Fiction
Escrito por Helen Takahashi | Revisado por Hels
Adentrei o apartamento silencioso sem nem ao menos prestar atenção ao meu redor. Era final de tarde e a chuva caia do lado de fora, como podia ver da imensa porta de vidro que levava à sacada. O céu escuro deixava o ambiente com ar de noite ou simplesmente tempestade, assim como o meu humor. Fechei a porta atrás de mim e me encostei nela, deixando que escorregasse e caísse sentada no chão, derramando todas as lágrimas que eu tinha para isso.
Ele estava com outra e eu finalmente deixei que essa realidade me atingisse. Por que eu tinha de ser tão tola? Eu não era nada para ele, o oposto do que significava para mim. Minhas lágrimas escorriam e eu me sentia como uma criança, precisando apenas ser abraçada e de alguém para dizer que tudo ficaria bem, para ouvir minhas lamentações sem fundamento. Minhas amigas me ouviram por aquela tarde inteira depois da descoberta da manhã e isso me deixara um pouco melhor, já que todas passóvamos por quase as mesmas coisas.
Ao engolir o choro, torno a me levantar e me recompor. não, eu não podia ser tão estápida assim e chorar por ele. "não chore, , não chore", era tudo o que meu cérebro gritava em uma briga eterna com o meu sentimento de pessoa inútil que me fazia chorar. Oras, por que eu era inútil? Há tantos motivos. O melhor deles e mais plausóvel era o de acreditar que um dia eu seria alguém para ele, acreditar cegamente e platonicamente nesse fato. Ele era uma pessoa que eu via e ouvia todos os dias, quase toda hora, aquele que me fazia rir e - agora - chorar. já havia chorado por ele antes, mas fora apenas para tentar mandar minhas fantasias embora, coisa que nunca deu certo. Mas hoje tinha um motivo, hoje eu o vi com ela.
Bem, ela mesmo não sendo uma pessoa que eu não julgo suficiente para ele, é uma das pessoas que mais invejei até hoje. Ela estava com ele, ela estava saindo com ele, ele já havia deitado em sua cama, ele já havia aparecido com ela em público. não poderia ter inveja de uma pessoa como aquela, era me humilhar demais, era humilhar a auto-estima que já não tinha. Mas ainda assim, é, eu a invejava. Eu a invejava e praguejava com as únicas forças que eu tinha depois de encarar os fatos.
Ando pelo corredor do apartamento, reclamando de tudo o que mais podia e adentro o quarto, acendendo a luz. E ali estava a última pessoa que gostaria de ver. Como se o mundo conspirasse contra mim e todos me fizessem vê-lo, ali estava ele, no meu quarto com as luzes antes apagadas, sem razão aparente ao meu ver. Nossos olhos se encontram e sua sobrancelha se arqueia ao ver meu rosto molhado pelas lágrimas e meus olhos provavelmente vermelhos pelo dia difícil que tive.
- O que você quer? - Pergunto, grosseira, adentrando o quarto e atirando minha bolsa sobre a escrivaninha.
- O que você tem? - Ele ignora a pergunta e apenas se aproxima.
Estico o braço pedindo que pare de tentar chegar perto, mas ele se aproxima mesmo assim, ficando a apenas meio metro de mim.
- Nada demais, só sou muito idiota para encarar a realidade - deixo os braços jogados ao lado do corpo e encosto sobre a mesa.
- Que tipo de realidade, ? A sua realidade é essa! - Murmura, terminando o espaço entre nós e ficando próximo demais para que eu pudesse pensar melhor.
- Estou falando sério, - murmuro. - Eu vi vocês dois, agora será que você pode ir embora, curtir a sua vida e sair da minha?
me encara, cruzando os braços e olhando-me sério. Era inacreditável vê-lo daquela maneira, de fato.
- é isso que você quer? - Pergunta mais alto. - Quer simplesmente desistir de tudo, me tirar da sua vida só porque perdeu a esperança dentro de você?
Apenas aceno com a cabeça, forçando os lábios e respirando fundo para que não voltasse a chorar e conseguisse tirá-lo simplesmente da minha vida, me deixasse mal por mais alguns dias mas que tudo se renovasse quando encontrasse outro cara para ser tão estápida quanto eu era por ele.
- Eu não vou fazer isso - murmura, tocando ambos lados do meu rosto. - você sabe por que?
Apenas o olho, tocando-o pela primeira vez afim de afastá-lo e tentando, mas parecia cravado no cháo.
- Porque essa é a sua realidade. Encare-a. não fuja de sua própria fantasia, - sussurra contra meus lábios e enfim selando com os deles.
"I'm writing the story that will never end in my heart"
Paro de digitar e encaro a tela. Meus olhos ardem e suspiro, olhando mais uma vez aquela foto. O fato era esse. Eu queria tirá-lo de minhas fantasias depois de encarar a realidade. Eu queria simplesmente mandá-lo para o inferno e não saber mais do que acontecia com ele. Mas era impossóvel. Tudo conspirava para eu ver seu rosto em algum lugar. E ele está tão longe e vivendo sua vida da maneira como deseja, sem nem saber que uma pessoa literalmente do outro lado do mundo está se martirizando porque encarou a vida real. Essa pessoa encara a vida como fantasiosa, esperanãosa e sente-se bem com isso. E é por isso que ela gosta tanto de escrever suas próprias fantasias, para torná-las um pouco mais real, um pouco mais palpável. Essa é a minha história e essa é a minha vida, eu sou essa pessoa. E, engolindo em seco e ainda olhando o que escrevi, suspiro mais uma vez. Aquilo era o meu "ele" idealizado, o "ele" que pensava e o "ele" que não queria que eu parasse com minhas próprias fantasias. Aquele era, na verdade, o meu subconsciente pedindo para que eu não me destruísse e apenas continuasse tão fantasiosa como sempre fui e, apenas, esquecesse o que é a vida real. Porque, mesmo que acabasse as esperanças na realidade... Aquela história não acaba na ficção.