First Date
Escrito por Zã Nogueira | Revisado por Cáa
Tamborilava os dedos no volante do carro. Chequei como eu estava no espelho retrovisor e depois as horas no relógio do painel. Sete e cinquenta e dois, estava adiantado oito minutos. Olhei para a porta da frente da casa, que permanecia fechada. Sete e cinquenta e três. Eu não sabia por que estava tão ansioso, já tinha ido a encontros antes e conhecia há anos. Não éramos melhores amigos, mas ainda assim, ela era uma boa amiga e companhia. E se ela havia aceitado sair comigo, então era porque também gostava da minha companhia, certo? Olhei novamente para a minha camisa branca, não fazia idéia do que vestir e acabei colocando a primeira camisa limpa que achei no meu armário. Espero que não derrube comida nela.
Oito e três. Ela estava atrasada. Talvez tenha desistido? Peguei meu celular, nenhuma mensagem ou chamada perdida. Deveria ligar e avisar que estava ali? Não, não queria parecer desesperado. Vou esperar. Volto a tamborilar no volante do carro, quanto tempo ela pode demorar?
Oito e treze, a porta se abre. sai, usando um vestido e salto alto. Os cabelos estão soltos e parece que tudo está em câmera lenta enquanto ela caminha sorridente até o carro. Eu deveria sair e abrir a porta para ela? Ou ela riria de mim? Foda-se, vou abrir. Solto o cinto e então percebo que ela está a passos do carro, não conseguiria chegar à porta antes dela.
- Tudo bem? - senta no banco ao lado do meu e fecha a porta. Seu perfume invade o carro e ela me abraça - Você chegou há muito tempo?
Olho para o relógio, oito e dezessete.
- Acabei de chegar - Minto. Aposto que estou com um sorriso idiota no rosto - Podemos ir?
- Claro - Nós colocamos o cinto e ela liga o rádio depois que eu dou a partida. Nunca ouvi aquela música na minha vida, mas pelo canto dos olhos vejo que murmura junto com a música - Para onde vamos?
- Pensei que poderíamos comer sushi - Eu odiava aquilo, mas sabia que ela gostava.
- Legal - Ela disse.
Engatamos uma conversa sobre o Japão que terminou sendo sobre a vida sexual do Mario. Sim, o personagem de videogames.
Chegamos ao restaurante. Ele era pequeno, só atendia com reservas e aparentemente custava demais para o peixe nem ser cozido. Sentamos nas almofadinhas no chão, muito finas para o meu bumbum magro. Uma mesa perto da nossa era composta por quatro homens que estavam longe demais de New Jersey para serem tão laranjas e não disfarçaram ao encarar e trocarem olhares de aprovação. Primeiro, quem sai com os amigos para comer sushi? Segundo, eu estava bem ali, eles eram muito atrevidos para olhar para ela desse jeito. Terceiro, eu realmente gostaria que fosse somente e eu naquele lugar.
- Boa noite, meu nome é Chloe e eu serei a sua atendente hoje - A sorridente garçonete ficou séria assim que olhou para mim - !?
Merda.
- Ah, olá Chloe - Agradeci o fato de ela ter se apresentado ou esse seria um momento muito mais constrangedor.
- Fiquem a vontade - Ela colocou os cardápios na mesa com violência.
olhou para mim achando graça daquilo tudo.
- Você pegou a nossa garçonete, ?
- Desculpe por isso, não fazia idéia que ela trabalhava aqui.
- Não se preocupe - abanou a mão no ar.
Chloe voltou, fizemos nosso pedido e começamos a beber saquê.
- O que você fez que a deixou tão furiosa? - perguntou. Eu me arrependia por ter tomado tanto saquê estando de barriga vazia.
- Não liguei de volta.
- Oh, malvado! - Ela se deliciava com o meu azar - Quantas mulheres você levou para a cama?
- Isso não é pergunta que se faça, ainda mais no primeiro encontro.
- Vamos parar de fingir que eu não te conheço bem demais pra achar que você é um jovem recatado. Já te vi carregando muitas garotas para a sua casa ? Ela sorriu travessamente e eu suspirei.
- Não vou falar isso.
- Oito.
- Como?
- Eu fui para a cama com oito caras ? me olhou e eu sabia que ela estava me zoando.
- Mentira ? Ela deu uma risada gostosa e eu derreti um pouco. Parecia uma mulherzinha na TPM, eu sei. tinha um jeito misterioso, algo incompreensível, ela estava mentindo descaradamente para mim e nem tremia. Quer dizer, ela estava mentido, certo?
- Dizem que as mulheres sempre subtraem cinco ao falar o número.
- Dez.
- O que?
- Nós normalmente subtraímos dez.
- Você foi para cama com dezoito homens?
- Eu não disse que subtraí. E você com quantas?
- Eu não conto quantas mulheres levo para a cama.
- Você não sabe contar tão longe, não é mesmo? ? Chloe apareceu com os nossos pedidos. Era seguro comer ou teria ela me envenenado?
A garçonete saiu e deu risada, começando a comer. Comemos enquanto conversávamos sobre tudo. A vantagem de conhecer há tanto tempo é que eu não precisava tentar impressioná-la, ela me conhecia bem demais para cair em minha lábia.
- Certo, qual o plano para o resto da noite? ? Ela falou enquanto eu pagava a conta do jantar que eu mal havia comido.
- O que você quer fazer?
- Dançar? ? Eu fiz uma careta, dançava como se tivesse levado um tiro na perna ? Certo, nada de dançar.
- Vamos dar uma volta?
- Pode ser ? Ela deu de ombros.
Andamos em direção ao estacionamento, estava bem mais movimentado do que eu gostaria. Fiquei apertando meus dedos, tentando conter o impulso de segurar a mão de . As costas de nossas mãos se tocaram e ela pareceu não se importar. Eu entrelacei nossas mãos e a puxei, atravessando a rua. Me sentia um adolescente no primeiro encontro, havia algo nela que me deixava assim, inseguro.
Chegamos ao carro e soltou-se de mim. O frio deixado onde sua mão estava me incomodou. Abri o carro pelo controle e entramos.
Eu não queria que aquela noite acabasse, mas não sabia como evitar o fim.
Dirigíamos pela cidade, sentindo uma brisa fresca aliviando o calor daquela noite de verão e falávamos sobre tudo. Meu objetivo era ouvir a risada dela ecoando pelo carro e sorria toda vez que o cumpria. Olhei no relógio do carro. Meia noite e quarenta e nove.
- Olha a hora - Ela disse - Nem vi o tempo passar! Tenho que ir para casa?
- Certo - Falei dando a volta e me dirigindo para a casa dela achando aquilo estranho. Ela queria ir dançar e depois resolveu ir para a casa antes da uma da manhã.
Uma e dois. Paramos em frente à casa dela, mas não saiu do carro. Continuamos conversando, sempre engatando um assunto no outro.
- Agora eu tenho que ir - Ela disse pela centésima vez. Uma e cinquenta e um, ela se inclinou para se despedir e até o último segundo eu não tive certeza do que fazer. Nossos lábios se tocaram - na verdade, eles mais se esbarraram - e se afastou, somente para tomar fôlego e me beijar novamente.
Eu estava sem ar, as janelas do carro embaçadas, meus lábios levemente adormecidos e não queria parar aquilo de jeito algum, quando ela voltou a se distanciar de mim.
- Boa noite, - saiu do carro e eu fiquei lá parado até ter certeza de que estava segura em casa.
Duas e dezoito, sorri sozinho satisfeito por não ter errado o beijo e recoloquei o cinto. Aquela noite tinha valido cada segundo e eu já estava pronto para repetir.
Let's go, don't wait, this night's almost over, honest, let?s make, this night last forever