soluções.

  Meu avô ficou em estado de fúria, afinal, a única menina da casa estava grávida – a sua menina. Tanto trabalhou no hospital para criar e dar uma boa educação e ela aparece grávida de um ‘ninguém’?

  Ainda em 1991 mais precisamente no mês de novembro a que vos narra nasce e torna-se a alegria da casa, pronto, fim. Na verdade fui a primeira neta do meu avô, afinal meu tio Steven ainda não tinha completado o serviço com a namorada dele, o que aconteceria anos mais tarde. Minha avó e mãe, contam que depois que nasci meu avô mudou, deixou de ser rabugento e deu toda a ajuda necessária para que meus pais me criassem, e percebo isso, porque ele sempre foi um doce de avô comigo.

  1995

  Com quatro anos eu era a princesinha da família, tudo o que eu queria eu tinha menos um amigo de verdade. Deve ser por isso que eu odiava ir à escola, sempre ficava sozinha e ninguém vinha brincar comigo, até que num dia nublado do mês de maio conheci ...

  - Oi, quer brincar? – sua dicção era engraçada para uma criança de quase cinco anos, ele falava sem erro algum.
  - Quero – lembro vagamente, mas estava morrendo de vergonha de brincar com um menino, afinal quando se é pequeno há uma tendência natural de segregação ao sexo oposto. Se bem que essa segregação só acontece depois dos seis anos de idade. O fato é que depois de não precisava mais ficar sozinha na escola, não era mais a pirralha excluída, de todas as forma tentava me incluir em suas brincadeiras com seus amigos.

  Alguns dias depois até nossas mães se conheceram e tornaram-se amigas, praticamente vivíamos todos juntos, como uma grande família.

  1996

  Meus pais se separam, ele vai morar em Londres e mamãe e eu continuamos em Dallas. Visitas esporádicas diminuíam a saudade que tinha de ter meu pai perto de mim.

  2001

  O jardim da infância já era passado, mas bem que nesse ano eu queria realmente voltar pra lá. até antes desconhecida da minha vida passa a ser realmente insuportável e cruel, humilhando-me na frente de todos os meus colegas e reclamando das minhas roupas. Com dez anos eu realmente não me maquiava, sequer usava roupas apertadas ou salto alto, já era/é praticamente uma miniatura da barbie com batons chamativos falava a todo pulmão que eu era mal vestida e que não tinha amigos, é.

  - Garota, você só anda com esse seu namoradinho ai – ria da minha cara e eu sentia minhas bochechas queimarem de ódio.
  - Ele não é meu namorado – tem noção do que é a escola toda pensar que era meu namorado? Eu tinha dez anos, poxa!
  - Não? Ah! Coitadinha, realmente ninguém se interessaria por você. – jogou seus cabelos perfeitamente cacheados e loiros no meu rosto.

  Eu não suportava , tão prepotente tinha tanta necessidade em me humilhar que eu ficava estática. E ? Simplesmente nunca ligou, dizia “Você dá atenção , é isso que ela quer. Sinceramente? Ela não me atinge”. A maturidade do meu amigo sempre se destacou no monte de idiotas que sempre tivemos que conviver, crianças podem ser cruéis quando querem, mas não ele, não meu melhor amigo. sempre fora mais maduro dentre todos os meninos, sempre...

  2006

  Estávamos e eu no meu quarto, ele deitado na minha cama e eu fazendo deveres de álgebra. Vez ou outra trocávamos palavras e o som de “When I Go Down” do Relient K invadia o ambiente, trazendo uma sensação de...

  - , posso fazer uma pergunta? – perguntava ainda deitado na minha cama.
  - Faça – respondi ainda entretida no eixo x e y de um gráfico.
  - Você já beijou alguém? – de certo essa pergunta me assustou. Cinco segundos sem resposta antes que eu me virasse com cara de espanto para o que continuou – não pergunto por mal é que...
  - Por que quer saber? Que diferença faz ? – sinto que fui dura na resposta e nem sei por que, mas a pergunta me irritou.
  - Curiosidade – há muito ele já tinha levantado da cama e se colocado de joelhos em frente a mim.
  - Se interessa tanto, a resposta é: não. Nunca beijei – intransigente mais uma vez, mas antes que pudesse ver seus olhos virei-me para o caderno mais uma vez e não percebi que estava chegando cada vez mais perto e só dei por mim quando seu perfume já estava perigosamente perto de mais. Eu tremi. Foi a primeira vez que eu tremi diante de um garoto.
  - Que faz? – meus olhos arregalaram, mas não de pânico. Ele se aproximou e me beijou. Meu primeiro beijo, meu melhor amigo e o transe. Nunca imaginei como ficar perto de pudesse ser tão perigosamente tentador, nunca havia percebido até aquele dia como aqueles olhos eram tentadores, ou como seu cabelo bem desenhado poderia ser tão macio e seus lábios tão inebriantes. Meu primeiro beijo, meu melhor amigo.

  2007

  Nunca uma musica fez tanto sentido quanto “The Blower’s Daugheter” . Estávamos numa excursão do colégio, precisamente em San Antonio – museu da Batalha do Álamo. Museu esse que simboliza quando finalmente o ditador Santa Anna, general mexicano que foi capturado pelas forças texanas. O que gerou a independência do Texas e posteriormente anexando Texas ao território dos Estados Unidos. – estávamos em uma visita cultural e repleta de história americana, mas não pude deixar de observar um minuto sequer meu colega de turma – .

  - Nossa, muito legal isso aqui não é ? – comentava euforicamente enquanto folheava alguns folhetos do museu.
  - Na verdade... Hum, é legal sim. – do outro lado do Museu eu podia avistar e Morgana juntos, eu sabia que namoravam, mas nunca os tinha visto juntos de fato.
  - Que desânimo. – comentou antes de sair do meu lado e examinar alguma coisa relacionada à Batalha.

  Perdida em pensamentos eu não conseguia tirar meus olhos de e sequer sabia o motivo. Nunca tinha falado comigo, portanto não havia motivo para idolatrá-lo ou odiá-lo. Morgana sim, essa eu conhecia bem e era um tipo no mínimo excêntrico dentro do colégio. Com seus longos cabelos castanhos era popular, inteligente, líder de torcida e simpática, realmente uma combinação... Excêntrica. Eram bonitos juntos. tinha entrado no colégio no ano anterior e arrancado suspiros de metade das meninas no ensino médio, a outra metade estava para se formar então mal ligava para o pirralho de olhos lindos. A verdade é que rapidamente ele se tornara popular, sua irmã escrevia no jornal fracassado da escola e tinha conquistado a garota mais simpática e popular da escola – Morgana, que mais eles poderiam querer? Eles eram o casal perfeito, combinava, completavam a fala um do outro.
  O refrão da música me despertou e vi todos os meus colegas seguindo com a o animado professor de história para dentro do museu.

I can't take my eyes off you | Não consigo tirar meus olhos de você
I can't take my eyes off you | Não consigo tirar meus olhos de você
I can't take my eyes off you | Não consigo tirar meus olhos de Você
I can't take my eyes off you | Não consigo tirar meus olhos de você
I can't take my eyes off you | Não consigo tirar meus olhos de você
I can't take my eyes... | Não consigo tirar meus olhos...

  Setembro – 2007

   começa a namorar.
   e Morgana terminam.
   ainda me humilha. Eu não ligo mais.
  Britney Spears faz performace catastrófica no VMA cantando Gimme More em trajes minúsculos – como se não fosse comum.

  Junho – 2008

  Eu sempre fui uma das mais quietas, tanto dentro quanto fora da sala de aula, mas o garoto novo fez com que isso mudar um pouco. Ricardo sempre pareceu se interessar pela minha opinião. Aliás, ele precisava da minha opinião pra tudo, de certa forma me sentia útil e até importante. Desde que ele entrou no AE e compartilhamos a aula de culinária, nos tornamos amigos e a coisa foi indo. Até chegar aquele fatídico dia, digo, marcante dia.

  - Sabe como é né . É tão bom ter uma amiga como você. – naquele dia tínhamos saído mais tarde do colégio, então ele se ofereceu para me levar para a casa.
  - É bom ter um amigo como você também. Sabe, às vezes acho que encho a paciência do , toda hora eu saio com ele, não tenho muitos amigos. – respondi sincera.
  - Agora você tem – ele colocou as duas mãos em meus ombros e me colocou na sua frente – tem uma coisa que quero te falar faz muito tempo, mas ia parecer muito estranho, sabe como é. Não sei do tipo de cara que você gosta, mas não interessa, posso ser qualquer tipo de cara que quiser. Não importa – ele falou tudo tão rápido que eu não consegui raciocinar depois do “tenho uma coisa pra te falar”.
  - O que tem para me falar – de certo minhas pernas ficaram bambas.
  - Quer ser minha namorada? – Ok, era extremamente inesperado. Só tinha beijado um cara na minha vida, nunca Ricardo e eu chegamos próximos a um beijo sequer, nem na trave. E ele me pede em namoro?
  - Mas Rick, a gente nunca... – BINGO! Foi ai que começou a experiência mais estranha da minha vida – eu aceito! – não podia negar, eu gostava... Gosto dele.
  - Você tem certeza? Quer dizer, se você não tiver a gente pode ir devagar ou qualquer coisa assim, posso ir ao seu tempo.
  - Eu aceito!

Capítulo. 06

Talvez a Química.

  Bom dia Dallas, faz uma manhã fria com céu nublado e tudo. Não é Nova Iorque, mas não se esqueça do cachecol e casaco. Agora para mais uma manhã fria e apática Brian Adams com Everyting I Do

  Brian Adams? Acordar com essa música é a mesma coisa que... Deixa pra lá. Segunda feira, e eu tenho frio, em Dallas! Levanto-me rapidamente antes que a minha coragem de levantar da cama se dissipe e escolho uma roupa quente para ir ao colégio: uma calça jeans com um casaco grosso e quente. Desço rapidamente e o o café quente e forte que minha mãe fez me despeço e sigo meu caminho para a High School.
  O caminho até o colégio não era muito longo, mas eu não via a hora de ir de carro, meu carro, mas se depender da minha mãe terei que andar muito ainda.

  Toda segunda feira trás consigo o cansaço de um fim de semana todo, talvez tenha sido o motivo meu atraso. Poucas tinham sido às vezes em que atrasei para o colégio, talvez por isso tinham uma imagem de mim sendo sempre a certinha e brilhante aluna. Aquela segunda feira, tinha um toque de diferença, o domingo inteiro tinha chovido trazendo a mudança do clima que agora não estava tão ameno, estava mais frio e por consequência as pessoas estavam entupidas de agasalhos e cachecóis, se fechando num mundo tão particular.
  Cheguei ao colégio e observei aquele pátio vazio e corri o máximo que pude para não perder a primeira aula – que seria de física – mas aquela visão do pátio vazio do vento gelado que batia em seu rosto era torturante, pela primeira vez tive vontade de quebrar as regras e ficar curtindo a solidão ali, no frio.
  De certa forma era aquilo que eu sentia, era como se o meu subconsciente me dissesse que os tempos bons tinham acabado e que viria a tempestade depois o frio da solidão.
  Intrigante.
  O que tinha de tão importante assim para perder? Estava estática, não conseguia dar mais nenhum passo, o vento estava cada vez mais forte e frio me fazendo acordar desse transe.
  Sentia as emoções tão intensas assim como era uma música de rock, que começa serena e de repente se transforma com acordes de guitarra tão intensos. Naquele momento eu poderia descrever qualquer emoção: ódio, amor, devoção, paixão. Não podia me mover e a visão que tinha paralisava-me por completo, seus cabelos dançavam com o vento e uma imensa vontade de chorar e rir ao mesmo tempo se fez presente.

  O monitor vendo-me parada no meio do pátio veio até mim, mas só percebi quando ele se aproximou.
  - Moça, precisa de alguma coisa? – engraçado que em todos esses anos no mesmo colégio ele não conseguiu decorar meu nome. Mas eu não estranhava, eu não me destacava dentre os alunos do AE, talvez eu tivesse boas notas, fosse comportada e nunca tivesse levado uma suspensão, mas eu não era alguém que os monitores guardassem o nome...
  - Não, só me atrasei para aula, mas mesmo assim, obrigada! – segui meu caminho até a biblioteca, pois já tinha me atrasado para a primeira aula.

  Entrei na biblioteca e logo notei que ela não estava tão cheia como de comum, provavelmente pela nova regra de poder chegar atrasado apenas duas vezes no mês - depois da biblioteca estar mais cheia do que as salas na primeira aula, o diretor resolveu ar providencias – os que estavam ali liam livros, outros dormiam e outros simplesmente escutavam músicas. estava lá e fiz o máximo que pude para não chamar a sua atenção. Não consegui.

  - Bom dia – disse com seu sorriso mais encantador. Estranhei esse “bom dia”, mas logo entendi o porquê dele estar falando comigo dentro do AE, seus amigos não estavam por perto.
  - Bom dia – respondi e tentei me virar na tentativa de me sentar numa mesa mais longe possível da dele.
  - Senta aqui – droga, odeio não ter desculpas para dar, eu poderia simplesmente dizer: “Sabe o que é?! Não posso, minha religião não permite eu me aproximar de meninos” , mas eu tinha um namorado. – É chato ficar sozinho e você é uma boa companhia – finalizou com aquele sorriso difícil de resistir.
  - Tudo bem – percebeu o tenso da minha voz, não? Pois estava e notei que ele percebeu, senão não faria questão de aproximar a sua cadeira da minha.
  - Nunca vi você chegar atrasada nas aulas, o que aconteceu? – não era só eu que tentava dar um ar despretensioso nas conversas. Notei um resquício de algo que não pude identificar o que era em sua voz, mas tentava esconder algo. Então quer dizer que até o “rei da selva” tinha algo a esconder de mim? Mas é claro que sim, não somos íntimos para que ele me conte tudo o que se passa em sua cabeça, o que eu não entendi era o porquê esse NESSA pergunta.
  - Não sei, eu simplesmente cheguei atrasada, sabe? Às vezes acontece, quando a gente fica pensando demais nas coisas que podem acontecer, o que está acontecendo, ou quem sabe o que virá a acontecer – sei que pareceu confuso, mas não era a minha intenção na hora, eu queria perguntar algo a ele do tipo “Você está apaixonado por mim?” – acho que foi isso o que aconteceu ou simplesmente porque é segunda feira e eu acordei cansada.
  - Você me confunde , às vezes tenho a sensação que me esconde algo – como o quê? Escondo tantas coisas dele. Como o fato de que aos treze anos de idade eu achar que era apaixonada pelo , ou quem sabe eu não gostar de macarrão, ou eu adorar o jeito atrapalhado do meu meio-não-irmão. Se for pensar eu não escondo, é ele que nunca me perguntou – é diferente, sabe? Nossas conversas superficiais têm algo a mais, só não sei dizer o que é. Somos íntimos, não por você ser amiga da minha irmã, mas pelo que a gente fala – WOW! Prossiga – sei que seremos grandes amigos, não agora, porque acho que você não gosta dos amigos que tenho. Olívia me comentou algo assim – Como assim, ele perguntou de mim para a irmã dele que no caso é minha amiga – mas eu sei que há algo.
  - Não sei o que te dizer – bela resposta, parabéns , tem vezes que realmente me orgulho de você. – acho que posso sentir isso também, mas agora o sinal da segunda aula bateu, não? – tentei sorrir, não consegui, mas ele sim. Ele me deu um sorriso torto e tive a impressão que ele sabia que tinha razão no me dizia. E não, não tinha, não podia ter. Levantei-me da mesa de estudos, acenei para ele e corri para a minha aula de química, aquela que tenho com o meu namorado.

  Por milagre ou sei lá como posso chamar as minhas aulas foram bem rápidas e já estava na hora de eu ir embora, pois eu não tinha cursos extracurriculares na segunda feira. Hoje como em todas as vezes que minha mãe tinha um encontro, eu iria para casa do meu pai. O que eu até gostava, meu pai tinha se casado de novo e tinha tido outra filha – Melissa – e além de ganhar mais uma irmã ganhei um meio-não-irmão, filho da minha madrasta – . E como sempre, toda vez que eu ia pra lá eu esperava ir me levar de carro, já que estudávamos no mesmo colégio. Estava procurando por no pátio quando vejo um afobado:
  - Oi – disse ainda ofegante – que tal ir ver hoje o meu treino de futebol?
  - Não posso – respondi desconfiada – por que o convite inesperado?
  - Não sei – ele não sabe mentir – talvez fosse bom você ver seu amado sei lá. E quem sabe eu não marco um gol pra você? – cínico, ele tinha aquele sorriso que eu odiava.
  - Não, não tenho nada a ver com o e você sabe disso – respondi entre os dentes – Desculpa , mas tenho que ir – para minha salvação apareceu bem na hora, não estava a fim de brigar com meu melhor amigo. Quem ele pensa que é? Tudo bem ele não gostar do Ricardo. Um minuto, será que ele disse algo para o ? Ele não seria capaz.

  O caminho todo para a casa do meu pai eu fiquei calada, o que estranhou , eu devo ter escutado ele perguntar alguma coisa, mas não consegui distinguir o que era então ele logo se calou e só voltou a falar quando chegamos.
  - Chegamos, mas acho que você já deve ter percebido. Ou não, está no mundo da lua – ainda estávamos no seu carro. Sabe o que não entendo? Por que ele tem um carro e eu não?
  - , por que você tem um carro e eu não? – perguntei quando já estávamos fora do SEU carro. Deu pra notar que eu não me conformo?
  - Simples, eu sou mais bonito. – respondeu ele com aquela voz convencida.

   era uma pessoa curiosa, ele não era popular no colégio, ele não era nerd, era inteligente. Não era lindo, mas era bonito. Não era popular, mas tinha a menina que quisesse. Não era canalha, mas era sedutor. Um ano mais velho que eu, e tínhamos gostos bem parecidos, talvez por isso nos dávamos tão bem, exceto quando ele decidia me provocar o que era bem raro de acontecer. alto, com cabelos bem desgrenhados e os olhos expressivos, , mas ao mesmo tempo misteriosos, escondiam algo. Talvez seja esse o motivo para tantas meninas se aproximarem – a gana de conhecer o que há por trás dos olhos de . Esse era meu meio-não irmão. Esse era .

  Entramos na confortável casa num condomínio de luxo. Sim, um pouco diferente da minha casa. Na realidade bem diferente da minha casa. Minha mãe gostava de coisas mais simples, diferente da minha madrasta que era mais sofisticada, o curioso de toda essa história é que minha madrasta e minha mãe eram bem amigas. Por toda a casa havia fotos de toda a família reunida, em ocasiões como Ação de Graças, Natal e aniversários. Era bem legal ter uma família que sempre está reunida, porém em toda a cidade havia comentários maldosos sobre a minha família; diziam que éramos uns amorais “onde já se viu uma família dessas? O pai casa com outra e a mulher aceita e ainda convive com essa família? Pobre dos filhos”. Não acho, afinal eles já eram grandes, meus pais eram separados e amigos, minha madrasta também era separada e madura o suficiente para não ter frescuras. Éramos uma família normal, mas não tão normal assim, confesso que a primeira vista éramos estranhos, e muito barulhentos, mas com o tempo... Não, não nos tornávamos normais com o tempo...
  - , cadê o resto dessa casa? – perguntei enquanto ele estava jogado no sofá da sala. Detalhe: o sofá era branco - e tira o pé do sofá, sua mãe não vai gostar.
  - Certinha, certinha – disse ele em de deboche – foram buscar a Mel no futebol.
  - Hm – desde quando ficava sem camisa na minha presença – acho melhor eu ir fazer alguma coisa para comer então. – é, era melhor.
  - Que nada. – ele levantou e eu? Hã? – daqui a pouco eles chegam, se quiser faço algo para você comer.
  - Não, acho que estou sem fome. – Tosca. Eu preciso do , eu preciso do . SOS.
  - Você está bem ? – ele perguntou colocando a mão na minha testa. – você está estranha. Ok, mais estranha que o normal. – riu.
  - Estou bem, eu acho. Preciso estudar química, sabe como é, sou ruim em química. – É, posso me trancar no meu quarto até essa loucura passar. Será que são os hormônios? Ricardo, e . Definitivamente são os hormônios.
  - Eu te ajudo, sou bom em química. – Oh! Derrota, não posso nem usar uma desculpa convincente que não funciona.
  - Ok, só ponha uma camisa, por favor. – sinto que minha voz saiu trêmula.
  - Sabia que você não resistia a mim – convencido, precisava dar uma piscada no fim da frase? Não me contive e tive que dar risada. É aquele surto louco passou, não é tão atraente. É meu meio-não-irmão.

Capítulo. 07

Se você fosse um filme

  Terça feira à noite assistindo Charmed na televisão é realmente deprimente? diria que sim, mas é realmente bom esse seriado, as irmãs bruxas que tem de conciliar todo esse negocio de bruxaria com a vida normal. Ok pode parecer deprimente, mas é uma depressão do bem. Afinal quem nunca quis ser um desses seres místicos? Confesso que sempre quis ser uma fada, não por causa do mundo cor-de-rosa e sim porque sempre gostei mais da Sininho do que da Wendy, a Wendy sempre foi fresca, já a sininho uma fada rebelde e fora dos padrões das fadas se é que elas têm regras. Tudo isso pra dizer: eu terminei com o Ricardo.

Terça- Feira, dia de uma chuva fraca, 13h00min, hora do almoço

  O refeitório estava como sempre: dividido pelas castas escolares. com suas seguidoras, os jogadores de futebol juntos na mesma mesa, os diferentes juntos e eu e o resto do colégio – lê-se normais misturados tal qual uma anarquia, não tínhamos regras definidas, mas acho que isso já citei.

  - Oi amor – Ricardo como toda vez se aproximou para me esperar para sentarmos juntos e com mais alguns de seus amigos.
  - Oi – respondi indiferente.
  - Estamos te esperando na mesa do lado de fora, tudo bem? – disse – A propósito gostou do meu novo penteado? – Às vezes eu tinha a sensação de que meu namorado era a... . Tão preocupado com a sua aparência física, na verdade aquilo sempre me irritou um pouco. Ricardo nunca tinha sido seguro se si, ele só se preocupava em ser perfeito pra mim, e talvez ele não percebesse que toda essa sua insegurança era o que mais me irritava nele.
  - Sim, está ótimo. – finalizei antes de pegar o meu almoço e seguir em frente. No refeitório do colégio não tinha nada muito comestível, uma gosma verde e alguns tacos amanhecidos, meu estomago revirou só de pensar em ingerir algo assim, eu sempre me esquecia de trazer algo de casa e passava fome depois, legal.

  Segui até o lado de fora onde Ricardo e seus amigos conversavam, ao menos tinha Olívia para ter alguma conversa mais interessante. Já que o único papo era como as meninas gostavam de boysband idiotas e não rock inglês, posso até concordar, mas não é o assunto que mais gosto de discutir e parece que Olívia concorda comigo.

  - Chega desse assunto, cada um gosta da música que quiser – pontuou Olívia – no fim tudo é a mesma droga, todo mundo faz música para vender.
  - Eu concordo – eu disse – já cansou esse assunto.
  - Tudo bem amor – respondeu Ricardo e os outros meninos que lá estavam começaram a falar do campeonato de futebol americano – NFL que ia começar e a chances do Dallas Cowboys ganhar o Super Bowl.
  Sentia-me tão deslocada ali, não por Olívia, não pelos meninos, mas por estar com Ricardo. Sentia-me descolada pelo papel que eu representava – namorada de alguém. Eu sequer uma vez disse que amava Ricardo. Nosso relacionamento era principalmente baseado nele e em seus gostos.
   e eu parecíamos mais namorados do que Ricardo&. Nas festas – que eu não ia – éramos considerados uma pessoa só, nas aulas, nos eventos e isso tudo era demais, eu não queria ser reconhecida como a namorada de Ricardo, na verdade eu sequer gostava de ser reconhecida por qualquer coisa que não envolvessem minhas notas ou inteligência, me incomodava. E Ricardo apesar de nunca ter sido popular, era bonito. Algumas meninas até consideravam um desperdício ele namorar comigo.
  - você está bem? – Olívia perguntou-me preocupada, na verdade até eu estava preocupada comigo mesma.
  - Estou sim. – respondi sem muita certeza.

  A hora do almoço passou sem maiores acontecimentos, mas eu já tinha minha decisão tomada: eu terminaria com Ricardo no fim das aulas. Tivemos aulas juntos – química no laboratório e tentei começar a dar alguns indícios, mas creio que ele nem percebeu, pois estava mais preocupado em fazer fórmulas loucas que faziam o líquido rosa de dentro do tubo de ensaio borbulhar e esparramar por todo o balcão.
  O momento esperado – ao menos por mim – tinha chegado eu diria agora.

  - Rick, eu preciso falar com você. – vi ele se despedindo de alguns amigos enquanto caminhávamos para um banco afastado da entrada principal.
  - O que aconteceu, amor? Você está com uma cara preocupada, foi algo que fiz? – seu rosto estava angustiado, seus olhos mais do que nunca. Eu não conseguiria.
  - Você acha que estamos dando certo Ricardo? Quer dizer, somos tão diferentes. Não sei se me encaixo no seu mundo – tentei não olhar para aqueles olhos, mas foi inevitável não perceber o como eles se arregalavam mais a cada palavra que de minha saia.
  - O que aconteceu? Se você acha que nosso relacionamento não está funcionando eu posso mudar e... – esse era o problema do Ricardo, ele sempre mudava para me agradar, eu nunca soube quem ele era de verdade.
  - Não adianta – levantei-me do banco – desde o começo isso está muito estranho, acho melhor a gente dar um tempo. – Covarde, dar um tempo é a mesma coisa que dizer “quero terminar com você, mas sou covarde o suficiente para te dizer isso, então vamos dar um tempo”.
  - Não – ele disse convicto – se você acha que não sou bom o suficiente pra você, é melhor terminarmos. – dito isso ele saiu e me deixou ali sozinha. Assim, sem discutirmos, sem ele gritar comigo e me chamar de piranha. Sem dramas, apenas um olhar incrédulo. O tinha perdido assim, em três minutos ou menos de conversa eu tinha perdido Ricardo. Algumas lágrimas teimaram em cair e foi inevitável que depois dessas teimosas lágrimas eu desabasse no choro, bem ali, no colégio. Eu estava sendo incoerente, eu que tinha terminado com Ricardo e não o contrário, mas aquilo de certa forma me afetava MUITO, eu não estava acostumada a magoar alguém. Sai correndo antes que alguém me visse chorando, mas esbarrei com ele, .

  Tentei me esquivar, mas ele me seguiu, sua voz soava preocupada, porém eu estava preocupada demais com Ricardo para lhe dar atenção. Será que eu estava realmente certa, será que terminar com Ricardo tinha sido a melhor coisa? Não sei, acho que nunca saberei. De uma coisa eu tinha certeza eu não o amava e ele merecia alguém que o amasse. De verdade creio que nem ele me amava como dizia amar, era mais costume.

  - Você está bem? – ele me alcançou, colocou as mãos nos meus ombros e me virou para ele.
  - Vou ficar, não se preocupe. – limpei minhas lágrimas nas mangas do meu casaco. Eu estava em um estado deplorável.
  - Sabe de uma coisa? Vendo minha irmã chorar por vários garotos eu aprendi que quando uma dor é real, a gente não se preocupa com lenço, limpamos as lágrimas nas mangas mesmo, quando a dor é real não nos importamos com detalhes tão bobos. E sua dor é de verdade. – Olhei em seus olhos e comecei a ficar mais calma, não sei como, mas seus olhos me acalmavam, suas mãos massageavam meus ombros e eu chorei. Chorei como nunca antes e ele me abraçou.
  - Desculpa – me afastei rapidamente limpando as lágrimas que ainda teimavam em cair. Nem eu sei o motivo para tanto choro, mas quando eu estava perto dele às emoções eram tão mais intensas. – é melhor eu ir pra casa.
  - Eu te levo – ele se ofereceu pegando a minha mochila que estava caída no chão – você já sabe onde moro, nada mais justo do que eu saber também, não? – deu aquele sorriso de canto de lábios que eu tanto amava. Fomos caminhando lentamente e vez ou outra soltava alguma piada a fim de me animar, ele conseguiu.

  Eis que cheguei sã e salva em casa e comecei a assistir Charmed sem me sentir deprimida. já me ligou centenas de vezes e não atendi uma sequer, não queria conversar com ninguém, estava tudo tão confuso na minha cabeça, as coisas estavam mais bagunçadas do que o quarto do . Se alguém me perguntasse qual meu filme preferido naquele momento eu responderia: Amor e outros desastres.

  - Por que você não atende as minhas ligações. O que aconteceu? A Olívia me ligou em crise porque você saiu do colégio em lágrimas, você tem noção de como eu fiquei garota? Liguei pro , pro Ricardo... até descobrir que vocês tinham terminado – entra em êxtase no meu quarto e desaba mil palavras em cima de mim sem dar tempo para que eu possa digeri-las. – , me responde. Você está bem? Por que saiu chorando? O que aquele idiota te fez?
  - Deita comigo e assiste o final de Charmed esse episódio é muito bom. – foi o que fez, deitou-se ao meu lado e puxou a coberta pra ele, era isso que eu mais admirava nele. Ele simplesmente sabia quando era e quando não era o momento dele não falar nada.
  - Eu já disse que você é louca, não disse? – disse sorrindo e eu acenei que sim com a cabeça – pois você é, mas eu te amo. – beijou o topo da minha cabeça e terminamos de ver a saga das bruxas irmãs.
  Não faltava mais de quinze minutos para o episódio terminar, era o último bloco. Então quando o episódio terminou comecei a falar:
  - Eu não amava o Ricardo, mas eu não esperava que algum dia a gente fosse terminar, costume, sabe? – enquanto os créditos apareciam na tela eu fui proferindo palavras sem nem olhar para .
  - Eu sempre soube que você ia terminar com ele. Ele é como se fosse aquela vontade louca de ar chá e você, , você é champanhe. – concluiu enquanto mudava minha televisão de canal.
  - E você é o que? Leite com achocolatado? – respondi enquanto ria da cara de pateta que fez.
  - Olha como você me trata, garota. – disse – vim porque estava preocupado com você. – eu adorava o som daquela risada.
  - Obrigada, eu já estou melhor. – disse – eu te amo.
  - Eu te amo. – respondeu e trocou mais uma vez de canal parando na MTV.
  Engraçado, aquele tinha tudo pra ser o pior dia do meu ano, mas não tinha sido. Levando em consideração meu termino com Ricardo era pra ser, mas perceber que eu tinha , meu melhor amigo sempre ali ao meu lado, era bom demais. Terminar o dia com ele deitado ao meu lado e me dando conselhos de psicologia barata era o que eu realmente queria para minha vida. Naquele momento eu descobri que era a minha pessoa, a pessoa que eu ligaria três horas da manhã em um dia de crise.

Capítulo. 08

ELA

  Pela primeira vez eu tinha ido assistir o treino do time de futebol. me convidou afirmando que faria um gol pra mim no treino. Estava sentada na arquibancada enquanto o treinador Pablo, um mexicano naturalizado americano explicava algumas estratégias de jogo. Enquanto fingia prestar atenção reparei em algumas de suas feições, ele ficava extremamente lindo quando estreitava o olho por causa do sol ou quando ficava impaciente e batia o pé na grama três vezes. Quando me viu sentada na arquibancada acenou e sorriu e eu devolvi o sorriso.

  - O que faz aqui? – sentou-se ao meu lado e me perguntou com uma voz cansada. Estranhei.
  - O me convidou para assistir e se for começar com gracinhas, nem começa , não estou bem pra isso hoje. – conclui enquanto via o time se posicionar para começar um jogo treino. era zagueiro e atacante. Ou seja, era bem improvável que fizesse um gol para mim, ao menos um gol que não fosse contra.
  - Não comecei com gracinha alguma, só fiz uma pergunta. – respondeu e ficou trinta minutos quieta ao meu lado. Aquela não era a que eu conheci minha vida toda, ela estava mais quieta que o normal e não estava me provocando. Estranho. Nem um comentário durante o treino, nada. Parecia que tinham arrancado a língua dela, e me incomodava. Me incomodava mais do que quando ela me provocava ou algo assim, porque com a provocadora eu sabia lidar, e ela quieta ao meu lado era muito mais assustadora.
  - Veio ver o , seu namorado? – eu tinha que saber, não sei porque, mas eu precisava saber se eles estavam juntos. Tenho que confessar que esteticamente eles eram bonitos juntos.
  - não é meu namorado e nem pretensão de ser. – respondeu e continuou quieta. Se não era quem que ela foi ver?

  O treino terminou e veio e sentou-se ao meu lado todo suado, estendi uma toalha e ele se enxugou e olhou sentada ao meu lado, com certeza estranhou.
  - Não foi dessa vez que fiz um gol pra você – comentou – vai ter que vir em outros treinos até eu fazer. – sorriu.
  - Quem sabe , quem sabe? – pegou a bolsa e saiu de lá furiosa. Louca.
  - Essa menina não bate bem da cabeça, não é? – comentou – vou ar banho e já volto para irmos embora.
  - Na verdade hoje não vai dar, tenho que ir até a casa do explicar física. – respondi desviando o olhar.
  - Ah! Claro, o . – saiu de lá com um sorriso cínico e eu sabia o que aquilo significava.

  Fiquei mais alguns minutos esperando na arquibancada, até que vejo sair do vestiário já de banho tomado, imaginei, pois seus cabelos estavam molhados. Ele caminhou até mim e tive certeza, pois o perfume era inebriante. Sentou ao meu lado e ficou alguns segundos em silencio só apreciando o campo de futebol vazio, também não disse nada, eu estava olhando pra ele de canto de olho e esperava sinceramente que ele não tivesse percebido.
  - Temos aula hoje, não? – se virou pra mim, mas deu tempo de eu me recompor e fingir prestar atenção num ponto fixo distante.
  - Acho que sim, se estiver preparado pra isso, vou pegar pesado. – tentei sorrir, mas foi bem mais fácil quando ele deu a risada irônica dele.
  - Você não consegue pegar pesado comigo, . – dito isso ele levantou e me ajudou a levantar da arquibancada. Engraçado como nenhum dos outros jogadores tinha saído do vestiário ainda.
  - Por que nenhum dos outros meninos saiu? Tem certeza que ou banho? – acho que eu já tinha dito pra mim mesma pensar antes de falar alguma coisa. Ele levantou a sobrancelha antes de rir da minha pergunta, para não ficar com mais cara de idiota ri como se fosse a minha piada mais engraçada.
  - Tenho certeza, eles são lerdos mesmo. Sem contar que fugi da explicação do treinador, mas isso não conta. Vem, vamos. – me puxou pelas mãos e fomos até a saída do colégio e seguimos em direção à sua casa.
  Em boa parte do trajeto fomos em silêncio, mas não me incomodava já que eu estava presa em alguns pensamentos e tinha certeza que se ele perguntasse qualquer coisa eu ia desabar palavras em cima dele.
  - Então, o que vamos estudar hoje? – ele me perguntou com a voz cansada, acho que foi por causa do cansativo treino.
  - Hoje preparei um jogo de perguntas, de física, é claro. É cansativo ficar só nos textos e exercícios do livro. – sorri ao ver um sorriso brotando em seu rosto.
  - Você leu meus pensamentos, já não aguentava mais aqueles textos – sorriu – então vai ser um jogo de perguntas? Gostei da ideia. Podemos começar agora. – sugeriu.
  - Acho melhor não, os cartões que fiz de perguntas da matéria estão na minha mochila. – lembrei que estavam de fato na minha mochila, mas não gostava da ideia de responder as perguntas dele, pois tinha a sensação que não eram perguntas relacionadas à matéria.
  - Não precisa ser de física – o que eu mais temia estava prestes a acontecer – eu começo. Se não quiser responder, não precisa – isso, eu decidi: não vou responder. – por que estava chorando ontem?
  - Ah... Talvez perguntas pessoais não estejam no trato – me esquivei e por sorte já tínhamos chegado em sua casa. Passamos por sua mãe a cumprimentamos e fomos até seu quarto. Tirei os cartões da minha mochila enquanto ele sentava na escrivaninha perto da janela. Notei que tinha mais pôsteres dos Smiths do que da ultima vez que estive aqui.
  - Preparado? – sentei-me ao seu lado e pude perceber que estávamos mais próximos do que em qualquer outra aula anterior. – Bom, vamos começar com uma fácil: Qual a velocidade do deslocamento da luz? – olhei em seus olhos e percebi que talvez a pergunta não fosse tão fácil como imaginei que seria.
  - Não é fácil essa, você é malvada – riu – vou mudar as regras do jogo – ele não muda sempre? – se eu acertar a resposta tenho o direito a fazer uma pergunta sobre qualquer assunto, certo?
  - Certo, mas acerte as respostas – porque esses olhos e essa voz precisavam ser tão hipnotizantes?
  - A luz desloca-se em uma velocidade de cerca de 300 quilômetros por segundo. – Droga, ele acertou. Eu tinha a esperança que ele errasse essa. A cara dele era de dúvida. – Você já ficou com o ? – Wow, não imaginei que seria uma pergunta tão...
  - Uma vez – fui direta, porém percebi que seus olhos se arregalaram aos poucos – minha vez: Se a superfície de reflexão for plana, então o espelho será... – eu deveria ter feito perguntas mais difíceis, quem sabe com fórmulas estranhas.
  - Fácil essa – ele piscou pra mim – se a superfície de reflexão é plana, o espelho também será plano. – olhei para a janela que estava em nossa frente, o sol já estava se pondo e o céu estava com uma cor alaranjada, eu sabia que ele ia perguntar algo relacionado ao . – Você gosta do ? Quer dizer vocês já ficaram juntos.
  - Meu primeiro beijo foi com o , mas não, não gosto dele. É meu melhor amigo e isso me basta, quer dizer, somos bons sendo amigos. – conclui e já não aguentava mais as perguntas sobre física, ele estava gostando desse jogo, pois ele sabia mais de mim e eu cada vez menos dele. – E você já ficou com a ?
  - Nada disso mocinha – ele sorriu – suas perguntas são só sobre física, você quis assim, lembra? – ele tinha que me jogar contra mim, eu queria saber sobre a , eu queria saber qualquer coisa dele, mas eu só sabia que ele gostava de basquete, rock inglês e futebol, é claro.
  - Não gostei, mas enfim, continuemos: Explique um pouco mais sobre a velocidade da luz – ele começou a explicar e me senti orgulhosa. Um orgulho tão real, porque meu tempo livre estava servindo para alguma coisa, ele estava aprendendo.
  -... A velocidade da luz é a mesma para qualquer observador – ele dizia enquanto eu observava os cartões de resposta – isso foi proposto por Einstein que é a Teoria da Relatividade. – Droga, porque estávamos tão perto e porque seus olhos estavam tão ? – agora é minha vez, porque estava chorando ontem?
  - Não combinamos de fazer perguntas tão pessoais – enrolei as pontas dos meus cabelos, afinal eu não pretendia responder essa pergunta.
  - Eu acho que você deveria relaxar – não, porque os cartões não estão mais em minhas mãos e porque sinto sua voz tão perto da minha nuca – você nunca responde as minhas perguntas, ao menos as que quero saber. – eu tinha que parar de tremer e fechar os olhos toda vez que ele sussurrava coisas sem sentido no meu ouvido.
  - Eu terminei com o Ricardo – fraca. Mil vezes fraca. Eu não podia ceder cada vez que ele fazia isso comigo e eu não podia tremer cada vez que ele chegava tão perto.
  - Acho que cansei desse negócio de perguntas – sussurrou – acho que poderíamos fazer algo mais interessante. – sugeriu. Aquilo era uma indireta ou era impressão minha.
  - Tipo o quê? Você quer conversar sobre alguma coisa? – não me recrimine. Eu preciso ter certeza que ele quer tanto quanto eu quero. Afinal, eu quero?
  - Na verdade eu não quero conversar – ok, eu confesso que me arrepiei quando ele começou a brincar com os cachos das pontas dos meus cabelos.
  - Então não sei o que quer – confesso que eu queria que ele dissesse: “ eu quero te beijar.”
  - Que pena. – quando ele estava a menos de cinco centímetros da minha boca o vi se afastar e me senti a mais burra das mortais. Mas me responde, que tipo de ser humano é o ? Ele me tortura com voz rouca e sussurros, sem contar os arrepios e NADA.

  Não tenho dom para ser a mais sedutora das mulheres, mas bem que eu queria para poder falar que eu sabia muito bem o que ele queria, e que talvez eu quisesse também, mas não, reamos o nosso estudo sem mais nenhuma insinuação de sua parte e aquilo estava me matando. Como se pode estar tão perto e tão longe ao mesmo tempo do que se quer? Mas, o que sempre importou foi a física, não? Ele nunca me cumprimentou na frente dos amigos dele, só fala comigo quando ninguém está por perto. Custo a acreditar que se no dia que eu estava chorando se aparecesse o ou qualquer um de seus amigos ele viria correndo atrás de mim. Quer saber? Foi bom não termos nos beijado. Quer saber? Foi até melhor.

  - Cansei – fechei os livros. – acho que vou para minha casa. – coloquei todas as minhas canetas no meu estojo, mas mesmo assim pude perceber seu olhar em cima de mim.
  - Eu te levo, já está um pouco tarde. – ele se ofereceu.
  - Não precisa , eu sei andar muito bem sozinha, não se preocupe – minha voz saiu rude. Eu estava brava e sequer sabia o motivo, só sabia que era com ele.
  - Eu te fiz alguma coisa ? – sua voz estava doce e isso me irritava cada vez mais, estava a ponto de explodir.
  - Quer saber ? Você não fez nada, a culpa é toda minha. – terminei de recolher minhas coisas e fui em direção à porta. Dessa vez ele não correu atrás de mim e fiquei com mais raiva ainda. Sentia algumas lágrimas caírem, mas não as deixei. Eu não podia chorar. Caminhei o mais rápido possível até a minha casa, eu só precisava da minha cama.

  Dormi, dormi de roupa e tudo. Mal vi o jeito que dormi, parecia ter morrido e ressuscitado no dia seguinte. Sentia-me cansada, ei um banho e olhei no relógio, era a segunda vez só naquele mês que eu chegava atrasada no colégio. Não ei café, não daria tempo. Sai correndo de casa e andei o mais rápido que pude.
  Na entrada do AE estava uma confusão só, um grupo de alunos em volta de outras duas. Notei que uma das alunas era e a outra eu não conhecia, de certo era aluna nova. Aproximei-me do grupo de alunos e entendi o que tinha acontecido, a aluna nova tinha derrubado suco de uva no casaco branco de .

  - Hei garota, não olha por onde anda? – perguntou resmungando...
  - Oh! Meu Deus me desculpe – A garota entra em desespero e tenta em vão limpar a blusa branca de .
  - Depois da burrada que fez é fácil pedir desculpas – seus olhos claros estavam furiosos e sua voz dava medo. Eu teria medo de falar qualquer coisa para naquele estado.

  Era tudo o que a garota nova precisava, no seu primeiro dia já havia arranjado confusão com a garota mais popular do colégio. Todos os alunos a cercavam, parecia um tribunal, todo mundo esperava que a garota nova dissesse algo e todo mundo esperava que a humilhasse, não aconteceu. apareceu e tirou de lá, em meio a gritos da mesma é lógico.

  - Escuta aqui garota... – era segurada pelos braços fortes de – isso não vai ficar assim.
  - Garanto que ela não fez de propósito, não é... – ficou a espera de um nome e a aluna nova toda sorridente respondeu.
  - Fox – seu sorriso rasgava sua boca de fora a fora – meu nome é Fox.
  - É uma raposa¹ mesmo – tentava acalmar , mas aquilo parecia não funcionar, então tirou a garota de lá a força. As coisas aos poucos voltavam ao normal, os alunos começaram a se dissipar, mas não sem antes examinar bem a nova a aluna. Em menos de dez minutos ela já era conhecida por todo o colégio, “a menina que tirou do sério”. Tenho certeza que ela desejaria ser um avestruz nessa hora se enterrar na terra.


  Fox = em inglês significa raposa.

Capítulo. 09

Formação de Imagens

  O uso do espelho é possível como consequência da formação de uma imagem, por exemplo, através do espelho. O processo de formação da imagem tem a ver com a reflexão.

  Reflexão essa que pode ter dois sentidos.
  Refletir imagens
  Refletir, pensar, raciocinar.

  Era engraçado pensar nessa frase desse jeito. “O uso do espelho (aquilo que te reflete, pode ser ‘os outros’) é possível como consequência da formação de imagem (aquilo que é refletido, ou seja, o que as pessoas pensam de você), por exemplo, através do espelho”. O processo de formação de imagem tem a ver com a reflexão (o que as pessoas pensam que pensam de você).

  Fui até a menina nova – Fox – me aproximei dela, o que àquela altura do dia era quase um suicídio social, já que se ela era odiada pela garota mais popular do colégio, consequentemente seus seguidores a odiariam também, mas eu não ligava muito pra isso.

  - Olá, meu nome é , não liga para esses olhares não. Eles não mordem, eu garanto – a cumprimentei com um sorriso, mas ela parecia não se abalar.
  - Oi, desculpa, mas não estou muito para conversas. Sabe como é, meu primeiro dia não foi como imaginei. – não mesmo, pensei.
  - Ela só grita, não morde. – aos poucos seu sorriso foi se abrindo. – vem, vou te ajudar a encontrar sua sala.
  - Obrigada, minha primeira aula é de espanhol. – ela disse olhando o horário que tinha em mãos, a ajudei chegar à sala e fui até a minha primeira aula – geografia – a única que tinha com .

  Entrei na sala e senti alguns olhares em minha direção, com certeza foi por eu ter ajudado a Fox, caso contrario nem notariam a minha presença como acontece todos os dias. O professor Mr. Fuller entrou na sala com um imenso Mapa Mundi e uma porção de livros de geografia, isso tinha cara de mais um dos trabalhos esquisitos que ele passava.

  - Bom dia classe, hoje vamos fazer diferente. – eu não disse? Ele sempre tem ideias diferentes. Uma vez ele deu um trabalho que tínhamos que aprender japonês, obviamente não conseguimos, até que descobrimos que ele também não sabia falar japonês. A apresentação do trabalho foi uma perfeita embromação. – vou dividir vocês em duplas e quero que escolham um país e façam uma pequena redação explicando: economia, política, infraestrutura, religião, cultura.

  Mr. Fuller começou a dividir a sala em duplas. Era até engraçado, porque durante a aula de geografia ninguém se falava, não era uma turma tão unida, em função de ser a mais heterogênea das aulas. Não havia muitos populares, assim como não havia muitos, nerds, rockers, clubers e etc... Era uma aula heterogênea, tudo misturado numa aula só. Então qualquer divisão que ele fizesse ia ser diferente.

  - Senhorita com o senhor . – ? Eu. ? .

  Inglaterra? México? Brasil? Chile? Bulgária? China? Não, o decidiu escolher a Índia como país. Já disse o quanto é complicado? Talvez não pra ele, mas não sei nada sobre a Índia além de que as vacas são sagradas e que o McDonald’s de lá é diferente por isso.

  - Taj Mahal. – ele disse – Não conhece uma das mais belas histórias de amor? – “Não, não conheço”.
  - Não – me limitei a dizer isso, ainda estava brava com ele. Eu precisava falar com o . Ele com aquela psicologia barata ia me explicar o motivo de tanta raiva.
  - Eu te fiz alguma coisa ? – aqueles olhos estavam brilhantes, diferente da primeira vez que os vi de perto, agora eles tinham vida.
  - Não, não fez . – peguei um dos livros de consulta e comecei a procurar algo sobre a Índia, não por achar um país extremamente fabuloso, mas eu queria fugir daqueles olhos.
  - Então foi algo que não fiz? – droga. Eu tenho repetido muito essa palavra “droga”, mesmo que em pensamento, mas porque o sorriso dele se alargou com essa pergunta, será que ele acha que estou brava porque ele não...
  - Não, não estou brava porque você não me beijou. – Tudo bem, não criemos pânico, talvez ele não tenha ouvido, talvez eu não tenha dito isso e talvez o céu seja rosa púrpura.
  - Ah! Que bom pra nós, não? – seu sorriso aumentou ainda mais e tive a sensação que ele estava gostando disso – afinal, vamos ter que trabalhar juntos, não é? E ainda tenho algumas aulas de física com você, não quero que minha professora fique com raiva de mim porque não a beijei. – ELE ESCUTOU. Tenho que aprender a ficar calada. Quero ser um avestruz.
  - Que tal a gente começar? Não sei muito sobre a Índia e não quero perder tempo com isso.

  Durante toda a aula não conversamos além do que estava planejado – geografia mais precisamente sobre a economia da Índia. Sabia que o Big Mac é feito de carne de carneiro – na Índia é claro. E, além disso, os indianos não aceitam dinheiro com a nota rasgada. Vivendo e aprendendo. Fiz todos esses comentários tentando ocultar a parte que praticamente sai correndo da aula de geografia, tudo bem, não sou mal educada, dei um “tchau” para o antes, mas sai correndo. Covarde. Eu precisava do e seus conselhos.

  Depois de mais algumas horas de aulas extremamente cansativas, eu tentava ouvir o que as pessoas diziam, mas eu não conseguia assimilar e entender as palavras. Uma sensação ruim começou a ar conta do meu corpo era como se eu tivesse sido acometida por um vulcão de sensações e emoções, boas e ruins. Era hora do almoço e eu precisava falar com o , eu sabia que ele sempre almoçava com o time de futebol e ir até aquela mesa estava fora de questão, ir até a mesa de estava fora de questão. Então procurei , ele era meu melhor amigo depois de , ele era meu melhor confidente.

  - Eu preciso falar com você. – disparei assim que o vi em uma mesa qualquer conversando com seus amigos quaisquer. Pude perceber que uma menina com mexas verdes no cabelo não gostou, mas eu não liguei.
  - Claro – me olhou preocupado – até mais pessoal – se despediu de seus amigos excêntricos e me seguiu até um lugar calmo nos jardins do AE.
  - O que aconteceu drama Queen? – me perguntava docemente apesar da piada que não deu certo.
  - Estou com raiva do e não sei por quê. Não sei se é porque ele não me beijou ou se é por eu não ter tido coragem de fazer isso. Estou ficando louca? – desabei informações em cima dele que simplesmente se ateve a arregalar os olhos.
  - É, acho que está ficando louca – comentou – o que o tem a ver com você? E porque vocês deveriam se beijar? – Tive que explicar tudo para em menos de vinte minutos já que não temos mais que uma hora para almoçar antes das aulas extracurriculares. Expliquei desde o pedido para estudar na aula de geografia até a aula de ontem.
  - Não sou tão bom quanto o para dar conselhos, mas... – fez aquelas pausas dramáticas que sabe que eu não gosto quando estou muito ansiosa, era o caso. – eu acho que você quer ficar, namorar, sei lá com o . Esse mesmo, o capitão do time de futebol. – disse simplesmente e começou a brincar com meus cabelos, mas ainda pude notar o mesmo sorriso que dava quando falava de , eles sabiam alguma coisa que eu não sabia.
  - Não era bem isso que eu queria ouvir – suspirei. Na realidade eu não queria era admitir isso. Eu apaixonada pelo , não podia ser. Uma vez eu ouvi, acho que do que uma paixão só começa a se formar e a se intensificar quando a gente abre o jogo, quando é uma paixão escondida, uma paixão não admitida aquilo não é tão forte, mas se você admite isso pra si ou para os outros aquilo começa a crescer. Eu estava apaixonada pelo . – Estou apaixonada pelo . – sussurrei essa frase, mas percebi que escutou, mas esse pensamento foi cortado, pois ouvimos passos se afastarem. Alguém tinha escutado. me olhou com uma expressão de medo e eu compartilhava disso.
  - Ninguém escutou, relaxa. – ele tentava me acalmar em vão. – vem, vamos voltar para o refeitório. – SOCORRO, ninguém pode ter escutado isso. Espero que tenha sido apenas fruto da minha fértil e louca imaginação.

  E se alguém escutou? Quem será que escutou? Se bem que pode ser que ninguém tenha escutado, afinal porque seria interessante alguém escutar a conversa em que eu dizia que estava apaixonada pelo ? O que a pessoa ganharia sabendo disso? Não mudaria nada no mundo. Ai que droga! Não consigo me convencer eu quero chorar e sumir daqui. Ok chega se quem escutou contar pro colégio inteiro é simples, eu vou negar e ainda processo por calúnia e difamação, mas será que o não ia se sentir um lixo? Eu me sentiria não digna de uma paixão e o é digno de paixões, caso o contrario uma loira não estaria em seu pescoço quando eu entrei no refeitório.

  - Respira fundo – disse – ele não sabe que você é apaixonada por ele – Já disse que é difícil dizer ou ouvir sobre minha paixão por ?
  - Eu nem ligo – desdenhei – ele pode ficar com quem ele quiser – nesse momento Fox se aproximou e fez menção de falar alguma coisa, mas foi mais rápido.
  - Você é a garota que tirou a do sério, não é? – coitada, ela nunca vai ser esquecida, pelo menos não até o próximo escândalo – Meus parabéns.
  - Acho que ninguém nunca vai esquece isso, vai? – a garota sorriu conformada e negou com a cabeça – pelo menos já sabem quem sou, não sou invisível nesse colégio.
  - Às vezes é bom ser invisível do AE, vá por mim! – me deu um beijo na bochecha se despediu de Fox com um aceno e foi até seu grupo de amigos.
  - É seu namorado? – Fox perguntou enquanto reparava nas costas largas e definidas de . Era impressão minha ou essa menina já tinha reparado demais nos garotos do AE?
  - Não, ele é filho da minha madrasta. – O sinal tocou, que ótimo. Eu teria minha aula de teatro, é eu precisava de pontos extras.

Capítulo. 10

Jantar

  Já haviam passado três semanas, estávamos quase no final de Novembro de 2008 e eu não tinha conseguido contar ao a minha paixão por que a cada momento aumentava mais, apesar de não saber se era recíproco. O único que sabia de toda essa parafernália sentimental era o , desencanei de achar que alguém tinha ouvido, porque se pensarmos em Albert Einstein High School as fofocas voam, então concluo que ninguém escutou senão até o Sr. Francisco – dono da oficina saberia. Dessas três semanas para cá Fox almoçava comigo e com Olívia, que parecia não gostar muito da história. Falando em Fox era engraçado como os meus melhores amigos não gostavam dela – , e Olívia e posso dizer que até minha mãe não gostava dela, o que era um fato realmente estranho, mas como Fox nunca tinha feito nada contra mim, eu não ligava, pra falar a verdade era muito bom ter uma amiga mulher. Gostava de Olívia, mas ela sempre estava ligada à causas sociais como “salvar os Acarás de água doce”.

  - Sabe quem vai vir jantar hoje aqui em casa – comentou – parece que eles vão ser os novos sócios do papai – meu pai trabalhava com hotéis, na realidade ele tinha um na cidade e alguns outros no resto do país. Era bom, porque toda vez que queríamos ir para praia tínhamos um lugar para ficar, apesar de raras às vezes.

  Continuei assistindo Bob Esponja com Melissa, mas logo a voz irritante do Bob começou a me irritar e fui para o meu quarto. Joguei-me debaixo do cobertor e comecei assistir Charmed e lembrei-me de . Ainda afundada nos cobertores liguei para o meu amigo, enquanto uma cena qualquer passava na TV ouvi atender o telefone...

  - deixa de ser chato, porque não vem jantar aqui na casa do meu pai hoje à noite? – estava a mais de meia hora no telefone tentando convencer .
  - Não estou a fim , aproveita o jantar com o e pronto. – esbravejou pela quinta vez que não viria.
  - Eu preciso de você, será que não entende? – supliquei.
  - Entendo que você precisa crescer, porque não consegue admitir pra mim que está apaixonada por ele? – suspirou.
  - Como você sabe? – minhas pernas começaram a tremer e se eu não tivesse deitada com certeza eu cairia.
  - Eu sempre soube – ele bufou – dá para pelo menos uma vez na vida você encarar isso de frente? Eu sei que era mais fácil namorar o “morto” do Ricardo, mas tenta ao menos uma vez parar de reclamar e ir em frente.
  - Você tem certeza que você me disse isso? – algumas estúpidas lágrimas começaram a cair – porque você sabe que me magoa falando assim.
  - Desculpa , não queria isso, mas encara ok? Eu te amo, não esquece isso. Fala pro o que você sente. Beijos – e desligou, ele me deixou.

  Decidi ficar brava com o depois, afinal a minha madrasta tinha pedido ajuda com o jantar, apesar de ainda serem onze horas da manhã. De fato cozinhar nos desestressa e relaxa, em meio a ovos e muitos litros de leite fiquei escutando as histórias interessantes da minha madrasta, que por sinal chama-se Florida. Ela conta que o nome foi escolhido pelo seu pai, pois lá conheceu sua mãe que acabou morrendo no parto, então ele decidiu escolher o nome do estado em que ele foi mais feliz.

  - , acho melhor você ir ar banho, não vai dar tempo de você se arrumar. – Não tinha reparado na hora, eram quase seis da tarde e o jantar estava marcado para as oito. O dia tinha passado de forma rápida. Estava assistindo desenho com Mel e de repente já era hora de eu me trocar para o jantar. Mal tinha visto o sábado passar.
  - Não quer que eu te ajude a terminar? – Realmente não podiam dizer que ela era má cozinheira, há muito que eu estava querendo comer aquilo.
  - Não, só falta eu terminar de confeitar esse bolo. – disse – Não quero que se atrase, vai ficar bem linda, soube que o filho dos tem a sua idade e é lindo. – Florida disse com um sorriso no rosto e pude sentir que meu rosto começou a queimar depois desse comentário.

  Segui para o meu quarto, não sem antes ver que Mel e brigavam pelo controle remoto, duas crianças. Melissa eu até entendo, já . Como uma pessoa podia ser tão experiente e tão imatura? Assim era meu misterioso meio-não-irmão. Corri para o meu quarto e começou o dilema: EU NÃO TENHO ROUPA. Não uma que valha a pena. O que se veste num jantar que não é formal, mas é em família? Tinha alguns vestidos longos – os quais eu gosto de usar pra falar a verdade, sempre tive uma tendência meio hippie - mas decidi escolher um preto que ia até o joelho com uma sapatilha – também preta – e sem salto, como estava frio coloquei uma meia calça para completar. ei um banho de meia hora. Frio. A água fria que caia pelo meu corpo me fez ar uma decisão: eu ia dizer (ou pelo menos tentar) para o que estou apaixonada.
  Arrumei-me rapidamente e fiz uma maquiagem simples, um gloss rosa e um rímel. Estava pronta, assim que sai do meu quarto eu ouvi a campainha tocar, olhei desesperadamente para o relógio do corredor e marcava 20h09min, só podiam ser eles. Meu coração começou a acelerar, respirei fundo e fui até a escada. Lá de cima eu ver a família cumprimentando minha madrasta e meu pai. A Olívia estava bonita com um vestido vermelho, seus pais estavam tão elegantes quanto, o único que eu não via ali era o .

  - Filha, venha até aqui – um pai sorridente solicitou minha presença ao seu lado, desci as escadas com muitos olhares direcionados a mim e ei o maior cuidado para não cair escada abaixo.
  - Olá – sorri enquanto cumprimentava a Sra. . Era tão parecida com Olívia que quem visse poderia jurar que eram irmãs apesar de ser mais sofisticada do que a filha.
  - Olá meu amor, nunca mais apareceu lá em casa – é, ela sabia que eu dava aulas para o . – o clube do livro sente falta de suas ideias.
  - Verdade? Qualquer hora dessas, eu apareço por lá. – tentei parecer simpática, porque eu realmente odiava aquele clube do livro. Fui até Olívia e ela começou a comentar algo que sinceramente não faço ideia do que era, imagino que deveria ser algo sobre a extinção dos falcões peregrinos.
  - O que está procurando ? – Olívia comentou sorrindo. Será que procurá-lo por todos os cantos da casa era dar muita na cara?
  - Nada na verdade, só estava me perguntando por que o não veio – tentei simular a minha cara de cínica .
  - Acho que ele passou na casa do antes, mas já deve estar chegando – Olívia comentou enquanto pegava um dos coquetéis sem álcool que o preparou.
  - Ah! Sim, ele deve estar chegando, mas e ai como andam as coisas no jornal? – Olívia deve ter falado alguma coisa sobre um aluno novo que entrou, parece que seu nome era Dougie ou algo assim.

  Por cerca de meia hora tive que ouvir meu pai e o Sr. conversando sobre a época da faculdade – sim, além de serem sócios estudaram juntos. Das “travessuras”, acreditem; eles usaram realmente essas palavras. Da vez em que quase colocaram fogo no alojamento porque não sabiam cozinhar ou a vez em que ficaram para recuperação em Cálculo. Pela sala notava-se claramente o olhar de tédio dos outros presentes, Melissa estava brincando de puxar o rabo do cachorro e Olívia explicava pra ela que o cachorro era um amigo, virava copos e mais copos de coquetel e Sra. e Florida conversavam sobre outras coisas, só eu notei que a campainha tocou, sai praticamente correndo dali, antes que meu pai decidisse começar alguma de suas histórias de faculdade. Olhei-me no espelho e dei uma ajeitada básica antes de abrir a porta.

  - Olá – disse depois que abri a porta e o vi ali, lindo com uma calça jeans e uma camisa xadrez em preto e vermelho. Estava lindo – tudo bom?
  - Tudo – disse me dando um dos mais lindos sorrisos que já vi – você está linda. – ok, ele conseguiu me deixar vermelha.
  - É, acho que estou com muito preto, mas não entenda isso como forma de protesto ou qualquer coisa parecida com isso, foi o único que achei. – dei passagem para que ele pudesse entrar em casa.
  - Está lindo – disse sorrindo – está tudo mundo aí? – perguntou tentando olhar a sala, mas era impedido por uma parede.
  - Sim, estão todos na sala. Nossos pais conversando da época da faculdade, Mel e Olívia brincando com o cachorro – ele fez menção de rir – Florida e sua mãe conversando e se embebedando de um coquetel sem álcool. – terminei um pouco exausta de lembrar que a pouco também estava lá. Entediada.
  - Parece legal – disse irônico – vamos andar um pouco no jardim? Aposto que nem vão lembrar a nossa presença.

  Fomos até o jardim da casa que ficava nos fundos juntamente com a piscina, naquela noite o jardim estava especialmente florido, pois a Florida tinha comprado novas flores e tinha plantado naquele mesmo dia, se voltasse dias depois já não haveria mais flores, o cachorro teria comido.
  - Está uma noite linda, não? – comentou enquanto ainda caminhávamos lado a lado.
  - Está. – concordei – noite de lua cheia era assim – sabe que as minhas conversas com o mudaram muito depois que me descobri apaixonada.
  - Você está quieta ultimamente é por causa do Ricardo? – estava ainda mais bonito por causa da escassez de luz do jardim.
  - Não, na verdade eu tenho uma coisa pra te falar – era agora. Eu não tinha mais nada em mente o que eu tudo seria dito e se eu levasse um fora homérico eu choraria dias nos ombros do e depois passaria.
  - É grave? – ele perguntou – o que quer falar? – ele com certeza estava curioso. Bom, eu estaria no lugar dele, não é todo dia que alguém chega e diz que quer contar algo para você, comigo pelo menos não é. Ao menos quando tiro alguma nota baixa, o que não acontece desde que eu tinha quatorze anos.
  - Eu acho que eu estou apa...apa... apaixonada por... – ele arregalou aqueles olhos tentando me passar confiança pra dizer, mas eu não conseguia, por mais que eu tentasse nenhuma palavra saia da minha boca.
  - Pelo ? – ele perguntou. Droga, como alguém pode pensar que era apaixonada pelo ? Ele era algum IDIOTA ou o que?
  - Não, não é pelo . – afirmei com a certeza que em alguns segundos ou eu levaria um fora homérico ou... bom, nunca pensei na possibilidade de ser recíproco.
  - Por quem então? – eu ia dizer; bom talvez eu dissesse. Por que é tão difícil se declarar apaixonada por alguém?
  - Vocês não vão vir jantar não? – Mel apareceu afoita no jardim, de certo por correr tanto atrás do cachorro.
  - Vamos sim pequena. – sorriu, mas ainda esperava que eu dissesse algo. – pode ir na frente, a Sophi e eu já estamos indo, tudo bem? – é, ele levava jeito com crianças e isso só fazia a minha ansiedade aumentar catastroficamente. Ele era perfeitamente fofo.
  - É melhor irmos, não? – dei alguns passos em direção à cozinha e comecei a observar Melissa correndo para dentro da casa.
  - Não ia me dizer nada? – simplesmente abaixei meu olhar no momento em que ele olhou para dentro dos meus olhos – tudo bem, acho que não. – melhor assim, não que eu seja uma covarde nem nada, mas eu não sei se estava pronta pra isso.
  – Sabe? Eu também estou apaixonado - e foi isso. Andamos lado a lado sem dizer mais nada, nenhuma palavra trocada, nem murmúrios, nem sussurros. Nada.

  Apesar das mil perguntas do sobre onde eu estava e porque ninguém tinha visto o entrar, depois de algumas piadinhas tivemos que escutar Sr. e meu pai contando mais histórias da época da faculdade. Pergunto-me quantos anos eles fizeram faculdade, porque nenhum ser humano normal tem tantas histórias pra contar, porém uma coisa não saía da minha cabeça: ele estava apaixonado e meu coração estava começando a ficar dilacerado, mas eu não poderia chorar, pelo menos não ali na frente de todo mundo, não na frente dele. Minha cabeça estava a ponto de explodir, de verdade eu estava sentindo no meu corpo, mas sabe o que era pior? Eu não tinha certeza dessa paixão, eu não tinha certeza se o queria comigo, eu não tinha certeza se queria algo com ele.

  - Vou dar uma volta no jardim, tudo bem pai? – perguntei ao meu pai enquanto todos se direcionavam de volta até a sala, com certeza iam conversar mais um pouco.
  - Vai filha, sua carinha não está muito boa – comentou – só não demora muito.
  - Tudo bem pai. – forcei um sorriso e me direcionei novamente ao jardim. ficou brincando com Olívia e Melissa, os três tinham se dado muito bem durante o jantar.
  Eu precisava pensar. O que eu faria agora? Eu não me declararia para alguém que pensa em outra, mas se eu não falasse eu iria ficar com isso para sempre em mim, não? Se bem que faltam apenas alguns meses para a faculdade em alguns meses talvez eu nem o veria mais, não sabia se ficaria em Dallas ou iria fazer faculdade em outro lugar. Eu tinha outro problema, nem escolhi a que seguirei, tantas coisas pra pensar. Uma só.
. Faculdade. Amigos.
  - O que tanto pensa? – ele, de novo ele. Por que ele sempre aparece?
  - Fim do ano. Natal. Faculdade. – sorri – acho que tenho algumas coisas pra pensar.
  - Paixões? – ele me sorriu de lado e sentou-se ao meu lado.
  - Também e você não vai me contar quem é ela? – eu tinha que perguntar por mais que eu ficasse vermelha, como eu fiquei.
  - Você não vai me contar quem é ele? – ele pegou minha mão, seu olhar estava fixado nas orquídeas brancas na nossa frente.
  - Acho que ele não gosta de mim então nem vale a pena eu falar. – suspirei e ele virou-se para mim, meu rosto começou a ficar vermelho. Seus olhos miravam minha boca, suas mãos foram para a minha nuca e comecei a ouvir meu coração bater mais forte que a bateria do Dave Grohl na época que ele tocava no Nirvana. Senti sua respiração no meu rosto, nossos lábios se tocaram, ele fechou os olhos e eu soube ali que ele queria aquele beijo tanto quanto eu.

Capítulo. 11

Point Of View

  Alguém realmente sabe a dificuldade de dizer aquilo que realmente se quer? Só de olhar aqueles olhos verdes e aqueles cabelos longos que caiam em forma de cascata por seus ombros eu travava. Eu não conseguiria dizer a verdade. Ela nunca falou comigo dentro do colégio, talvez por ser tão cool com aquelas camisetas de bandas underground e seus amigos que não pertenciam a grupo algum – com exceção do é claro, que era considerado popular.
  - Ainda não vai me dizer por quem está apaixonada? – perguntei enquanto ela sorria depois do beijo.
  - Não se você não contar quem é ela. – ela mirou nos meus olhos era a primeira vez que ela me olhava nos olhos e não ficava vermelha desde que começou a me dar aulas.
  - Acho que você sabe quem é ela. – peguei uma mecha de cabelo que cobria seus olhos e a coloquei para trás de suas orelhas.
  - Não, não sei. – ela gostava de se fazer de cínica quando eu tentava me aproximar dela.
  - Sabe sim – me aproximei e dei um selinho - ela é linda, sabia?
  Inteligente, ela fez com que eu entendesse física, mas está apaixonado por outro. – ela mordeu o lábio inferior deu o sorriso mais lindo que eu já tinha dito.
  - Ela não ia gostar de te ver me beijando então. – ela arrumou o cabelo num coque desajeitado.
  - Foi você quem me beijou, posso alegar isso – ela me abraçou e sussurrou:
  - Eu sou apaixonada por você. – estremeci quando ela começou a beijar meu pescoço.
  - Não provoca – minha voz saiu mais baixa do que eu gostaria.
  - Por quê? – ela sussurrava no meu ouvido. Onde foi parar aquela quieta e tímida que eu tinha conhecido? De uma coisa eu tinha certeza ela estava conseguindo me deixar maluco e ela sabia disso.
  - Depois vai ter de aguentar – sorri e por fim selei nossos lábios.

  Enquanto nos beijávamos alguém chegou no jardim e nos separamos rapidamente. Era Melissa, a irmã mais nova de .
  - Onde está o e a Olívia? – perguntou ainda ofegante e foi inevitável sorrir.
  - Eles se perderam por ai, então vim procurar vocês. – Melissa sorriu e decidiu sentar no meu colo.
  - Jura? – perguntou sarcástica – onde está o papai?
  - Eles estão vindo até o jardim, mas decidi vir na frente pra ver se achava vocês aqui. – Melissa sorriu e pude notar que faltavam alguns dentes da frente. Suspirei aliviado, não seria muito interessante Sr. me vendo beijar sua filha (daquela forma) ela com a mão debaixo da minha camisa e nossos cabelos desgrenhados. Não, acho que não seria muito interessante. me olhou de forma significativa e sorri nervoso pra ela.

  Nossos pais ficaram conversando mais algum tempo e e Olívia apareceram sorridentes demais, com certeza eu teria que conversar com a minha irmã mais tarde. Já passava da meia noite quando decidimos ir embora, nos despedimos de todos e seguimos até a nossa casa.

  - Filho, como foi a reunião na casa do ? – minha mãe perguntou enquanto ainda estávamos no carro.
  - Foi legal mãe. – o que eu mais queria era esquecer aquela reunião.
  - A Fox, sua perseguidora estava lá? – Olívia perguntou enquanto teclava algo em seu celular.
  - Estava. – decidi não comentar mais sobre a Fox, afinal essa garota era meio doida. De um mês pra cá ela tem andado muito estranha, fez amizade com o Ricardo – ex-namorado da e se aproximou do e dos outros meninos do time de futebol.
  Chegamos em casa e a única coisa que eu queria era dormir, mas não dava eu precisava agradecer Olivia e .
  - Com esse sorriso todo você deve ter se declarado pra ela, me enganei? – Olívia entrou sem bater no meu quarto, mas não liguei eu estava feliz demais pra isso.
  - Sim, nós ficamos – sorri – ela também é apaixonada por mim Oli.
  - Eu sempre soube disso – ela disse animada – agora você só precisa ligar para a e agradecê-la, que tal? Ah! Não se esquece de pelo menos ajudar ela com o , né? – Droga, eu tinha esquecido essa parte. A me dava dicas de como conquistar a e eu a ajudava a ficar com o .
  - Já tinha esquecido essa parte, mas amanhã eu ligo pra ela. – comentei – mas falando nisso por que você e o estavam tão sorridentes hoje?
  - Não dê uma de irmão ciumento, não cola – ela riu – estou indo para meu quarto, te amo. – ela fechou a porta do meu quarto – Ah! a cuidado com a Fox e o Ricardo, não confio neles – ela abriu de novo a porta e fechou. Olívia poderia ser sensitiva se quisesse, nem eu gostava do Ricardo, mas a Fox? Ela era minha amiga, não havia motivo para não gostar dela, se ela se aproximasse do Ricardo não era da minha conta.

  Setembro, 2008

  Eu estava apaixonado por ela, mas ela nunca olharia pra mim. Ela parecia personagem de cinema, com certeza ela se destacava dentro do Albert Einstein, não para os outros, mas pelo menos pra mim. Nunca ia maquiada ou de salto alto como as outras meninas, mas ela era linda. Seus brincos hippies contrastavam com a sua mochila cheia de broches. Sempre a observei, mas ela era tão diferente que nunca falaria com alguém como eu.

  - O que acontece ? – sentou-se ao meu lado na arquibancada do campo de futebol.
  - O mesmo de sempre – sorri.
  - Quem é dessa vez? – ela riu, na verdade gargalhou – você nunca se contenta com uma só.
  - É a . – disse – sempre foi ela.
  - Sempre. Vou confessar que ela é legal – ela disse enquanto olhava fixamente para – só a tratava mal por causa de você sabe quem...
  - – eu ri – sempre ele? Acho que sofremos do mesmo mal. – suspirei.
  - Por que não tenta conquistá-la? – ela disse séria – sei lá, pode funcionar.
  - Como? Ela nem fala comigo. – esbravejei.
  - Por que não pede ajuda ela em sei lá... física. Acho que ela é boa nisso. – ela sugeriu.
  - Você sabe que sou bom com números. – respondi.
  - Na guerra e no amor vale tudo, pede ajuda ué. Se ela aceitar é um começo para uma aproximação. – ela sorriu e me deixou pensando.

  Eu não tinha muito tempo para pensar afinal teríamos aula de Geografia juntos, era a única que tínhamos juntos. O professor explicava alguma coisa sobre os belts americanos e decidi que seguiria o conselho da . Escrevi um bilhete.

  “Eu preciso da sua ajuda,
  

  Agora seria o que Deus quisesse, ela tinha duas opções dizer que sim, ou dizer que não e eu não me aproximaria mais dela. Percebi que ela leu mais de uma vez o bilhete, parecia que ela não acreditava no que estava lendo.

  “Minha ajuda?
  “

  Olhei para aqueles olhos castanhos tão brilhantes e acenei de forma positiva. Ela estava linda naquele dia, mesmo com cara de sono. Não consegui mais me concentrar em nada do que o Mr. Fuller explicava. Não queria me aproximar mentindo, mas ela não falaria comigo se fosse uma aproximação comum. Eu era bom em números, sabia que ela também era, mas o meu maior medo era de ela dizer que “não” ou de nada disso dar certo, afinal ela tinha namorado, Ricardo, eu acho. Um cara estranho, tenho que dizer, na semana anterior ele brigou com um menino do clube de xadrez e o acusou de estar roubando uma prova de Inglês.

  - Oi – Fui falar com ela assim que a aula terminou, parei ao seu lado e sorri.
  - Oi – ela respondeu tímida, suas bochechas ficaram vermelhas e eu abri ainda mais meu sorriso. Como eu podia ser apaixonado por alguém que eu nem conhecia direito?
  - Eu preciso da sua ajuda. – Eu disse, essa frase saiu mais rouca do que eu gostaria.
  - Com o que posso ajudar? – Ela gaguejou, abri ainda mais meu sorriso, como se isso fosse possível.
  - Você é muito inteligente, não? – Perguntei de forma retórica – preciso de ajuda em física e não tenho paciência de frequentar qualquer grupo de apoio, pensei que pudesse me ajudar com isso. – Foi o melhor que pensei.
  - Mas – ela pausou de forma dramática– por que precisa de ajuda em física, nunca o vi se importar com coisas relacionadas à escola. – Era essa a impressão que ela tinha de mim? Eu deveria saber desde o começo.
  - Eu pensei que pudesse me ajudar – soltei um longo suspiro e relaxei meus ombros, é o plano da não tinha funcionado. – eu preciso passar em física para continuar no time de futebol. – menti.

  Não me arrependi de ter mentido, pois alguns dias depois eu consegui o que queria, ela ia me ajudar em física. Não me interessava hipóteses de resultados de A e B, teoremas banais ou equações centenárias, com números eu era bom, só não era bom com ela. Na nossa primeira aula, sugeri que não nos falássemos dentro da escola, pois meu plano iria por água a baixo se os nerd’s que fazem aula de física comigo contassem pra ela que a minha nota era tão boa quanto à deles.

  - Obrigado mais uma vez – agradeci depois de resolver um problema de matemática simples, aquilo seria mais divertido do que eu imaginava.
  - Logo começamos com a matéria de física – prometeu – só precisa antes entender alguma coisa de matemática.

  Estávamos no meu quarto em meio a tantos livros e calculadoras, confesso que de início foi difícil fingir que eu não sabia nada da matéria, afinal aquilo era tão simples que chegava a ser banal, não imaginava quais dúvidas teria. Em meio a muitas raízes quadradas a observei enquanto reparava no meu quarto. Droga, eu não sabia se ela gostava de basquete ou de rock inglês, mas já era tarde, eu sabia que deveria ter arrumado o quarto quando Olívia sugeriu.

  - Fã dos Smiths ou dos Lakers? – perguntei quando a vi interessada em alguns de meus pôsteres.
  - Ambos. – ela sorriu. Eu não sabia o porquê, mas ela sempre ficava vermelha quando eu me aproximava e falava algo com ela. Isso era bom, certo?
  - Pouco comum, as meninas geralmente não gostam de basquete – comentei – e quanto ao rock... verdade que gosta dos Smiths? – perguntei.
  - Verdade, sou apaixonada por basquete e pelos ‘nerds’ britânicos. – Eu imaginei que ela gostasse de algo como “Bach” ou coisa do tipo.

  Alguns minutos de conversas banais sobre esportes americanos e rock inglês ou underground e nos distraímos mais uma vez, mas a verdade era: eu não aguentava mais números na minha frente, eu não aguentava mais fingir que eu não sabia nada daquilo, contudo eu precisava. Desculpei-me e voltamos a falar de física, se eu tenho que estudar, ao menos posso usar isso ao meu favor. Soltei um sorriso de lado na intenção de indicar que poderíamos discutir algumas leis na física melhor, mas ela apenas negou com a cabeça, não custou tentar.

  - Eu posso acreditar que sim, dois corpos podem ocupar o mesmo lugar no espaço – sorri – ao menos podem tentar.
  - Dinamicamente falando é improvável isso acontecer – seu sorriso se abriu – mas se pode tentar se quiser. – Ela ficou vermelha assim que percebeu o que tinha dito, com certeza essa não era a intenção, mas me deixou feliz. Uma vez disse que esses “atos falhos” eram uma dica do inconsciente, ao menos em seu inconsciente quis a mesma coisa que eu naquele momento.
  - Pode deixar podemos testar essa teoria –decidi provocá-la com uma voz rouca, mas seus olhos se arregalaram– afinal, é ciência – conclui me afastando dela e voltando a resolver outras equações.

  Sexta – Feira, Setembro, 2008

  O coach Aunt tinha nos pedido para dar cinquenta voltas pelo campo por causa do atraso do Harry. Eu precisava falar com o sobre como andavam as coisas com , essa era uma parte do trato.

  - A é cabeça dura, não consigo tirar nada dela – dizia cansado – ontem eu pedi que ela me contasse porque está tão aérea e acabamos brigando. – ainda continuávamos correndo e aquilo já estava me cansando.
  - Eu só queria saber se posso seguir em frente – arregalou os olhos e percebi que tinha falado besteira – quer dizer, continuar a tentar conquistá-la.
  - Eu acho que ela não te odeia como você pensa – comentou – mas ela ainda não falou nada sobre as aulas que estão tendo. – suspirou, com certeza deve ser difícil para o “melhor amigo” não saber o que acontece. Se bem que ele sabia, só não pela boca dela.
  - Então vamos fazer o seguinte. Hoje a vai estudar alguma coisa lá em casa, acho que Biologia com a Olívia aparece lá em casa também. – sugeri.
  - Desde quando a é amiga da Olívia? – ele tem razão em questionar algo assim, mas quando se vive apenas de aparências o que é o caso da , não se pode ter tantos amigos assim, ao menos não os que são diferentes de você.
  - A é minha melhor amiga, a Oli é boa em Biologia e pronto, vão estudar juntas.
  - Vocês são estranhos, não consigo entender essas “castas” escolares. – disse lá pela quadragésima volta.
  - Nem eu, mas enfim, vai me ajudar com a ? – ele era uma das minhas esperanças, por mais que Olivia e me ajudassem elas não conheciam tão bem quanto .

  Quinta – Feira, Novembro de 2008 (dois dias antes do jantar)

  Mr. Fuller tinha perdido mais um de seus trabalhos extravagantes, porém sem saber ele tinha me ajudado a pelo menos ficar mais perto de . Tínhamos que escolher um país e explicar a história dele, curiosidades e afins, teoricamente não era difícil, tirando o fato de eu odiar geografia. Sugeri que escolhêssemos a Índia, percebi que ela estava nervosa com alguma coisa, mas não quis comentar, ela parecia estar com raiva de mim, ou sei lá o que. Tudo bem que eu a provoquei na nossa ultima aula, mas eu precisava saber se ela gostava das minhas investidas e posso acreditar que sim, pois tudo me levou a crer que ela estava brava comigo por eu não tê-la beijado.

  - Taj Mahal. – eu sugeri, era a única coisa que eu sabia da Índia – Não conhece uma das mais belas histórias de amor?
  - Não – Alguém pode me explicar porque mulher é um bicho tão estranho? Elas são lindas quando estão nervosas, lindas quando choram e quando estão calmas, mas juro que não consigo entender essa raiva da .
  - Eu te fiz alguma coisa ? – perguntei.
  - Não, não fez . – ela pegou um dos livros de consulta e começou a procurar algo sobre a Índia, ela evitava qualquer contado visual e aquilo estava começando a me deixar nervoso.
  - Então foi algo que não fiz? – por mais que ela tentasse me evitar eu precisava saber o verdadeiro motivo daquele distanciamento todo.
  - Não, não estou brava porque você não me beijou. – Ah! Então era isso, ela estava brava comigo porque a provoquei e não a beijei? Bom saber!
  - Ah! Que bom pra nós, não? –eu realmente estava gostando daquilo - afinal, vamos ter que trabalhar juntos, não é? E ainda tenho algumas aulas de física com você, não quero que minha professora fique com raiva de mim porque não a beijei. – ela arregalou os olhos e começou a ficar vermelha de vergonha, linda.
  - Que tal a gente começar? Não sei muito sobre a Índia e não quero perder tempo com isso.

  Nossa aula de geografia acabou e nem vi sair da sala de tão rápido que essa menina saiu. Eu realmente não a entendo, às vezes parece que eu estou tão perto de conquistá-la outras tão longe...

  Sexta – Feira, Novembro de 2008

  Era um dia como qualquer outro, cheguei cedo com Olívia. Sério, tinha vezes que toda aquela dedicação com aquele jornal era insuportável. Ela acordava muito cedo e muitas vezes eu também chegava cedo com ela.

  - Bom dia – uma menina linda com os olhos bem verdes e os cabelos bem escuros veio falar comigo, ela era bem bonita, mesmo – sou nova por aqui, será que poderia me ajudar?
  - Claro – sorri – pode contar comigo. – cara, ela era muito gata.
  - Tudo bem, acho que vou comprar um suco e já volto pra você me ajudar. – ela foi até a cantina que por sinal estava bem vazia e comprou um suco ou qualquer coisa assim, fiquei sentado a observando de longe, ela voltava em minha direção, mas no mesmo momento vinha eufórica, com certeza para falar algo sobre . A menina nova acabou esbarrando em e começou a discussão.
   ficou furiosa, começou a disparar palavras pouco agradáveis para a menina e as pessoas começaram a aproximar-se da confusão, afinal eram duas garotas muito bonitas brigando e milagrosamente não era por homem – aquilo sim era bem comum no AE.

  - Hei garota, não olha por onde anda? – perguntou resmungando, os olhos dela estavam raivosos como nunca havia antes visto.
  - Oh! Meu Deus me desculpe – A coitada da garota decidiu que a melhor alternativa era tentar limpar, mas não deu muito certo.
  - Depois da burrada que fez é fácil pedir desculpas – seus olhos claros estavam furiosos.

  A coitada da garota estava em pânico, não era esse o jeito que ela imaginava começar num colégio novo, por mais que fosse minha amiga eu tinha que aceitar que ela podia ser bem má se quisesse e esse era um daqueles momentos. Todos os alunos a cercavam, eu tentava tirar de lá, mas todas as tentativas foram frustradas, parecia que todo mundo realmente queria ver uma briga, ninguém parecia muito interessado em separar as duas.

  - Escuta aqui garota... – finalmente consegui me aproximar e segurar antes que fosse tarde demais e ela batesse na menina – isso não vai ficar assim.
  - Garanto que ela não fez de propósito, não é... – Esperei que ela dissesse um nome e ela simplesmente sorriu e me respondeu.
  - Fox – ela ainda sorria o que era estranho já que segundo atrás ela estava brigando com a menina mais popular do colégio – meu nome é Fox.
  - É uma raposa¹ mesmo – comentou, não consegui acalmar a menina, ela parecia impossível. A tirei de lá e a levei para um lugar sossegado.
  - O que você tem na cabeça? – esbravejei quando já estávamos num lugar mais calmo – por que não deixa essa menina em paz?
  - Você viu o que ela fez? – ela apontou para a blusa branca toda manchada de suco de uva – estúpida – gritou.
  - Se acalma – sentei num banco que tinha no jardim.
  - Você viu como ela te olhou? – ela comentou – ela te comeu com os olhos .
  - Já falei que você viaja? – sorri, aquela era minha amiga. Para todo mundo dava em cima de mim – Ela nem me conhece.
  - Eu vi – comentou – sou mulher, entendo dessas coisas. – bufou.
  - Pode entender, mas dessa vez você errou. – sorri – ela me pediu ajuda e você chegou toda afobada e aconteceu esse acidente – apontei para a blusa dela – e a propósito se eu fosse você trocava de roupa, está um pouco... hm... transparente – era inevitável olhar.
  - Para de olhar. – ela bateu no meu ombro – e para de rir. Às vezes você me irrita .

  Sábado, Novembro de 2008 – Jantar

  Era dia de um jantar na casa dos , mas também era dia de uma reunião na casa do para comemorar o aniversario dele. Eu não poderia faltar em nenhum deles, no primeiro porque eu queria ver a e as coisas finalmente começava a desenrolar entre nós dois, ela até tinha terminado com o namorado e no segundo, porque o era um dos meus melhores amigos e todo mundo sabe: Não se falta em aniversário de amigo. Teria muitas mulheres lá, para o uma festa não era festa sem muitas meninas, toda a elite do AE estaria lá.

  - Bom, estou indo irmãzinha – dei um beijo na bochecha dela – se a Sophi perguntar diz que vou chegar um pouco atrasado, tudo bem?
  - Tudo bem, tudo bem – ela sorriu – só a cuidado com essa reunião do , você sabe muito bem o que acontece nelas. – sim eu sei, da última vez voltei MUITO bêbado para casa.
  - Fica tranquila – sorri – não vou beber.
  - Nem ficar com ninguém, se bem que vai ser difícil alguma menina resistir – comentou – você está cheiroso demais irmãozinho – ela passou por mim e foi até seu quarto.

  Peguei as chaves de casa e segui meu rumo para a casa do , não era muito longe dali e dava para ir a pé. Em poucos minutos cheguei e logo avistei a enorme casa do já cheia, a música alta dava pra ser ouvida há quarteirões de distância, muitas pessoas chegando e apesar de cedo alguns casais se agarrando.
  - Pensei que você não viesse cara – disse um sorridente e com um copo na mão.
  - Não poderia faltar – comentei – parabéns . – nos cumprimentamos e logo saiu com uma menina agarrada em seu pescoço. Avistei sentada num canto conversando com algumas líderes de torcida, enquanto caminhava até ela Fox se aproximou e me puxou pelo braço.
  - Tudo bom? – ela sorriu – faz tempo que não nos falamos.
  - Verdade, como você está? – me viu e deu um sorriso, mas logo que viu Fox conversando comigo fechou a cara.
  - Bem, na verdade, melhor agora. – é, Fox era simpática, não sei porquê a antipatia que tinha por ela.
  - Legal, não é? – eu não tinha tempo para conversar com ela – Sabe o que é Fox? Eu tenho que ir embora daqui a pouco, só vim cumprimentar uns amigos. – comentei enquanto ela massageava meu braço.
  - Que pena – Fox mordeu o lábio inferior, ela sabia ser sexy – queria tanto conversar mais com você.
  - Teremos tempo, não? – dei um beijo em sua bochecha e fui atrás de uma amiga furiosa.

   ainda conversava com as líderes de torcida e mais alguns caras do time de futebol, fingiu indiferença assim que me aproximei. Por que as mulheres são tão complicadas, meu Deus?
  - Posso falar com você – me aproximei.
  - Está falando não está? – respondeu ainda nervosa.
  - Você sabe que só tenho olhos pra você, não sabe? – sorri, eu sabia que ela não resistiria.
  - Você é muito idiota – ela riu – mas não ouse mais falar com a raposa.
  - Não esquenta, ela não ocupa seu lugar – sorri – e então o vem? – perguntei e ela ficou vermelha, só o mesmo não percebia que ela era caidinha por ele, a maneira , claro.
  - Não sei – ela cortou o assunto, bem mesmo – , é sério, se afasta dessa menina, ela está louca por você. Se você quiser a mesmo, a cuidado – às vezes ela chegava a ser pior que a Olívia.
  - Ok, só passei pra dar um beijo em você – beijei a bochecha dela e me levantei do sofá – estou indo, tenho um jantar na casa dos hoje.
  - Se declara hoje – ela brincou – estou cansada de toda essa odisseia pelo amor da .

  É, eu também já estava cansado de toda essa odisseia, mas eu não podia apressar as coisas com , primeiro que eu sabia que ela nunca ficaria com um cara como eu e segundo... Eu nem sabia por que estava apaixonado por ela, não lembro como e nem quando começou. Só sei que um dia passei a olhar diferente a menina que fazia aula de geografia comigo. A menina que era um pouco destrambelhada e atrapalhada e muito tímida, a menina que eu sei que nunca me beijaria.

Capítulo. 12

Depois daquele olhar

  Tenho que falar que foi o melhor beijo da minha vida? Ok, tirando a parte que nossos pais iam nos pegar numa situação no mínimo constrangedora, pra falar a verdade nem eu sei como eu consegui fazer aquilo. Wow, eu provoquei o , passei a mão por debaixo da camisa dele e... O que eu tenho na cabeça? Como eu vou conseguir terminar o trabalho de geografia com ele? E tem mais, vou ter que vê-lo segunda-feira no colégio e ainda tem as nossas aulas de física. Sério, eu não sei o que deu em mim, mas é que ele é tão... você é uma idiota e se ele decidir contar para todo mundo que vocês ficaram e contar que se empolgou demais? Se bem que ele disse que era apaixonado por mim ou será que eu não era a “linda, inteligente” que ele estava apaixonado?
  Só sei dizer que foi o melhor beijo da minha vida, melhor que o , dez mil vezes melhor que o Ricardo.
  .
  .
  .
  - No que está pensando? – entrou no meu quarto e sentou na minha cama – Por que está igual idiota olhando para o nada pela janela?
  - O me beijou, aliás, nos beijamos. – comentei sem virar-me para ele.
  - O QUÊ? – ele gritou – me conta. – às vezes o pode parecer um pouco “Candinha” demais para o meu gosto.
  - Nem eu sei como aconteceu, só sei que quando vi estávamos nos beijando, confesso que me empolguei um pouco, e é isso – ele não precisava saber das coisas nos mínimos detalhes. Sentei-me ao seu lado.
  - E como as coisas ficam agora? – ele perguntou enquanto ligava a televisão.
  - Não sei, nem sei com que cara vou olhá-lo na segunda. – suspirei.
  - Com a sua mesmo. – ironizou – , olha pra mim – pegou meu rosto com as duas mãos e fez com que eu olhasse seus lindos olhos claros – não seja covarde, se você gosta do arrisca – ele soltou meu rosto – e além do mais eu acho que ele gosta de você. – finalizou com um sorriso que queria falar algo mais, mas não podia.

  Ficamos assistindo alguma coisa na televisão mais precisamente “De volta para o Futuro” e “Indiana Jones”, se uniu a nós e ficamos os três assistindo filmes de nerd. Eu me divertia com aqueles dois, sempre com um comentário sagaz e inteligente e o o cortando, pois queria assistir pela quadragésima nova vez aqueles filmes. tinha certa fixação por filmes do gênero, por exemplo, amava a trilogia de Star Wars, simplesmente era a melhor de todos os tempos, De Volta Para o Futuro o melhor filme futurista e assim vai, era apaixonado por gibis e videogame, tínhamos isso em comum, gostava de coisas nerd’s também. Não podia negar jogar Super Mario Bros com ou ler quadrinhos num sábado à noite enquanto todo mundo se diverte em festas.

  - Qual você prefere: Nintendo ou Sony? – perguntou para enquanto estávamos os três jogados no tapete do meu quarto.
  - Sony, é bem mais popular que Nintendo a única que gosta de jogar o jogo do encanador é a . – ele riu.
  - Mario é legal, ok? – comentei – e não se pode julgar um jogo pela sua popularidade e mesmo que seja esse o argumento, Mario é bem mais popular que os seus jogos estranhos. – finalizei.
  - Vocês são dois nerds, têm consciência disso, não? – disse em meio a risadas.
  - A está deixando de ser nerd ela beijou um cara do time de futebol. – tinha que ser um fofoqueiro? Precisava dizer que beijei o ?
  - Wow, ontem mesmo no jantar? Rápida, assim que eu gosto. – IDIOTA.
  - Prefiro não comentar. – finalizei tirando do canal de esportes e colocando num documentário da History Channel. Sabia que o a carne do McDonald’s da Índia é de carneiro?

  Certa vez Isaac Newton falou que consegue calcular o movimento dos corpos celestiais, mas não a loucura das pessoas, eu concordo com ele. Não consigo entender a maldade de certas pessoas e mais, não consigo entender o porquê elas fazem certas coisas. Qual o prazer de destruir a vida de outra pessoa? Qual o prazer de fazer o mal? Estávamos assistindo Televisão quando decidiu ligar o computador e entrar no meu IM¹ e viu que havia uma mensagem anônima de uma pessoa que se apresentou como “Sky776”.

  - Você sabe quem mandou? – estava nervoso eu via a veia de seu pescoço saltada, sua voz estava aflita e nervosa.
  - Eu não sei – respondi entre lágrimas imbecis que teimavam em rolar – por que alguém me faria mal? Eu sou tão invisível no AE.
  - Não, não é; - respondeu – e se for alguém de fora do AE? – estava mais calmo do que e eu, era bom ter alguém mais equilibrado.
  - Não tenho muitos contatos fora, eu só ando com vocês mesmo – minhas lágrimas iam cessando – e o , mas ele também é do colégio.
  - O não faria isso – finalizou enquanto lia mais uma a mensagem no computador:

  “Oi querida, é pelo que está apaixonada, não é? Mas fica tranquila que isso não durará muito, afinal felicidade nunca dura muito, não é? Será que seu amado confia tanto assim em você?
  Alguém que te ama muito.

  - O pior é que não sei quem mandou – me virei para .
  - Já tentei procurar o número do IP, mas não consegui – relaxou os ombros – mas relaxa, não há de ser nada. – forçou um sorriso.
  - Estamos aqui para proteger a pobre Sophi, não? – me abraçou de lado.

  Os meninos ficaram mais alguns minutos me acalmando e foram embora quando era por volta de onze da noite, me despedi e cai na minha cama. Eu tinha a visão perfeita da rua e a lua estava cheia clareando todo o meu quarto eu não conseguia dormir, eu estava tão feliz. Será que a gente sabe que está amando quando se recusa a dormir e sonhar porque a realidade é melhor do que qualquer sonho? Por mais que aquela mensagem tenha me assustado e até me feito chorar eu não conseguia ficar triste, o beijo que o tinha me dado tirava qualquer resquício de medo do que pudesse acontecer além do mais eu tinha os melhores amigos do mundo, e .

  Oi, tudo bom? Quero muito falar com você. Estou com saudades.
.

  Escutei meu celular tocar e notei a mensagem de Daniel, não sabia como, mas ele tinha o número do meu celular. Sabe o que era mais engraçado eu estava com vergonha de encontrá-lo, eu nem sabia se o amava ou coisa assim, eu nem sabia se estava apaixonado, eu só sabia que ele me atraia, eu só sabia que ele era especial, mas eu sequer o conhecia.

  Quando? E desde quando sente a minha falta?
.

  Cerca de cinco minutos depois meu celular começou a vibrar e vi que tinha recebido outra mensagem do Daniel.

  Podemos ir juntos para a escola amanhã. :) E eu sempre sinto sua falta, sabe o que é mais engraçado? Você não precisa falar nada, eu só preciso da sua presença, mesmo que em silêncio. Boa Noite.

  Boa noite .

  Dormi. Acordei. Dormi. Acordei. Não dormi.

  Eu já tinha tomado banho por mais trinta minutos – nunca demorei mais de quinze minutos – tomei café correndo e milagrosamente passei o uniforme vinho do colégio. Se isso tem algo a ver com ? Claro que não. A quem quero enganar? Tudo isso era por ele, tudo ultimamente tem sido ele. Melissa já tinha saído para o colégio com a minha madrasta e meu pai e tinha ido mais cedo para o colégio – eu estava sem carona, se decidisse vir a pé eu teria que deixar meu sedentarismo matinal de lado e conversando com ele animadamente.
  Enquanto esperava chegar assisti aos telejornais matinais.

  Sexta- feira, 21 de novembro de 2008 caiu um meteorito no Canadá- o repórter bonito, moreno de olhos bem pretos e cabelos cacheados da NBC começou a descrever o acontecimento, interessante que só notei o final da reportagem quando ele não mais aparecia.

  A campainha tocou, desliguei rapidamente a televisão e fui correndo até a porta. Sim era ele. Respire , respire.
  - Bom dia – ele me cumprimentou sorrindo – desculpa a demora, mas passei na sua casa, você não estava então lembrei que podia estar na casa do seu pai. – ele se explicava afobado.
  - Tudo bem – eu estava vermelha eu sentia, meu rosto estava queimando – vamos? – fechei a porta de casa e ele me guiou até seu carro e abriu a porta para mim.
  - , não sei se esse é o melhor momento para falar, mas – ele abaixou o volume do rádio – como ficamos? – COMO FICAMOS? , se você não lembra eu disse que era apaixonada por você e por acaso você não deixou muito claro se era eu ou não a pessoa por quem estava apaixonado.
  - Como você quer que fiquemos? – eu tentei sorrir, não consegui.
  - Eu quero ficar com você – ele disse sereno – eu gosto de verdade de você. – ele virou-se para mim enquanto o sinal estava fechado.
  - Mas e seus amigos? Todos eles são populares e eu... – o sorriso dele abriu-se mais ainda e o senti aproximar-se de mim, mas o carro que estava atrás buzinou fortemente o que me fez rir.
  - Não ria – ele disse – é cruel, sabia? Eu morrendo de vontade de te beijar e você rindo – brincou – e não fica vermelha. Eu não ligo se os meus amigos são populares e você não, é besteira isso.
  - Sabe o que eu acho? – me pronunciei – precisamos nos conhecer melhor? Eu não sei se você prefere Star Wars a De Volta para o Futuro? Qual é sua boyband favorita. – ele riu.
  - N’cync, os backstreet boys eram muito metidos – eu ri – e quanto aos filmes, podemos resolver isso – ele parou perto do colégio, virou-se para mim e me beijou, dessa vez foi diferente senti que éramos observados e por muitos pares de olhos.

   abriu a porta do carro para mim, uma coisa que me incomodaria caso fosse o Ricardo que fizesse. Ele pegou a minha mão, beijou o topo da minha cabeça e fomos juntos até a entrada do Albert Einstein, sentia-me estranha parecia que eu estava a caminho da forca ou era uma herege e iria para a inquisição. Realmente uma “ninguém” como eu se unir com um “alguém” como o Daniel era considerado uma heresia pelos alunos do AE. Até Fox com estranhamento, eu não a recriminava em poucos dias ela tinha se tornado tão popular quando e quanto a essa eu posso dizer até que ela me olhou com ternura, posso dizer que até sorriu. Sim, aquela segunda-feira estava especialmente estranha.

  - Você está tensa – disse parando de andar e me virando para ele – o que aconteceu? – perguntou-me preocupado e franzindo a testa.
  - Estou um pouco incomodada com esses olhares, só isso – respondi.
  - Você se acostuma – voltou a entrelaçar nossas mãos.
  - Eu espero – sussurrei.

  Vi vindo em nossa direção, mas dessa vez ela não estava cercada da sua trupe, estava sozinha e vinha sorridente, não estávamos mais no meio do pátio e os olhares tinham diminuído, contudo não tinham acabado e aquilo estava começando a me irritar.

  - Olha, olha – sorria – vejo que temos um novo casal no AE. – ela piscou para o , pensa que não notei? – até que são bonitinhos juntos – me abraçou de lado e sorriu.
  - Tudo bom ? – sinto que minha voz saiu um pouco rígida, mas eu não podia me controlar. Ela sempre me tratou mal e agora vem tão doce?
  - Tudo sim, pode parecer que não , mas estou muito feliz que estão juntos, o sempre quis isso – ela dizia e me deixava confusa – eu sou a melhor amiga dele, só não o faz sofrer, tudo bem? – finalizou.
  - Nunca tive essa intenção – falei.
  - Sem briga as duas – se pronunciou – a é minha amiga, você é a pessoa que eu quero conhecer mais e mais, não briguem, tudo bem? – disse para mim e a , que aquilo estava estranho. Ah! Estava.
  - Tudo bem – e eu respondemos em uníssono.

  O sinal tocou e caminhou em direção à entrada nos deixando sozinhos. Tudo estava muito estranho ao mesmo tempo em que eu não suportava ver aquela menina perto do ela era a melhor amiga dele, mas não sei, não era a mesma coisa que eu e , pois o era meu amigo mesmo, por mais que meu primeiro beijo tenha sido com ele. era diferente, ela sempre me humilhou e ela sim já ficou com o . Não eram ciúmes, era só...

  - Você já ficou com a ? – perguntei enquanto caminhávamos até as salas sob muitos olhares... Ainda.
  - Por que me pergunta isso? – me perguntou.
  - Você me perguntou sobre o , certo? – tentei sorrir - minha vez. – conclui.
  - Já – ele sorriu e eu apertei nossas mãos ainda entrelaçadas. – depois a gente conversa sobre isso, eu ainda quero saber do e você da . – enrijeci.

  Segui até minha aula de química, entrei no laboratório e vi Ricardo sentado na minha bancada, tinha me esquecido que meu parceiro tinha mudado. Aquele dia estava especialmente estranho. Professor Keane já estava passando a matéria na lousa, Ricardo estava escrevendo e sequer virou-se para me olhar quando me sentei ao seu lado.

  - Bom dia – professor Keane iniciou a aula – Olá , chegou atrasada? – confirmei com a cabeça. – Bom, já que chegou atrasada uma pergunta – era sempre o mesmo ritual, quem chegasse depois do sinal já ter batido respondia a pergunta. – Como eu posso medir de forma simples a pressão atmosférica?
  - De forma simples através do Barômetro de Torricelli – eu disse tentando lembrar a aula anterior – consiste em um tubo capilar fechado em uma das extremidades e imerso num recipiente contendo mercúrio. – soltei o ar devagar.
  - Certo – Mr. Keane sorriu – só não chega tarde da próxima vez, tudo bem? – eu sorri e confirmei com a cabeça, o restante dos alunos continuava me olhando, exceto um: Ricardo.

  O gás oxigênio (O2) e ozônio (O3) diferem um do outro na atomicidade, isto é, no número de átomos que forma a molécula.

  Dizemos então que o gás oxigênio e o ozônio são as formas alotrópicas do elemento químico oxigênio. O oxigênio existe no ar atmosférico, sendo um gás indispensável à nossa respiração. O ozônio é um gás que envolve a atmosfera terrestre, protegendo-nos dos raios ultravioleta do sol.

   Ok, não há com quem conversar e decidi fazer meu caderno de diário? Sim, porque não posso fazer nada que já começam a me analisar. Até as intercâmbistas do Japão estão me olhando diferente. O Ricardo fez toda e experiência SOZINHO, eu simplesmente anotei os resultados e de resto? Recebi uma mensagem do que queria ir a um parque ou coisa assim depois das aulas. Ou seja, eu faltaria no teatro e ele no treino

  - , você anotou o resultado desse? – Ricardo se pronunciou pela primeira vez no dia.
  - Sim, anotei, não se preocupa – respondi – até já entreguei o relatório.
  - Você está namorando o ? – os seus olhos estavam raivosos como nunca tinha visto antes – ele é melhor do que eu?
  - Olha Ricardo a aula já acabou – sorri falsamente – depois nos falamos. – disparei em direção à porta e nem olhei para trás, quando sai da sala o sinal de troca de aulas tocou.

  Era hora do almoço chegou e ainda sentia aqueles olhares sob mim, enquanto eu caminhava até o refeitório as cenas pareciam rodar em câmera lenta. Todos no refeitório pararam seus afazeres para me olhar, eu não conseguia distinguir o silêncio que se instalou. Arfei todo o ar inconstante do meu pulmão e voltei a caminhar como se nada tivesse acontecendo para comprar minha comida. Quando estava na fila alguns olhares ainda eram direcionados a mim, mas eu fingia estar mais entretida nas minhas cutículas do que nos comentários alheios.

  “E não é que aquela coisinha conseguiu domar o ?” – escutei alguém dizer, mas fingi ignorar.

  “Você acha? Duvido que ele vá ficar com ela muito tempo.” – outra voz, porém mais aguda e esganiçada respondeu.

  - Por que vocês não vão cuidar da vida de vocês? – reconheci a terceira voz, era – Vaza, vaza.
  - Obrigada – sussurrei em agradecimento quando a vi se aproximar.
  - Não há de que. – a vi se afastar na mesma rapidez com que se aproximou.

  Comprei meu almoço e fui para a mesa de sempre – a de Olívia e seus amigos jornalistas, desde que me separei do Ricardo tenho almoçado com eles. já tinha seu grupo, idem para e eu? Sobrava escutando o assunto sobre a “ética profissional” e aquilo estava começando a me irritar.

  - E então o que você acha ? – Josh um dos editores chefes do jornal me questionou sobre algo que eu nem prestava atenção.
  - Não prestei atenção, me desculpe. Do que falava mesmo? – perguntei e me atualizaram no assunto. A ética de um jornalista, sabendo que tem um amigo e uma historia importante? Qual caminho a seguir? O amigo ou a notícia?

  É simples o que eu escolheria, a amizade de alguém é incontavelmente mais importante do que qualquer notícia. Eu protegeria ou e guardaria seus segredos nunca os publicaria. É cruel, entende? Não entendo por que tal dilema se instala no jornalismo, é simples: AMIGO É AMIGO nenhuma notícia vale mais do que uma amizade.

  - Entendo seu ponto de vista – Dougie pontuou depois de eu ter dado a minha opinião – jornalista é às vezes pior que advogado – comentou e fez com que a mesa toda risse.
  - Não fala assim – Olívia sibilou. Acredito que se o jornalismo não der certo ela pretende fazer Direito.
  - Tudo bem, tudo bem – Dougie finalizou com um sorriso torto. Pelo que eu tinha entendido aquele dia Dougie era uma espécie de jornalista da área de esportes da cidade, publicava toda e qualquer história curiosa relacionada a esportes em Dallas. Éramos famosos pelos Dallas Cowboys time que disputava a NFL americana e ocasionalmente disputávamos a final – Superbowl e pelo time estadual de Hóquei no gelo. Fora isso, não éramos conhecidos pelo futebol, nem por vôlei e muito menos corrida, apesar de corridas de rua aumentarem consideravelmente e serem o esporte mais praticado pelo mundo.
  - E agora quero saber – perguntou Silibia a especialista na parte de “fofoca” do jornal – é verdade que você está com o ? – “Eu não sei. Beijamo-nos algumas vezes, confesso que foi divino, mas sinceramente não sei se estamos juntos. Eu nem sei se ele prefere café ou capuccino.
  - Olha Sili – respondi irônica – não quero falar muito sobre isso. – sorri e finalizei o assunto. Josh me olhava com curiosidade, Dougie não parava um minuto de olhar os lindos e loiros cabelos de Olivia e Silibia conversava com outros “jornalistas”. O horário do almoço acabou e eu sequer tinha visto , nem na mesa que ele habitualmente ficava.

  Voltei em direção ao meu armário para pegar os meus livros de espanhol, eu teria aula com a Ms. Sorvino quando me deparei com um papel dobrado, na realidade bem amassado. Li e reli algumas vezes para tentar absorver o que nele estava escrito.

  “Gostando dos seus quinze minutos de fama? É por isso que está com o , não é? Aproveita enquanto é tempo.
  Alguém que gosta muito de você, princesinha”.

  Quem era esse idiota? E qual o motivo desses bilhetes? Minha vista já estava embaçada, precisei me apoiar na porta do meu armário antes de conseguir raciocinar qualquer coisa, eu sabia algumas coisas dessa pessoa:
  Essa pessoa sabia antes de todo mundo que eu estava apaixonada pelo .
  Essa pessoa me conhece o suficiente para conseguir o meu IM
  Não entendo porque não espalhou para o colégio inteiro a historia da paixão.
  Eu estava em dúvida sobre contar ou não para , mas decidi pela segunda opção. Não contaria, afinal não ganharia nada com isso e eu tinha mais coisas com que me preocupar. O encontro de hoje à tarde, por exemplo.

  - Señorita , mucho gusto em verla. – Ms. Sorvino iniciou a aula querendo que eu traduzisse a frase. Sentia pena dela, ninguém levava a aula de espanhol muito a sério, só eu fazia os exercícios e/ou respondia suas questões.
  - A senhora disse “Senhorita , muito prazer em vê-la” – respondi com um sorriso enquanto mais da metade dos meus colegas estavam entretidos em não prestar atenção na aula.
  A aula transcorreu normalmente, Ms. Sorvino perguntava e eu e mais dois nerd’s respondíamos. No fim da aula ela me propôs que eu ajudasse os alunos que precisavam de reforço em espanhol e eram muitos, porque mais da metade da escola não estava nem aí para espanhol e a coitada da ajudante de professora sofria depois.
  - Que pena, não vou poder, tenho compromisso no horário da tarde – respondi tentando forçar a cara de tristeza que eu tanto tinha ensaiado no teatro. Parece ter dado certo, pois ela acreditou.
  - Uma pena realmente – Ms. Sorvino disse enquanto guardava seus livros – fica para uma próxima vez então.

  Quando saí da sala não avistei muitas pessoas no corredor a maioria deveria estar em casa enquanto o resto em aulas extracurriculares que valiam pontos extras. Me dirigi até meu armário para guardar meus livros e pegar a minha mochila e meu celular.
  Abri o flip e não vi nenhuma mensagem do . Será que não iríamos mais para o parque ou será que estava tudo marcado?
  - Vamos, moça? – apareceu com um sorriso sereno no rosto.
  - Oi. – disse tímida – estava verificando se você não desistiu do nosso passeio. – sorri, é eu começava a ficar mais relaxada perto dele, mas o arrepio na espinha não cessava.
  - Não mesmo – ele pegou minha mochila – você não disse que quer saber mais de mim?
  - Verdade, aquele dia do “jogo das perguntas” você saiu ganhando, só pude fazer perguntas de física. – começávamos a andar pelo extenso pátio do AE. Misteriosamente um sol se abriu naquela tarde e eu até poderia tirar o meu casaco pesado, mas como nem tudo é perfeito ventava muito.
  - Tudo bem, hoje é seu dia de me fazer perguntas – ele suspirou derrotado.
  - Vejamos: você pode começar me explicando aquela história com a . – ele fez uma careta, mas logo soltou um sorriso tímido. Era a primeira vez que eu via esse sorriso, ele nunca demonstrou timidez alguma na minha frente.
  - Você tem certeza de que quer saber? – eu afirmei com a cabeça e ele soltou o ar pela boca e logo começou a falar – faz algum tempo, éramos mais novos a era a única que eu conhecia na cidade, ela é linda – ele disse esse linda baixo, mas eu ouvi – e acabou acontecendo. – suspirou e continuou – mas funcionamos melhor como amigos, entende? – ele me olhava e eu estava rígida, ao mesmo tempo em que eu queria saber da história eu não queria imaginar nos braços do .
  - Entendi – disse sem olhar em seus olhos. Estávamos perto do tal parque ou jardim, não sei. Minha cabeça dava mil voltar, eu não entendia. sempre me humilhou, já ficou com o e agora que eu e ele estamos teoricamente juntos ela parece feliz e ainda me defende de patricinhas fofoqueiras. Não entendo.
  - Sem mais nenhuma pergunta – brincou.
  - Você prefere café ou capuccino. – era idiota a pergunta, porém eu precisava saber, eu era apaixonada por café.
  - Os dois, não consigo escolher um preferido – sorriu – minha vez. O que sente pelo ?
  - O trato não era somente eu fazer perguntas? – questionei, mas ele me olhou com aquele par de olhos e eu cedi... Mais uma vez – tudo bem eu respondo. O é meu amigo e diferentemente de você e da ele e eu não ficamos. – ele riu - Aconteceu um beijo apenas, o meu primeiro no caso. – avistei um banco e sentei, ele me acompanhou.
  - Você ficaria com ele? – ele olhou para o chão, acho que ele analisava seus tênis all star completamente sujos ou não queria encarar meus olhos.
  - Ele é meu amigo, assim como é seu amiga – ele me encarou e dessa vez não sorriu – o que foi? – perguntei e ele nada respondeu.
  - Você é linda – ele disse – como eu posso estar apaixonado por alguém que eu nem conheço? – ele disse mais para ele do que pra mim, mas eu escutei.
  - Eu gostaria de saber a resposta, pois acontece o mesmo comigo. – apoiei minha cabeça nas mãos que estavam apoiadas nos meus joelhos – Por que você me beijou?
  - Eu quis... Quero – gaguejou – quer dizer... – aos poucos eu ia conhecendo um lado diferente do .
  - Quer? – e um lado diferente da . No meu estado normal nunca que eu provocaria Daniel daquela forma? Inclinei minha cabeça até ele e aproximei nossos lábios, mas não o beijei, rocei nossos narizes e senti aquele cheiro de perfume masculino adentrar minhas narinas. O meu plano estava dando errado, eu estava ficando mais louca do que ele. Selei nossos lábios mais não abri passagem para que sua língua apressada entrasse na minha boca, ele por fim me puxou pela nuca e me beijou de uma vez. Nossas línguas dançavam mais frenéticas e sensuais do que um tango e a partir dali eu entendi o que eram as famosas borboletas no estômago, eu tinha ao menos mil delas dentro de mim.

  Por mais que em Dallas tivesse cerca de 340 parques por toda a cidade eu nunca tinha ido até aquele que tinha me levado, não considerava um parque mais parecia um grande jardim. Era lindo tinham muitas flores e até uma fonte no centro, com uma estatua estranha, acho que era grega, pois os gregos gostavam do estilo “vou fazer uma escultura de um menino sem roupa” e o menino estava sem roupa e com uma harpa nas mãos, mas até a bizarrice do monumento deixava aquele jardim legal. Eu estava deitada nas pernas de enquanto ele fazia cafuné nos meus cabelos, estávamos na grama mesmo, chão. Sabe?
  - O que você mais gosta em mim? – eu disse – quer dizer, não nos conhecemos muito bem, mas por que se apaixonou por mim? – dizer aquilo pra ele era estranho.
  - Você é diferente – o vi sorrir, mesmo que eu estivesse deitada eu reconheceria aquele sorriso perdido – você faz questão de ser diferente de todas as meninas, toca flauta, mas gosta de rock, é sensível, mas se veste de preto. Prefere filmes épicos e lendários a “O diário de uma paixão” – ele enumerava o que gostava em mim e percebi que ele sabia mais de mim do que eu dele, como se eu já não soubesse disso – eu gosto das duas s que habitam em você: a tímida e a que me provoca. – finalizou me dando um selinho.
  - E sabe o que gosto em você? – ele me incentivou a dizer – gosto do seu perfume, do seu jeito misterioso, pois eu não sei quem o é – ele riu – ora ele é confiante e me provoca com simples leis da física, ora ele gagueja e não diz se quer me beijar, gosto do jeito com que você mexe no cabelo quando não entende algo que eu falo – cada vez que eu enumerava o que me deixava nele minha bochecha ficava mais e mais quente. – e por fim, eu amo seus vários sorrisos. – finalizei.

  Ficamos mais algum tempo conversando no jardim e alguns beijos trocados. Pela primeira vez naqueles dias eu me senti genuinamente feliz, nos levantamos da grama e caminhamos até a saída do jardim, eu precisava voltar para casa, já eram mais de sete horas da noite, minha mãe ia me matar, eu não tinha avisado ninguém aonde eu ia e tinha desligado o celular.

  - Te levo para a casa do seu pai ou da sua mãe? – me perguntou quando caminhávamos até o seu carro que estava estacionado perto da escola que não era muito longe dali.
  - Minha mãe – sorri – mas acho que ela vai me matar, já são sete e meia da noite e não avisei para ela onde estava. – eu sorria em sinal de nervosismo, estava aflita, com certeza ficaria de castigo ao menos uns cem anos.

  Ele me acompanhou até em casa, nos despedimos, respirei fundo e entrei em casa. Logo da entrada eu poderia sentir o ar pesado que estava aquela casa, avistei meu pai, minha mãe, madrasta, , meus avós e Mel todos reunidos na sala. Minha avó, Florida e mamãe choravam copiosamente, meu pai estava pendurado no telefone e e vovô tentavam consolar mamãe, Florida e vovó.

  - Irmã – Melissa correu até mim pulando em meu colo e quase me derrubando no chão – que saudades! – ela sorriu, tentei sorrir mais eu sabia que escutaria muitos sermões e não só aquele dia, todos os dias, todos os meses, o resto da minha vida.
  - ONDE VOCÊ ESTAVA? – minha mãe levantou-se e quando eu pensei que me bateria ou algo assim, ela desabou no choro e correu para me abraçar – você tem noção o quanto ficamos apavorados por você ter sumido? – ela continuava a chorar e eu não disse nada – quem você pensa que é para sumir desse jeito? – de repente aquela crise bipolar que os pais têm começou a agir, do choro e desespero a voz dela tornou-se raivosa.
  - Filha, onde você estava? – meu pai estava mais calmo, mas eu tinha medo dele assim. Eu sabia que ficaria sem meu carro depois dessa. – você não tem responsabilidade? – ele perguntou e logo depois bufou colocando as mãos na cabeça e sentou-se no sofá junto com .
  - Filha – minha avó disse num quase de súplica – estávamos pensando o pior, por que não ligou? – todas as pessoas da minha família me atolavam de perguntas, mas eu ainda estava feliz.
  - Nunca mais faça isso – minha mãe disse ainda raivosa, ela quase rosnava – saiba que ficará um bom tempo sem sair, mocinha.
  - Um bom tempo? É bom esquecer todas as suas saídas. É da escola pra casa e vice-e-versa. – meu pai enfatizou. É, eu estava ferrada.
  - Não exagerem – vovô me abraçou – algum tempo de castigo é o suficiente. Ela precisa de umas atitudes inconsequentes de vez enquando – vovô sorriu pra mim e eu retribui, com certeza meu avô era diferente do pai de Bianca – minha mãe.
  - Não a defenda – minha mãe arfou – nem sei o que dá vontade de fazer com você – minha mãe voltou a chorar – pensei que tinha te perdido. – senti meu rosto começar a ficar quente, mas não por vergonha, eu sentia as lágrimas chegando, então eu chorei.
  - Desculpa – me pronunciei – eu me distrai, esqueci de ligar – respirei fundo – podem me castigar, eu entendo – meu avô me abraçou de lado e sorriu para mim.
  - Eu sei que você é responsável , só queremos um pouco mais de atenção – meu pai falou – vai para seu quarto e tome um banho.
  - Isso – Melissa disse num ar de superioridade – e já que estamos todos aqui, podemos jantar juntos, como se fosse Natal. – todos concordaram com a ideia e eu fui para debaixo do chuveiro, sorri.

Capítulo. 13

Nem tudo é o que parece

  Faltavam alguns dias para o recesso das aulas, por causa do Natal, na realidade faltavam uns bons dias, já que estávamos no fim de novembro. e eu estávamos juntos, não oficialmente, é claro, estávamos nos conhecendo e acostumando-nos com a presença do outro. aos poucos ia se aproximando de mim e eu começava a gostar dela, acho que é porque ela sempre me defendia das fofocas do AE e como era influente ninguém continuava com elas, mas logo criavam outras.
   e continuavam os mesmos, mas com algumas diferenças: começou a ficar com uma menina estranha, mas divertida e ? Bom, ele estava gostando de alguém eu sabia disso, o que eu não sabia era o nome dela. Olivia era um caso a parte só brigava com o coitado do Dougie e os integrantes do jornal e eu apartávamos as brigas. Eu ainda almoçava com eles, almoçava conosco e aos poucos ia se afastando do time de futebol e eu não recebia mais bilhetes.

  - Tudo bom ? – Fox se aproximou de mim na aula de educação física – faz tempo que não nos falamos ainda mais agora que você é popular. – ela sorriu.
  - Não sou popular – salientei.
  - Como não? – ela sorriu irônica – está namorando o logo você é tão popular quanto ele. – concluiu.
  - Não ligo pra isso – peguei a bola de vôlei e me encaminhei até a quadra. Sim, a única coisa que eu jogava bem era vôlei. Fox me acompanhou e ia tagarelando o caminho todo.
  - Você está feliz com ele? – sorriu. Ela estava sorridente demais – quer dizer... vocês são tão fofos juntos.
  - Sim, estou feliz – franzi a testa – vamos jogar? – eu queria que aquele papo tivesse fim, não que eu não gostasse dela. Eu só não gostava de ficar falando do meu “relacionamento” com o .
  A aula de educação física transcorreu muito bem, na realidade não era só uma turma que participava dessa aula e sim três, ou seja, muitas turmas reunidas a probabilidade matemática de um desentendimento era maior. A única coisa que eu não calculei foi uma fratura no braço. Enquanto jogava vôlei com outras meninas – que me encaravam, devo salientar – fui cortar uma bola na rede quando Fox veio correndo do fundo da quadra e me empurrou, imagino que para defender a bola, mas sua estratégia de ganhar o ponto fez com que eu levasse a rede para o chão. Fiquei presa na rede e caí em cima do meu braço. Eu era motivo de diversão da aula, Fox pediu mil desculpas, mas meu estado não era um dos melhores para pensar. Josh – sim, aquele que era um dos redatores do jornal veio correndo em minha direção e se prontificou a me levar até a enfermaria.
  - Você está bem? – ele perguntou enquanto me acompanhava até a enfermaria – quer que eu te pegue no colo? – se ofereceu docemente.
  - Estou... Eu acho – meu braço doía – não precisa, o problema é no meu braço e não nas pernas – tentei sorrir, mas não consegui.
  - A Fox foi pra cima de você mesmo – ele comentou quando nos aproximávamos da enfermaria.
  - A bola era minha, mas acho que ela só queria o ponto, mas enfim... Acidentes acontecem. – finalizei.
  - Quer que eu fique aqui com você? – Josh se ofereceu.
  - Não precisa – sorri – garanto que não vou morrer, pode ir para sua aula. – Ele abriu a porta da enfermaria e entrei. Lavieska, a enfermeira russa, a mesma por quem o professor Keane era apaixonado. Ela era linda e loira, seus olhos eram mais claros que o de , eram verdes, contudo seu sotaque era engraçado. Lavieska examinou meu braço e concluiu que eu tinha fraturado nada grave, mas eu precisava engessar.
  - Vou te dar dispensa do resto das suas aulas – Lavieska disse enquanto eu já tentava imaginar o quão ridículo eu ficaria com o braço engessado – não é nada grave, mas precisa cuidar desse seu braço, mocinha. – Lavieska deveria ter uns 28 anos aparentemente, porém falava como uma senhora de vez enquando e eu definitivamente não gostava do “mocinha”.
  - Tudo bem – eu sorri – vou ter que fazer radiografia e engessar o braço, mas não é pior como a aula da Ms. Keener e sua aula de inglês. – ela riu, na verdade gargalhou. Ms. Keener era odiada por todo o colégio, era uma megera, mas outra hora, falarei dela.

  Caminhei até a entrada principal e esperei minha mãe chegar para me levar ao hospital, tinha dispensa e ficaria até o fim do dia em casa, até porque eu ainda estava de castigo, mesmo que meu braço estivesse em condições perfeitas eu ficaria em casa. Eu me preocupava com outra coisa, eu tinha marcado que ia explicar “Magnetismo” ao hoje, mas visto que estou com o braço assim e tomarei algum analgésico será impossível. Avistei o carro da minha mãe, dobrar a esquina e parar na frente do colégio, ela saiu com tanta pressa do carro que nem o desligou.
  - Tudo bem filha? – minha mãe perguntava com a voz aflita ao mesmo tempo, que examinava as faixas que cobriam meu braço esquerdo. – O que aconteceu? Vim o mais rápido que pude. – ela sentou-se ao meu lado.
  - Nada grave mãe. – eu sorri – parece que preciso ir ao médico para engessar, mas nada grave. – dito isso ela levantou-se e me ajudou a levantar, ela já estava mais calma. Abriu a porta do carona para que eu pudesse sentar e fomos até o hospital da cidade, não estava muito cheio, mas minha mãe teve que preencher todos aqueles cansativos e chatos formulários e tive que esperar. Um simpático doutor que atendia pelo nome de Dr. Kinley nos atendeu. Tirei uma radiografia e o resultado foi que eu trinquei o braço e precisaria ficar com o gesso ao menos três semanas.
  - , se acalme – disse o doutor que aparentava ter cerca de uns quarenta anos. Seus cabelos eram grisalhos, porém tinha algo de muito charmoso nele e minha mãe percebeu – três semanas passam muito rápido. – ele sorriu e eu me acalmei.
  - Quais os cuidados que teremos que tomar? – minha mãe perguntou olhando fixamente para o par de olhos castanhos que o Dr. Kinley tinha.
  - Nada de muito especial, só precisamos trocar o gesso toda semana – ele sorriu para minha mãe. É impressão minha ou eu estava sobrando? Ele terminou de nos atender meu braço foi engessado e eu ganhei um pirulito. Quantos anos eles acham que eu tinha? Tudo bem, mesmo com dezesseis anos não parei de gostar de doces, me ofendi um pouco pelo pirulito, mas o residente que colocava o gesso era muito lindo, mesmo.
  Fomos em silencio até em casa, até porque eu tinha tomado um analgésico que dava sono, estava tão sonolenta que não sei como consegui caminhar até meu quarto, só sei que quando lá cheguei dormi e só fui acordar quando percebi que alguém estava sentado na beirada da minha cama.
  - Olá – uma voz que eu conhecia muito bem se manifestou assim que comecei a abrir os olhos.
  - Oi – disse minha voz sonolenta. – desculpa, eu não ter ido até sua casa para te explicar física – tentei me levantar para ficar sentada na cama, mas não consegui. O gesso me impedia.
  - Tudo bem – ele sorriu – só quero que você esteja bem. – ele me ajudou a ficar sentada – e quanto à física, acho que consigo entender bem melhor agora. – ele piscou um olho e eu sorri, ele estava especialmente lindo aquele dia. Não estava calor e já era noite, então ele colocou um casaco xadrez, não gosto de xadrez, mas ele ficava lindo de xadrez.
  - Eu sabia que chegaria um ponto que você não precisaria mais de mim – droga, eu tinha acabado de acordar, minha cara deveria estar amassada e meu cabelo uma revolução só e ele lindo, como sempre. Por que a vida é tão injusta?
  - Eu preciso de você – sua voz saiu mais baixa como se ele estivesse dizendo apenas para ele, mas eu ouvi. – Não ia me explicar “magnetismo” hoje? Então, acho que comecei a entender a partir do momento que nos aproximamos. – ele sorriu e eu corei.
  - Pólo positivo se liga com um pólo negativo? Isso é íman – fixei em seus olhos que hoje estavam mais brilhantes do que a ultima vez que o vi – apesar de ter um campo magnético envolvido.
  - Acho que somos como imanes², pois somos dipolos e por mais que nos dividam ao meio, seremos menores, sim. Mas continuaremos sendo imanes. – ele sorriu após concluir algo que lembro estar escrito no livro de física, porém não com essa conotação romântica.
  - você me surpreende – ele riu e se aproximou de mim selando nossos lábios.
  - Eu sou bom, não? – eu sorri e ele arrumou a franja que caia nos meus olhos – e você é linda.

  Ficamos ainda alguns minutos conversando e ele me fazendo rir com alguma piada enfadonha, minha mãe entrou no quarto e me deu mais um analgésico para a dor, tais analgésicos são tão inconvenientes que começavam a me dar sono, tanto sono que nem vi quando chegou, ficaram Daniel e conversando enquanto eu tentava me manter acordada.
  - Por que não dorme ? – perguntou rindo – ninguém vai fugir não. Tudo bem que está meio grogue, mas a gente ainda ama você. – riu e eu tentei, mas saiu um sorriso fraco.
  - Verdade se aproximou e fez um cafuné na minha cabeça, fechei os olhos – dorme.
  - Tudo bem – eu estava com os olhos fechados e quase dormindo totalmente – afinal, somos o que ? – riu e eu dormi. Apaguei. Não me lembro de mais nada sequer sua resposta se é que ele respondeu.

  Meu quarto estava escuro, acredito que ainda era de madrugada e eu já tinha dormido tanto que meu corpo doía. Obviamente nem e muito menos estavam no meu quarto, então levantei-me na cama com certa dificuldade e fui até a sala, liguei a televisão e assisti a reprise de F.R.I.E.N.D.S. . Gente quem foi o gênio que criou as personagens Phoebe e do Joey? São simplesmente geniais e engraçados, esqueci do meu braço quebrado e relaxei até o sol começar a aparecer. Para diminuir a dor assista F.R.I.E.N.D.S. nada de analgésico que fazem você trocar o dia pela noite.

  - Filha, o que faz acordada? Está com alguma dor? – minha mãe apareceu na sala com cara de sono.
  - Estou sim. – disse já me levantando – esse analgésico que fez com que eu trocasse o dia pela noite – pontuei – bom, vou tomar um banho para ir ao colégio.
  - Tem certeza que vai hoje? Não quer ficar em casa descansando? – minha mãe disse antes de bocejar.
  - Vou sim – respondi animada e minha mãe riu.
  - Por que toda essa animação? Será que tem a ver com aquele garoto bonito que veio te visitar ontem? – minha mãe deu um sorriso malicioso e eu arqueei a sobrancelha.
  - Querida mãe, muitas perguntas para essa hora da manhã – ela riu – estou indo. – me direcionei para meu quarto e peguei meu uniforme com certa dificuldade e parti para o chuveiro. Confesso que foi difícil tomar banho, mas até que me saí bem com essa difícil tarefa, difícil mesmo foi pentear o cabelo e prendê-lo num rabo-de-cavalo, então o deixei solto. Coloquei o uniforme e peguei minha mochila.
  - Tem certeza que não quer que eu te leve? – perguntou minha mãe enquanto eu saía da mesa do café da manhã.
  - Absoluta – mordi mais um pedaço de bolo e fui até a porta – tchau! – saí de casa e me deparei com um com um sorriso lindo, um discutindo sobre alguma coisa idiota com e concordando com a opinião da menina. – O que fazem aqui? – sorri enquanto pegava minha mochila e colocando-a no seu ombro esquerdo.
  - Viemos te acompanhar – disse com um sorriso aberto e exagerado – vamos logo zinha - eu ri, mas eu já estava me acostumando com esse jeito da .
  - Vamos – se pronunciou e torceu o nariz, é , parecia que a discussão não era tão boba assim, mas riu escandalosamente.
  Fomos andando até o colégio, e começaram a discutir os artistas “vendidos”. afirmava que um estilo de uma banda deve sempre permanecer, contudo discordava dizendo que o que importava era a evolução da banda e se fosse necessário mudar de estilo, tudo bem. Enquanto isso Daniel e eu riamos da discussão deles e colocava mais lenha na fogueira.

  Já nos aproximávamos do Albert Einstein, aquele lugar que em poucos meses não seria mais meu colégio, aquele lugar que logo eu me separaria. Aquele lugar que vivi por tanto tempo, certa melancolia começou a transbordar dentro de mim, mas logo os olhares começaram a ocupar o lugar. Já fazia algumas semanas que eu estava “junto” com e as pessoas ainda não tinham se acostumado, nenhuma fofoca se sobressaiu além dessa.
  - Será que essas pessoas não cansam de olhar? – esbravejou – cansa. – bufou.
  - Tenho que concordar com você – afirmou – esse povo é chato mesmo.
  - Não liga – disse pra mim – o que importa é que estamos juntos. –me abraçou de lado.
  - Chega , você é muito brega – disse e e começaram a rir, escandalosamente devo ressaltar.
  - Eu gosto – me pronunciei e fiquei vermelha quando eles começaram a me encarar. – O sinal logo bateu e todos foram para a sala, inclusive nós. Os corredores estavam lotados e eu tentava esconder meu braço, as pessoas poderiam ser trogloditas se quisessem. Essa era a “selva escolar”. No meio de toda essa confusão escolar avistei um cartaz pregado na parede, com certeza era do baile, depois do Natal é claro, era o baile de despedida.

  “Olha que bonitinha, ela está com o braço quebrado. Cansada do , está? Foi muita diversão pra você” - uma menina comentou, mas não pude ver quem era. Entrei na sala atordoada. Porque me tratavam desse jeito? Só por causa de um menino? Eu nunca tinha sido notada por ninguém aqui dentro, de repente todos passam a me observar e falar mal de mim.

  - Quer saber? Cansei – eu gritei no meio do corredor – vocês são idiotas ou o que? – percebi no meio daquela multidão os cabelos louros de – Se vocês querem ser idiotas, por mim tudo bem – bufei – só não falem de mim pelas costas. Ninguém tem coragem de falar olhando nos meus olhos? – esbravejei e percebi se aproximar de mim junto com – Eu definitivamente cansei de um bando de gente falsa, eu cansei de ser julgada por pessoas que sequer sabiam quem eu era. E tudo por quê? – me abraçou – por causa de “castas” estúpidas. Por causa de regras estúpidas. – terminei de falar e mandou cada um ir para sua sala. É, pelo jeito meu discurso tinha sido em vão para .
  - Eu entendo – disse – só tenta não dar mais piti - eu ri – eles são uns chatos, mas são boas essas “castas”, ao menos eles me obedecem. – ela riu e os dois me acompanharam para dentro da sala me ajudando a levar meus materiais. Ótimo, ainda me olhavam, mas simplesmente os ignorei.

  “Já disse que você é muito bonitinha? De verdade cada dia mais você me surpreende. Você tem certeza que conhece o ? LOL.
  Alguém que ainda ama muito você, apesar das suas burradas”.

  Uma menina me passou esse bilhete dobrado, estava escrito com letras grandes: “Para ”, perguntei a ela quem tinha mandado, mas ela não soube responder, apenas disse que estava em sua mesa, então ela me passou. Precisa dizer que pouco prestei atenção no resto da aula? Não. A história dos SAT’s me tirou de todos os meus pensamentos, aquele era outro problema na minha vida, eu precisava ir bem no SAT.

  - Que droga – disse Fox ao meu lado enquanto saiamos da aula de álgebra – não quero fazer essa maldita prova. – ela bufou.
  - É importante para o vestibular – argumentei – e outra, é só estudar – soltei um sorriso.
  - Pra você tudo é muito fácil não é ? – a encarei, sinceramente não entendi o rumo que a conversa estava tomando. – quer dizer... Você tem um namorado bonito, é inteligente e tem amigos – não sei se é meu “namorado”, sou inteligente por que estudo. E quem disse que Fox não tinha amigos?
  - Não fica assim – a olhei com pena – se quiser, sexta iremos todos ao cinema assistir um filme, pode aparecer por lá. – ela abriu um enorme sorriso e eu sorri de volta.
  - Obrigada , você é uma grande amiga – ela me abraçou, mas acabou machucando meu braço – desculpa, foi sem querer. – se desculpou e saiu em direção ao refeitório.

  Cheguei até o refeitório e percebi que Fox conversava com Ricardo, mas não liguei muito até porque Olívia se aproximou tentando me ajudar a comprar a comida. Percebi que dessa vez eu me sentaria em mesa diferente, junto com , , , e Olívia. Preciso quebrar mais vezes o braço.
  - Você está melhor? – Josh perguntou, ele estava na minha frente na fila – e a propósito pode passar na minha frente.
  - Estou sim – sorri – obrigada – agradeci e fiquei na frente dele. Enquanto isso Olívia e Josh discutiam algo sobre a próxima edição do jornal, não me intrometi.
  - O que foi aquele desabafo hoje de manhã? – Olívia finalmente se pronunciou e Josh se aproximou para ouvir minha resposta e apoiou o rosto no ombro de Olívia que sorriu.
  - Estava cansada, todos os dias as pessoas me olhando e cochichando enquanto passo. – desabafei – às vezes cansa. – dei um sorriso fraco.
  - Tudo bem – ela riu – prometemos que nenhuma notinha por menor que seja sairá no jornal. – Josh riu e assentiu.
  - Obrigada. – chegou a nossa vez, escolhi um prato leve e Olívia me ajudou a carregar a bandeja até a mesa em que meus amigos estavam. Dessa vez tirou a cadeira para que eu pudesse sentar enquanto Olívia apoiava a minha bandeja na mesa.
  - Quanta mordomia – comentou – quero quebrar o braço também. – a mesa inteira riu até eu.
  - Deixa de ser idiota – disse e mais gargalhadas foram ouvidas.
  - Vocês perceberam a revolução? – Olívia comentou enquanto cortava um pedaço do seu queijo braço – todos nessa mesa são diferentes.
  - Claro, não sou oxigenada igual você. – debochou e Olívia fingiu rir escandalosamente – mas tem razão, quem sabe todo aquele discurso da começa a dar certo? – riu, mas eu percebi seu olhar se endurecer aos poucos, acompanhei seu olhar e vi que era para Fox que ela olhava com ódio.
  - Olá pessoal – Fox se aproximou sentando ao lado do , eu queria agradecer pelo convite pro cinema, quero dizer que vou sim. – me olhou incrédula e naquele momento duvidei se tinha sido certo ou errado convidar a Fox.
  - A convidou foi? – debochou – que bom, não é? – irônico.
  - Ela é mesmo um amorzinho. – Fox falou. Eu odeio diminutivo.
  - Mais gente para ir ao cinema – cortou o clima pesado e Fox agradeceu com o olhar.
  - Vai ser ótimo – disse entre os dentes e Fox se levantou não sem antes dar um sorriso que mostrava todos seus dentes brancos para menina.

Capítulo. 14

De caso com o inimigo

  Finalmente tinha chego sexta feira, a semana tinha sido realmente estressante para qualquer pobre mortal. e me questionaram a semana inteira sobre o convite que fiz para Fox, mas os ignorei, afinal ela nunca tinha me feito nada e eu não seria mal educada de desconvidá-la, fora isso nada de anormal aconteceu. Ah! Claro, todos estão preocupados demais com o SAT para surtar. Mas não irei falar de problemas, afinal era sexta à noite e minha mãe me deixou sair, estava de castigo ainda, precisava voltar antes das dez, acho que ela se comoveu com o braço quebrado. tinha combinado de passar em casa para irmos juntos, então me arrumei o mais rápido que pude, coloquei uma roupa simples, uma camisa xadrez – é estava me fazendo gostar de xadrez – uma calça preta e um tênis qualquer que achei jogado no quarto. Fiz uma maquiagem quase nula, penteei o cabelo e pronto.

  - Filha, o está te esperando – ouvi minha mãe dizer no andar de baixo e gritei falando que já desceria e foi o que fiz, desci correndo, não sem antes pegar a minha bolsa e carteira. Na pressa que eu estava para encontrá-lo acabei caindo dos dois últimos degraus.
  - Quer quebrar o outro braço? – perguntou enquanto me ajudava a levantar.
  - Acho melhor não. – sorri. Afinal, porque eu era tão desajeitada?
  - Vamos? – ele deu o seu braço e fomos até o carro dele. Por que eu não tinha meu próprio carro? tinha o próprio carro. Fomos escutando uma musica do Jhonny Cash no caminho e percebi que parou em uma rua que nem de longe era perto do shopping.
  - Ué, por que estamos aqui? – ele parou em frente a uma casa branca e muito grande, com um jardim muito bonito na frente.
  - A Fox me ligou falando que o carro dela está quebrado. – ele disse e eu o olhei, pensei que iríamos sozinhos – não tem problema, tem? – ele olhou diretamente em meus olhos. Eu não conseguia negar nada a ele.
  - Não – sorri fraco – eu a convidei, não? – droga, eu realmente queria ir sozinha com ele, não ficávamos sozinhos desde... Desde que quebrei o braço.

  Durante o restante do trajeto Fox foi tagarelando algo sobre como era importante confiar nas pessoas que nos cercam, e como e eu éramos realmente fofos juntos, tentei sorrir e começar a falar, mas cada vez que eu tentava, ela me cortava fazendo algum comentário de como estava bonito naquele dia ou como ele dirigia bem ou como era sortuda em tê-lo ao meu lado, estava começando a me irritar. Tudo bem que queria ter amigos, mas eu enrijecia cada vez mais no banco do carro, teve uma hora que eu já não falava mais, mas ela parece nem ter notado. Chegamos ao shopping e sai imediatamente do carro, avistei e conversando na entrada e praticamente corri até eles.
  - O que aconteceu? – debochava da minha cara afobada – Ah! Não, ela veio com vocês? – comentou vendo que Fox saía do carro.
  - Ela não quer tentar ser mais inconveniente não? – comentou enquanto tentava com que não xingasse a Fox.
  - Ela é uma vaca isso sim. – abraçou de lado fortemente e a menina sorriu, até que entendi o porquê e Fox se aproximaram de nós.
  - O que aconteceu zinha? Saiu correndo do carro. – tento acreditar que ela não disse isso ironicamente.
  - É, amor eu ia te ajudar. – se aproximou de mim e deu um beijo na minha bochecha e me abraçou. – onde estão e Olívia? – ele perguntou enquanto ainda estávamos abraçados.
  - São dois lerdos – comentou se soltando de – a Olívia é sua irmã, porque não a trouxe?
  - Ela falou que viria direto do colégio para cá –deu de ombros – já deve estar chegando.
  - Então vamos comprar os ingressos antes que percamos a sessão. – disse e todos nos encaminhamos até a bilheteria, porém ela me segurou e fomos caminhando mais lentamente do que o resto. – a cuidado com essa menina – se referia a Fox – eu não confio nela, é falsa e não olha nos olhos. Ela é bonita e quer o . – ela concluiu antes de caminhar até os meninos e tirar Fox do lado de . Quer saber? Era eu quem deveria estar os separando. Andei o mais rápido que pude e fiquei do lado dele, acho que ele estranhou, pois nunca era eu quem demonstrava algum sentimento ou carinho, mas acho que gostou, pois fomos caminhando juntos nos distanciando do resto do grupo. Percebi que mais a frente Fox estava isolada, pois e brincavam ou brigavam nunca soube ao certo.

  Não sabia que um cinema numa sexta feira a noite poderia ser tão estressante, pela diversidade e do grupo heterogêneo foi difícil a escolha do filme, uns queriam terror, outros não gostavam de terror e resto – vulgo Olívia – queria ver um documentário. Eu estava alheia a qualquer discussão, não me importava qual filme ver o que mais estava gostando mesmo era de estar com meus amigos. Era bem verdade que não gostava da , mas nos últimos dias ela se mostrou diferente de tudo aquilo que eu conhecia, não cheguei a perguntar se ela me tratava bem apenas por ser amiga do , mas ela parecia ser junto com o os dois mais sensatos, aqueles que me davam conselhos certeiros. Apesar de achar que Fox não era esse perigo todo eu confiava em . A menina dos olhos e cabelos pretos poderia até gostar do , mas ela nunca o tiraria de mim.
  - Afinal que filme vamos ver? – Olívia perguntou nervosa.
  - Eu quero assistir Terror – pronunciou-se Dougie, sim ela tinha levado o menino novo do jornal.
  - Terror eu não gosto – disse com uma voz afetada fazendo todos rirem.
  - Por mim qualquer filme está bom. – e eu dissemos ao mesmo tempo.
  Depois de mais vinte minutos de discussão e outros vinte minutos da conclusão da discussão decidimos ver um suspense – De caso com o inimigo. O nome remetia a algum filme trash de terror, mas demos uma chance, pois a atendente da bilheteria disse que era bom. Compramos pipoca e todas as tranqueiras que se compra quando se vai ao cinema. e eu obviamente ficamos juntos, seguidos por Olívia, , Dougie, e . Quando olho para o lado à procura de Fox a percebo do lado de . Tudo bem, eu não estou com ciúmes e vou ser forte. Ok, EU ESTOU COM CIÚMES SIM, olhei com um olhar raivoso para que riu.
  - O que foi? – ele sussurrou em meu ouvido e por segundos esqueci o que iria falar.
  - Não gosto da Fox do seu lado. – sim, sei que sou mimada. E sim, ele riu.
  - Por quê? – ele continua a me provocar, dessa vez mordendo minha orelha – foi você quem convidou ela.
  - Sim, mas não gosto do jeito que ela olha pra você. – minha voz saiu baixa e afetada. De verdade eu estava ficando louca naquele cinema, o que era essencialmente perigoso.
  - Troca de lugar comigo. – eu ri e o tirei do meu pescoço devagar e troquei de lugar, dei meu sorriso mais cínico para Fox e o filme começou. Entrelacei minhas mãos nas de que a massageou com o polegar boa parte daquele filme idiota. Sim, eu estava com raiva.

  O filme não era muita coisa, a história girava em torno de um homem de negócios que está prestes a fechar o acordo de sua vida, porém ele conhece uma mulher que é extremamente sedutora e precisa confrontar-se com os segredos do passo. Durante o filme cheguei a alguma conclusões, por que os homens são tão facilmente pegos por um par de seios fartos e pernas bonitas? Eu tinha noção que o argumento principal sempre seria: “Ah! É de a natureza masculina trair. É difícil um homem ser fiel.” Eu queria acreditar com todas as minhas forças que não, nada disso era verdade e que se um homem amasse de verdade ele jamais trairia.
  - Gostou do filme? – os créditos começavam a subir e sussurrou no meu ouvido.
  - Clichê – sorri – sabe como é, uma mulher bonita muda tudo, sempre. – ele riu.
  - Nem sempre – piscou pra mim e começou a conversar com o .

  Saímos da sala de cinema assim que vimos que a passagem já estava livre, pois pelo visto toda a cidade tinha decidido ir ao cinema numa sexta feira à noite. Misteriosamente e estavam se dando bem e até riam juntos, aquilo me deixava... Hum... Estranha. Não que eu nunca tivesse visto uma menina com , na verdade já vi algumas, mas ver e juntos era estranho, quer dizer, ela nunca foi o tipo dele, ela era loira com os olhos bem e media aproximente um metro e oitenta centímetros, seria facilmente modelo se ela quisesse, mas se não bastasse ela era inteligente, porém um pouco fútil e sabia aproveitar sua popularidade para obter regalias. Se bem que eu nos últimos dias tinha aproveitado sua popularidade para me livrar de algumas fofocas.
  - Achei meio tosco o filme – Olívia comentou e só riu, na verdade eu não tinha entendido o motivo.
  - Só porque a atriz era gata, você nunca gosta de filmes em que as atrizes são bonitas. – concordou.
  - Oh! Docinho, não se preocupe com isso, você é bonita do jeito que é. – Fox comentou com uma voz extremamente doce, tão doce que dava enjoo.
  - É, todos sabemos – a cortou – o que faremos agora?
  - Vocês eu não sei, mas eu tenho que estar em casa às 10. – sorri em sinal de desculpa olhando o relógio que já marcavam nove e meia – sinto muito.
  - Tudo bem eu te levo – se prontificou.
  - Docinho se referiu à Fox – pode deixar que o e eu a levamos – a cutucou e fez cara feia – sabe como é, deixar o casal em paz. – , Olívia e Dougie pareceram achar graça, pois se retiraram para comprar um sorvete e desabaram na risada, observei quando os vi comprar algo num quiosque não tão distante.
  - Então, até mais pessoal – me despedi e segui até seu carro.

  Durante boa parte do trajeto fomos escutando “Always” do Bon Jovi, uma música triste que dizia que ele sempre a iria amar e com um toque de drama em alguns versos como são comuns em músicas de amor. “Este Romeu está sangrando, mas você não pode ver seu sangue. São alguns sentimentos que esse sujeito jogou fora”.
  - Não sabia que gostava tanto de Bon Jovi – disse ao me ouvir cantando alguns versos do refrão.
  - Você tem um bom gosto musical. – eu sorri – gosta de Smiths e Bon Jovi, acho que podemos dar certo. – ele parou o carro. Será que eu disse algo errado.
  - Você acha mesmo? – enrijeci no banco ao perceber sua testa franzida e seus olhos fixos nos meus.
  - Talvez – minha voz saiu falhada e ele simplesmente me beijou. Um beijo que nunca senti igual. Beijou-me como nenhum garoto ousaria fazer, pois não era inocente, era fugaz, sensual. Segurou-me pelos pulsos e não me deu escolha ao não ser abrir a boca e permitir que sua língua entrasse aos poucos sua mão foi se afrouxando e pude soltar minhas mãos que logo foram parar em sua nuca. Aquilo estava insuportável até pra mim, eu sentia que eu precisava de mais, tanto que meu coração parecia explodir e a qualquer momento eu teria uma parada cardíaca. Seus cabelos já estavam revirados e sinto que os meus estavam no mesmo estado, ele soltou meu cinto de segurança e me colocou não sei como em seu colo. Estávamos tão afobados que não percebemos quando um policial parou atrás de nós com a sirene ligada, só fomos notar sua presença quando ele bateu no vidro.
  - Posso saber o que está acontecendo? – O policial perguntou a depois que o vidro foi baixado. Eu já estava no meu banco extremamente ofegante e tentava ajeitar meus cabelos.
  - Nada demais. – ele respondeu. Pelo visto não era só a mim que faltava ar.
  - Sei bem – o policial riu – acho melhor vocês irem para a casa. Eu só preciso dos seus documentos. – os entregou e o policial conferiu no banco de dados da delegacia.
  - Estão liberados – o policial sinalizou – mas acho melhor vocês voltarem para casa. – ele riu e o agradeceu. Sinceramente, a última coisa que eu precisava era ser presa.
  - Acho melhor seguirmos o conselho dele – eu disse ainda ofegante, porém mais calma. riu e assentiu.
  - Desculpa. – ele olhou nos meus olhos e se aproximou para me dar um beijo, mas o afastei.
  - Não – ele continuava perto e me olhando – eu não posso te olhar sem sentir vontade de te beijar e se começarmos a nos beijar de novo... – eu ia concluir, mas essa frase não pareceu legal – quer dizer, eu não quero ser presa.
  Se não fosse cômico seria trágico, acho que o ditado diz ao contrario “Se não fosse trágico seria cômico”, mas nunca fui boa com ditados mesmo, então não importa mesmo. O que eu sabia naquele momento é que eu precisava pensar em algo diferente de . Ok. Gauss, sim, ele escreveu um teorema nomeado obviamente de Teorema de Gauss, esse teorema se refere ao fluxo através de uma superfície fechada, no caso em que o campo elétrico é produzido por cargas colocadas no interior da superfície. Gauss era bem romântico não? Por exemplo, o campo elétrico que podemos chamar de - desejo - tem certo fluxo por uma superfície fechada que podemos chamar de – corpo – e esse campo elétrico é produzido por cargas – sentimentos – no interior da superfície – sujeito. Ou seja, O fluxo do desejo em nosso corpo é produzido por sentimentos que estão em nós. Muito bonito e romântico, mas isso não me ajudava a esquecer... Você sabe o que. Estávamos quase chegando em casa e eu sequer tinha voltado a olhá-lo, só voltamos a nos falar quando ele parou em frente a minha casa.
  - Você vai assistir a meu jogo no próximo final de semana – ele sorria, mesmo sem ver eu sabia que ele estava sorrindo.
  - Claro – assenti, mas não o olhava ainda.
  - É tão difícil me olhar? – ele virou meu rosto e vi aqueles olhos cor de céu.
  - Um pouco – estremeci.
  - Te adoro, sabia? – ele riu e me deu um selinho – vai ao jogo?
  - Claro – eu sorri – não deixaria de ver o jogar. – ele riu ironicamente – você também é óbvio, só não sou acostumada... A ser fofa, sabe como é.
  - Sei – ele me deu um beijo e nos despedimos. É aquela noite havia sido longa.

  Entrei em casa com o relógio marcando exatamente dez e quinze da noite. Quinze minutos não seria um problema, certo? Errado. Minha mãe já me esperava no sofá da sala com um semblante... Diferente.
  - Aproveitou o cinema? – ela disse enquanto diminuía o som da televisão que passava um documentário sobre os pássaros ciganos – não que sejam ciganos, mas migram.
  - Sim, o filme era ruim, mas foi legal – sorri e sentei-me ao seu lado.
  - Chegou quinze minutos atrasada. – comentou.
  - O trânsito – tecnicamente não menti, afinal tínhamos pego um tráfego complicado para chegarmos em casa, mas antes disso o fluxo de informação entre mim e o estava muito mais complicado.
  - Sei – ela sorriu de lado como se soubesse de algo – veio com o ?
  - Sim, ele me trouxe. – comentei e fixei meus olhos para a televisão.
  - Sozinhos? – Droga, ela sabia de alguma coisa.
  - Sim. – respondi, simples assim.
  - Entendi o trânsito. – dito isso ela riu e pude sentir minha face ficar vermelha.
  - Tudo bem – ela sorriu – não quero comentar sobre isso.
  - Já tive a sua idade filha – ela disse compreensiva – sei como as coisas funcionam e sei que às vezes elas podem acontecer rápidas demais, só quero que tenha a cabeça no lugar e consciência para ar as decisões certas. – ela sorriu e me puxou para um cafuné.
  - Eu terei. – eu sorri, pois fazia tempo que não tínhamos uma conversa assim. Ultimamente as coisas tem andado complicadas tanto para uma quanto para outra. Nem com Florida eu tinha tempo de conversar, estava sem referência feminina e eu sentia falta disso, nunca fui de expor meus sentimentos, mas desde que entrou em minha vida as coisas, sentimentos e sensações explodiam dentro de mim e eu não sabia como lidar com elas.
  - Semana que vem teremos um jantar na casa do seu pai e da Florida – ela comentou enquanto víamos um filme dos anos 60. – Por que não chama o ? Seria bom conhecermos seu namorado formalmente. – Hã? Eu nem sabíamos se éramos namorados, ultimamente aquilo estava martelando a minha cabeça.
  - Semana que vem ele tem um jogo importante. – sorri ao lembrar o fato, dava para fugir desse jantar em família.
  - Depois do jogo vocês vão, ué. – ela comentou com uma facilidade e voltamos a assistir o filme, ao menos minha mãe, pois minha cabeça estava em outro lugar.

Capítulo. 15

Eletrização por Atrito

  A física nos ensina que quando dois corpos são atritados ambos se eletrizam, um positivamente e o outro negativamente. Era o que tinha acontecido naquela semana, Fox e eu tínhamos entrado em atrito por um motivo... Na verdade não gosto de lembrar, o caso é: ela saiu com a carga positiva, enquanto eu, derrotada, saí com a carga negativa, porém a mesma física que fez com que eu saísse derrotada teve a decência de redimir-se, afinal nem toda vez que um corpo se atrita com um objeto ele sai com carga positiva.

  Dois dias antes

  O tempo estava ensolarado naquela bonita tarde de quinta feira, já tinha me mandado uma mensagem no celular que na quarta feira Fox aproximou-se de forma assustadora de e eles fariam um trabalho de artes juntos e que ela praticamente se jogou em cima dele. Eu conhecia , mas sei que apesar de exagerada ela não mentiria para mim, não naquele momento, não quando ela tinha confessado que sempre foi apaixonada por e eu decidira ajudá-la a conquistar aquele nerd.
  - Eu não acredito nisso – caminhávamos , e eu pelo pátio do colégio durante o almoço, não havia muitas pessoas, afinal era horário de almoço.
  - Acredite . Eu vi com os meus próprios olhos – disse – desde sempre eu soube que aquela... – ela olhou para que a repreendeu com o olhar – enfim, ela quer roubar o de você.
  - É, tenho que concordar com a . Não consigo confiar nela. – disse e cada vez mais eu entrava em desespero.
  - O que eu faço? – disse com a voz chorosa – não tenho provas que ela o quer. – bufei – e afinal de contas, nem sei que tipo de relacionamento tenho com .
  - Queridinha disse debochando – amigos que vocês não são, amigos quase não se comem dentro de um carro. – EU SABIA QUE ELE TINHA CONTADO PRA ELA, tudo bem eu contei para o também.
  - Tenho que concordar mais uma vez com ela. – ele riu – e estou cansando de concordar com você – ele apontou para – os meus conselhos deveriam servir e não os seus.
  - Então aconselha o seu amiguinho a pedir sua melhor amiga em namoro logo – ela sorriu. É, parece que eu tinha ficado invisível.
  - Ele é seu melhor amigo, pede você. – franziu a testa e abaixou os ombros.
  - Tudo bem – bufei – depois vocês discutem. Quem está em crise sou eu. – disse derrotada.
  - Verdade – riu – Por que você não o pede em namoro? – ele sugeriu e eu franzi a testa.
  - Sim, ela pode o pedir, mas antes o que faremos com a Fox? – disse como se fossemos uma gangue prestes a acabar com o bandido, no caso a bandida.
  - Por que você não os acompanha no trabalho? – sugeriu.
  - Concordo com ele – os dois riram – você diz que vai os ajudar, mas usa um semblante e uma voz cínica como se você já tivesse notado o jogo dela. – nós três rimos.
  - Acho que pode funcionar. – eu ri – não sei ser má.
  - Precisa aprender – disse me chacoalhando – ela não pode roubar o que é seu.

  Conversamos mais alguns minutos até o sinal indicando o fim do horário do almoço soar. Corri até o campo de treino dos meninos, afinal faltavam apenas dois dias para que o time jogasse o jogo mais importante da temporada, sentei-me na arquibancada e vi o treino começar. De início treinavam apenas ataque-defesa, mas logo outros fundamentos foram incluídos, o treino acontecia normalmente até que senti alguém sentar ao meu lado na arquibancada.
  - Oi – ela sorriu e notei seus olhos penetrantes.
  - Oi – respondi seca.
  - Veio acompanhar o treino. – ela sorriu e eu apenas assenti – eu estou esperando o sair para começarmos o trabalho de artes.
  - Jura? – respondi cínica – é, eu decidi que vou ajudá-los, não tenho nada para fazer em casa. – eu sorri e vi olhar com descrença para Fox ao meu lado.
  - Não precisa – Fox respondeu – conseguimos fazer sozinhos.
  - Eu gosto de ajudar. – forcei meu melhor sorriso – assim terminamos mais rápido e você pode ficar livre logo. – ela me olhou com um olhar de ódio, mas sorriu.
  - Você é ótima – ela respondeu – não é por acaso que o gosta de você.
  O treino teve fim e vimos os meninos se direcionarem até o vestiário, quinze minutos depois se aproximou de nós e me deu um selinho.
  - Não sabia que ia me esperar. – comentou com um sorriso no rosto.
  - Decidi depois do almoço mesmo – eu sorri – vou ajudar vocês no trabalho de artes. me contou que era complicado, acho que posso ser útil. – levantei-me e peguei minha mochila.
  - Você sempre é útil. – ele sorriu como se soubesse de algo. Algo tipo... Meus ciúmes. – gostaremos de sua ilustre presença, não é Fox?
  - Claro – Fox se limitou apenas a dar um tímido sorriso.

  Fomos os três no carro do , diferente do que tinha dito eu não senti uma nuvem pesada sobre a minha cabeça, pelo contrário eu começara a sentir um ódio de Fox e eu nem sabia o motivo. Eu sabia que e não gostavam dela, mas na realidade ele nunca tinha feito nada contra mim, tudo bem que faria um trabalho com , mas isso não significava um interesse efetivo. Ele parou o carro e disse que Fox poderia entrar em sua casa e quando fui sair do carro ele me segurou.
  - Ciúmes? – ele perguntou com um sorriso torto nos lábios.
  - Por que acha que estou com ciúmes? – retruquei.
  - Me pareceu. Raramente você assiste meus treinos – não era tão mentira assim, eu tinha ido três ou quatro vezes. – e hoje, justo hoje que vou fazer trabalho com a Fox você me esperou e decidiu nos ajudar.
  - Achei que precisassem de ajuda – me justifiquei – mas se quer que eu vá embora, tudo bem, posso deixar vocês sozinhos. – eu me virei para o para-brisa e não o encarei mais.
  - Ciumenta – ele sussurrou no meu ouvido. – gostei.
  - Eu não estou com ciúmes. – respondi entre os dentes.
  - Tudo bem – ele se afastou – mas fica tranquila, a Fox não pode atrapalhar o que temos. – ele sorriu e era hora de perguntar.
  - E o que temos? – eu voltei a encará-lo e percebi que ele me olhava com dúvida.
  - Nós somos... – ele não conseguia responder – não sei.
  - Ótimo. – saí do carro em direção a entrada de sua casa, por mais que eu não tivesse gostado da resposta eu ainda não estava tão irritada para deixá-los sozinhos. Ele me seguiu e entramos, seguimos até seu quarto em que Fox já adiantava o trabalho. O trabalho basicamente era criar um país com direito a bandeira, história e hino.
Enquanto Fox criava a bandeira e inventava a história eu escrevi algo que achei útil para o hino, enquanto Daniel foi buscar um copo d’água ficamos somente Fox e eu naquele quarto.
  - Vocês estão namorando? – Fox perguntou me tirando de um momento criativo.
  - Não – apenas respondi.
  - Que pena – ela foi cínica – então posso investir. Certo? – HÃ?
  - O quê? – ela era idiota ou o que?
  - O que você ouviu garota. Eu cansei de ser boazinha com você, cansei de fingir que sou. Eu não gosto de você. Eu quero o pra mim e vou ter. – ela sorriu e voltou a pintar a bandeira.
  - Sinto muito – lembrei-me do conselho da sobre ser má – O que ele tem comigo ele nunca terá com você. – eu sorri e voltei a me concentrar, pelo menos fingi que sim.
  - O quê? – ela fingiu uma gargalhada – tudo o que ele tem com você é monotonia. Vocês nem namoram.
  - Por enquanto – respondi – o que ele teria com você?
  - Tudo – ela disse com um sorriso nos lábios – tudo o que ele não tem com você. Olha pra você, é ridícula, acho que nunca usou uma saia, só essas calças surradas, essas camisetas de banda desconhecida. Não sabe sequer o que é um salto. – finalizou e eu me senti um caco, tudo bem que eu não era a garota mais bonita do mundo, mas nunca eu tinha ouvido aquelas palavras nem mesmo quando me humilhava.
  - Você não sabe o que diz – meus olhos começavam a ficar quentes e a qualquer momento as primeiras lágrimas caírem. – não sabe.
  - Você é tão idiota que nem sabe se defender – eu me levantei e dei um tapa no rosto dela com toda a força que habitava em meu ser, naquele mesmo momento abriu a porta e viu a cena. Ele me olhou descrente da minha atitude e eu me limitei a sair daquele quarto, esbarrei com Olívia, mas não expliquei nada. Ele não correu atrás de mim. Saí sozinha daquela casa e me odiei por ter tomado alguma atitude, da rua eu vi a janela do quarto de Daniel acesa. Eles estavam abraçados. E eu fui, fui para minha casa, fui para o meu quarto com a sensação de ser a maior idiota do mundo.

  Entrei em meu quarto sequer tomei banho me joguei na cama e não consegui mais segurar as lágrimas que teimavam em sair. Chorei, chorei tanto que cheguei a soluçar. Eu tinha raiva de Fox, eu tinha raiva do por não ter vindo atrás de mim, eu tinha raiva de ser tão estúpida e fraca por ter fugido e caído no jogo da Fox. Eu tinha raiva por não ser tão forte como e .
  - Me deixa entrar, por favor. – sua voz indicava súplica do lado de fora do meu quarto, mas eu não estava preparada para vê-lo.
  - Não – minha voz ainda soava chorosa. – por favor.
  - Me deixa entender.
  - Não consigo , não sei se posso ver você. – ele riu. Ele sempre ria, parecia que não me levava a sério.
  - O que ela te fez? – ouvi algo mais parecia que ele tinha sentado no corredor.
  - E se eu que fiz alguma coisa? E se fui eu quem a provocou? – questionei.
  - Eu sei que foi ela que fez alguma coisa, você não bateria de graça. – ele respondeu.
  - E porque a abraçou? – eu ainda soluçava.
  - Ela me abraçou – ele respondeu – , por favor, abra a porta. – ele se levantou eu pude ouvir. Toquei a maçaneta da porta esperando a coragem aparecer e apareceu, levemente e destranquei a porta. O vi encostado na parede do corredor, assim que ele me viu ele me abraçou, eu não retribuí.
  - O que foi? – ele me soltou e me olhou com aquele mesmo par de olhos que me hipnotizavam, porém dessa vez eu me segurei para não cair na tentação de agarrá-lo.
  - Não sei. Você acredita em mim, mas isso muito estranho. – respondi e ele me guiou até a minha cama e nós sentamos.
  - Não te entendo . Conta-me o que aconteceu. – segurou-me pelos ombros.
  - Ela disse a verdade – desviei de seus olhos – sou sem graça, sem sal, não sirvo pra você. Ela é bem melhor que eu. Ela disse que o teria, não duvido disso.
  - Você duvida da minha fidelidade? – ele me perguntou incrédulo – não me diz isso .
  - Fidelidade? Sequer temos um compromisso! – eu ri cínica – você não me deve fidelidade alguma.
  - Você não é fiel a mim? Por que eu sou fiel a você. Sou fiel ao que sinto por você. – ele pegou meu rosto e fez com que eu olhasse para ele. – Pra mim você não é sem graça sequer sem sal, ela não é melhor do que você. E não ter nada formalizado não significa que somos livres. – finalizou e eu estava quase dissolvendo sem seus braços.
  - Eu tenho medo de te perder. – confessei. Nunca imaginei que diria isso a alguém um dia, nunca imaginei que me exporia tanto para ele.
  - Não vai – ele me abraçou e beijou o topo da minha cabeça. Limpei as lágrimas que saiam dos meus olhos com a manga do mole que eu usava. – lembra que uma vez eu disse que choro de desespero se limpa com a manga? – eu me virei para olhá-lo e assenti – não fique tão triste.
  - Tudo bem. – o puxei para deitar na cama junto comigo e ficamos alguns minutos assim. Em silêncio. Pensei em como me apresentei tão frágil para , nem perto do eu chorava, ele que era meu amigo, ele que era meu confidente. Eu nunca me apresentei tão frágil pra ninguém. Por que todas aquelas explosões de sentimentos surgiam em sua presença?
  - Quer namorar comigo? – fazia cafuné na minha cabeça. Virei-me para ele e vi seu sorriso torto e seus olhos mais claros do que nunca.

  - Eu... – eu gaguejei e ele sorriu. Incrível como isso era recorrente. – quero.
  - O quê? – ele voltou a perguntar – o que você disse?
  - Eu quero namorar você. – respondi – com você eu não quero, afinal poderíamos ser três ou mais. O certo seria: Você quer me nam... – eu ia concluir minha explicação quando fui surpreendida por um beijo. Um beijo intenso. Um beijo dele... Um beijo nosso.
  - Você fala demais – eu ri – bastava dizer: aceito. – ele sorriu e ficou me encarando.
  - O que foi? – eu deveria estar com os olhos inchados, não só os olhos, mas sim todo meu rosto, ou seja, horrível.
  - Estou pensando em como minha namorada é linda – eu sorri.
  - Linda? Estou com esse mole velho, com essa calça surrada e esse all star que não tenho a capacidade de precisar sua idade. – nós rimos. Ainda estávamos deitados na minha cama – e sem contar essa cara inchada.
  - Linda – finalizou – eu gosto de você assim.
  Liguei a televisão e ficamos assistindo um reality show musical em que pessoas que se julgavam talentosas disputavam a gravação de um cd. Era parecido com American Idol, contudo era enfadonho. Rimos de alguns candidatos e trocamos alguns beijos.

  Logo depois minha mãe chegou e convidou para jantar conosco, ele disse para deixar para outra hora, pois não tinha avisado ninguém onde estava, minha mãe achou estranho e começou o questionário assim que ele saiu, contei toda a história.
  - Que piranha. – minha mãe disse em relação à Fox.
  - Pois é, mas acho que foi bom, pelo menos sei que tipo de relacionamento e eu temos. – sorri e sentei-me a espera de uma gororoba que minha mãe havia feito.
  - a cuidado com essa menina – alertou – se afasta dela.
  - Óbvio, não quero mais vê-la. – pontuei – o pior é que ainda falta algum tempo para as aulas acabarem.
  - Falando nisso – ela pausou – já sabe a faculdade que vai fazer?
  - Não sei, eu estava pensando em algo na Califórnia ou Eugene. – aquilo me deixava com um nó na garganta. Ir para a faculdade significava afastar-me das pessoas que eu mais amava, a não ser que eu ficasse em Dallas e fizesse faculdade lá mesmo, mas eu sabia que a maioria dos meus amigos sairia de Dallas e iria para outra cidade, talvez Nova Iorque, talvez Califórnia ou até Nova Jérsei.
  - Está preparada para isso? – ela sentou-se à mesa junto comigo.
  - Acho que não – tentei sorrir – não sei se conseguirei me afastar deles.
  - Do ? – ela ergueu a sobrancelha.
  - O , . – eu ri – incrível como eu a odiava e tudo que eu queria era me afastar daqui, mas ela se mostrou uma grande amiga esses dias e sei que sentirei saudades dela quando eu for. – lamentei – Se eu for.
  - Você vai, sabe que a faculdade é muito importante para seu pai – alertou – e sempre quis isso que eu sei. Sempre quis ser uma grande cientista. – eu sorri. Era verdade, eu sempre quis ser uma grande cientista, mas ultimamente definir uma carreira para a vida estava sendo difícil.
  - É, isso está em reformulação, não sei ao certo a carreira, mas farei uma faculdade. – ela riu e eu a acompanhei, mas aquilo ainda me deixava em nervos.

  Sábado
  Dia do jogo.
  Dia do jantar.
  Dia que eu levaria um namorado se apresentaria oficialmente para minha família.

Capítulo. 16

Jogos

  Era sábado. Era o dia mais importante para o meu namorado, afinal seria a final do campeonato intercolegial de futebol. O dia estava ensolarado e até arrisquei e coloquei um vestido longo que segundo minha mãe parecia um vestido hippie só por ter alguns detalhes de flores raras e ser realmente e especialmente longo, calcei uma rasteirinha e me apressei para chegar até o colégio antes de o jogo começar.
  - Animada? – estava eufórica na arquibancada, talvez por jogar no time titular, pois o Kevin, meio campista tinha se machucado.
  - Não mais que você – ri e ela finalmente sentou-se ao meu lado.
  - Conte-me tudo, depois daquele dia a Fox nunca mais falou nada? – não sabia se ela ficava mais eufórica com a possibilidade do entrar em campo ou de ouvir uma fofoca.
  - Não falou mais nada. Ela inclusive se afastou do – ela estreitou os olhos – parece que agora ela está mais próxima do Ricardo.
  - O seu ex-namorado? – assenti – essa menina tem inveja de você isso sim – eu ia responder, mas na mesma hora o time do AE entrou em campo e me puxou para que juntas pudéssemos pular e animar o time. poderia ser uma cheerleader, ela até já foi, mas desistiu de usar saias e top’s na frente de todo o colégio.
  - Vamos ganhar. – gritava e eu observei rindo enquanto estavam todos perfilados. Eu acho que eu gostaria de vê-los juntos.
  O jogo se iniciou logo após a execução do hino nacional. Engraçado, mas por mais que a cerimônia não seja formal o hino americano é executado, em toda e qualquer competição, creio que até em disputas de soletrar. O jogo começou com um ataque do time do colégio Hoosley, o número 4 partiu pelo meio do campo e seguiu em direção ao gol, porém nosso zagueiro estava atento e impediu que ele concluísse a jogada. Os primeiros quinze minutos foram assim, o time de fora atacando e nós defendendo.
  - Não estou gostando desse jogo. – comentou logo após do seu interminável ciclo de gritos para animar o time.
  - Nem eu – estava com os olhos vidrados no campo – a gente não ataca. – logo após aproveitou a falha de passe do time adversário e ou a bola no meio do campo, passou para que passou para um ilustre desconhecido que marcou um gol. Os meninos correram e começaram a se abraçar.
  - GOL – gritava, na realidade por tudo ela gritava. No momento do gol ela soltou toda a voz que seria possível para um ser humano, mas até eu nesse momento fiquei extasiada, nunca tinha ido aos jogos do time de futebol da escola.
  Faltavam quinze minutos para o término do primeiro tempo quando vejo Ricardo e Fox sentarem dois bancos na frente de onde estávamos. Conversavam, na realidade cochichavam algo que não pude distinguir o que era, afinal além dos gritos de a torcida inteira tinha sido contagiada pelo primeiro gol.
  - O que esses dois estão fazendo aqui? – sentou-se ao meu lado quando o juiz finalmente apitou o fim do primeiro tempo.
  - Não faço a mínima ideia. – ignorei, ao menos tentei. – só quero pensar no jantar de hoje. – ela sorriu animada.
  - Verdade, o me contou – eu ainda não tinha me acostumado com a ideia de ela ser a melhor amiga dele, por mais que começasse a ser minha amiga também. – ele está morrendo de medo – eu ri, afinal ele já conhecia a minha família. – É verdade, ele me pediu conselho para escolher a roupa, o que falar. Tudo. Está histérico, por mais que não pareça.
  - Não tem motivos, ele sabe disso. – ela assentiu.

  Quinze minutos e o intervalo do jogo teve seu fim. O time retornou ao campo sem nenhuma modificação. Os primeiros minutos começaram disputados, diferente do começo do primeiro tempo, em cinco minutos o time adversário fez um gol. Dois a um era um placar perigoso, e todos sabiam disso, mas como parecia não ligar muito marcou seu gol e me ofereceu, ao menos foi o que entendi, pois ele apontou para mim e me mandou um beijo, senti meu rosto corar e todas as pessoas na arquibancada começaram a olhar pra mim. Senti-me como no dia em que cheguei com no colégio, porém os olhares eram diferentes, não eram de surpresa e sim de carinho, ao menos dos adultos ali presentes, só duas pessoas olharam-me com indiferença e você já deve imaginar quem eram.
  - PEGA ESSA BOLA. – esbravejava. Tínhamos dois gols de diferença, mas queria mais.
  - Calma. – Olívia apareceu e sentou-se ao nosso lado – Estamos ganhando – ela riu.
  - Ainda faltam trinta minutos. – disse sem tirar os olhos claros do campo – Precisamos garantir o resultado.    esbravejava, Olivia ria da cena e eu prestava atenção no meu namorado. Ele estava lindo, apesar de suado, seus cabelos desgrenhados estavam molhados caiam perfeitamente pelo seu rosto. E aquele uniforme parecia justo em seu corpo. Lindo.
  - Para de babar – Olívia riu – a se acaba de gritar e você baba no meu irmão.
  - É inevitável – nós duas começamos a rir juntas e nem percebemos quando alguém se aproximou e sentou-se perto de nós.
  - Preciso falar com você. – era Ricardo. Seu semblante era calmo.
  - Agora? – eu não poderia sair do jogo. Ele assentiu. – O que pode ser tão sério. Pode falar aqui mesmo, não posso sair do jogo. – ele bufou.
  - É urgente – Olívia riu e ele a olhou com raiva – não posso falar aqui.
  - Não vou sair – seu olhar de ódio começou a ser direcionado a mim também. Até que estava entretida no jogo percebeu algo diferente e cochichou algo com Olívia – Se quiser falar algo vai ter que ser aqui.
  - Tudo bem – ele se deu por vencido – não acho que você fez o certo ao terminar comigo. – eu estranhei e ele continuou – seu querido mentiu pra você. Pergunta pra ele sobre as aulas de física. – dito isso ele saiu e me deixou com a dúvida. Olhei para as meninas que se encaravam como se soubessem de algo, porém o time do Albert Einstein fez mais um gol e tornou-se impossível perguntar algo a elas.

  O jogo terminou e nós fomos campeões, o time estava feliz assim como o colégio, fazia cinco anos que não éramos campeões de futebol. A alegria era geral, até professores como Mr. Keenan e a enfermeira Lavieska estavam na arquibancada, pode parece estranho, mas vi um beijo entre eles o que era extremamente fofo, pois ele sempre fora apaixonado por ela.
  - Que lindos – chorava como um bebê e eu não sabia se ria ou a consolava – eu amo futebol. Acho que vou me mudar para o Brasil.
  - Não exagere – levantei a sobrancelha – só gosta de futebol por causa do . – eu poderia dizer que ela ficou vermelha, mas de tanto chorar seu rosto inteiro estava vermelho.
  - Tudo bem – finalizou o assunto enquanto gritava palavras de apoio para os meninos.
  O time se abraçava e a torcida vibrava com a vitória e então as meninas começaram a descer da arquibancada e fui puxada por elas, passávamos entre as pessoas que nem notavam nossa presença, chegamos até perto de um alambrado baixo e então.
se aproximou depois de ser jogado para o alto.
  - Gostou do jogo? – ele me perguntou sorridente. - Claro – eu o beijei – estou tão feliz.
  - Eu também. – ele sorriu e o abraçou. – Estranho você odeia pessoas suadas.
  - É diferente, agora meu amigo e o garoto que eu gosto são campeões – Ela falou com tanta naturalidade que não percebeu que tinha acabado de se acercar.
  - O garoto que a gosta? – ele riu e nós nos entreolhamos e dessa vez sim, estava vermelha.
  - Parabéns. – Olívia cortou o clima e agradeceu com o olhar.
  - Nem me enganem, depois quero saber quem é esse garoto. – ele voltou a comemorar com o time e se juntou a eles, não sem antes dizer que se lembrava do jantar.
  - Por pouco. – suspirou – e agora, o que faço?
  - Assume. – Olívia sugeriu.
  - Nem morta – Olívia e eu rimos – Imagina, ia ser ridículo. Ainda espero que ele diga algo.
  - Tente ser a mulher independente. – Eu disse e fez uma cara de quem pensava no assunto.

  Era engraçado eu dar conselhos amorosos a alguém, tão inexperientes quando se tratava de expor qualquer sentimento. Eu sequer tinha dito que amava o , na verdade eu não sabia se era verdade, mas ele sim, ele já havia dito. Lembro como fui pega de surpresa, afinal estávamos na minha casa assistindo a um filme de ficção cientifica qualquer quando ele sussurrou um “eu te amo” em meu ouvido, senti o sorriso dele na minha orelha e nada respondi, penso que não conseguiria, afinal enrijeci tanto que acho que ele percebeu.
  - Independente – ela gargalhou – pode ser.
  - Ok, agora vamos falar do jantar. – Olivia sugeriu e eu soltei os ombros.
  - Não há nada que falar desse jantar – tentei me acalmar – na verdade minha mãe quem deu a ideia, meu pai aceitou e é isso. Toda a minha família estará presente nesse jantar. – tudo bem, depois de dito isso, tudo me pareceu aterrorizante.
  - Wow, agora entendo o nervosismo do afirmou. Já estávamos sentadas nos lugares mais baixos da arquibancada e alguns torcedores já começavam a ir para suas casas ou para uma after party de comemoração do Campeonato. De certo teria alguma festa com os jogadores e “droga” a perderia, tudo por causa de uma ideia estúpida da minha mãe, ele nunca tinha ganhado algo pelo time de futebol e logo no primeiro não poderia comemorar com o time.
  - Vai dar tudo certo. O conhece a sua família, seu pai gosta dele. Vocês só serão oficializados. – oficializados? Era tão estranho namorar e toda a minha família fazer parte disso. Realmente muito estranho.
  - Ah! Que fofos – sorria – nunca pensei que diria isso, mas você e o foram feitos um para o outro.
  - Sim, você é a primeira namorada do meu irmão que eu gosto – eu sorri, afinal era importante saber que as duas melhores amigas do meu namorado me apoiavam.
  - Vocês me deixam sem graça. – elas sorriram – Sabe o que estou pensando agora? – perguntei retoricamente – o vai perder a festa do time por causa desse jantar... Quer dizer, vai perder a festa com o resto do time por minha causa. – Aquela sensação era horrível, porque todo mundo sabe que amigos tendem a ser mais importantes do que qualquer namorado (a), não que ele tenha que me abandonar e se tornar indiferente a mim, mas antes de namorarmos ele já estava no time.
  - Não ligo – escutei atrás de mim aquele que eu já sabia quem era. sentou-se ao meu lado e me puxou para seu colo – depois eu converso com os meninos.
  - Você sempre quis esse título, sei que ele é importante. – virei-me para encarar aqueles olhos que tanto me arrepiavam, dos pés a cabeça – se quiser ir, não ficarei chateada.
  - Chega de besteira – ele cortou o assunto e beijou o meu pescoço suavemente – O não para de me perguntar quem é o garoto por quem a está apaixonada. – ele incluiu as meninas na conversa, que até então tinham expressões de quem viu um animal recém-nascido.
  - E o que você disse? – disse num sobressalto.
  - Pra ele perguntar pra você – ele riu – agora se vira amiguinha, você quis que eu te ajudasse. Chegou sua vez. – Olívia gargalhou, pois estava chegando e notou que falávamos dele. ficou vermelha, agora sim eu tinha a certeza que ela era humana como todos nós, ela tinha suas fraquezas também e uma delas era o .
  - Quero falar com você. – disse seco e nem direcionou o seu olhar para alguém diferente de .
  - Agora não dá. – e eu rimos, afinal ela tentava se fazer de difícil, mas não estava conseguindo.
  - Ah! Vai dar sim. – ele a puxou delicadamente pelo braço e foram caminhando em direção ao pátio de trás do colégio. O mesmo pátio que a Festa das Nações era realizada pelos alunos do ginásio.
  - Bom, não vou ficar de vela – Olivia se pronunciou – vou procurar o Dougie e o Josh para vermos o que será escrito no jornal. – levantou-se.
  - Escreve bem do seu irmãozinho – sorriu e apoiou o rosto no meu ombro.
  - Mais fácil eu escrever sobre a atração do jogo: Os gritos da – nós todos rimos. Olivia se despediu e ficamos sós eu e ele. Ele e eu. e .

  - tenho algo pra falar – rapidamente seus olhos encararam os meus.
  - Pode falar . – ele sorriu.
  - Hoje durante o jogo o Ricardo veio falar comigo – seu semblante começou a ficar sério – ele me disse algo que gostaria que você soubesse.
  - O que ele falou? – ele arfou.
  - Ele disse que terminar com ele foi um erro – tudo bem, essa parte eu acho que deveria ter ocultado. – mas não foi isso que me intrigou, ele ainda disse que você mentiu para mim sobre as aulas de física – percebi que ele ficou incomodado. De certo era por tudo que Ricardo disse – estranhei, afinal não houve motivos para mentir para mim nas aulas de física. – ele se contorceu um pouco e me encarou por alguns segundos.
  - , eu preciso dizer uma coisa. – Não pode ser o que estava pensando, pode?
  - O que? – minha voz me traiu e saiu um pouco tremida.
  - Eu não menti pra você. – eu sorri. – não tecnicamente, na verdade eu sei um pouco de física, disse que não sabia porque queria me aproximar de você. – era incrível como eu era enganada facilmente. Eu saí do seu colo fechei os olhos e suspirei.
  - Você mentiu pra mim. – ele resignado disse um fraco “sim” – por que simplesmente não veio falar comigo?
  - Você não falaria comigo – ele se defendeu – você nunca falava com ninguém além do e a Olivia.
  - A culpa é minha pela sua mentira? – eu esbravejei.
  - Não – ele resignado abaixou os ombros e pegou a minha mão – , eu só queria me aproximar de você, eu sempre gostei de você. Nunca teria uma conversa normal comigo sabendo que eu sou o capitão do time. – tirei minhas mãos das dele e encarei seus olhos.
  - Por que não me disse a verdade quando começamos a nos tornar amigos?
  - Não sei – ele respondeu sincero – talvez por medo de uma reação negativa. – ele suspirou.
  - Quem sabia? – perguntei desviando meu olhar para o campo, eu sabia que se continuasse a encará-lo eu o perdoaria facilmente.
  - O e a me ajudaram, além do e da Olívia. – LEGAL, TODO MUNDO TINHA MENTIDO PRA MIM.

  A sensação de ser enganada era semelhante a uma traição, tudo bem, não exageraria, até porque pelo que entendi, ele só queria se aproximar de mim e se eu bem conhecia ele diria algo como: “Você não pode aproveitar que está bem agora? Ele mentiu? Sim, mas foi tudo para se aproximar de você. Dê uma chance para a felicidade” e sim, esse discurso seria desgastante demais para um ser humano só, ainda mais com tanta subjetividade impregnada nessas palavras. Meu subconsciente se existisse estaria louco para perdoar , porém acho que esse desistiu faz tempo.
  - Todo mundo mentiu pra mim. – o da minha voz ficava cada vez mais baixo e meus olhos iam se estreitando mais e mais.
  - Não foi por mal – disse – entende isso, por favor. – suplicou.
  - Eu entendo. – ele sorriu fraco – só não consigo digerir porque não me disse a verdade quando já tínhamos nos tornado amigos – eu sei que estava batendo mil vezes na mesma tecla, mas eu precisava de detalhes, precisava saber.
  - – meu nome nunca soou tão doce – eu sempre te observei e admirei – eu sorria por dentro – quando me tornei amigo do perguntei se eu teria alguma chance com você e a resposta foi obvia: Não. Eu não teria chance alguma com você – isso era verdade, por mais que eu o achasse bonito eu não me aproximaria. Primeiro por ele ser popular e ficar com as meninas mais lindas do colégio e segundo porque sempre gostei de ser discreta, não conseguiria encarar os olhares. – então conversando com a ela me deu a ideia. A principio eu só queria te conhecer mais, pois você não sabe o quanto é fascinante, garota – ele deu o meu sorriso favorito o que me fez arrepiar – depois eu descobri que não conseguiria me afastar de você facilmente, foi quando você terminou com o Ricardo – ele fez uma careta engraçada que me fez rir – descobri que talvez teria chance. E naquele dia em que você ficou brava por eu não ter te beijado – Droga, eu sabia que ele tinha percebido algo, aquele sorriso torto daquele dia não me enganou. Tudo bem, me enganou, pois nem eu sabia por que tinha ficado brava. – foi então que percebi que poderia tentar algo com você. – eu sorri. Quer dizer que eu não era a única a gostar das nossas aulas particulares – eu não queria mentir pra você – ele segurou as minhas mãos – só queria que entendesse isso.
  - Tudo bem. – encarei seus olhos – eu entendi. Por favor, eu só não quero saber as coisas por pessoas como o Ricardo, você pode me falar tudo. – dei o meu melhor sorriso e o abracei. Eu sabia que eu perdoaria facilmente se ele me olhasse com aqueles olhos e desse um sorriso torto qualquer. Ele me ganhava fácil.

  - Sim. – ele respondeu com um sorriso no rosto e me abraçou. Eu sabia que o perdoaria facilmente e tudo o que Ricardo tinha falado ficou no passado, mas algo me intrigava: se só meus amigos sabiam dessa história. Como Ricardo ficou sabendo disso? Eu não gostava dessa história nem um pouco, ainda mais agora que ele conversava com frequência com Fox, pior ainda saber quem realmente era essa menina de olhos e como ela poderia ser traiçoeira.
  - Bom, tenho que ir – me desvencilhei de seus braços – tenho que me preparar para o jantar.
  - Estou nervoso – sua testa estava franzida e se eu não soubesse que o nervosismo era real, talvez eu risse um pouco.
  - Não sei por que – tentei acalmá-lo – você já conhece a minha família.
  - Sim, mas agora eu sou seu namorado. É diferente – eu ri e dei um selinho nele, se eu não parasse sabia que aquilo evoluiria para um beijo de verdade, mas eu realmente precisava ir.

Capítulo. 17

Chegou a hora...

   me deu carona até a casa do meu pai, nos despedimos e ele partiu para sua casa. Ao adentrar naquela casa me lembrei da primeira vez que conheci Florida, tenho que confessar que não gostei a principio, mas ver a relação amistosa que minha mãe e ela mantinham as coisas foram se acalmando. E ter visto ela naquele dia dando o melhor para que o jantar fosse perfeito fazia com que eu a admirasse mais, não era fácil manter uma casa como aquela, não era fácil ter dois filhos e mais uma enteada que morava alguns dias naquela casa. Não era fácil aguentar meu pai em dias de partida dos Dallas Cowboys pela NFL e caso fossem para a final, ainda tinha que aguentar seus amigos beberrões, mas apesar de tudo isso eu via um amor verdadeiro naquela casa e sentia-me feliz por sermos tão unidos. Até meus avós maternos aprovavam aquela proximidade, caso contrário sequer apareceriam para o jantar, meu avô mudou tanto que considerava e Melissa seus netos, tal qual eu era. Apesar dos pesares eu amava minha família, assim como ela era: cheia de problemas, mas se você precisasse todos estariam ali por você.
  - Pensando na morte da bezerra? – tinha aprendido alguns ditados esquisitos e decidia aplicá-lo em momentos que para ele pareciam oportunos.
  - Nem sei o que significa isso – ele gargalhou se aproximando de mim – mas penso em como nossa família é diferente. Eu gosto disso. – conclui.
  - Sim. Somos loucos – nós rimos – mas falaremos de algo mais importante: o jantar de hoje. – me acompanhou até o sofá da sala.
  - Acredita que o está em pânico? – rimos.
  - Acredito. Eu também estaria. – ele franziu a testa – ainda mais que o tio Bill vai vir hoje com a esposa e os pestinhas. – Não. Tio Bill era aquele tio que todo mundo tem um na família, ele era tão inconveniente quanto alface no meio do dente. Tinha o dom de beber nas festas natalinas e fazer piadas sem graça ou pior do que isso: revelar os segredos do passado. Não que fossem segredos de estado, mas não é nada legal falar numa mesa de Ação de Graças sobre o final de semana em Seattle em que meus pais ficaram loucos de tanto beber. Além do mais ele viria com a esposa, que se me permite comentar era uma grossa, não fala com ninguém, sequer cumprimenta, contudo ainda tinham os filhos dele: Jane e Jhon, dois pestinhas que tinham o dom de destruir as coisas e como o pai também faziam comentários embaraçosos.
  - Quem os convidou? – entrei em pânico.
  - Ele se convidou – riu – ficou sabendo que a sobrinha estava namorando e decidiu que quer conhecê-lo. – pegou o controle remoto da televisão e mudou descontrolente até parar no History Channel, enquanto isso eu estava em pânico. Aquele jantar ia ser realmente inesquecível.

  Decidi assistir mais um episódio de “Maravilhas Modernas”, esse falava sobre a modernidade da engenharia da cidade enigmática – Machu Pichu. Descoberta em 1911 a cidade sempre atraiu cientistas do mundo todo, pois era e ainda é um enigma da engelharia, afinal foi construída 500 metros acima do vale, isso tudo sem usar roda ou ferramentas de pedra. Estava aí o exemplo de engenharia Inca, além de tudo isso 600 plataformas foram construídas para impedir que a cidade despenque vale abaixo. Realmente interessante o documentário, o mais legal foi ver o quanto nos gabamos das nossas tecnologias modernas, porém não conseguimos explicar as maravilhas centenárias.
  - Tenho vontade de conhecer Machu Pichu – comentei com que estava ao meu lado no sofá, mas não obtive nenhuma resposta ele estava dormindo. Peguei a manta que cobria o outro sofá e o cobri. Já eram seis e cinquenta e o jantar seria as nove e eu sequer sabia que roupa eu colocaria, apressei meu passo e fui até meu quarto.
  ei um banho relaxante, enrolei meus cabelos numa toalha e fui escolher a roupa decidi por um vestido simples rosa sem alça que ia até o joelho, joguei o vestido e a langerie da mesma cor sobre a cama e fui arrumar meu cabelo. Não que fosse costume eu fazer uma escova no cabelo, mas aquela era uma noite especial, não poderia por meu habitual jeans surrado e uma camiseta qualquer. Sentia-me estranha ao passar maquiagem no rosto, mesmo que fosse apenas um rímel e blush. Meu cabelo já estava pronto então comecei a me vestir, foi ai então que me lembrei do sapato: calcei as sandálias pretas de salto alto que tinha emprestado de – sim, no meu armário não tinha nada apropriado e com salto para eu usar naquele jantar – tentei me equilibrar naquele salto e tremi ao me imaginar descendo as escadas, tendo isso em mente me apressei para terminar os últimos detalhes e descer com todo cuidado do mundo as escadas antes que chegasse e tivesse que presenciar a cena mais ridícula da minha vida. O caminho até o primeiro degrau foi todo tentando me manter em pé naqueles sapatos, em dezessete anos – quase dezoito – eu nunca tinha ficado tão nervosa, não era algo ruim, mas era estranho apresentar um namorado para toda a minha família. Descer as escadas nunca foi tão difícil, estava no quarto degrau quando passa devidamente trajado com um jeans novo, sapatos perfeitamente brilhantes e uma camiseta branca de tirar o fôlego. Ele estava lindo.
  - Precisa de ajuda? – perguntou num de deboche e eu fechei a cara – tudo bem. Não estressa. – ele me deu seu braço e me apoiei nele.
  - Que lindos – Florida gritou ao pé da escada quando me viu com os braços enroscados nos de . – Fiquem parados, vou pegar a máquina. – Florida saiu afobada da sala a procura de uma máquina digital.
  - Seja sincero comigo – riu – eu mereço?
  - O pior ainda está por vir – bufei – Tio Bill.
  - Nem me fale – fiz uma voz chorosa e Florida apareceu dizendo para sorrirmos para que a foto pudesse ser tirada. Forçamos um sorriso e Florida com um sorriso enorme bateu a foro. – Onde está minha mãe? – perguntei já devidamente segura de rolar escada abaixo.
  - Terminando a sobremesa – Florida respondeu.
  Segui para a cozinha e percebi o quão arrumada a casa estava naquele dia, os vasos no centro da mesa estavam cheio de flores, não posso distinguir quais eram, pois ainda não entendo muito de flores. Ainda da sala era possível ouvir as risadas vindas da cozinha, com certeza, minha avó, minha mãe, além de Florida que passou por mim correndo de com sua sandália plataforma – invejo quem consegue fazer isso – deveriam estar colocando o papo em dia.
  - Boa Noite Família – adentrei a cozinha e pude sentir o cheiro bom de comida que havia ali.
  - Que linda está ela – mamãe se pronunciou com um sorriso no rosto sendo acompanhada por vovó – Tudo isso é para o ? – meu rosto começou a corar.
  - Mamãe – a repreendi e ela gargalhou.
  - Realmente está muito bonita – vovó comentou com um sorriso no rosto – se ele não está apaixonado, agora vai querer casar com você.
  - Sem exageros – comentei sentando-me num banquinho perto da mesa em que estavam sentadas. – Onde estão vovô e meu pai? – perguntei despretensiosamente.
  - Foram buscar o seu tio Bill e a família. – torci o nariz aquela ideia ainda era aterrorizante.
  - Por que convidaram ele? – minha mãe riu – não que eu não goste dele, mas vai assustar o .
  - Não fale assim do seu tio – vovó me repreendeu. Vovó sempre fora uma senhora elegante, tanto que ela estava naquele dia. Com seus colares de pérolas e um conjunto claro, ela não aparentava ter mais de 60 anos. Como uma senhora elegante não permitia que eu falasse mal do Tio Bill, por mais inconveniente que ele fosse. O interessante é que ninguém o impedia de falar bobagens.
  - Chega de falar desse assunto – mamãe interferiu – ele é inconveniente todo mundo sabe, mas se o não se assustar. , querida, case com ele. – todos na cozinha riram inclusive vovó.
  Ouvimos uma buzina vinda da entrada da casa e nos direcionamos até lá. Florida como anfitriã da casa abriu a porta e pudemos avistar meu pai – vestido como seu terno claro de sempre – vovô – calça social e uma camisa branca, tio Bill – shorts de pescador e uma camiseta com as inscrições “I Love London” preta com detalhes em verde limão. Tio Bill era bonito, não tinha barriga apesar de ter passado dos 35 anos de idade, era moreno e tinha os olhos perfeitamente . Ainda pude notar a presença de sua mulher que usava um vestido florido com um sapato de salto e saindo do carro e entrando como um furacão na sala, estavam Jane e Jhon os gêmeos mais pestinhas da família e já começaram a provocar os cachorros.
  - Minha querida sobrinha, como você cresceu – ele disse enquanto me analisava – já tem até um namoradinho – senti rir atrás de mim.
  - O tempo passa – suspirei dando passagem para que todos pudessem entrar em casa.
  - Vou me divertir hoje – sussurrou no meu ouvido quando ninguém mais estava por perto. Antes de fechar a porta vi o carro do parar do outro lado da rua, então caminhei até a calçada e o esperei vir até mim.

  - Que linda – meu namorado caminhou até mim e selou brevemente nossos lábios.
  - Digo o mesmo – Ele estava realmente lindo e bem informal. Usava uma calça jeans escura com uma camisa branca e por cima um blaser, fora seu inseparável all star preto. – Pronto? – perguntei e ele assentiu. Entramos em casa em que os homens da casa acompanhados de Mel estavam na sala assistindo algum noticiário da ESPN, na realidade não estavam tão compenetrados por causa da conversa, assim que apareci na sala com , Melissa correu até ele.
  - Oi namorado da minha irmã – ele sorriu. Mel parecia ter certa simpatia por ele. – quer brincar? – ela estava acompanhada dos gêmeos endiabrados.
  - Depois ele brinca, tudo bem Mel? – ela assentiu e saiu correndo com os gêmeos. –Tudo bem, alguns já conhecem outros não. Esse é o . – eu sorri pra ele como forma de acalmá-lo, não sei dizer ao certo se deu certo, mas posso comentar que sua mão estava suando, as senti, pois estavam entrelaçadas nas minhas.
  - Então você é o novo namorado da minha sobrinha? – Tio Bill veio até nós com uma cerveja na mão. Quem foi o santo que deu cerveja para esse...?
  - Sou sim. – respondeu educado e eu me aproximei mais dele que me segurou pela cintura.
  - Sou o Tio mais querido dela, não é minha querida? – assenti e sorri irônica e ria do meu desespero sentado no sofá com meu pai.
  - Vem – puxei pelo braço me sentei do lado de e me acompanhou, era extremamente ridículo continuar com aquela conversa. Tio Bill não percebia quando era ridículo, eu tinha certeza que ele iria engatar algum assunto ridículo se eu não tivesse tirado de lá. Tentei prestar atenção no noticiário já que não se trocava nenhuma palavra naquela sala, todos estavam mudos. Meu pai que antes conversava animada,ente com meu avô e agora estava quieto, brincava com seus dedos e me olhava desesperado. Tio Bill continuava a bebericar sua cerveja e meu avô me olhava como se me analisasse, de certo estaria pensando em como eu cresci.
  - Então meu rapaz, já sabe o que quer fazer da vida? – meu avô perguntou e eu senti vontade de dar risada. Quem aos 17 anos sabe o que quer fazer da vida? Porém sinto que não achou a mesma graça que eu, na verdade eu acho que ele se sentiu julgado, tal qual num tribunal, e ele era um réu tentando provar sua inocência.
  - Assim que terminar colégio penso em fazer... – ele disse indeciso. Nem eu sabia para que curso eu ingressaria, sequer a faculdade, seria para Ivy League¹, mas não sei qual. – engenharia. – disse com segurança.
  - Engenharia parece ser algo interessante – respondeu meu pai se interessando no assunto – lembro que queria fazer engenharia na sua idade também.
  - Pois é – ele respondeu indeciso – ainda está em planos, faltam alguns meses para eu me inscrever nas universidades – ele sorriu.
  - Para qual pretende ir? – meu avô perguntou. Eu conhecia meu avô, no mínimo ele achava que eu casaria com e queria garantir que eu não casasse com um motoqueiro que me faria cruzar o país na garupa de sua moto de quinze cilindradas.
  - Universidade de Columbia – Uau, ele já sabia qual pretendia ir e eu sequer tinha ciência de ONDE eu queria ir e O QUE eu queria ser. – Nova Iorque. – ele sorriu e meu avô sorriu em sinal de aprovação.
  - GO Lions² – brincou e arrancando risadas de todos. Surpreendentemente tio Bill ainda esta quieto. Não sei se deveria ter medo ou não.
  - , não era você que queria ir para a Cornell? – meu pai me perguntou interessado e então tirei os olhos de e os direcionei até meu pai.
  - Estou em dúvida ainda, mas Cornell é uma grande opção. – Universidade de Cornell também ficava em Nova Iorque, contudo numa província diferente da de Columbia.

  Esses assuntos de universidade não me deixavam muito feliz, aliás, era uma questão que eu tentava ao máximo ignorar, já estávamos em dezembro e em menos de uma semana as aulas seriam encerradas em função do Natal e Ano novo, mas logo seriam retomadas até maio, em que o ano letivo por fim terminaria. Em setembro as aulas se iniciariam se eu tivesse passado na Cornell.
  - O jantar está pronto – vovó apareceu na sala sorridente, seu sorriso se abriu mais ainda quando mirou ao meu lado. Todos seguiram até a sala de jantar, exceto , vovó e eu. – Olá, rapaz.
  - Tudo bom com a senhora? – perguntou sorridente antes de beijar as mãos da minha avó que a propósito ficou encantada.
  - Que educado – vovó sorriu para mim – saiba que gosto muito de você garoto e faço gosto desse namoro. – ele olhou para mim e piscou e eu nem preciso comentar que fiquei arrepiada, se minha avó não tivesse presente eu já o teria agarrado.
  - Que bom vovó – sei que naquele momento claramente eu gaguejei e os dois sorriram. Como é possível que com uma piscada eu ficasse tão mole daquele jeito? Meu corpo reagia a cada mínima ação de e eu não conseguia definir se era bom ou ruim. Fomos até a sala de jantar onde estavam todos já sentados em seus devidos lugares. A mesa estava farta e como a descendência tanto pela parte da minha mãe quanto do meu pai era italiana, nem preciso dizer que tinha muita massa na mesa. Sentei-me ao lado de que estava próximo ao meu pai e avô, estava ao lado do tio Bill e sua família e os pestinhas?! Bem, estavam embaixo da mesa brincando com os sapatos.
  - Saiam já daí – minha avó ordenou, a única pessoa que eles obedeciam era ela, por mais doce que fosse ela poderia ser enérgica se quisesse. Jhon e Jane sentaram-se à mesa como se fossem da realeza e não falaram mais nada. Tio Bill ameaçou beber mais uma cerveja, mas foi impedido pela minha avó.
  - Vamos começar a oração. – era tradição de família orar antes de qualquer refeição e vovó fazia questão que essa tradição fosse respeitada e cumprida. Todos sabiam como aquele momento era sagrado para ela, então apenas ficamos quietos e esperamos que meu avô iniciasse a oração, afinal era sempre ele mesmo.
  - Senhor nosso Deus, gostaríamos de agradecer pela presença de todos aqui nesta noite – todos estavam de olhos fechados – de reunião. Reunimo-nos aqui hoje para celebrar a família, celebrar a união dessa família. Obrigado também pela comida. Em nome de Jesus, amém. – todos repetiram a última palavra e então começamos a nos servir. olhou para mim e apenas devolvi um sorriso, não sabia se ele se sentia confortável, esperava que sim.
  Todos se serviram e eu fiquei na dúvida se eu comia um Espaguete com uvas passas ou um nhoque ao sugo especial – especialidade da vovó. Por mais mulheres que tivessem naquela mesa, era costume que elas servissem seus respectivos pares, o que era essencialmente ridículo, mas não arrumaria briga na mesa. Por vir de família grande e ainda mais com descendência italiana eu sabia que tudo começava e tudo poderia acabar na cozinha, mas jamais na mesa. Casamentos, noivados, amizades e inimizades começavam e poderiam acabar na cozinha, afinal sempre foi e sempre será o principal cômodo da casa, não importa o tamanho dela, mas o que não se permitia eram agressões à mesa, era como se fosse um pecado ou algo pior do que isso.
  - O que vai querer comer? – perguntei discretamente ao que me olhou confuso.
  - Acho que espaguete. – eu sorri e comecei a servi-lo.
  - Não se acostuma, essa é a única gentileza das mulheres da família – Tio Bill disse. Primeiro comentário da noite. Servi e não perdi a oportunidade de lançar um olhar que eu desejava internamente que o congelasse até o fim do jantar – Não me olha assim, querida sobrinha. Vai entender quando se casar. – coloquei nhoque no meu prato e me sentei.
  - É realmente um ruim quando um casamento vira um problema. – EU SABIA que não iria aguentar ficar calada. tentava segurar o riso, mas recebeu um olhar cortante de Florida e vovó? Bom, ainda não sei se ela me odiou naquele momento ou foi o tio Bill quem a irritou mais.
  Alguns segundos de silêncio e eu me perdi entretida naquele molho e não direcionei meu olhar à ninguém, nem mesmo ao que estava ao meu lado.
  - Você vai casar com o , irmã? – Melissa perguntou cortando o silêncio constrangedor depois da minha grosseria.
  - É... – pausei e olhei para que me dava de ombros – estamos namorando, por enquanto é isso. – Melissa riu e continuou.
  - Também tenho um namorado da escola. – Melissa comentou desinteressada e papai quase engasgou – Vamos nos casar no fim do ano. Vocês será meu padrinho e você se quiser pode ser a madrinha .
  - Claro que sim. – comentou sorrindo para Melissa.
  - Não está muito nova para se casar? – comentei com Melissa enquanto meu pai olhava a cena desacreditado e mamãe e Florida achavam graça da situação.
  - Por isso que o é mais legal, ele vive a vida intensamente. A idade não é importante e sim a intensidade de um amor. – não aguentou mais e começou a rir e os meus avôs acharam Melissa fofa segundo o olhar que eles lançaram.
  - O amor? – mamãe comentou – concordo com a Mel, no final das contas é o que importa mesmo.

  - Não acha o casamento uma instituição obsoleta? – perguntei para Melissa que estava se interessando pelo assunto enquanto os gêmeos tinham o semblante de tédio.
  - Você acha o amor obsoleto? – perguntou Melissa, olhou para mim como se esperasse uma resposta e então todos os olhares estavam sobre mim. Como uma menina de dez anos faz uma pergunta assim? Ela não deveria ter interesses pelo Bob Esponja. Abri a boca algumas vezes para responder, mas nenhuma palavra saía de minha boca.
  - Não. – respondi por fim. - não acho que o amor seja obsoleto.
  - Tenho que discordar zinha – tio Bill se pronunciou atraindo toda atenção pra si – quando você casa e percebe que terá que perder os jogos da liga de baseball para acompanhá-la ao shopping ou qualquer droga dessas. O casamento e o amor se tornam obsoleto, seja o que for que signifique isso. – finalizou.
  - Isso já não é amor então, é tédio. – finalizou mamãe.
  O jantar seguiu com conversas mais leves e sentia que aos poucos já estava se integrando a família, já conversava tranquilamente com meu avô e meu pai. Vez ou outra os gêmeos iam para debaixo da mesa amarrar os cadarços no pé da mesa. As coisas passavam tranquilamente, chegou à hora da sobremesa e comemos uma torta de morango que eu mesma fiz – é, eu tinha alguns dons culinários, na verdade eu não tinha, mas o livro de receitas da minha bisavó ajudava alguma coisa. Depois que terminamos o jantar fomos até a sala: sentamos e eu num sofá, ele entrelaçou nossas mãos e eu sorri para ele, o resto da família se ajeitou na sala, fora os gêmeos que destruíam as orquídeas de Florida no jardim.
  - e então, como estávamos falando: você pretende ir para Universidade de Columbia? – minha mãe pontuou.
  - Sim, é uma ótima universidade. – sorriu.
  - Não é para a Cornell que você quer ir, querida? – minha avó comentou. De novo aquela conversa, não. Eu assenti e ela continuou – como irão fazer?
  - As duas universidades ficam em Nova Iorque. – sorriu e minha avó concordou – ainda temos alguns meses para pensar nisso.
  - É melhor viver no presente, não? – finalizei com um sorriso nervoso em meus lábios.
  - Cornell. – tio Bill insistiu – lembro que você sempre quis ir para lá. Lembra quando você tinha um namoradinho? Qual o nome dele mesmo? – fez um semblante pensativo – . Você e ele sempre quiseram ir para Cornell, não? – nesse momento eu queria ser o Ciclope do X-MEN – o que me remete a vez que você foram viajar conosco, lembra amor? – perguntou a minha tia muda que simplesmente assentiu com cara de tédio.
  - Realmente marcante essa história – mamãe tentou por fim no assunto, pois era notável que aquela situação me constrangia.
  - Tocante. – disse já se levantando – , . Querem ver o novo game que eu comprei? – tudo bem, eu não tinha os superpoderes do Ciclope, mas talvez eu tivesse de telepatia, pois naquele momento o que eu mais queria era sair daquela sala. Puxei pelas mãos e segui que ia em direção ao seu quarto.
  - Meu Deus. – disse com um sorriso nos lábios – eu estava me divertindo com essa situação constrangedora, mas às vezes essa família passa dos limites – abriu a porta de seu quarto. – não se assuste , é assim pra pior – tentou sorrir, mas eu sabia que ele iria me fazer uma pergunta. Acho que também sabia, pois nos deixou sozinhos e fechou a porta de seu quarto.
  - Tudo bem, pergunte – coloquei as mãos na cintura e esperei ele formular a pergunta.
  - O que aconteceu entre você e o nessa viagem? – seu semblante era sério e seus olhos estavam mais escuros, quase um azul anil.
  - Ok. Lembra que comentei que meu primeiro beijo foi com ? – ele assentiu e eu prossegui – Não foi só isso. – seus olhos arregalaram e eu começava a ficar tensa, então me sentei na cama de , mas continuou em pé. – nós chegamos a ter alguma coisa antes de eu começar a namorar o Ricardo. Ficamos algumas vezes, pois eu achava que o que eu sentia pelo era amor - suspirei e percebi que estava impaciente – só que descobrimos depois que o que sentíamos na realidade era pura e simplesmente amizade. Nunca daria certo ficarmos juntos. – terminei e ele ainda continuou quieto, o que começava a me assustar.
  - E essa viagem? – sentou-se ao meu lado e eu me endireitei na cama.
  - Essa viagem foi numa época de dúvida. – suspirei – O tio Bill deve ter se lembrado disso.
  - E agora? – ele perguntou enquanto fazia carinho em círculos pelo meu ombro desnudo.
  - Agora, e eu somos amigos. – eu me arrepiava e seu sorriso aumentava – você sabe de quem ele gosta.
  - Sei. – aquilo começava a de fato tornar-se torturante até que seus olhos fixaram-se em algo que não pude definir o que era, mas era algo em mim. – O que é isso? – ele apontou para meu colo e eu tremi.
  - O que você acha que é?
  - Uma tatuagem. – ele sorriu – posso ver?
  - Um dia – gargalhou e por um segundo eu quis mostrá-la a ele. – não sei como você viu. A menos que tenha visão supersônica eu não consigo entender.
  - Você não sabe o quão provocativo esse vestido é. – ele sorriu – e vendo de cima... – ele ia terminar a frase, mas dei um tapa em seu ombro o que fez com que ele apenas desse uma risada escandalosa.
  - não começa – aquilo estava ficando estranho, ainda mais na cama do , ainda mais na casa do meu pai e com a família toda no andar debaixo.
  - Por que? – ele continuou beijando meu pescoço – deixa-me ver sua tatuagem, sim? – sua voz rouca no meu ouvido fez com que eu me contorcesse na cama do , então me segurou pela cintura e começou a me beijar, não era um de nossos beijos. Era um beijo fugaz, era um beijo em que nossas línguas exploravam limites tênues. deitou-se sobre mim e eu caí na cama do , suas mãos já passeavam pela barra do meu vestido.
  - ...- minha voz saiu ofegante e fraca – não... é... melhor... descermos? – minha respiração estava perigosa e todo o ar daquele quarto parecia insuficiente.
  - Sim... – ele pousou sua cabeça em meu ombro e eu o empurrei para que pudéssemos nos arrumar – você sabe vai ser difícil resistir a você com esse vestido, não? – eu sorri, mas ele não sabia que ele era especialmente irresistível ainda mais com aquela boca mais do que vermelha que ficou depois daquele beijo.

  Quando descemos meus avós já tinham ido embora e tio Bill também, como meu pai os tinha levado de carro para a casa, na sala estavam apenas Florida, mamãe, Melissa e assistindo Padrinhos Mágicos e se divertindo com o desenho. Sentei-me no sofá e puxei para sentar comigo, aquilo estava tornando-se recorrente naquela noite... quer dizer “puxar o ”.
  - Gosta de “padrinhos mágicos”? – Melissa perguntou enquanto fazia cafuné em seus cabelos.
  - Gosto sim. – respondeu sorrindo para ela.
  - , já pode casar com ele, eu apoio.
  - Tudo bem mocinha. Chega de história de casamentos, já pra cama, é tarde. – Melissa resmungou algo, mas obedeceu Florida e subiu para seu quarto, não sem antes se despedir de todos e cochichar algo no ouvido de .
  - Desculpe a Melissa, às vezes ela é assim. – Florida justificou.
  - Não se preocupe. Eu gosto de crianças – eu sorri para ele – Acho que também está na minha hora. – ele levantou-se e fiz o mesmo – muito obrigado pelo jantar de hoje. – se despediu da minha mãe, Florida e . O acompanhei até a saída e fechei a porta atrás de mim.
  - O que achou? – encostei-me ao batente da porta.
  - Excêntrico – ele riu e o acompanhei. – Adorei sua família, adorei o jantar de hoje – cada vez mais o sentia perto – adorei nosso beijo e chega senão sou capaz de te agarrar aqui mesmo.
  - Você precisa se acalmar – dei risada. – eu te amo. – era a primeira vez que eu dizia aquilo em voz alta e era realmente estranho. parou e olhou no fundo dos meus olhos e tirou uma mecha que caia sob meus olhos, segurou-me pela nuca e cintura e me deu um selinho demorado.
  - Eu te amo.

Capítulo. 18

Herméticos

  "Tudo é duplo, tudo tem dois pólos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados”. Assim diz a Lei da Polaridade, tudo bem os cientistas mais céticos e objetivos não a consideram sequer lei, afinal não pode ser comprovado por números ou experimentos científicos, são apenas suposições. Eu estava começando a acreditar que a polaridade existia em algo mais além de em imanes. Tudo tinha dois lados, todos tinham dois lados. A pessoa que eu mais confiava também poderia ter dois lados, mas hoje eu vejo como naquele momento foi difícil conhecer o outro lado.

  Todas as festas de fim de ano já tinham acontecido, passei o Natal e o Ano Novo com a minha família em Dallas mesmo e viajou com a família para Londres, ou seja, ficamos duas semanas afastados, mas ainda sim conversávamos por telefone ou nos conectávamos a internet. Essas duas semanas foram cheias para mim, toda a minha família se reuniu numa mesma casa – a casa do meu pai – para as datas especiais. Houve troca de presentes e muitas preparações para os jantares importantes. Tio Bill não bebeu tanto, mas dançou Macarena em ritmo natalino o que trouxe muitas risadas para a festa, minha prima Patrice – ela cismava que tínhamos que chama-la assim, afinal queria ter nascido na França, mas na realidade era legítima de Nashville – trouxe seu novo namorado italiano que realmente era uma graça, mas não falava uma palavra em inglês o que possibilitou que tio Bill e o mandasse falar palavrão na hora do jantar.
  No Ano Novo não houve tantas mudanças, a família reunida novamente e mais risadas e felicidade. Depois dessas duas semanas de festas foi a hora de voltar as aulas, devido a realização das provas do SAT mal tinha tempo para falar com e ele a mesma coisa em relação a mim, tentamos estudar juntos algumas vezes, mas era realmente impossível ficar no mesmo cômodo que ele e não o encher de beijos, então decidimos que seria melhor para o nosso futuro se estudássemos sozinhos. Resultado: mal tínhamos tempo para ar um sorvete.
  - Essas provas vão me deixar maluco – esbravejava enquanto caminhávamos até minha casa depois de um raro momento a sós na sorveteria.
  - Nem me fale – suspirei – mas vai ser bom, você vai ver. – sorri para ele – você vai conseguir passar na Universidade de Columbia. Confio em você.
  - E eu confio que você vai passar na Cornell – ele sorriu e me pegou pela cintura – sabia que eu não sei como vou viver sem ter você por perto? – ele fechou os olhos – nem sei quantos quilômetros vão separar a gente quando formos para a faculdade.
  - Não pensa nisso agora – o segurei pela nuca e ele abriu os olhos – estamos juntos agora, não estamos? – ele sorriu e assentiu. Na realidade eu também não gostava da hipótese de me separar dele, era terrível saber que em menos de cinco meses todo aquele conto de fadas iria mudar radicalmente.

  Na realidade eu já tinha algumas provas contundentes disso, alguns dias depois dessa conversa não tivemos sequer duas horas completas um com o outro. Às vezes eu estudava com o e raramente com o , pra falar a verdade eu tinha mais contato com a do que com o . Por falar em não posso deixar de citar a conversa que ela teve com o no dia da final do campeonato, pelo que entendi eles são amigos com benefícios expressão nova de “amizade colorida” que pelo visto caiu em desuso e tornou-se tão obsoleta. já tinha me contado mais ou menos cem vezes em como ele colocou na parede e disse: “Quem é o cara por quem está apaixonada?” e ela com o semblante mais confiante do que a mulher gato – palavras dele – o beijou e disse “você” e desde então não é anormal vê-los se atracando nos cantos mais improváveis do Albert Einstein High School, quando digo que são estranhos é porque são mesmo, a menos que alguém ache normal e excitante se agarrar atrás dos arbustos que são em frente à diretoria. Depois de todos esses acontecimentos em algumas semanas, finalmente chegou a hora da quinta prova do SAT e pra falar a verdade, não fui muito mal e nem meus amigos.
  - Não acredito que finalmente terminamos essa maldita prova – dizia feliz enquanto caminhávamos pelo shopping.
  - Nem fale, não via a hora de um tempo livre – Olívia sorria. Por causa de toda a correria do SAT mal deu tempo de conversar com Olívia, mas pelo comentário que circulava pelo colégio ela estava namorando o Dougie, sim aquele editor do jornal. E eu que sempre pensei que ela gostasse do Josh e até do .
  - Eu sei por que precisa de um tempo livre – sorriu e puxou para ela. Era engraçado ver toda possessiva, de verdade, qualquer líder de torcida que desse incentivasse diferente o time ou até mesmo o ela já partia pra cima.
  - Não comente isso na minha frente, por favor. É minha irmã. – arrancou gargalhadas de todos, inclusive de Olívia que arregalou os olhos com a suposição.

  - E o baile de formatura? Falta menos de quatro meses. – Olivia lembrou – com quem vai ? – fez uma careta e disse que não sabia com quem ia, mas era comum em não saber dessas coisas, afinal nas semanas antecedentes do baile ele sempre ia com uma garota ao menos bonita ao baile. Era sempre assim, ele jogava o charme dele e várias garotas caíam. Se eu não fosse com o com certeza eu iria com , como já fui umas duas vezes.
  - Você sabe como esse garanhão é – pontuou com uma cara engraçada – não sei como, mas ele sempre consegue uma menina bonita, aliás, sei como sim. – fez uma cara de maliciosa e já conseguia imaginar o sucesso que fazia.
  - Conte-me o que as líderes de torcida comentam – Olívia perguntava empolgada e notava-se claramente o incomodo nos meninos, principalmente no meu meio-não-irmão.
  - Que tal outra hora? – se pronunciou – vamos ou não ver o filme? – os meninos prontamente concordaram e foram à nossa frente para comprar o ingresso e Olívia, e eu andamos um pouco atrás.
  - Meninas – disse com uma cara que eu poderia jurar que era de apaixonada – será que o vai me convidar para o baile? – ela estava apreensiva?
  - Vocês não estão juntos? – perguntei em de obviedade.
  - Não sei – ela abaixou os ombros – estamos beijando, ficando e... Enfim, mas não sei se ele me leva a sério. – se eu não a conhecesse eu poderia jurar que ela era tão insegura quanto eu, mas isso era praticamente impossível. Tão impossível quanto Batman e Coringa se tornarem melhores amigos.
  - Já tentou conversar com ele? – Olívia perguntou – se bem que o que vocês menos fazem é conversar. – nós rimos.
  - Eu acho que o gosta de você. De verdade, mas também acho que vocês precisam conversar deixar as coisas definidas, entende? – Comentei como se eu fosse especialista em relacionamentos o que definitivamente eu não era.
  - Mas eu não sei de verdade o que eu quero. – ela arfou – Eu quero namorar o ? De verdade esse garoto me deixa insegura. – WOW, acho que o Batman e o Coringa são bff’s.
  - Eu conheço o , ele não ficaria com você à toa – a tranquilizei, pelo menos eu acho que sim – e se ele não pedir você em namoro, peça você. – ela riu e me encarou.
  - Tudo bem – ela concordou – vou tentar demorar menos que você e o . – eu sorri – falar em , vocês já...?
  - Verdade cunhadinha, não preciso de detalhes, poupe-nos disso – ela riu e a acompanhou enquanto eu sentia minhas bochechas queimarem.
  - Quase – minha resposta foi quase inaudível e elas pararam bruscamente de andar para me encarar.
  - O que? – disse num berro – eu não acredito.
  - Vocês não têm o mesmo fogo que o e essa daqui – Olívia apontou para que apenas sorriu – mas vocês nunca... Nunca? – eu neguei com a cabeça e elas ficaram pasmas.
  - Vocês namoram a três meses, quase quatro – disse – o acho que nunca esperou tanto por uma garota. – finalizou e Olivia concordou com tal afirmação. Se antes eu já tinha a preocupação do nosso relacionamento acabar com à distancia, de mudar bruscamente de cidade. Agora tinha outra: e eu nunca...

xx

  Os meninos voltaram da bilheteria com ingressos em mãos de um filme que começariam em vinte minutos, então nos apressamos para entrar na sala de cinema. A sala já estava cheia então cada um ficou de um lado, sentamos em casal, com exceção de Olívia e , Olívia por Dougie não ter ido e pelo simples motivo dele não ter ninguém.
  - O que houve? – me perguntou depois que as primeiras imagens do trailer invadiram a imensa tela do cinema.
  - Nada – respondi sem me virar para ele. – não aconteceu nada – eu tentei forçar um sorriso.
  - Não acredito – ele começou a enrolar as pontas dos meus cabelos – o que houve? Quer falar sobre isso? – a sala estava escura, mas pela luz que emanava do telão eu podia ver aqueles olhos que me convenceriam a pular de uma ponte, se caso eu fosse suicida.
  - Não acho que poderíamos conversar aqui – ele sorriu – o filme já vai começar e teremos que ficar quietos. – ele me puxou pelas mãos e estranhei a atitude dele.
  - Vamos. – eu franzi o cenho e ele apenas sorriu – depois a gente vê esse filme, quero saber o que te aflige. – andamos até a saída da sala que dava para um estacionamento ao ar livre em que tinham poucos carros. Estava uma noite estrelada de lua cheia, então eu poderia dizer que aquelas lâmpadas de luzes florescentes eram desnecessárias.
  - Não me olha assim. – implorei – de verdade, acho melhor a gente voltar – soltei as mãos dele – preciso formular o que está dentro da minha cabeça.
  - Eu te ajudo – ele riu – não deve ser tão grave assim ou é?
  - Não sei. – bufei – estava conversando com a e com a Olívia – pausei e ele pegou novamente as minhas mãos – e elas me perguntaram se a gente já tinha... – pausei e ele me olhou ansioso – transado – disse de supetão e ele apenas sorriu. Eu gostava de seus sorrisos, mas um daquele e naquele momento me irritava. Principalmente aquele de lado.
  - E isso te preocupa? – ele perguntou como se fosse a coisa mais natural do mundo e acho que realmente era.
  - Preocupa você? – tentei desafiá-lo.
  - Acho que perguntei primeiro. – ele ergueu uma sobrancelha – Era isso que estava te preocupando dentro da sala de cinema?
  - Basicamente – a palavra escapou pela minha boca que nem me lembro de tê-la dito. – quer dizer... Eu não sei. Não sou como as garotas que você costumava ficar, nem sou parecida com elas.
  - Hei – ele me interrompeu e puxou meu rosto pra si – eu não espero que seja como nenhuma das outras. – ele sorriu e eu só conseguia encarar aqueles olhos que eu tanto amava – eu espero. Eu sei que você não é fácil. – ele fez uma voz engraçada que me fez rir – quer andar um pouco? Não quero ver filme.
  - Perfeito – sorri e em uma das únicas demonstrações de afeto partidas de mim, o abracei.

  Andamos pelo estacionamento todo iluminado pela luz da lua e as luzes florescentes que continuo a acreditar que eram desnecessárias. Nossas sombras eram evidentes e brincava com isso fazendo as formas mais esquisitas que eu já tinha visto, era disso que estávamos precisando: de um tempo só nosso.
  - Por que não tenta? – ele tentava a todo custo que eu tentasse fazer um cachorro com as mãos.
  - Porque não sei fazer isso. – ele sorriu e veio para trás de mim e pegou minhas mãos colocando-as do jeito certo para que um cachorro se formasse.
  - Viu? – ele disse quando viu uma imagem de um cachorro deformado na parede – você conseguiu. – eu ri e apesar dos arrepios que ele causava por falar tão próximo ao meu ouvido eu tentava disfarçar rindo. – Hei – ele tirou meus longos cabelos da minha nuca – você tem mais uma tatuagem. – virei-me de frente para ele.
  - Sim. – apenas sorri e ele franziu o cenho como se esperasse uma resposta, mas não respondi.
  - Posso ver o desenho? – rolei os olhos e simplesmente disse que não. Afinal a tatuagem só começava na nuca, ela terminava na altura dos meus ombros. – o que há de mal em mostrar uma tatuagem para o seu namorado? – ele fingiu estar indignado.
  - , eu teria que tirar a minha roupa para mostrar as tatuagens que você quer ver – ele sorriu malicioso – o que não faria num estacionamento por mais vazio que este estivesse. – ele me olhou desanimado e eu ri mais ainda – O que posso fazer é mostrar a tatuagem que tenho nos pés. – ele me olhou intrigado e agora era a hora de eu esperar uma resposta.
  - Quantas tatuagens você tem?
  - Três. – respondi – e sim, meus pais sabem de todas.
  - Pode ao menos falar o desenho delas? – ele me olhou com cara de cachorro que caiu da mudança, o que me fez sorrir mais ainda.
  - Acho melhor você descobrir sozinho depois. – falei bem próximo à sua boca. E então ele me segurou para um beijo. Um beijo apaixonado.

  De todas as experiências que tive em minha vida, nenhuma se comparava a , lembrei-me do dia que tudo mudou: aquela aula de geografia, as aulas de física, meu namoro com o Ricardo, as dúvidas que ele me trouxe, seu sorriso, seus olhos, sua amizade, nossas conversas e toda sua atenção e como eu retribuía? Eu o amava já tinha admitido pra mim e para ele, mas sentia que às vezes eu era imensamente displicente com esse relacionamento, eu era tão fria e ele tão atento e quente, sim, nos dois sentidos da palavra. Não sei como conseguia controlar meus impulsos e desejos se a cada vez que ele me tocava um arrepio percorria todo meu corpo, era tão engraçado que eu até gaguejava e isso era tão recorrente entre nós dois. Ele seguro e eu fraca. Tão fraca que não conseguia falar dos bilhetes que recebia:

  “Feliz? Realmente eu fico contente que esteja aproveitando ao máximo seu momento de felicidade. Culpar-me-ia a vida inteira se você não tivesse ao menos quinze minutos de felicidade com seu amado .
  Xoxo” .

  Eu não me preocupava com bilhetes amedrontadores, confiava nele, confiava nos meus instintos em relação à sua fidelidade e por mais que eu não demonstrasse o que eu sentia era extremamente forte e reconfortante por mais que eu soubesse que um dia teria um fim.
  - Sentia falta de um tempo só nosso – nossas mãos estavam entrelaçadas e ele quebrou o silêncio que estava presente desde que saímos do estacionamento.
  - Eu também. – concordei. De fato aquele silêncio não me incomodava.
  - Por que tantas tatuagens? – ele arriscou – Quer dizer, todas têm um significado?
  - Possivelmente. Não faria uma tatuagem sem significado algum. – eu sorri – a do pé eu fiz para meus amigos, é uma frase em latim vera amicitia. As outras para pessoas que não estão mais conosco.
  - Hum. – disse apenas isso. Quando falou que fazer tatuagens instiga curiosidade em vê-las nunca imaginei isso.
  - Você tem alguma? – eu sorri.
  - Você não deixa ver as suas não deixarei ver as minhas também.

  - Quais os desenhos das suas tatuagens? – perguntei curiosa. Ele abriu a boca e quase me deu uma resposta, mas não. Ficou calado, não disse nada. Apenas me abraçou e beijou o topo da minha cabeça. E quanto o que disse no começo da minha narrativa, sobre confiar nas pessoas e conhecer o outro lado, todos têm dois lados. Tudo têm dois lados. Nós tínhamos ciência que nos conhecíamos pouco, prova disso foi à história das tatuagens e isso me intimidava um pouco por não conhecer o outro lado de , nós sequer tínhamos tido uma briga mais séria – exceto por causa da Fox, mas nem foi briga. sempre mais consciente e experiente sempre sabia como me convencer a não ser tão precipitada com as situações, se Fox gostava dele? Tudo bem. Eu também o amava e era comigo ele estava, não?
  - Se você fosse uma música, qual você seria? – me perguntou assim que sentamos num banco no jardim do shopping.
  - Mayfly de Belle&Sebastian. Se você fosse uma cena de filme... – estava sentada ao seu lado.
  - Luke, I’m your father - ele respondeu o que me fez rir. Quem seria uma cena de Star Wars– Se você fosse personagem de cinema...
  - Sheila O´Brien da caverna do Dragão... – eu realmente gostava mais da Sheila, queria poder ficar invisível a qualquer momento. Ninguém me tira da cabeça que a capa de invisibilidade do Harry Potter foi inspirado na Caverna do Dragão.
  - Imaginei algo como... Hermione Granger – eu ri – você é tão inteligente.
  - E você seria quem? O Harry? - o questionei.
  - Ron Weasley – ele respondeu – pelo que li nos livros a Hermione fica com o Ron, certo? – eu assenti – Nada mais natural.
  - Com que foi a sua primeira vez? – perguntei após séries de perguntas que iam desde minha banda favorita até o porquê dele preferir o Buger King a Mcdonalds e os motivos iam desde o capitalismo até crianças chinesas exploradas. Ele arregalou os olhos quando eu fiz essa pergunta, mas depois continuou sereno, como ele era.
  - Com a Samantha – ele simplesmente respondeu e eu procurava em algum lugar da minha memória quem seria Samantha, não demorou muito para eu associar com uma líder de torcida com cabelos longos e olhos pretos. Samantha era inteligente e um pouco diferente do estereótipo das líderes de torcida americanas. Ela era simpática. – e a sua?
  - É... – minha face estava ficando avermelhada e quente – eu nunca... – desviei meus olhos dos dele.
  - Você... – ele pausou – você nunca? – curioso.
  - Não.
  - Isso não é ruim. – o sorriso em seu rosto se alargava – fico feliz que não tenha sido com o idiota do Ricardo. – ele me abraçou.
  - Não começa – ele riu mais ainda. Estávamos sentados na entrada do shopping e tínhamos vista para um jardim extenso. Ouvíamos conversas atrás de nós e cada vez mais as vozes se aproximavam.
  - Os pombinhos desistiram do filme? – Olívia perguntou.
  - Precisávamos conversar – respondeu e torceu o nariz o que fez e rirem descontroladamente.
  - O filme era realmente bom. – disse enquanto caminhávamos para entrada do shopping novamente – Não tão bom quando “Ghostbusters”, mas dá pro gasto.
  - Ghostbusters? – indagou – Esse filme é da década de 80. Você e a precisam se atualizar, nunca vi gostar tanto de coisa velha – eu ri e me abraçou conta si enquanto caminhávamos.
  - O papo está bom, mas preciso voltar pra casa. – disse – tenho um encontro mais tarde.   - Mais tarde que horas? 5 da manhã? – Olívia disse e nós todos rimos com exceção dela e de . – muito estranho, muito estranho. – concluiu.
  - Nada disso – disse com uma voz de tédio - meu encontro é com a minha cama. Sinceramente estou morrendo de sono.
  - Sei – Olívia levantou a sobrancelha e por um segundo imaginei que realmente ela gostasse mais do do que ela podia imaginar. Caminhamos todos para o estacionamento e nos despedimos de e que vieram sozinhos e com certeza iam aproveitar o resto da noite em algum lugar extremamente estranho e selvagem. De certo eles são loucos, se atracam em qualquer lugar.

Fevereiro

Provas.

  • SAT.
  • Brigas de e .
  • Olívia e Dougie estavam namorando sério.
  • Josh estava com ciúmes de Olívia.
  • estava com uma intercambista do Brasil.

Março

  • e eu estávamos afastados um do outro (não sei o que aconteceu).
  • e se reconciliaram, mas duas semanas depois terminaram.
  • estava firme no namoro com a brasileira – Jessica.
  • Josh se declarou para Olívia e apanhou de Dougie.
  • voltou a falar com o .
  • Mal via meu namorado.
  • Os bilhetes continuaram.

Abril

  • Em maio acabariam as aulas – eu estava nervosa.
  • e voltaram, mas brigavam por causa das líderes de torcida que se insinuavam para ele.
  • Olívia estava balançada entre Dougie e Josh.
  • Eu não sabia se amava , nossa relação estava estranha.
  • Eu estava com medo.

Capítulo. 19

Deixa Estar...

  Era o dia do meu baile de formatura, finalmente o colégio tinha acabado e o melhor de tudo foi encontrar razões legais para lembrar-me dessa fase com carinho. No começo éramos e eu, vez ou outra . Não digo que não éramos felizes assim com certeza éramos, mas ficou muito melhor com a descoberta de como amiga, a descoberta de Olívia e seus amores e claro de que para mim era especial, era aquele que eu amava, era aquele que estava presente na minha mente quando eu fechava os olhos a noite, era aquele presente quando eu abria os olhos no dia seguinte. Era aquele que me levaria ao meu primeiro e último baile no Albert Einstein High School, era aquele que eu dançaria uma música ridícula e melosa tocada por um DJ, mas mesmo assim me lembraria com carinho dessa ocasião.
  - Está nervosa? – perguntava do outro da linha – Seu primeiro e último baile. Que trágico! – ele gargalhou e eu me endireitei na cama para poder falar direito com ele. Fazia tempo que não nos falávamos por telefone.
  - Trágico – repeti sua ultima palavra – mas não estou nervosa, tenho certeza que vai ser legal – sorri, mesmo sabendo que ele não veria.
  - Lembra-se de quando nos conhecemos? – ele perguntou nostálgico – de verdade é difícil aceitar que a gente cresceu. Que você cresceu.
  - É – nunca fui muito emotiva, mas aquelas palavras me faziam pensar em tudo, desde o começo e não sei se eu estava pronta para deixar isso. – sabe – pausei – a gente cresceu, pode ser que nos afastemos por causa do tempo ou pelos percalços da vida, mas você sempre vai ser meu melhor amigo. – ele suspirou do outro lado da linha.
  - Você também , você também. – eu sorri com essa declaração – mas vamos parar de sentimentalismo barato, afinal hoje é dia de festa. – nós rimos.

  - Verdade, daqui a pouco a vai passar aqui em casa para nos arrumarmos juntas – ele riu e eu bufei – ela disse que não ir ao último baile com a maquiagem mal feita.
  - Verdade. – ainda ouvia resquícios de sua risada – Fala pra ela que eu vou com ela, não adianta ela ter dito que terminamos tudo de vez. Eu não acredito. – Ah! Havia esquecido que eles tinham terminado, não lembro o que foi dessa vez, ou melhor, por quem foi dessa vez: culpa de uma loira ou morena ou se era por um negro lindo de olhos que tinha gostado de . O caso era: desde que eles começaram a namorar viraram o casal mais cobiçado do AE, todos os meninos queriam e todas as meninas queriam .
  Desliguei o telefone, mas continuei deitada na cama pensando em quanto eu estava feliz naquele dia, em como tanta coisa tinha mudado em pouco tempo, eu sequer imaginava que seria aprovada na Universidade de Cornell em Arquitetura, tanto não imaginava que não tive a coragem de contar a ninguém. Comecei analisar o envelope que já estava amassado e por mais que eu tentasse foi inerente pensar no futuro: um futuro diferente, no mínimo assustador.
  - Decidi chegar mais cedo – invadiu meu quarto com muitas bolsas em suas mãos – não vai dar tempo de ficarmos prontas antes das oito – eram três horas da tarde – levanta dessa cama, temos muito trabalho pela frente. – ela jogou as sacolas em cima de mim – Ah! A Olívia também vai vir. – ela sentou-se em minha cama – o que é esse envelope? Ah! Meu Deus. Você passou na Cornell? – ela abriu um sorriso maior do que o mundo e, eu ia responder quando ela continuou a falar – Não acredito. O já sabe? O que ele achou?
  - Ninguém sabe – ela arregalou os olhos e eu continuei – não tive coragem.
  - Para de bobagem – falou – ele vai ficar feliz por você.
  - Sim, mas não quero que acabe, sabe? Vou para outro estado. Nova Iorque, sabe o que é isso? Milhas vão nos separar. – as sacolas que estavam em cima de mim caíram no chão e se aproximou.
  - Uma hora você vai precisar falar – seu olhar era de compreensão – ele também quer ir para Nova Iorque. Tudo bem, não é a Cornell, mas vocês vão estar no mesmo Estado. – eu suspirei.
  - Se na semana de prova, na semana do SAT nós nos afastamos, quem garante que nosso amor não vai esfriar? – eu sentia um buraco no meu estômago que eu não conseguia nomear. – quem garante?
  - Ninguém. – ela disse me olhando nos olhos – não há garantias quando o assunto é amor. Tudo é uma aposta – aquele jeito de falar me lembrava o – por exemplo, o também vai pra Columbia e eu? Nem sei ainda que faculdade irei cursar, mas eu confio no nosso amor, por mais difícil que seja aceitar a ideia de veteranas siliconadas dando em cima do meu namorado. – nós rimos.
  - Vocês não tinham terminado? – eu perguntei já me levantando da cama e pegando as bolsas.
  - Sabe como é, não aguento ficar muito tempo sem ele. – ela suspirou e eu só balancei a cabeça em sinal de negação.
  - Afinal, pra que essas calcinhas fio dental? E com etiqueta? – arregalei os olhos quando tirei algumas de uma sacola.
  - Não sabe o que acontece em bailes? – ela sorriu maliciosa.

  Eu afirmei, pois eu já imaginava o que acontecia depois dos bailes, entretanto não estava tão nervosa até ver todos os acessórios para a “Noite Perfeita” que tinha trazido, segundo ela eram acessórios de guerra, imprescindível para qualquer mulher. Nesse kit de guerra tinham: calcinhas realmente pequenas, cremes para todo o corpo, maquiagens com tudo o que tinha direito, chapinha e outros badulaques femininos. Não sabia se o clima esquentaria a ponto de usar todos esses acessórios, ou melhor, me desfazer deles.
  - Gostei do seu vestido – Olívia e tinham me ajudado a escolher o vestido algumas semanas antes. O vestido era um tomara que caia preto justo até a cintura e a partir daí ficava um pouco mais largo e ia até o joelho. – mas precisa de alguns acessórios, senão fica muito simples – disse ela analisando uma caixa vermelha de acessórios – esse colar – ela pegou um colar de correntes finas que davam várias voltas e tinham umas flores de detalhe, era bonito – vai combinar e dar mais destaque para o sapato vermelho. – sim, eu teria que me equilibrar em cima de um salto novamente e o pior de tudo, eu teria que dançar.
  - Tudo bem, só não quero uma maquiagem muito pesada. – dito isso vejo Olívia entrando em meu quarto com uma touca de banho e um chinelinho. – O que é isso?
  - Fui ao cabeleireiro – ela apontou para a touca – e fiz a unha dos pés.
  - Pelo menos já está adiantada. – suspirou – vai ar banho . Vamos começar a nos arrumar. – eram três e cinquenta e três. me buscaria às oito e já teria que começar a me arrumar? Por que bailes deixam mulheres tão histéricas? Resolvi não contrariar e entrei no chuveiro, mesmo com o barulho forte da água pude ouvir umas vozes distantes e tentei prestar atenção.

  - Poxa o estava pensando em não ir para Columbia por causa dela. – ouvi a voz distante de Olívia.
  - Jura? – disse – Eles são tão fofos juntos, mas uma hora cada um vai precisar seguir seu caminho, não há de outra. – filosofou.
  - Pois é. E você já sabe para qual universidade...

  Não consegui ouvir mais nada, eu sabia que era triste, mas daríamos um jeito, não? Eu poderia esperar um ano e acompanhar até a cidade de Nova Iorque e tentar a admissão na mesma universidade. O que eu queria mesmo era me divertir essa noite, torná-la inesquecível. Terminei meu banho, coloquei um roupão felpudo e branco e fui até meu quarto em que Olívia e já tinham revirado todos os meus armários a procura de só Deus-sabe-o-que.
  - Que bagunça – arfei.
  - Precisamos de todos os recursos possíveis – justificou – onde você guarda escovas de cabelo? Procurei em todo lugar.
  - Tem uma ali em cima daquela mesa – Olívia apontou para a mesa do meu computador e foi até lá antes mesmo que eu respondesse alguma coisa. Vasculhou algumas coisas na minha mesa enquanto eu me encaminhava até a minha cama já cheia de roupas. Foi quando ela com um papel em mãos me direcionou um olhar diferente pra mim.
  - O que é isso? – perguntou com um pedaço de papel em mãos. Olívia foi até ela e leu o que estava escrito. Eu já sabia. – quem foi que escreveu isso?
  - Não sei – abaixei o olhar e simplesmente respondi.
  - Alguém de muito mau caráter – Olívia esbravejou – foi só esse bilhete? – ela perguntou enquanto tirava o papel das mãos de que a encarava numa expressão de raiva.
  - Recebi outros, mas decidi não ligar, afinal: o que podem me fazer? – voltei a encarar as duas que tinham a expressão neutra no rosto.
  - Tenho certeza que foi a Fox... – acusou – não me pergunte porque, mas tenho certeza que foi ela. – pegou a escova de cabelos que estava em meio a outros papéis.
  - O que ela ganha ameaçando a ? – Olívia perguntou – Porque quem quer que seja o autor desses bilhetes se contenta em só atormentar, pois nada aconteceu entre a e o . – Olívia concluiu.
  - Sim, mas quem garante que não vai acontecer? – questionou. Eu estava me sentindo no meio de um fogo cruzado. De um lado Olívia tentava mesmo que inconscientemente me acalmar e do outro estava me alertando para o autor desses bilhetes. Bilhetes estes que sequer me preocupei mais seriamente, sempre os deixei de lado, nem e nem ninguém sabia da existência deles. Aliás, isso tem ficado recorrente, Olívia e sabiam de duas coisas que o meu namorado deveria saber. – O sabe da existência deles?
  - Não – bufei – não importa isso agora, vamos nos arrumar? Hoje é dia de festa e não de preocupações.
  Enquanto tomava banho, Olívia e eu escolhíamos os melhores acessórios, que com certeza seriam todos trocados pela nossa queridíssima loira de olhos . A cada momento se aproximava mais do baile e a ansiedade aumentava proporcionalmente. Enquanto escolhíamos os acessórios minha mãe entrou no quarto para conversar um pouco conosco e relembrar histórias de quando ela ia a bailes, óbvio que mensagens de “Tomem cuidados”, “os meninos de hoje não as respeitam mais”, “não façam nada que não queiram” e avisos de mãe estavam milimetricamente postos no meio dessas histórias. Tem vezes que penso que as mães têm uma sensibilidade paranormal ou simplesmente são sutis quando acham que devem ser. Não sou tão obcecada com o poder das palavras quanto o é, mas mães têm dessas de contar histórias com moral ou algo do tipo. Será que são mensagens subliminares maternas? Algo assim, mas a questão é que é tão bom ouvir algum conselho de mãe, por mais equivocado que ele seja como, por exemplo: “Nunca acredite em quem usa gravata borboleta vermelha, além de querer parecer engraçadinho fará você se decepcionar, digo nas questões praticas do relacionamento mesmo.” Questões práticas? Tento me convencer que minha mãe não quis dizer aquilo que pensei que era, pois seria um ponto extremamente estranho pensar minha mãe e alguém... de gravata borboleta vermelha.

  Todas já estávamos ao menos vestidas, faltavam ainda os cabelos, mas eu não demoraria no meu, apenas o secaria, gostava dos meus cachos ondulados, por mais difícil que fosse de cuidar e falou que esse corte favorecia meu rosto e a maquiagem que ela já havia feito. Meus olhos estavam bem marcados – nem quando decidi ser gótica eu sabia fazer meus olhos ficarem tão sexy, minhas bochechas tinham um aspecto saudável graças ao blush milagroso que escondeu minhas sardas e minha boca estava num tom rosa muito claro. Gostei. Olhei para o lado e vi Olivia deslumbrante com um vestido azul colado ao seu corpo com uma maquiagem um pouco mais extravagante que a minha, mas combinava com ela, foi então que me lembrei.
  - Você vai com quem ao baile? Dougie ou Josh – que retocava seu rímel começou a dar risada descontroladamente, afinal não era mistério para ninguém que desde que Olívia tinha começado a namorar Dougie, Josh tinha descoberto sua paixão pela jovem editora do jornal, porém Dougie também já havia notado isso, ou seja, os dois se pegaram a tapas no meio do pátio principal do colégio. Como os dois eram do jornal obviamente a notícia não fora publicada, mas os boatos não cessaram.
  - Com o Dougie – passou gloss nos lábios – ele é meu namorado, por mais que briguemos. Acho que o Josh já entendeu que não posso ter nada com ele. – ela deu um sorriso estranho.
  - Peraí – arfei – você não sabe de quem você gosta? – se interessou pelo assunto.
  - Claro que sei – disfarçou. – Quer dizer, não sei – sua expressão tornou-se aflita – Eu gosto do Dougie sabe? Ele é um fofo, educado, simpático e tem aquela carinha de crianças, mas o Josh – sua voz mudou e poderia até dizer que ouvia suspiros ao pronunciar o nome do “outro” – ele tem jeito de homem, sabe? Aquela barba ralinha com aquele cabelo moreno. Sério, me arrepio só de pensar nas loucuras que ele pode fazer. – WOW, nunca pensei que veria Olívia proferir tais palavras, sempre imaginei algo assim vindo de... talvez.
  - Não esperava isso de você... – leu meus pensamentos? – não que seja anormal achar alguém atraente, não é crime, você namora, mas não está morta. – Olívia riu.
  - Me sinto culpada, sabe? – Olívia lamentou – por mais que o Dougie tente ele não me parece tão atraente quanto o Josh. É horrível essa sensação – lamentou – ainda bem que vocês são decididas e sabem quem é o dono do coração de vocês. – nós três rimos.

  Terminamos de nos arrumar bem antes da campainha tocar e aparecer , e Dougie devidamente vestidos para o baile. Estavam tão lindos vestidos socialmente, geralmente não acho que o estilo social é o melhor, mas tenho que admitir que Daniel ficava especialmente sexy quando estava vestindo terno. cumprimentou a todas, mas se fez de difícil e apenas seguiu para o carro dele que antes de segui-la beijou minha testa e disse que estava linda.
  - Vamos? – entrelaçou nossos braços e quando eu ia falar com Olívia a percebi ao longe entrando no carro de Dougie então apenas assenti e caminhei com até seu carro.
  - Decidiram fazer carreata para nos buscar? – perguntei e riu. Abriu a porta do passageiro para que eu pudesse entrar. – Obrigada, que gentil – sorri. Ele deu a volta em seu carro e entrou.
  - Simples coincidência – ele sorriu e eu duvidei – tudo bem, eu liguei para eles e marcamos de vir mais ou menos no mesmo horário. – liguei o rádio, já era uma espécie de hábito.
  - Você fica engraçada dançando essa música. – eu dançava num ritmo um tanto estranho “Twist and Shout” dos Beatles. Imagino como deveria estar engraçado: eu dançando tentando não desfazer meu cabelo e nem desmontar toda antes de entrar no salão.
  - É uma música clássica – me recompus – quem não gosta de Beatles? – ele sorriu e concordou.
  - Animada para o baile? – ele perguntou enquanto diminuía o volume que eu já tinha aumentado.
  - É curioso, mas estou sim. Quando me imaginava formada não era essa a imagem que eu tinha, sabe? – ele sorriu das minhas memórias nostálgicas.
  - Como se imaginava então? – perguntou.
  - O e eu – ele fez uma careta e eu continuei – nunca fui a bailes, mas se eu não estivesse namorando iria com o sim. – ele riu – O com alguma menina e... só. Ou talvez eu ficasse em casa assistindo “Curtindo a Vida Adoidado” e dançando histericamente “Twist and Shout” com a minha mãe. – nós dois rimos.
  - Já dançou histericamente – ele disse e eu sorri – não poderia ficar mais perfeito, poderia? – ele perguntou enquanto parava o carro no estacionamento do colégio que ficava um pouco longe da entrada do salão.
  - Poderia – o desafiei – um beijo talvez. – ele riu e se aproximou de mim, não sem antes tirar o cinto de segurança. Esse beijo foi único assim como todos os nossos, porém tinha um gosto diferente. Despedida talvez? Nossas línguas tinham pressa e se não fosse “queridos amigos” batendo na janela do carro eu nunca teria ido a um baile.
  - Chatos, não? – ele perguntou e nossas testas estavam coladas, eu murmurei alguma coisa e ele se afastou e fez um sinal estranho para os nossos amigos. – Vamos agora. – ele disse e eu mesma abri a porta do carro. Tive que ouvir algumas piadinhas de , mas não liguei.
  - Chega gente – Olívia se pronunciou e a agradeci. – temos um baile de formatura para aproveitar. – ela soltou um gritinho histérico que me fez rir. apertou minha cintura e me abraçou de lado e então fomos todos caminhando em casal até o salão. parecia já ter se acertado com , pois estavam com alguma conversa obscena ao pé do ouvido, pois estavam sorrindo muito maliciosamente.

  Olívia e Dougie estavam mais contidos, mas não deixavam de lado os carinhos e eu sorri e então me deu um longo beijo na bochecha o que fez com que parássemos de andar junto com os outros. Paramos no meio do caminho e não falamos nada, ele só olhava em meus olhos e eu os dele, eu sorri e ele me acompanhou. Foi tão intenso esse momento que cheguei a questionar minha vida antes dele, era tão engraçado como eu lidava com os meus sentimentos, não que eu não sentisse, mas não sabia demonstrar e isso era tudo tão natural para mim, entretanto um garoto de olhos claros e hipnotizantes, com um tipo popular, e um sorriso extravagante acaba com o meu plano de me tornar invisível o ensino médio inteiro. Não tinha planos de me apaixonar, não tinha planos de vir a um baile, sequer tinha planos de ter mais amigos, mas chegou o momento que ele acabou com esses planos e me obrigou a encontrar uma forma de demonstrar os sentimentos que já não cabiam em mim. Não conseguia conter todas as sensações que ele me provocava, era tudo tão intenso e avassalador que eu sentia que uma avalanche de sensações estavam prestes a acontecer e tudo isso tinha um nome: , era ele quem me provocava tais sensações. Eram os dedos dele que ao passear pela minha nuca que faziam meus pelos se eriçarem, eram seus lábios que provocavam mariposas no meu estômago e era sua ausência que fazia descobrir que poderiam doer partes do meu corpo que eu desconhecia.
  - Eu te amo. – eu disse admirando seus olhos brilhantes.
  - Você não imagina o quanto é bom ouvir isso. – um sorriso se abriu em meus lábios. Continuamos a caminhar até que chegamos à entrada da quadra de basquete, era lá que as grandes festas eram organizadas.

  Quando chegamos percebi a presença de uma morena muito bonita e impecavelmente arrumada, seus cabelos estavam presos num rabo de cavalo e não tinha um fio fora do lugar, seu vestido era justo e curto mostrando com perfeição suas pernas, ao nos ver ela sorriu consideravelmente para Daniel que apenas abaixou a cabeça. Aquela morena era Fox que estava desacompanhada, apesar de vários meninos a terem chamado.
  - Ora, ora – ela sorriu enquanto caminhava até nós – O casalzinho 20. Não me canso de ver vocês, sabia? – eu sorri cínica.
  - Mas eu sim, vamos ? – o puxei pelas mãos para que pudéssemos entrar.
  - Não fica brava florzinha - sua voz saiu irritante – ainda vamos nos ver algumas vezes hoje. – ela ameaçou.
  - Vamos . – minha voz saiu trincada. E apenas me acompanhou.
  Ao entrar no salão éramos surpreendidos por uma decoração estonteante, nunca tinha participado de um baile, mas aquilo era realmente muito bonito. Num palco improvisado havia uma banda desconhecida tocando baladas pop e iluminados por luzes que mudavam de cor, haviam estrelas brilhantes também vindas do teto e conforme as pessoas iam entrando aquilo parecia animar cada vez mais, alguns casais já dançavam e outros apenas estavam sentados com os amigos em mesas que estavam disponíveis.
  - E então? – perguntou .
  - Gostei disso. – eu sorri e nós caminhamos até a mesa em que nossos amigos estavam. ao lado de que estava ao lado de Olívia que estava ao lado de Dougie, confuso?
  - Os pombinhos demoraram. – Olívia comentou.
  - Um pouco – respondi sem graça e sentei-me ao lado de Dougie e ao meu lado.
  - E então, alguma cena? – perguntou à todos da mesa que negaram, mas Olívia o respondeu.
  - Ainda é cedo, ninguém está bêbado ainda. – nós rimos – daqui a pouco tem algum barraco. – finalizou.

  - Especialmente porque a biscate da Fox está chegando. – disse entre os dentes – e veio sozinha. Com certeza para dar em cima de alguém. – esbravejou.
  - Ou para aproveitar a festa sendo uma mulher independente que não precisa de homem para se divertir. – Completou .
  - Olha, logo você vai ser um homem independente e poderá aproveitar com a Fox se continuar com as suas gracinhas. – todos rimos, inclusive que a abraçou beijando o topo de sua cabeça.
  - Vamos dançar? Não aguento ver esses dois brigando. – Olívia puxou Dougie e me deu a mão para que também fossemos dançar. A banda que antes tocava uma música agitada do The Offspring “You’re gonna go far, kid” começou a tocar uma melodia leve e doce “Yellow” do Coldplay.
  - Não é uma boa ideia eu dançar – comentei com , mas suas mãos já estavam em minha cintura e guiavam o ritmo. – Sou péssima e vou acabar pisando no seu pé.
  - Confia em mim. – eu parecia uma pessoa extremamente descoordenada, o que de fato eu era, mas o ritmo proposto por me parecia confortável. - Olhe para as estrelas, veja como elas brilham pra você. – parafraseou a música que estava tocando.
  - Isso soa muito meloso – ele riu – até para você que é romântico.
  - Nisso somos diferentes, não? – ele continuava a me guiar e eu apenas franzi a testa – você é mais objetiva e eu gosto de enfeitar as situações, por exemplo, era para ser um momento romântico agora, mas como você não é previsível, estamos discutindo sobre o que é meloso demais. – ele riu e eu o acompanhei.
  - Não somos um casal muito previsível – conclui – mas é disso que eu gosto nessa relação. – continuamos a nos divertir na pista de dança. Estava tão automático o ritmo que nem percebi quando começou a tocar algum remix de “Forever Young” e continuamos ao ritmo de uma música lenta, um tanto quanto... incomum.

So many adventures couldn't happen today
Tantas aventuras não poderiam acontecer hoje
So many songs we forgot to play
Tantas musicas esquecemos-nos de tocar
So many dreams swinging out of the blue
Tantos sonhos arrumando-se de repente
We let them come true
Nós vamos deixá-los tornar-se realidade

  Sentamos-nos à mesa depois de algumas músicas, afinal a pista de dança começava a ficar apinhada de pessoas não dando espaço sequer para um simples passo. e estavam aos beijos que foi necessário e eu falarmos mais alto na tentativa de separá-los, porém foi uma tentativa frustrada, então simplesmente sentamos e começamos a conversar enquanto tentávamos desviar o olhar dos nossos melhores amigos que se engoliam.
  - Estou tão feliz por ter sido admitido na universidade de Columbia. – ele que antes olhava para a pista de dança, virou-se para mim e sorriu.
  - Você merece. – tentei sorrir, mas enrijeci e acho que ele não percebeu.
  - E como ficou a história de Cornell? – ele perguntou encarando meus olhos e minha boca e eu me aproveitei disso e o beijei. Sim, sei que fui covarde, sei que uma hora ou outra eu teria que falar que eu iria para a Cornell, mas e a coragem?
  - Seu beijo é muito bom. – ele disse com os olhos fechados e próximo à minha boca – mas algo me diz que você fugiu da minha pergunta – ele sorriu.
  - Sim. – murmurei – por que você é assim? – me afastei dele – como percebe essas coisas?
  - Simplesmente sei – ele sorriu – Você foi admitida na Cornell, não? – ele me olhou compreensivo.
  - Sim. – respondi.
  - Eu fico feliz por você, por que não me disse antes? – minhas mãos estavam entrelaçadas com as dele.
  - Não sei. Parece que se eu dissesse algo às coisas tomariam outras proporções, entende? – ele assentiu – era como se quando eu falasse em voz alta tudo isso fosse acabar. – desabafei.

  - Que tal, termos essa conversa depois? Temos ainda alguns meses de férias para aproveitar. – eu assenti e ele beijou as minhas mãos e eu sorri.
  As musicas começaram a ficar muito românticas e os casais muito próximos, era a minha deixa.
  - , eu já volto – levantei e me direcionei até o banheiro e no caminho pude perceber alguns casais mais animados e eufóricos se é que me entende e no meio desses casais percebi Josh, Olívia e Dougie, antes que pensem em algum tipo de diversão exótica, eu explico:
  Dougie e Josh estavam discutindo algo que não pude decifrar o que era e Olívia estava entre os dois com a cabeça baixa. Tinha acontecido alguma coisa, isso era fato, mas depois eu perguntaria para Olívia.
  Direcionei-me até o banheiro e percebi que Fox estava retocando a maquiagem:
  - Tudo bom? – Fox perguntou e eu apenas assenti. – O que aconteceu ? – ela perguntou cínica.
  - O que aconteceu? – questionei – Você se lembra o que aconteceu na casa do .
  - O que? Foram tantas coisas que aconteceram na casa do ... – ela sorriu maliciosa e eu comecei a me irritar.
  - Você sabe muito bem o que aconteceu aquele dia do trabalho de artes. – a lembrei.
  - Ah! Esse dia – ela disse como se recordasse – não fica assim não florzinha, já estou bem resolvida, já consegui o que eu queria. – ela terminou de passar o batom nos lábios o guardou em sua pequena bolsa e saiu do banheiro acenando para mim.
  O sangue começava a subir e uma raiva imensa emanava do meu ser. Como assim? “Já consegui o que eu queria?”, essa menina tinha algum problema? Que ela pensava que era para fazer tais insinuações. Apoiei minhas mãos na pia fria e me olhei no espelho, eu estava diferente: toda maquiada e com um vestido muito bonito, fora os acessórios escolhidos por . tinha se apaixonado por uma aparentemente simples, mas hoje a que ele tinha era mais elegante e bem arrumada e eu me sentia bem assim. Nenhuma insinuação de Fox me faria mal.
  Sai do banheiro e fui andando de volta até a mesa, porém fui abordada por Ricardo que me segurou pelos braços.

  - Você está linda – ele disse com um sorriso nos lábios.
  - Você está bem também. – o elogiei – tenho que ir agora, desculpe. – murmurei.
  - Você mudou muito, sabia? – ele continuou – Quem diria que seria amiga da ? Quem diria que você namoraria o ? – ele riu inconformado – você não é a que conheci e sabe o que é pior? Ainda assim gosto de você. Tchau – saiu e me deixou com cara de idiota no meio do salão. Sinceramente eu deveria ter feito algo de muito errado, primeiro era Fox, depois Ricardo. O que ainda estava por vir? Ah! Sim, quando cheguei à mesa Fox e estavam discutindo.
estava de costas e Fox conseguia perfeitamente me ver, tanto que quando viu eu me aproximar da mesa deu um sorriso malicioso.
  - Esquece essa história, entendeu? – disse sem perceber que eu me aproximava.
  - Você quer esquecer? – ela sorriu – foi tão legal.
  - Não, não foi. Eu amo a , será que você não entende? – ele esbravejava.
  - Seria mais fácil eu entender se você não tivesse me beijado. – parecia que eu ia despencar daqueles saltos.
  - Você a beijou ? – perguntei tentando segurar a imensa raiva misturada com tristeza.
  - ... – ele se assustou e me pegou pelos ombros e eu não consegui me mexer. – Eu...
  - Você a beijou ? – voltei a perguntar enrijecida. Ele abaixou a cabeça e Fox sorria ainda mais e eu fechei os olhos e soltei um sorriso desacreditado. – Sim, você a beijou.
  - Não foi bem assim. – e voltavam da pista de dança e nos olhavam curiosos.
  - Foi como? – ele não respondeu.
  - O que acontece aqui? – perguntou curiosa.
  - O estava explicando para a como foi me beijar. – respondeu e eu sentia que não aguentaria mais ficar em pé.
  - O que? O que você fez ? – perguntava irritada e tentava acalmá-la? O era meu amigo ele deveria me proteger.
  - Você sabia, não sabia ? – eu perguntei sentindo algumas lágrimas caírem pelo meu rosto.
  - , fica calma. – ele me olhava firme – deixa o te explicar.
  - CHEGA – esbravejei. – não quero ouvir mais nada. – era inevitável segurar mais lágrimas, a única coisa que eu queria era sair daquele lugar. Não conseguia mais distinguir as palavras. falava, se desculpava, Fox sorria, Olívia, Dougie e Josh me olhavam com pena. Sai correndo e os deixei para trás.

  Minhas pernas não me obedeciam mais, elas estavam ágeis e hábeis, talvez num momento de desespero sua emoção passe a controlar seu corpo, a razão fica de lado por alguns momentos, pois seria impossível minutos atrás me equilibrar num salto fino que dirá correr com eles pelo gramado do colégio. Nunca pensei que correria tão rápido com um salto daquele tamanho, nunca pensei que passaria dentre tantas pessoas sem reconhecer rostos que estudaram comigo. Nunca pensei que me trairia. Tirei os sapatos do pé e comecei a caminhar descalça, era tão estranho ter de admitir ser trocada por Fox, ela era tão...
  - Eu te avisei, não avisei? – ouço uma voz masculina atrás de mim e nem me dei ao trabalho de virar. – se eu fosse falar pessoalmente você não acreditaria. – eu sorri cínica.
  - Os bilhetes. – eu suspirei ainda sem encarar seu rosto – foi você quem mandou?
  - Sim. Eu sempre soube o que Fox queria fazer. – senti tocar meu ombro. Em complacência, talvez?
  - Ricardo... – minha cabeça dava voltas. sabia o que havia feito e sequer teve o trabalho de me contar, meu melhor amigo. Ricardo, meu ex-namorado indicava essa possível traição de ? O mundo tinha virado de ponta cabeça? – você sabia? – minha voz saiu chorosa e então ele sentou-se ao meu lado.
  - A Fox sempre quis o – eu revirei os olhos e ele continuou – mas depois que você começaram a sair, virou uma obsessão, entende? – Não eu não entendia.
  - Uma disputa? – perguntei incrédula. – Quem seria idiota o suficiente para disputar alguém? É ridículo isso. – esbravejei com o cenho fechado. E ele só olhou para meus olhos e deu um sorriso tímido, por mais que eu me afastasse do Ricardo, mesmo assim eu sabia que ele era um bom amigo talvez o principal erro fosse ter namorado ele. Funcionaríamos dez mil vezes mais como amigos, seriamos bem melhores assim: sem cobranças, sem falsos sentimentos...
  - Sim, é ridículo – ele tinha uma expressão nostálgica – , eu só queria que não entendesse isso errado. Sei que alguns bilhetes foram secos e talvez até mal educados, mas eu só queria te proteger. – mordi meu lábio inferior com quase toda a força.
  - Alguns? – perguntei – tive medo, sabia? – ele me olhou envergonhado e continuei – Por que não foi mais explicito nos bilhetes se a intenção era me proteger? – meus olhos estavam quentes e a qualquer momento em desabaria em lágrimas. Lembra da avalanche?
  - Covarde. Eu sempre fui, não é? – lamentou – você iria acreditar? Não entende, não é? O é tão diferente, vocês não se parecem nada.
  - Eu iria conversar com ele. Era esse o medo? Que ele conseguisse me dar uma resposta satisfatória? – suspirei – mas nem importa mais, eu sempre soube que éramos diferentes, mas por alguns momentos achei que ele era o cara certo.
  - O cara certo? – ele encarou meus olhos e pude notar sua expressão triste. – , escuta: eu amo você. – lembra do olho ardendo? Estava quente por conta das teimosas lágrimas que despencaram. – vejo que ama o . Por que não tenta conversar com ele? – Pare o mundo que eu quero descer!

  Agora minhas lágrimas começavam a cair de forma descontrolada e me sentia tão fraca, tão ingênua que soluçava. Ricardo se aproximou e me deu um abraço e mesmo assim não me sentia segura, tanto que molhei toda sua camisa com minhas lágrimas, talvez isso soe um pouco trágico e melancólico, mas era assim que eu me sentia. Talvez o beijo tenha sido somente um estopim, por sentir que tudo estava acabando. Eu não chorava apenas por , eu chorava por , por , por , meus pais. O sentimento de perda era tão grande que as lágrimas não cessariam tão cedo.
  - Não aguento ver você assim. – Ricardo fazia cafuné em meus cabelos enquanto sussurrava palavras doces ao meu ouvido.
  - Eu tenho um buraco no meu peito, entende? – afundei minha cabeça em seu peito.
  - Não entendo, mas posso tentar imaginar – ele beijou o topo da minha cabeça e comecei a me acalmar, talvez era disso que eu precisasse, um abraço e de alguém me ouvir. Não que não tivesse com ninguém, mas eram tantas pessoas falando comigo todo o tempo que eu não estava acostumada a falar e alguém me ouvir.
  - Estou com a maquiagem toda borrada e descabelada, não é? – sai de seus braços que estavam mais fortes do que quando a gente namorava e tentei limpar as lágrimas. Ele sorriu e respondeu:
  - Você está linda – eu sorri – tudo bem que está com os olhos inchados, os cabelos desgrenhados e com o nariz entupido o que faz sua voz soar engraçada – nós rimos – mas continua linda. – seus olhos encararam o meu e senti um arrepio percorrer toda minha espinha. E era ele que me causava isso? Sensações assim eram tão exclusivas de que eu não estava acostumada a sentir com outra pessoa, ainda mais sendo o Ricardo.

  Estávamos sentados num banco no pátio detrás do colégio e estava um pouco escuro exceto pelas luzes amarelas que faziam um caminho da entrada até o jardim, mas como estávamos um pouco longe desse caminho não conseguia vez com nitidez Ricardo.
  - Como sabia que eu estaria aqui? – perguntei me desvencilhando de suas mãos.
  - Você costumava almoçar aqui, lembra? – eu sorri. Realmente eu almoçava aqui quando estava ocupado com as coisas do time.
  - Lembro. – eu sorri – talvez aqui seja o lugar normal desse colégio todo e apesar de tudo vou sentir saudades desse lugar. – ele sorriu e concordou.
  - Realmente. Já sabe para qual faculdade vai? – ele suspirou.
  - Cornell. E você vai para Stanford mesmo? – ele sorriu e assentiu. Esse sempre foi o sonho de Ricardo: fazer direito em Stanford.
  - É estranho sair de Dallas, não é? – eu assenti nostálgica – vivemos a vida inteira no Texas e de repente vamos deixar tudo isso para trás e ter uma vida nova. Parece um pouco de aventura.
  - Aventura? Estou morrendo de medo, é tão assustador mudar para um lugar em que não há ninguém para te apoiar. – comentei.
  - Vamos voltar? – ele se levantou e ofereceu sua mão e eu duvidei – O que? É seu baile de formatura. Vai deixar a Fox estragar? – não eu não ia deixar ela estragar. Peguei sua mão e então caminhamos até o salão novamente. Calcei meus sapatos e dei um jeito nos meus cabelos para que eu não parecesse tão acabada assim.
  - Estou um trapo não estou? – perguntei para Ricardo que caminhava do meu lado.
  - O que seriam bailes escolares sem esses dramas? – nós rimos. – Olha, se diverte hoje, afinal isso aqui é único. Sei que você acha bailes extremamente estúpidos, mas essa época não vai voltar mais, então se diverte hoje e deixa para resolver os problemas do seu coração amanhã com a cabeça tranquila. – ele sorriu.
  - Eu queria amar você do jeito que você me ama. – comentei – na verdade eu quero que você encontre a garota certa.
  - Como eu disse: o que seria da escola sem seus dramas?

I'm not sure what this could mean
Eu não tenho certeza do que isso significa
I don't think you're what you seem
Eu não acho que você seja o que mostra
I do admit to myself
Eu admito para mim mesma
That if I hurt someone else
Que se eu machucar alguém mais
Then I'll never see just what we're meant to be
Eu jamais verei o que na verdade deveríamos ter sido

  New Order nunca descreveu tão bem meus sentimentos com Bizarre Love Triangle (Bizarro Triangulo Amoroso), mas a única coisa que eu queria saber era de dançar. Sim, eu estava com a maquiagem borrada, meu vestido estava amassado e eu também estava descabelada, mas quer saber? Nada disso me importava, eu não sabia dançar e eu dancei. Eu não sabia cantar e eu cantei. Eu não sabia amar e eu amei. E quanto ao ?
  - Precisamos conversar – ele me pegou pelos braços e eu percebi que os olhos que tanto me encantavam estavam vermelhos. – Me escuta, por favor.
  - Hoje? – estava receosa. – Não quero falar sobre isso hoje. – disse segura.
  - Quando você quer falar? – ele me perguntou impaciente e eu apenas sorri.
  - Eu não quero falar nada, você é quem vai explicar algo que nem sei se tem explicação.
  - Eu não queria beijá-la – ele parecia aflito.
  - Mas beijou. – sorri cínica – eu até imagino que foi ela quem ou a iniciativa, não? E por que me escondeu? Não seríamos sinceros um com o outro? – ele abaixou a cabeça e eu continuei. – Desculpa , mas não quero falar sobre isso hoje. – o deixei ali e por mais partido que meu coração estivesse eu não iria embora até que eu sentisse ter aproveitado o máximo dessa formatura.

Epílogo

  Certa vez Newton propôs sua primeira lei ou como também é conhecido “O Princípio da Inércia” que nada mais é que: "Todo corpo permanece em seu estado de repouso ou de movimento retilíneo e uniforme, a menos que seja obrigado a mudar seu estado por forças a ele impressas." O que me faz concluir que se jamais tivesse escrito aquele bilhete, hoje eu estaria inerte para o amor, por mais que estivesse namorando com o Ricardo, ou seja, meu corpo permanecia repousado ou num movimento constante para o amor – eu estava acostumada a me fechar para sentimentos mais fortes – contudo mandou aquele bilhete o que me fez mudar de rumo, o que fez com que eu saísse da inércia. Não sei definir muito bem se foi bom ou ruim, mas posso concluir que por mais intensos que esses sentimentos me pareciam hoje me encaixo melhor na segunda lei de Newton:
  "Se um corpo está em equilíbrio, isto é, a resultante das forças que agem sobre ele é nula, é possível encontrar ao menos um referencial, denominado inercial, para o qual este corpo está em repouso ou em movimento retilíneo uniforme." O que explica minha atitude quando veio falar comigo. Eu não estava mais inerte, mas também não deixei todas as suas forças de persuasão agirem sobre mim, o meu referencial inicial era minha autoestima, era o meu sorriso e eu não deixaria ninguém me machucas.
  - Podemos conversar? – ele perguntou na porta da minha casa que a fechei, ficando assim os dois para o lado de fora.
  - Claro – eu sorri dando confiança para que ele iniciasse um assunto que mal tinha me deixado dormir naquela noite.

  - Eu só queria que soubesse que o que tive com a Fox foi um erro – eu abri minha boca para questionar algo e ele continuou antes que eu falasse mais alguma coisa. – Foi só um beijo, não crie imagens na sua cabeça – seus olhos estavam fundos e seus cabelos desgrenhados. Pensei que era só eu que gostava de um drama. – Ela foi até em casa para terminar o trabalho de artes e ela veio pra cima de mim e nos beijamos. Não tiro a minha culpa disso, mas o que posso dizer é que não houve significado algum. – ele pausou – Não contei nada por medo, talvez. – Ricardo e ele se pareciam numa coisa: eram covardes. A verdade doía tanto assim? Era a segunda vez que ele mentia pra mim e era seu cúmplice.
  - Sabe de uma coisa? – peguei suas mãos que estavam geladas e suando – eu perdoo você. – ele sorriu – mas você acredita que isso vai dar mesmo certo? Se quando estamos na mesma cidade, no mesmo bairro você não consegue me dizer a verdade, quem dirá longe. – ele abaixou a cabeça.
  - Eu posso fazer dar certo – ele implorou e eu apenas neguei com a cabeça.
  - Talvez seja isso. – eu o olhei nos olhos com uma imensa vontade de beijá-lo – Talvez seja aqui o fim – tentei sorrir, mas foi em vão.
  - Fim? – murmurou.
  - É – abaixei a cabeça e ele apenas me abraçou e então não segurei uma lágrima teimosa. – Gosto muito de você, de verdade.
  - Eu amo você. – sussurrou em meus ouvidos e me puxou para que eu pudesse ver seus olhos – Não acho que tenha terminado. Não quero que termine. – eu assenti e voltei a abraçá-lo.

  E foi assim a conversa que tive com antes das férias, antes de eu viajar para Paris e ficar exatamente os meses de férias, eu não queria vê-lo, na verdade queria experiências novas, o que me fez bem. E foi tão mais fácil pegar meu carro e dirigir o país inteiro até Nova Iorque – sim, eu não quis ir de avião, decidi ser ao menos uma vez na vida aventureira. Dirigi o país todo conhecendo as mais especificas e encantadoras cidades, das mais povoadas até as mais escassas, talvez possa soar aterrorizante como: “A morte pede carona”, mas não pedi carona para ninguém e nem ofereci. Num dia de chuva quando eu estava quase chegando a Ithaca/NY abri o porta luvas e encontrei um bilhete:

  Eu preciso da sua ajuda. Eu amo uma garota que fugiu de mim, pode me ajudar?

  Sorri daquela tolice e continuei a dirigir. Eu tinha chegado.

Cornell era minha nova casa.

  Aquele imenso jardim e aquela arquitetura antiga tinham um mistério no ar que me acalmava. Eu desliguei o carro, abri a porta e fiquei alguns minutos admirando e assimilando minha nova vida.

Fim?



Comentários da autora

AHHHHH! Eu adorei passar esse tempo postando uma fic que escrevi há tanto tempo atrás. Foi especialmente divertido, mesmo sem muitos comentários fiquei super feliz com quem comentou e/ou curtiu ler. Não me matem, o final foi esse, pensei por algum tempo mudar esse final, mas simplesmente não consegui, pois tem uma segunda parte nessa história e ficaria muito esquisito tirá-la de vez. Então, como essa parte terminou, prometo que logo eu começo a postar NEM FÍSICA, NEM QUÍMICA. Vai contar um pouco da vida dos dois protagonistas na Universidade.
Obrigada: Melissa, Fabiane, Cecília, Jessie, Luana, Dj Malik, Ana
Carolina,@_PrisonerTw, Katy, Ana e Geovana Oliveira.
Só porque sou boazinha vou dar um spoiler de NFNQ:

“- Sim, toda amizade é conquistada. – ele voltou a me encarar e então percebi seus olhos não tão brilhantes.
- Ciúmes? – perguntei receosa.
- Muito. – ele deu um sorriso torto e o acompanhei. – é estranho te ver assim. – estranhei sua afirmação e ele então continuou. – longe de mim. Quando morávamos em Dallas, mesmo você não sendo minha namorada eu sabia de você. – sua voz soou nostálgica. – e agora você tem amigos que eu não conheço e estão mais perto. – peguei suas mãos e olhei em seus olhos.”