Fingerprints

Escrito por Gabi Fernandes | Revisado por Bella

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  Sinceramente, você não vai querer ficar no meu lugar. Não mesmo. Infelizmente, vou ter que sair daqui de Wolverhampton e voltar para o Brasil, por causa do meu pai, que ganhou uma nova proposta de trabalho. Isso é bom para o meu pai, e péssimo pra mim que vou ter que deixar Liam, meu namorado. Estamos juntos há quase dois anos, mas desde que contei isso pra ele, ou seja, há duas semanas, que não nos falamos. E eu vou viajar amanhã pela manhã.
  Se Liam ao menos entendesse que se fosse por mim eu ficava com ele, mas não, ele tinha que ser muito cabeça dura! Argh! Ele é muito teimoso, é impressionante!
  Não que ele seja cheio de defeitos, Liam tem mais qualidades, e ótimas qualidades, aquelas que toda mulher deseja num homem. Liam é extremamente romântico. Ele não precisa de datas pra me fazer uma surpresa, ele sempre dá um jeito de me surpreender, e eu amo isso. No nosso primeiro dia dos namorados, ele me pediu oficialmente em namoro, com direito a anel de compromisso. No aniversário de dois anos de namoro, ele fez meio que uma loucura de amor. Quando saímos do colégio, ele me levou até um galpão, perto do local que ele luta boxe, e, quando entrei, o lugar estava completamente cheio de bilhetes coloridos espalhados com mensagens fofas que ele disse pra mim ao longo desses dois anos.
  Liam também é muito preocupado e atencioso. Se não nos falamos durante o dia todo, ele liga pra mim de noite pra conversar comigo.
  E ele me acostumou com esse mimo todo. Vemo-nos todos os dias no colégio, mas ele só me encara, e baixa o olhar, e eu faço o mesmo. Eu sou a garota normal do colégio, sem nada demais, não sou nem a pior nem a melhor da sala. Já Liam é simplesmente o capitão do time de basquete. Imagine como eu me sinto ao ver meu namorado sendo disputado por meninas mais lindas que eu, mais interessantes, mais inteligentes e mais atraentes que eu.
  Seus amigos são uns amores, nos damos bem. Mas agora Liam está andando com essas garotas, e parece que ele não sabe que isso me magoa. Não que eu seja ciumenta... ok, sou um pouquinho, mas ponha-se em meu lugar, umas loiras de olhos azuis dão em cima do meu namorado – ou ex, agora não sei mais de nada – e ele não recua.
  - ! – Letícia disse, me tirando dos pensamentos.
  - Hm? O quê? Sim? – pisquei várias vezes, despertando de vez.
  - Estou te chamando tem muito tempo, menina! – ela riu. – No que estava pensando?
  - Em quem eu estou pensando seria a forma mais correta de me perguntar. – suspirei e abracei meu travesseiro. – Letícia, amanhã eu não estarei mais aqui.
  - Eu sei. – suspirou. – Sabe que vou sentir sua falta não é? Do seu sotaque enrolado, americano. – ri fraco.
  - E eu do sotaque todo certinho de vocês. – ela sorriu. – Mas vou sentir mais falta dele...
  - É normal... Já voltaram a se falar? – neguei com a cabeça. – Vou bater no Liam, na boa. Ele vai levar uma surra!
  - Não, não faça nada. – sussurrei. – Eu que estava enganada ao pensar que íamos conseguir namorar à distância. Se for pra acabar, que acabe de uma forma menos dolorosa sabe? Amigável.
  - Entendo...
  - Não vejo mais motivo pra continuar usando isso. – falei, referindo-me ao anel com uma pedra de brilhante que estava em meu dedo anelar.
  - , esse anel não é apenas um anel. – Letícia disse, receosa. – Talvez ele venha falar com você hoje, e se ele não vir o anel que ele passou meses escolhendo na sua mão, ele vai ficar muito magoado, por favor, não faça isso com ele.
  - Ele não vai vir. Liam é a pessoa mais orgulhosa desse mundo. Nem que se eu tivesse morrendo ele viria. Ele não quer sofrer mais do que está sofrendo. Quer dizer, se é que está. Porque eu só consigo vê-lo com aquelas vadias no pescoço dele. E o pior, ele olha pra mim enquanto abraça uma! – bati no travesseiro, irritada. – Não quero mais usar essa merda de anel. – tirei o anel e joguei pra qualquer lado.
  - Olha, eu te entendo, ok? Amiga, fique calma. Vocês vão se acertar, mais cedo ou mais tarde.
  - Não, não vai. Eu o perdi. Tudo o que eu menos queria está acontecendo comigo... – comecei a chorar. – Letícia, se não se importa, eu gostaria de ficar sozinha. – ela assentiu. Antes de sair do quarto, ela se abaixou perto da porta e pegou alguma coisa do chão.
  - Aqui está o anel, caso mude de ideia. – ela colocou o mesmo na minha mesa, e saiu.
  Levantei-me, caminhei até a mesa e peguei o anel. Levantei o mesmo até a altura dos meus olhos e senti uma lágrima rolar pela minha bochecha.
  - Eu vou sentir tanto a sua falta... – sussurrei, encarando a pequena jóia na minha frente. Coloquei o anel de novo no meu dedo enxuguei minhas lágrimas.

[...]

  Passei o dia todo trancada no quarto. A vontade de ligar pra Liam era enorme, mas o orgulho e a raiva eram maiores ainda. Eu olhava pro celular de quinze em quinze minuto pra saber se tinha alguma mensagem, alguma ligação perdida, mas não. Nada.
  - Querida? – minha mãe disse, entrando silenciosamente no quarto.
  - Oi, mãe. – respondi, sem o mínimo ânimo.
  - Organize o resto das suas coisas, deixe fora só o que vai usar amanhã, e depois deixe lá em baixo na sala, sim?
  - Claro, mamãe. – respondi e voltei a deitar, e me concentrar no meu sono, aliás, aquele que não havia chegado ainda.
  Ouvi a porta ser fechada, e peguei meu iPhone. Olhei a hora e eram oito horas da noite. Em poucas horas eu não estarei mais aqui, distante da vida que eu sempre quis, e longe dele. Qual é?! Liam é, definitivamente, meu primeiro amor! Acha que no Brasil tem lordes como o Liam? Não, não tem mesmo!
  Bufei, e fui arrumar mais algumas bolsas. Separei uma calça jeans, uma camiseta branca e um moletom pra amanhã, arrumei minha bolsa com meu notebook, carregador, essas coisas. Arrumei bolsa de banheiro, e depois desci com essas bolsas.
  - Precisa de ajuda, minha princesa? – meu pai perguntou ao me ver cheia de bolsas.
  - Pode pegar essa maior aqui pra mim, por favor, papai? – perguntei e ele assentiu, pegando a mala maior. Colocamos tudo com as outras bolsas. A casa estava vazia, sem muitos móveis, sem graça. Meu quarto estava com coisas encaixotadas.
  - Está tudo bem, princesa?
  - Claro. – respondi, fitando o chão.
  - Se eu quisesse que você mentisse, pediria isso. – ele cruzou os braços, e me fitou de uma forma carinhosa, como quem sabe o que está acontecendo, mas quer que a pessoa admita.
  - Pai, não é uma boa hora pra falar disso...
  - É o Liam, certo? – suspirei, derrotada. Merda. – Há duas semanas que vocês brigaram ou aconteceu algo entre vocês certo?
  - Como consegue adivinhar as coisas?
  - Sou seu pai e seu amigo. E amigos servem pra isso. – sorri. – Vocês brigaram?
  - Não foi exatamente uma briga, na verdade desde quando eu contei pra ele que íamos nos mudar que ele ficou irritado, e paramos de nos falar.
  - Oh, princesa, eu sinto muito, mas você sabe que eu não podia recusar a proposta.
  - Pai, a culpa não é sua, ele que é muito turrão.
  - Ele está sofrendo, princesa. A namorada dele vai embora, pra outro país, como acha que ele está se sentindo?
  - Está defendendo a atitude de ele brigar comigo, pai?
  - Não estou defendendo. Estou esclarecendo o lado dele pra você, porque eu já passei por isso, com sua mãe, quando namorávamos.
  - Ele insinua que eu vou trocá-lo por outro assim que chegarmos lá, que vou esquecer tudo... Pai, se eu não gostasse tanto dele, não tinha largado esse anel nunca.
  - Você sabe o que tem que fazer. – ele me encarou com um olhar significativo. – Talvez você só tenha hoje pelo resto da sua vida, faça acontecer.
  - C-como assim? Quer que eu vá à casa dele e implore por alguma coisa só pra me despedir? – ri, irônica. – Não. Ele que perdeu. Considero esse namoro acabado, se o senhor quer saber.
  - Ok então, você que sabe. Mas não quero saber de arrependimento depois. – bufei e subi as escadas.
  Tranquei-me no meu quarto e me sentei na cama, irritada.
  - Talvez o papai não esteja tão errado assim... – pensei alto. – Eu só tenho hoje pra fazer acontecer.
  Como eu já estava com um short e uma camisa xadrez, e calcei uma sapatilha preta comum. Peguei um moletom preto do Liam, - que eu poderia usar como desculpa pra entregar – e coloquei meu celular com fone no bolso. Olhei-me no espelho e eu estava pronta.
  Abri a porta do quarto e saí. Desci as escadas e passei pelos meus pais, sem muita coragem de pensar no que ia falar talvez eu desistisse se fosse explicar.
  - Vou sair, se eu não for dormir aqui, mando uma mensagem pra você, mãe.
  - Use camisinha! – meu pai gritou, me fazendo corar.
  Saí o mais rápido que podia, tempo é uma coisa que eu não posso desperdiçar.
  As ruas estavam frias, porque aqui em Wolverhampton chove muito, e hoje não foi diferente, o cheiro de chuva entrava em minhas narinas, me deixando com mais saudades ainda. Os postes iluminavam apenas um pouco, mesmo assim, as luzes de algumas casas iluminavam a rua, e a lua estava espetacularmente linda, justamente hoje.
  Cheguei à casa do Liam, mas a luz do seu quarto estava apagada. Consegui ver porque seu quarto é o que tem uma varanda nos fundos, e eu estava justamente atrás da sua casa. Se ele não está lá, só pode estar no seu galpão, ou, como gosta de dizer, na sua segunda casa, já que ele passa a maior parte do tempo lá, treinando boxe. Ele me disse que não quer que eu vá lá, porque não quer que eu pense que ele é a pessoa má e violenta que ele se torna quando está lutando. Ele disse que eu só posso ir num caso extremo. E isso é extremo.
  O galpão não ficava muito longe, só mais uma quadra da sua casa.
  Espero que ele esteja lá, eu preciso falar com ele.

[...]

  Finalmente cheguei ao galpão. Uma luz estava acesa e seu carro estava lá. Suspirei e fechei minhas mãos, com força.
  - , é só uma conversa, o que tiver que ser vai ser. – falei pra mim mesma.
  Caminhei até a porta e ouvi socos fortes e grunhidos de força. Ele deveria estar treinando.
  Girei a maçaneta e estava aberta. Empurrei a porta e o vi socando um saco de areia, com apenas um calção preto, suado, e ofegante. Fechei a porta e fiquei apenas observando-o lutar. Ele parecia furioso, parecia que seu pior inimigo estava ali na sua frente e ele estava tendo a chance de espancá-lo.
  Liam esmurrava, chutava, batia, e ele grunhia de raiva. Ele deu um soco tão forte e preciso que pude ouvi-lo gemer de dor. Chutou o saco de areia e socou mais uma vez, sem parar, chutando e socando, até a corrente finalmente se soltar e o saco cair no chão, deixando-o satisfeito.
  Liam estava acabado. Completamente suado, ofegante, e com uma expressão de amargura. Como se aquele saco, que no momento dos socos e chutes fosse seu inimigo, voltasse a ser apenas um saco.
  - Não importa o que eu faça, tudo volta pra essa realidade de merda. – ele murmurou, me fazendo compreender tanta fúria.
  - Hm, depende do que você faz. – falei. Ao ouvir o som da minha voz, ele levantou o olhar, mas não me olhou.
  - O que faz aqui? Você sabe que não quero que venha aqui, eu te expliquei.
  - Disse que eu poderia vir num caso extremo.
  - Num caso extremo.
  - Isso é tão extremo que estou com medo das minhas próprias palavras. E das suas. – ele suspirou, ofegante.
  - Me deixa tomar um banho e esfriar a cabeça, e já conversamos, tudo bem? – perguntou, ainda sem olhar pra mim.
  - Claro, tenho a noite toda. – respondi e ele se dirigiu ao banheiro que havia ali. Me sentei no sofá e observei aquele galpão.
  Era um lugar grande, com apenas um banheiro. Tinham uns três sacos de areia, luvas penduradas na parede, uma estante com troféus e medalhas das competições do colégio, suas camisas dos campeonatos, uma cama de solteiro, uma mesa com uma bolsa cheia de roupas nela, um violão no canto, e uma luz fraca. O ambiente havia seu cheiro, e como eu gostava daquele cheiro que me deixava embriagada.
  Levantei, e comecei a andar por ali. Na mesa haviam fotos nossas, algumas cifras de músicas que gostávamos de ouvir juntos.
  Ouvi um barulho de porta se abrir, e vi Liam sair do banheiro com uma calça jeans, uma camisa preta gola V e com seu topete arrumado.
  - Pode começar. – ele disse, sentando na cama.
  - Por que nunca me trouxe aqui?
  - Não acho que seja um lugar adequado pra garotas como você.
  - Garotas como eu como?
  - Nunca trago minhas namoradas pra cá.
  - Hm. E isso é bom?
  - Sim.
  - E por que é bom?
  - Porque só assim você não vê meu lado agressivo e mau.
  - Ah, é isso? – ri. – Qual é, Liam, não preciso disso pra saber que você é um idiota.
  - Veio mesmo pra me esculachar? Se for, pode ir já me esculachou o suficiente me dizendo que ia embora.
  - Você fala como se eu que tivesse escolhido isso. – ri novamente. – Ainda não posso morar sozinha, esqueceu? Não sou maior de idade. Se eu pudesse resolver isso, eu resolveria sim, faria de tudo pra não te perder, mas nem tudo sai como eu quero.
  - Você acha que isso não está doendo em mim, não é? – ele riu. – Você não sabe como é se sentir completamente vazio, sozinho, sem a pessoa que você mais... – ele hesitou em falar.
  - Mais...? Mais o quê?
  - Que eu mais amo no mundo, indo embora, sem data pra voltar. Essa não é a melhor forma de se terminar um namoro, . Aliás, eu juro que isso que nós tivemos seria mais que um namoro de colégio. Aliás, todo mundo pensava. – eu mal podia acreditar no que estava ouvindo.
  - Eu sei, Liam. Mas você já se colocou no meu lugar pelo menos uma vez? – senti que ia começar a chorar, mas prendi as lágrimas. – Em quem você acha que eu pensei quando soube disso? Em que você acha que eu fiquei preocupada? Acha que te ver de longe no colégio cabisbaixo, e ser o motivo disso está sendo fácil pra mim? Acha que te ver com outras garotas, e sorrindo pra elas não me deixa mal? – ri, já sentindo que não teria mais forças pra segurar as lágrimas. – Acha que eu já não quis tirar esse anel do dedo?
  - Eu não aceito te perder assim, sem nem ao menos ter culpa.
  - E eu não aceito levar a culpa por algo que realmente eu não posso interferir. – ficamos em silêncio durante alguns segundos. – Eu não quero acabar isso, desse jeito.
  - Eu não quero acabar. – ele murmurou, com voz de choro. Aquilo me partiu o coração. – Não quero acabar a coisa que me fez tão feliz nesses dois últimos anos. Quando eu dizia que você era tudo pra mim, eu não estava mentindo ou apenas falando qualquer coisa pra te ver sorrir por míseros segundos. É verdade, . Nenhuma garota conseguiu me ter por tanto tempo. E não foi só isso, você simplesmente se apoderou de mim, lentamente, desde quando você me perguntou onde era a sala de biologia. – ele enxugou uma lágrima. – Você é tão linda, inteligente, engraçada e tão perfeita... Pra mim. Tudo o que eu preciso você tem, na medida certa. Além de tudo, você ainda é minha amiga, eu sei que posso confiar minha vida na sua mão. – quem estava chorando era eu. Ele nunca me disse algo do tipo pra mim. – Eu sei que nunca falei que te amava, mas sempre esteve tão na cara, que achei que você soubesse.
  - Você não está facilitando pra mim, falando isso.
  - E nem você, pra mim, vindo até aqui pra terminar o namoro.
  - Acontece que é isso o que ia acontecer de todo jeito! – aumentei meu tom de voz.
  - Enquanto der pra salvar nosso namoro, eu vou tentar. A não ser que você realmente não queira mais.
  - Não quero mais? Isso foi o que mais me preocupou e tirou meu sono nessas duas semanas, Liam! – aumentei um pouco mais meu tom de voz e me aproximei dele. – Acha que tive condições de dormir? Eu só pensava em você todos os segundos. E você não atendia minhas ligações! – comecei a chorar. – Isso foi o que mais me doeu, VOCÊ PARECIA NÃO LIGAR!
  - EU NÃO LIGO? EU TÔ PERDENDO A MULHER DA MINHA VIDA, E EU NEM POSSO FAZER NADA, ALIÁS, EU NEM ATENDI NINGUÉM, QUEBREI MEU QUARTO TODO, CHOREI TODAS AS NOITES, E TÔ DESCONTANDO MINHA FÚRIA AQUI, PORQUE, AQUI, EU SOU O QUÃO VIOLENTO EU QUERO SER.
  - EU SÓ QUERO QUE VOCÊ ENTENDA QUE A CULPA NÃO É MINHA, LIAM, MAS QUE MERDA!
  - EU SEI QUE NÃO É, . E EU SEI TAMBÉM QUE NÃO HÁ MAIS NADA PRA FAZER MESMO, ACABOU, NÃO É? – ele gritou, chorando também.
  - Olha, eu vou pra casa, nem era pra eu ter vindo mesmo... Fica bem, Liam, realmente foi ótimo o quanto durou. Eu nem preciso dizer que... Isso fica com você. – tirei o anel do dedo e coloquei o mesmo em sua mesa. – Entregue pra uma outra garota perfeita que fique aqui pelo resto da vida e que seja melhor do que eu já que eu fui uma coisa boa na sua vida. – enxuguei minhas lágrimas, ele fitou o chão, derrotado. Aproximei-me dele e dei um beijo demorado em sua bochecha.
  - Não vá. – ele murmurou segurando meu braço.
  - Liam, estou apenas facilitando as coisas pra você ok?
  - Não, não está. Aliás, nada está sendo fácil, e eu vou ter que me acostumar com isso, mas enquanto você ainda está aqui comigo, perto de mim, devo fazer essas poucas horas valerem a pena. Pra nós dois. – ele levantou meu rosto pelo queixo, delicadamente, e tocou meus lábios, como se fosse a primeira vez em que ele fazia isso. Senti tanta falta daqueles beijos que só ele sabe dar...
  - L-Liam...
  - Shhh, não fale nada. – ele sussurrou, roçando seus lábios nos meus. Sua respiração estava começando a ficar descontrolada, assim como a minha. – Fique comigo esta noite.
  Assenti, beijando seus lábios logo em seguida. Uma de suas mãos foi pra minha lombar e a outra pra minha nuca. As minhas estavam no seu pescoço, entre seus cabelos.
  Ele aprofundou o beijo, e me puxou pra mais perto ainda do seu corpo. Arfei e ele sorriu.
  Dei um pequeno passo pra trás e ele deu um pra frente. Ficamos assim até encostarmos-nos à parede. Seu hálito de menta me deixava tão submissa, seu perfume forte, másculo, me deixava cada vez mais embriagada.
  Desencostamo-nos da parede, e, agora, ele parecia determinado. Fomos andando às cegas até a sua cama, e caí de costas nela. Liam ficou por cima de mim. Agora ele me encarava de uma maneira sexy. Seus músculos do braço estavam contraídos, deixando-o mais lindo ainda.
  - Saiba que vou te dar muitos pretextos pra você voltar. – ri.
  - Me dê muitos, bilhões de pretextos. – ele sorriu e me beijou.
  Seus beijos foram descendo para meu pescoço, me fazendo sorrir de satisfação. Direcionei novamente minhas mãos para sua nuca, e então comecei a dar leves puxões em seus cabelos. Senti sua língua quente lamber a curvatura do meu pescoço. Logo ele deu um chupão ali. Gemi baixinho de dor, e logo depois ele beijou a região.
  Ele sorriu safado e se sentou. Tirou a camisa, e a jogou no chão. Enquanto isso, eu observava cada gesto seu. Ele fez um gesto para que eu fosse até ele, e assim eu fiz. Sentei-me, e ficamos com os rostos próximos.
  Seus olhos adquiriram um tom de chocolate intenso, sua pupila estava bem dilatada e seus lábios estavam mais rosados.
  Liam tirou o moletom que eu vestia e repetiu o gesto que fez com sua camisa.
  - Prefere tirar a camisa, ou quer que eu mesmo faça isso?
  - Você pode tirar se quiser.
  - Ótima escolha. – ele disse atacando meus lábios mais uma vez. Senti o toque quente e macio da sua mão na minha cintura. Ele deslizou as mãos pelo meu corpo, tirando minha camisa. Assim que a deixou de lado, fitou meu corpo, e mordeu o lábio. – Vou sentir falta disso...
  - Só disso?
  - Mais da dona do que disso.
  - Ainda temos algumas horinhas. – ele sorriu de lado.
  - Garanto que seu vôo será cansativo, babe.
  - Por quê?
  - Porque você vai passar a noite comigo, e digamos que eu durma muito tarde.
  - Hm, bom saber. – rimos.
  Enrosquei minhas pernas em seu corpo e, enquanto nos beijávamos, ele desabotoava meu short.
  Fiquei apenas de lingerie preta, e ele tirou a sua calça, ficando apenas com sua cueca boxer preta, Calvin Klein. Percebi sua ereção e ri internamente daquilo. Ele voltou a me beijar, de uma maneira feroz, sexy, indomável. Nós nos queríamos um ao outro o mais próximo possível.
  Aos poucos fui descendo meus beijos para seu pescoço, e pude senti-lo arfar. Dei um chupão no seu pescoço, e ele apertou minha nuca, em reprovação, me fazendo rir baixinho.
  Senti meu sutiã abrir. Ri baixinho da sua habilidade, e ele sorriu vitorioso. Arrancou meu sutiã, e após jogar pra qualquer lado, me deitou na cama, prendeu meus braços, e ficou por cima de mim. Ele começou a fazer uma trilha de beijos. Começou dando pequenos beijos na minha boca, queixo, maxilar, pescoço, ombro, colo, e parou nos meus seios. Arfei e tentei soltar meus braços, mas ele riu, maldoso, e fez mais força ainda, prendendo os mesmos. Ele começou a me torturar brincando com meus seios, me fazendo gemer, cada vez mais alto.
  Estávamos muito excitados, era óbvio. Consegui tirar sua cueca com meus pés. Ele finalmente tirou minha calcinha, e então, com as mãos livres, fiquei por cima dele. Mordi seus lábios, e comecei a arranhar seu abdome, descendo até seu membro. Ele gemeu assim que sentiu o toque da minha mão no seu membro ereto e rígido.
  Comecei a fazer alguns movimentos de vai e vem, enquanto ele agarrava o lençol, se segurando para não gemer. Tentativa falha.
  - Chega de brincadeiras, amor. – ele disse com dificuldade, ficando por cima de mim, e logo ficando entre minhas pernas. Ele segurou minha mão, entrelaçamos nossos dedos, e ele, finalmente, penetrou em mim, devagar. Liam parecia que sentia falta daquilo, pelo seu gemido de alívio.
  Ele começou a se movimentar, saindo e entrando de mim, e os gemidos eram cada vez mais altos.
  - L-Liam... – ele me calou com um beijo, e deu uma entocada forte e precisa. Mas um beijo não foi o suficiente para me calar.
  Liam já segurava na cabeceira da cama, e grunhia de força, e ofegava. Estávamos começando a ficar suados. Seus movimentos começaram a ficar cada vez mais fortes e precisos, e eu estava adorando aquilo, por mim nunca teria fim.
  Liam deu uma entocada forte, precisa e intensa, e gemeu alto no meu ouvido. Havia chegado ao seu ápice, mas eu não. E ele percebeu. Liam voltou a acelerar seus movimentos, a dar estocadas mais precisas e depois de mais cinco, cheguei ao meu orgasmo, gemendo alto.
  Ele caiu em cima de mim, completamente exausto, suado, e ofegante. Liam havia superado todas as minhas expectativas, ele havia sido mais que perfeito.
  Cada gemido, cada toque, cada movimento foi precioso e prazeroso para nós dois, disso estou absolutamente certa.
  É insano o que sinto por ele. É louco. É absurdo. É amor, desejo, paixão. Um misto de tudo isso. E adicione excitação, muita excitação.
  Ele ficou ao meu lado, e nos cobriu. Ficamos nos encarando. O silêncio entre nós estava até confortável.
  Aproveitei para perceber seus traços, mais uma vez. Liam é tão lindo que às vezes gosto de apenas lhe encarar e perceber traços que nunca havia reparado antes.
  Seus olhos são extremamente encantadores, e brilhantes. Ele usava barba, embora eu o preferisse sem. Ele fica mais fofo sem ela, com carinha de neném, e quando usam, fica mais másculo. Sei lá, ele é lindo de todo jeito.
  - Promete pra mim que vai tirar a barba? – perguntei, e percebi que ele tava pensando, pois piscou várias vezes e depois olhou pra mim.
  - Hum? – ri. – O que foi?
  - No que estava pensando?
  - Honestamente, tava pensando em como será a minha vida quando você for, e a minha ficha cair. – suspirei. – Ainda não consigo acreditar que o pior vai acontecer.
  - Depois de amanhã... Tudo... Acaba né?
  - E-eu não sei. Realmente não sei... – ele disse e se sentou. – , não quero que isso acabe, é sério.
  - Eu também não. – me sentei também, cobrindo meu corpo com o lençol.
  - Mas nunca passei por isso, não sei o que é o certo a se fazer, entende? Não sei se é o certo continuar com nosso namoro até você voltar, porque não sei se vamos nos ver outra vez. E não sei se acabamos e depois você volta. Eu posso estar com outra pessoa, e você com outro cara.
  - Não quero que fique preso à mim.
  - Como assim?
  - Quero dizer que se você se apaixonar por outra garota, pode ficar com ela, não se sinta na obrigação de me dar satisfações. – falei, tentando não parecer difícil.
  - Sabe que isso vai ser quase impossível.
  - Você é um garoto, Liam, não vai ficar sozinho me esperando pra me ver de novo, talvez nunca mais eu te veja.
  - É difícil ouvir isso.
  - Se é difícil ouvir, imagine dizer.
  - Vamos pelo menos tentar manter por mais um tempo, se realmente não der... Aí sim, acabamos tudo mesmo.
  - Você é muito teimoso. – ri e encostei minha cabeça no seu ombro.
  - Passamos dois anos juntos, jogar isso no lixo é burrice. E se for pra terminarmos, que seja por não dar certo, e não porque vamos ficar longe um do outro por um tempo.
  - E você acha que vai dar certo com um oceano no meio? Estou indo pra outro continente, tem noção?
  - Eu também nunca passei por isso, . Vamos tentar juntos, temos que arriscar mesmo, fazer o quê? Lá não vai ter Liam Gostosão Payne não. – ri.
  - Metido.
  - Metido não, apenas constatei os fatos. – ele fez pose me fazendo rir. – Fala sério, lá no Brasil tem caras com esses bíceps? – ele exibiu os músculos e eu ri. – Claro que não. Sorte a sua de ter um desses – ele apontou pra si mesmo – babando aos seus pés.
  - Ah é sorte minha? Hm, bom saber.
  - É, muita sorte mesmo. Não é pra qualquer uma não, meu amor. Olhe o tamanho da sua sorte, qual é não reclame da vida.
  - É, já que você diz que é sorte minha, lá no Brasil vou tentar ganhar um melhor por mérito. – cruzei os braços e ele cerrou os olhos pra mim.
  - Olha, não foi tanta sorte assim. – gargalhei. - Você ri mas não sabe o que eu sofro sendo seu namorado.
  - Sofre?
  - Muito! Eu tenho que lidar com comentários escrotos que alguns caras fazem quando você resolve usar roupas que não são apropriadas. E o pior são seus castigos. – gargalhei novamente. – Fala sério, você já me deixou DUAS SEMANAS sem beijo nem abraço, QUER ME MATAR, MULHER?!
  - E é muito legal e adorável ver aquela puta magricela, loira do nariz mutante, cabeçuda e esquelética, cosplay de macaco né?
  - Está com ciúmes da Danielle?
  - Ah, também tem aquela cria de exu que parece que sofreu um AVC e vive sorrindo cinicamente pra mim. Qual é, Sophia tem cara de bunda com estrias! – ele gargalhou. – Do que está rindo, idiota!
  - Você bota pra foder nas garotas, meu Deus do céu! Qual é, eu nunca ficaria com elas. – ergui a sobrancelha. – Tô falando sério, só beijei a Danielle uma única vez, e foi por causa de uma aposta, e você nem morava aqui ainda.
  - Liam, fique com todas as garotas daquele colégio, menos com essas duas, porque se eu souber que você encostou-se a elas, eu saio do Brasil e venho aqui bater nelas e em você. – ele riu.
  - Motivo número um pra você vir, ficar colado na Danielle e na Sophia. Pronto, lembrete mental. – comecei a dar tapinhas nele, e acabamos deitados e ele me beijando. – Vamos conseguir passar por isso.
  - Espero que sim.
  - Confie em mim.
  - Eu confio, Liam. Não confio no tempo nem no que possa acontecer daqui pra frente.
  - Por mais que eu me interesse por outras pessoas, você sabe que você é minha dona, não sabe? E que se eu tiver com outra pessoa, se você pedir, eu acabo tudo com ela, e volto correndo pra você, não sabe?
  - Você fala isso agora.
  - Não acredita em mim?
  - Liam, é diferente. Vou compreender totalmente, se num futuro próximo você “me trocar” por outra, é compreensível.
  - Você compreende, mas eu não quero saber de outro fulano beijando uma boca que só pertence a mim.
  - Fique tranqüilo, só vou ter tempo de estudar lá.
  - Hm, acho muito bom. – ele me encheu de beijos.
  Liam era perfeito. Quando eu digo perfeito, é porque não tem como colocar defeito. Por trás dessa casca grossa, tem um menino adorável, fofo e perfeito, que só precisa ser correspondido. E eu realmente tenho sorte de tê-lo ao meu lado.

[...]

  Abri meus olhos, e reconheci o galpão. Olhei para o lado e vi Liam dormindo abraçado a mim, dormindo que nem um bebê, com uma expressão um pouco brava, como quem sonha com uma luta. Achei tão bonitinho que sorri. Seus cabelos estavam perfeitamente assanhados e sua boca, extremamente convidativa. Olhei a hora em meu celular que estava ali perto, e vi que daqui a pouco meus pais estariam saindo de casa.
  Saí da cama devagar, com cuidado para não acordá-lo. Vesti minha calcinha, meu sutiã, e meu short e procurei pela minha camisa, mas não a achei. Peguei a de Liam, e calcei minhas sapatilhas. Fiz um coque no meu cabelo e mandei uma mensagem pra minha mãe.
  “Passei a noite com Liam, mas já estou indo. Xx
  Após enviar, travei meu celular e o guardei no bolso de trás do meu short. Olhei mais uma vez pra Liam e sentei na cama. Seu sono estava tão pesado que ele nem sentiu quando comecei a mexer em seus cabelos. Ele só suspirava, e eu sorria boba. Parecia um bebê. Meu bebê.
  Dei um beijo demorado em sua bochecha, e acariciei a mesma.
  - Vou ter que ir agora, bebê. Eu amo você e... Vou sentir sua falta. – sussurrei já vendo minha vista ficar embaçada e sentindo meu nariz arder.
  Levantei novamente e saí, sem fazer barulho.

[...]

  Cheguei a casa e meus pais estavam na sala, tomando o café da manhã.
  - Querida, por que não nos avisou que ia dormir com o Liam?
  - Não deu, ontem foi uma noite conturbada.
  - Uhum, e essa marca no seu pescoço? – meu pai disse brincalhão, me fazendo corar ferozmente.
  - Pai!
  - Ah, se tiverem usado camisinha, por mim não há problemas, Liam é um bom rapaz, gosto muito dele e da família dele. Só não queremos problemas por enquanto, sim? – ri nervosa e subi.
  Meu pai aprovou de primeira meu namoro com Liam, após uma conversa com ele. Aliás, o meu pai sempre me ajudou muito, até mais que minha mãe, nosso relacionamento é ótimo.
  Tomei um longo banho e lembrei-me de cada detalhe da noite passada. Da discussão, dos beijos, dos toques, das palavras... De tudo.
  Por que que quando tudo está indo bem aparece algo pra atrapalhar? Estávamos tão felizes... E ele disse que queria mais que um namoro comigo, como posso deixá-lo meu Deus?!

[...]

  Desci com minha última mala e me juntei a eles, na mesa.
  - Pela sua expressão, você quer desabar e morrer de chorar, não é? – minha mãe perguntou, segurando minha mão. Não respondi nada, apenas suspirei e deixei que uma lágrima rolasse pelo meu rosto.
  - Eu não quero ir, e eu sei que mais cedo ou mais tarde ele não vai lembrar-se de mim.
  - Tenho que discordar. – meu pai disse. – Ele te ama. E eu posso afirmar isso com toda certeza do mundo. Quando conversamos, eu perguntei sobre quais eram as intenções dele com você, e ele me disse que não sabia se eram as melhores possíveis, mas eram as mais verdadeiras, e que nunca iria fazer você chorar.
  - Mas ele é humano, não vai agüentar ver garotas bonitas e não dar em cima. Não estarei aqui pra marcar território.
  - O que conversaram ontem? – minha mãe perguntou.
  - Brigamos no início. Brigamos muito, mas depois ele disse que eu fui a melhor coisa que tinha acontecido pra ele, que todo mundo pensava que íamos ficar juntos por mais tempo... Ele chorou, parecia que eu ia morrer, e isso me doeu tanto, porque ele não me fez chorar, mas eu o fiz chorar, eu parti o coração dele, eu o magoei.
  - Se tivesse algum jeito de você ficar, ou de poder concertar isso, mas infelizmente não tem.
  - Eu sei, mãe. – limpei minhas lágrimas. – Não se sintam culpados, esse namoro foi só um adicional quando viemos pra cá.
  - Você vai superar isso. Vai ser difícil, mas vai conseguir. – meu pai disse na tentativa de me ajudar. Tentativa falha.

[...]

  Chegamos ao aeroporto, e a tristeza me consumia a cada passo que eu dava. Um passo mais perto de talvez nunca mais ver Liam, meu Liam.
  Fizemos o check-in, e, após isso, meu pai foi comprar algumas revistas e minha mãe ficou comigo.
  - Querida, se isso serve de consolo, também não queremos ir.
  - E o que adianta agora? Temos que ir.
  - Prefiro mil vezes aqui a lá, onde não conhecemos ninguém. Seu pai não queria sair daqui, nossa vida estava perfeita.
  - Eu sei, e jogar essa vida no lixo me dói todo segundo. – ela me abraçou e não pude evitar chorar.

[...]

  - Senhores passageiros do vôo 1649 com destino ao Rio de Janeiro, Brasil, embarque imediato no portão 9B. – a voz eletrônica disse e logo os passageiros do nosso vôo começaram a se reunir no portão citado.
  - , ESPERA! – ouvi alguém gritar meu nome, e era Liam.
  - Liam?! – fiquei sem acreditar. Apenas senti o impacto do seu corpo no meu, num abraço forte e bem apertado que ele me deu, e que no mesmo instante eu correspondi.
  - Não vá, não me deixe aqui! – ele implorava, chorando. Aquilo só me deixava mais quebrada por dentro.
  - Querido, não há nada que possamos fazer... – Minha mãe disse, afagando as costas dele, que não me largava.
  - Ela não pode ir. – ele balbuciou, me apertando ainda mais contra si.
  - Conversamos sobre isso ontem, Liam. – falei me segurando para não desabafar ali mesmo.
  - Temos que ir agora. – meu pai disse, nos apressando, mas isso só fez com que Liam me segurasse mais precisamente. – Liam, solte-a.
  - Não! Não podem tirar minha namorada de mim, é injusto! – ele disse.
  - Nem você pode intervir nisso! – falei.
  - Precisamos ir. – meu pai disse.
  A expressão de Liam foi a pior possível. A expressão do típico derrotado.
  - Liam, não vou pra guerra, vou pra casa.
  - Sua casa era aqui. Comigo.
  - Pensei que tivéssemos conversado sobre isso ontem.
  - Passageiros do vôo 1649, por conta de alguns problemas na aeronave, o vôo atrasou duas horas, desculpe pelo transtorno. – a voz eletrônica falou novamente.
  - Usem esse tempo para conversar, ok? Eu e sua mãe ficaremos aqui esperando e comendo alguma coisa. – meu pai disse, observando o estado de Liam.
  Liam segurou minha mão, e saímos.
  Andamos em silêncio e fomos para a parte comercial do aeroporto.
  - Liam...
  - ... – falamos ao mesmo tempo e rimos sem humor. – Fale primeiro.
  - Conversamos muito sobre isso ontem, não foi?
  - É diferente, conversar e acontecer.
  - Mas você sabia que ia acontecer, há duas semanas.
  - Está me culpando por eu não aceitar isso?!
  - Não, Liam. – suspirei, cansada. – Estou dizendo que não há mais nada a se fazer, infelizmente eu vou embora... Daqui a pouco.
  Liam cobriu o rosto com as mãos e passou as mesmas pelos cabelos, deixando-os assanhados se uma maneira fofa.
  - Minha vida vai ser um inferno, . Sem você não dá.
  - Dá sim, viveu muitos anos sem mim.
  - Antes de te conhecer. Minha vida era uma merda, eu era sozinho e depois que você veio tudo pareceu fazer sentido pra mim! Não está dando pra entender que sem você não tem como eu viver feliz ou como era antes?
  - Não quero brigar agora, ok?
  - Nem nunca mais né? – ele disse, irritado. – Só me promete uma coisa?
  - O quê?
  - Promete pra mim que mesmo que você se apaixone por outro cara, ele nunca vai tomar o meu lugar?
  - Liam, eu não vou.
  - Não vai prometer, não vai mais viajar ou não vai se apaixonar?
  - Não vou me apaixonar.
  - Prefiro a segunda opção.
  - Liam. – o repreendi. – Quer fazer o favor de facilitar pra mim?
  - Como se estivesse fácil pra mim também né?
  Suspiramos e sentamos numa mesa que havia ali.
  - Vou ficar completamente sozinho aqui, . – ele disse, me encarando nos olhos. – Todos namorando, e eu aqui sozinho chorando porque a minha namorada foi pra outro país, está se relacionando com outras pessoas, e logo vai me ter só como um amigo. – rolei os olhos e sorri boba. – Pra quem eu vou ligar quando eu tiver sem sono e quiser conversar? Quem vai madrugar assistindo Friends comigo? Quem eu vou beijar? O Zayn? O Louis? O Niall? O Harry? Não, é você, ou melhor, era. Porque você vai embora, e sabe lá Deus quando vai voltar se voltar. – disse, dando ênfase no s e me dando medo. – Você fodeu com a minha vida e eu nem sabia. – ele murmurou e eu fiz uma expressão confusa.
  - Fodi com sua vida?
  - Fodeu, e muito! Deixando-me a ponto de chorar por você, fazer escândalo em aeroporto, e me deixando totalmente dependente de você. Pior! Deixando-me carente, eu nunca fui assim! Viu como fodeu com a minha vida?! – disse, bravo. No fundo eu queria rir e enchê-lo de beijos, até reclamando ele era fofo.
  - Então já que fodi com sua vida vou embora agora pra você voltar com sua vida de antes. – me levantei da cadeira, mas ele me segurou pela mão.
  - Não, espera. – sorri. – Fodeu, mas de um jeito bom, foi isso o que eu quis dizer.
  - Ah, muito clara a sua explicação. – ele riu e nos beijamos calma e apaixonadamente.
  - Não vou sobreviver uma semana sem isso. – ele disse quando finalizamos o beijo.
  - Somos dois. – ele fitou o chão.

[...]

  Andamos de mãos dadas, pelo aeroporto conversando sobre coisas aleatórias, enquanto a hora não passava. Ou melhor, a hora da morte não chegava.
  Resolvemos comprar dois milkshakes na Starbucks. O dele de chocolate, e o meu de morango.
  - Tem uma frase incompleta no meu copo. – falei. – “Quando se passa muito tempo com uma pessoa que você ama, ela acaba fazendo parte de você...”. Qual é a sua, Liam?
  - “... E quando ela vai embora, parece que você esquece-se de quem você é.” Tem coisa que vem a calhar bem às vezes né? – ele disse dando um gole do seu milkshake.
  - É mesmo...
  - Senhores passageiros do vôo 1649, embarque imediato no portão 9B. Uma nova aeronave da nossa linha aérea está aqui. Desculpe-nos o transtorno. – aquela maldita voz disse.
  - Bom... – engoli seco. – Agora é definitivo... Tenho que ir.
  - Vamos, vou te deixar lá. – ele disse, desanimado.

[...]

  Chegamos na sala de embarque e vimos casais se despedindo, famílias em clima de despedida, mas com um sorriso de “volto logo” no rosto.
  - Podemos ir agora? – minha mãe perguntou.
  - Claro, mãe. – respondi sem ânimo. Virei-me pra Liam e ele estava a ponto de chorar, com as mãos nos bolsos da calça.
  - Vou sentir sua falta.
  - Eu também. – ele disse, fitando o chão. Ele segurou a minha mão direita e nos beijamos.
  Liam parecia tão mal, tão triste, que o beijo foi deprimente. Era o último por um bom tempo, deveria ser inesquecível. Suas mãos me puxaram ferozmente, e eu agarrei sua nuca, já sentindo minhas lágrimas saírem.
  - Eu amo você. – ele disse, colando nossas testas. – Incondicionalmente.
  - Eu amo um pouco mais.
  - Não se esquece de ontem à noite, ok?
  - Não esqueço.
  - Nem de mim.
  - Nem de você.
  Ele me deu um selinho demorado cheio de tristeza e saudade, e depois nos separamos. Caminhei com meus pais até o maldito portão 9B e após atravessá-lo, vi Liam limpando suas lágrimas.
  Quando me viu ali, parada, esperando que ele me notasse, fez um gesto de como quem faz uma cesta, soltando um beijo pra mim, me fazendo sorrir boba pra ele. Falei “Score!” sem emitir som e ele sorriu. Pegou o celular e digitou alguma coisa. Senti o meu vibrar na minha mão, e era uma mensagem dele.
  “Leia quando estiver no avião, e quando sentir saudades, e quando estiver a fim de chorar...” essas eram as primeiras linhas do enorme texto.
  O vi sair cabisbaixo e chorando. Esse era definitivamente o nosso fim.

[...]

  “Leia quando estiver no avião, e quando sentir saudades, e quando estiver a fim de chorar.
  Pois é, passei a manhã toda escrevendo esse texto nas Notas. Você sabe que não sou bom com palavras, mas vale passar por algumas coisas na vida, por certas causas nobres. Você é a primeira delas.
  Antes que esteja querendo saber o motivo desse texto, eu só quero tentar definir pra você, por meio de SMS, o que sinto por você. Em uma palavra, amor, mas sua definição de amor não é a mesma que a minha. Aliás, há vários tipos de amor no mundo, quero explicar o meu pra você.
  É maior que tudo. Maior que qualquer coisa, até maior que a maior coisa do mundo. É do tamanho dessa galáxia. Eu sou o único no mundo que sabe todos os seus defeitos, medos, vícios, manias, e suas qualidades, gostos, e músicas favoritas.
  Eu sei que agi como um idiota uns dias atrás, falei coisas que não era pra eu ter falado, mas você sabe como eu sou na hora, não penso no que vou dizer e fiz você chorar. Você não imagina como me arrependo disso.
  Vou sentir tanta sua falta, . Acho que nem se eu chorar todas as lágrimas do mundo, fizer birra, ficar com mil garotas, tomar vários porres vai adiantar. Você é parte de mim, desde quando saímos pela primeira vez.
  Você é tudo pra mim, meu chão, meu ar, meu amor, minha garota, minha princesa, minha vida. É a minha mulher gato, afinal, eu ainda sou o Batman.
  Ainda vou ao Brasil e te raptar, pra ficar comigo de novo, nem que seja por algumas horas. Só espere por mim, ainda não acabamos.
  Eu amo você.
  Liam x”

  Peguei-me chorando que nem uma criança no avião. Por que tudo tinha que ser tão difícil? Por que eu não podia simplesmente ficar com ele? E por que eu nunca obtenho respostas?

FIM



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